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8/16/2019 Pálidos Poemas http://slidepdf.com/reader/full/palidos-poemas 1/86  Pálidos Poemas 1ª Edição

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Pálidos Poemas

1ª Edição

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Filipe Didot

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Para meu pai,

Poeta que também me fez poeta.

 Neste mundo um tanto sombrio,

O poeta é a lanterna na escuridão,

Se não, a própria escuridão.

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PrefácioO amor tem favos e tem caldos quentes

 E ao mesmo tempo que faz bem faz malO coração do poeta é um hospitalOnde morrem todos os doentes.

Augusto dos Anjos

O termo de Goethe, sem dúvida, é válido para a obra poética de Filipe Didot. Poesia de hospital, por tudo que esses poemas evocam: amor, erotismo, virgens, tristeza, escárnio.Sem esquecer, obviamente, a doença, e por isso então, um branco de assepsia a macular as impurezas do coração, ainda

que para isso seja preciso o poeta findar a vida quando nãoainda satisfeito com a fantasia. Sim, porque de sonhosinacessíveis, amor e morte é que se faz a poesia de Didot.Horas há, é claro, em que a mão dândi alcança as ancas da branca mulher, mas essa já não é mais a mulher que se deseja.Ora, a mulher que se deseja, a partir de agora, já é outra! Forterazão tem Schopenhauer quando deixou claro que o homem (o

macho!) preza pela variedade. Qualquer mulher é a Mulher.Daí o sofrimento do poeta, pois que, na cachola das mulheres,nem todo homem é o Homem. No entanto, tudo isso nãosignifica dizer que o eu-lírico de Filipe Didot é um folgado, umabusador dos pudores femininos. O seu mundo é,definitivamente, a Mulher. Basta fazer a leitura do últimoquarteto de Balada de Amor : 

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Quando toco tuas ancas ligeiras,

 Nada no mundo me parece dissaborTeus cabelos cheirando a cerejeira, Deságua no meu mundo teu amor.

Exposto isto, temos então um romantismo que divergeum tanto da orientação de um Casimiro de Abreu ou de umGonçalves Dias. Mas que muito aprendeu com os versos que

um Álvares de Azevedo lhe dita, embora os  Pálidos Poemas conheça com experiência a luxúria. Há na poesia de FilipeDidot uma porção de versos neuróticos, às vezes devaneiosmesmo. Pálidos Poemas, nessa ótica, é um amplo corpus paraestudos psicanalíticos.  Parnaso do Inferno! O Que é esse poema?! Um poema de complacência maldita, de românticorebelde (e felizmente só o romântico rebelde encontrasatisfeito, a Morte e o Amor) que não pode fazer seu coração

obedecer todas as convenções. Então tratar-se de um amormaldito?! De certo, por mais que o bendito logo retorne a mãodo dândi.  Parnaso do Paraíso  também não sabe esconder assuas condições: eu bem sei que estou morto, / mas nunca estivetão vivo  –  grita o romântico iludido, desiludido, perdido. Vale atinta transcrever os seguintes versos do primeiro Parnaso:

 Ardo como um enfermo do inferno, Pois o paraíso a mim foi proibido.

Tenho febre como quem tomou veneno, Mais veneno é meu último pedido.

 A cólera está tomando o meu corpo, Estou como quem está embebido.

Tenho febre como quem tomou veneno,

 Mais veneno é meu último pedido.

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Há também entre os poemas que louvam a mulheramada,  As estrelas, no qual o poeta confessa (confissão talvez

não de todo mentirosa, mas um naco baseada demais nainteligência do coração, que, aliás, não é muito de fiar) ser hojetriste mais não.  E também se destaca o  Romance, poemaromântico por excelência, de uma condição ao encontro daMorte. E de novo o grande romantismo displicente, o devaneiotrivial, a contradição um bocado ingênua e jovial, a miragem daqual o parvo coração é vítima:

 E a cidade que só rumoreja.Os carros correm e eu corro. Amada dos olhos de estrelas,Sinto que longe de ti eu morro.

Mas nem só de tolices românticas vive a atormentadaMusa de Filipe Didot. Há também toda uma atmosfera rueira

que se atenua em certos poemas (ler, por exemplo, Canção daCidade). Provavelmente leitora de Augusto dos Anjos, CesárioVerde e Baudelaire, a Musa do poeta não poderia deixar deretratar o fumo industrial, o escarro, os bondes, os postes e oescuro. Operária, parece-nos um poema perfect!:

 Ela sempre se atrasa, Está na hora do ponto

O amor em devaneio É chama fumo e brasa

 Depois do trabalho, o encontro.

O Revés das Ruas  é outro dos poemas que retratam aescola da malandragem, da boêmia e da prostituição. Algo se

move na poesia de Didot. É certo que a Musa do poeta não

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caminha rumo à pós-modernidade, pois ele se mostra alheio aela. Mas caminha, embora lhe venha à tona algum espantodiante das novas práticas sociais. Mas quase pós-modernos, por

exemplo, são os três jovens desse quarteto abaixo, de extremaviolência e virilidade, quarteto, claro, não isento do tripé amor-morte-loucura, de versos imundos, e, portanto, crus, sinceros,gostosos de ler:

 No muro perto do morro:Um rapaz bebe coca-cola

Um menino cheira cola E outro leva um esporro.

O cotidiano, entre teu corpo branco como uma bruma evamos fugir num cavalo de poesia encontramos versos de igual poeticidade, que retratam com maestria um cotidianosimplório, possivelmente influenciado pela poesia de Bandeiraou Drummond. Versos desse rigor são os dos poemas  Matinal

e Coisas. Também drummondiano por excelência é o Espelho,talvez dos poemas dos  Pálidos Poemas, o que mais encerra poesia, poesia aliada a um saudosismo que faz esvoaçar sobre acabeça de menino uma infância-fantasma, quase imperceptívelao romântico. Em  Espelho  lampeja a condição do poeta, poisconforme ensinou-nos Baudelaire, não é a poesia a infânciareencontrada? 

no espelho falso da salavejo o meu rosto refletidoe neste momento sem falas

 só uma fala é que fala comigo:

vês o menino que um dia viveu?

a pergunta no ambiente volta soa.

