nanopartículas magnéticas para nanomedicina · nanopartículas magnéticas para nanomedicina ana...

70
Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia de Materiais Júri Presidente: Profª. Drª. Fernanda Maria Ramos da Cruz Margarido Orientação: Profª. Drª. Maria Clara Henriques Batista Gonçalves Dr. Luís Miguel Amante Fortes Vogais: Profª. Drª. Maria de Deus Corceiro de Carvalho Outubro de 2010

Upload: others

Post on 04-Jun-2020

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina

Ana Rosa Lopes Pimenta

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia de Materiais

Júri

Presidente: Profª. Drª. Fernanda Maria Ramos da Cruz Margarido

Orientação: Profª. Drª. Maria Clara Henriques Batista Gonçalves

Dr. Luís Miguel Amante Fortes

Vogais: Profª. Drª. Maria de Deus Corceiro de Carvalho

Outubro de 2010

Page 2: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

i

Agradecimentos

Ao longo da elaboração da minha dissertação tive a sorte poder trabalhar com pessoas que

partilharam os seus conhecimentos, experiência e instrumentação, tendo tornado possível o

trabalho agora submetido.

Começo por agradecer à minha orientadora, Profª. Drª. Maria Clara Gonçalves, pelo apoio,

incentivo e acima de tudo por ter acreditado que juntas iríamos conseguir desenvolver a

dissertação de mestrado. Ao meu co-orientador, Dr. Luís Fortes, agradeço sobretudo os seus

conselhos, sugestões e a forma como me mostrou que num trabalho de investigação é

necessária muita paciência e persistência.

À Eng. Isabel Nogueira agradeço, não só as imagens de TEM, mas também simpatia, a

paciência e forma como se mostrou disponível para a observação das amostras, nem que

fosse num “furinho” entre as muitas requisições do TEM ou SEM.

Quero agradecer também à Profª. Drª. Maria Joana Castelo Branco de Assis Teixeira Neiva

Correia, do Departamento de Engenharia Química e Biológica e à Profª. Drª. Marília Mateus, do

Centro de Engenharia Biológica e Química pela gentileza de cederem as diversas

centrifugadoras com que trabalhei.

Pelos diversos resultados de difracção de raios-X, espectroscopia de Mössbauer e medidas de

magnetização, bem como a excelente capacidade de trabalho multidisciplinar e a prontidão que

demonstraram no esclarecimento de dúvidas que foram surgindo ao longo do trabalho, aqui vai

um enorme agradecimento à Profª. Drª Maria Margarida Godinho, do Centro de Física da

Matéria Condensada/ Departamento de Física da FCUL, Profª. Drª Maria Margarida Colin

Martins da Cruz, do Centro de Física da Matéria Condensada/ Departamento de Física da

FCUL, Profª. Drª Liliana Maria Pires Ferreira, do Centro de Física da Matéria Condensada/

Departamento de Física da FCUL e Profª. Drª Maria de Deus Corceiro de Carvalho, do Centro

de Ciências Moleculares e Materiais/ Departamento de Química e Bioquímica da FCUL.

Não poderia deixar de agradecer à minha amiga e colega ao longo de todo o meu percurso

académico, Marta Faria, pela ajuda nos momentos menos bons e a alegria nas comemorações

dos bons momentos.

Finalmente agradeço à minha família toda, pais e irmãos, o apoio e a confiança que sempre

depositaram em mim ao longo do meu percurso académico. Um agradecimento em especial à

minha mãe pelo carinho, paciência e a forma como me ensinou a nunca desistir dos meus

objectivos.

Page 3: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

ii

Resumo

O principal objectivo deste trabalho foi a síntese de nanoestruturas núcleo/coroa (core/shell)

com comportamento superparamagnético. Numa primeira etapa sintetizaram-se nanopartículas

magnéticas de magnetite/magmite, com diâmetro médio de 6 nm e, numa segunda etapa,

recobriram-se os núcleos com sílica amorfa, pelo método de Stöber modificado (sol-gel).

Os núcleos de magnetite/magmite foram sintetizados através de um processo químico de

redução-precipitação. A grande vantagem do procedimento escolhido reside no facto de não

necessitar de uma atmosfera redutora como a maioria dos processos de síntese utilizados.

Verificou-se que a formação de um complexo de ferro, numa etapa intermédia, é a chave para

que o procedimento possa ser efectuado à atmosfera ambiente. Outra etapa, também ela muito

importante, é a centrifugação, pois vai permitir a síntese de nanopartículas magnéticas

monodispersas. Avaliou-se o efeito do envelhecimento das nanopartículas e conclui-se que

estas sofrem alterações químicas formando, possivelmente um oxi-hidróxido de ferro amorfo.

Numa segunda fase, recobriram-se com uma coroa de sílica os núcleos magnéticos, segundo

um processo bottom-up, o processo sol-gel. Para tal, testaram-se dois procedimentos

experimentais, concluindo-se que o tipo de agitação e o modo como o precursor da sílica é

adicionado, são factores determinantes. Em relação à agitação, verificou-se que a agitação

manual (vs agitação magnética) apresenta vantagens na dispersão das nanopartículas no meio

reaccional. No que diz respeito ao precursor, este deve ser adicionado em parcelas.

Estas nanoestruturas núcleo/coroa podem ser utilizadas em diversas áreas da nanomedicina.

Palavras-Chave

Nanopartículas, Nanoestruturas, Sol-Gel, Superparamagnetismo, Nanomedicina

Page 4: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

iii

Abstract

The main goal of the present work was the synthesis of superparamagnetic core/shell

nanostructures. First a just step magnetic nanoparticles made of magnetite/maghemite, of 6 nm,

have been synthesized and in a second step those nanoparticles have been coated by an

amorphous silica by a modified Stöber method (sol-gel).

The cores have been synthesized by a chemical process of reduction-precipitation. The great

advantage of this procedure is that it does not require a reducing atmosphere as most of the

other synthesis processes. It was found that the formation of an iron complex, intermediate

step, is the key factor forthem to synthesized at ambient atmosphere. Another step, also very

important, is the centrifugation, as this will influence the size of the nanoparticles We evaluated

the effect of aging on nanoparticles: an amorphous iron oxi- hydroxide has been formed.

The magnetic cores have been coated by an amorphous silica has though a modified Stöber

method (sol-gel). To this end, we tested two main protocols, concluding that there are two

important factors, stirring and the way the silica precursor is added. To the reaction mixture

concerning stirring, it was found that the manual stirring (vs magnetic stirring) has advantages in

the dispersion of nanoparticles in the reaction medium. With respect to the precursor, it should

be added in small amounts.

These core/shell nanostructures can be used in several areas of nanomedicine.

Keywords

Nanoparticles, Nanostructures, Sol-Gel, Superparamagnetism, Nanomedicine

Page 5: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

iv

Índice

Agradecimentos ........................................................................................................................... i

Resumo ........................................................................................................................................ ii

Abstract ....................................................................................................................................... iii

Índice ............................................................................................................................................iv

Lista de Figuras .......................................................................................................................... v

Lista de Tabelas ........................................................................................................................ vii

Lista de Abreviaturas ............................................................................................................... viii

1. Introdução ............................................................................................................................... 1

1.1 Estrutura da magnetite .................................................................................................... 3

1.2 Síntese de nanopartículas de magnetite ...................................................................... 6

1.3 Síntese de nanoestruturas núcleo/coroa ..................................................................... 8

1.3.1 Processo sol-gel ....................................................................................................... 8

2. Propriedades magnéticas ................................................................................................... 14

3. Parte Experimental .............................................................................................................. 16

3.1 Síntese de nanopartículas magnéticas ...................................................................... 16

3.2 Síntese de nanoestruturas núcleo/coroa ................................................................... 20

3.3 Métodos de caracterização .......................................................................................... 23

3.3.1 Difracção de raios-X ............................................................................................... 23

3.3.2 Microscopia Electrónica de Transmissão ........................................................... 24

3.3.3 Espectroscopia de Mössbauer ............................................................................. 25

3.3.4 Magnetometria ........................................................................................................ 28

4. Resultados e Discussão...................................................................................................... 30

4.1 Síntese de nanopartículas magnéticas ...................................................................... 30

4.1.1 Síntese de nanopartículas magnéticas de acordo com Qu et al [21] ............. 30

4.1.2 Síntese de nanopartículas magnéticas segundo o procedimento

experimental de Qu et al [21] modificado ..................................................................... 38

4.2 Síntese de nanoestruturas núcleo/coroa ................................................................... 45

5. Conclusões ........................................................................................................................... 54

6. Propostas de trabalho futuro .............................................................................................. 55

7. Referências ........................................................................................................................... 56

8. Publicações .......................................................................................................................... 61

Page 6: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

v

Lista de Figuras

Figura 1 - Exemplos de ligantes que se podem incorporar nas nanoestruturas núcleo/coroa

magnéticas. Adaptado de [8]

Figura 2 – Áreas de investigação de relevo dos óxidos de ferro [11]

Figura 3 – (a) Célula unitária cúbica de faces centradas: (i) exemplo de uma (das quatro)

posição intersticial octaédrica; (ii) exemplo de uma (das oito) posição intersticial tetraédrica; (b)

Estrutura da espinela [13]

Figura 4 – Cores dos Óxidos de Ferro: a) Magnetite (preto); b) Magmite (castanho); C)

Hematite (vermelho) Adaptado de [9]

Figura 5 – Diagrama de fase do sistema Fe-O [19]

Figura 6 – Concentração do precursor em função do tempo, nas várias etapas do processo.

Adaptado de [27]

Figura 7 – Ilustração esquemática dos mecanismos de crescimento de nanopartículas: (a)

crescimento de Ostwald; (b) agregação. Adaptado de [29]

Figura 8 – Ilustração esquemática da versatilidade do processo sol-gel [31]

Figura 9 – Diagrama de fases ternário Água + Álcool + TEOS [37]

Figura 10 – Mecanismo de hidrólise em catálise básica [37]

Figura 11 – Mecanismo de hidrólise em catálise ácida [37]

Figura 12 – Alinhamento antiparalelo dos momentos magnéticos numa espinela ferrimagnética:

A) posições tetraédricas; B) posições octaédricas [43]

Figura 13 – Nanopartículas de Fe (3nm): (a) curva M-H; (b) curvas ZFC e FC [45]

Figura 14 – Procedimento experimental da síntese de nanopartículas de Fe3O4 de acordo com

Qu et al [21]

Figura 15 - Tratamento Térmico realizado aos núcleos magnéticos

Figura 16 – Procedimento experimental da síntese de nanopartículas de Fe3O4 de acordo com

Qu et al [21] modificado

Figura 17 – Procedimento experimental da síntese de nanoestruturas núcleo-coroa Fe3O4/SiO2

de acordo com Fu et al [47]

Figura 18 – Procedimento experimental da síntese de nanoestruturas núcleo-coroa de

Fe3O4/SiO2 de acordo com Fu et al [47] modificado

Figura 19 – Procedimento experimental da síntese de nanoestruturas núcleo-coroa de

Fe3O4/SiO2 de acordo com Yin e Ge [48]

Figura 20 – Difracção de raios-X num cristal [51]

Figura 21 – Modos de funcionamento do TEM: modo de imagem e modo de difracção [56]

Figura 22 - Emissão e absorção de raios- por parte dos núcleos [63]

Figura 23 – Efeito de Mössbauer do isótopo 57

Fe [65].

Figura 24 – Exemplo de geometrias utilizadas: (a) transmissão; (b) reflexão [66].

Page 7: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

vi

Figura 25 – Efeito do desvio isomérico ( ) e do desdobramento quadrupolar ( ) no espectro de

Mössbauer [64].

Figura 26 – Efeito do desdobramento magnético nos níveis nucleares do 57

Fe. Adaptado de

[64].

Figura 27 – dc-SQUID: a e b são junções de Josephson, é o fluxo magnético. Adaptado de

[71].

Figura 28 – rf-SQUID: J é a junção de Josephson, é o fluxo magnético. Adaptado de [71].

Figura 29 – Efeito do campo magnético nas nanopartículas sintetizadas: a) ausência de campo

magnético; b) presença de campo magnético.

Figura 30 – Difractograma das nanopartículas magnéticas sintetizadas.

Figura 31 – Espectro de Mössbauer obtido para as nanopartículas magnéticas sintetizadas.

Figura 32 – Imagens de TEM (campo claro) de nanopartículas magnéticas sintetizadas

segundo o procedimento experimental ilustrado na Figura 14.

