primeira infancia neuroed._ portugues

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  • PRIMEIRA INFNCIA:UM OLHAR DESDE A NEUROEDUCAO

    CEREBRUMCentro Iberoamericano de Neurociencias,

    Educacin y Desarrollo Humano

    Organizacin de los Estados Americanos (OEA)Secretara Ejecutiva para el Desarrollo Integral (SEDI);

    Departamento de Desarrollo Humano, Educacin y Cultura (DDHEC);Oficina de Educacin y Cultura (OEC);

  • 17th St. & Constitution Ave., N.W.Washington, D.C. 20006

    Estados Unidos de AmricaT. (202) 458-3000

    http://www.oas.org

    (Materiais para uso nos meios de comunicao, advocacia e

    sensibilizao)

    PRIMEIRA INFNCIA:UM OLHAR DESDE A NEUROEDUCAO

  • Esta publicao foi preparada pela Oficina de Educao e Cultura da Organizao dos Estados Americanos (OEA/SEDI/DDHEC/OEC). A responsvel pelo projeto e autoria do texto foi da Mg. Anna Lucia Campos. Assessoria pedaggica: ASEDH Associao Educativa para o Desenvolvimento Humano: Mg. Arlette Fernndez, Mg. Daphne Marsano e Lic. David Arango. Assessoria neurocientfica a cargo da SONEP Sociedade para a Neurocincia do Peru: Dr. Luis Aguilar e Dr. Daniel Paredes. Vrios fragmentos do documento foram extrados do livro Neuroeducao: como educar para que o crebro aprenda, de Anna Lucia Campos, com a autorizao respectiva da autora. Edio do projeto: Cerebrum Centro Iberoamericano de Neurocincias, Educao e Desenvolvimento Humano. Avenida Caminos del Inca 1325. Lima 33. Per. Tel. (0051-1) 2751348. Coordenao geral do projeto, reviso da edio e publicao do livro a cargo da Dra. Gaby Fujimoto, Especialista Seor de Educao da OEA.

    Correo de estilo: Eleonor Campos BeuttemmllerDesenho grfico: Gilberto CrdenasDiagramao: Gilberto CrdenasIlustraes: EsdrjulaTraduo ao Portugus: Eleonor Campos Beuttemmller

    Derechos reservados OEA/OEC, 2010Proibida a reproduo parcial ou total desta obra sem permisso.ISBN

  • 5OEA Organizao dos Estados Americanos

    Prefcio

    Captulo I A Neuroeducao: uma nova aliada dos programas de ateno e educao da primeira infncia.

    Captulo II Entendendo as crianas desde o comeo: a etapa pr-natal e a construo do crebro.

    Captulo III O nascimento e os primeiros meses: momentos decisivos para o crebro.

    Captulo IV Um breve olhar sobre a primeira infncia.

    Captulo V Fatores de influncia no desenvolvimento infantil.

    Captulo VI. Mensagens comunidade para um compromisso com a primeira infncia.

    Referncias.

    ndice

    7

    11

    19

    35

    45

    67

    71

    59

  • 7OEA Organizao dos Estados Americanos

    Prefcio

    Indiscutivelmente, a primeira infncia uma etapa crucial no desenvolvimento vital do ser humano. Nela se consolida toda a base para as aprendizagens posteriores, j que o crescimento e desenvolvimento cerebral, resultantes da sinergia entre um cdigo gentico e as experincias de interao com o ambiente, permitiro uma incomparvel aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais, cognitivas, sensoperceptivas e motoras, que sero a base de toda uma vida.

    Os estudos realizados em Neurocincias (cincias que estudam o sistema nervoso e o crebro) e, em

    Os primeiros anos de vida so essenciais para o desenvolvimento vital de uma pessoa, j que nesta etapa a gentica e as experincias com o entorno perfilam a arquitetura do crebro e desenham o comportamento humano.

  • 8 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Prefacio

    especial, as investigaes relacionadas ao processo de desenvolvimento cerebral, esto mudando o dilogo acerca da ateno e educao da primeira infncia, j que pais, educadores, rgos governamentais e no governamentais comeam a entender que a educao, principalmente nesta etapa da vida, desempenha um papel quase de protagonista na estruturao e funcionalidade do sistema nervoso e do crebro.

    Apesar de todos os argumentos apresentados, sabemos que no suficiente o grau de sensibilizao e informao sobre a ateno e educao na primeira infncia. Os primeiros anos de vida so essenciais para o desenvolvimento do ser humano j que as primeiras experincias perfilam a arquitetura do crebro e desenham o futuro comportamento. Nessa etapa, o crebro experimenta mudanas fenomenais: cresce, desenvolve-se e passa por perodos sensveis para algumas aprendizagens, e, por esta razo, necessita de um entorno com experincias significativas, estmulos multissensoriais, recursos fsicos adequados; mas, principalmente, necessita de um ambiente intensificado pelo cuidado, pela responsabilidade e pelo afeto de um adulto comprometido.

    Nesta publicao que pretende servir de documento de referncia, encontrar-se- a fundamentao cientfica que explica a necessidade do desenvolvimento de aes de cuidado, educao e desenvolvimento da primeira infncia. uma ferramenta de formao e reflexo que est dirigida aos pais, educadores, comunicadores, profissionais da sade, entidades pblicas, empresas

  • 9OEA Organizao dos Estados Americanos

    privadas e a todas as pessoas que, vinculadas s crianas, desejam reforar seus conhecimentos sobre essa etapa do desenvolvimento humano e desejam ter una base neurocientfica para as prticas educativas familiares, institucionais e comunitrias dirigidas primeira infncia. Esta publicao, ademais, se encontra preparada para ser usada nos meios de comunicao.

  • 11OEA Organizao dos Estados Americanos

    Captulo IA neuroeducao: uma nova

    aliada para os programas de ateno e educao da

    primeira infncia

  • CAPTULO

    IA Neuroeducao: uma nova aliada dos programas de ateno e educao da primeira infncia.

    12 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Nos ltimos anos, vrias instituies e pases do mbito mundial tm observado a importncia da ateno e educao da primeira infncia para alcanar o desenvolvimento sustentvel de nossas sociedades.

    No acordo coletivo mundial chamado O Marco de Ao e Declarao de Dakar1, (2000) sobre Educao para Todos, constituram-se seis objetivos fundamentais. Como o primeiro estabelece estender e melhorar a proteo e educao integrais da primeira infncia, especialmente para as crianas mais vulnerveis e desfavorecidas, surgiu a necessidade de construir polticas com a finalidade de permitir a que todas as crianas tenham acesso a programas de ateno e educao de qualidade, em uma situao de igualdade de oportunidades e de desenvolvimento humano. Este objetivo, por sua vez, encontra-se no marco dos direitos das crianas, estabelecidos na Conveno das Naes Unidas sobre os Direitos das Crianas.

    1 UNESCO - Educao para Todos. Em ttp://www.unesco.org/education/efa/ed_for_all/dakfram_spa.shtml

    Para alcanar o desenvolvimento de nossas sociedades, faz-se necessrio estender e melhorar a proteo e educao integrais da primeira infncia, especialmente para as crianas mais vulnerveis e desfavorecidas.

  • 13OEA Organizao dos Estados Americanos

    Frente a este contexto, importante perguntarmos: o xito do processo de desenvolvimento infantil e sua respectiva repercusso se encontram unicamente na possibilidade que se abre s crianas de ter acesso a algum tipo de programa? Quais seriam os fatores-chave do xito dos programas de Ateno e Educao da Primeira Infncia (AEPI)? Se revisarmos as investigaes e informes emitidos na bibliografia especializada que oferece orientaes bsicas para melhorar a qualidade dos programas, encontramos como fator de sucesso comum em todos eles o perfil do educador (pais e professores) e de outros agentes educativos envolvidos com a primeira infncia. Isto aponta que a efetividade dos programas est diretamente relacionada com a formao inicial e, em seguida, com a formao contnua dos pais e educadores, posto que a qualidade do processo de desenvolvimento das crianas influenciada pelas atitudes, conhecimento e forma de ser da pessoa que as educam.

    Por outro lado, as investigaes acerca do ambiente em que esto imersas as crianas tm demonstrado que a relao destas com os adultos com quem se relacionam causa um grande impacto no desenvolvimento de seu crebro desde a etapa pr-natal [1]. A alimentao, a exposio ou utilizao de algumas substncias qumicas e o estado de nimo da me durante a gestao, entre outros, so fatores de influncia para um crebro que est em plena formao. O cuidado do ambiente fsico, as carcias, os dilogos, os jogos, o afeto e as canes, so outros elementos presentes na relao entre pais, educadores e crianas desde o nascimento.

  • CAPTULO

    IA Neuroeducao: uma nova aliada dos programas de ateno e educao da primeira infncia.

    14 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    As relaes interpessoais so o eixo central do desenvolvimento infantil, j que as crianas aprendem dos adultos as habilidades emocionais, sociais, cognitivas e, ademais, adaptam-se ao seu entorno. Quanto maior for o conhecimento que o adulto tenha acerca do processo do desenvolvimento cerebral infantil, mais alta ser a probabilidade de atuar favoravelmente pela primeira infncia.

    Em suas investigaes sobre o papel do educador da primeira infncia e sua influncia no crescimento do crebro do beb, Shanker2 ressaltou que o adulto cuidador serve de crebro externo, motivando e apoiando ao beb. Afirmou que as experincias, desde essa relao direta criana e adulto, so vitais para a integrao sensorial, a coordenao sensoriomotora, o desenvolvimento emocional, os processos de ateno e tambm de autorregulao. [2]

    2 Stuart Shanker professor de Psicologia e Filosofia, diretor do Milton and Ethel Harris Research Initiative da Universidade de York, Canad..