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 súbito então volto a olhareste menino nunca morreu.

Por ora, basta-nos dizer que a poesia de Filipe Didot éuma poesia com grande tendência a lembrança de um Rimbaudou um Baudelaire. Não parece que o poeta de  Pálidos Poemasseja lá muito amigo da Musa de um Fernando Pessoa ouWhitman. Talvez, Drummond também o norteie. Gullartambém é de se crer. Mas o poeta descobre o quão bom é serum flâneur , mas há cada vez mais de pisar o asfalto da rua semnáusea, mas com volúpia e vontade. E depois sentir-se emtorpor, ver de olhos embaçados a Musa na esquina, vestida comaromas de gasolina e jasmim, embebida de alcalóides. Se bemque quando o propósito é um convite para o torpor, o poetamaior já apreendeu, tanto que provoca-nos, a poesia de:

São doze doses de um conhaque doce.

 Anderson Proença de AndradePoeta e graduado em Letras

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Primeiras Palavras

Quero a palavra que emudece a bocaQue me salta aos olhos e me tira o fôlego

Como fogo que me queima o prantoComo pranto que cura a chagaE causa a anarquia.

Quero a palavra que personifica o serQue me faz selvagem em construções concretasQue seja completa e não meias palavras

Quero a palavra antes que me venham larvasAntes que me devorem vermesQuero a palavra inteira e nada mais.

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Balada Erótica

nos negrumes da noite vejo teu corpo pálido e impávido como uma bruma

vaga visão que meus olhos contemplama tua nudez. Ó a tua brancura!o amor nos envolve nessas caríciase são nossos beijos, nossas delíciase nosso desejo, o nosso palornessa noite incessante de amor.

e rompem estrelas alvas e nuase dançam perfumes sobre os lençóisloira visão que meus olhos contemplama tua nudez. Ó a tua candura!e são nossos gozos, o nosso prazere são nossas línguas, nosso langore é a beleza, sim, a nos envolverna noite incessante de amor.

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Misticismo

Vagas visões místicas que irradiamTeu corpo como sol, como sal

Como bruma branca que rutilaAurora, alvorecer de um tempo.

Visões entre as visões que ilumina!Teu corpo como areia e poenteComo templo de sacrário deusComo calor da noite mais gélida.

Luz que estala, luz de estrelaPétala de flor mais enrubescidaTeu corpo fátuo, teu corpo fogoTeu corpo plácido de prazer.

Torrentes de gozo, amor lúgubreDança mística, música mágica

Sons suaves e trêmulos de orquestraVertiginosos sentidos que sentem.

Venéreas visões que lampejamVisão de haxixe, e de venturaTeu corpo como flor abertaDescoberta em toda sua brancura.

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Amando assim é que eu vejoTu, calada, tu, cálida, abrasada

Deitada de bruços. É formidável!Teu amor como uma religião.

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Sobre uma Caveira

Beba, ó poeta, nessa velha caveiraO vinho da vida, a luz da mente

Beba, porque já te espera o coveiroEm noites de sonhos tão dementes.

Ama, ó poeta, e bebe novamente:A vida, o vinho, a mulher amadaQue vos ama e sorri tão contenteEm noites de vertigens pranteadas.

E se um dia voltares a sofrer:Do amor, da vida tão inconsequenteBeba, ó poeta, nesta velha caveiraBeba! Porque já te espera o coveiro.

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Fogo Breve

A vida é flor fogo brevefagulha, depois fumaça

 brilha tanto, depois passae por mais que o tempo a levefica a cinza que flamejou.

A vida é flor fogo levefulgura depois fenece brilha tanto, depois cresce pálida cortina de neve

não fica nada que perfumou.

A vida é vã nessa prece passa o tempo, tudo passaa ventura, a beleza, a graçatão intensa, depois esmorecenão fica nem a lembrança que fulgurou.

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 Anjo da Morte

Anjo da morte que passeia plácidoAlvo como espectro, claro e fulgurante

Branco e brumoso sobre jardinsDe túmulos túmidos da noite.

Anjo da morte! Que vaguei vagoA espera de uma próxima morteTalvez a minha, má sorte Nos negrumes das noites rutilantes.

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Natureza Nua

Meus olhos se põem assim como o solPõem-se sobre o seu corpo pávido

Ávido e exuberante como a naturezaTransbordando meu espírito de essências,Meus olhos rasos, e tão úmidosOutrora lacrimejados como orvalhadaDecifram a tua pele cada vez mais No transe das coisas infindas.

Profundo perfume é teu corpo

Crença que minha vida quer terIdeia que me deixa a cismarTemplo de transcendente razãoVagas sensações na minha almaMúsica que meus sentidos ouvemMeus olhos se põem sobre seu corpoE não desejam doutra paisagem gozar.

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 Água Noturna

Se me foges, eu não te encontro No silêncio desse louco amor.

E mais te quero, e mais me espantoInquieto, melancólico de sua esquiva.

Se me chamas, eu mais te alcanço Na chama fugaz de nosso amorSentimento profundo, estrelas no altoE tua boca gélida na minha boca.

E pela vida inteira vou a te amarTu me foges, eu te alcançoTu me chamas, e mais se derramasPuro amor, como água noturna.

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Tempos Tropicais

É tempo de amores nos trópicosE os ventos voltam com o verão

Mas os folhetins teimam em noticiar:Armas químicas, guerra nuclear Novos mísseis, novos protótiposMas é tempo de amores nos trópicos.