Figura 33 – Curva de magnetização das nanopartículas magnéticas sintetizadas.

Figura 34 – Curvas ZFC/FC das nanopartículas magnéticas sintetizadas.

Figura 35 – Curva elucidativa da transição de Verwey.

Figura 36 – Alteração da cor por tratamento térmico: (a) amostra não tratada termicamente; (b)

amostra tratada termicamente.

Figura 37 – Difractograma das nanopartículas magnéticas tratadas termicamente (500 ºC).

Figura 38 – Espectro de Mössbauer das nanopartículas magnéticas tratadas termicamente.

Figura 39 – Imagens de TEM (campo claro) de nanopartículas magnéticas sintetizadas

segundo o procedimento experimental ilustrado na Figura 14, tratadas termicamente (500 ºC).

Figura 40 – Curva de magnetização das nanopartículas magnéticas tratadas termicamente.

Figura 41 – (a) Curvas da ZFC/FC da amostra tratada termicamente; (b) Curva elucidativa da

transição de Morin.

Figura 42 – Difractograma das nanopartículas magnéticas submetidas à centrifugação.

Figura 43 – Espectro de Mössbauer das nanopartículas magnéticas submetidas à

centrifugação

Figura 44 – Imagens de TEM (campo claro) das nanopartículas magnéticas submetidas à

centrifugação.

Figura 45 – Curva de magnetização das nanopartículas submetidas à centrifugação.

Figura 46 – Curvas de ZFC/FC das nanopartículas magnéticas submetidas à centrifugação.

Figura 47 – Difractograma das nanopartículas magnéticas após envelhecimento meio

reaccional.

Figura 48 – Espectro de Mössbauer das nanopartículas magnéticas após envelhecimento no

meio reaccional.

Figura 49 – Imagens de TEM (campo claro) das nanopartículas magnéticas após

envelhecimento no meio reaccional.

Figura 50 – Medidas de magnetização das nanopartículas magnéticas após envelhecimento no

meio reaccional.

Page 8: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

vii

Figura 51 – Imagens de TEM (campo claro) das nanoestruturas núcleo/coroa de acordo com o

procedimento experimental ilustrado na Figura 17.

Figura 52 – Imagens de TEM (campo claro) da nanoestrutura sintetizada de acordo com

procedimento experimental ilustrado na Figura 18.

Figura 53 – Imagens de TEM (campo claro) da nanoestrutura sintetizada de acordo com o

procedimento experimental ilustrado na Figura 18 modificado.

Figura 54 – Imagem de TEM (campo claro) da nanoestrutura sintetizada de acordo com o

procedimento experimental ilustrado na Figura 18 modificado.

Figura 55 – Imagens de TEM (campo claro) das nanoestruturas núcleo/coroa sintetizadas de

acordo com o procedimento experimental ilustrado na Figura 19: (a) ao fim de vinte minutos; (b)

ao fim quarenta minutos; (c) ao fim de sessenta minutos.

Figura 56 – Imagens de TEM (campo claro) das nanoestruturas núcleo/coroa sintetizadas de

acordo com o procedimento experimental ilustrado na Figura 19 modificado: (a) ao fim de vinte

minutos; (b) ao fim quarenta minutos; (c) ao fim de sessenta minutos.

Figura 57 – Difractogramas das nanopartículas magnéticas com e sem revestimento de SiO2.

Figura 58 – Espectros de Mössbauer de nanopartículas magnéticas não revestidas (em baixo)

e de nanopartículas magnéticas revestidas com SiO2 (em cima).

Figura 59 – Curvas de magnetização: (a) nanopartículas magnéticas não revestidas; (b)

nanopartículas magnéticas revestidas com SiO2.

Figura 60 – Curvas ZFC/FC: (a) nanopartículas magnéticas não revestidas; (b) nanopartículas

magnéticas revestidas com SiO2.

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Reagentes utilizados na síntese de nanopartículas e nanoestruturas magnéticas.

Page 9: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

viii

Lista de Abreviaturas

BF – campo claro (Bright Field)

DF – campo escuro (Dark Field)

DRX – difracção de raios-X (X-Ray Diffraction)

EDS – espectroscopia de energia dispersiva (Energy Dispersive Spectroscopy)

EELS - espectroscopia de perda de energia dos electrões (Electron Energy Loss Spectroscopy)

FC – arrefecimento no campo de medida (Field Cooled)

H – campo magnético

HC – força coerciva

IS – desvio isomérico (Isomer Shift)

M – magnetização

M-D – multi-dominios (Multi-Domain)

Mr – magnetização remanescente

MS – desdobramento magnético (Magnetic Splitting)

Ms- magnetização de saturação

QS – desdobramento quadrupolar (Quadrupole Splitting)

SAED – modo de difracção (Selected Area Electron Difraction)

S-D – domínio- único (Single domain)

SQUID – dispositivo supercondutor de interferência quântica (Superconducting Quantum

Interference Device)

TB – temperatura de bloqueio (Blocking Temperature)

TEM – microscópio electrónico de transmissão (Transmission Electron Microscope)

TEOS – tetraetoxisilano (Tetraethoxysilane)

TMOS – tetrametoxisilano (Tetramethoxysilane)

ZFC – arrefecimento em campo nulo (Zero Field Cooled)

Page 10: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

1

1. Introdução

A nanotecnologia é um domínio interdisciplinar onde convergem a nanofísica, a química, a

ciência de materiais e a biologia [1]. É também uma tecnologia de fabrico, design e aplicação

de nanomateriais e nanoestruturas [2].

As nanopartículas são talvez a classe de nanomateriais aplicada à biomedicina e nanomedicina

mais conhecida e estudada, pelas potencialidades que apresentam [3]. Para aplicações em bio

e nanomedicina, desenvolveram-se nanoestruturas do tipo núcleo/coroa (Figura 1) [4]. Estas

estruturas são constituídas por nanopartículas com o núcleo bem definido (core), revestidos

com uma coroa (shell). A coroa pode modificar a carga superficial e, logo, o potencial zeta, e

como tal, condicionar a estabilidade e a dispersibilidade coloidais. Através da coroa é possível

funcionalizar, de modo a que as nanoestruturas apresentem especificidade nas

propriedades/funcionalidades [5].

Existem diversas áreas onde as nanoestruturas núcleo/coroa podem ser utilizadas,

nomeadamente, aplicações farmacêuticas, engenharia química, biologia, óptica, medicina [5].

As nanoestruturas núcleo/coroa magnéticas são de grande interesse do ponto de vista

tecnológico, nomeadamente em aplicações em nanomedicina (aplicação de nanopartículas ou

nanoestruturas para detecção ou tratamento de doenças ao nível molecular [6]). A estas

nanoestruturas podem ser incorporados fármacos, proteínas, anticorpos, tendo em vista o

tratamento de doenças. Para diagnóstico, estas podem ser direccionas para órgãos, tecidos,

utilizando um campo magnético externo (ex. ressonâncias magnéticas - MRI) e também podem

ser aquecidas alterando o campo magnético externo para serem usadas em hipertermia [7].

Figura 1 - Exemplos de ligantes que se podem incorporar nas nanoestruturas núcleo/coroa

magnéticas. Adaptado de [8]

Os óxidos de ferro desempenham um papel importante em diversas áreas, designadamente,

ambiente, indústria química, mineralogia, geologia, biologia, medicina, entre outras (Figura 2)

Page 11: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

2

[9]. Estes óxidos têm suscitado interesse tanto como núcleo como coroa em nanoestruturas

[10].

Figura 2 – Áreas de investigação de relevo dos óxidos de ferro [11]

Existem dezasseis óxidos de ferro, estes estão divididos em óxidos, hidróxidos ou oxi-

hidróxidos de ferro. São constituídos por ferro ligados a oxigénio e/ou grupos hidroxilo [11].

Page 12: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

3

1.1 Estrutura da magnetite

As nanopartículas de magnetite (Fe3O4) apresentam elevado interesse em diversas áreas

(ambiente, biomedicina e nanotecnologia). [12]

As ferrites cúbicas apresentam a fórmula geral MFe2O4, em que M representa um átomo

metálico divalente (Mg, Fe, Ni, ou Zn) [13]. A magnetite (Fe2+

(Fe23+

O42-

)) é um destes exemplos

[14].

Figura 3 – (a) Célula unitária cúbica de faces centradas: (i) exemplo de uma (das quatro) posição intersticial octaédrica; (ii) exemplo de uma (das oito) posição intersticial tetraédrica; (b)

estrutura da espinela [13]

As ferrites cúbicas apresentam uma estrutura de espinela, que consiste em oito células

unitárias cúbicas de faces centradas (c.f.c), Figura 3, de átomos de oxigénio, ocupando os

catiões divalentes 1/8 das posições intersticiais tetraédricas (8 em 64 posições) e os catiões

trivalentes ½ das posições octaédricas (16 em 32) [13].

(i)

(b)

(ii)

(a)

Page 13: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

4

De acordo com a estequiometria da espinela Fe2+

(Fe23+

O42-)

:

)( 2

4

3

2

2 OFeFe

Rácio Número de

catiões Fe

O2-

/Fe3+

2 32/2=16

O2-

/Fe2+

4 32/4=8

para as oito células unitárias c.f.c vão estar disponíveis 32 aniões O2-

, mas só, 16 catiões Fe3+

e apenas 8 catiões Fe2+

, pelo que a ocupação intersticial é incompleta (16 em 32 interstícios

octaédricos e 8 em 64 interstícios tetraédricos).

Uma vez que os catiões divalentes são maiores (rFe2+

=0,83 Å; rFe3+

=0,67 Å [15]), apresentam

preferência pela ocupação de posições intersticiais octaédricas. Assim, na natureza os catiões

divalentes ocupam frequentemente posições octaédricas enquanto os trivalentes distribuem-se

igualmente entre as posições intersticiais octaédricas e tetraédricas, designando-se neste caso

a estrutura por espinela inversa [13].

A Fe3O4 exibe propriedades eléctricas e magnéticas únicas [16]. Em relação às propriedades

eléctricas, esta possui um hiato electrónico pequeno, 0,1 eV, e uma condutividade eléctrica de

102-10

3

-1 cm

-1. Nas fronteiras dos domínios octaédricos, os electrões (partilhados entre o

ferro e o oxigénio) encontram-se deslocados para os iões ferro, dando origem à elevada

condutividade eléctrica da magnetite [11].

Uma maneira simples de distinguir a magnetite de outros óxidos de ferro é pela cor. A

magnetite apresenta uma cor preta (Figura 4) [11].

Figura 4 – Cores dos Óxidos de Ferro: a) Magnetite (preto); b) Magmite (castanho); C)

Hematite (vermelho) Adaptado de [9]

a) b) c)

Page 14: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

5

A magnetite é muito susceptível às condições ambientais, sofrendo com facilidade oxidação

para a fase (metaestável) magmite ( -Fe2O3) [17]. A magmite apresenta uma estrutura

semelhante à da magnetite, em que os catiões ferro estão todos (ou quase todos) no estado de

oxidação 3+. Oito catiões Fe3+

encontram-se em posições intersticiais tetraédricas, os restantes

estão distribuídos em posições intersticiais octaédrica. Para manter o balanço de cargas, um

terço dos catiões trivalentes são removidos da coordenação, deixando lacunas [18]. A magmite

exibe cor castanha (Figura 4).

HematiteMagmiteMagnetite ΔTT / t

A magmite transforma-se em hematite ( -Fe3O3) para temperaturas compreendidas entre

370ºC e 600ºC. Esta fase apresenta uma estrutura similar à do corindo (corundum- óxido de

alumínio) cuja célula unitária é rômbica ou hexagonal, de dimensões a=0,50356nm e

c=1,37489. A hematite apresenta a cor vermelha (Figura 4).

Figura 5 – Diagrama de fase do sistema Fe-O [19]

(Estável) (Estável)el)(Metaestáv

(1)

Page 15: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

6

1.2 Síntese de nanopartículas de magnetite

Existem diversos métodos de síntese de nanopartículas de Fe3O4: decomposição térmica de

precursores organometálicos em solventes orgânicos, microemulsões, entre outros, quase

todos processados em atmosferas redutoras. O método mais simples é coprecipitação em meio

aquoso. [20].

Neste trabalho as nanopartículas de magnetite foram preparadas segundo o método químico

de redução-precipitação de Qu et al [21], em atmosfera ambiente. A síntese de Fe3O4 inicia-se

com a formação de iões Fe3+

(aquosos) em meio ácido, por dissociação do FeCl3.

