o bisturi - abril.p65

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A Queda: A Queda: A Queda: A Queda: São Paulo, Abril de 2009 • Ano LXXIX - Edição nº 03 A Queda: E MAIS: No dia 17 de Março, o ônibus que levava acadêmicos do primeiro ano até a UBS derrubou o busto de Dr. Arnaldo, histórico representante da FMUSP. A queda, no entanto, pode ter outros sentidos que não apenas o evidente. Pode representar um novo início - com tantas mudanças tanto no vestibular quanto dentro da institui- ção, não podemos esperar que tudo permaneça nos moldes atuais. Página 4 e 5

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Page 1: O BISTURI - ABRIL.p65

A Queda: A Queda:A Queda:A Queda:

São Paulo, Abril de 2009 • Ano LXXIX - Edição nº 03

A Queda:

E MAIS:

No dia 17 de Março, o ônibus que

levava acadêmicos do primeiro ano

até a UBS derrubou o busto de

Dr. Arnaldo, histórico representante

da FMUSP. A queda, no entanto, pode

ter outros sentidos que não apenas o

evidente. Pode representar um novo

início - com tantas mudanças tanto no

vestibular quanto dentro da institui-

ção, não podemos esperar que tudo

permaneça nos moldes atuais.

Página 4 e 5

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São Paulo, Abril de 20092

EDITORIAL

Aedição de abril de O Bisturi trazcomo matéria-destaque um acon-

tecimento tanto inédito quanto cho-cante: a queda do busto de Arnaldo,simbologia suprema da FMUSP. O bus-to, que repousava perante a fachadaa Faculdade, foi derrubado da formamais não-literária possível; nada derevoluções ou protestos, esqueça aderrubada de um antigo regime deidéias para a ascensão de um novo.Nada disso. O fato foi resultado deuma manobra um tanto incorreta deum ônibus que levaria parte da tur-ma 97 para uma visita à UBS.

Apesar do ocorrido ser um tantosólido e palpável, ainda pode dar mar-gem a conotações. O busto, assimcomo representa a FM, simboliza osidéias e as crenças daqueles que dia-riamente freqüentam sua Casa. Nãoé plausível supormos que uma insti-tuição tão fortemente presente no co-tidiano de seus pupilos não os vá mar-car de forma poderosa no sentido daconstrução de opiniões. Assim sendo,talvez seja este o momento para re-fletirmos sobre os valores da Casa deArnaldo, se os estamos seguindo e oporquê disso.

Vejamos, por exemplo, a Educa-ção Médica. Os fóruns de discussão aesse respeito contam com a presençae importante participação de inúme-ros ex-alunos e professores da FM.Isto sem dúvida é motivo de orgulho.Qual é, no entanto, a participação damaioria de nós no que diz respeito a

DIAGRAMAÇÃO E ILUSTRAÇÕES

Volpe Artes GráficasTel: (11)3654.2306

IMPRESSÃO

Gráfica Taiga

Este jornal não se responsabiliza pelos textos assinados. Os textos assinados não refletemnecessariamente a posição da gestão. O Bisturi se disponibiliza a publicar cartas-resposta

aos textos aqui publicados, mediante envio destes até a data limite para diagramação.Envie textos, dúvidas e críticas para [email protected].

JORNAL DOS ESTUDANTESDE MEDICINA DA USP

COLABORADORES

Alan Saito Ramalho (94) • Ariel Testasicca Trunkel (96) • Arthur Hirschfeld Danila (94) •

Bruno Miguel Muniz Oliveira (96) • Carolina Rocha (95) • Caroline Maris Takatu de Oliveira

(94) • Flávio Mitio Takahagui (96) • Gabriel Taricani Kubota (96) • Geovanne Pedro Mauro

(95) • Lucas Nóbrega (96) • Maurício Menezes Aben-Athar Ivo (96) • Milton Crenitte (94) •

Pedro Campana • Priscilla Fiorelli (95) • Vítor Ribeiro Paes (95)

EDITORES-CHEFES

Caroline Gracia Plena Sol Colacique (96) • Jéssica Couto Christino (96)

Departamento de Imprensa AcadêmicaCentro Acadêmico Oswaldo Cruz

TIRAGEM

3.000

esse assunto? O quanto procurarmosnos manter informados? Será válida asugestão de que nada disso nos dizrespeito quando nossa formação pro-fissional é obviamente dependente dediscussões como estas?

Para muitos falta um bom moti-vo para importar-se - ou ao menosperceber que esses motivos já exis-tem, e não são poucos. Grande partedo que hoje é decidido nos afetaráno futuro, seja este próximo, en-quanto ainda formos graduandos,seja este longínquo, quando estare-mos formados porém com o nome ediploma intrinsecamente ligados àCasa. Devemos nos interessar peloCREMESP apenas quando este tomaruma decisão definitiva quanto aoexame do formando em medicina?Devemos discutir a ética da profis-são apenas quando nos envolvermoscom o Comitê de Ética?

Serão os valores da nossa Casaimportar-se apenas quando for estri-tamente necessário ou será que per-demos ao longo do tempo os verda-deiros princípios de nossa Instituição?A queda de Arnaldo, tão literal quantopossa nos parecer, traz sim discussõesmuito mais importantes de forma im-plícita. Este editorial não tem por fi-nalidade incutir culpas ou julgar indi-víduos. Fomentar questionamentos,esta é uma das funções essenciais aoBisturi. O busto caiu. Indaguemo-nosa respeito de todas as possibilidadesa partir daí.

A importânciada conotação

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São Paulo, Abril de 20093

PRESTAÇÃO DE CONTAS DE MARÇO

Alan Saito Ramalho

Relator do Parecer sobre o

Balancete de Janeiro e Fevereiro

do CAOC Conselho Fiscal

do CAOC - 2009

Parecer sobre asContas CAOC -Janeiro e Fevereiro

Na qualidade de relator desteparecer sobre o balancete

apresentado pela Diretoria doCAOC referentes aos meses de Ja-neiro e Fevereiro de 2009 e

Considerando que nos mesesde Janeiro e Fevereiro o CAOCrecebeu R$ 45.521,37, tendo gas-to R$ 30.121,45 (66,17% de suareceita bruta - economia de33,83% ou seja 1/3 da receita);

Considerando que as receitasobtidas por aluguéis de espaçoslicitados no Porão, anúncios noBisturi, vendas de produtos doCAOC relacionados ou não à Se-mana de Recepção aos Calouros2009 estão de acordo com as ati-vidades do CAOC;

Considerando que a cessão deespaço no Porão (STB) é motivode dúvida quanto à legalidade daexploração desse espaço, vistoque o Porão é cedido ao CAOC, maspertence à Faculdade de Medici-na da USP, sendo desejável licita-ção, embora se trate de cessãotemporária que visa oferece umaoportunidade ao corpo discente daFMUSP;

Considerando que as receitas"Intercâmbio Unilateral" e "Auxí-lio FFM Intercâmbio" são doaçõesao CAOC que ainda serão repas-sadas aos alunos beneficiados,constituindo doação lícita, quevisa o benefício de alunos daFMUSP;

Considerando que em Janei-ro as despesas do CAOC dizemrespeito à manutenção da sua es-trutura e aos investimentos emprodutos, e que esses gastos es-tão dentro do esperado e com osdevidos comprovantes;

Considerando que em Feve-reiro houve a Semana de Recep-

Aprovado pelo Conselho Fiscal do CAOC

Casa de Arnaldo, 13 de Março de 2009

ção aos Calouros e publicação d'OBisturi e que os gastos com essasatividades estão corretamentediscriminados e comprovados;

Considerando que as despe-sas estruturais e com intercâm-bio estão dentro da normalidade,discriminadas, apesar de não es-tarem, ainda, disponíveis todosos comprovante que se fazem ne-cessários;

Sugiro que:1) O balancete do CAOC de Ja-

neiro seja aprovado pelo ConselhoFiscal;

2) O balancete do CAOC de Fe-vereiro seja aprovado, com ressal-vas, pelo Conselho Fiscal;

3) A receita, em Fevereiro,com a cessão temporário do espa-ço do Porão para a STB seja consi-derada, apesar dosquestionamentos que suscita, decaráter excepcional e lícito, devi-do ao benefício imediato que trásaos estudantes de Medicina da USPe ao fato de já ter sido encerrada;

4) A Tesouraria do CAOC pro-videncie os comprovantes que fal-tam relativos aos gastos estrutu-rais e com a manutenção do CAOC,para aprovação completa das con-tas de Fevereiro;

5) O balancete seja publicadode maneira mais sucinta, reunindoitens como Papelaria e melhor in-dicando quais gastos estão relaci-onados a eventos excepcionais,como a Semana de Recepção aosCalouros 2009.

4/mar Anúncio Técnicas Americanas R$ 350,006/mar Estande STB R$ 330,506/mar Aluguel Café CAOC R$ 4.441,776/mar Aluguel VG Copiadora R$ 1.284,7310/mar Anúncio Dathabook "O Bisturi" R$ 520,0010/mar Aluguel Dathabook R$ 2.545,3610/mar Aluguel Perfumaria R$ 1.200,0024/mar Anúncio Perfumaria "O Bisturi" R$ 120,0029/mar Entrada da Cervejada R$ 2.295,40

Entrada da Feirinha R$ 2.500,00Entrada da Loja R$ 7.250,97Aluguel de Armários R$ 930,00TOTAL R$ 23.768,73

RECEITAS – Março

2/mar Pagamento Contabilidade R$ 270,006/mar Transporte ROEX R$ 1.114,506/mar FGTS R$ 133,756/mar Compra de CD's para o Intercâmbio R$ 10,009/mar Hospedagem do Site R$ 289,7011/mar Sacolas Plásticas Lojinha R$ 43,0012/mar Cópias Fevereiro e Janeiro de 2009 R$ 262,9512/mar Reconhecimento de Firma Procurações R$ 43,2017/mar Compra Camisas Lojinha R$ 910,0017/mar Envio "O Bisturi" R$ 497,1218/mar Impressão "O Bisturi" R$ 2.010,0023/mar Cartões CAOC R$ 170,0023/mar Cartazes Cervejada R$ 460,0025/mar Compra Porta-crachá Lojinha R$ 143,2027/mar Compra Cerveja e Gelo Cervejada R$ 758,8530/mar Diagramação "O Bisturi" R$ 2.566,0030/mar Compra Aventais Lojinha R$ 1.649,6530/mar TV por Assinatura Março e Fevereiro R$ 124,389/mar Assinatura Estadão R$ 35,5017/mar Ônibus Semana de Recepção R$ 2.800,0024/mar Compra de Equipamentos DIS R$ 5.000,00

Tarifas Bancárias R$ 2,00TOTAL R$ 20.060,80

DESPESAS – Março

Saldo da Gestão 2009 em Março de 2009: ------- R$ 3.707,93

Saldo Anterior da Gestão ---------------------------- R$ 26.231,34

Saldo Atual da Gestão -------------------------------- R$ 29.939,27

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São Paulo, Abril de 20094

FACULDADE

Será o fim de DrSerá o fim de Dr. Arnaldo?. Arnaldo?Monumento-símbolo da Faculdade é tombado porônibus que levaria calouros a Unidade Básica de Saúde

No dia 17 de março de 2009, poucoantes das 8 da manhã, os calouros

da 97ª turma da FMUSP se preparam paraa aula de Atenção Primária em Saúde,uma disciplina multidepartamental dasmais novas do currículo médico.

