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Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 Volume 2 Número 1 julho 2012 1 O ASPECTO SOCIAL EM BAKHTIN E VIGOTSKI Angela Francisca Mendez de Oliveira 1 [email protected] RESUMO: Embora os trabalhos de Vigotski e de Bakhtin se sustentem em diferentes objetivos, suas ideias se entrelaçam em muitos aspectos, dentre eles o de considerar as ações humanas em suas dimensões sociais. A compreensão do homem como um conjunto de relações sociais será, então, o foco deste trabalho que visa travar um diálogo entre as ideias expostas nos conceitos de Bakhtin e de Vigotski. Buscaremos tornar visível a convergência de ideias do aspecto social de ambos e, para tanto, nos respaldaremos em alguns autores que se dedicaram a estudar tais teóricos, dentre eles Carlos Alberto Faraco, Maria T. de Freitas, Augusto Ponzio, entre outros. Palavras-Chave: Bakhtin, Vigotski, social, linguagem. INTRODUÇÃO Embora os trabalhos de Vigotski e de Bakhtin se sustentem em objetivos e campos de investigação científica diferentes - Vigotski na área da psicologia do conhecimento e Bakhtin da filosofia da linguagem -, em ambos os autores podemos observar “a base comum cultural e ideológica de que surgem” seus fundamentos (PONZIO, 2008, p. 71). Segundo pesquisadores da teoria bakhtiniana e vigotskiana, a possibilidade de diálogo entre esses pensadores russos está ligada, além do contexto real existencial, pelo materialismo histórico que está presente como referencial em ambas às teorias, e pela dialética que se constitui em seus métodos de trabalho. No que diz respeito ao contexto existencial, sabemos que ambos estudiosos nasceram na Rússia, desenvolveram suas ideias na União Soviética marxista, em meados da década de 1920, e foram igualmente vítimas de perseguições. Recusaram o comportamentalismo marxista e refutaram “a concepção dos fenômenos psíquicos como estados simplesmente subjetivos(PONZIO, 2008, p.73), entendendo que as especificidades 1 Pesquisador e Mestranda PPGL UniRitter. E-mail: [email protected]

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O ASPECTO SOCIAL EM BAKHTIN E VIGOTSKI

Angela Francisca Mendez de Oliveira1

[email protected]

RESUMO: Embora os trabalhos de Vigotski e de Bakhtin se sustentem em diferentes objetivos, suas

ideias se entrelaçam em muitos aspectos, dentre eles o de considerar as ações humanas em suas

dimensões sociais. A compreensão do homem como um conjunto de relações sociais será, então, o foco

deste trabalho que visa travar um diálogo entre as ideias expostas nos conceitos de Bakhtin e de Vigotski.

Buscaremos tornar visível a convergência de ideias do aspecto social de ambos e, para tanto, nos

respaldaremos em alguns autores que se dedicaram a estudar tais teóricos, dentre eles Carlos Alberto

Faraco, Maria T. de Freitas, Augusto Ponzio, entre outros.

Palavras-Chave: Bakhtin, Vigotski, social, linguagem.

INTRODUÇÃO

Embora os trabalhos de Vigotski e de Bakhtin se sustentem em objetivos e

campos de investigação científica diferentes - Vigotski na área da psicologia do

conhecimento e Bakhtin da filosofia da linguagem -, em ambos os autores podemos

observar “a base comum cultural e ideológica de que surgem” seus fundamentos

(PONZIO, 2008, p. 71). Segundo pesquisadores da teoria bakhtiniana e vigotskiana, a

possibilidade de diálogo entre esses pensadores russos está ligada, além do contexto real

existencial, pelo materialismo histórico que está presente como referencial em ambas às

teorias, e pela dialética que se constitui em seus métodos de trabalho. No que diz

respeito ao contexto existencial, sabemos que ambos estudiosos nasceram na Rússia,

desenvolveram suas ideias na União Soviética marxista, em meados da década de 1920,

e foram igualmente vítimas de perseguições. Recusaram o comportamentalismo

marxista e refutaram “a concepção dos fenômenos psíquicos como estados

simplesmente subjetivos” (PONZIO, 2008, p.73), entendendo que as especificidades

1 Pesquisador e Mestranda PPGL UniRitter. E-mail: [email protected]

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 2 • N úm er o 1 • j u l h o 201 2

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dos fenômenos psíquicos humanos residem na intermediação, e são “produzidos e

empregados dentro de formas sociais concretas” (idem, p. 79).