Na2SO3 é então adicionado à solução ácida de Fe (III). A cor da solução passa imediatamente

de amarelo para vermelho. Esta cor é característica da presença de complexos do tipo, Fe(III)-

S(IV) e deve-se à transferência de carga entre o ligante e o metal no complexo formado, no

equilíbrio [22]:

)()]([)()(2 4

32

2

3

3 aqSOFeaqSOaqFe

O par Fe3+

/Fe2+

(com um potencial de redução de +0,77 eV) é um agente fortemente oxidante

quando na presença do par S6+

/S4+

(cujo o valor de potencial de redução é -0,93 eV) [23], em

meio básico conduz a (3):

)(2)()(2)()()]([ 2

4

2

2

4

32 aqHaqSOaqFelOHaqSOFe

Esta equação pode decompor-se em dois processo (semi-equações), uma envolvendo a

redução do Fe3+

a Fe2+

(4) e outra a oxidação do S4+

a S6+

(5):

(aq)2Fee(aq)3Fe

2eO(aq)2

H24

SO2OH23

SO

O equilíbrio (3) está fortemente deslocado para o lado dos produtos reaccionais Fe2+

(reduzida)

e S(VI) (oxidada). A reacção inversa, a oxidação o Fe2+

a Fe3+

, na presença de oxigénio

molecular, é geralmente lenta [24].

A adição de NH3.H2O promove, após a reacção redox (3), a precipitação de nanopartículas de

Fe3O4 de cor preta, formadas pela presença na razão 1:2 de Fe2+

e Fe3+

. De acordo com Yang,

H. et al [25], a reacção é a seguinte:

OHOFeOHFeFe243

23 482

(2)

(3)

(5)

(6)

(4)

Page 16: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

7

Este método de síntese de nanopartículas de magnetite não necessita de uma atmosfera

redutora. A reoxidação dos iões ferrosos é prevenida, pela adição da base, pois a oxidação

devido ao oxigénio dissolvido na solução é lenta [21].

As nanopartículas podem apresentar diferentes morfologias e tamanhos, dependendo dos

parâmetros de síntese. O envelhecimento em solução aquosa, produz alterações morfológicas,

estruturais e dimensionais significativas.

Na magnetite recém-formada, a morfologia do núcleo é determinada pela taxa de crescimento

das diferentes faces do cristal [26]. As faces que apresentam um crescimento mais lento, são

as que determinam a morfologia, pois as faces que crescem mais rapidamente, redissolvem-se

também mais rapidamente. Nos cristais da magnetite, os planos {111} (planos de maior

compacidade logo de menor energia) são os que crescem mais lentamente e por isso são os

que determinam a morfologia do cristal [11].

A quantidade de partículas primárias de Fe3O4 formado relaciona-se com a taxa relativa de

nucleação e crescimento. Para obter partículas com tamanho homogéneo, é necessário que as

etapas de nucleação e crescimento sejam separadas de modo a que a nucleação ocorra

primeiramente e, só depois, o crescimento [26].

Figura 6 – Concentração do precursor em função do tempo, nas várias etapas do processo.

Adaptado de [27]

O envelhecimento das nanopartículas em suspensão pode conduzir ao seu crescimento por

mecanismos distintos: crescimento de Ostwald (Ostwald ripening), agregação/coalescência ou

ambos. No mecanismo de crescimento de Ostwald, Figura 7-a, (processo de dissolução-

cristalização), os nanocristais de magnetite que apresentam raio inferior ao raio termodinâmico

(solução não saturada), irão dissolver-se lentamente. Os nanocristais que apresentam raios

superiores ao raio termodinâmico (solução sobresaturada) vão crescer às custas dos menores

[26]. O crescimento de Ostwald é um processo que ocorre espontaneamente, pois os

Page 17: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

8

nanocristais maiores são mais estáveis termodinamicamente que os menores, embora não seja

um processo cineticamente favorável [28].

O segundo mecanismo de crescimento de nanopartículas de magnetite (Figura 7-b) é a

agregação e/ou coalescência. A água absorvida promove a auto-adesão de partículas de

magnetite o que origina problemas de aglomeração. Na superfície da magnetite encontram-se

grupos hidroxilo, quimicamente reactivos em meio aquoso. Para suspensões com potencial

zeta ( ) baixo, 30mV, as partículas atraem-se dando origem à floculação ou mesmo a

coalescência, modificando a morfologia de nanopartículas primárias de Fe3O4 [26].

Figura 7 – Ilustração esquemática dos mecanismos de crescimento de nanopartículas: (a)

crescimento de Ostwald; (b) agregação. Adaptado de [29]

1.3 Síntese de nanoestruturas núcleo/coroa

Na síntese das nanoestruturas núcleo/coroa utilizou-se o método sol-gel (um método bottom-

up).

1.3.1 Processo sol-gel

O processo sol-gel é um método por via química, usado nas sínteses de dispersões coloidais

de materiais inorgânicos ou híbridos (orgânicos-inorgânicos) [2].

Esta técnica permite a obtenção de diversos materiais, nomeadamente, materiais amorfos com

diversas formas e composições, pós, monólitos, fibras, filmes, entre outros [30]. A Figura 8

ilustra esquematicamente a versatilidade do método.

(a)

(b)

Page 18: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

9

Figura 8 – Ilustração esquemática da versatilidade do processo sol-gel [31]

Esta técnica é bastante atractiva pois oferece vantagens como, baixa temperatura de

processamento, elevada homogeneidade e pureza dos materiais produzidos e uma

diversificação nas formas de processamento [32]. A grande desvantagem desta técnica centra-

se no elevado custo dos precursores utilizados [33].

1.3.1.1 Química do Processo sol-gel

Segundo Dislich, o processo sol-gel só tem em conta os óxidos multicomponentes que são

homogéneos a nível atómico. Esta definição não inclui os coprecipitados coloidais de

hidróxidos e oxi-hidróxidos. Segal, no entanto, define o sol-gel como a produção de óxidos

inorgânicos provenientes de dispersões coloidais ou de metais alcóxidos. De facto, não são só

este tipo de materiais que são produzidos mas também nitretos, sulfetos e mais recentemente

materiais híbridos (orgânicos-inorgânicos) [33].

Em qualquer processo sol-gel, o primeiro passo é a selecção do precursor, capaz de originar

diferentes composições de géis. Todos os precursores podem ser utilizados desde que sejam

miscíveis no meio reaccional. Podemos distinguir dois grupos de precursores: sais de metais e

alcóxidos. A fórmula geral dos sais de metais é MmXn, onde M é um metal, X é um grupo

aniónico, e m, n são coeficientes estequiométricos: um exemplo é o cloreto de alumínio (AlCl3)

[32]. A fórmula geral dos alcóxidos é M(OR)n, em que o M é o catião, este está ligado a n

grupos derivado de um álcool. Na grande maioria dos casos os precursores usados são os

precursores de silício nomeadamente, o tetrametoxisilano (TMOS) e o tetraetoxisilano (TEOS)

[34].

1.3.1.1.1 Formação de um gel a partir da agregação do sol

Estes tipos de géis são usualmente preparados, evaporando algum líquido de uma suspensão

estável ou reduzindo a sua estabilidade, adicionando um electrólito como uma base, ácido ou

Page 19: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

10

sal metálico. Como as forças atractivas de van Der Waals predominam, o contacto entre as

partículas leva à formação de uma rede. Estes sistemas coloidais (partículas sólidas com

dimensões entre 10nm-1 m, dispersas num meio liquido continuo) são a base de algumas das

aplicações industriais mais bem sucedidas da tecnologia do sol-gel [35].

1.3.1.1.2 Formação de um gel a partir da hidrólise e policondensação de alcóxidos

metálicos

Nesta variante, a rede que constitui o gel, é formada por ligações cruzadas de cadeias

poliméricas ou clusters de polímeros, resultantes da hidrólise, condensação e policondensação

de precursores em solução [35].

Os géis de sílica são frequentemente sintetizados por este método. Um precursor amplamente

utilizado na preparação de sílica é o TEOS [36]. Devido ao facto da água e os alcoxisilanos

serem imiscíveis, é necessário adicionar um solvente, geralmente um álcool, funcionando como

agente homogeneizador (Figura 9).

Figura 9 – Diagrama de fases ternário Água + Álcool + TEOS [37]

Na hidrólise dos precursores, o átomo de metal sofre um ataque nucleófilo por parte da

molécula da água (7). As reacções seguintes são do alcóxido de silício, TEOS [38]:

(7)

Page 20: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

11

Ao mesmo tempo que esta reacção se dá, tem inicio a reacção de condensação (8). As

reacções podem não ser completas deixando grupos alcoxi ou hidroxilo por reagir.

A condensação de espécies hidrolisadas, dá origem a uma rede polimérica tridimensional que

se estende num meio liquido, e se designada de gel. O líquido (solvente) é removido através de

uma etapa denominada de secagem. O tempo entre a formação do gel e a secagem é

designado por envelhecimento. Nesta fase ocorrem modificações estruturais ao longo do

tempo, em função da temperatura, do solvente e das condições de pH, levando a um aumento

de viscosidade [39].

1.3.1.2 Factores experimentais que influenciam o processo

O método sol-gel permite o controlo da homogeneidade e das características estruturais dos

materiais obtidos, a partir do controlo das condições da reacção.

Factores como a reactividade do precursor, pH, razão (R) [H2O] / [precursor], natureza e

concentração do catalisador, tipo de solvente, contribuem para a obtenção de materiais com

diferentes estruturas, logo com diferentes propriedades [37].

1.3.1.2.1 Reactividade do precursor alcóxido

Os precursores alcóxidos apresentam-se geralmente na formula M(OR)n, onde M representa

catião metálico e o R é o grupo alquilo. Os alcóxidos apresentam elevada reactividade com

água, dando origem a hidróxidos e óxidos correspondentes [40].

A reacção de hidrólise, baseia-se numa substituição nucleófila dos grupos ligados ao átomo

central, como se ilustra na reacção seguinte [33]:

Estes precursores apresentam diferentes reactividades, em função do catião metálico. A

reactividade de alguns precursores varia do seguinte modo [42]:

Si(OR)4<< Sn(OR)4 ~ Al(OR)3< Zr(OR)4<Ti(OR)4

Quanto mais electropositivo for catião metálico, mais susceptível é este ao ataque nucleófilo da

água, pelo que, a reacção de hidrólise é mais rápida. Os alcóxidos de metais de transição,

(8)

(9)

Page 21: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

12

como o Ti, Zr, Al, não necessitam de catalisadores pois a sua reactividade é muito elevada

(são mais electropositivos) [42].

No fabrico de materiais multicomponente, as diferentes reactividades dos precursores, têm de

ser tomas em consideração. Temos duas formas de agir: fazer uma pré-hidrólise, isto é, fazer

reagir primeiro o precursor com menor reactividade e só depois fazer reagir o precursor que

apresenta maior reactividade. Outra maneira é ligar o ião metálico a grupos orgânicos mais

complexos, de forma a diminuir a reactividade dos precursores [28].

1.3.1.2.2 Efeito do pH

Outro factor que influência a técnica de sol-gel é o pH. No caso da sílica, a pH=2, temos o

ponto isoeléctrico, onde as cargas na superfície são nulas logo =0, pelo que se podem

distinguir três estados mais influentes: pH<2, 2<pH<7 e pH>7 [37].

Para pH menor que 2, a reacção de condensação é proporcional á concentração de [H+]. Dado

que o número de espécies de silicatos ionizados é baixo, isto é a solubilidade da sílica é

reduzida, temos a formação e agregação de partículas primárias em simultâneo com a reacção

de condensação.

Quando o pH se encontra entre 2 e 7, a reacção de condensação é geralmente proporcional à

concentração de [OH-]. Os silanóis mais acídicos são os que são desprotonados mais

rapidamente, portanto a reacção de condensação ocorre preferencialmente em espécies mais

condensadas.

No caso em que o pH é maior que 7, ocorre do mesmo modo que o acima referido. No entanto

como as espécies mais condensadas são mais propensas a ser ionizadas, o que as tornam

repulsivas, o crescimento ocorre preferencialmente por adição de monómeros em vez de

ocorrer por agregação de partículas.