O verão é vermelho na linha do orienteCrianças morrem de fome, inaniçãoA miséria assoma a rua dos amores

É chegada a hora de uma nova operação!Translação, depósitos bancáriosE uma estudante morre com infecçãoMas é tempo de amores nos trópicos.

É tempos de amores nos trópicosPoderes políticos, mercado financeiro

Tráfego de carros, tráfico de armasDescaso de autoridades notórias Nos céus voam os helicópterosMas é tempo de amores nos trópicos.

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Canção do louco amor

Canções de amor em tempos de guerra Não despertam mais o amor

 Nem o sentimento nas almas.

Somente sentimentos de titânioMas amor não se canta assim.Amor, o mel o fruto e a flor.

Canções de amor em tempos cruéis

 Não tocam aos frios coraçõesAmor, o gozo, o grito e a dor.

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Poema Noturno

 Na calada da noite me caloPois hoje parece que tudo morreu

E a chuva cai torva nesse invernoE o frio é forte gélido e cortante.

Calo-me por te amar de maisE te ter tão distante, noutro mundoCalo-me por não falar maisAs palavras em mim padeceram.

A rosa dentro do copo se desfolhouFicando em podridão o seu perfumeVem em mim o som de solidãoE da janela o uivo da friagem que faz.

Essa terrível paisagem em mim pesaAs frias vagas que rumorejam embriagadas

 Na calada da noite me caloPois hoje parece que tudo morreu.

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Versos Místicos

Caia a manhã com seus orvalhosPor entre aquela floresta escura

Quietas são sempre as sepulturasEsquecidas por entre o cascalho.

Perto de uma estrada do valeA floresta se faz em seu negrumeExalando seus mais torpes perfumesComo o perfume de um baile.

E na estrada, o cavaleiro a galopeEm busca da donzela adormecidaTrazendo no peito um envelopeDe uma carta de amor recebida.

E a floresta vai fazendo o seu frescorPor entre a insólita estrada negra

O cavaleiro vai além do além vidaE um sopro divino pousa na paisagem.

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 Adormecida

 No leito alvo que te declinasChama de amor tão condolente

Raios de luar tão ofuscantesDo meu corpo, o teu em cima.

II

 Nesse momento, tu te derramasFulgor de vertigem e langorDesse calor, dessa doce chama

Lençóis vermelhos e violetas.

III

O céu é tamanho que perturbaA cidade como painel se declinaO tempo corre por não parar

 Na cinza que cobre todas as coisas.IV

Como não gozar de teu amor Nesse momento que tudo é prazerRaios de luz que chega a visãoO teu corpo, o meu em cima.

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V

Paisagem nua, sobre meus olhosCanção de amor de tênue tomMelodia que me atinge os sentidosComo languidez de haxixe queimado.

VI

Cismado, no langor dessa luaTeu cabelo negro no meu peito caiTodo esse universo é alento e prazerosoTu refletida dentro de meus olhos.

VII

E se ergue a abóboda azulada do céuE as estrelas pairam solenes e tão claras Nesta sombra de sonho e de sons No entrelaço de nosso gozo.

VIII

 Nesta quietude, eu então te amoDourada tua pele adormecidaFlutua todo nosso doido desejoDo teu corpo, o meu em cima.

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Nós

Vamos, nós dois, a andar pelo mundoComo dois adolescentes juntamente.

Vamos, porque a alvorada nos esperaDe mãos dadas, juntos pelo poente.

Vamos! Pois quero teu raio de amorQuero os teus beijos nos meus beijosE tua vida na minha vida a sorrir.Vamos, nós dois, a andar pelo mundo.

E quando cansados de tanto viverFatigados da dança das horasTemos um o amor do outroVamos, nós dois, a andar pelo mundo.

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Diálogo com a morte

Que me queres, ó ave doridao sopro derradeiro da vida?

aquilo que é meu e me tangequeres tudo quanto posso dar?

De onde vens, ó silencio restantede trevas remotas, mais distantes?querendo o que em mim brilhaquerendo o que em mim fulgura?

Sois o sol negro do poenteaquele que arrebata, silenciosamente?a todo ser e toda sombraque vive, que ama e que sente?

onde leva a tua penumbratens o silêncio de catacumbas?

névoa negra e sepulcralestrela pálida do crepúsculo.

Eu te tenho, ó ave mórbida,como dama sombria e sórdida,rainha do nada, senhora do pólembrança mais vaga das cinzas.

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Vastidão

A grandeza dos astros estonteantesO brilho do sol tão fulgurante

A luz da lua, cinza e radianteAs estrelas a girar tão eminentes Nada vejo maior que teu amorQue ao meu coração embebeda.

A negridão da noite inquietanteA grandeza de galáxias distantesO azul da madrugada contrastante

O lilás de auroras rumurantes Nada vejo maior que teu amorQue ao meu coração embebeda.

E mesmo de amar tão imprudenteComo brilho de mundos luzentesComo alvorada de raios dementes

Como fogaréu mais resplandecente Nada vejo maior que teu amorQue ao meu coração embebeda.

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Penumbra

Vagas vozesvem do vento

vaporosasVagam velozes sobre as trevasSons de assovio, calafrio Na negra noite que irrompe.

Vagam vesgas,Vagam versais

Murmúrios, sons de sussurros Negra sombra sobre o tetoOdores ocres que se levantam Nesta penumbra da noite de inverno.

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Viola Espanhola

A tarde púrpura se ergueVem do fundo sons de castanhola

E com a curva face de espantoOs acordes de uma viola espanhola.

Meus olhos vedem o mágico espaçoTeus lábios puros, o vestido vermelhoA dança que bate o tacoE a música triunfante no ar.