Vigotski, explica a professora Maria T. de Freitas2, compreende que todo o

fenômeno tem sua história e “deve ser estudado como um processo em movimento e

mudança, buscando-se conhecer sua gênese e transformação” (1995, p.4). Por sua vez,

Bakhtin, segue a autora, compreendendo a realidade como essencialmente contraditória

e em permanente transformação, “propõe uma dialética que, nascendo do diálogo, nele

se prolonga, colocando pessoas e textos num permanente processo dialógico”(idem,

p.5). Adotando, então, a conclusão de Freitas, “Ambos são marxistas que valorizaram a

consciência” (ibdem, p. 158), privilegiando em seus estudos uma perspectiva sócio-

histórica.

Vigotski e Bakhtin consideram, assim, a linguagem como fator fundamental no

processo de conhecimento do mundo e entendem que a constituição dos sujeitos se dá

nas interações sociais. Assim “como Vigotski, Bakhtin se opõe a reduzir a reação verbal

a um fenômeno de caráter unicamente fisiológico, do qual se exclui o elemento

sociológico” (PONZIO, 2008, p.73). Para os ambos o conceito de signo, de linguagem

verbal, ultrapassa a concepção de simples instrumento transmissor de significados. São,

além disso, instrumentos de significação e de manifestação social do organismo. Para

Freitas os dois teóricos “tentaram encontrar a dialética do subjetivo e do objetivo,

mediada pelo fenômeno da linguagem”.

Por isso a linguagem é uma questão central em seus sistemas. [...]

Destacaram aí o valor da palavra e da interação com o outro. Consciência e

pensamento são tecidos com palavras e ideias que se formam na interação,

tendo o outro um papel significativo. [...] Buscaram explicar e compreender,

a partir de uma perspectiva social, os fenômenos intrapsíquicos e linguísticos.

(FREITAS, 1995, p. 158-159)

2 Texto apresentado na mesa redonda: Bakhtin e seus interlocutores, durante o colóquio internacional

Dialogismo: 100 anos de Bakhtin – USP, 1995. Disponível em:

http://www.moodle.ufba.br/file.php/11739/lic/NOS_TEXTOS_DE_BAKHTIN_E_VYGOTSKY.pdf

Acesso em: jan. 2011.

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1 MIKHAIL BAKHTIN – A FILOSOFIA DA LINGUAGEM

1.1 O Contexto histórico existencial

As ideias e proposições do Círculo de Bakhtin já têm consolidado seu lugar na

história dos estudos linguísticos. O conhecido Círculo trata-se de grupo de intelectuais

russos, multidisciplinar - agregava profissionais de diversificadas áreas de estudos, tais

como arte, literatura, filosofia, biologia, linguística, entre outros -, que se reunia

periodicamente entre 1919 e 1929. Proposto por Bakhtin, à época em que se formara em

História e Filologia pela Universidade de São Petersburgo, os participantes do Círculo,

conforme podemos ler em Carlos Alberto Faraco (2009), tinham em comum a paixão

pela filosofia e pelo debate de ideias, que progressivamente levou-os a paixão, também,

pela linguagem.

Sobre a consistência e fundamento das discussões do grupo, Beth Brait3 aponta

que "vale dizer que, antes de refutar qualquer tese, esses pensadores russos delineavam

um panorama das ideias e dos conceitos abordados e, partindo de aspectos pouco

explorados, propunham novas concepções" (2005). Entre esses intelectuais encontram-

se dois importantes companheiros e amigos de Bakhtin, cujos textos provocaram

algumas polêmicas e confusões autorais: o linguísta Valentin Voloshinov (1895-1936) e

o teórico literário Pavel Medvedev (1891-1938). Ao grupo foi atribuído, a posteriori,

por estudiosos de seus trabalhos, o nome de Círculo de Bakhtin por ser o filósofo um

dos integrantes de maior destaque, dado a originalidade e a densidade de suas reflexões.