    A efetividade dos programas de ateno e educao para a primeira infncia est diretamente relacionada com a formao inicial e, em seguida, com a formao contnua dos pais e dos educadores.

  • 15OEA Organizao dos Estados Americanos

    O crebro passa por grandes transformaes durante o ciclo vital em especial na etapa pr-natal e na primeira infncia e seu crescimento e desenvolvimento so o resultado da interao harmoniosa entre gentica e experincias com o entorno. Embora cada criana nasa com um crebro programado geneticamente para retirar do entorno toda a informao que necessita para se desenvolver, as experincias vividas na primeira infncia, ou a privao das mesmas, qualificaro o processo de desenvolvimento cerebral, j que nesta etapa pode-se identificar perodos sensveis para determinadas aprendizagens, como caso da linguagem.

    No h dvida que a maioria dos programas de AEPI considera que o papel dos pais de famlia e dos educadores (ou de outro profissional que intervenha) de fundamental importncia. Por isto necessrio revisar e repensar alguns aspectos da formao daqueles que esto direta ou indiretamente relacionados com as crianas. As experincias ocorridas nas etapas iniciais do desenvolvimento humano (pr-natal e primeira infncia) exercem uma grande influncia na estruturao e funcionalidade do crebro, refletindo diretamente na qualidade das habilidades sensoriais, emocionais, intelectuais, sociais, fsicas e morais inerentes a cada pessoa. nesta etapa que o papel do adulto como facilitador e mediador de experincias significativas torna-se mais complicado se ele no tem como base um conhecimento atualizado sobre como o crebro se desenvolve nesses primeiros anos de vida, e a enorme maleabilidade que tem frente a aprendizagem e ao meio que o rodeia.

  • CAPTULO

    IA Neuroeducao: uma nova aliada dos programas de ateno e educao da primeira infncia.

    16 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Para entender como o perfil do adulto e a qualidade das experincias com o ambiente em que vivem as crianas podem afetar o desenvolvimento cerebral e, em alguns casos, deixar marcas permanentes em diferentes aspectos da vida adulta [3], temos ao nosso alcance bases mais slidas que so o resultado das investigaes realizadas nos mbitos das Cincias Sociais, da Psicologia e, principalmente, das Neurocincias.

    Neste sentido, surgiu uma nova linha de pensamento e ao, a Neuroeducao, em que confluem as Neurocincias, a Psicologia e a Educao. Seu objetivo principal trazer aos pais e educadores os conhecimentos relacionados ao funcionamento do crebro.

    A Neuroeducao possibilita a compreenso dos mecanismos cerebrais subjacentes aprendizagem, memria, linguagem, aos sistemas sensoriais e motores, ateno, emoes, ao comportamento, entre outros. Ademais, ajuda a reconhecer os fatores de risco para

    As experincias nas etapas iniciais do desenvolvimento humano (pr-natal e primeira infncia) exercem uma grande influncia na estruturao e funcionalidade do crebro, refletindo diretamente na qualidade das habilidades sensoriais, emocionais, intelectuais, sociais, fsicas e morais que tem cada pessoa.

  • 17OEA Organizao dos Estados Americanos

    o desenvolvimento cerebral, entre os quais esto a desnutrio, as emoes negativas, a anemia, o alto nvel de stress, o maltrato verbal ou fsico. Esta informao dar ao adulto maiores possibilidades para reduzir ou evitar os fatores de risco, a fim de proporcionar criana um ambiente mais saudvel e adequado. A neuroeducao nos aproxima das mais recentes investigaes sobre o crebro e o funcionamento dos circuitos nervosos envolvidos com a matemtica, a leitura, a msica, a arte, permitindo que os educadores (profissionais e os pais) tenham uma base mais slida para inovar sua proposta educativa. As investigaes tambm tm demonstrado que a prtica de determinadas habilidades pode modificar os circuitos cerebrais, fazendo com que novas conexes sinpticas se estabeleam ou que se reforcem as existentes. No que se refere s investigaes relacionadas com as funes executivas do crebro, por exemplo, que correspondem ao crtex pr-frontal (o qual leva aproximadamente 20 anos para amadurecer), as evidncias demonstram que tais funes iniciam seu desenvolvimento na primeira infncia. Segundo Garca-Molina et al., o desenvolvimento das funes executivas implica o desenvolvimento de uma srie de capacidades cognitivas que permitiro criana manter informaes, manipul-las e atuar em funo destas; autorregular sua conduta agindo de forma reflexiva e no impulsiva; e adaptar seu comportamento s mudanas que possam acontecer em seu entorno. As alteraes precoces no desenvolvimento executivo limitam de forma dramtica a capacidade de a criana

  • CAPTULO

    IA Neuroeducao: uma nova aliada dos programas de ateno e educao da primeira infncia.

    18 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    para fazer frente s novas situaes, assim como para adaptar-se s mudanas de maneira flexvel [4].

    Seria ideal estabelecer como requisito principal para todos os educadores uma formao mnima em Neuroeducao, assim como para os pais de famlia e toda a comunidade. A primeira infncia um compromisso de todos.

  • 19OEA Organizao dos Estados Americanos

    Captulo IIEntendendo as crianas

    desde o comeo: a etapa pr-natal e a construo

    do crebro

  • CAPTULO

    II Entendendo as crianas desde o comeo: a etapa pr-natal e a construo do crebro

    20 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Os homens devem saber que do crebro, e somente dele, vm as alegrias, as delcias, o prazer, o riso e tambm, o sofrimento, a dor e os lamentos. por ele que adquirimos sabedoria e conhecimento e vemos, e ouvimos e sabemos o que est bem e o que est mal, o que doce e o que amargo. E por esse mesmo rgo, nos tornamos loucos, deliramos e o medo e o terror nos assaltam. o mximo poder no homem. nosso intrprete daquelas coisas que esto no ar.

    Hipcrates

    No poderamos falar de desenvolvimento infantil sem falar paralelamente dos mecanismos de desenvolvimento cerebral subjacentes a este processo e que se iniciam no ventre materno.

    O crebro o nico rgo do corpo que necessita de muito tempo para crescer e desenvolver-se, passando por mudanas anatmicas e funcionais surpreendentes desde a etapa pr-natal at o incio da vida adulta. Este fantstico, enigmtico e complexo processo a enorme demonstrao de um rgo que constri a um organismo e constri a si mesmo. Esta construo comea a to somente trs semanas depois da concepo, quando a grande maioria das mames ainda no sabe que tm uma nova vida em seu ventre.

    O sistema nervoso central se origina em uma lmina repleta de clulas chamada placa neural, na superfcie

  • 21OEA Organizao dos Estados Americanos

    dorsal do embrio. Posteriormente, esta placa dobra sobre si mesma, formando um canal que, medida que o desenvolvimento prossegue, faz-se mais profundo, fechando as paredes que o compem, originando um tubo conhecido como tubo neural3. Desta estrutura preparatria, a medula espinal e o crebro comearo a se desenvolver e a funcionalidade deste sistema nervoso primitivo ficar evidente quando, na terceira semana de desenvolvimento pr-natal, ele se tornar capaz de coordenar o desenvolvimento dos demais rgos, permitindo, em muito pouco tempo, que os ansiosos pais escutem pela primeira vez as batidas do corao de seu beb.

    Imagem 1

    3 Imagem 1. Neural_Crest.png. Em http://en.wikipedia.org/ wiki/Neuroscience

    Placa Neural Fronteira Placa neural

    Convergncia

    Epiderme

    Fechamento do tubo neural

    Crista neural

    Epiderme

    Dobre Neural

  • CAPTULO

    II Entendendo as crianas desde o comeo: a etapa pr-natal e a construo do crebro

    22 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    medida que passam as semanas, o sistema nervoso vai se desenvolvendo graas a mecanismos que envolvem, entre outros, a neurognese (nascimento) das clulas que o formaram, a proliferao (multiplicao) das mesmas e sua migrao (viagem que fazem estas clulas) at as zonas estveis do sistema aonde elas se localizaro.

    CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO CEREBRAL EM UM ABRIR E FECHAR DE OLHOS

    medida que as clulas continuam seu proceso de proliferao, o volume do crebro vai aumentando. Desde a parte superior do tubo neural, comeam a surgir trs protuberncias (prosencfalo, mesencfalo e rombencfalo) que se convertero em pouco tempo nas diferentes partes do crebro, enquanto que a parte inferior formar a medula espinhal. O desenvolvimento do sistema nervoso e do crebro obedece a uma programao gentica que tem princpios bsicos de organizao, o que nos permite ter conhecimento da sequncia fabulosa dos sucessos que ocorrem durante o desenvolvimento cerebral no feto, como por exemplo, a transformao das trs protuberncias iniciais (prosencfalo, mesencfalo e rombencfalo)4 em cinco vesculas (telencfalo, diencfalo, mesencfalo, metencfalo e mielencfalo)5 e, logo, estas, em novas estruturas que formaro as diferentes partes do crebro com todos seus componentes essenciais.

    4 Imagem 2. Em http://es.wikipedia.org/wiki/Archivo:4_week_embryo_brain_ES.jpg

    5 Imagem 3. EmbryonicBrain.svg. En http://en.wikipedia. org/wiki/Neuroscience

  • 23OEA Organizao dos Estados Americanos

    Imagem 2

    Imagem 3

    Observando as estruturas iniciais mais baixas do sistema nervoso, encontramos a medula espinhal, que conecta o encfalo (crebro) com outras zonas do corpo; ademais, recebe e processa informao sensorial da pele, articulaes e msculos, e controla o movimento das extremidades e do tronco.