Fulgidos fulgores que arrebatamVem do fundo sons de castanholaTu, plácida, abrasada dança Nos acordes da viola espanhola.

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O Blues

dentro das esquinas escurasdentro das bocas dos becose nas escolas e nos apartamentos

rola o blues, rola o blues.

em todos os lúgubres lugaresdentro de prostíbulos, lupanares pelas casas e cartazesrola o blues, rola o blues

 pelas ruas mais sujasnos subúrbios antigosnas salas de jantaresrola o blues, rola o blues.

e nos elevadoresnos televisoresnos carros a motores

rola o blues, rola o blues 

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De Morrer

Quero um dia morrer no marMas não esse que enseja as ondasE faz emergir de águas fundasMas no doce mar que é te amar.

Quero um dia morrer no marComo marinheiro perdido do portoSentir um doce perfume pertoAncorar meus olhos no teu olhar

Quero um dia morrer no marPorque vida em terra não ponderaO melhor mesmo é navegar.

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Canto Negro

Quando eu por fim estiver ao leitoSem isso haver nenhuma arte

Vai me ascender uma dor no peitoSerá o derradeiro beijo da morte.

Veio me buscar conforme o prometidoVestida em seu longo vestidoOs mistérios da vida a morte encerraComo as flores nascem entre as pedras.

E as rosas vão chorar orvalhosDebruçadas sobre meu túmuloMas um poeta que foi deste mundoQue preferiu caminhar como vagabundo.

 

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Vênus

As vestes de VênusJá não vestem

A sua brancura seminua.

São lençóis alvos como neveDo etéreo da beleza sua.E giram estrelas como luas Na paisagem deste céu.

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Vida

A vida é um vício sem curaUm vício se chama o amor

Amor que transborda em loucuraLoucura que desfolha em ardor.

A vida é uma sede insanaSão doze doses de um conhaque doceAs estrelas dançam em cima da camaAmor que transborda em loucuraManhã que acorda em cor.

A vida é um vício amargoUm travo na boca do amorAmor que transborda em loucuraLoucura que desfolha em ardor.

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 A Malandragem

 Nessas ruas cheirando a sarjetaMuitos amores eu já tive

Todos errantes, todos dementesTodos os meus desejos eu contive.

 Nessas ruas com cheiro de lamaO amor eu vi corrompidoComo fogo que em brasa é chamaEu vi as flechas quebradas de um cúpido.

 Nessas ruas que nada se escondeVi passar por ela a beleza,Como cruza nas ruas o cortejoBela nua, qual é a tua tristeza?

 Nessas ruas com todo perfumeTudo desperta meu terror

Como a noite se abre em negrumeAbre-se em perfume o amor.

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Homem

quantos anos o teu anus em flora rodar pelo mundo sem repouso

ó homem sem Deus e sem amor?

quanto tempo a sentir esse furorvendo de cada pássaro um pousosem nunca poder consigo voar?

de cada hora, o pequeno escarne,

de cada prazer, todas as torturas privado está de todo seu paraíso?

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Balada do Amor

Quando minha pele toca tua pele quenteSinto no meu corpo um tremer leveSinto como quase um desejo ardenteDe um corpo que me parece breve.

Quando toco na tua boca sequiosaSinto todos meus sentidos abertosRodando em uma lira amorosaCom todos os prazeres libertos.

Quando toco tuas ancas ligeiras Nada no mundo me parece dissaborTeus cabelos cheirando a cerejeiraDeságua no meu mundo teu amor.

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Relva

É noite no vale revoadoE eu adormecido por entre a relva

 Nos musgos, entre o cardoOs ramos umedecidos balançamCom a brisa que vem de algures.O céu é molhado pela chuva passadaE o firmamento que não treme por firme.A noite se faz um etéreo pano escuroBordado de luz, lua e estrelas.A relva descansa em silêncioE eu adormecido nessas sombrasDe minha fuga.

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Folhas Secas

As folhas secas estão molhadasPela chuva que caiu no passeio

As árvores são simplesmente moradasPara os pássaros que cantam em gorjeios.

As crianças brincam no recreioEm uma manhã de sol na escolaEnquanto o menino chuta uma bolaEu espero em casa pelo correio.

As folhas secas foram esquecidas Na rua que é um grande corredorSão folhas que foram vencidasMolhadas pelo orvalho do amor.

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Fulgores

Fulgeos fulgoresFogem, fulguram

Chispam e chamam nossa chama amorosa.

Ofuscantes raios de luz e de sombrasVem do vento vozes vagasBeijo sobre o beijo, sobre a boca

Que embocaQue beija

Que bebeE se embebe.

Sons de silêncio, sons de solidãoSuores, salivas

 Na sombra da boca da noite.

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Lira Louca

feita com cordas de elásticosa minha lira delira e louca

como se louco fosse fantásticoa minha canção soa como rouca.

a cada novo acorde que tremeesse instrumento se enche de orgulhoé uma corda nova que gemedessa lira feita de entulho.

os meus dedos correm as fibrasdo eco do oco da músicasou o maestro desta lira histéricaonde os prazeres sua melodia vibra.

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Matinal

Manhã,Hora do dia banhada de luz

O homem trabalhaCom engenhoO céu em azuis

mais azul.A flor brota por entre o lenhoUm jato jorraUm ferro fereUma fonteA última estrelaUm grão de luzUm cego passaPor uma ponteDepois descansa sua cruz.

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 Amargo Amor

se amar é amargose for amargo não é amor

se o amor for pecadose pecado for não é o amor.

o amor é até uma ausênciaé a presença do não amoré um carinho sem dolênciaé um afago sem torpor.

o amor é um beijo roubadosão sem cartas escritas a paloré dele um peito apertadoe uma carícia com rubor. 