Bakhtin, segundo prefácio de Todorov à edição francesa de Estética da criação

verbal “é uma das figuras mais fascinantes e enigmáticas da cultura européia de meados

do século XX” (2010, p. 13). Importante filósofo de ideias densas, obra rica e temas

amplos - que abarcam, além da lingüística, a psicanálise, a teologia e a teoria social, a

poética histórica, a axiologia (teoria crítica dos conceitos de valor) e a filosofia -,

Mikhail Mikhailóvitch Bakhtin nasceu em Orel, ao sul de Moscou, em 1895, e

3 Revista Nova Escola disponível em http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/mikhail-

bakhtin-498487.shtml Acesso em: 10 de abril de 2011.

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desenvolveu seu trabalho sob condições extremamente difíceis. Nascido em uma Rússia

instável sob o regime czarista, na juventude fora discriminado pelo governo de Stálin,

viveu à margem do contexto intelectual que o envolvia, sofreu perseguições e exílios

políticos, vida de dificuldades assim resumidas por Tezza4 em resenha à Revista Cult:

[...] atravessou a vida inteira praticamente anônimo - sobrevivendo pelas

frestas do acaso à Revolução Russa, ao exílio no Cazaquistão, aos expurgos

de Stálin, à osteomielite (que lhe obrigou a amputar uma perna), ao silêncio

gélido da cultura oficial do estado soviético, à falta crônica de dinheiro e de

conforto, e, mais que tudo, ao fato de, motivado sempre pela escrita

interminável de seus textos, quase nunca vê-los publicados. (TEZZA, 1998)

Resumidamente podemos dizer que o contexto em que viveu Bakhtin em nada

lhe contribuiu para que desenvolvesse tão magistralmente suas ideias. Após a

Revolução de Outubro5, com o governo de Lenin, os anos foram marcados por uma

intensa atividade cultural - acompanhada de mudanças sociais, econômicas e políticas -

na Rússia, que se tornara marxista. Mais tarde, com o advento do regime stalinista, há

uma subversão da ideologia marxista e o Círculo passa a ser perseguido. Bakhtin,

discriminado por suas ideias e envolvido em acusações incomprovadas, é preso e

condenado a seis anos de exílio no Cazaquistão, acusado “mais por seu vínculo com a

tradição ortodoxa – por sua ligação com a Ressurreição, organização religiosa não

oficial – que por suas posições políticas” (BRAIT, p. 22). Em 1937, é exilado

novamente, desta vez em Saransk e no ano seguinte, devido ao agravamento da

osteomielite sofre a amputação de uma perna. Por essa época defende sua tese de

4 Resenha de Cristóvão Tezza sobre o livro Mikhail Bakhtin, de Katerina Clark e Michael Holquist .

Disponível em http://www.cristovaotezza.com.br/textos/resenhas/p_9805_cult.htm. Acesso em 15 de

maio de 2011.

5 A Revolução de Outubro na Rússia, também conhecida como Revolução Bolchevique ou Revolução

Vermelha, foi a segunda fase da Revolução Russa de 1917. Começou com o golpe de estado, liderado por

Lenin e pelos bolcheviques, contra o governo provisório. Foi a primeira revolução comunista marxista do

século XX e deu o poder aos bolcheviques. A Revolução de Outubro foi seguida pela Guerra Civil Russa

(1918-1922) e pela criação da URSS em 1922. Após a morte de Lenin, em 1924, os comunistas aceitaram

Stalin como a máxima autoridade do marxismo-leninismo, mas as ideias marxista sofreram algumas

subversões.

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doutorado no Instituto Gorki, denominada Cultura popular na idade média e no

renascimento: o contexto de François Rabelais, porém, o título de doutor só lhe é

concedido 20 anos depois. Após a morte de Stalin acaba sendo redescoberto por alguns

estudantes de Moscou. Esses estudantes, admiradores de suas obras, descobrem vários

estudos do autor ainda inéditos, que pouco tempo depois ganharam uma incrível

notoriedade no âmbito acadêmico russo. Suas produções chegaram ao ocidente nos anos

1970 - e, uma década mais tarde, ao Brasil. Mas Bakhtin já havia morrido, em 1975, de

inflamação aguda nos ossos.