    Telencfalo

    Diencfalo

    Metencfalo

    Mielencfalo

    Medula espinhal

    Prosencfalo

    Mesencfalo

    Rombencfalo

    Prosencfalo Mesencfalo

    Rombencfalo

    Medula espinhal

  • CAPTULO

    II Entendendo as crianas desde o comeo: a etapa pr-natal e a construo do crebro

    24 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Sobre a medula espinhal encontramos o rombencfalo, o qual se divide em duas vesculas: mielencfalo e metencfalo. Ambas abrigaro as zonas essenciais para a vida e a sobrevivncia.

    No mielencfalo temos o bulbo raquidiano, que liga o encfalo com a medula espinal. Inclui vrios centros responsveis por funes autnomas vitais.

    No metencfalo se forma a protuberncia anular, que serve como ponte entre cerebelo, bulbo e crebro, conduzindo informao sobre o movimento desde os hemisfrios at o cerebelo. Por sua vez, o cerebelo coordena e modifica a atividade resultante dos impulsos e ordens enviadas desde o crebro, modula a fora e disposio do movimento e est implicado na aprendizagem de habilidades motoras e na memria.

    O desenvolvimento do sistema nervoso e do crebro obedece a uma programao gentica que tem princpios bsicos de organizao, o que nos permite ter conhecimento da sequncia fabulosa dos sucessos que ocorrem durante o desenvolvimento cerebral no feto.

  • 25OEA Organizao dos Estados Americanos

    Na continuao se encontra o mesenc-falo, que controla muitas funes senso-riais e motoras (movimentos oculares e coordenao de reflexos visuais e audi-tivos), tambm uma estao de relevo para sinais auditivos e visuais.

    Finalmente encontramos o prosencfalo. Este se divide em duas novas vesculas: telencfalo e diencfalo, as quais daro origem a estruturas essenciais que tm funes de grande importncia.

    Do diencfalo emergiro estruturas como o tlamo e o hipotlamo. O tlamo co-nhecido como a principal estao de re-transmisso para a informao sensorial que ser destinada ao crtex cerebral. Tambm tem outras funes relaciona-das com o movimento, o comportamento emocional, a aprendizagem e a memria. O hipotlamo, constitudo por um conjunto de ncleos bastante complexos, res-ponsvel por regular o funcionamento homeosttico do organismo; participa da regulao e liberao de horm-nios e influi de maneira significativa na conduta, pois est relacionado com a sede, a fome e os padres de sono.

    O telencfalo constituir um conjunto de estruturas que marcaro a diferena entre nossa espcie e qualquer outra espcie na Terra. Nos dotar de inteligncia, proporcionando-nos a capacidade de falar, de sentir, de aprender, de recordar, de

  • CAPTULO

    II Entendendo as crianas desde o comeo: a etapa pr-natal e a construo do crebro

    26 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    realizar movimentos e de amar. Algumas destas estruturas so o hipocampo (que entre tantas funes participa na formao das memrias) e os gnglios basais, estrutura envolvida com a aprendizagem e de grande importncia para o controle cognitivo de um movimento.

    Ademais, encontraremos o sistema lmbico, constitudo por vrias estruturas, entre elas a amgdala, relacionada com as emoes, o comportamento social e inclusive a sobrevivncia, pois integra informao do ambiente interno e externo.

    A estrutura que se forma mais tardiamente a partir do prosencfalo o crtex cerebral. Mesmo que comece a se desenvolver aproximadamente na oitava semana de gestao, seu processo de maturao gradual e segue durante muitos anos depois do nascimento. responsvel pelas habilidades mais nobres e refinadas, nicas no ser humano. Ocupa-se do funcionamento cognitivo e possui um enorme nmero de clulas nervosas. Tem zonas especficas denominadas lobos, localizados nos dois hemisfrios cerebrais. Os primeiros que surgem so os lobos frontais, seguidos pelos lobos parietais, temporais e occipitais. Todas as regies do crebro tm sua origem na etapa pr-natal, e as funes que desempenham se fortalecem a partir das conexes que vo se estabelecendo entre as clulas que as compem. Entre as variadas responsabilidades e funes que tm os lobos, podemos mencionar as seguintes:1. Frontais: pensamento, planejamento, deciso, juzo,

    criatividade, resoluo de problemas, comportamento, valores, hbitos. altamente executivo.

  • 27OEA Organizao dos Estados Americanos

    2. Parietais: informao sensorial (tato, dor, gustao, presso, temperatura), dados espa-ciais, verbais e fsicos.

    3. Temporais: audio (tom e intensi-dade do som), linguagem, mem-ria e emoo.

    4. Occipitais: informao visual.

    Em resumo, todas as regies do crebro tm sua origem na etapa pr-natal, e as funes que desempenham se fortalecem a partir das conexes que vo se estabelecendo entre as clulas que as compem.

    ENTRE UM MAR DE CLULAS, EMERGE UM COMPLEXO SISTEMA DE COMUNICAO

    Em to somente vinte semanas de gestao, o sistema nervoso e o crebro passam por surpreendentes transformaes morfolgicas e, em um abrir e fechar de olhos, sua estrutura bsica j est formada; assim mesmo, vrias zonas comeam a trabalhar em circuitos para gerenciar algumas funes especiais, como por exemplo, a audio e a viso. Mas como se dar tudo isto?

    O crebro humano construdo com a participao de aproximadamente cem bilhes de clulas nervosas chamadas neurnios, que trabalham como unidade anatmica e funcional do sistema nervoso central. Um neurnio prototpico maduro (o mais comum) apresenta trs regies essenciais: os dendritos (que recebem informao de outros neurnios), o corpo

    1

    4

    2

    3

  • CAPTULO

    II Entendendo as crianas desde o comeo: a etapa pr-natal e a construo do crebro

    28 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    celular (que o centro metablico celular; contm o ncleo que armazena os genes da clula, os retculos endoplasmticos rugoso e liso que sintetizam as protenas da clula) e o axnio (principal unidade condutora do neurnio).6

    Imagem 4

    No entanto, os neurnios no so as nicas clulas presentes. Elas recebem suporte de outros tipos de clulas chamadas glias, as quais, entre outras funes, participam na produo da mielina (uma lipoprotena que recobre o axnio, o isola e assegura a conduo da informao a grande velocidade) e recolhe os restos celulares. Ademais, as glias so fundamentais no processo de migrao, pois algumas delas servem de trilhos para impulsionar aos neurnios at seu lugar final na rede.

    6 Imagem 4. Neuron_Hand-tuned.svg. Em http://en.wikipedia.org/wiki/Neu-roscience

    DendrticasTerminal axonal

    Soma

    N de Ranvier

    Axon

    As clulas de Schwann

    Bainha de MielinaCore

    ESTEREOTIPADO NEURNIO

  • 29OEA Organizao dos Estados Americanos

    A origem dos neurnios, a neurognese, comea muito cedo, desde a formao do tubo neural. Estima-se que entre 50 000 e 100 000 novos neurnios so gerados a cada segundo entre a 15 e 20 semanas de vida. Para cada uma das regies que foram se formando migraro milhes de neurnios, que, j localizados, necessitam iniciar contato com as demais clulas agregadas. Atravs de conexes, os neurnios comeam a se comunicar, fenmeno conhecido como sinaptognese. A transferncia da informao entre neurnios acontece em lugares de contato especializado chamados de sinapses, que podem ser do tipo eltrica ou qumica. Nas sinapses qumicas, a informao chega atravs de mensageiros qumicos chamados neurotransmissores. A sinaptognese comea na estrutura mais baixa do sistema nervoso, na medula espinal, aproximadamente na 15 semana da gestao. Para o momento do nascimento, todos os circuitos neuronais necessrios para a adaptao do beb ao novo entorno j esto conectados e mielinizados.

    Durante a etapa pr-natal e na primeira infncia, o crebro produz muito mais neurnios e conexes sinpticas que o necessrio, como uma forma de garantir que uma quantidade suficiente de clulas chegue a seu destino e conectem-se de forma adequada.

  • CAPTULO

    II Entendendo as crianas desde o comeo: a etapa pr-natal e a construo do crebro

    30 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Durante a etapa pr-natal e a primeira infncia, o crebro produz muitos mais neurnios e conexes sinpticas de que chegar a necessitar, como uma forma de garantir que uma quantidade suficiente de clulas chegue a seu destino e que conectem-se de forma adequada. No entanto, para se organizar, o sistema nervoso programa a morte celular de vrios neurnios (apoptose) e a poda de milhares de sinapses que no estabeleceram conexes funcionais ou que j cumpriram sua tarefa. As sinapses que envolvem neurnios competentes e ativos na rede so as que permanecero e a funcionalidade de cada um destes circuitos neuronais o que nos permitir aprender, memorizar, perceber, sentir, mover-nos, ler, somar ou emitir, desde respostas reflexas at as mais complexas anlises relacionadas fsica quntica.

    A mielinizao das fibras nervosas comea na medula espinal e vai subindo at chegar ao crebro. Ali, as diferentes zonas so mielinizadas pouco a pouco, respeitando um largo processo programado geneticamente, o mesmo que durar muitos anos depois do nascimento. Atualmente sabemos que as zonas subcorticais que controlam funes vitais e reflexas so mielinizadas antes que as regies corticais que controlam habilidades mais sofisticadas, sendo o crtex pr-frontal o ltimo a ser mielinizado7. A mielinizao das fibras nervosas, logo que so estabelecidas as sinapses, altamente relevante para o surgimento e fortalecimento das funes. Quanto maior for a mielinizao, maior

    7 Alguns estudos neurocientficos longitudinais tm demonstrado que a mielinizao do crtex pr-frontal pode seguir at os vinte anos.