1.3.1.2.3. Razão [H2O]/[precursor]

Para a hidrólise do tetraetilortosilicato (Si(OC2H5)4), ser completa são estequiométricamente

necessárias 4 moléculas de água. No entanto, como esta é um dos produtos reaccionais, na

prática só necessitamos de duas, isto é, R (razão [H2O]/[precursor]) é igual a 2. Para valores de

R menores que 2 temos uma cinética de hidrólise elevada, contudo estamos abaixo do valor

que permite a hidrólise completa.

Para valores de R inferiores a 4, temos uma elevada cinética de condensação. Na situação

contrária (R 4) temos uma cinética de condensação elevada. No entanto, como um dos

produtos de reacção é água, pelo princípio de Le Chatelier, corremos o risco de favorecer a

reacção inversa (no caso da hidrólise).

Quando os valores de R são muito elevados, pode ocorrer imiscibilidade água-TEOS.

Idealmente deve-se trabalhar com valores de R entre 2 e 4.

Page 22: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

13

1.3.1.2.4 Natureza e concentração do catalisador

A hidrólise torna-se mais rápida e completa quando são usados catalisadores. Os ácidos

minerais ou amónia são geralmente os catalisadores mais usados, no entanto, podem também

ser utilizados outros, como por exemplo, ácido acético, KOH, aminas, KF, FH, alcóxidos de

titânio e alcóxidos de vanádio. Os ácidos fortes comportam-se de forma similar, enquanto que

ácidos fracos necessitam tempos de reacções mais longos.

Quando as condições são alcalinas, num primeiro passo a água dissocia-se e origina aniões

hidroxilo. Tendo como exemplo um alcóxidos de silício, o anião ataca o átomo de silício. Temos

um exemplo de reacção demonstrada seguidamente:

Figura 10 – Mecanismo de hidrólise em catálise básica [37]

Quando o catalisador é ácido, a cinética da hidrólise é mais afectada com a natureza do

solvente. Um exemplo do mecanismo de hidrólise catalisado por um ácido está esquematiza-se

de seguida:

Figura 11 – Mecanismo de hidrólise em catálise ácida [37]

1.3.1.2.4 Tipo de solvente

Os reagentes utilizados neste processo, a água e o precursor alcóxido, são imiscíveis, pelo que

a mistura é conseguida através da adição de um solvente. O solvente pode ser polar ou apolar.

A polaridade influencia a capacidade de solvência, solventes mais polares são geralmente

utilizados para dissolver espécies polares, por exemplo silicatos tetrafuncionais.

A hidrólise é catalisada por iões OH- ou por iões H3O

+, as moléculas de solvente com este tipo

de ligações, reduzem a actividade catalítica em condições ácidas ou básicas respectivamente

[37].

Page 23: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

14

2. Propriedades magnéticas

A magnetite apresenta um comportamento ferrimagnético, abaixo dos 850 K. Esta temperatura

é designada de temperatura de Curie (transição do comportamento ferrimagnético para o

comportamento paramagnético).

Sob a acção de um campo magnético externo, os catiões que ocupam posições intersticiais

tetraédricas alinham os spins dos electrões desemparelhados inversamente com o campo

magnético, enquanto os catiões que ocupam posições intersticiais octaédricas alinham os spins

dos electrões desemparelhados com o campo magnético dando origem a duas sub-redes. [11]

Figura 12 – Alinhamento antiparalelo dos momentos magnéticos numa espinela ferrimagnética:

A) posições tetraédricas; B) posições octaédricas [43]

Uma vez que o número de electrões desemparelhados na sub-rede tetraédrica é distinta do

número de electrões desemparelhados na sub-rede octaédrica, as duas sub-redes apresentam

momentos magnéticos anti-paralelos cuja soma é diferente de zero. Por esta razão, a

magnetite é ferrimagnética. [11]

Para além da temperatura de Curie, a magnetite apresenta uma temperatura característica, a

temperatura de Verwey. A esta temperatura ocorre a transferência de electrões entre os

catiões Fe2+

e Fe3+

, na coordenação octaédrica, abaixo dos 120 K. Esta transição é

característica da magnetite, ocorrendo em sistemas de valência mista [44].

A magnetização de saturação (valor máximo de magnetização que se consegue induzir no

material) da magnetite é 92 emu/g.

A magmite também é ferrimagnética à temperatura ambiente. A sua temperatura de Curie é

difícil de medir, estima-se que o seu valor encontra-se entre 820 K e 986 K. A sua

magnetização de saturação é de 80 emu/g.

A hematite por sua é antiferromagnética (os electrões desemparelhados das duas sub-redes

apresentam momentos magnéticos anti-paralelos, mas, neste caso, a sua soma é nula) abaixo

da sua temperatura de Curie (956 K). Este óxido de ferro apresenta uma temperatura de

Page 24: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

15

transição que permite a sua identificação, essa transição é designada transição de Morin. A

esta temperatura, 260 K, a hematite apresenta um comportamento ferromagnético fraco.

Á nanoescala, os materiais podem exibir propriedades magnéticas diferentes das dos materiais

em maciço. Um exemplo da alteração do comportamento magnético é caso de nanopartículas

de magnetite e magmite menores que um certo diâmetro critico. Quando esta condição se

verifica, as nanopartículas deixam de exibir o comportamento ferrimagnético, passando a exibir

um comportamento superparamagnético à temperatura ambiente. Este comportamento deriva

da existência de direcções cristalográficas preferenciais ao longo das quais os spins são mais

facilmente alinhados, quando aplicado um campo magnético. Este tipo de partículas tem uma

elevada susceptibilidade magnética (são facilmente magnetizadas) [11].

O superparamagnetismo pode ser identificado através das curvas de magnetização. Estas

apresentam três características: coercividade e magnetização nulas e a temperatura de

bloqueio [45]. Após a remoção do campo externo, os momentos magnéticos de cada partícula

orientam-se aleatoriamente, de modo a que o momento total seja nulo, ou seja, a amostra não

apresenta magnetização [46].

Figura 13 – Nanopartículas de Fe (3nm): (a) curva M-H; (b) curvas ZFC e FC [45]

A temperatura de bloqueio (TB), é a temperatura à qual ocorre uma transição. Acima de TB, as

partículas são superparamagnéticas, a baixo, podem ser ferrimagnéticas ou não. A TB é

determinada, através das curvas de magnetização em função da temperatura, com

arrefecimento em campo nulo (ZFC) e arrefecimento no campo de medida (FC) [45].

(b) (a)

Page 25: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

16

3. Parte Experimental

3.1 Síntese de nanopartículas magnéticas

A síntese de nanopartículas magnéticas foi realizada por um processo químico de redução-

precipitação, de acordo com Qu et al [21] (Figura 14). Os reagentes e respectivas propriedades

estão descritos na Tabela 1.

Preparou-se uma solução 2 M de ácido clorídrico (HCl), em seguida dissolveram-se 2,703 g de

cloreto férrico hexahidratado (FeCl3.6H2O) num volume de HCl necessário à sua dissolução

(2,5 mL). A esta solução adicionou-se igual volume de água destilada (solução A). De seguida,

dissolveram-se 0,419 g de sulfito de sódio (Na2SO3) em 3 mL de água destilada (Solução B).

As soluções A e B são misturadas (A B), nesta etapa ocorre uma mudança da cor amarela

para vermelha. A solução (A+B) é então vertida sobre 8,46 mL hidróxido de amónio (NH4OH)

diluído em 125 mL de água desionizada, sob agitação vigorosa. Observa-se a uma nova

mudança da cor, de vermelha para amarela, seguida da formação, quase imediata de um

precipitado preto. O sobrenadante é retirado com uma pipeta de Pasteur (sob o copo é

colocado um íman).

Tabela 1 – Reagentes utilizados na síntese de nanopartículas e nanoestruturas

magnéticas

Produto Função Grau de Pureza

Fornecedor

Cloreto Férrico Hexahidratado (FeCl3.6H2O)

Fonte de Ferro 97% Sigma-Aldrich

Sulfito de Sódio (Na2SO3)

Agente complexante e agente redutor

- Merck

Ácido Clorídrico (HCl)

Solvente 37%

(diluído) Analar

Normapur

Hidróxido de Amónio

(NH4OH) Catalisador

25% (diluído)

J. T. Baker

Água (H2O)

Solvente Bi-destilada Still

Etanol (C2H5OH)

Solvente 99,9% Merck

Tetraetilortosilicato TEOS

(C8H20O4Si) Precursor de SiO2 99,999% Sigma-Aldrich

Page 26: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

17

FeCl3.6H

2O + HCl + H

2O

m(FeCl3.6H

2O)= 2,703 g

c(HCl)=2 M; V=2,5 mL

VH2Odestilada

=2,5 mL

Na2SO

3 + H

2O

m(Na2SO

3)=0,419 g

VH2Odestilada

=3 mL

FeCl3.6H

2O + Na

2SO

3

V=5 mL; C(FeCl3.6H

2O)= 2 M V=3 mL; C(NaSO

3)=1 M

NH4OH + H

2O

VNH4OH

=8,46 mL

VH2Odestilada

=125 mL

Agitação Magnética Vigorosa

Tamb

; v=700 rpm; t=30 min

Recolha do sobrenadante com

pipeta de Pasteur

(com auxilio de íman)

Secagem

T= 45 ºC

Fe3O

4

(precipitado)

Figura 14 – Procedimento experimental da síntese de nanopartículas de Fe3O4 de acordo com Qu et al [21]

Para caracterizar o produto obtido, efectuou-se difracção de raios-X. Dois ensaios foram

realizados. No primeiro a amostra foi analisada tal qual, no segundo foi efectuado após esta ter

sido sujeita a um tratamento térmico. Este teve a finalidade de eliminar grupos hidroxilo (OH) e

aumentar o grau de cristalinidade da amostra. A temperatura inicial foi de 25 oC e foi

aumentando até à temperatura de 500 oC, com uma taxa de aquecimento aproximadamente de

4 oC/min. A amostra permaneceu à temperatura de 500

oC durante duas horas, o arrefecimento

foi efectuado no forno até à temperatura ambiente.

Page 27: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

18

Figura 15 - Tratamento Térmico realizado aos núcleos magnéticos

Tendo em vista a obtenção de nanopartículas monodispersas, introduziu-se uma nova

operação unitária no procedimento, a centrifugação, tal como indica a Figura 16. Esta etapa

tem como finalidade remover todo o reagente em excesso impossibilitando o crescimento das

partículas.

25

75

125

175

225

275

325

375

425

475

525

0 1 2 3 4 5 6 7

Tem

pe

ratu

ra (

oC

)

Tempo (horas)

Tratamento Térmico 500ºC

Page 28: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

19

FeCl3.6H

2O + HCl + H

2O

m(FeCl3.6H

2O)= 27,03 g

c(HCl)=2M; V=25 mL

VH2Odestilada

=25 mL

Na2SO

3 + H

2O

m(Na2SO

3)=3,15 g

VH2Odestilada

=25 mL

FeCl3.6H

2O + Na

2SO

3

V=3 mL; C(FeCl3.6H

2O)= 2 M V=2 mL; C(Na

2SO

3)=1 M

NH4OH + H

2O

VNH4OH

=5,07 mL

VH2Odestilada

=75 mL

Agitação Magnética Vigorosa

Tamb

; v=700 rpm; t=30 min

Recolha do sobrenadante com

pipeta de Pasteur

(com auxilio de íman)

Centrifugação

v= 3000 rpm; t=30 min

2 Lavagens com C2H

5OH

Secagem

T= 45 ºC

Fe3O

4

(precipitado)

Figura 16 – Procedimento experimental da síntese de nanopartículas de Fe3O4 de acordo com

Qu et al [21] modificado

Para avaliar o efeito do envelhecimento nas nanopartículas de magnetite, preparou-se uma

amostra segundo o procedimento esquematizado na Figura 16, em que o tempo de agitação

passou de 30 minutos para 24 horas. Utilizou-se 0,7 g de FeCl3.6H2O (1,29 mL) e 0,108 g de

Na2SO3 (0,86 mL) em 32,25 mL de água destilada e 2,18 mL de NH4OH.

Page 29: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

20

3.2 Síntese de nanoestruturas núcleo/coroa

As nanoestruturas núcleo-coroa foram sintetizadas revestindo os núcleos de magnetite com

sílica amorfa por sol-gel, de acordo com Fu et al [47], cujo procedimento se encontra

esquematizado na Figura 17. Primeiramente 0,28 g de nanopartículas de magnetite foram

misturadas com 22,4 mL de etanol, 5,6 mL água destilada e 0,7 mL de hidróxido de amónio. A

suspensão foi a ultra-sons durante 5 minutos tendo em vista a sua homogeneização. De

seguida foi adicionado lentamente 0,140 ml de TEOS, sob agitação, durante 11 horas. Por fim,

com a ajuda de um íman, o sobrenadante foi retirado e efectuaram-se 3 lavagens

(intercaladas), duas com etanol e uma com água desionizada. A suspensão ficou em etanol.