1.2 Ideias e conceitos do Círculo de Bakhtin

Na Rússia da década de 1920 tinham destaque as teorias de Karl Marx - o

marxismo - que, ultrapassando suas bases político-sociais, expressou-se também, no

campo das ciências humanas, isto é, “no campo da psicologia, da teoria da literatura, da

filosofia da linguagem, etc.” (PONZIO, 2008, p.71). Bakhtin e o Círculo, explica

Ponzio, partem da “carência do marxismo no que se refere ao estudo da consciência, da

linguagem e da formação de ideologias concretas” (idem) para fundamentar suas

teorias. Observaram, negando-se a “reduzir a reação verbal a um fenômeno de caráter

unicamente fisiológico, do qual se exclui o elemento sociológico” (ibdem, p. 73), que a

língua sofria influências do contexto social, da ideologia dominante e da luta de classes.

Por isso entenderam que a linguagem era ao mesmo tempo produto e produtora de

ideologias.

O que diferencia Bakhtin dos outros filósofos que se ativeram a estudos

semelhantes no cerne da linguagem é ter colocado, em sua filosofia da linguagem, a

dinâmica social da prática observável da linguagem como força especificadora que

estrutura as relações interpessoais. O que o distingue, em outras palavras, é sua ênfase

na linguagem como prática tanto cognitiva quanto social, aspectos esses que lhe

permitem compreender e explicar os complexos fatores que tornam possível o diálogo

que abrange, simultaneamente, as diferenças.

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Para Bakhtin, o social é uma “construção historicamente especificada em relação

às diferentes formas de produção material e, portanto, da organização cultural, e

diversificada com relação à divisão do trabalho” (PONZIO, 2008, p. 110). Em sua

filosofia da linguagem, compreendida, então, a partir de uma concepção histórica e

social, Bakhtin diz que a compreensão dos signos dá-se em ligação com a situação, o

contexto em que ele toma forma e esse contexto, essa situação é sempre social. O signo

ideológico na constituição do sujeito, afirma Bakhtin, parte do exterior para o interior,

ou seja, do “social para o individual”, e a palavra nada mais é do que “produto de

interação viva das forças sociais”. Na construção de sua filosofia da linguagem, o autor

passa a valorizar a fala – “a enunciação” -, deixada de lado por Saussure. Opera este o

resgate do sujeito nos estudos linguísticos, pensando as relações da linguagem como um

todo, vista do ponto de vista da interação humana. Os conceitos de Bakhtin se

contrapõem à concepção de língua como sistema sem sujeito, pois é preciso “considerar

que o organismo humano não pertence a um meio natural abstrato, mas faz parte

integrante de um meio social específico” (BAKHTIN, 1990, p.53).

A língua, na concepção do Círculo, é a “realidade material específica da criação

ideológica” (idem, p. 25). Na visão do filósofo, a ideologia é algo intrínseco ao

semiótico, pois “o domínio do ideológico coincide com o domínio dos signos: são

mutuamente correspondentes. Ali onde o signo se encontra, encontra-se também o

ideológico. Tudo que é ideológico possui um valor semiótico” (ibdem, p. 32).

A ideologia para o Círculo de Bakhtin, conforme explica Faraco, comporta

várias esferas ideológicas, que identificam áreas da produção intelectual humana,

ideologia “é o nome que o Círculo costuma dar, então, para o universo que engloba a

arte, a ciência, a filosofia, o direito, a religião, a ética, a política, ou seja, todas as

manifestações superestruturais” (2010, p.46). Para o Círculo, então, todo e qualquer

enunciado se dá na esfera de uma das ideologias, ou seja, no interior de uma das

atividades humanas. Faraco apresenta a seguinte definição de ideologia:

Algumas vezes, o adjetivo ideológico aparece como equivalente a axiológico.

Aqui é importante lembrar que, para o Círculo [de Bakhtin], a significação

dos enunciados tem sempre uma dimensão avaliativa, expressa sempre um

posicionamento social valorativo. Desse modo, qualquer enunciado é, na

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concepção do Círculo, sempre ideológico – para eles, não existe enunciado

não ideológico. E ideológico em dois sentidos: qualquer enunciado se dá na

esfera de uma das ideologias (i.e., no interior de uma das áreas da atividade

intelectual humana) e expressa sempre uma posição avaliativa (i.e., não há

enunciado neutro; a própria retórica da neutralidade é também uma posição

axiológica). (FARACO, 2010, p. 47)