  • 31OEA Organizao dos Estados Americanos

    ser a funcionalidade dos circuitos neuronais. Embora os genes controlem o processo de mielinizao, os fatores ambientais podem afetar seu grau e qualidade. A desnutrio, tanto da me gestante como da criana, um dos fatores que afetam ao processo de mielinizao, j que as clulas gliais tambm so sensveis qualidade da nutrio.

    O CUIDADO PR-NATAL E SUA INFLUNCIA NO CREBRO

    de vital importncia orientar s mulheres grvidas sobre o desenvolvimento cerebral de seu beb na etapa pr-natal, j que seu estado de sade e tambm seu bem estar emocional, podem influir e perfilar este processo. Vale a pena notar que embora as correntes sanguneas da me e seu filho estejam separadas pela placenta, existem vrias substncias que podem ultrapassar essa barreira, influenciando o desenvolvimento cerebral do feto (nutrientes, vacinas, drogas, vitaminas, lcool, nicotina, entre outros). Assim mesmo, necessrio considerar que h outros fatores de risco que podem influenciar no desenvolvimento do beb: idade e estado nutricional da me, raios X, enfermidades e desordens maternas, herpes genital, enfermidades virais, toxemia gravdica, fator RH negativo no sangue, estado emocional da me, stress, enfermidades genticas do pai, transmisso de vrus do pai para a me e a sade paterna.

    As experincias da me durante esta etapa pr-natal determinam, favoravelmente ou no, as fases posteriores

  • CAPTULO

    II Entendendo as crianas desde o comeo: a etapa pr-natal e a construo do crebro

    32 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    do desenvolvimento do novo ser humano [1, 2, 3]. As exposies substncias nocivas, txicas ou radioativas durante essa etapa danificam e interrompem o normal desenvolvimento do sistema nervoso, e isto se deve a que sinalizao e regulao da expresso gentica durante a fase inicial do desenvolvimento neural so vulnerveis aos efeitos das mutaes genticas, de modo que as aes de muitos frmacos e toxinas podem comprometer a formao e organizao de um sistema nervoso normal [3, 4, 5, 6].

    Por outro lado, a insuficincia ou o excesso de nutrientes elementares durante os primeiros meses de vida intrauterina diminui significativamente a consolidao de estruturas nervosas no feto, enquanto que uma nutrio adequada na vida inicial no desenvolvimento ps-natal permite o fortalecimento dos processos de aprendizagem em etapas posteriores [7]. A nutrio fetal prepara o cenrio para a funo do crebro na vida posterior ao nascimento, da a importncia de uma boa nutrio materna.

    O cido flico essencial para a formao de novas clulas, pois promove as enzimas que ajudam a produo do material gentico. Seu consumo importante, principalmente, na etapa anterior e inicial da gravidez, j que nas primeiras semanas desta se inicia a neurognese, e o crebro comea a desenvolver-se.

    Na etapa pr-natal, o ser humano comea a construir-se a si mesmo. Para respeitar a sequncia de acontecimentos relacionados estruturao e funcionalidade do crebro nesta etapa, necessrio que o feto conte com a

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    tranquilidade e a boa alimentao de sua me. Ademais, importante moderar os estmulos que recebe desde os programas de estimulao pr-natal, j que o feto tambm necessita de perodos de descanso para que a natureza siga a rota j programada. A superestimulao pode alterar os ritmos deste processo. A etapa pr-natal a primeira etapa do ciclo vital e o ventre materno o primeiro entorno do ser humano. nesse entorno onde presenciamos o milagre da vida, a enigmtica capacidade do crebro que, embora no esteja sucifientemente maduro, comea a construir um organismo entre uma mistura de estabilidade e mudanas, que ao mesmo tempo que lhe permite SER, permite-lhe projetar-se a si mesmo para CHEGAR A SER.

    A etapa pr-natal a primeira etapa do ciclo vital e o ventre materno o primeiro entorno do ser humano. nesse entorno onde presenciamos o milagre da vida.

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    II Entendendo as crianas desde o comeo: a etapa pr-natal e a construo do crebro

    34 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

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    Captulo IIIO nascimento e os primeiros

    meses de vida: momentos decisivos para o crebro

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    III O nascimento e os primeiros meses: momentos decisivos para o crebro

    36 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Durante a etapa pr-natal ocorrero vrios processos essenciais para a vida do ser humano. Desde o ventre materno, a estruturao do sistema nervoso e do crebro, conjuntamente com o despertar de vrias funes, preparo a este ser para uma nova etapa: o nascimento.

    Ao nascer um beb, olhamos com ternura a fragilidade desse pequeno ser que temos em nossas mos. No entanto, esse ser de aparncia delicada um verdadeiro campeo: acaba de passar por uma das experincias mais duras e singulares de toda sua vida seu nascimento. Apenas para mencionar algumas dessas situaes, podemos listar a sada de sua cabea por um canal muito estreito (ou sua retirada inesperada, como o caso da cesrea), o brilho intenso da luz, o ar entrando em seus pulmes, os rudos e os odores, sem contar que alguns sofrem deformaes em suas cabeas ou golpes em seus corpinhos. Mas l ns o temos, feito um campeo, pronto para comear um longo caminho de desenvolvimento.

    A facilidade ou dificuldade com a qual nasce um beb, a rapidez com que comea a respirar, a efetividade do mdico obstetra, podem afetar significativamente o processo de desenvolvimento cerebral.

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    Ao nascer, o crebro de um beb pesa aproximadamente a quarta parte do que chegar a pesar quando for um adulto, e isto graas a tudo o que aconteceu dentro do ventre materno. Mas o nascimento, em si, tambm um momento especial para o crebro do beb: por um lado est a fortaleza do dever cumprido, pois cresceu e se desenvolveu adequadamente at chegar o dia do nascimento e enfrentar o novo entorno, e, por outro lado, a fragilidade do momento. A facilidade ou dificuldade com a qual nasce um beb, a rapidez com que comea a respirar e a efetividade do mdico obstetra podem afetar significativamente o processo de desenvolvimento cerebral. Interrupes no processo de oxigenao do crebro podem ser cruciais e causar danos cerebrais em diferentes graus. Estima-se que 30% dos casos de paralisia cerebral resultado da falta de oxigenao durante este perodo perinatal. Um nascimento em condies apropriadas desempenha um papel decisivo, pois permite ao beb uma adaptao harmnica com o novo ambiente, que est pleno de sons, luzes, cheiros, temperaturas e texturas, alm de facilitar a tarefa de encontrar um crebro externo que o adapte ao novo mundo.

    Os seres humanos necessitam de uma experincia ps-natal significativa para adaptar-se ao novo entorno e aprender uma forma de comunicao que lhes permita sobreviver nele.

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    III O nascimento e os primeiros meses: momentos decisivos para o crebro

    38 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Para a etapa ps-natal, j podemos observar aspectos importantes que perfilaro o desenvolvimento infantil, como algumas caractersticas anatmicas, funcionais e sensoriais que refletem o nvel de desenvolvimento do sistema nervoso do neonato.

    Depois do nascimento, as experincias do dia a dia do beb desempenharo um papel importante no desenvolvimento de seu crebro. O nmero de novas sinapses se incrementa de forma exponencial no perodo ps-natal, especialmente durante as primeiras duas semanas de vida. Nesta etapa do desenvolvimento, a produo de novos neurnios (neurognese) e a conexo entre eles (sinaptognese) aumentam a possibilidade de modificao na funo cerebral (plasticidade cerebral), que depende principalmente das primeiras experincias [1, 2]. Isto significa que se nesta etapa o beb est exposto a uma privao emocional, ocorrero fenmenos de morte neuronal (apoptose) no plano cerebral, incidindo em uma maior vulnerabilidade ao estresse e na diminuio da resposta imunolgica do infante. por isso que a ateno dos pais durante a primeira infncia crucial para o amadurecimento do crebro, especialmente para as estruturas encarregadas da afetividade e da memria [3].

    Os seres humanos necessitam de uma experincia ps-natal significativa para que se adaptem ao novo entorno e aprendam uma forma de comunicao que lhes permita sobreviver nele. Neste sentido, as canes de ninar, as conversas da mame com seu beb, seu tom e timbre de voz desde os momentos iniciais de vida ajudaro ao beb

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    a produzir e decodificar os sons da fala que constituiro a base da linguagem [4, 5], pois as experincias diarias modificaro os circuitos neuronais durante os perodos denominados crticos para a aprendizagem da linguagem falada. Um perodo crtico se refere ao tempo durante o qual um determinado comportamento especialmente suscetvel s influncias ambientais especficas, visto que necessita delas para se desenvolver normalmente [6]. Mas os perodos crticos no se vinculam somente aquisio de comportamentos; tambm esto relacionados com os circuitos do sistema nervoso. Um caso mais familiar de perodo crtico vinculado aquisio da linguagem o referente ao segundo idioma, que em geral se deve aprender antes de chegar puberdade para que exista uma fluncia completa [5, 7]. A atividade neuronal gerada pelas interaes com o mundo exterior logo ao nascer proporciona um mecanismo pelo qual o meio ambiente pode influenciar na estrutura e na funo do sistema nervoso. O desenvolvimento das capacidades sensrio-perceptivas e das habilidades motoras, tambm um fenmeno crucial dentro dos perodos crticos. Durante a primeira infncia, os circuitos do crtex cerebral possuem um estado de alta plasticidade (adaptaes dos circuitos neuronais frente aprendizagem ou frente s contingncias) que faz com que possam ser modificados facilmente. Nessa etapa do desenvolvimento, a ausncia de experincias sensoriais, principalmente as relacionadas com a viso e a audio, pode ter srias conseqncias funcionais. Como manifestao notvel de plasticidade, por exemplo, est a ativao do crtex visual primrio de pessoas cegas que perderam a viso precocemente

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    III O nascimento e os primeiros meses: momentos decisivos para o crebro

    40 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    enquanto elas vo fazendo a leitura em Braile [8]. No entanto, quando os padres normais de atividade se alteram durante um perodo crtico no incio da vida, altera-se a conectividade no crtex visual, como tambm a funo visual [9]. Se essas alteraes funcionais do circuito enceflico no se reverterem antes de finalizar o perodo crtico, difcil ou impossvel modific-las.