Fe3

O4

+ C2H

5OH + H

2O + NH

4OH

mFe3O4

=0,28 g

VC2H5OH

=22,4 mL

VH2Odestilada

=5,6 mL

VNH4OH

=0,7 mL

Ultra-Sons

Tamb

; 5 min

TEOS (lentamente)

V=0,140 mL

Agitação

v=700 rpm; t=11 h

Recolha do sobrenadante

com Pipeta de Pasteur

Lavagem

2 com C2H

5OH; 1 com H

2O

Fe3O

4/SiO

2

Figura 17 – Procedimento experimental da síntese de nanoestruturas núcleo-coroa Fe3O4/SiO2

de acordo com Fu et al [47]

Com o objectivo aumentar a desagregação dos núcleos, foram feitas algumas alterações ao

procedimento esquematizado na Figura 17. Introduziu-se a agitação da suspensão antes desta

ir ao ultra-sons. Quando a suspensão foi aos ultra-sons, o tempo de permanência aumentou

para 1 hora. Após a agitação com o TEOS, inseriu-se outra nova etapa, a centrifugação. O

procedimento com as alterações encontra-se ilustrado na Figura 18.

Page 30: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

21

Fe3

O4

+ C2H

5OH + H

2O

m(Fe3O

4)=0,142g

VC2H5OH

=11,2mL

VH2Odesionizada

=2,8mL

VNH4OH

=0,35mL

Agitação Magnética

Tamb

; v= 350rpm; t=7:12min

Ultra-sons

Tamb

; t=1h

TEOS (lentamente)

VTEOS

=0,07mL

Agitação Magnética

v=700 rpm; t=14h

Recolha do

sobrenadante com

auxilio de um iman

Centrifugação

v=5000rpm; t=30min;

3 lavagens: 2 com C2H

5OH, 1 com H

2O

Fe3O

4/SiO

2

Figura 18 – Procedimento experimental da síntese de nanoestruturas núcleo-coroa de

Fe3O4/SiO2 de acordo com Fu et al [47] modificado

As alterações introduzidas no procedimento esquematizado na Figura 18 não se mostraram,

todavia, eficazes. Retiram-se, então, a etapa da agitação antes dos ultra-sons e diminuiu-se a

velocidade da centrifugação de 5000 rpm para 500 rpm. Numa outra tentativa retiramos a etapa

da centrifugação.

Um novo procedimento experimental foi testado, de acordo com Yin e Ge [48] (esquematizado

na Figura 19). Neste procedimento utilizou-se 7,5 mg de nanopartículas de magnetite. Estas

foram misturadas com 6 mL etanol, 0,9 mL de água destilada e 0,3 mL de hidróxido de amónio.

A suspensão foi aos ultra-sons para proporcionar a homogeneização. A adição 0,03 mL TEOS

foi efectuada em três parcelas com intervalos de 20 minutos. Ao fim de cada 20 minutos foi

recolhida uma toma, para posterior análise por TEM. No final dos 60 minutos, a amostra foi

lavada três vezes com etanol.

Page 31: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

22

Fe3O

4 + C

2H

5OH + H

2O + NH

4OH

mFe3O4

=7,5 mg

VC2H5OH

=6 mL

VH2Odestilada

=0,9 mL

VNH4OH

=0,3 mL

Ultra-Sons

Tamb

; t=15 min

TEOS

V=0,03 mL

Agitação Manual

Tamb

; t=20 min

TEOS

V=0,03 mL

Agitação Manual

Tamb

; t=20 min

TEOS

V=0,03 mL

Agitação Manual

Tamb

; t=20 min

Recolha do sobrenadanete

com auxilio de uma pipeta

de Pasteur

Lavagem

3 x com C2H

5OH

Secagem

T=35 ºC; t=15 h

Fe3O

4/SiO

2

Figura 19 – Procedimento experimental da síntese de nanoestruturas núcleo-coroa de Fe3O4/SiO2 de acordo com Yin e Ge [48]

Repetiu-se o procedimento ilustrado na Figura 19, reduzindo a razão Fe3O4/TEOS de 7,5

mg/0,09 mL para 7,5 mg/0,03 mL.

Page 32: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

23

3.3 Métodos de caracterização

Neste trabalho utilizaram-se quatro métodos de caracterização: difracção de raios-X (DRX) e

Espectroscopia de Mössbauer, na caracterização cristalográfica das amostras; Microscopia

Electrónica de Transmissão (TEM) na caracterização das nanoparticulas e nanoestruturas

quanto à morfologia e distribuição tamanhos e, ainda, a Magnetometria, na caracterização

magnética das amostras.

3.3.1 Difracção de raios-X

Os raios-X fazem parte do espectro electromagnético e situa-se no intervalo 0,01-100 Å. Para a

caracterização, o comprimento de onda típico utilizado é 1 Å, pois este é comparável com a

distância interplanar em cristais. A interacção entre os raios-X e a amostra pode resultar na

transferência de energia (dispersão inelástica) e dispersão elástica (conservação da energia).

Esta última é responsável pela difracção [49,50].

A difracção dos raios-X pelo cristal é descrita através da lei de Bragg. Na Figura 20 está

esquematizada a difracção dos raios-X num cristal.

Figura 20 – Difracção de raios-X num cristal [51]

Para que um pico de difracção seja observado, a condição de Bragg terá de ser satisfeita, isto

é, terá de ocorrer interferência construtiva entre os vários feixes difractados por vários planos

de uma mesma família:

dsenn 2

onde é o comprimento de onda da radiação incidente, d representa a distância interplanar e

o ângulo de Bragg.

A difracção de raios-X é uma técnica importante na caracterização da estrutural de sólidos,

nomeadamente, na identificação dos parâmetros de rede, de fases, e o tamanho do cristal [2].

Todos os materiais cristalinos apresentam um padrão de difracção (raios-X difractados pelos

planos hkl, quando a condição de Bragg é obedecida) característico, sendo assim possível

identificar a fase do material. Muitos materiais já foram identificados e a sua identificação

incorporada em base de dados [52]. Na base de dados utilizada, a identificação do material é

Page 33: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

24

feita através das posições dos picos, suas intensidades relativas, e os respectivos planos

(dados pelos índices de Miller, hkl) [53].

O difractómetro de raios-X de pós utilizado para caracterizar as amostras foi um Philips PW

1710 (com monocromador de grafite). Foi utilizada uma ampola de cobre (K 1=1.5406;

K 2=1.5444). Numa primeira fase os parâmetros de trabalho foram os seguintes:

Tensão: 40 kV;

Intensidade: 30 mA;

Ângulo (2 ): 20 º - 80 º

Passo: 0,02 º

Tempo de integração: 2 s

A aquisição de dados foi efectuada com o software PC-APD, versão 3.5 B.

3.3.2 Microscopia Electrónica de Transmissão

O microscópio electrónico de transmissão (TEM) baseia-se na transmissão de um feixe de

electrões através da amostra a analisar [52]. O feixe de electrões é direccionado para a mesma

através das lentes do condensador. Os electrões deflectidos e não deflectidos pela amostra

são focados pela lente objectiva, dando origem a uma imagem intermédia. Esta é ampliada

pela lente magnética do projector. A imagem é observada devido à existência de uma placa de

metal revestida com uma camada fina de um pó fluorescente (detector). Esta quando é

bombardeada por electrões, emite na região do visível [54].

O TEM apresenta diferentes modos de funcionamento. Podemos trabalhar no modo de imagem

ou no modo de difracção [55].

Figura 21 – Modos de funcionamento do TEM: modo de imagem e modo de difracção [56]

O modo de imagem mais usado é designado por campo claro (bright field- BF), onde se usa o

feixe de electrões que atravessa a amostra. Um outro modo que muitas vezes de serve de

Page 34: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

25

complemento à imagem em BF, é o modo em campo escuro (Dark Field – DF). Este tipo de

imagem é formado através do feixe que é difractado [55].

No modo de difracção, o mais usado é o SAED [57]. Quando um feixe de electrões é

transmitido por uma amostra cristalina, parte deste deixe é difractado pelos planos paralelos ao

feixe de electrões. Assim um padrão de difracção é produzido, fornecendo informação sobre a

estrutura cristalina da fase envolvida [58].

Com o TEM também se pode efectuar a análise química semi-quantitativa da amostra. Para tal,

podemos recorrer aos raios-X que são emitidos pela amostra, pelo método de Espectroscopia

de Energia Dispersiva (EDS). Estes raios-X apresentam energias bem definidas, que são

características dos átomos presentes na amostra [59]. Outro processo que se utiliza para

análise elementar da amostra é o EELS (Electron Energy Loss Spectroscopy). Este baseia-se

na transferência de energia dos electrões do feixe para os átomos da amostra. A perda de

energia dos electrões, através da dispersão inelástica, é característica dos elementos

presentes na amostra. Através da medição da perda de energia, podemos analisar a

composição química dos materiais presentes na amostra [60].

O TEM utilizado neste trabalho foi um Hitachi H-8100. A tensão utilizada foi de 200 kV. Para

analisar as amostras, colocou-se uma gota de suspensão numa grelha de cobre e esperou-se

alguns minutos para evaporação do meio suspensor (etanol).

3.3.3 Espectroscopia de Mössbauer

A espectroscopia de Mössbauer baseia-se em transições nucleares, onde ocorre absorção

ressonante de radiação gama emitida por outro núcleo gama-emissor [61].

No período pré-Mössbauer, considerava-se que o núcleo era livre. Quando este decai de um

estado excitado para o estado fundamental, de energia E0, há emissão de raios- com energia

E . Associado a esta emissão está o recuo do núcleo (de energia ER) [62].

Figura 22 - Emissão e absorção de raios- por parte dos núcleos [63]

Mössbauer, em 1958, descobre que o núcleo num sólido, por vezes emite ou absorve raios-

sem ocorrer recuo do mesmo, se este se encontra numa matriz sólida [62]. Nesta situação, a

energia de recuo é transformada em vibrações da rede cristalina (fonões). Quando a energia

Page 35: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

26

de recuo é inferior à energia dos fonões, ocorre emissão e absorção da radiação sem haver

recuo dos núcleos. Este fenómeno é designado de efeito de Mössbauer [63].

Na espectroscopia de Mössbauer é utilizado um isótopo radioactivo (fonte) num estado

excitado e um material a ser analisado, que contém o mesmo isótopo. O isótopo mais estudado

é o 57

Fe, na qual a fonte radioactiva é o 57

Co. A captura de um electrão por parte do 57

Co faz

com o 57

Fe fique num estado metaestável, sofrendo de seguida o decaimento para o estado

fundamental, com emissão de raios- (14,4 keV). A Figura 23 ilustra este mecanismo [64].

Figura 23 – Efeito de Mössbauer do isótopo 57

Fe [65]

Em espectroscopia de Mössbauer é utilizada uma fonte, o detector, entre outros componentes

electrónicos. A fonte move-se em direcção à amostra com velocidade em mm/s. Esta

velocidade aumenta a energia dos fotões emitidos. O detector pode posicionar-se em relação à

amostra, de diferentes modos. Geralmente os mais utilizados são o modo de transmissão e

reflexão, esquematizada na Figura 24 [66].

Figura 24 – Exemplo de geometrias utilizadas: (a) transmissão; (b) reflexão [66]

(b)

(a)

Page 36: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

27

Um espectro de Mössbauer apresenta diferentes picos de absorção. A intensidade relativa,

posição e tamanho destes, estão relacionados com as interacções hiperfinas que afectam os

núcleos da amostra [67]. Através do espectro de Mössbauer calculam-se três parâmetros: o

desvio isomérico, o desdobramento quadrupolar e desdobramento magnético [68].

Em geral, os ambientes em torno dos átomos da fonte e da amostra são distintos, o espectro

de absorção não se encontra centrado no zero de energia relativa. Este desvio é designado de

desvio isomérico ou desvio químico (IS ou ). Este é resultado da interacção electrostática

derivada da sobreposição das distribuições de carga nuclear e electrónica, que resulta num

desvio dos níveis nucleares [66]. Os valores deste desvio são expressos relativamente a um

absorvedor de referência, usualmente o -Fe [68]. O IS dá-nos informações químicas,

nomeadamente mudanças nas densidades electrónicas relacionadas com o tipo de ligações,

processos de oxidação-redução e diferenças de electronegatividade dos ligantes presentes na

coordenação [62].