Tudo que é ideológico possui um significado e é, portanto, um signo, conclusão

que se reflete na afirmativa de Bakhtin que diz que sem signo não existe ideologia,

firmando com isso que o universo da criação ideológica é de natureza semiótica. A

ideologia, uma vez que é constituída pelo semiótico, é inerente à consciência, “Meu

pensamento, desde a origem, pertence ao sistema ideológico e é subordinado às suas

leis” (BAKHTIN, apud SOUZA, 1994, p. 114). Bakhtin acredita que os signos foram

criados nas relações interindividuais, portanto, são carregados de valores conferidos por

diferentes interlocutores. Com isso conclui que a consciência, além de ideológica, é

social.

A separação da língua de seu conteúdo ideológico constitui um dos erros

mais grosseiros do objetivismo abstrato. Assim, a língua, para a consciência

dos indivíduos que a falam, de maneira alguma se apresenta como um

sistema de formas normativas. O sistema linguístico tal como é constituído

pelo objetivismo abstrato não é diretamente acessível à consciência do sujeito

falante, definido por sua prática viva de comunicação social (BAKHTIN,

1990, p. 96).

A lógica das relações dialógicas do Círculo de Bakhtin está intrinsecamente

ligada às múltiplas relações e interações socioideológicas, em que o sujeito “vai-se

constituindo discursivamente, assimilando vozes sociais”. O mundo interior é então

“uma arena povoada de vozes sociais em suas múltiplas relações de consonância e

dissonancias” (FARACO, 2010, p. 84). Sendo o sujeito um ser social, imerso em uma

determinada cultura, logo todo enunciado expressa consigo o posicionamento do

sujeito, com o que, para o Círculo “não há enunciado neutro”, mas há, podemos inferir,

discursos reproduzidos inconscientemente.

Nossos enunciados emergem – como respostas ativas que são no diálogo

social – da multidão das vozes interiorizadas. Eles são, assim, heterogêneos.

Desse ponto de vista, nossos enunciados são sempre discurso citado, embora

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nem sempre percebidos como tal, já que são tantas as vozes incorporadas que

muitas delas são ativas em nós sem que percebamos sua alteridade (na figura

bakhtiniana, são palavras que perderam as aspas). (FARACO, 2010, p. 85).

2 LIEV VIGOTSKI – PSICOLOGIA DO CONHECIMENTO

2.1 O Contexto histórico existencial

Vigotski é o grande fundador da escola soviética de psicologia histórico-cultural,

e é a ele que recorrem os psicólogos e estudiosos “ao examinarem o modo pelo qual o

homem luta, livre do domínio do condicionamento estímulo-resposta” (BRUNER, apud

VIGOTSKI, 2008, p. 13). Jerome Bruner, na introdução de Pensamento e Linguagem

(1961 - 2008), afirma que “sob a perspectiva ideológica marxista, Vigotski tornou-se

conhecido como o homem que percebeu a determinação histórica da consciência e do

intelecto humanos”. Construiu a sua teoria tendo por base o desenvolvimento do

indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da

linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento. Foi leitor e estudioso assíduo e

profícuo no campo da Linguística, Ciências Sociais, Psicologia, Filosofia, História e das

Artes.

Homem de inteligencia impar e trabalho ávido, Lev Semenovich Vygotsky,

nasceu em Orsha, cidade da Bielorrússia , em 17 de novembro de 1896. Formou-se em

Direito em 1917 pela Universidade de Moscou, quando simultaneamente estudava

Literatura e História na Universidade Popular de Shanyavskii. Nascido sob o regime

czarista, na juventude viveu a Revolução Russa de 1917, estudou Marx e Engels e, a

partir do materialismo histórico propôs a reorganização da Psicologia, antevendo a

tendência de unificação das Ciências Humanas no que denominou como "psicologia

cultural-histórica". Assim, o seu interesse pela Psicologia levou-o a uma leitura crítica

de toda produção teórica de sua época, tais como a Gestalt, a Psicanálise e o

Behaviorismo, além, claro, das ideias do teórico da educação Jean Piaget.