Esperam diante de um dos símbolosmais imponentes da Faculdade, firme-mente posicionado defronte à fachadaprincipal do edifício-sede da FMUSP.

É o Dr. Arnaldo Vieira de Carva-lho, nosso primeiro diretor, que, fale-cido precocemente em 1920, não tevea oportunidade de conhecer o tambémimponente prédio inaugurado em 1931,mas que continua figurativamente pre-sente em seu busto esculpido em bron-ze, com seu semblante austero, sem-pre atento aos que passam diante da-quela que ficou sendo conhecida comoa sua casa, a "Casa de Arnaldo".

MUDANÇA NO PERFIL DO ALUNO

A entrada dos calouros da 97ª turmada FMUSP marca um momento históricona Faculdade. Pela primeira vez, e de for-ma nunca antes vista, a porcentagem dealunos procedentes de ensino médio rea-lizado em escolas públicas subiu de 9,7%,

em 2008, para 37,7%, em 2009. Esse sal-to de quase 400% pode ser explicado peloprograma de inclusão da USP, o Inclusp.Tal programa oferece a possibilidade debonificação de até 12% de pontos a maisnas notas da FUVEST conforme os resul-tados das notas do ENEM (Exame Nacio-nal do Ensino Médio) e avaliaçãosocioeconômica dos alunos.

Apesar do fato de que muitos dosestudantes provenientes de escolas pú-blicas fizeram cursinhos particulares an-tes de ingressar na Faculdade - apenas8% dos alunos provenientes de escolaspúblicas não fizeram cursinho, o resulta-do mostra uma mudança de perfil impor-tante para a Comunidade FMUSP.

A Faculdade, desde sua criação,sempre foi considerada por muitos umainstituição elitista. É importante ressal-tar o lugar de prestígio que ocupava aprofissão médica na sociedade brasilei-ra do final do século XIX, quando se ini-ciaram as mobilizações para a criaçãoda presente Faculdade. Entremeada ànecessidade de ungir a cidade de SãoPaulo com o progresso e o pensamentohigienista da época, iniciado no Rio deJaneiro, Dr. Arnaldo, em negociaçõescom o governo paulista da época, fun-dou a faculdade, e a elite intelectual daépoca preencheu seus bancos. O alto ní-vel acadêmico exigido pelo rigor da di-reção desta Faculdade pública marcouesta instituição pelo seu posicionamentocomo uma das instituições mais tradici-onais da cidade de São Paulo.

Com o passar dos anos, a composi-ção dos estudantes da FMUSP passou aser proveniente de escolas estatais, na-quela época de grande conceito, ou dealgumas escolas particulares de excelên-cia. Com a progressiva desconstrução daqualidade das escolas públicas, e com ocrescimento de escolas privadas focadas

em vestibulares e a proliferação dos cur-sinhos preparatórios para o vestibular,o acesso à Faculdade modificou-se no-vamente, dessa vez em favor daquelesque tivessem condições de financiar oensino médio privado ou cursinhos par-ticulares, sendo raros os alunos proce-dentes de escolas públicas ou de cursi-nhos comunitários.

Em meio às políticas nacionais demercantilização do ensino superior, pormeio da concessão de bolsas em institui-ções de ensino privadas (pelo ProgramaProUni), pelo incentivo à criação de es-colas particulares (48 das 60 faculdadesabertas durante o governo Lula) em de-trimento das faculdades públicas, e pelacriação de parcerias público-privadas, aUSP resolveu iniciar um programa de in-clusão social, denominado Inclusp. Deacordo com critérios de formação no en-sino médio, os candidatos da FUVESTpoderiam ter porcentagens acrescidas nasnotas do vestibular.

POLÍTICAS DE SUPORTE AO ALUNO

Se o Inclusp pretende incluir alunosde condições socioeconômicasdesfavorecidas, a mudança de perfil es-perada deve ser motivo de atenção portodos e acompanhada de mudanças nasestruturas de apoio aos alunos durante ocurso médico. A Faculdade deve oferecercondições para que o aluno encontre su-porte para um desenvolvimento pessoalsadio e formação médica adequada.

O curso de Medicina em qualquer ins-tituição de ensino superior é um cursocaro. Na FMUSP, então, a situação agra-va-se: não somente o custo operacionaldo curso é elevado, devido ao preço doslivros didáticos, mas também a exausti-va grade-horária impossibilita os estudan-tes de conciliarem o estudo com um tra-balho rentável financeiramente. Ainda,pelo fato de a Faculdade localizar-se emregião nobre de São Paulo, os locais paraalimentação são consideravelmente one-rosos e, para os alunos residentes forada capital, a despesa com moradia é subs-tancialmente elevada.

É pensando em tudo isso que, naFMUSP, criaram-se, com o passar dosanos, diversas políticas de apoio estru-tural, social, psicológico, financeiro e ci-entífico aos alunos.

A primeira delas foi a "Casa dos Es-tudantes de Medicina" (CEM), criada emmeados dos anos 1950, pelo Centro Aca-dêmico Oswaldo Cruz, em um dos terre-nos do CAOC. Arquitetada para funcio-nar como uma residência estudantil, aCasa viabiliza a moradia sem custos paraestudantes do curso de Medicina de forade São Paulo, pois sua localização namesma rua da Faculdade minimiza osgastos com transporte. Como o númerode estudantes que pleiteiam o benefíciosupera o número de vagas na Casa, temsido feita uma seleção baseada no perfilsocioeconômico dos candidatos, que re-centemente passou a ser coordenadapela Coordenadoria da Saúde e Assistên-

Arthur Hirschfeld Danila (94)

“ “"Entretanto, se o Inclusp pretende incluir alunos de condi-ções socioeconômicas desfavorecidas, a mudança de perfilesperada deve ser motivo de atenção por todos e acompa-

nhada de mudanças nas estruturas de apoio aos alunosdurante o curso médico. A faculdade deve oferecer condi-ções para que o aluno encontre suporte para um desenvol-

vimento pessoal sadio e formação médica adequada."

"E agora, Arnaldo, concentrado nes-

te bronze eterno, de olhos fixos no

infinito, na eternidade do tempo,

despede-se de sua Escola e da sua

gente, com essas palavras finais: 'A

seção está cancelada. Transforma-

ram e modificaram minha casa'."Cantídio de Moura Campos,

5 de junho de 1971,discurso junto ao busto de Arnaldo

Vieira de Carvalho. Retirado de LACAZ, C. S. A Faculdade de

Medicina e a USP, p. 14.

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São Paulo, Abril de 20095

cia Social (COSEAS) da USP. Ao final de2007, a Casa sofreu uma grande ampli-ação e reforma que aumentaram o nú-mero de quartos. Estes agora contamcom banheiro e computador para cadadupla de estudantes, além de áreas devivência com churrasqueira e sala dehome theater. Além disso, os moradoresda Casa têm subsídio alimentar integralconcedido pela Faculdade, no restaurantePRC (mais conhecido como Palheta, lo-calizado no Prédio dos Ambulatórios doHospital das Clínicas).

Em segundo lugar, no final da dé-cada de 1960, nasceu o GRAPAL - Gru-po de Apoio Psicológico ao Aluno daFMUSP - durante o “Curso Experimen-tal de Medicina”, que à época funcio-nava na Cidade Universitária. Como assalas eram menores, os professores ealunos tornavam-se muito próximos, oque possibilitava a detecção de confli-tos ligados à personalidade e ao mo-mento de vida de cada aluno, e das maisfrequentes dificuldades inerentes ao cur-so médico. Com o fim do curso experi-mental, e o progressivo distanciamentodos docentes com os alunos, surgiu anecessidade de um espaço específicopara dar assistência psicológica ao es-tudante, sendo formada uma equipe depsiquiatras e psicólogos especialmen-te organizada para analisar e discutiras dificuldades, frustrações e expec-tativas dos alunos da graduação e re-sidentes. Nesse ambiente, o aluno podediscutir questões como a formação mé-dica, a relação com o paciente, suasperspectivas futuras, além de temasdelicados como o sofrimento, a dor ea morte. Todos os alunos, assim queingressam na Faculdade, recebem umconvite para conhecer o Grupo. A par-tir de então as visitas são livres e mo-tivadas pelas necessidades dos estu-dantes, e o sigilo é garantido.

Posteriormente, foi fundado o Pro-grama Tutores, com o intuito de dar su-porte ao aluno nas questões relativas àsdisciplinas do curso de Medicina, à rela-ção interpessoal do estudante, sua apro-ximação com a Faculdade e seus anseiosprofissionais. Para isso, foram elabora-dos grupos com pelo menos um aluno decada ano e um tutor. Os alunos de dife-rentes anos são misturados para que osmais velhos possam trocar e transmitirexperiências para os mais novos. Sãofeitas reuniões mensais para discutir aformação médica de uma forma mais in-tegral, para além dos limites estabeleci-dos no cronograma do curso médico. Oprojeto é institucional, conta hoje comcerca de 100 tutores - que podem ser pro-fessores da Faculdade ou médicos do Hos-pital das Clínicas, é previsto na grade

curricular da FMUSP tem sua sede no Cen-tro de Desenvolvimento da EducaçãoMédica (CEDEM).

Recentemente, criou-se o AFINAL -Comissão de Apoio Financeiro ao Alunoda FMUSP, em 2007, com a finalidade deoferecer um programa de auxílio finan-ceiro aos alunos regularmente matricula-dos nos cursos de graduação com dificul-dades financeiras. A idéia da concessãode bolsas surgiu a partir das reuniões doPrograma Tutores, nas quais os profes-sores responsáveis por alguns alunos des-cobriam histórias de sacrifício pessoal ede dificuldades financeiras. Para a con-cessão das bolsas, é feito um processoseletivo anual, realizado pela COSEAS daUSP. Considera-se o perfil socioeconômicoe o desempenho acadêmico dos alunospara concessão de bolsas anuais, nosmoldes e valores similares ao da bolsa deiniciação científica da Fundação de Am-paro à Pesquisa do Estado de São Paulo(FAPESP) - R$ 396,00 mensais. As bolsassão custeadas com recursos oriundos dedoações de ex-alunos, pais de alunos eprofissionais do Sistema FMUSP-HC, alémda Fundação Faculdade de Medicina.

Além de todas as políticas de inser-ção e permanência do aluno de Medicinadurante os seus seis anos de graduação,não se pode esquecer dos incentivos fi-nanceiros aos alunos que desenvolvemprojetos de iniciação científica, quer sejaela em laboratórios, quer seja por meiode pesquisas clínicas, ou ainda emmonitorias de diversas disciplinas oudentro do “Projeto Aprender com Cultu-ra e Extensão”, organizado pela Pró-rei-toria de Cultura e Extensão da USP. Nosprojetos de iniciação científica, a USPconcede bolsas de incentivo à pesquisa,as denominadas Bolsas PIC (Programa deIniciação Científica) e PIBITI (ProgramaInstitucional de Bolsas de Iniciação Ci-entífica em Desenvolvimento Tecnológicoe Inovação), que são outorgadas medi-ante apresentação do projeto e avalia-ção da Comissão de Pesquisa da FMUSP.Além das bolsas concedidas pela USP, oestudante de medicina pode pleitearbolsas de Iniciação Científica financia-das pela FAPESP, principal agência de fo-mento da pesquisa científica etecnológica do Estado de São Paulo.