    O que aprendemos desde os primeiros meses de vida retido ou armazenado em nosso crebro graas a memria. A memria inferida a partir do comportamento. No h aprendizagem sem memria nem memria sem aprendizagem [6]. As distintas capacidades intelectuais e motoras so adquiridas medida que amadurecem as estruturas nervosas necessrias para sua aquisio. Os sistemas de memria vo se desenvolvendo em paralelo com o processo de amadurecimento dos circuitos nervosos e, o mais interessante que muitas informaes que esto armazenadas em nossa memria de longo prazo foram aprendidas na primeira infncia. Ainda existem dvidas de que esta etapa essencial para o ser humano?

    O crebro do recm-nascido necessita atravessar vrias fases de amadurecimento para poder adquirir e mostrar suas distintas capacidades e habilidades.

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    O crebro do recm-nascido necessita atravessar vrias fases de amadurecimento para poder adquirir e mostrar suas distintas capacidades e habilidades. Algumas dessas habilidades, como j sabemos, requerem ser adquiridas ou aprendidas em um determinado momento para que se estruturem de forma apropriada [10], como o caso da linguagem, anteriormente mencionada. Outra rea que merece muita ateno a rea motora. O corpo o scio estratgico que tem o crebro para seguir seu processo de desenvolvimento: do corpo chega a informao e para o corpo vai a informao que emite o crebro. As reas do sistema nervoso relacionadas com o movimento so as primeiras a se consolidarem, j que desde o ventre materno o beb vem ensaiando seus primeiros movimentos. Para a aprendizagem de habilidades motoras, o beb necessita, primeiramente, oportunidades para descobrir e utilizar seu corpo. Estar de boca para baixo desde os primeiros meses, ser balanado (com pouca intensidade e durao), arrastar-se, engatinhar, escalar, abrir e fechar objetos so atividades que permitiro uma maior maturao do sistema nervoso e do crebro. As habilidades motoras aprendidas na primeira infncia (como caminhar, correr, agarrar, segurar, soltar, andar de bicicleta, entre outras) sero recordadas ao longo da vida.

    As demais aprendizagens estaro mediadas principalmente por fatores ambientais que tm efeitos diretos na consolidao estrutural e funcional destas aprendizagens no crebro. Neste sentido, o sono considerado um agente importante para o desenvolvimento do crebro, j que significa a consolidao da aprendizagem de carter

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    III O nascimento e os primeiros meses: momentos decisivos para o crebro

    42 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    bioqumico [11, 12, 13]. A consolidao da memria de longo prazo se realiza quando o crebro passa pela fase de sono profundo (REM) e isto se d desde a primeira infncia.

    Outro fator de suma importncia a levar em conta no desenvolvimento e amadurecimento cerebral da criana a nutrio. O crebro da criana requer determinados nutrientes (certo tipo de cidos graxos), alm de glicose, gua, sal, entre outros, para cumprir com suas funes essenciais como a neurotransmisso e a neurognese, assim como para proteger-se contra o estresse oxidativo [14, 15]. Tudo isto vai permitir a maximizao do potencial cognitivo das seguintes etapas do desenvolvimento cerebral. Cabe ressaltar que, indiscutivelmente, o alimento mais completo e rico em todos os aspectos para os bebs o leite materno. Investigaes realizadas tm demonstrado que os cidos graxos encontrados no leite materno so ideais para o desenvolvimento do sistema nervoso, alm de ter qualidade imunolgica e psicolgica.

    O papel do afeto, bem como do sono e da nutrio, fundamental nessa etapa inicial da vida para o

    A primeira infancia a plataforma de decolagem do nosso universo sensorial e perceptivo.

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    amadurecimento neurobiolgico e o desenvolvimento emocional, motor e cognitivo das crianas. Atualmente, j sabemos da importncia do vnculo afetivo desde o incio da vida, pois este que permite ao beb se adaptar ao entorno, regular sua ansiedade, confiar em si mesmo, buscar sua autonomia e, principalmente, o ajuda a regular o funcionamento de todas as estruturas cerebrais relacionadas com as emoes e o comportamento.

    Do mesmo modo, no podemos deixar de mencionar as experincias sensrio-perceptivas como essenciais para o desenvolvimento cerebral nos primeiros meses de vida. Pensemos em um exemplo: os neurnios que foram designados ao circuito visual somente podero cumprir de maneira ideal suas funes se estiverem expostos s experincias sensoriais com o ambiente.

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    III O nascimento e os primeiros meses: momentos decisivos para o crebro

    44 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Embora possam abrir seus olhos, os bebs no podem observar ou interpretar o que est em seu entorno. A mielinizao gradual desses circuitos, somada s experincias com a luz, os objetos, as formas, as cores, o movimento, a profundidade, so alguns elementos que facilitaro o desenvolvimento visual a tal grau que as crianas podero, em poucos anos, apresentar uma excelente acuidade visual que lhes permita encontrar diferenas sutis entre duas imagens parecidas. Da mesma forma, os demais sistemas sensoriais tm seu desenvolvimento dependente da experincia, de modo que o adulto pode facilitar oportunidades, cuidar da qualidade dos estmulos e organizar informao para que o crebro do beb possa extrair de cada uma das experincias os insumos que necessita para construir-se, amadurecer e chegar funcionalidade.

    A primeira infncia a plataforma de decolagem de nosso universo sensorial e perceptivo, que no somente nos permitir manter-mo-nos vivos (para aproximarmos ou distanciarmos de um estmulo), mas tambm ser o veculo para a conduo de informao cognitiva, motora e emocional, principalmente.

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    Captulo IVUm breve olhar sobre a

    primeira infncia

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    IV Um breve olhar sobre a primeira infncia

    46 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    O processo de desenvolvimento humano fasci-nante: um conjunto de fatores genticos e ambientais que vo influenciando no desenvolvimento cerebral e modelando a conduta, as emoes, a estrutura fsica, as habilidades cognitivas e a personalidade, permitindo assim que o ser humano se adapte a seu entorno. um processo construtivo, com uma complexidade nica em cada pessoa, e que tem como base, indiscutivelmente, os primeiros anos de vida.

    Etapa que compreende desde o nascimento at os oito anos de idade, a primeira infncia marca o perodo mais significativo na formao do in- divduo, visto que nela se estruturam as bases do desenvolvimen-to e da personalidade, sobre as quais as sucessivas etapas se consolidaro e se aperfeioaro. jus- tamente nesta etapa que as estruturas neurofisiolgi-cas e psicolgicas es- to em pleno pro-cesso de amadu- recimento e, neste sentido, a qualidade e quantidade de influncias que recebem as crianas do entorno familiar, socioeconmico e cultural os moldaro de uma forma quase definitiva. Todo este processo nos faz ver que a educao, nesta etapa da vida, chega a exercer

    A infncia , em definitivo, uma etapa para se cuidar.

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    uma ao determinante por estar atuando sobre estru-turas que esto em plena fase de amadurecimento e de-senvolvimento.

    A primeira infncia est marcada por um notvel crescimento fsico e significativo desenvolvimento sensorial e perceptivo. Tambm presenciamos o despertar de habilidades emocionais, intelectuais e sociais, assim como um surpreendente desenvolvimento da linguagem e das mais diversas formas de expresso: cantar, danar, mover-se, chorar, pintar, falar falarfalar so atividades que esto presentes na vida cotidiana de nossas crianas que corroboram com um processo de desenvolvimento cerebral.

    A infncia , em definitivo, uma etapa para se cuidar: entend-la transformar o estilo de ateno e educao familiar ou institucional que sero brindadas a este to precioso momento da vida do ser humano. Vrias investigaes indicaram que as experincias fsicas, sociais, emocionais, cognitivas e sensoriais, as quais esto expostas as crianas, so crticas e cruciais para a organizao de seu sistema nervoso e para o desenvolvimento do crebro, podendo deixar sequelas para toda uma vida. Neste sentido, pais, educadores, psiclogos, assistentes sociais e toda pessoa que conviva com uma criana, leva uma enorme responsabilidade sobre seus ombros: conhecer como se d o processo de desenvolvimento na infncia para entender como atend-lo e estimul-lo.8

    8 Campos, Anna Lucia Neuroeducao: como educar para que o crebro aprenda. Cerebrum Ediciones. Per, 2010.

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    IV Um breve olhar sobre a primeira infncia

    48 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Entre as mais diversas investigaes realizadas pelos neurocientistas, encontramos um consenso a respeito da primeira infncia como um perodo de forte impacto na qualidade de vida posterior de todo indivduo por tratar-se de uma etapa de significativo crescimento e desenvolvimento cerebral, onde a alta plasticidade que possui o crebro permite que as experincias vividas o modelem tanto estrutural como funcionalmente.