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Pelos Poros

é a vontade que tanto invadeé a luz que ascende e apaga

é o grito que atinge e alargaé o calor que toma o corpo

é o corpo latente e letárgicoo sussurro que rasga o sentidoé um vai e vem que abrangetodo momento provido de prazer

é o flambar do prazer que crispaé a incansável dança que excitaé o gozo que entra pelos porosé o calor quente da pica.

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Virginal

 Na noite cor neon que se erguiaEla dormia angelical entre o lençol

Era pálida, casta, radiante como solE daquela visão minha alma se embebiaOs sonhos como estrelas me luziamAquele corpo puro que ousei tocarTalvez os doces pecados nos ardiamDe nosso amor, pusemos a amar.

E eram pernas por entre pernas

Tantos lascivos sentimentos carnaisVontades de suas vontades vaginais Na noite de negrume e benjoimE aos poucos ela foi adormecendoSatisfeita de sua vontade saciadaDe nunca antes ter sido tocada Na madrugada que foi se rompendo.

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Ensinamento Amoroso

É preciso amar a noiteAntes logo que amanheça o diaÉ preciso amar o tempoAntes mesmo que o tempo o consuma.

É preciso amar até o âmagoO amargo de que é amar e

Por mais que impreciso isso sejaSempre amar.

E assim corre a minha liberdadeLibertina por entre as campas da vidaEm que o vinho desce doce na primavera.

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 Amores e Armas

Em tempos difíceis, em tempos de mísseis,

tempos de amores e armas, melancolia!Onde esta nesses tempos a poesia?

nas dobras do tempo, no tormento da fomena miséria que assombra?em alguma rua escura e estreitaem alguns versos de madeiras antigosem algum mausoléu que ninguém mais vêno televisor acesso toda noiteno jardim dos mortos e dos vivosnos cemitérios de sonhos escurosna aurora, na alvorada, na neblinaa poesia perdida foi e ninguém achou.

Em tempos de fome, tempos de dor

não se sabe onde está a poesiaem algum verso molhado do trabalhoem algum papel dobrado e esquecido?em algum guardanapo que ninguém vêem algum microcomputadorem alguma dor que ninguém percebeem algum caderno antigo e desbotadoalgum diário que ninguém escreve.

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Em alguma parede escrita na noiteem algum muro pichado de dia

em alguma alegria dormenteem algum livro fechadoem sonhos mais impossíveis.

Em tempos difíceis, em tempos de mísseis,tempos de amores e armas, melancolia!Onde esta nesses tempos a poesia?

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Clara

Minha doce amada ClaraPorque tens a pele escuraVejo a noite como som de clarimTu tens nos teus seios as minhas mãosFartos que me furtam o ar.

Ó minha doce jardineiraSigo signos, sinais, insígniasTudo pelo teu amorE posso de certo modo saber

 No livro aberto de teu serQue nosso amor que se concede.

O que me cerca são teus passosE o que me cega são teus olhosDonde guarda um infinitoCom imagens do impossível.

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Baile do Bosque

O orvalho cai sobre os ramosE os olhos do falcão alcançam a distancia.

A coruja dorme enquanto é dia,Enquanto a lebre corre entre as folhas.

A raposa descansa da caça inócuaE a relva parece menos agitada.Como uma dança sublime e verdeO dia se faz um imenso mar azulCom nuvens brancas e algodoadas.

Os esquilos procuram nozes novas.O lobo alimenta seus filhotes,Enquanto o castor sobe em uma árvore.A lontra deitada toma um sol mansoE a libélula voa entre as flores.O sapo pula na pequena poça da chuva

E um beija-flor beija uma flor com perfume.

O alce corre com suas patas altivasEnquanto o urso caminha devagar.Assim o bosque se faz puro,E até mesmo Deus adormece, Nesses doces hálitos de pinheiros.

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Vento

 Nas esquinas, faz voltas o ventoO vento que atinge o convento

Vai atingir também o luarO luar que vem beijar o mar.

O mar que também beija a praia,A praia que nunca desmaia,

Somente nas voltas do vento,

Que desmaia assim como o tempo.

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Pequeno Retrato

 Nas sinuosas do seu relevo,

A minha mão triste afaga Não toda brancura desse enlevoMas todo o prazer da sua saga.

 Nesse amparo doce que me vejo,Algo em mim, dentro, me indaga, Não todo o sabor desse desejo,

Mas em que águas foram minhas mágoas? 

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Romance

Porque tens esses olhos morenosÉ que fazem meu destino tão claro.

E o amor que me parece escuroHoje já não me parece amparo.

Amada dos olhos de estrelas,Hoje a tarde não tem nenhum astro.Só um pássaro que voa ao vê-la,Voa sem deixar nenhum rastro.

E a cidade que só rumoreja.Os carros correm e eu corro.Amada, dos olhos de estrelas,Sinto que longe de ti eu morro.

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Mundo no Espelho

no espelho falso da salavejo o meu rosto refletido

e nesse momento sem falassó uma fala é que fala comigo:

vês o menino que um dia viveu?volto a ver o espelho e nada vejo;os meus olhos cansados não percebemo que me parece quase imperceptível.

vês o menino que um dia viveu?a pergunta no ambiente volta soar;súbito então volto a olharesse menino nunca morreu.

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Mistérios

Certo que na vidaExistem muitos mistérios

A morte é o maior delesCom segredos etéreos.

Certo que na vidaExiste algo de oculto,Ocultos são os túmulosQue guardam impérios.

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Névoas

As névoas da neve são tênuesRessaltam tua pálida beleza

Adormecida em leito profundo Nesse inverno consternado.

 Nem mesmo a neve é tão branca Nem mesmo a luz é tão cálida Nem as espumas são tão pálidasComo teu corpo tão brumoso.

Brancura maior não se vê Não da neve, nem das nódoasMas do seu corpo adormecido Na noite com cores de âmbar.