Os calouros ainda contam com oapadrinhamento por veteranos, realiza-do já na Semana de Recepção, logo apósa matrícula na USP. Desde o infeliz inci-dente ocorrido na Faculdade em 1999,com a morte do calouro Edison Tsung ChiHsueh, os estudantes e os dirigentes daFMUSP decidiram unir forças para acabardefinitivamente com o trote violento, etransformá-lo em uma recepção absolu-tamente amigável e de caráter de

Arthur Hirschfeld Danila é

acadêmico da FMUSP e conselheiro

da Gestão CAOC 2009

integração com os veteranos. Foi entãoformada uma Comissão de Integração,que conta com representantes de todasas entidades acadêmicas (CAOC, DC,AAAOC, projetos de extensão, Show,Medicina Jr, entre outros), da direção daFMUSP e professores. Ao matricular-se naFMUSP, o aluno do segundo ano é desig-nado a apadrinhar um calouro, ficandoresponsável por introduzi-lo ao ambienteacadêmico, e compartilhar com ele as pos-sibilidades existentes na faculdade e suasexperiências. O trabalho fica sob respon-sabilidade dos próprios segundanistas, emparceria com a Comissão de Integração.

Pouco tempo atrás, foi fundado o Pro-grama de Prevenção e Tratamento aoAbuso de Álcool e Drogas na Faculdadede Medicina da USP. Esse programa de-senvolve atividades de prevenção juntoaos alunos, funcionários e docentes daFMUSP, como parte das ações desenvol-vidas pelo setor de prevenção do GREA(Grupo Interdisciplinar de Estudos de Ál-cool e Drogas).

REFLEXÕES

É curioso observar uma aparentetransformação no ensino médio públicoe seu desdobramento na composição dosbancos da Faculdade. O ingresso na USP,universidade por tantos considerada amais almejada, deve sempre ser moti-vo de grande orgulho e resultado de su-peração intelectual, social, econômica,mas acima de tudo, pessoal. A USP nãodeve ser exclusiva dos mais ricos, nemdos mais pobres; não dos brancos, nemdos negros. Deve ser daqueles que, pormérito próprio, por acreditarem que épossível, se dedicaram ao tão sonhadoobjetivo, e assim puderam ter a felici-dade de fazer parte dessa grande famí-lia, da Casa de Arnaldo.

Apesar da presença de tantos pro-gramas de apoio aos alunos, entretanto,a formação médica ainda se mostra ba-seada na "cultura do sacrifício" onde "osofrer para ser competente" permanecesendo um valor. Sofrer para aprender esuportar o sofrimento são naturalizados

e valorizados no processo de formaçãoda identidade médica. Respostas em ou-tras direções são consideradas, não ape-nas pelos docentes, mas também pelospróprios alunos, como sinal de fragilida-de e indicadoras da incapacidade em con-tinuar no caminho. Deve ser preocupa-ção de todos que as garantias provenien-tes da existência de programasinstitucionais de auxílio sejam cada vezmais melhoradas e mais bem utilizadaspelos estudantes que dela precisarem, evi-tando-se a todo custo quaisquer manifes-tações de caráter preconceituoso. Pelocontrário, a participação de alunos nosprogramas deve ser incentivada e obser-vada com respeito, pois a procura dos seususuários é necessariamente sua pré-con-dição de existência.

Mudar esse pensamento não é fá-cil, ainda mais em uma instituição detanta tradição como a Casa de Arnaldo.Ainda que a sociedade contemporâneae a composição dos membros da Casatenham mudado bastante quando com-paradas às da época da fundação daFaculdade, alguns conceitos e modelosde relacionamento social entre alunose docentes ainda permanecem enrai-zados no perfil de quem integra a fa-mília de Arnaldo. E se Dr. Arnaldo, sem-pre vigilante, portando todo o rigorassociado à sua personalidade em seusemblante magnificamente esculpidoem bronze, algum dia cair novamente,dizendo que sua Casa foi transforma-da e modificada, lembraremos todosnós que a tradição dessa Instituiçãojamais será esquecida, uma vez que éparte de nossa cultura e vivênciainstitucional. No entanto, tradição ain-da maior sempre será a preservaçãoda vida e do bem estar dos integran-tes de sua família, bem como a adap-tação às novas necessidades da socie-dade que a mantém, para que aquelespossam trilhar, sempre em saúde, osrumos futuros desta gloriosa Casa.

“ “"O ingresso na USP, universidade por tantos considerada amais almejada, deve sempre ser motivo de grande orgu-lho e resultado de superação intelectual, social, econômi-ca, mas acima de tudo, pessoal. A USP não deve ser exclu-siva dos mais ricos, nem dos mais pobres; não dos bran-cos, nem dos negros. Deve ser daqueles que, por méritopróprio, por acreditarem que é possível, se dedicaram aotão sonhado objetivo, e assim puderam ter a felicidade de

fazer parte dessa grande família, da Casa de Arnaldo."

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São Paulo, Abril de 20096

PANELAS DE INTERNATO

A formação das panelas de internato:conseguiremos lidar com essa caixa de Pandora?

Desde o final de 2006, a Comissãode Graduação da FMUSP tem le-

vantado a questão do sistema de for-mação das panelas de internato.Sabidamente, o quarto ano do cursomédico é considerado um dos maismarcantes: além do conteúdo acadê-mico de alta complexidade, esse é operíodo em que a escolha dos gruposde trabalho para os estágios do inter-nato é realizada. Na FMUSP, tradicio-nalmente, esses grupos são montadospor afinidade pessoal.

Existem duas grandes preocupa-ções para a presente discussão:

Em primeiro lugar, a questão so-ciológica e pedagógica. O médico quea FMUSP quer formar é aquele que con-seguirá trabalhar em qualquer ambi-ente que lhe for oferecido? Terá elecondições de lidar com profissionais,e por que não, pacientes das mais di-versas personalidades? Será a afinida-de o melhor critério de divisão de gru-pos do ponto de vista pedagógico?

Em segundo lugar, o caráter emo-cional do momento. A divisão por afini-dade expõe inevitavelmente os alunosa momentos de desgastes emocionaisintensos, que podem refletir em preju-ízos pedagógicos e de relacionamentodurante os estágios do internato.

Muitos alunos indicam como as-pectos negativos da escolha por afini-dade a heterogeneidade de desempe-nho dos grupos de internato, odescompasso entre a avaliação e oaprendizado, o fato de que o interna-to não reflete como é o mundo real,em que não se pode escolher com quemse quer trabalhar, e a imagem estig-matizada que é formada de cada pa-nela, da qual é difícil odesvencilhamento.

Em contrapartida, dentre os prósaparece principalmente a questão docritério de afinidade, que é essencialem um momento tão estressante comoo internato, contentando, portanto, a

Discussão sobre formação das panelas de internato da 94ª turma da FMUSPmobiliza os alunos em votação expressiva a favor da escolha por afinidade

Arthur Hirschfeld Danila (94)maioria dos estudantes. Em seguidavem a observada maior união entre osintegrantes dos grupos, o que propor-cionaria uma identidade à panela, alémde facilitar a resolução dos problemas,em função da maior flexibilidade ecompreensão de um grupo unido e ofato de ser o último momento de esco-lha de um grupo com quem queremostrabalhar.

Há quase um senso comum contrao sorteio puro e simples na formaçãodas panelas. A afinidade é consideradapor muitos, senão todos, um critériomuito importante e necessário. No en-tanto, é essencial que se estabeleça cla-ramente uma distinção entre afinidadee amizade. É fato que a presença deamigos na panela até possa ser a con-seqüência de um grupo de trabalho bemfeito e harmônico, e que a afinidadeajudaria a enfrentar e minimizar os atri-tos, mas o inverso não necessariamen-te é válido. Uma panela escolhida ape-nas pelo critério da amizade não garan-te que as tarefas durante o internatosejam justiçadamente divididas e com-partilhadas, e que os integrantes da pa-nela consigam otimizar o estudo e o tra-balho, quando necessário.

Outro consenso aparentemente di-agnosticado é o estabelecimento de umnúmero fixo de alunos por panela. Isso,pois nos estágios há determinado nú-mero de procedimentos ou tarefas aserem executadas, que devem ser di-vididos entre os componentes da pa-nela. Um número destoante de integran-tes em cada panela faria com que o tra-balho fosse sobrecarregado para os alu-nos de panelas menores, enquanto ha-veria "pouco" trabalho para as panelasmaiores. O número padrão sugeridopela Comissão de Graduação e pelos Co-ordenadores dos estágios do Internatoseria o de 15 alunos, com uma mar-gem de um aluno para mais ou paramenos.

Há ainda outro aparente consen-so, de que a Comissão de Graduaçãodeveria ajudar a identificar e auxiliaros acadêmicos com dificuldades de re-

lacionamento desde o primeiro ano dafaculdade, e incentivar momentos detrabalho em grupos compostos comcerta heterogeneidade de alunos, pos-sibilitando, dessa forma, o relaciona-mento com colegas de diferentes gru-pos, e aumentando a rede de relacio-namentos entre as turmas.

Tradicionalmente, os alunos doquarto ano dividem-se em 12 panelasque variam entre 14 e 16 estudantes.Com o suposto crescente número dereclamações tanto de professoresquanto de alunos a respeito da divisãode panelas e sua consequência duran-te o internato nos últimos anos, a Co-missão de Graduação aventou a possi-bilidade de se haver uma reformulaçãono sistema de escolha das mesmas.Nesse ínterim, o Prof. Dr. PauloSilveira, da Disciplina de InformáticaMédica da FMUSP, desenvolveu um pro-grama de formação de grupos de tra-balho baseado em diversos critérios,dentre os quais levasse em conta, prin-cipalmente, critérios de afinidade e/ou rejeição.

Segundo Silveira, para participardo programa, os alunos do quarto anoentrariam em um website que contémuma base de dados com os nomes detodos os alunos da turma. Nesse ban-co de dados, seriam atribuídas notaspara os colegas de turma, variando de-10 a +10, de acordo com critérios deafinidade e/ou rejeição. Após seremdepositadas as notas, o programa decomputador simularia diversos cená-rios considerando os valores das notasde afinidade e/ou rejeição, acompa-nhados de critérios de gênero e desem-penho acadêmico na graduação, sen-do atribuídos, em cada cenário, dife-rentes pesos para cada critério. Comisso, esperar-se-ia equilibrar as pane-las tanto no perfil de afinidade quantoem gênero e desempenho acadêmico.Ao atribuir as notas, seria ainda pos-sível a inclusão de links entre os alu-nos. Isso poderia ser utilizado no casode uma dupla de amigos ou namora-dos ou trio de amigos julgar que ne-

cessariamente deveriam ficar juntosna panela, independentemente do ce-nário simulado. Para apresentarem va-lidade, entretanto, os links deveriamser obrigatoriamente recíprocos.