    Investigaes realizadas pela Child Trauma Academy demostraram que as experincias desfavorveis durante a infncia como a violncia familiar, a negligncia, o abuso, o maltrato e at a depresso dos pais podem afetar de maneira traumtica a uma criana, o que exerce uma forte influncia em sua sade mental ou, em graus mais elevados, pode provocar uma conteno do desenvolvimento de seu crebro.

    Em to somente poucos meses depois do nascimento, os pais podero observar vrias das habilidades que so fruto de um crebro cada dia mais desenvolvido. As

    Experincias desfavorveis durante a infncia podem afetar de maneira traumtica uma criana, exercer uma forte influncia em sua sade mental ou, em graus mais elevados, pode provocar um atraso do desenvolvimento de seu crebro.

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    primeiras palavras, os primeiros passos, os sorrisos, os abraos, as canes e muitas outras destrezas fsicas ou cognitivas, so o resultado do refinamento do sistema de conexo entre os neurnios, da ramificao dendrtica, da formao de novas conexes ou da poda daquelas que no tm nenhuma funo para a rede e, principalmente, so o fruto do processo de mielinizao que permitir que a cada segundo o crebro se torne mais funcional.

    Levando em conta que as experincias influenciaro no cabeamento cerebral, de suma importncia propiciar oportunidades, recursos e ambiente adequados, j que em poucos anos as crianas tero que aprender muitas coisas: escutar, falar, caminhar, escrever, ler, interpretar o mundo que os rodeia, selecionar, classificar, inferir, entre tantas outras capacidades que sero a base para todas as aprendizagens posteriores.

    Durante o primeiro ano de vida, o crebro triplica seu peso como demonstrao de normalidade nos processos cruciais para todo ser humano: crescimento (aumento da massa celular) e desenvolvimento (especializao celular). No segundo ano adquire trs quartos de seu peso total, e ao terceiro ano de vida apresenta uma atividade nervosa duas vezes mais significativa que a de um adulto. As investigaes realizadas por diferentes neurocientistas demonstraram que o crebro realiza 1,8 milhes de novas sinapses por segundo entre os dois meses de gestao e os dois anos de idade, e que 83% do crescimento dendrtico ocorre depois do nascimento (Elliot, 2000).

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    IV Um breve olhar sobre a primeira infncia

    50 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    A densidade sinptica aumenta magistralmente no pelo aumento de novos neurnios, mas pelo crescimento dos dendritos e o aumento das conexes entre os neurnios. A energia vital, os primeiros passos, as primeiras palavras e frases, as travessuras, a explorao, a descoberta, as habilidades fsicas, sociais e emocionais que a cada dia so mais significativas, so a confirmao visvel de um crebro em constante desenvolvimento.

    Vrios estudos concluram que nos primeiros anos de vida o processo de conexo sinptica e a plasticidade cerebral so exuberantes, pois, diferentemente do corpo, o crebro no aumenta tantas clulas depois do nascimento, mas sim, faz crescer as prolongaes das mesmas provocando um sistema de comunicao fenomenal. A exploso de sinapses para a estruturao significativa desta complexa rede neuronal permitir o despertar paralelo de muitas habilidades sensoriais, motoras, cognitivas, sociais e emocionais que permitiro criana integrar-se ao mundo que a rodeia, crescer e desenvolver-se.

    De acordo com o estudo realizado por Kurt Fischer, desde o nascimento at aproximadamente os 25 anos, o crebro apresenta uma srie de estires refletidos, por exemplo, no crescimento da cabea, na atividade cerebral e na densidade das conjunes sinpticas entre as ramificaes dendrticas, por mencionar algumas.

    Segundo Fischer, durante os trs primeiros meses de vida existem trs estires, cada um deles acompanhado por novas habilidades relacionadas aos instintos primitivos e

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    aos reflexos de sobrevivncia. Cada uma das experincias vividas durante estas etapas e nas posteriores que surgem, preparar e conduzir o crebro para um novo estiro. Para ilustrar o que anteriormente foi dito, Fisher nos convida a considerar os seguintes exemplos: entre a terceira e quarta semana de vida, o beb pode seguir objetos com sua vista e tratar de agarrar aos que so colocados em suas mos. Entre a stima e oitava semana o beb comea a trabalhar por reflexos, de tal maneira que ao escutar a voz de sua me ou pai dirigir seus olhos at a origem do som, e, ao ver um objeto que chame sua ateno, tratar de agarr-lo com suas mos. Entre a dcima e dcima primeira semana, j no somente dirigir seus olhos at sua me ao escutar sua voz, mas tratar de responder-lhe com um sorriso ou algum outro gesto ou movimento; de igual maneira, ao ver aquele objeto de seu agrado abrir os dedos tratando de alcan-lo.

    A partir do terceiro at o dcimo oitavo ms, o beb experimentar novos estires que implicaro novas respostas sensrio-motoras em relao a percepo de seu entorno. A diferena das primeiras semanas em que atua sob reflexos bsicos, durante o stimo e oitavo meses, com suas capacidades sensrio-motoras desenvolvidas em um nvel superior, o beb no somente alcanar o objeto de seu interesse, mas o tomar com suas mos e o aproximar de seus olhos para examin-lo de forma mais detalhada.

    Entre o dcimo primeiro e dcimo terceiro meses ocorrer outro impulso ou estiro que atuar

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    IV Um breve olhar sobre a primeira infncia

    52 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    diretamente sobre a percepo e a reao. Agora o beb no somente tomar o objeto e o examinar por todos os seus lados, mas ao escutar as pessoas falando mover sua boca e lbios tratando de imitar o som das palavras que escuta. Investigaes sobre o desenvolvimento do crebro demonstram que justamente na primeira infncia onde se estabelecem as bases para funes cerebrais superiores como a memria, o raciocnio lgico, a linguagem, a percepo, entre outras.

    No segundo ano, a criana reunir inmeras experincias sensoriais e motoras, as quais tero ajudado a seu crebro a alcanar o seguinte nvel de seu potencial: a habilidade de representar objetos, pessoas ou eventos atravs de smbolos mentais. Dessa forma, Fischer, como um dos pioneiros a explicar os acontecimentos que sucedem no interior das cabecinhas dos bebs, descreve diferentes impulsos ou estires que se apresentam durante o desenvolvimento do crebro, vinculando-os s diversas habilidades que vo surgindo ano aps ano. O interessante que justamente nos trs primeiros anos de vida, muitos desses estires esto sincronizados com o acmulo de mielina nas diferentes regies do crebro e a exploso das conexes sinpticas.

    Desde sua formao molecular, o crebro sobrevive graas a sua capacidade de aprendizagem e adaptao. Funes superiores do crebro, como a linguagem, estruturam-se no apenas a partir da capacidade das reas cerebrais especializadas na funo, mas dependem tambm da adaptao da criana ao entorno social e de sua interao com as demais pessoas. Kandel (1997), um

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    dos mais reconhecidos neurocientistas da atualidade, afirma que apesar de o crebro estar apto para aprender e estruturar a linguagem, seja falada ou escrita e no idioma que seja, existe um perodo sensvel para a aquisio desta aprendizagem, que corresponde etapa entre os dois e oito anos, aproximadamente, perodo marcado pela forte relao com o entorno e as pessoas que o compem. Kandel afirma tambm que a partir desta etapa, a capacidade de aquisio da linguagem se reduz fortemente. Os estudos realizados em orfanatos superlotados da Romnia (Ames, 1997) onde centenas de bebs e crianas passaram a maior parte de seu tempo deitados, famintos, sem relaes interpessoais, sem comunicao, sem jogos e ateno adequada deram a conhecer que a maioria das crianas de dois e trs anos no caminhava, no falava e nem brincava. As imagens cerebrais mostraram inatividade nos lobos temporais, responsveis por vrias habilidades auditivas, lingusticas e emocionais. Muitos deles, ainda que adotados por famlias canadenses, no alcanaram um desenvolvimento de acordo com a idade cronolgica.

    Indubitavelmente, as investigaes sobre o desenvolvi-mento do crebro (Gazzaniga, 2002), tm demonstrado que justamente na primeira infncia onde se formam as bases para as funes cerebrais superiores como a memria, o raciocnio lgico, a linguagem, a percepo espacial e visual, a discriminao auditiva, entre outras. Da mesma forma, tambm na primeira infncia que se constri a plataforma para o desenvolvimento dos talen-

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    IV Um breve olhar sobre a primeira infncia

    54 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    tos. Entender o processo de desenvolvimento cerebral e os princpios regidos pelo sistema nervoso relacionados com a aprendizagem e a conduta marcar uma enorme diferena no papel dos pais e educadores com relao ao desenvolvimento dos talentos.

    O desenvolvimento, como um processo integral, rene diversas reas, algumas delas com capacidade integradora, como o caso da rea emocional. Neste sentido, merecem especial ateno os trs primeiros anos de vida. Ainda que errneo dizer que o que no se aprende nesta poca est condenado a que no se aprenda jamais, exatamente nesta etapa que algumas condies so necessrias para um timo desenvolvimento cerebral. Entre elas, est o vnculo afetivo com o adulto. O vnculo, o amor ou o apego, no s formam a base do desenvolvimento emocional da criana e tambm de sua autorregulao, como menciona o Dr. Shanker: so tambm a base do desenvolvimento social (relaes slidas fortalecem habilidades sociais, a autoconfiana, a empatia), do desenvolvimento sensrio-motor (o toque, as carcias, os jogos corporais fornecem dados ao sistema somatossensorial) e do desenvolvimento intelectual (contar histrias, cantar canes, descobrir cores, formas y tamanhos constroem as habilidades cognitivas).