Pesquisador impecável, Vigotski também tinha o seu círculo. Vivia rodeado de

devotados dicípulos talentosos que, como ele, tinham “elevada consciência de sua

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missão no desenvolvimento da ciência” (PUZIERI, in VIGOTSKI, 2000, p.21). Sofreu

perseguições e teve suas obras proibidas pelo governo stanilista, o que, para estudiosos

de Vigotski, iniciou-se com a identificação do teórico como idealista em função de

suas críticas à utilização das teoria de Pavlov quanto as potencialidades de

condicionamento ambiental. Por volta de 1920, Vigotski iniciou sua luta contra a

tuberculose que se estendeu por 14 anos, vindo a falecer em Moscou em 11 de Junho de

1934, então com 37 anos de idade. Somente com o fim da censura do totalitário regime

stalinista foi que começou a ser redescoberto iniciando-se pela publicação de seu

clássico Pensamento e Linguagem. Atualmente sua obra repercute e influência a

psicologia e educação no mundo todo, especialmente no Brasil.

2.2 A psicologia do conhecimento – Ideias de Vigotski

Vigotski, ao elaborar uma “teoria social do conhecimento” - buscando

reconstruir a origem e o processo de desenvolvimento do comportamento e da

consciência -, “procurou a possibilidade de o homem, através de suas relações sociais,

por intermédio da linguagem, constituir-se e desenvolver-se” (FREITAS, 1995, p. 158).

Importante elemento a ser considerado na elaboração e no desenvolvimento dos

conceitos da teoria vigotskiana é a filosofia marxista e hegelniana que marcavam à

época em que vivera Vigotski, e nas quais funda o princípio de suas ideias. Conforme

lemos em Kozulin, “O que o próprio Vygotsky buscou e encontrou em Marx e Hegel foi

uma teoria social da atividade humana”. De Hegel, por exemplo, Vigotski assumiu a

postura histórica nos processos de desenvolvimento e “as formas de realização da

consciência humana”. Já Karl Marx atraiu Vigotski “com seu conceito de práxis

humana, isto é, a atividade histórica concreta que é um gerador por trás dos fenômenos

de consciência” (KOZULIN, apud RIBEIRO, 2010, p. 119).

O caráter histórico, assim como o social e o cultural, é a matriz que constitui

todo o pensamento vigotskiano, e é a partir dele que podemos definir os valores que o

social e a cultura, aspectos fundamentadores que permeiam toda a obra de Vigotski,

assumem nas suas análises. É esse caráter, aponta Sirgado, que “diferencia a concepção

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de desenvolvimento humano de Vigotski das outras concepções psicológicas e lhe

confere um valor inovador ainda nos dias de hoje” (SIRGADO, 2000, p.48). A teoria de

Vigotski é considerada sócio-histórica e, através de sua epígrafe em seu Manuscrito de

1930, o teórico esclarece-nos sua concepção de homem, ao que diz: “Para nós o homem

é uma pessoa social. Um agregado de relações sociais encarnadas num indivíduo”. Em

artigo6 publicado na revista Educação e Sociedade, encontramos a seguinte colocação

de Vigotski:

Da mesma maneira que a vida da sociedade não representa um todo único e

uniforme, e a sociedade é subdividida em diferentes classes, assim, durante

um dado período histórico, a composição das personalidades humanas não

pode ser vista como representando algo homogêneo e uniforme, e a

psicologia deve levar em conta o fato fundamental que a tese geral que foi

formulada recentemente só pode ter uma conclusão direta, confirmar o

caráter de classe, a natureza de classe e as diferenças de classe que são

responsáveis pela formação dos tipos humanos. As várias contradições

internas que foram encontradas em diferentes sistemas sociais encontram sua

expressão, ao mesmo tempo, no tipo de personalidade e na estrutura da

psicologia humana neste período histórico. (VIGOTSKI apud SIRGADO,

2000, p.63)

Marta Kohl Oliveira, autoridade em estudos vigotskianos, explica que como a

linguagem é o sistema simbólico comum entre os homens, o seu desenvolvimento e

suas relações com o pensamento é objeto central na obra de Vigotski, para quem “o

pensamento não é simplesmente expresso em palavras; é por meio delas que ele passa a

existir” (2006, p. 54). Vigotski, segundo Oliveira, trabalha com duas funções básicas da

linguagem: o intercâmbio social – principal função da linguagem - e o pensamento

generalizante – que torna a linguagem um instrumento do pensamento. (2006, p. 42-43)

e em ambos observamos o caráter social que os sustenta.