No final de 2008, deu-se inícioàs discussões acerca da escolha das pa-nelas. Como ponto inicial, marcou-seuma reunião com o Prof. Dr. Milton deArruda Martins - Presidente da Comis-são de Graduação, que revelou à tur-ma 94 as dificuldades em se comporpanelas de número estável de integran-tes, geralmente em torno de 15 estu-dantes, sem grandes tumultos no mo-mento de formação dos grupos. Namesma reunião, foi apresentado o pro-grama de formação de panelas desen-volvido por Silveira.

Sucessivas reuniões foram en-tão marcadas entre a turma para deci-dir se iria simular o programa. Ao finaldo ano, em votação expressiva, foiaceita a realização de uma simulaçãodo programa, que foi marcada para fe-vereiro de 2009. Após a rodada de atri-buição de notas aos colegas de turma,houve a apresentação dos resultadosda simulação, que ficaram disponíveispara consulta no website do programa.

A nonagésima quarta turma daFaculdade estava então devidamentemunida com todos os dados necessári-os para uma decisão ponderada acer-ca da escolha da metodologia de for-mação das panelas.

A decisão final acerca do assunto,entretanto, não foi fácil. Colocada àmesa tal caixa de Pandora, deparamo-nos com o inevitável: discussões emais discussões, defesas de ambas asmetodologias de escolha das panelas,brigas, tumultos -virtuais e reais- quepor muito pouco não culminaram emagressões verbais e físicas, em umade nossas reuniões.

Finalmente, na terça-feira dodia 24 de março de 2009, após o tér-mino do conturbado período de vota-ção para a decisão sobre o método deformação das panelas da 94ª turma daFMUSP, a odisséia de escolha da

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São Paulo, Abril de 20097

Bandeira Científica:

EXTENSÃO

Todo ano, sai da faculdade de Medicina da Universidade de São

Paulo (FMUSP) um grupo de alunos ede profissionais, rumo a alguma ci-dade do Brasil, em mais uma expe-dição do Projeto Bandeira Científica.Mas, afinal, o que leva essas pesso-as a deixarem suas atividades, suasférias e seu conforto, para ingressarem tal empreitada?

A Bandeira Científica é um proje-to de extensão acadêmica que nasceuem 1957. Durante 12 anos, organizouexpedições para cidades carentes doBrasil, visando à pesquisa científica.Entretanto, em 1969, teve de ser in-terrompido devido ao regime militar,e só em 1998, quando um grupo de alu-nos mexia em alguns arquivos antigosda FMUSP, foi reativado.

Deste processo participou o en-tão aluno e atual coordenador do pro-jeto e assistente da patologia daFMUSP, Luiz Fernando Ferraz da Sil-va (Burns). Há 10 anos participandoda Bandeira, ele acompanhou diver-sas mudanças na organização e noenfoque do projeto. Desde 1998, estefoi crescendo e conquistando novosadeptos, além de ter ganhado novosenfoques a seus princípios.

Na época de seu nascimento,suas atividades voltavam-se maispara a pesquisa e contava-se somen-te com a participação da FMUSP. Com

Caroline Maris Takatu de

Oliveira (94) e Milton Crenitte (94)

PSF, número de habitantes do muni-cípio e proporção de população rurale urbana. Com destino já definido, aBandeira realiza sua expedição numperíodo de 10 dias, no mês de de-zembro. O projeto já beneficiou mu-nicípios nos estados do Maranhão,Minas Gerais, Alagoas, Rio Grande doNorte, Rondônia, entre outros.

No ano passado, o beneficiadofoi o município de Itaobim (MG), noVale do Jequitinhonha. Da expediçãoparticiparam 202 acadêmicos e pro-fissionais da USP e da UFMG. 7210atendimentos médicos, palestraseducativas, doação de 531 óculos ede 52 próteses dentárias foram al-gumas das atividades desenvolvidasna expedição. O projeto consideramuito importante o quesitoassistencial, porém, não deixa delado o ensino, priorizando sempre osacadêmicos na realização dos aten-dimentos, na execução de palestrase no desenvolvimento de pesquisas,tudo com a supervisão dos profissi-onais de cada área.

Voltando agora à pergunta feitano início: o que leva tantas pessoasa participarem de um projeto comoesse, deixando de lado, por algunsdias, toda a sua rotina? Sinceramen-

Caroline Maris Takatu de Oliveira e

Milton Crenitte são acadêmicos da

FMUSP. Caroline é diretora do

projeto de 2009 e Milton foi dire-

tor do projeto de 2008

a mudança dura mais do que 10 dias

Coquetel de Apresentação de Resultados

22/05/09, às 19h30, no Teatro da FMUSP.

Arthur Hirschfeld Danila é acadê-

mico da FMUSP, conselheiro da

Gestão CAOC 2009 e membro da

Comissão de Panelas da turma 94

metodologia aparentemente terminou.Foi eleita, por 71,2% do núme-

ro de votantes (156 votos, que perfa-zem 81,6% da turma 94) a escolha daspanelas pelo método de afinidade.

Apesar de a turma 94 ter esco-lhido a afinidade como critério de for-mação das panelas de internato, ain-da nos faltam alguns dados importan-tes para que a composição das pane-las possa definitivamente concretizar-se. Como há muitos alunos de anos

anteriores que estão fazendo estágiosinternacionais, quando eles voltarem,deverão fazer o internato com a nossaturma. Além disso, alguns colegas deturma foram ou ainda farão intercâm-bio fora do país, devendo adiar a en-trada no internato e, portanto, não es-colhendo sua panela com a turma 94.Alem disso, para o devido ingresso nointernato, o acadêmico tem que obri-gatoriamente estar aprovado em todasas matérias até o quarto ano. Os alu-

nos esperam ansiosos pelo número deintegrantes da turma 94 ao final doano, para que se possa ser estabeleci-do o número padrão de membros daspanelas, com o desvio de um aluno paramais ou para menos.

Por ora resta, portanto, o mais di-fícil: concretizar a vontade de mais dedois terços dos votos da turma em fa-vor da escolha por afinidade e refletirsobre todos os estresses e desconfor-tos que já aconteceram, no sentido de

evitar futuros atritos.De fato, o quarto ano já está sen-

do um ano marcante em nossas vidas.Lidarmos com essa caixa de Pandoraserá um de nossos maiores desafiosaté o ingresso no internato.

o passar dos anos, a Bandeira foi ad-quirindo um caráter cada vez maisassistencialista e multidisciplinar, deforma que, hoje Medicina, Odonto-logia, Fisioterapia, Nutrição, Psico-logia, Agronomia, EngenhariasAmbiental e Civil e Jornalismo estãounidos para auxiliar cidades com de-manda reprimida em saúde, em edu-cação e em infra-estrutura. Na áreamédica, Dermatologia, Clínica Geral,Pediatria, Psiquiatria, Oftalmologia,Otorrinolaringologia, Ginecologia,Radiologia e Fisiatria atuam nas ex-pedições.

Assistencialismo, Educação ePesquisa são os pilares atuais do pro-jeto. Porém, mencionar a palavraAssistencialismo e dizer que diferen-tes cidades são beneficiadas a cadaano pode levar à falsa impressão deque há uma carência de continuida-de nos fundamentos da Bandeira. Naverdade, em cada expedição, sãoelaborados diversos relatórios pelasáreas participantes, que são usadospela cidade para a realização deações e que possibilitam uma requi-sição de recursos públicos mais fa-cilmente. Além disso, as pós-vistase a parceria com a universidade lo-cal garantem, mais uma vez, a con-tinuidade da intervenção.

O processo de seleção de cida-des é feito pela ComissãoOrganizadora composta por alunosdas áreas participantes e, para tal,são levados em conta dados comoIDH, porcentagem de cobertura do

te? Impossível responder a essa per-gunta com palavras. Só sendo umbandeirante para saber o quão grati-ficante é vivenciar a realidade deuma cidade e ajudar, ainda que umpouco, a melhorá-la; o quãorecompensador é ser recebido de bra-ços abertos por sua população; o quãoinexplicável é ir embora e saber queaquelas pessoas sempre se lembra-rão de você. Só deixando tudo delado, por míseros 10 dias, para en-tender que a vida de muita gente, in-clusive e principalmente a sua, vaimudar, muito, e para sempre.

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São Paulo, Abril de 20098

A Faculdade doAdmirar-seJostein Gaarder nos apresenta a facilidade- e as maravilhas - do ato de filosofar

Infelizmente são raros os livros queousam tecer seu enredo entre ques-

tões mais profundas que circundam a nóse ao mundo em que vivemos. Por outrolado, também não restam muitos quetenham desfrutado de uma introduçãode boa qualidade à filosofia, durante seucurso básico. É, portanto, com viés deoferecer àqueles interessados a nobreoportunidade de tomar conhecimentodas principais linhas de pensamento quedominaram a tradição filosófica ociden-tal desde a Antiguidade Clássica queJostein Gaarder pincelou sua mais fa-mosa obra, "O Mundo de Sofia".

Usando de um vocabulário aces-sível a jovens adolescentes, Gaarderapresenta ao leitor, de maneira sucintae clara, um delicioso prato com os tre-jeitos das teorias que marcaram o pen-samento greco-romano, tudo regado aum palatável enredo que prende e susci-ta curiosidade e emoção no âmago tan-to de jovens como de adultos. No livro,Sofia, uma jovem solitária, tem os ali-cerces de seu monótono dia-a-dia aba-lados pela chegada, no correio, de umcartão postal endereçado a uma completaestranha acompanhado de singelas po-rém estimulantes indagações sobre a ori-

gem do mundo e a essência do ego. Apartir daí Sofia é lançada num intrigan-te mistério acerca da identidade do in-cógnito remetente, que continua a en-viar e responder mais indagações exis-tenciais à Sofia, oferecendo a ela e aoleitor um completo e didático curso so-bre a filosofia clássica.

O mestre norueguês surpreendeao quebrar o preconceito que normal-mente circunda o concebido impenetrá-vel ato de filosofar e, ao unir com a gra-ça de um verdadeiro gênio literário o útilao agradável, incorpora a personalidadedo misterioso remetente que tutora asua nova discípula Sofia. Ao leitor apre-senta toda a beleza de indagar-se sobreaquilo que tomamos por certo: quem so-mos, o que nos circunda e as razões quenos movimentam. Um convite de fatoirrefutável a percorrer os caminhos in-telectuais que forjaram os clichês dopensamento mundano ocidental, e ques-tionar os ordinários dogmas do vivermoderno, permitindo nesse exercícioprazeroso dar tempero às tonalidadescinzas da mesmice de nossa existênciae recuperar o que o autor chama de a,há muito perdida, faculdade de admi-rar-se com ela.

Gabriel Taricani Kubota (96)

Gabriel Taricani Kubota é

acadêmico da FMUSP

TAXI DRIVER"Are you talkin' to me?"