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Sentimento Humano

Sinto tanto, sinto muitoSinto por não te amar mais

Sinto por te amar demaisSou o que parece ser, souÀs vezes o que apenas sinto.

Aquela carta ainda não chegouSinto que algo em mim espera,Desespera, tem esperança e procelaSinto saudade do amor que não tiveSinto muito, mas tenho que partir.

Uma parte de mim é arte, a outraA parte que só reparteSinto que o amor fugiu para marteSinto quanto dói o peso do amorQuanto dói o peso da morte

Sinto muito, mas tenho que partir.

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Nua

 Nua,E na minha boca a boca que é tua

E nos meus lábios, os lábios teus Na noite morena como os cabelos seus Na sinuosa de teu corpo que insinua.

E é amor! E é prazer!E é o gozo a gozar Nos sussurros do teu gemer.

Até mesmo pálida ficava a lua No movimento dos teus quadrisE as estrelas adormeciam, No céu, uma a umaE o vento do verão vinha da rua.

E era amor! E era prazer!

E era o gozo a gozar Nos gritos do teu gemer.

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Pálido Poema

Um braço branco de mulherDescansa sobre o meu braço

Sublimes sensações do sentido!E ela dorme em meu dorso.

 Nessas noites de invadir suas vergonhasAbre-se o espírito como florEntre todos esses beijos sequiosos.

Os cantos das bocas se mordemE a lona negra da noite é azul.Logo um suspiro, logo o sono, Na alcova dos nossos prazeres.

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Musa Morta

Quando contemplo tua natureza mortaSei que em ti já lhe ardeu tanto a vida

Musa fúnebre! Em mim nada comportaVer-te assim, cadáver, tão esvaecida.

Um dia te amei mais que mesmo a mimMas a morte te amou mais que tudoUm dia flori nosso perfumado jardimMas hoje ao te ver só fico mudo.

Passeamos de mãos dadas pela vidaSoprava o vento em teus cabelos ondulososTinha minhas mãos sempre como guaridaDe teus remorsos que ardiam ditosos.

Quando contemplo tua natureza mortaSei que em ti já lhe ardeu tanto a vida

Musa fúnebre! Em mim nada comportaVer-te assim, cadáver, tão esvaecida.

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O Poeta e a Flor

- O amor é o bem que nos faz tão malDisse o poeta à flor que quer tão bem

- O amor é como um cravo no roseiralDisse a flor, toda vermelha, amava também.

- O amor é a presença de uma ausênciaDisse o poeta ao sentir o perfume da flor- O amor é estar com a pele à flor da peleDisse a flor à flor da pele, com dolência.

- O amor é como um sonho dourado,Disse o poeta com a sua certa altivez.- É carregar mais leve os seus fardosDisse a flor naquela última vez.

Então, foi que tudo aquilo teve fimPois os poetas sabem o que é o amor

Mas não sabem simplesmente amarO poeta colheu a flor, e saiu do jardim.

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Seus Seios

Os seios, que visão mais sublime!Uns pequenos, sem nenhum recheio

Outros maiores, dizemos cheiosAlimentam a vida, leite supremo.

 Nos seus seios, minha vida repousaPousa mais que qualquer cousa

 Nessa lousa de prazer benditoBendigo a vida só por tê-los.

Monte que meu prazer agitaGozo limpo e todo pleno

Pleno de te der em minhas mãos.Seus seios, e seu recheio.

Tenho-os, e não vejo obsenosPlácidos, boca que beija

Repouso nesse astro divã Nos teus pequenos seios.

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Pálida Flor

Desfolhe as folhas desta florSe seus espinhos lhe causam dor

Mas assim são os amoresLavados por córregos de pranto No pálido rosto do espantoDuram tão pouco como as flores.

Desfolhe as folhas desta florSe por acaso lhe causar torpor

Tampouco vim cantar a morteMas por triste sina e sorteTambém vim cantar o amorQue existe em mim como o vento.

Desfolhe as folhas desta florSe lhe causa lágrimas a sua corSão apenas orvalhos doudejantes

Sem pátria, sem praia, sem pragaCrescida entre as verduras da vagaA flor de um eterno amante.

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Operária

 Na manhã azuladaA fábrica arfante

Fumega fumaçaComo um giganteO céu ela embaça.

Giram os bondesComo num bosque,E os metros de metrôsCortando a cidade.

Correm os carros Não há luz nos postes Na boca um escarroFaz lembrar a morteQue um dia vai chegar.

Ela sempre se atrasa,Está na hora do pontoO amor em devaneioÉ chama fumo e brasaDepois do trabalho, o encontro.

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Gotas

Caem as gotas da chuvaLavando o firmamento

Deixando um céu cor de uvas.

Caem as gotas da neveCobrindo os telhadosCom um branco breve.

Caem as gotas de orvalhosMolhando toda a flor

Escorrendo pelos galhos.

Caem as gotas de lágrimasLavando todo o rostoEngolindo toda lástima.

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Fuga

Vamos fugir num cavalo de poesiaLevando com nós somente os devaneios

Cavalgar na noite até que seja diaBeijar do infinito o seu seio.

E quando sentirem por nossa faltaIremos ainda mais distantesSeremos enfim os nautasProcurando do amor a sua fonte.

Ficaremos cada vez mais fortes Nas paisagens de belas cascatasSeguindo sempre para o norteVamos fugir num cavalo de poesia.

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Paisagens

O vento tocou o marA onda beijou a rocha

A rocha virou areiaE a areia tocou teus pés

Teus pés pisaram a gramaA grama secou no outonoAs folhas caíram no chãoO chão ficou amarelo

 No entrave da temporada.Os frutos foram colhidosO cesto se encheu se florAs flores na água brilharamA água ganhou mais perfumeDe flor com pétala desfolhadaColhida em meia estação.