A principal função é a de intercâmbio social: é para se comunicar com seus

semelhantes que o homem cria e utiliza os sistemas de linguagem. [...] Para

que a comunicação com outros indivíduos seja possível [...] é necessário que

6 Angel Pino Sirgado professor da Unicamp , autor do artigo O social e o cultural na obra de Vigotski

no qual realiza uma análise de duas categorias teóricas fundamentais na obra de Vigotski : o social e o

cultural.

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sejam utilizados signos, compreensíveis por outras pessoas, que traduzem

idéias, sentimentos, vontades, pensamentos [...]. (OLIVEIRA, 2006, p. 42)

[...] é a função generalizante da linguagem que a torna um instrumento do

pensamento. Ao se utilizar da linguagem o ser humano é capaz de pensar de

uma forma que não seria possível se ela não existisse: a generalização e a

abstração só se dão pela linguagem. (OLIVEIRA, 2006, p. 51)

A unidade dessas duas funções encontra-se no significado que é a propriedade

que propicia “a mediação simbólica entre o indivíduo e o mundo real, constituindo-se

no “filtro” através do qual o indivíduo é capaz de compreender o mundo e agir sobre

ele” (OLIVEIRA, 2006, p. 48). A significação confere ao social sua condição humana, o

que significa, na visão do professor Sirgado - pesquisador vigotskiano -, “que a

convivência humana é regida por leis históricas”, e não basicamente e unicamente por

mecanismos naturais. Sirgado afirma ainda que Vigotski, ao introduzir as relações

sociais como definidoras das funções mentais superiores, subverte o pensamento

psicológico tradicional (2000, p. 61), abrindo caminho para a discussão para a

importância das relações sociais na constituição do sujeito e da consciência.

As funções superiores constituem o terceiro tipo de objetos a que Vigotski

atribui caráter social, não só porque elas não emergem das funções

biológicas, mas porque sua natureza é social. “Elas são”, diz Vigotski,

“relações internalizadas de uma ordem social, transferidas à personalidade

individual e base da estrutura social da personalidade” (1989, p. 58). Tudo

nelas é social: sua composição, sua estrutura genética e seu modo de

funcionar. De tal modo que, mesmo sendo transformadas em processos

mentais, permaneçam quase sociais, como ele diz (1997, p. 106).

(SIRGADO, 2000, p. 60)

Para Vigotski o pensamento está intimamente vinculado à linguagem e se

desenvolve a partir de instrumentos linguísticos e pela interação sócio-cultural do

falante. Assim, para o teórico, é na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se

internalizam os saberes, papéis e funções sociais, o que permite a formação de

conhecimentos e da própria consciência.

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Se o desenvolvimento é visto como um acontecimento de natureza

individual, mesmo admitindo que ocorre em interação com o meio, a inserção

social do indivíduo constitui realmente um problema, pois implica na

adaptação das condutas individuais às práticas sociais, consideradas, em tese,

fenômenos de natureza diferente. Dessa maneira, a socialização assemelha-se

ao fenômeno migratório humano que exige uma adequação das

características sociais e culturais do imigrante às condições do novo meio.

(SIRGADO, 2000, p.52)

Vigotski, explica Sirgado, inverte a direção da relação indivíduo-sociedade. No

lugar de nos perguntar como a criança se comporta no meio social, diz o autor,

“devemos perguntar como o meio social age na criança para criar nela as funções

superiores de origem e natureza sociais”. (2000, p. 61).

Na perspectiva em que se situa Vigotski, as relações sociais são determinadas

pelo modo de produção que caracteriza uma determinada formação social.