Taxi Driver" é um filme do diretor Martin Scorsese, produzido

em 1976 e brilhantemente interpre-tado por Robert De Niro. O filme foiproduzido numa época em que o ci-nema hollywodiano abandonava umpouco a leveza e superficialidade queo caracterizou por muito tempo epassava a abordar temas mais obs-curos e crus, como violência, dro-gas, prostituição e política.

O filme trata da vida deTravis Bickle (De Niro), ex-comba-tente no Vietnã que se vê em umaAmérica sem qualquer objetivo ourumo. Sofrendo de insônia decidetrabalhar como taxista na noitenovaiorquina. Em sua nova profis-são, além de não obter sucesso nacura da insônia, Travis entra emcontato profundo com a vida sujadas ruas da cidade, aumentando suasolidão e repulsa por drogados, ne-gros e prostitutas. Apaixona-se poruma secretária da campanha de umsenador à presidência, Detsy, inter-pretada por Cybill Shepherd. Chegaa sair com ela algumas vezes, atéque a leva a um cinema pornô, ondeacaba o romance. O rompimentoagrava o perfil doentio de Travis,que decide matar o senador e can-didato. Nesse processo de prepara-ção, arma-se e inicia um treino fí-

sico que revela a paranóia em quejá está inserido o personagem. Aca-ba por conhecer a prostituta Íris,de 13 anos, interpretada por JodieFoster(que na época tinha apenas12), o que faz com que suas idéiasjusticeiras ganhem novos alvos. Oque se segue é um final apoteóticoque revela brilhantemente a para-nóia de Travis, mas que é seguidode uma cena, desnecessária na mi-nha opinião, que não deixa dúvidasde que o filme é cria de Hollywood.Nela Travis é caracterizado comoherói e a secretária se arrependede tê-lo dispensado.

Apesar disso o filme é dosmelhores de Scorsese e de DeNiro, tendo ganho a Palma deCannes em 76. De Niro, aliás, temuma atuação genial, que justifi-ca o Oscar por ele ganho anteri-ormente em "O Poderoso Chefão:Parte II". Segundo dizem, a clás-sica frase "Are you talkin' to me?"foi improvisada por ele durante agravação. "Taxi Driver" é repre-sentante do melhor do cinemaamericano, que infelizmenteabandonou esse estilo mais rea-lista da década de 70 e 80 e vol-tou para a leveza e superficiali-dade que o caracterizou no pas-sado. Fica aí a dica.

Bruno Miguel Muniz Oliveira (96)

Bruno Miguel Muniz Oliveira

é acadêmico da FMUSP

"

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São Paulo, Abril de 20099

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São Paulo, Abril de 200910

EXTENSÃO E VESTIBULAR

Carolina Rocha (95),

Priscilla Fiorelli (95) e

Vítor Ribeiro Paes (95)

Ao final do Ensino Médio, uma dasgrandes preocupações dos jovens

é a necessidade de ingressar em umaboa Universidade - e, para tal, é ne-cessário enfrentar o vestibular, um exa-me temido seja pela carga de conheci-mentos, seja pela pressão psicológicaque este desencadeia. A tensão envol-vida antes do exame torna-se pior quan-do a instituição altera as regras para oingresso - estilo de prova, matériaexigida, número de questões - levandoa mais uma preocupação: estou prontopara enfrentar o novo modelo? A turma95, por exemplo, passou por esta situ-ação, quando a Fuvest implementou as"questões interdisciplinares" e o novomodelo de prova, com 90 questões.Neste ano, algo parecido está ocorren-do, tanto nos vestibulares de universi-dades federais quanto nas estaduais deSão Paulo (USP, Unesp e Unicamp).

Para as federais, o ministro da Edu-cação, Fernando Haddad, pretende subs-tituir os vestibulares pelo Exame Nacio-nal do Ensino Médio (Enem), cuja estru-tura seria radicalmente modificada: emvez da tradicional prova de 63 questões euma dissertação, realizada em agosto, oEnem seria realizado em dois dias - 3 e 4de outubro de 2009, a princípio - e conte-ria 200 questões do tipo teste (100 emcada dia), com uma redação no segundodia. O estilo das questões também sofre-ria alterações: além de cobrar interpreta-ção pura e simples, o Enem exigiria aaplicação de conhecimentos prévios doEnsino Médio a elas. Seria como umamescla entre os processos seletivos dasuniversidades e o Enem. Com isso,Haddad espera que haja melhoras no en-sino básico, priorizando o raciocínio e aformação crítica à decoreba de concei-tos, e que os vestibulandos possam pres-tar o vestibular para cursos longe de seuestado natal sem a necessidade de se des-locar para fazer a prova - considerada umadas limitações, segundo os vestibulandos,seja por questão de tempo ou de custo.

A USP, através da Fundação Univer-sitária para o Vestibular (Fuvest) tambémpretende alterar seu modelo de seleção:a começar este ano ou no ano que vem, aprova cobraria, na segunda fase, todas

as matérias (Português, Matemática,Fisica, Química, Biologia, História, Geo-grafia e Interdisciplinares) para todas ascarreiras, divididas em três blocos, e apontuação obtida na primeira fase teriavalor eliminatório (isto é, não contaria paraa nota final, apenas seria usada para apro-var os candidatos para a segunda fase),nivelando os candidatos para a fasedissertativa. Corre também o boato de que,em alguns anos, a Fuvest, a Unesp e aComvest (responsável pelo vestibular daUnicamp) unificariam a primeira fase, re-tomando uma idéia surgida em 2004. A jus-tificativa para estas medidas, mais umavez, é adequar o Ensino Médio às exigên-cias da universidade, mais reflexiva e crí-tica e menos "decoreba" ou conceitual.

No entanto, existe grande divergên-cia quanto à influência que estas altera-ções podem provocar no Ensino Médio. Damesma forma que as cotas raciais/ soci-ais (outro tema bastante polêmico e queestá novamente em voga), muitos acredi-tam que estas medidas, na prática, evi-tam tocar em um assunto extremamentedelicado para o Estado: a melhoria das con-dições educacionais desde a sua base, oque impede o ingresso de mais pessoascom renda insuficiente para pagar um cur-sinho ou uma universidade particular. Ape-sar de as várias medidas governamentais,de início, aumentarem o ingresso destaspessoas, elas servem apenas como méto-do paliativo, sem melhorar de fato as con-dições educacionais e sem criar uma basede conhecimentos sólida para aqueles queingressam no Ensino Superior, prejudican-do sua formação e, por conseguinte, seuingresso no mercado de trabalho.

Uma das tentativas não-governamen-tais de capacitar os alunos de escola públi-ca a ingressar numa faculdade pública sãoos cursinhos comunitários, iniciativa deindivíduos compadecidos das injustiçassócio-educacionais do país. Alunos da USPfazem parte desse grupo, tendo criado al-guns cursinhos, como o cursinho da Psico,o cursinho do Onze, o cursinho da Poli, ocursinho da FEA e o cursinho do CRUSP. AFMUSP não fica de fora: em 2002, alunosda faculdade criaram o cursinhoMedEnsina, com o apoio do Prof. Dr. PauloSaldiva e do Curso Objetivo, que forneceo material didático. Um vasto grupo de plan-tonistas e professores, todos alunos daFMUSP, passam aos 180 alunos do cursi-nho - selecionados por uma prova de co-

nhecimentos gerais e uma avaliaçãosocioeconômica - o conteúdo do EnsinoMédio, a fim de ajudá-los a atingir seusobjetivos e realizar o sonho da universi-dade. Os resultados do esforço e empe-nho de nossos alunos podem ser observa-dos no resultado dos vestibulares: foram36 aprovações nos principais vestibulares(como FUVEST, UNIFESP, UNICAMP, UNESP),sendo 15 na USP. Além das aulas de segun-da a sexta, das 18h45 às 23h, o cursinhotambém oferece aos seus alunos os plan-tões de dúvidas, que ocorrem às terças,quartas e quintas, das 18h às 18h45min,reforços às segundas e sextas, no mesmohorário, e atividades especiais aos sába-dos (filmes, simulados, aulas extras de re-forço, aulas sobre livros, etc.).

Entre os aprovados deste ano de 2009está a aluna Renata Cordeiro dos Santos,que fez escola pública e cursinho comuni-tário na Fundação Instituto de Adminis-tração e no MedEnsina. Ela prestou naUNIFESP o curso de História da Arte e, emoutras universidades públicas, CiênciasSociais, e passou na UNIFESP esse ano. Aentrevista segue abaixo:

O que você pensa sobre o ensinomédio que fez?

Eu fiz colégio público e terminei em2007. Acho que a qualidade não era boa,porque quando entrei no cursinho percebique várias coisas não haviam sido menci-onadas no colégio e outras que ensinaramerrado. No cursinho, percebi que tinhaperdido 11 anos da minha vida não apren-dendo o que deveria. Foi só no cursinhoque acordei pra vida.

Qual a sua impressão sobre o cursoMedEnsina? Você acha que existe muitadiscrepância no ensino por ser minis-trado por não profissionais?

Acho que o cursinho comunitáriotem um diferencial que é a grande boavontade dos professores, que realmen-te querem te ajudar e fazer com quevocê aprenda. Em colégio público émuito comum ver professores que so-mente estão lá para cumprir horário eesperar a aposentadoria.

É às vezes até melhor ter professo-res que na verdade são alunos universitá-rios pelo fato de terem acabado de passarpelo vestibular e saberem exatamente oque é preciso para conseguir alcançar umauniversidade boa. Além disso, todos os pro-

fessores se empenham bastante, prepa-ram bem as aulas e a grande maioria gos-ta do projeto e domina bem a matéria.

O que você acha que existe de po-sitivo e negativo no curso MedEnsina?

Algo positivo é essa vontade imen-sa dos professores em ensinar e a preo-cupação que cada um tem em dar umaaula boa, que valha a pena.

Algo negativo é o fato de ter um ma-terial muito resumido, é necessário seaprofundar mais na matéria não apenascom o material de apostila de cursinho.

Qual a parte que você acha maisimportante para entrar no vestibular: oaluno, o material ou os professores?

É fundamental o aluno ter dedicação,com certeza. Se o aluno não quer saber deestudar, não adianta ter mais nada. Maspara ter algo completo, é necessário todoo conjunto. O aluno precisa ter dedicaçãonão só para estudar, mas para buscar omaterial que precisa. Os professores já éalgo mais incerto; é importante, mas nãotem como controlar que tipo de professorvocê vai ter.

O que você acha da reforma do ves-tibular? Você acha que a reforma do ves-tibular pode interferir de maneira sig-nificativa no ensino médio?

Não concordo com as mudanças quea FUVEST quer fazer, é bom ter todas asmatérias na primeira fase, mas tudo nasegunda, não acho que seja bom. Ape-sar da USP querer alunos mais comple-tos, é desnecessário a um aluno de hu-manas, por exemplo, fazer uma provade exatas que não irá mudar em nadasua vida profissional. Existem colégiosque não se preocupam com o vestibular.A escola precisa orientar os alunos parao ingresso na faculdade, com a realiza-ção de palestras, por exemplo.

Se você pudesse mudar algo no en-sino público, o que você mudaria?