    Os estudos neurocientficos apontam que a mielinizao das diferentes reas do crebro segue uma sequncia ordenada, o que propicia a organizao neurolgica desde a parte mais inferior da medula espinal at o crtex cerebral pr-frontal, o que est diretamente relacionado

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    com a maturao e o desenvolvimento cerebral. Como se mencionou anteriormente, vrias estruturas mielinizadas na etapa pr-natal permitem que zonas que controlam habilidades vitais como a respirao e a suco estejam altamente funcionais no momento do nascimento. Por outro lado, distintas estruturas se tornam funcionais vrios anos depois do nascimento, o que faz com que as habilidades das diferentes reas do desenvolvimento se consolidem juntamente com o crescimento, resultado da indicao gentica e da influncia dos estmulos do entorno.

    Como exemplo, pode-se mencionar que enquanto as estruturas cerebrais que controlam a viso esto altamente funcionais nos primeiros seis meses, as fibras nervosas que controlam os movimentos finos da mo, ou a coordenao olho-mo somente estaro totalmente mielinizadas aproximadamente aos quatro anos de idade. Uma vez mais, isto nos leva a refletir sobre a estreita relao que deve existir entre as Neurocincias e a educao, visto que muitos educadores, por desconhecimento deste complexo processo de maturao do SNC e do crebro, passam por cima desse desenvolvimento gradual que se vincula a um despertar paulatino de todas as habilidades cognitivas, sensoriais, fsicas, sociais, emocionais, reflexivas e morais.

    Cabe ressaltar que embora o crebro tenha zonas especficas e capacidades inatas que abrem o repertrio das habilidades, os estudos mais recentes apontam para a fora e influncia que o meio exerce no desenvolvimento do ser humano. na primeira infncia

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    IV Um breve olhar sobre a primeira infncia

    56 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    que tais habilidades podem ser aprendidas, estimuladas refinadas; onde a plasticidade do crebro permitir a formao de uma personalidade mais saudvel, equilibrada e se construir uma identidade positiva para as etapas futuras do desenvolvimento, sempre e quando o entorno for apropriado.

    Neste sentido, os pais e educadores tm o papel fundamental de proporcionar s crianas todas as experincias e recursos para que construam seu prprio processo de desenvolvimento. Alm disso, como o cabeamento cerebral dependente da experincia utiliza a informao do entorno emocional, fsico, social e cultural para dar continuidade ao projeto arquitetnico cerebral que teve incio no ventre materno, essencial que o adulto modifique vrios de seus padres mentais e comece a preparar um entorno mais adequado, onde meninos e meninas possam experimentar a individualidade, a capacidade de assombrar-se, de ensaiar e errar, a intuio, a criatividade, a autonomia, o processamento de informao de forma individual e a possibilidade de questionar, duvidar e mudar de direo.

    A fiao cerebral dependente da experincia utiliza a informao do entorno emocional, fsico, social e cultural para dar continuidade ao projeto arquitetnico cerebral que teve incio no ventre materno.

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    No que se refere a muitas das propostas dos programas de AEPI, existe uma significativa brecha entre o que sabem pais e educadores sobre o desenvolvimento cerebral infantil e o que fazem na prtica. de vital importncia a aquisio de tais conhecimentos, pois esta etapa privilegiada est marcada no somente pela grande capacidade que tm as crianas para aprender e desenvolver habilidades; mas que tambm desejam profundamente faz-lo. Definitivamente aprender, para as crianas, tem uma relao direta com sua sobrevivncia.

    Neste sentido, poderamos perguntar-nos: por que temos tanto que nos preocupar com as crianas pequenas? Alguns pensam que mant-los distrados

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    IV Um breve olhar sobre a primeira infncia

    58 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    com jogos, correndo ou vendo televiso, alm de aliment-los, abrig-los e de fazer com que durmam as horas necessrias de sono, est resolvido o problema. necessrio tomar conscincia de que a primeira infncia tem uma importncia fundamental, visto que nela se estabelecem as bases para um desenvolvimento posterior saudvel.

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    Captulo VFatores de influncia no desenvolvimento infantil

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    V Fatores de influncia no desenvolvimento infantil.

    60 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Ainda que o crebro tenha um grande potencial para a aprendizagem e a primeira infncia seja um campo frtil para o plantio, existem alguns fatores que podem exercer significativa influncia no desenvolvimento infantil e em todas as aprendizagens que ocorrem nesta poca. Entre eles, podemos mencionar:Fator nutricional.Fator emocional. Fatores de ndole gentica.Fator ambiental (entorno familiar, socioeconmico e

    cultural).

    As sequelas da desnutrio na primeira infncia podem ser irreversveis, entre elas, crescimento inadequado do crebro.

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    Leses cerebraisExperincias diretas.Aprendizagens prvias.

    Destes fatores mencionados, merece uma especial ateno o fator nutricional. Durante a primeira infncia, as crianas passam por um processo de crescimento e desenvolvimento muito grande, de modo que uma boa alimentao fundamental devido a atividade vital do organismo. No entanto, tudo comea no ventre materno, e a me deve se preocupar em ter uma alimentao correta, saudvel e equilibrada. As carncias nutricionais da me durante o perodo pr-natal tm consequncias severas: afetam o crescimento do feto e originam alteraes no sistema imunolgico, facilitando o risco de contrair infeces e aumentando o risco de doenas como a pneumonia.

    Para um recm-nascido o aleitamento materno deve ser exclusivo. a nica etapa em que os bebs recebem todos os nutrientes de um s alimento. O leite materno o melhor alimento para o beb, e este deve ser ingerido como alimento nico at os seis meses, aproximadamente. A partir dos seis at os nove meses, o beb deve ingerir alm do leite, lquidos e papinhas mais consistentes, os quais iro aumentando gradualmente. Dos nove aos doze meses necessrio incorporar maior variedade de alimentos, e que estes sejam cada vez mais slidos. Dos doze meses aos dois anos, os bebs devem consumir o que se prepara para a famlia. A partir dos dois anos, os bebs j devem estar plenamente incorporados alimentao familiar. O pediatra quem melhor pode

  • CAPTULO

    V Fatores de influncia no desenvolvimento infantil.

    62 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    guiar aos pais na incorporao dos novos alimentos de maneira gradual.

    O organismo converte os alimentos que os bebs in-gerem em nutrientes, os quais so necessrios para um adequado crescimento. Existem alimentos que so indis-pensveis para o corpo humano, como so as protenas, iodo, ferro, vitaminas em geral, minerais, clcio e gua. Ser importante evitar alimentos com alto contedo de gordura, sal e temperos, assim como os que tm carboi-dratos em excesso.

    Para que o crescimento de uma criana ocorra de maneira adequada, necessrio ter uma dieta balanceada em relao quantidade e qualidade de alimentos. Caso isso no ocorra, pode-se produzir desnutrio ou, em caso contrrio, obesidade.

    As sequelas da desnutrio na primeira infncia podem ser irreversveis: dificuldades no desenvolvimento cog-nitivo, anemia, atraso no crescimento, baixo peso, cres-cimento inadequado do crebro, problemas no desen-volvimento motor, enfermidades dentais, problemas de comportamento, problemas para sociabilizar, entre outros.

    A obesidade na primeira infncia tambm um proble-ma de grande magnitude. A excessiva ingesto de co-mida de baixa qualidade (ou tambm conhecida como junk food) somada inatividade fsica, como estar sen-tados frente televiso, ao computador ou aos jogos de vdeos, levam as crianas a uma descompensao de

  • 63OEA Organizao dos Estados Americanos

    todos seus sistemas, o que pode deixar uma marca inde-lvel na qualidade de vida posterior.

    Uma boa alimentao na primeira infncia fundamental, pois assegura um crescimento e desenvolvimento adequados, evita carncias de nutrientes importantes e previne possveis enfermidades cardiovasculares, hipertenso e obesidade.

    As investigaes realizadas pelo Dr. Regino Pieiro (Cuba) reforam a enorme vinculao que existe entre a nutrio e a cognio: O crebro necessita para seu desenvolvimento e funcionamento normal, tanto da in-gesto de macronutrientes (hidratos de carbono, gordu-ras e protenas) como de micronutrientes (vitaminas e minerais). A desnutrio nos primeiros anos de vida pode levar a diminuio do desenvolvimento psicomotor e da capacidade de aprendizagem, pois afeta o nvel de aten-o, a memria e a atividade motora9 .

    9 Pieiro, Regino. Nutrio e funo cerebral nas crianas. Cerebrum Edies. Per, 2010.

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    V Fatores de influncia no desenvolvimento infantil.

    64 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

  • 65OEA Organizao dos Estados Americanos

    Captulo VIMensagens comunidade

    para um compromisso com a primeira infncia

  • CAPTULO

    VI Mensagens comunidade para um compromisso com a primeira infncia.

    66 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Em funo dos objetivos deste documento, para alcanar uma maior ateno integral e educao de qualidade para a primeira infncia, temos que comear a difundir e compartilhar informaes essenciais que necessitam pais, educadores e a comunidade em geral, sobre esta etapa crucial do desenvolvimento humano, que dura to pouco tempo e que no regressar jamais, deixando suas marcas em toda uma vida

    Para isso, uma das aes que devemos tomar com o fim de somar vozes e unir esforos por nossas crianas justamente propor que em todos os meios de comunicao se difundam mensagens ou lemas que chamaro a ateno da comunidade para a importncia da primeira infncia. Algumas dessas mensagens esto sugeridas neste documento. O objetivo comprometer as instituies pblicas e privadas nesta tarefa, onde a conquista final ser entender este maravilhoso, poderoso e enigmtico crebro humano e a importncia das primeiras experincias em seu desenvolvimento.