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Estrelas

A moça dos olhos de estrelasBrilhou seus olhos para mim.

Foi tanto o meu ardor ao vê-laEstrela porque tremes assim?

Eu, que era triste neste mundoHoje triste mais não sou.Por saber que no mundo existeUm olhar que todo céu guardou.

A moça dos olhos de estrelasBrilhou seus olhos para mim.Foi tanto o meu ardor ao vê-laEstrela porque tremes assim?

Estrela porque choras orvalhos?Se meu amor é o que tem de puro.

Eu sei bem que me falta o talho,De entender esses olhos escuros.

A moça dos olhos de estrelasBrilhou seus olhos para mim.Foi tanto o meu ardor ao vê-laEstrela porque tremes assim?

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Coisas

Um prato de prata,Camisa de linho,

Medalha de cobre,Uma garrafa de vinho.

Um candelabro de ouro,Cadeira quebrada,Cortina de seda,Uma janela pra estrada.

Um piano de cauda,Vela de cera,Quadros quadrados,Um castiçal de madeira.

Um lenço amarelo,Uma porta aberta,Armário mofado,E a casa quieta.

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 As Formigas

Cada letra é uma pequena formigaQue vem pousar no papel branco

E uma a uma como se fossem amigasFormam uma frase e o meu canto.

Mas elas encontraram o açucareiro na mesaAo lado do livro em que leioE tornam a deixar a página vaziaPois estão preocupadas com a sobremesa.

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Morena

vim cantar em minha prosaa morena cor de rosa,moça mais bonita da cidade;

tem os lábios de maçaos seus olhos são dois talismãs,é mais bela que a lua cheia.

é a morena tão mimosa,uma flor de tão formosa;tem um mar no seu olharo seu andar é de donzela

vive escorada na janelaesperando o tempo passar.

quando ela passa faz rebuliçoos homens largam de seus ofícios para poder lhe admirar;tem um jeito de moça faceira

seu perfume é de laranjeira,seus cabelos são raios de luar.

com a mão dentro de uma luva,ela vai segurando o guarda chuvaquando está frio para chover;ela é mesmo um anjinho.quando canta como um passarinho.

a vida tem mais prazer.

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Mulher

eu já cruzei todos os seus pradose colhi os seus verdoresdescobri dos seus estadoso calor de suas flores.

 já cruzei todos os seus campossuas mais altas cordilheiras;descansei como um gigantedeitado em sua cerejeira.

 bem no alto dos seus montesque encontrei o que meu desejo querum peito como uma fonteno seu corpo de mulher.

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Vagabundagem 

roubei de um tísico vendedor de rosaso perfume para fazer a minha prosa

que anda gasta por essas ruelasonde ando a ver fechadas janelas.

eu maldigo mais que um mendigocomo um jovem maldito e santoque em orquestra de cordas canta:amor, morte e loucura.

e sigo com minha lira desafinadaa procurar palavras mais agudasa sonhar com manhãs mais pranteadase mendigar um amor ao meu coração.

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Gotas de Amor

O amor é o maior dos tesouros.Escorre o pranto! Alegra o riso!

São todos os sentidos vindouros Nas torrentes de um paraíso.

O amor é a maior das fortunas.Pois deixa pobre! E faz mais rico!É uma ardente loucura,É escritor com pena de bico.

O amor é o maior sofrimento.É sol de noite! Lua de dia!Faz da emoção um sentimentoE do sentimento uma fantasia.

O amor é a maior das magias.Geme o prazer! Grita a dor!Faz do prazer uma agonia,Faz da agonia o amor.

O amor é o maior dos desejos.Seca a lágrima! Molha a ternura!Escorre pelos lábios o beijo,Vive da vida a ventura.

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Parnaso do Inferno

Ardo como um enfermo do infernoPois o paraíso a mim foi proibido

Tenho febre como quem tomou venenoMais veneno é meu último pedido.

Será que serei levado ao final do mundoSer chicoteado por meus ínfimos pecados?Ou vou subir, afortunado, aos céus?

A cólera está tomando o meu corpoE estou como quem está embebidoTenho febre como quem tomou venenoMais veneno é meu último pedido.

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Parnaso do Paraíso

Amor! Amor! Coma essas amorasQue esta vida sem amores

 Não vale a vida que se esvaiu.Eu bem sei que estou morto,Mas nunca estive tão vivo.Minha alma em mim canta

Depois que senti os perfumes secretosDepois que deixei o agreste.Fácil se esquecer nas horas

 No calor de todos esses verdores.

Eu, que temeroso era ao covil,Hoje o remanso de um rio doce

Uma cidade feita de colunas de ouroA sombra de uma figueira

Os pastos onde o gado descansaDescanso junto ao castor.Sobejo por entre as flores

Em um céu leitoso de violetaLavado pela chuva da tarde.Abro a cesta de frutas.

Vamos voltar ao nosso pomar.O ouro brilha em sua testa

As árvores balançam com o vento,Que mais parece uma brisa.

O bosque abriga o lago morno.

Amanhã voltamos ao trabalho!

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Ainda há muito que ser feito!Meu braço não dá para a espada

Mas dou minha mão a pena,

Quantas são essas riquezas a colher?A música nos embala quando noite.

Por Deus! Meus lábios não saberiam contar!Deixamos abertos nossos aposentos.As pedras nos seus dedos brilham.

Aqui não há sinais de charnecaMesmo sendo simples nossa choupana.

O que se planta se cresceAté o rochedo se torna próspero.Os campos são mais clarosOs verdes mais verdejantes.

 Nos prados e fazendas fazemos a colheita. Na cidade bebemos o vinho violeta.Amor! Eu bem sei que estou morto,

Mas nunca estive tão vivo!