Acho que é necessária uma reformacompleta no ensino, muita coisa precisaser renovada e começar tudo do zero, prin-cipalmente quanto aos professores. Exis-te muito comodismo por parte deles. Paraeles se preocuparem mais com o modo quepassam a matéria seria necessárioestimulá-los e estabelecer mais regras.Eles precisam ensinar de verdade e incen-

Mudanças no Vestibular

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São Paulo, Abril de 200911

A partir de 2009, o Exame Nacional doEnsino Médio (Enem), elaborado pelo

Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pes-quisas Educacionais Anísio Teixeira), teráuma cara nova: será "ampliado e apri-morado" para 200 testes a serem resol-vidos em dois dias, incluindo redação.Além disso, deixará de avaliar apenas ashabilidades, mas também cobrará o con-teúdo escolar. A prova passará a ser nomês de outubro e não mais em agosto.

A maior novidade é que poderá seradotado como um vestibular unificadopelas universidades federais. A propostafoi feita pelo ministério da Educação eestá sendo discutida em Brasília entre osreitores destas instituições. Até o fim deabril estes deverão levar ao MEC umaposição definitiva.

A universidade poderá optar poradotar o Enem como uma prova únicade seleção, mas também poderá apli-car uma prova prática, no caso de ar-quitetura ou design, ou uma segundafase além do Exame Nacional. Aquelaque já adota o modelo de avaliação se-riada não fica impedida de reservar al-gumas vagas para a outra forma de se-leção. Podem ainda ser atribuídos pe-sos diferentes para cada parte da pro-va de acordo com a área do curso.

No caso das instituições que adota-rem a prova do Inep como prova única deseleção (Sistema de Seleção Unificada),o sistema de vagas terá um funcionamen-to peculiar. Segundo o Ministro da Educa-ção, Fernando Haddad: "Na prática, oestudante concorre a todas as vagas dasuniversidades federais. A partir do mo-mento que ele percebe que suas chancessão menores em um curso específico, ele

Novo EnemFim do Vestibular tradicional

Carolina Rocha, Priscilla Fiorelli e

Vítor Ribeiro Paes são acadêmicos

da FMUSP e membros da Diretoria

MedEnsina 2009

tivar os alunos a seguir um exemplo.

Gostaria de mandar uma mensagempara os vestibulandos ou o cursoMedEnsina?

Sim. Para os vestibulandos eu digo:É possível! Não desanimem, quando vocêacredita em algo, acontece, sejam for-tes que vocês podem fazer dar certo. Seexiste algo que se quer muito, é neces-sário correr atrás. Passei agora no ves-tibular e vejo que, para uma conquistaque se quer muito, tudo vale a pena.Parao MedEnsina eu quero dizer que criei afe-

to por muitos de vocês, as pessoas sãomuito legais e acho incrível essa força eo interesse em ajudar aqueles que nãopodem pagar um cursinho ou um ensinode boa qualidade. Ainda bem que exis-tem pessoas como vocês, para mudarum pouco a vida de alguns.

A equipe do cursinho MedEnsina nãoé composta por profissionais, entretanto,todos tem uma motivação muito forte quefaz com que cada um dedique-se ao máxi-mo para melhorar a cada dia. Todos parti-cipam, elaborando e corrigindo simulados,

preparando apostilas com exercícios ex-tras, realizando atividades lúdicas que vi-sam o entretenimento e o enriquecimentocultural dos alunos. Os organizadores sepreocupam com o andamento do projeto,buscando sempre o melhor para os alunose procurando acompanhar as mudanças nosvestibulares. A que está ocorrendo agorapreocupa bastante, e por isso o grupo estátrabalhando para que os alunos não fiquempara trás e possam ter a oportunidade deum estudo melhor.

A Renata é uma das pessoas que con-seguiram, através da ajuda de cursinhos

pode migrar".Assim, a partir da divulgação dos

resultados, o candidato se inscreve pelainternet num sistema semelhante ao doProUni (Programa Universidade para To-dos) e escolhe cinco opções de cursos dequaisquer instituições federais que elequiser. Por meio desse sistema, ovestibulando poderá monitorar diaria-mente a concorrência do curso em queestá inscrito e poderá trocá-lo como de-sejar. O ministro enfatiza: "O processoseletivo que propomos é dinâmico".

Para o Vestibular 2010, as datasjá foram estabelecidas: a prova serános dias 3 e 4 de outubro de 2009 e osresultados da prova objetiva e da re-dação serão divulgados, respectiva-mente, em 2 de dezembro de 2009 e 8de janeiro de 2010.

A parte objetiva será dividida emquatro partes com 50 testes cada uma:linguagens, códigos e suas tecnologias;ciências humanas e suas tecnologias;ciências naturais e suas tecnologias; ematemática e suas tecnologias. E ain-da está se discutindo se será aplicadauma nova tecnologia de prova, desen-volvida nos anos 1950, que garante quedois estudantes possam fazer provas di-ferentes, com perguntas distintas, semperder a legitimidade do exame. O pre-sidente do Inep, Reynaldo Fernandes, éum entusiasta desta técnica. Segundoele, "é uma mudança de um modeloclássico, para outro mais sofisticado. Émais difícil para as pessoas compreen-derem, mas elas se acostumam".

Outra questão de interesse é refe-rente à mobilidade dos estudantes de di-ferentes estados. De acordo com o Pnad2007 (Pesquisa Nacional por Amostra deDomicílios), apenas 0,04% de todos os

VESTIBULAR

Flavio Mitio Takahagui (96)

Flavio Mitio Takahagui é acadêmico

da FMUSP

comunitários, conquistar o sonho de mui-tos e realidade de poucos: entrar em umauniversidade pública e qualificada, alémde conseguir aprimorar a sua educação. Amudança que os vestibulares estão pla-nejando pode ou não melhorar a condiçãodos vestibulandos, mas para que a mu-dança seja efetiva, muito ainda precisaser feito na base da educação do Brasil.

universitários do primeiro ano residemno estado onde estudam há menos de umano, enquanto que nos Estados Unidosquase chega a 20%. Quanto a isso, o Bra-sil tem interesse em aumentar essa cul-tura no país e o Ministério da Educaçãoafirma que poderá aumentar as verbaspara assistência acadêmica das universi-dades, para que esses estudantes pos-sam se manter durante o tempo em queestiverem estudando.

O Enem continuará podendo ser uti-lizado pelas instituições estaduais e par-ticulares da maneira como elas quiserem.

REFORMA DO ENSINO MÉDIO

Sem dúvidas, esse novo modelo,que mantém a flexibilidade do Enem,favorece a discussão sobre areestruturação do ensino médio e o fimdo vestibular tradicional.

A presidente do Consed (ConselhoNacional de Secretários de Educação),Maria Auxiliadora Seabra, afirma que oprograma do ensino médio é completa-mente subordinado aos vestibulares, oque dificulta a concretização das mudan-ças já pensadas para o segundo grau.

O ministro da Educação espera queo novo Enem represente o fim do vesti-bular tradicional e adiciona: "Será umaprova que combina as virtudes do Enemcom as virtudes do vestibular, criandoum novo conceito".

HISTÓRICO

Iniciado em 1998, o Enem tinha comoobjetivo democratizar o acesso ao ensi-no superior por meio da utilização, deforma complementar, dos seus resultadosnos processos seletivos, ou seja, garan-

tindo alguns pontos a mais na nota final.Além disso, os alunos do sistema públicode ensino têm isenção de pagamento nataxa de inscrição.

Com o modesto número de 157,2mil inscritos passou a alcançar a marcahistórica de três milhões de inscritos em2004, quando foi instituído o ProgramaUniversidade para Todos (ProUni) peloMinistério da Educação. Representou apopularização definitiva do Enem ao con-ceder bolsas em universidades particu-lares de acordo com a nota obtida noExame Nacional. Com o status de vesti-bular unificado para as universidadesfederais, esperam-se mais de quatromilhões de inscritos.

Por meio de suas 63 questões, oEnem sempre se gabou por ser uma pro-va interdisciplinar que dá ênfase à ca-pacidade crítica e analítica e não ape-nas de assimilação e acúmulo de infor-mações. Propôs selecionar os candida-tos de acordo com as famosas compe-tências e habilidades.

Hoje, já são mais de 600 univer-sidades públicas e particulares cadas-tradas no Inep para utilizar os resulta-dos do Exame Nacional em seus pro-cessos seletivos, seja de forma com-plementar ou substitutiva. Muitas de-las já substituíram ou estudam substi-tuir o vestibular pelo Enem.

Completados seus dez anos, o Exa-me Nacional do Ensino Médio se mostroubastante flexível para facilitar a reorga-nização e reforma do currículo do ensinomédio. Além disso, foi um dos maioresresponsáveis pela inclusão social nas uni-versidades durante este período.

O ministro da Educação espera que o novo Enem represente o fim do vestibu-lar tradicional e adiciona: "Será uma prova que combina as virtudes do Enem

com as virtudes do vestibular, criando um novo conceito".

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São Paulo, Abril de 200912

USP 75 anos

UNIVERSIDADE

A Universidade de São Paulo (USP)é sinônimo, em muitos locais do

mundo, de qualidade e progresso ci-entífico-tecnológico, sendo conside-rada por muitos estudiosos estran-geiros como a melhor universidadeda América Latina. Neste ano, a USPcoroa seu sucesso com seu jubileude diamante, uma data comemora-da no dia 25 de janeiro deste ano.

A idéia de criar uma universi-dade do Estado de São Paulo sempreexistiu, mas ganhou mais força apósa Revolução Constitucionalista de1932 contra o governo provisório deGetúlio Vargas, que tornou evidentea falta de uma sustentação "intelec-tual e científica" para os interessesda elite paulista. Ao mesmo tempo,tendo em vista a perda da liderançapolítica, São Paulo desejava assumira liderança intelectual do Brasil. OEstado já reunia escolas de grandeprestígio à época, como a Faculda-de de Direito do Largo São Francis-co, a Escola Politécnica e a própriaFaculdade de Medicina e Cirurgia,que recentemente saíra da SantaCasa de Misericórdia para o edifí-c io da Avenida Dr. Arnaldo,construído graças ao financiamen-to da Fundação Rockfeller, e váriaspersonalidades influentes como ojornalista Júlio de Mesquita Filho.Entretanto, ainda faltava uma es-cola que sediasse várias carreirasde caráter interdisciplinar, como aFilosofia, a Matemática e a Biolo-gia, e um político que desse totalapoio a este projeto.