    Todas as crianas nascem com direitos e direito de cada uma delas ser atendida por pessoas que compreendam o funcionamento e as potencialidades de seu crebro.

  • 67OEA Organizao dos Estados Americanos

    REFLEXES PROVENIENTES DA VOZ DE UM ADULTO

    1. Todas as crianas nascem com direitos e direito de cada uma delas ser atendida por pessoas que compreendam o funcionamento e as potencialidades de seu crebro.

    2. O processo de desenvolvimento cerebral comea trs semanas depois da concepo: tudo o que ocor-re na etapa pr-natal pode modificar esse processo.

    3. Conhecer a primeira infncia transformar a nature-za da ateno, cuidado e educao dispensados criana pela famlia ou por outras instituies.

    4. Todas as crianas tm direito de ter acesso programas de ateno, cuidado e educao de qualidade em igualdade de condies.

    5. Educao de qualidade igual a um desenvolvimento infantil de qualidade.

    6. O desenvolvimento do ser humano comea no ventre materno e fruto de uma relao harmoniosa entre gentica e experincias do entorno.

    7. As carncias nutricionais da me tm consequncias severas para o desenvolvimento de seu filho.

    8. Uma boa nutrio a chave para um bom desenvolvimento intelectual.

    9. As experincias individuais de cada criana afetaro a qualidade do desenvolvimento das potencialidades de seu crebro.

    10. As habilidades intelectuais, emocionais, fsicas, sociais e perceptivas se desenvolvem nos primeiros anos de vida e so fruto de um crebro em pleno processo de desenvolvimento.

  • CAPTULO

    VI Mensagens comunidade para um compromisso com a primeira infncia.

    68 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    REFLEXES PROVENIENTES DA VOZ DE UMA CRIANA:

    1. Mame, eu sinto o que voc sente.2. Mame, o que voc consome durante a gravidez o

    que me alimenta.3. As experincias que tenho durante os primeiros trs

    anos de minha vida afetam o desenvolvimento de meu crebro.

    4. As experincias que vivo em minha infncia sero decisivas para minha vida adulta e para meu rendimento na escola.

    5. Seu conhecimento sobre o funcionamento de meu crebro, ajudar em meu desenvolvimento integral.

    6. Meu crebro est se desenvolvendo, no me pea o que no estou pronto para fazer.

    7. Converse comigo, cante-me canes, leia belas histrias eu posso te escutar.

    8. Se meus pais tm uma vida saudvel, maior a possibi-lidade de que eu tenha um desenvolvimento saudvel.

    9. Se mame no tem uma boa nutrio, meu desenvolvimento no ser o melhor.

    10. Conte-me um conto: o crebro que escuta o crebro que fala, l e compreende.

    11. Deixa-me dormir, o sono um fator importante para o desenvolvimento de meu crebro.

    12. A primeira infncia marca o perodo mais significativo de meu crescimento e desenvolvimento: invista carinho, afeto e comunique-se comigo.

    13. Quer que eu cresa saudvel? Proporcione-me experincias positivas e significativas no meu entorno.

  • 69OEA Organizao dos Estados Americanos

    14. Permita-me desfrutar de minha infncia; somente a viverei uma vez.

    15. O que eu vivenciar em minha primeira infncia deixar sequelas por toda minha vida. Existem sequelas e cicatrizes que no so vistas; essas so resultados de minhas experincias emocionais, afetivas. Cuide de mim para que eu no as tenha.

    16. Eu aprendo por imitao; seja um bom exemplo para mim.

    17. O leite materno o melhor alimento para mim. (beb).18. Para evitar consequncias irreversveis, alimente-me

    bem agora.19. O que acontece em minha comunidade afeta meu

    desenvolvimento.20. Aprender um jogo divertido. D-me muitas

    oportunidades para faz-lo. Estas so algumas sugestes de mensagens que podem ser difundidas pelos meios de comunicao. A partir daqui, muitas outras mensagens podero ser criadas.

  • CAPTULO

    VI Mensagens comunidade para um compromisso com a primeira infncia.

    70 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

  • 71OEA Organizao dos Estados Americanos

    Referncias

  • 72 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Referencias

    Referncias do captulo I: A Neuroeducao: uma nova aliada dos programas de ateno e educao da primeira infncia

    1. M. Diamond, J. Hopson. Magic Trees of the Mind : How to Nurture Your Childs Intelligence, Creativity, and Healthy Emotions from Birth Through Adolescence. Plume. New York, 1999.

    2. Stuart Shanker. Self-Regulation: Calm, Alert, and Learning. Education Canada. Vol. 50 (3). Canada, 2010.

    3. Felitti et al. Relationship of Childhood Abuse and Household Dysfunction to Many of the Leading Causes of Death in Adults: the Adverse Childhood Experiences Study. American Journal of Preventive Medicine 14 (4): 245-258.

    4. A. Garca-Molina, A. Enseat-Cantallops, J. Tirapu-Ustrroz, T. Roig-Rovira. Maduracin de la corteza prefrontal y desarrollo de las funciones ejecutivas durante los primeros cinco aos de vida. Rev Neurol, 2009; 48: 435-440.

    Referncias do captulo II: Entendendo as crianas desde o comeo: a etapa pr-natal e a construo do crebro

    1. Purves et al. Neurociencia. 3.a edicin. Editorial Mdica Panamericana. Espaa. 2003.

    2. B. Morales et al. Perodos crticos de plasticidad cortical. Rev Neurol, 2003, 37 (8): 739-743.

    3. Fumitaka Homae et al. Development of Global

  • 73OEA Organizao dos Estados Americanos

    Cortical Networks in Early Infancy. The Journal of Neuroscience, April 7, 2010; 30(14): 4877-4882.

    4. Ira Adams-Chapman. Insults to the developing brain and impact on neurodevelopment outcome. Journal of Communication Disorders, 2009, 42. 256-262.

    5. Leslie K. Jacobsen, Marina R. Picciotto, et al. Prenatal and Adolescent Exposure to Tobacco Smoke Modulates the Development of White Matter Microstructure. The Journal of Neuroscience, December 5, 2007; 27(49): 13491-13498.

    6. Lars Henning Pedersen et al. Fetal Exposure to Antidepressants and Normal Milestone Development at 6 and 19 Months of Age. Pediatrics Volume 125, Number 3. March, 2010.

    7. Aryeh D. Stein et al. Nutritional Supplementation in Early Childhood, Schooling, and Intellectual Functioning in Adulthood. Arch Pediatr Adolesc Med, 2008, 162(7): 612-618.

  • 74 Primeira infncia: um olhar desde a Neuroeducao

    Referncias do captulo III: O nascimento e os primeiros meses de vida: momentos decisivos para o crebro

    1. S. Hernndez, F. Mulas, L. Mattos. Plasticidad neuronal funcional. Rev Neurol, 2004; 38: 58-68.

    2. M. A. Izquierdo, D. L. Oliver, M.S. Malmierca. Mecanismos de plasticidad (funcional y dependiente de actividad) en el cerebro auditivo adulto y en desarrollo. Rev Neurol, 2009; 48: 421-429.

    3. Hengyi Rao et al. Early parental care is important for hippocampal maturation: evidence from brain morphology in humans. NeuroImage 49 (2010) 11441150.

    4. J. Johnson, E. Newport. Critical Period Effects in Second Language Learning: The Influence of Maturational State on the Acquisition of English as a Second Language. 1989; 21: 60-99.

    5. A. Newman, D. Bavelier, D. Corina, P. Jezzard, H. Neville. A critical period for right hemisphere recruitment in American sign language processing. Nat Neurosci, 2002; 5: 76-80.

    6. Morgado. Psicobiologa del aprendizaje y la memoria: fundamentos y avances recientes. Rev Neurol, 2005; 40: 289-297.

    7. Pascal Belin, Marie-Hlene Grosbras. Before Speech: Cerebral Voice Processing in Infants. Neuron 65, March 25, 2010.

    8. N. Sadato et al. Activation of the primary visual cortex by Braille reading in blind subjects. Nature, 1996; 380: 52-68.

    9. N. Sadato, T. Okada, M. Honda, Y. Yonekura. Critical

    Referencias

  • 75OEA Organizao dos Estados Americanos

    Period for Cross-Modal Plasticity in Blind Humans: A Functional MRI Study, 2002; 16: 389-400.

    10. Maria V. Popescu, Daniel B. Polley. Monaural Deprivation Disrupts Development of Binaural Selectivity in Auditory Midbrain and Cortex. Neuron 65, 718-731, March 11, 2010.

    11. J. L. Heraghty, T. N. Hilliard, A. J. Henderson et al. The physiology of sleep in infants. Arch Dis Child, 2008; 93: 982-985.

    12. Alice M. Gregory et al. Parent-Reported Sleep Problems During Development and Self-reported Anxiety/Depression, Attention Problems, and Aggressive Behavior Later in Life. Arch Pediatr Adolesc Med, 2008; 162(4): 330-335.

    13. Christopher G. Vecsey et al. Sleep deprivation impairs cAMP signalling in the hippocampus. Nature 461, 1122-1125. October 2009.

    14. Jennifer L. Miller et al. Early Childhood Obesity is Associated With Compromised Cerebellar Development. Developmental Neuropsychology, 2009, 34: 3, 272-283.

    15. Caroline Fall. Maternal nutrition: Effects on health in the next generation. Indian J Med Res 130, November 2009, 593-599.

    Referncias do captulo IV: Um breve olhar sobre a primeira infncia

    Kurt Fischer, Samuel Rose. Dynamic Development of Coordination of Components in Brain and Behavior. Dawson and Fischer, 1994.

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