Isso nada tem a ver com qualquer tipo de determinismo mecanicista que ele

mesmo critica, uma vez que os modos de produção não são dados pela

natureza, mas determinados pelos homens (por aqueles que detêm o poder na

sociedade) em função de interesses específicos. Seria ingenuidade portanto

pensar que Vigotski fala de relações sociais como algo natural e

ideologicamente neutro. (SIRGADO, 2000, p. 63)

2 BAKHTIN E VIGOTSKI DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Não só pelo materialismo histórico dialético que está presente como referencial

teórico nas teorias tanto de Bakhtin quanto de Vigotski ou pela dialética que se constitui

em seus métodos de trabalho é que podemos aproximar esses dois teóricos aqui

estudados. Poder-se-ia ainda pô-los em diálogo pelo contexto histórico comum em que

desenvolveram seus trabalhos, mas o aspecto de maior relevância na obra desses dois

intelectuais de importante ideias e teorias é sem dúvida a compreensão do homem como

um conjunto de relações sociais. Ligado ao homem e a suas relações está presente a

linguagem, aspecto para o qual também se voltaram Vigotski e Bakhtin. Na filosofia da

linguagem, o que diferencia Bakhtin dos outros filósofos que se ativeram a estudos

semelhantes é ter colocado a dinâmica social da prática observável da linguagem como

força especificadora que estrutura as relações interpessoais. Já em Vigotski, na sua

psicologia do conhecimento, o caráter histórico e social que constitui o homem e a

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conversão das relações sociais em funções mentais é o que “diferencia a concepção de

desenvolvimento humano de Vigotski das outras concepções psicológicas e lhe confere

um valor inovador ainda nos dias de hoje” (SIRGADO, 2000, p. 48). Em palavras da

professora Maria T. de Freitas “ambos são marxistas que valorizaram a consciência”

(1995, p. 158), privilegiando em seus estudos uma perspectiva sócio-histórica.

Contemporâneos, ambos nasceram, viveram e desenvolveram suas teorias em

tempos difíceis, na Rússia fria e, ainda que não haja registros de que Vigotski e Bakhtin

se conhecessem7, esse fato que não invisibiliza a aproximação de suas teorias, já

observado que ambos privilegiaram o aspecto cultural e social em seus fundamentos,

construindo “uma perspectiva histórica e uma compreensão do homem como conjunto

de relações sociais” (idem, p. 157). Semelhante também é a versatilidade, tanto de

Bakhtin quanto de Vigotski, em diversas áreas do conhecimento, o que deve ser

compreendida no contexto histórico e cultural da Rússia daquela época, como expõe

Zinchenko:

Os relatos de Vygotsky sobre a psicologia histórico-cultural emergiram

somente quando a era de prata, ou renascença, da cultura russa estava em

declínio. Durante essa época não havia nenhuma divisão definida de trabalho

entre ciência, filosofia, arte, estética e até mesmo teologia. Gustav Shpet,

Aleskei Losev, Mikhail Bakhtin, Pavel Florenskii e o fundador maior da

Psicologia histórico-cultural, Lev Vygotsky, eram simultaneamente teóricos e

conhecedores dessas esferas da atividade humana. As idéias de Vladimir

Solov‟ev sobre a „unidade em tudo‟ no conhecimento racional e espiritual

ainda estavam vivas.Os notáveis poetas Boris Pasternark e Osip

Mandel‟shtam tinham conhecimento em filosofia e nas ciências.

(ZINCHENKO, apud RIBEIRO, 1998, p. 41)

Recusaram o comportamentalismo marxista, entendendo que as especificidades

dos fenômenos psíquicos humanos residem na intermediação, e são “produzidos e

empregados dentro de formas sociais concretas”. O signo ideológico na constituição do

sujeito, afirma Bakhtin, parte do exterior para o interior, ou seja, do “social para o

7Maria Teresa de Assunção Freitas, em seu livro Nos textos de Bakhtin e Vigotski: um encontro possível,

registra que encontrou duas notas na obra de Bakhtin – o freudismo (1925) – que fazem referencia ao

artigo A consciência como problema do comportamento de Vigotski, o que mostra, segundo a autora, que

“Bakhtin sabia da existência de Vygotsky, lera um artigo seu e o citava em seu livro um ano depois”.

(1995, p.156)

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individual”, e a palavra nada mais é do que “produto de interação viva das forças

sociais”. Para Vigotski o sujeito também se constitui do social para o individual e ao

introduzir as relações sociais como definidoras das funções mentais superiores, subverte

o pensamento psicológico tradicional (SIRGADO, 2000, p. 61), abrindo caminho para a

discussão para a importância das relações sociais na constituição do sujeito e da

consciência.

REFERÊNCIAS

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Recebido Para Publicação em 28 de março de 2012.

Aprovado Para Publicação em 14 de maio de 2012.