Quando um núcleo se encontra num nível com spin superior a ½, apresenta uma distribuição

de carga não esférica, pelo que irá ocorrer um desdobramento quadrupolar (QS ou ). No caso

do 57

Fe, o estado excitado (I=3/2), sofre um desdobramento em dois subniveis (mI= ½ e 3/2).

O estado fundamental (I=1/2) apresenta densidade electrónica esférica, pelo que não

apresenta desdobramento quadrupolar [62].

Figura 25 – Efeito do desvio isomérico ( ) e do desdobramento quadrupolar ( ) no espectro de Mössbauer. Adaptado de [64]

No núcleo, quando sujeito a um campo magnético, ocorre interacção magnética hiperfina,

resultando num acoplamento dos momentos magnéticos nucleares do estado fundamental e

estado excitado. Desta interacção resulta o desdobramento total dos níveis nucleares em 2S+1

subníveis. Este desdobramento designa-se desdobramento magnético (MS) [62]. A Figura 26

ilustra o efeito do desdobramento magnético nos níveis nucleares do 57

Fe.

Page 37: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

28

Figura 26 – Efeito do desdobramento magnético nos níveis nucleares do 57

Fe. Adaptado de [64]

Os espectros de Mössbauer podem ser usados na identificação e caracterização dos óxidos de

ferro [11]. Através dos parâmetros IS e QS consegue-se identificar o estado de valência e a

coordenação Fe [66]. O MS permite saber se amostra é magnética [64].

As medidas de Mössbauer foram realizadas à temperatura ambiente em modo de transmissão.

Foi usado um espectrómetro de aceleração constante e uma fonte de 57

Co numa matriz de

ródio (Rh). Os espectros foram analisados no software WinNormos.

3.3.4 Magnetometria

Os diferentes óxidos de ferro podem ser caracterizados pelas suas propriedades magnéticas.

[11] A magnetização (definida mais a frente) é medida com um instrumento designado de

magnetómetro. Existem diversos tipos de magnetómetros, um exemplo é o magnetómetro

SQUID [69].

3.3.4.1 Magnetómetro SQUID (Superconducting Quantum Interference Device)

O SQUID é um tipo de magnetómetro onde um campo magnético induz uma corrente eléctrica,

num circuito supercondutor fechado. Possui uma sensibilidade em momento magnético de 10-12

Am2. O princípio de funcionamento baseia-se em dois fenómenos, a quantificação de fluxo

magnético e o efeito de Josephson. Este efeito ocorre quando duas partes de um material

supercondutor são unidas através de uma camada isolante. Esta junção é designada de junção

Josephson. Os pares de electrões (pares Cooper) conseguem atravessar essa camada,

produzindo um circuito supercondutor. Este gera um fluxo magnético (múltiplo de 2,07 10-15

Wb) [70].

Page 38: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

29

Existem dois tipos de SQUIDs, o dc-SQUID e o rf-SQUID. No primeiro, o circuito é constituído

por duas partes de material semicondutor, unidas através de duas junções de Josephson,

conectadas em paralelo. O fluxo magnético é gerado por uma bobina que se encontra no

interior do anel [71].

Figura 27 – dc-SQUID: a e b são junções de Josephson, é o fluxo magnético. Adaptado de [71]

O rf-SQUID apresenta apenas uma junção de Josephson, como ilustra a Figura 28.

Figura 28 – rf-SQUID: J é a junção de Josephson, é o fluxo magnético. Adaptado de [71]

A elevada sensibilidade é grande vantagem do SQUID. No entanto, o tempo de uma medição

no SQUID é muito mais lento pois a amostra move-se lentamente [69].

O magnetómetro utilizado nas medidas da magnetização é da Quantum Design, do modelo

MPMS (Magnetic Property Measurement System).

Page 39: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

30

4. Resultados e Discussão

4.1 Síntese de nanopartículas magnéticas

4.1.1 Síntese de nanopartículas magnéticas de acordo com Qu et al [21]

A síntese de nanopartículas magnéticas foi realizada por um processo químico de redução-

precipitação de Qu et al [21] (procedimento ilustrado na Figura 14).

Ao longo do procedimento experimental observaram-se várias mudanças de cor: a adição da

solução de cloreto de ferro à solução de sulfito de sódio, conduziu a uma mudança de cor de

amarelo para vermelho, característica da formação de complexos de ferro do tipo [Fe2(SO3)]4+

.

A adição do complexo à base, conduziu à mudança da cor vermelha para a cor amarela,

indicando o desaparecimento do referido composto, seguida da formação do precipitado preto.

Através de uma análise macroscópica, é possível observar um comportamento magnético do

precipitado (à temperatura ambiente). Para tal colocou-se um íman perto da suspensão. Como

se pode observar na Figura 29, o íman atrai as partículas, alinhando-as com as linhas de

campo magnético.

Figura 29 – Efeito do campo magnético nas nanopartículas sintetizadas: a) ausência de campo

magnético; b) presença de campo magnético

Procedeu-se à caracterização cristalográfica da amostra sintetizada por difracção de raios-X

(DRX), cujo difractograma obtido e a respectiva identificação de planos cristalográficos, se

encontram ilustrados na Figura 30.

Page 40: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

31

20 30 40 50 60 70 80

100

200

300

400

500

600

Inte

nsity (

arb

itra

ry u

nits)

2 Theta (deg.)

Figura 30 – Difractograma das nanopartículas magnéticas sintetizadas

No difractograma obtido identificaram-se os planos cristalográficos característicos da magnetite

e magmite. A individualização destas duas fases não é possível, pois os seus planos

sobrepõem-se. Este facto indica que através da DRX, não é possível garantir que amostra seja

composta unicamente por magnetite. É possível observar no difractograma, um plano (indicado

com uma linha vermelha) que não diz respeito à magnetite, é por tanto uma impureza. Para

além deste factor, é de salientar que o sobrenadante foi retirado com uma pipeta de Pasteur e

com auxílio de um íman. As lavagens também foram efectuadas deste modo, não permitindo a

remoção total da impureza.

Para complementar os resultados obtidos por DRX, analisaram-se as nanopartículas

sintetizadas por espectroscopia de Mössbauer. Os resultados indicam que a amostra sem

tratamento térmico é composta maioritariamente por magmite (90%) e apenas 10% de

magnetite. A elevada percentagem de magmite pode resultar de um fenómeno de superfície

por exemplo da oxidação de Fe2+

superficial da magnetite em Fe3+

e existindo um maior

número de espécies à superfície em nanopartículas, o fenómeno de oxidação é facilitado,

relativamente à situação do maciço.

A Figura 31 ilustra o espectro de Mössbauer obtido para esta a amostra.

220

533

400

511

422

311

440

Page 41: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

32

A linha verde indica a presença de magnetite, pois os parâmetros (IS, QS e MS) obtidos, são

os referenciados para este composto. As linhas laranja e azul claro, dizem respeito à magmite.

Podemos observar que existem dois tipos de magmite. Uma mais pura, no que diz respeito à

coordenação dos seus átomos (linha laranja), pois a largura das bandas é menor, sendo estas

mais bem definidas. A outra fase (linha azul claro) é mais abundante e a estrutura é mais

desordenada. À nanoescala, temos um aumento do número de átomos de superfície,

consequentemente um aumento da razão átomos de superfície/átomos de maciço. Esta

mudança de simetria pode modificar os parâmetros de rede bem como a coordenação dos

átomos [72].

Procedeu-se em seguida à análise da morfologia e distribuição de tamanhos das

nanopartículas magnéticas sintetizadas por TEM. A Figura 32 ilustra as imagens obtidas.

Figura 32 – Imagens de TEM (campo claro) de nanopartículas magnéticas sintetizadas

segundo o procedimento experimental ilustrado na Figura 14

Na Figura 32 podemos visualizar que as nanopartículas apresentam uma elevada

polidispersão, isto é, uma distribuição de tamanhos das partículas. O facto da recolha do

sobrenadante ser efectuada com a pipeta de Pasteur, ficando as nanopartículas num meio com

algum sobrenadante, pode resultar na continuação do crescimento das nanopartículas.

Figura 31 – Espectro de Mössbauer obtido para as nanopartículas magnéticas sintetizadas

Page 42: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

33

Em relação à morfologia, as nanopartículas não apresentam morfologia totalmente esférica.

Este facto acontece, pois a magnetite/magmite são cristalinas, como tal, os cristais apresentam

um crescimento preferencial (magnetite - crescimento preferencial segundo os planos {111};

magmite – crescimento preferencial segundo os planos {101} e {111} [11]).

No que diz respeito à caracterização das propriedades magnéticas, foram efectuadas medidas

de magnetização. Um dos ensaios foi a medição da magnetização em função do campo

magnético aplicado. A curva resultante deste ensaio, efectuado às nanopartículas magnéticas

sintetizadas encontra-se ilustrada na Figura 33.

-60 -40 -20 0 20 40 60

-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

80

-600 -400 -200 0 200 400 600

-40

-20

0

20

40

300 K

35 K

M / e

mu

g-1

H / kOe

Ms =64 emu/g

Figura 33 – Curva de magnetização das nanopartículas magnéticas sintetizadas

Como se pode verificar, para a temperatura 300 K a magnetização é menor do que a 35 K. Tal

facto acontece pois o aumento da temperatura, aumenta a disposição aleatória dos momentos

magnéticos, reduzindo assim a magnetização [73].

Podemos constatar ainda que a magnetização de saturação obtida foi de 64 emu/g. Este valor

de magnetização é aproximadamente 70% do valor da magnetização de saturação da

magnetite (92 emu/g [11]) e 80% do valor da magnetização de saturação da magmite (80

emu/g [11]). Este decréscimo da magnetização de saturação das nanoparticulas em relação ao

material em maciço é devido a efeitos de superfície. No caso das nanopartículas, estas

apresentam um maior número de átomos na superfície relativamente ao número total de

átomos. Os momentos magnéticos dos átomos à superfície encontram-se mais desalinhados

do que os dos átomos do maciço (bulk). Esta disposição aleatória dos momentos na superfície

provoca uma diminuição da magnetização [74].

Foram efectuadas curvas ZFC/FC, arrefecidas em campo nulo e arrefecidas no campo de

medida, respectivamente. Estas curvas representam os valores de magnetização em função da

temperatura e encontram-se ilustradas na Figura 34.

Page 43: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

34

0 50 100 150 200 250 300 350 400

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

zfc

fc

M / e

mu

g-1

T / K

Este comportamento observado na Figura 34, reforça a ideia de que a mistura é ferrimagnética.

Quando a amostra é sujeita ao aumento de temperatura, na ausência de campo (ZFC), a

magnetização vai aumentando. Tal acontece porque com aumento da temperatura os

momentos magnéticos tornam-se cada vez mais alinhados consequentemente a magnetização

torna-se cada vez mais elevada. Ainda nestas condições, é visível uma transição próxima dos

150 K. Esta transição está mais evidenciada na Figura 35. Esta curva foi obtida, subtraindo a

curva ZFC à curva FC.

Figura 35 – Curva elucidativa da transição de Verwey

Na Figura 35, consegue-se identificar que esta transição é a transição de Verwey (122 K),

característica da magnetite. Este resultado está concordante com os resultados da

espectroscopia de Mössbauer, que indica a presença das duas fases (magnetite/magmite).

Figura 34 – Curvas ZFC/FC das nanopartículas magnéticas sintetizadas

0 50 100 150 200 250 300 350 400

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

M / e

mu

.g-1

T/K

Verwey

Page 44: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

35

4.1.1.1 Nanopartículas magnéticas tratadas termicamente

Uma parte da amostra sintetizada em 4.1.1 foi tratada termicamente, a 500 ºC. Após o

tratamento, observou-se uma mudança de cor na amostra, como ilustra a Figura 36.

Figura 36 – Alteração da cor por tratamento térmico: (a) amostra não tratada termicamente; (b)

amostra tratada termicamente

Esta alteração indica o aparecimento de uma nova fase. Para confirmar, foi efectuado um novo

ensaio de difracção de raios-X (Figura 37).

Figura 37 – Difractograma das nanopartículas magnéticas tratadas termicamente (500 ºC)

Na Figura 37, observa-se o aparecimento de três planos (linha vermelha), atribuídos à

hematite.