Este político foi o interventor deSão Paulo, Armando Salles de Olivei-ra (sua estátua na entrada da Cida-de Universitária não é mera coinci-dência), que tornou possível a cria-ção, pelo decreto 6283 de 25 de ja-neiro (data da fundação da cidadede São Paulo) de 1934, da Universi-dade de São Paulo, que congregou,além das Faculdades de Medicina e

Vítor Ribeiro Paes (95) Direito e da Escola Politécnica, aEscola Superior de Agricultura Luizde Queiroz, a Escola de Farmácia eOdontologia (que se desmembrou,futuramente, nas Faculdades deOdontologia e de Ciências Farmacêu-ticas), a Faculdade de Medicina Ve-terinária, o Instituto de CiênciasEconômicas e Comerciais (futuraFEA), o Museu Paulista, o InstitutoButantã, o Instituto de Educação e oInstituto de Pesquisas Tecnológicas(IPT). Naquele ano, também foi cri-ada a Faculdade de Filosofia, Letrase Ciências (FFLC), que congregavavárias áreas do conhecimento e erao elemento de união das várias uni-dades da recém-criada Universida-de. Nos próximos anos, várias uni-dades foram criadas, e várias facul-dades do estado que se iniciaram àparte acabaram sendo agregadas àUSP, como a Escola de Educação Fí-sica e o Instituto Oceanográfico, eunidades foram criadas, como a Es-cola de Enfermagem e a Faculdadede Filosofia, Ciências e Letras de Ri-beiro Preto (FFCLRP), sendo as "ca-çulas" a Faculdade de EngenhariaQuímica de Lorena (Faenquil), ago-ra Escola de Engenharia de Lorena,e a Escola de Artes, Ciências e Hu-manidades (EACH), vulgarmente de-nominada "USP Leste" e cuja primei-ra turma se formou neste ano. Curi-osamente, a FFLC funcionou inicial-mente no prédio da Faculdade de Me-dicina e sob a direção de um profes-sor da Casa, Antonio de Almeida Pra-do, criando inúmeros atritos entreos estudantes, até que, em 1937, aFFLC foi transferida para a AlamedaGlete e, a partir dos anos 60, para aRua Maria Antonia, reunindo uma sé-rie de professores estrangeiros degrande renome, tais como FernandBraudel, Claude Lévi-Strauss, AdolfoCasais-Monteiro e Roger Bastide.Também foi na FMUSP que foiempossado o primeiro reitor, o Prof.Dr. Reinaldo Porchat, catedrático daFaculdade de Direito da USP.

Desde aquela época, o leitor um

Vítor Ribeiro Paes (95)

é acadêmico da FMUSP

pouco mais atento já deve ter no-tado que as unidades da USP esta-vam espalhadas pela cidade, e queera mister reuni-las em um só lo-cal. Foi com este objetivo que, nosanos 40, uma imensa porção de ter-reno no (longínquo) bairro doButantã foi reservada para a cons-trução da Cidade Universitária, quecongregaria as unidades da USPpresentes na capital do Estado. OIPT foi a primeira instituição a irpara lá, mas o processo de trans-ferência das unidades foi extrema-mente lento, e apenas com a Re-forma Universitária, nos anos 60,foi acelerado.

De acordo com muitos estudi-osos, a Reforma Universitária foiprecipitada pelos protestos e vio-lências entre os estudantes da USPe os de outras instituições contrao regime militar, com destaque es-pecial para o conflito da Rua MariaAntônia entre estudantes da FFLCe do Mackenzie. Com o objetivo dedesarticular o movimento de resis-tência e esvaziá-lo e sob o pretex-to de reforçar a pesquisa e aintegração entre os vários cursos,os departamentos "repetidos" dasvárias instituições foram reunidosem Institutos. Foi neste processoque os cursos de Exatas e Biológi-cas se separaram da FFLC, que setornou, assim, a Faculdade de Fi-losofia, Letras e Ciências Huma-nas (FFLCH). Para a Faculdade deMedicina, sob a ótica dos profes-sores da Casa - em especial o Prof.Dr. Carlos da Silva Lacaz, o princi-pal opositor perante o ConselhoUniversitário -, a reforma foi de-sastrosa por desarticular todo o en-sino básico (primeiro e segundoanos) com a clínica (terceiro equarto anos), forçando a migraçãodos cursos para os recém-criadosInstituto de Química (IQ), Institu-to de Ciências Biomédicas (ICB) eInstituto de Biociências (IB), comprofundas repercussões na qualida-de de vida e de ensino do estudan-

te de Medicina. Por outro lado, a saí-da dos laboratórios de área básica,bem como o de seus catedráticos, dei-xou uma grande quantidade de salase laboratórios vazios, que permitiramposteriormente a instalação dos ses-senta e dois Laboratórios de Investi-gação Médica (LIMs), importantes ba-ses da Pesquisa Básica e Clínica daFaculdade atualmente.

Outra instituição diretamente li-gada à USP é a Fuvest. Resultado daunião de três instituições que reali-zavam o vestibular das unidades daUSP (Cescem para a área de Biológi-cas; Cescea para a área de Huma-nas; Mapofei para a área de Exatas)em 1976, ela aplicou o conceito de"questão de múltipla escolha", cria-da pelo Prof. Dr. Walter Lessa na Uni-versidade Federal de São Paulo nosanos 40, e criou grandes esquemasde prova. Por suas mãos, já passa-ram as avaliações de várias Univer-sidades - Unicamp, Unesp, Unifesp,Santa Casa e Academia da Polícia Mi-litar do Barro Branco - e as provas jápassaram por profundas alterações,sendo a mais recente alvo de profun-das discussões (leia mais em maté-ria específica nesta edição, nas pá-ginas 10 e 11).

Dessa forma, pode-se notar quea USP possui profunda sintonia com ahistória do Estado de São Paulo e doBrasil, e que a própria história daFMUSP e de seu ensino também estáprofundamente ligadas à história daUniversidade. Este fato fortalece ain-da mais a necessidade de os alunosda Casa estarem atentos à política daCidade Universitária, além de expli-car o atual vai-e-vem dos calouros -o que os impede, muitas vezes, dedesfrutar das atividades que a Facul-dade de Medicina oferece, muitas dasquais vitais para o bom desenvolvi-mento da prática médica.

A Universidade e seus dilemasem data comemorativa

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São Paulo, Abril de 200913

EVENTOS

Esse é o tema do EREM 2009 - Encontro Regional dos Estudantes de

Medicina - que ocorrerá nos dias 29,30 e 31 de maio na FAMERP - Facul-dade de Medicina de São José do RioPreto. O evento, de caráter anual, éorganizado pela DENEM (DiretoriaExecutiva Nacional dos Estudantes deMedicina) em conjunto com o CentroAcadêmico que deseja sediá-lo. Esseano coube ao CAEZ a responsabilida-de de sediá-lo e organizá-lo, junta-mente com a Regional Sul -2.

O EREM ocorre em todas as 8regionais do país, e serve como por-ta de entrada do estudante para co-nhecer o mundo do Movimento Estu-dantil. É nesse espaço que o acadê-mico da medicina poderá aprendersobre os assuntos que a nossa exe-cutiva discute, além das nossas ban-deiras de luta, princípios e afins.Além disso, ele serve como espaçopara o aluno capacitar-se para ir aosgrandes fóruns deliberativos daDENEM (ECEM, COBREM, etc.). OEREM da Regional Sul - 2 abrangetodas as escolas médicas dos esta-dos de São Paulo e Paraná. É o fórummáximo deliberativo da regional,onde todos os estudantes escritos noencontro e pertencentes à regionaltem direito a voz e voto.

Esse ano, o EREM vai tomarcomo base a função da profissãomédica na nossa regional. Espaçoscomo oficinas, grupos de discussão,mesas e outros estão focados no co-

Medicina para que(m)?tidiano médico e em como a forma-ção acadêmica deve ser para que ummelhor médico seja formado. Paratanto, teremos atividades como dis-cussões sobre o Exame do CREMESP,a situação das faculdades pagas, apesquisa acadêmica, os Hospitais deEnsino, a reforma curricular, o inter-nato, o acesso e permanência na ins-tituição de ensino, entre outras.

Além disso, nós do CAEZ, jáestamos com uma programação cul-tural muito boa, incluindo 2 festas:uma na sexta e outra no sábado, que,com certeza, serão animadíssimas eprometem muito. A festa do sábado éuma das mais tradicionais da FAMERP,promovida pelo CAEZ todos os anos,chamada 50 cent's, na qual toda be-bida é vendida a 50 centavos. Todaparte organizacional já está acerta-da, como alojamentos, salas de aula,alimentação e material de mídia.

Vale lembrar que o EREM desse anoestá sendo montado no intuito de serpalpável a todos os estudantes, com te-mas polêmicos em nossa regional comos quais nos deparamos no dia a dia,seja em nossa instituição, em hospi-tais ou em outras instâncias de saúde.Então pessoal, é isso. Esperamos vocêsno final de maio em Rio Preto para dis-cutirmos, trocarmos idéias e experiên-cias e nos divertirmos muito duranteesses 3 dias de palestras. Até lá!

Pedro Campana é acadêmico da

Faculdade de Medicina de São José

do Rio Preto (FAMERP) e membro da

diretoria do Centro Acadêmico

Euryclides Zerbini (CAEZ) 2009

O nariz de palhaço e os cabelos coloridos de Patch Adams não negam:

o médico norte-americano, imortalizadona figura de Robin Williams no filme"Patch Adams - O amor é contagioso", éa personificação da alegria capaz detransformar um quarto de hospital empicadeiro. Sua mundialmente conhecidatrajetória inspira a muitos e emociona atodos. Nos dias 5 e 6 de maio, PatchAdams encantará platéias em apresen-tações e workshops inéditos a serem re-alizados em São Paulo.

Hunter "Patch" Adams revolucionoua forma de atendimento médico antesconhecida. Propôs uma forma única deintegração entre a alegria, o amor e acriatividade dentro da prática da boamedicina, muitas vezes tão fria e impes-soal, tornando-se ícone na luta pelahumanização das práticas em saúde. Suasidéias foram inspiração para inúmerasmudanças no modo de entender saúde,entre as quais a introdução de palhaçosem hospitais por todo o mundo. Esta prá-tica é reconhecidamente eficaz no alíviodo sofrimento de indivíduos doentes, emespecial de crianças e idosos.

Uma de suas notáveis realizações foia fundação do Instituto Gesundheitl! (ex-pressão alemã que significa "Saúde!" ou"Boa saúde!" dita para alguém que acabade espirrar) em 1972. Localizado no es-tado americano de West Virginia, desdesua criação atendeu gratuitamente a mi-

lhares de pessoas e propõe revolucionaros métodos de cuidado à saúde atravésda substituição do que este entende porganância e competição por generosidadee compaixão. A missão do Instituto é in-tegrar o tradicional cuidado hospitalar emedicina alternativa (acupuntura,homeopatia) com artes cênicas, artesa-nato, agricultura e recreação.

O Instituto promove atualmente di-versos cursos voltados para ahumanização do atendimento em saúdee seus participantes vêm de todas as par-tes do mundo para aprender com Patch.Há também as viagens de "clowning", quelevam grupos de palhaços constituídos poratores e profissionais da saúde para re-giões de extrema pobreza por todo omundo, como orfanatos, zonas de guer-ra e campos de refugiados. Ações comoestas têm sua importância não só na re-percussão local como também na divul-gação das idéias e metodologias de aten-dimento de Patch Adams e do Instituto.

O Instituto Gesundheitl! tem comofonte de renda a venda dos livros e fil-mes de Patch, assim como o dinheiro ar-recadado em palestras e eventos. O ob-jetivo do Instituto é tornar-se um hospi-tal gratuito, de período integral, disponí-vel a qualquer um que dele necessitar.Talvez soe como idealismo para muitos,porém muitas das realizações de Patchjá foram um dia consideradas utópicas.