II

Estou deitado entre a relvaAs folhas se tornam travesseiros.Vou passar toda tarde neste sítio,Por entre o esplendor da natureza

Sem perigo nenhum de serpente,Elas ficaram todas naquele desertoOnde eu vivia pensando que vivia.Ouço apenas o canto da floresta.

A morte é vida depois da sepulturaO vale flameja de todo verde

Os perfumes se guardam na montanha.Como são suaves as estações.

Passeio por entre as veredas

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Tenho mais alegrias nos meus regaços.Amor! Voltamos a aquele jardimOnde a flor estremece ao vento.

As janelas estão abertas pelo verão.Como verte o passar dos instantes

E eu não sinto mais aquelas tormentas.Um riacho abrasou as minhas dores.Os pássaros parecem harpas de amor

A natureza exalta meus suspirosComo me embalo no bálsamo deste sítio!

Logo voltaremos para cidade de ouro, No entanto, agora regozijo.

III

Lembro da noite em que fui cadáver,Quando em meu peito a fibra se rompeu.

De minha boca no lençol a tosse era sangue,

Mas não temas esta escura covaQue o corpo é apenas prisão do espírito.Marchai! O caminho lhe será mostrado!

Uma fenda no horizonte se abreOs sentidos abertos em mim eram mil.

As flautas cantam mais doces que os pássaros.Deixai as falsas alegrias e seus guizos.

É chegada a hora dos festejos do amor.O galo canta! Nesse mel está o júbilo.Descanso o pensamento por estas vagas.

 Não temas ó pobre enfermo por suas chagas,Pois outros tiveram piores calváriosComo o triste mocho que se arrasta

Ou a vida que arrastou ele?Mas como são formosos estes ciprestes

E o mar de um azul marinho.

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As árvores servidas de grandes copas.Ó sim, a sepultura me foi triunfante.

Deixei a vida como quem deixou a dor.

 No derradeiro leito, ficou o último suspiro.O amor me escorreu prantos como espumas.Bebi mares! Fui ao longe de minha jornada

Até que a flor da vida me soprou a flor da morte.De quem em vida a vida e o amor amou

 No seio afável de uma amada.

IVAlém destas terras, existem terras morenas.

Estou de todo livre dos juncosComo rosa livre do espinhedo.

Sinto o prazer dessas mansardas.Até os gigantes carregam seus fardos

E os meus eu bem os carreguei.

Os terreiros da terra são traiçoeiros.Senti todo sofrimento medonho

Mas descobri nos ventos os tesouros.A liberdade fez meus olhos fogosos

E o amor foi meu maior fruto.Meu maior pecado foi a solidão

Mas estou livre do cárcere da alma.

Sonho por entre as açucenasAdormeço no vale do silêncioRegozijo entre os tambores e vinho.

Despoje-se de tuas fortunas.Pois estas fortunas são esmolas para o Senhor.

Minha alma de prazer sossegaEsses figos alimentaram minha fome

E meus desejos não são mais sequiosos.

Livre do túmulo e de todo desengano

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O viajante vagueia por entre as colinasCome uvas maduras molhadas pela chuva.

Este horizonte para além do horizonte

Tornou meus sofreres mais afáveis. Não padeço como antes padecia

E conheci a vida para além desta abóbada.

V

Como são manhosas essas manhãs

Quando não há trabalho e apenas folgar.Minha amada se esconde entre um arbustoEla parece estar lânguida.

Voltamos ao nosso verde pomarCom o espírito da luz vespertina.

A luz cora as pequenas maçãs de seu rostoEnquanto os seus olhos ganham cores.Ela tem pele branca como uma rosa,

O ouro brilha em sua testaSomente o amor é que nos faz gozar.

Agora ela se escondeu atrás de um choupo.A cesta de frutas ficou na grama.

Amor eu bem sei que estou morto,Mas nunca estive tão vivo!

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Saudade

Tenho saudade do amor que não tiveE tudo aquilo que ela comigo viveu

Mas como pássaro que voa livreEsse essa saudade em mim hoje morreu.

Toda vida que não vivi, um dia viviComo rio que navega ao marMas essa vida também vai passarComo música que nunca ouvi.

E tudo aquilo que não faleiO que não falei com ardor escrevi Na areia do mar, com sono adormeciE o que não vivi ainda está vivo.

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Último Poema

Passei pela vida a cantar a morteComo pedra no lago triste

Mas se na vida não tive sorteSó depois da morte o poeta existe.

Passei pela vida a cantar o amorQue existe em todo vão momentoE tudo que sei dele é o tempoQue não dura mais que uma flor.

Passei pela vida a cantar as graçasSem ter mesmo nem motivosLarga, meu leitor, agora, este livroQue ele será devorado pelas traças.

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Notas Sobre o Autor:

Filipe Didot é o pseudônimo de Wagner Alves Nascimento daRosa. O escritor é de Santa Maria da Boca do Monte, umacidade do interior do Rio Grande do Sul. Wagner começou

escrever desde cedo por intuição ou predestinação. Ingressouno curso de Letras do Centro Universitário Franciscano, qual

abandonou, pois ingressou mais tarde na Universidade Federal

de Santa Maria. Teve desde que ingressou no mundo literáriouma peça de teatro apresentada por alunas da UniversidadeFederal de Santa Maria. Entre obras suas, destaca-se as

 poesias: Balada Erótica e Tempos Tropicais. Teve as primeiras poesias publicadas em um jornal local chamado Diário deSanta Maria, e seu primeiro livro de poesias publicado mais

tarde na editora Bookess e Clube de Autores. O autor morou noRio de Janeiro. Lugar onde ficou um curto tempo, mas onde

conheceu a Lapa, quando afirma que ali a epifania da poesialhe despertara Morou mais precisamente na cidade de Barra de