Para complementar o resultado da DRX, efectuaram-se medidas de espectroscopia de

Mössbauer. A Figura 38 ilustra o espectro de Mössbauer obtido para as nanopartículas

magnéticas tratadas termicamente.

(a) (b)

Page 45: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

36

Figura 38 – Espectro de Mössbauer das nanopartículas magnéticas tratadas termicamente

Podemos observar o aparecimento de uma nova fase (linha vermelha). Os parâmetros de

Mössbauer indicam que a fase nova é a hematite, sendo a sua percentagem 20%. Estes

resultados estão concordantes com o resultado da DRX. Verificou-se ainda o teor de

magnetite/magmite diminuiu.

Terminada a caracterização cristalográfica das nanopartículas magnéticas sujeitas ao

tratamento térmico, procedeu-se à caracterização morfológica e de distribuição de tamanhos

através do TEM.

É visível na Figura 39 que a fracção de amostra que sofreu tratamento térmico, apresenta dois

tipos de morfologia. Uma morfologia idêntica ao que vemos na fracção de amostra que não

sofreu tratamento térmico. A outra morfologia que se observa é uma morfologia em forma de

agulha.

Figura 39 – Imagens de TEM (campo claro) de nanopartículas magnéticas sintetizadas segundo o procedimento experimental ilustrado na Figura 14, tratadas termicamente (500 ºC)

Page 46: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

37

O tratamento térmico resultou no aparecimento da hematite, como evidencia o espectro de

Mössbauer. Esta apresenta uma estrutura rômbica ou hexagonal, diferente da estrutura cúbica

de faces centradas da magnetite e magmite. Para além deste facto, a hematite apresenta

diferentes planos cristalográficos preferenciais, segundo o qual o cristal pode crescer (por

exemplo, {001}, {101}, {110}, {104}, entre outros) [11]. Por estas razões, a morfologia tipo

agulha, que foi potencializada pela temperatura, pode ser da hematite, resultando da

modificação estrutural e/ou dos diversos planos cristalográficos preferenciais que esta fase

apresenta.

Segue-se a análise do comportamento magnético das nanopartículas magnéticas tratadas

termicamente. A Figura 40 ilustra as medidas da magnetização em função do campo

magnético.

-60 -40 -20 0 20 40 60

-60

-40

-20

0

20

40

60

-600 -300 0 300 600-40

-20

0

20

40

Ms =44 emu/g

300 K

35 K

M / e

mu

g-1

H / kOe

300 K

35 K

Figura 40 – Curva de magnetização das nanopartículas magnéticas tratadas termicamente

Pode-se observar que a magnetização diminuiu, sendo o seu valor de 44 emu/g. Esta

diminuição resulta, por um lado da diminuição da percentagem das fases magnetite/magmite,

por outro lado, pelo aparecimento da hematite devido ao tratamento térmico. Esta fase não

apresenta magnetização (pois é antiferromagnética abaixo da temperatura de Morin, a 260 K).

A presença de hematite é reforçada com as curvas ZFC/FC e a curva ZFC (obtida subtraindo a

curva ZFC da parte da amostra com tratamento à curva ZFC obtida para a amostra sem

tratamento térmico), Figura 41.

Page 47: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

38

Figura 41 – (a) Curvas da ZFC/FC da amostra tratada termicamente; (b) Curva elucidativa da

transição de Morin

Pode-se observar na Figura 41-b, uma transição perto dos 260 K. A esta temperatura ocorre a

transição de Morin, que identifica a hematite.

4.1.2 Síntese de nanopartículas magnéticas segundo o procedimento

experimental de Qu et al [21] modificado

Com a finalidade de diminuir a polidispersão das nanopartículas magnéticas, introduziu-se a

operação unitária centrifugação. Para analisar qual o seu efeito, preparou-se uma amostra,

seguindo o procedimento esquematizado na Figura 16, com quantidades superiores.

Seguindo o exemplo das outras amostras, procedeu-se primeiro à análise cristalográfica

através da DRX. Na Figura 42 está inserido o difractograma obtido.

Figura 42 – Difractograma das nanopartículas magnéticas submetidas à centrifugação

O difractograma obtido (Figura 42) revela que a amostra onde foi introduzida a etapa da

centrifugação já não apresenta qualquer impureza, ao contrário da amostra que não foi sujeita

0 50 100 150 200 250 300 350 400

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

zfc

fc

M / e

mu

.g-1

T/K

(a) (b)

220

311

400 422

511

440

533

20 30 40 50 60 70 80

100

200

300

400

500

600

inte

nsity (

a.u

)

2 Theta (deg.)

0 50 100 150 200 250 300 350 400

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

M / e

mu

.g.1

T / K

Morin

Page 48: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

39

à centrifugação (Figura 30). Com este resultado verificamos que a introdução da etapa da

centrifugação veio aumentar o grau de pureza das nanopartículas.

Para uma melhor identificação da fase ou fases presentes na amostra, foi efectuado um ensaio

de espectroscopia de Mössbauer. O resultado obtido encontra-se ilustrado na Figura 43.

Figura 43 – Espectro de Mössbauer das nanopartículas magnéticas submetidas à

centrifugação

Na Figura 43 podemos verificar que a amostra centrifugada apresenta um comportamento bem

diferente em relação à amostra não centrifugada. O espectro experimental foi tratado em

distribuição e apresenta como parâmetros hiperfinos: IS=0,337 mm/s e QS= -0,012 mm/s.

Estes valores são mais próximos dos valores referenciados para a magmite [75]. No entanto

não podemos descartar a hipótese da amostra também conter magnetite. Quando o espectro

apresenta um sexteto, a distinção entre as duas fases é mais fácil, pois os parâmetros de

Mössbauer estão mais bem definidos. Neste caso, devido ao superparamagnetismo, a

presença da magnetite não é tão nítida pois o sexteto, característico desta fase não está bem

definido.

Outro aspecto a salientar é o tamanho das partículas. Uma vez que o espectro de Mössbauer

indica a presença de superparamagnetismo, podemos inferir que o tamanho de partículas é

inferior ao das nanopartículas não centrifugadas.

Este facto foi estudado mais ao pormenor através da análise efectuada por TEM. Na Figura 44

apresentam-se imagens obtidas.

Page 49: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

40

Em relação à morfologia, esta amostra apresenta morfologia semelhante à amostra de

magnetite/magmite não centrifugada (Figura 44). Quanto ao tamanho, esta amostra

(centrifugada) apresenta alguma polidispersão, no entanto a polidispersão é consideravelmente

menor do que a amostra magnetite/magmite não centrifugada. Podemos então constatar que o

objectivo da introdução da centrifugação foi conseguido, i.e., a polidispersão diminuiu. Esta

diminuição deve-se ao facto de que com a centrifugação, garantimos uma melhor recolha dos

reagentes em excesso, interrompendo a formação e o crescimento das mesmas.

A polidispersão ainda existente deve-se ao facto de a amostra não ter sido centrifugada logo

após a finalização da agitação.

Para obter um diâmetro médio das nanopartículas, foram feitas cem medições de diâmetros

(com o software i TEM), obtendo-se um valor de diâmetro médio de 6 nm (dminimo=2,15 nm;

dmáximo=14,95 nm). Estes valores de diâmetros são concordantes com o carácter

superparamagnético identificado no espectro de Mössbauer.

Figura 44 – Imagens de TEM (campo claro) das nanopartículas magnéticas submetidas à centrifugação

Page 50: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

41

Após a caracterização cristalográfica e dimensional, analisou-se o comportamento magnético

das nanopartículas submetidas à centrifugação. Na Figura 45 encontra-se a curva de histerese

obtida.

Figura 45 – Curva de magnetização das nanopartículas submetidas à centrifugação

Observando a Figura 45, podemos verificar que estas nanopartículas magnéticas apresentam

uma curva de histerese à temperatura de 35 K, significativamente menor que as nanopartículas

que não foram submetidas à centrifugação, apresentado superparamagnetismo nas restantes

temperaturas de medidas. Este facto é devido a uma dimensão inferior das nanopartículas.

Este resultado está concordante com os resultados de Mössbauer e TEM obtidos.

Através da medição da magnetização em função da temperatura, obtiveram-se as curvas

ZFC/FC, que se encontram evidenciadas na Figura 46.

Figura 46 – Curvas de ZFC/FC das nanopartículas magnéticas submetidas à centrifugação

Pode-se observar que à temperatura próxima dos 150 K existe um máximo. Para temperaturas

superiores, a magnetização decresce, não havendo ferrimagnetismo. Este facto indica uma

0 100 200 300 4000

2

4

6

ZFC

FC

M /

em

u g

-1

T / K

H = 50 Oe

-60 -40 -20 0 20 40 60-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

80

-300 -150 0 150 300-20

-10

0

10

20

35 K

300 K

350 K

M /

em

u g

-1

H / kOe

Ms =65 emu/g

Page 51: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

42

temperatura de bloqueio e não a transição de Verwey como poderíamos pensar. Até porque

em nanopartículas a distinção entre magnetite e magmite deixa de ser clara.

Quando os diâmetros das partículas são muito pequenos, a barreira energética que orienta os

momentos magnéticos torna-se comparável à energia térmica. Para temperaturas superiores à

temperatura de bloqueio, há flutuações e as orientações dos momentos magnéticos distribuem-

se mais aleatoriamente devido à energia térmica, como consequência a magnetização diminui

[74]. Nesta situação diz-se que a amostra apresenta superparamagnetismo. Este resultado

vem reforçar o resultado obtido por espectroscopia de Mössbauer, que também indica que a

amostra apresenta comportamento superparamagnético.

4.1.2.1 Nanopartículas magnéticas envelhecidas no meio reaccional

A amostra envelhecida em meio reaccional, foi a analisada por DRX, cujo difractograma obtido

encontra-se na Figura 47.

Figura 47 – Difractograma das nanopartículas magnéticas após envelhecimento no meio

reaccional

Pela análise do difractograma podemos concluir que esta amostra é amorfa, pois os picos são

largos e pouco definidos, característicos de um material amorfo. Esta amostra poderá ser um

oxi-hidróxido de ferro.

Efectuou-se um ensaio de espectroscopia de Mössbauer, cujo resultado se apresenta na

Figura 48.

20 30 40 50 60 70 80

100

200

300

400

Inte

nsity (

a.u

)

2 Theta (deg.)

Page 52: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

43

Figura 48 – Espectro de Mössbauer das nanopartículas magnéticas após envelhecimento no

meio reaccional

Como se pode observar esta amostra apresenta um comportamento paramagnético

(temperatura ambiente), pois já não temos sextetos que são resultantes das interacções

magnéticas hiperfinas como em amostras anteriores, mas sim dubletos. Em relação ao dubleto

azul claro os parâmetros hiperfinos são: IS=0,339 mm/s e QS=0,49 mm/s. O dubleto vermelho

apresenta os seguintes parâmetros hiperfinos: IS= 0,34 mm/s e QS= 0,85 mm/s.

Tendo em conta o comportamento paramagnético e a ausência de cristalinidade, esta amostra

pode ser composta por oxi-hidróxidos amorfos.

Através destes resultados podemos supor que o envelhecimento da amostra em meio

reaccional resultou na oxidação dos catiões divalentes, Fe2+

em catiões Fe3+

. Para além deste

facto, a permanência do precipitado no meio reaccional levou à dissolução (ainda que parcial)

de magnetite/magmite, seguida da incorporação de grupos hidroxilo à superfície das

nanopartículas, transformando o óxido num oxi-hidróxido amorfo, como ilustra a DRX (Figura

47). A caracterização morfológica e a dispersão dos tamanhos das nanopartículas, foram

efectuadas por TEM. Na Figura 49 encontram-se imagens das nanopartículas envelhecidas.

Page 53: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

44

Pode-se observar nas imagens que a amostra envelhecida apresenta dois tipos de morfologia,

uma próxima da esférica e outra tipo agulha. No entanto esta morfologia aparece em minoria.

Apesar desta morfologia ser típica de um material cristalino, existe em pouca quantidade não

tendo sido detectada por DRX. Em relação ao tamanho das partículas, fez-se 100 medições de

diâmetros, e o diâmetro médio obtido foi de 4,22 nm (dmínimo=2,03 nm; dmáximo=9,79 nm). Para

as partículas que apresentam morfologia tipo agulha a média foi de 64,19 nm/6,56 nm,

comprimento/largura respectivamente. Neste caso foram efectuadas apenas 9 medições, dada

a quantidade muito inferior de partículas com este tipo de morfologia.