Caroline Gracia Plena Sol

Colacique (96)

Caroline Gracia Plena Sol Colacique

é acadêmica da FMUSP e membro da

diretoria CAOC 2009

Os preços variam de acordo com a data de sua inscrição. Veja e faça online:

http://www.copatch. com/

Pedro Campana

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São Paulo, Abril de 200914

VIDA ACADÊMICA

Eis um problema comum: todos jádevem ter se deparado com dificul-

dades na orientação de pacientes quantoa hábitos (alimentares, de postura, víci-os, sedentarismo), que já estão instala-dos ou que se pretende evitar, pois mes-mo que saibamos muito bem o que devaser aconselhado, problemas na compre-ensão e principalmente na aderência dospacientes às prescrições são freqüentese complicantes, merecendo atenção es-pecial. Medidas facilitadoras desse pro-cesso dariam um suporte imenso. Assim,unir essas pessoas para que nós, em gru-po, possamos passar as informações deuma forma mais efetiva, seriam úteis.

E é essa a intenção das atividadesrecentemente implantadas no EMA - ati-vidades de promoção à saúde e preven-ção primária com pacientes e não-pacien-tes das localidades de atendimento -intituladas por nós de "dinâmicas" pelo seucaráter, em que se pretende chamar aspessoas participantes a interagir e se di-vertir. Com isso pretende-se construir umconhecimento em grupo com linguagem

Novidade no EMA!Atividades educativas buscam promover a saúde eprevenir doenças

simples e voltada para o dia a dia, facili-tando a adesão à condutas médicas demaneira muito mais sólida devido à parti-cipação dos pacientes e à identificação realde situações vividas pelos mesmos. Des-se modo foge-se do modelo acadêmicomuitas vezes cansativo de aulasexpositivas e palestras, partindo-se paraum modelo mais aberto - que possibilitatroca de conhecimentos e experiências deseus participantes - que acreditamos sermais adequado e efetivo dentro de nos-sas finalidades, além de permitir maiscriatividade e variedade, uma vez que ascaracterísticas acima expostas se enqua-dram nas mais diversas atividades.

As dinâmicas ocorreriam paralela-mente aos atendimentos, sem prejudicá-los, ocorrendo em salas à parte, nos lo-cais, dias e horários de atendimento.Seriam realizadas por grupos compostospor, em princípio, três membros do cursode Medicina (tanto do SASP quanto doJulita) e dois do curso de Fisioterapia,promovendo assim uma maior integraçãoentre os membros do projeto. A mesmaapresentação seria feita duas vezes, umaem cada localidade de atendimento, com

um mês de diferença (sendo a primeirano Julita), integrando e permitindo o co-nhecimento do local em que não se aten-de. Cada equipe tem total liberdade dedesenvolver o tema como preferir, sem-pre contando com o apoio do nosso De-partamento de Didática, responsável for-mal pelas atividades. Os grupos podemser formados por quaisquer membros doEMA, inclusive calouros, não sendo ne-cessários grandes conhecimentos.

Esse empreendimento é uma exten-são do projeto como um todo, sendo umimportante desenvolvimento do espíritode assistência à comunidade e do apren-dizado próprio que sustentam o projeto eque devem estar presentes na atividademédica e fisioterápica. Para a realizaçãodas atividades é necessário apenas ummínimo de dedicação, pois os temas de-vem ser bem estudados e trabalhados,demandando de 2 a 3 reuniões por parteda equipe formada.

Os temas definidos para o primeirosemestre, escolhidos com base na expe-riência epidemiológica do EMA, são: "Pro-moção à saúde" (escolhido como inicialpela sua abrangência), "Hipertensão ar-

Ariel Testasicca Trunkel (96)

Imagine você chegar em casa hoje, depois de um dia de estudo, trabalho ou

qualquer outra atividade rotineira e en-contrar sua casa aberta, as grades dasjanelas estouradas, suas roupas e perten-ces pelo chão. Agradável? Claro que não!

Ninguém gostaria de vivenciar essasituação, afinal, todos gostamos de segu-rança. Mas, infelizmente, foi justamenteisso que aconteceu no final de semana dodia 11 para 12 de Abril na Casa do Estu-dante de Medicina da FMUSP (CEM).

Um ladrão entrou às 22h do sábado,e permaneceu por mais de uma hora nasdependências da CEM, tendo invadido doisquartos e roubado pertences dos morado-res.

Certo, mas como sabemos o horárioexato da invasão? A resposta está regis-trada nas câmeras, que filmam a casa con-tinuamente.

Pois é, talvez todos vejam as câmerasinstaladas nas residências como um fatorque coíbe roubos, e era assim que pensá-vamos também aqui na CEM, mas tal fato

se mostrou insuficiente para garantir a se-gurança na Casa naquela noite de Sába-do.

Às vinte e duas horas, aparece nasfilmagens um rapaz subindo a Rua TeodoroSampaio. Este, ao invés de continuar seucurso para a Rua Dr. Enéas, vira em dire-ção ao portão da CEM.

Daí em diante foi fácil, afinal, o portãojá tem até os frisos, que convidam qual-quer ladrão, até mesmo os desajeitados,a pulá-lo com relativa facilidade. Detalheimportante: ele passou embaixo dafilmadora, e só faltou dar tchau. O rapazsó cruzaria o portão novamente uma horadepois, com objetos roubados dos mora-dores em uma mochila.

Mas como ninguém da CEM viu essevisitante? Afinal, moramos em mais decinqüenta pessoas na casa e, a todo mo-mento espera-se que haja uma alma pararecepcionar essas visitas não muito bemvindas. Como ninguém o viu?

O que aconteceu foi que ninguém sedeparou com o ladrão pois havia poucos

moradores na casa em virtude da maioriater voltado para suas residências familia-res em outras cidades durante a semanade feriado prolongado.

Alguma surpresa no fato de terementrado na Casa do Estudante? Bem, paranós da casa não houve nenhuma surpre-sa, pois diariamente as pessoas entramaqui.. De médicos a camelôs, a passagemé livre para todos. A surpresa foi, na rea-lidade, em nos terem roubado.

Quem é da faculdade e teve a opor-tunidade de conhecer a CEM sabe que nãohá, infelizmente, burocracias que impe-çam a entrada de visitantes. Se você qui-ser vir agora para a casa e entrar aqui,pode vir, não precisa nem ao menos dacompanhia de um dos moradores, é sóentrar.

E você não precisa nem ao menos sedar ao trabalho de pular o portão (mas quetambém não seria nada difícil) para con-seguir penetrar na residência, basta es-perar que algum médico ou funcionário doInstituto da Criança abra gentilmente o

portão lateral ou o portão para carros e odeixem passar. Isso é estranho? Sim, issoé tremendamente estranho. Imagine sóvocê chegar na sua casa e se defrontarcom alguém que você não conhece abrin-do o portão externo: é o que acontece di-ariamente na CEM.

Deixe-nos explicar: nós da Casa doEstudante alugamos o estacionamento quefica no entorno da residência para levan-tarmos uma quantia de dinheiro para aju-dar nas despesas da casa. O locatário é oInstituto da Criança e portanto, quem uti-liza o estacionamento são os médicos eoutros funcionários do ICr. Assim, a todo omomento do dia, há médicos entrando esaindo pelo portão da casa.

Para nós da Casa, portanto, não éestranho que pessoas desconhecidas en-trem pelo portão principal. Ao menos mui-tas utilizam o crachá da faculdade, o quejá é alguma coisa, e faz com que pense-mos que elas são bem intencionadas.

O problema está, no entanto, naque-las pessoas que entram sem crachá, e não

Ariel Testasicca Trunkel (96) é

acadêmico da FMUSP e membro da

diretoria do EMA 2009

terial sistêmica (HAS) na cozinha" (compreparação de alimentos saborosos semo uso do sal), "Diabetes e o pé diabético"e "Saúde da mulher" (que ocorrerá simul-taneamente à campanha do Papanicolau).Os temas posteriores serão definidos combase nos resultados de pesquisas a se-rem feitas após as dinâmicas, para con-sulta de preferências e levantamento dedados relevantes (melhor horário, se sãoou não pacientes do EMA, entre outros)dos participantes.

EMAno, contamos com sua partici-pação! É fácil e divertido! Para maioresinformações, não hesitem em procurarseu coordenador de panela. Divulguempara seus pacientes! As dinâmicas ocor-rem último sábado de todo mês em am-bos os locais de atendimento! Vamos fa-zer disso um sucesso!

Ladrão invade Casa do Estudante!

Não deixem de conferir os

resultados da primeira dinâmica na

próxima edição d'O Bisturi

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São Paulo, Abril de 200915

MEDICINA JR.

são poucas. Para se ter uma idéia, não éincomum pessoas que andam pelaTeodoro entrarem na CEM perguntandose o hospital não é lá, ou camelôs ven-derem objetos ou se esconderem de po-liciais na casa.

Quanto ao roubo do sábado: o ladrãojá havia invadido nossa residência em umaoutra ocasião. Ele entrou no quarto de umaaluna que, assustada com a invasão, foiaveriguar as câmeras internas da casa.Nesse momento ela se confrontou com oinvasor, mas por sorte nada de pior acon-teceu. Mais uma vez as câmeras registra-ram o ocorrido, mas não evitaram o fatoinconveniente.

O roubo ocorrido no dia 11 foi narealidade fruto de uma série de condi-ções facilitadoras para que alguém en-tre em nossa residência. Mas qual é aalternativa?

Parece ser consenso que a soluçãoconsiste em instalar sistemas de vigilân-cia e portaria definitivos, similar ao queocorre atualmente na Casa dos Residen-tes: lá os estudantes e visitantes têm sem-pre que se identificar antes de terem aces-so à residência. Pensamos que seja bas-tante conveniente as pessoas terem demostrar o crachá do HC para terem aces-so à casa, afinal, já estamos acostuma-dos a fazer isso para entrar nas depen-

dências dos hospitais e centros cirúrgicos,e não seria um esforço sem propósito,tendo em vista a segurança do local e dosque ali residem.

Segurança é justamente a ques-tão que nos faz relatar neste jornal oroubo ocorrido: precisamos de vigilan-tes 24 horas por dia presentes nas de-pendências da casa.

Agradecemos antecipadamente nos-sa querida FMUSP e seus médicos por todoo apoio que puderem dar na solução denosso impasse!

Muito obrigado,

Moradores da Casa

do Estudante de Medicina.

P.S.: até o final deste texto es-crito as medidas conquistadas pe-los estudantes da CEM foram de se-gurança noturna diária e de segu-rança 24 horas nos feriados. Espe-ramos que os procedimentos buro-cráticos para contratação dessa vi-gilância não esperem por um bole-tim do IML de algum morador paraque sejam agilizados, já que paraconseguirmos essa segurança atu-al foi necessário ocorrerem roubosna casa, confirmados pelo Boletimde Ocorrência feito na DP.

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São Paulo, Abril de 200916

CAOCTICA

Maurício Menezes

Aben-Athar Ivo (Ivo 96)