Após a caracterização cristalográfica e morfológica da amostra, segue-se a caracterização

magnética As medidas de magnetização efectuadas, encontram-se ilustradas na Figura 50.

Figura 49 – Imagens de TEM (campo claro) das nanopartículas magnéticas após envelhecimento no meio reaccional

Page 54: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

45

.

Figura 50 – Medidas de magnetização das nanopartículas magnéticas após envelhecimento no

meio reaccional

Através da Figura 50 verifica-se que a amostra não é paramagnética mas sim

superparamagnética. Se a amostra fosse paramagnética, o resulta da magnetização em função

do campo aplicado seria uma recta, o que não é caso. As curvas ZFC/FC indicam uma

temperatura de bloqueio à temperatura de 50 K. Este facto resulta do tamanho das

nanopartículas ser muito reduzido (dmédio=4,22 nm).

Fazendo uma comparação entre esta amostra e a amostra de nanopartículas de

magnetite/magmite, verifica-se que a temperatura de bloqueio é inferior para esta amostra

(envelhecida). Este facto está relacionado com o tamanho das partículas da amostra

envelhecida ser inferior. Quanto mais reduzido for o tamanho das partículas, mais acentuado

ser torna o efeito da energia térmica sob os momentos magnéticos, diminuindo a temperatura

de bloqueio.

4.2 Síntese de nanoestruturas núcleo/coroa

Os núcleos magnéticos seleccionados para a síntese de nanoestruturas foram sintetizados

segundo o procedimento experimental de Qu et al [21] modificado (ilustrado na Figura 16), com

dmédio=6 nm, sem envelhecimento ou tratamento térmico.

Com o intuito de sintetizar nanoestruturas núcleo/coroa, preparou-se uma amostra seguindo o

procedimento de Fu et al [47] (Figura 17). Este procedimento visa revestir com sílica amorfa os

núcleos magnéticos. A Figura 51 ilustra as imagens de TEM obtidas desta amostra.

0 50 100 150 200 250 300 350 400

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

ZFC

FCM / e

mu

g-1

T / K

-60 -40 -20 0 20 40 60

-30

-20

-10

0

10

20

30

300 K

35 K

M / e

mu

g-1

H / kOe

Page 55: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

46

Podemos observar nas imagens, que o objectivo de sintetizar nanoestruturas núcleo/coroa foi

alcançado, isto é, conseguiu-se revestir os núcleos de magnetite com sílica. Consegue-se

também visualizar que algumas nanoestruturas são compostas por vários núcleos. Este facto

indica que as nanopartículas não estavam totalmente desagregadas.

Com o intuito de aumentar a desagregação das nanopartículas, tendo em vista a obtenção de

nanoestruturas apenas com um núcleo, fizeram-se algumas alterações ao procedimento

experimental nomeadamente, a introdução de agitação antes dos ultra-sons, o aumento do

tempo de permanência da suspensão nos ultra-sons e ainda a centrifugação. Na Figura 52

encontram-se imagens de uma amostra preparada segundo o procedimento da Figura 18.

Figura 51 – Imagens de TEM (campo claro) das nanoestruturas núcleo/coroa obtidas de acordo com o procedimento experimental ilustrado na Figura 17

Page 56: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

47

Nas imagens, consegue-se visualizar que não se obteve as nanoestruturas núcleos/coroa

como era esperado. O que quer dizer que as alterações efectuadas não resultaram. Podemos

observar nas imagens que a sílica ficou em torno de um grande aglomerado de nanopartículas

e não à volta de um pequeno número de núcleos. Este resultado poderá estar relacionado com

a agitação antes dos ultra-sons. Nesta fase as nanopartículas poderão não ter ficado bem

dispersas, mesmo após submetermos a suspensão aos ultra-sons. Outro factor que poderá ter

contribuído foi o facto da velocidade (5000 rpm) utilizada na centrifugação ser excessiva, pois

as ligações entre a sílica e a magnetite são ligações de segunda ordem e por tanto esta

velocidade poderá ter contribuído para que a sílica se dispusesse em torno de um grande

aglomerado de magnetite. Como os resultados não foram satisfatórios, resolveu-se eliminar a

agitação antes de submeter a suspensão aos ultra-sons e a redução da velocidade utilizada na

centrifugação para os 500 rpm.

Figura 52 – Imagens de TEM (campo claro) da nanoestrutura sintetizada de acordo com o procedimento experimental ilustrado na Figura 18

Figura 53 – Imagens de TEM (campo claro) da nanoestrutura sintetizada de acordo com o procedimento experimental ilustrado na Figura 18 modificado

Page 57: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

48

Segundo as imagens da Figura 53, continuamos a verificar que a sílica se encontra em torno

de um grande aglomerado de nanopartículas, ou seja, não conseguimos observar as

nanoestruturas núcleo/coroa desejas.

Como os resultados ainda não satisfizeram, fez-se uma nova tentativa. Retirou-se a etapa da

centrifugação.

Figura 54 – Imagem de TEM (campo claro) da nanoestrutura sintetizada de acordo com o

procedimento experimental ilustrado na Figura 18 modificado

A imagem ilustrada na Figura 54 evidencia que mais uma vez não se conseguiu observar as

nanoestruturas núcleo/coroa.

Como tal testou-se o procedimento experimental de acordo com Yin e Ge [48]. Este

procedimento apresenta algumas diferenças em relação ao procedimento de Fu et. al [47],

nomeadamente, a agitação deixou de ser magnética passando a ser manual, a adição de

TEOS é feita espaçadamente (vinte em vinte minutos) e ainda o rácio magnetite/TEOS é

superior. Preparou-se uma amostra seguindo o procedimento esquematizado na Figura 19. Ao

fim de cada vinte minutos (num total de sessenta minutos), fez-se uma toma da amostra para

avaliar qual o efeito da adição dos volumes de TEOS.

Page 58: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

49

Na imagem (a), temos a toma que foi feita ao fim de vinte minutos da primeira adição de TEOS.

Podemos observar que ao fim de vinte minutos conseguimos obter nanoestruturas

núcleo/coroa. Para este facto contribuiu a mudança no tipo de agitação. Com a agitação

magnética, as nanopartículas eram atraídas pelo íman colocado na suspensão, dificultando

assim a dispersão das mesmas. Esta pode ser uma das razões pelo qual no procedimento

anteriormente testado, a sílica ficou em torno de um grande agregado de nanopartículas. Neste

caso a agitação foi manual, conseguindo-se formar as coroas de sílica, não em torno de um

único núcleo, mas em torno de vários núcleos. Após os quarenta minutos, ou seja, a segunda

adição do TEOS, verifica-se que as nanoestruturas estão mais aglomeradas. Isto indica que o

volume de TEOS é excessivo. Ao fim dos sessentas minutos (terceira adição de TEOS), este

facto é mais acentuado. Através destes resultados conclui-se que o revestimento dos núcleos

apenas se dá na primeira adição de TEOS, isto é, quando há superfície para revestir.

(c)

(a)

Figura 55 – Imagens de TEM (campo claro) das nanoestruturas núcleo/coroa sintetizadas de acordo com o procedimento experimental ilustrado na Figura 19: (a) ao fim de vinte minutos; (b) ao fim

quarenta minutos; (c) ao fim de sessenta minutos

(b)

Page 59: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

50

Assim sendo, resolveu-se preparar uma amostra onde o volume de TEOS utilizado

corresponde ao volume da primeira adição (0,03 mL). A adição deste volume foi efectuada em

três parcelas de 0,01 mL a cada vinte minutos. Tal como na amostra anterior, foram efectuadas

tomas da amostra de vinte em vinte minutos. O objectivo é encontrar o rácio magnetite/TEOS,

de modo a obter-se nanoestruturas mais bem definidas e dispersas.

A Figura 56 mostra mais uma vez que o recobrimento das nanopartículas dá-se com a primeira

adição de TEOS (imagem (a)), o restante TEOS adicionado vai aglomerar mais as

nanoestruturas bem como formar partículas secundárias. Como conclusão podemos aferir que

é com a primeira adição de TEOS que se dá o recobrimento. Nas restantes adições, já não há

superfície (de nanopartículas) por recobrir, fazendo com que a sílica cresça sob a forma de

partículas secundárias e/ou formando aglomerados de nanoestruturas.

(a) (b)

(c)

Figura 56 – Imagens de TEM (campo claro) das nanoestruturas núcleo/coroa sintetizadas de acordo com o procedimento experimental ilustrado na Figura 19 modificado: (a) ao fim de vinte minutos; (b) ao fim quarenta

minutos; (c) ao fim de sessenta minutos

Page 60: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

51

No sentido de avaliar qual o efeito da coroa de sílica nas propriedades das nanopartículas de

magnetite/magmite, fez uma análise mais detalhada à amostra da Figura 55-c (nanopartículas

sintetizadas ao fim de sessenta minutos).

Começou-se por analisar a amostra através da DRX. A Figura 57 ilustra os difractogramas da

amostra de nanopartículas com e sem revestimento.

20 30 40 50 60 70 80

NP

NP-REV

2 theta (deg.)

Figura 57 – Difractogramas das nanopartículas magnéticas com e sem revestimento de SiO2

Os difractogramas ilustrados na Figura 57 mostram que a amostra revestida com sílica não

apresenta diferenças em relação à amostra sem revestimento. Este resultado não surpreende

pois a sílica é amorfa, como tal não influencia o resultado da DRX das nanopartículas.

Segue-se a análise por espectroscopia de Mössbauer. A Figura seguinte ilustra os espectros

de Mössbauer da amostra de nanopartículas com revestimento (espectro acima) e da amostra

de nanopartículas sem revestimento (espectro abaixo).

Page 61: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

52

Figura 58 – Espectros de Mössbauer de nanopartículas magnéticas não revestidas (em baixo)

e de nanopartículas magnéticas revestidas com SiO2 (em cima)

É visível na Figura 58 que os espectros referentes à amostra de nanopartículas não revestidas

e à amostra de nanopartículas revestidas são muito semelhantes, o que indica que a coroa de

sílica não altera a coordenação do ferro bem como as suas características magnéticas.

No que diz respeito aos resultados magnéticos, as Figuras 59 e 60 ilustram os resultados da

magnetização em função do campo magnético aplicado e a magnetização em função da

temperatura e em função do campo magnético respectivamente.

Figura 59 – Curvas de magnetização: (a) nanopartículas magnéticas não revestidas; (b)

nanopartículas magnéticas revestidas com SiO2

Na Figura 59 está patente o efeito da coroa de sílica na magnetização das nanopartículas

magnéticas. A magnetização de saturação das nanopartículas revestidas é inferior à

-60 -40 -20 0 20 40 60

-40

-20

0

20

40

-150 0 150 300-20

0

20

300K

35K

M /

em

ug

-1

H / kOe

Ms = 43 emu/g

300K

35K

-60 -40 -20 0 20 40 60-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

80

-300 -150 0 150 300-20

-10

0

10

20

35 K

300 K

350 K

M /

em

u g

-1

H / kOe

Ms =65 emu/g

(a) (b)

Page 62: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

53

magnetização de saturação das nanopartículas não revestidas. Tal acontece pois a coroa de

sílica (material não magnético) vai anular os momentos magnéticos na superfície das

nanopartículas [76].

Figura 60 – Curvas ZFC/FC: (a) nanopartículas magnéticas não revestidas; (b) nanopartículas

magnéticas revestidas com SiO2

Olhando para as curvas M (T) a 50 Oe, podemos verificar que a coroa de sílica não altera o

comportamento superparamagnético das nanopartículas bem como a sua temperatura de

bloqueio.

Fazendo uma análise às curvas M (T,H) das nanopartículas revestidas, verifica-se que quanto

maior o campo aplicado, menor é a temperatura de bloqueio e maior é a magnetização

máxima. A razão pela qual isto acontece deriva do facto de quanto mais forte é o campo

aplicado, mais fácil é alinhar os momentos magnéticos na direcção do campo. Como

consequência temos o aumento da magnetização atingindo-se mais rapidamente a

temperatura de bloqueio.

0 100 200 300 4000

2

4

6 zfc

fc

H=20 Oe

H=50 Oe

M /

em

u g

-1

T / K

H=100 Oe

0 100 200 300 4000

2

4

6

ZFC

FC

M /

em

u g

-1

T / K

H = 50 Oe

(a) (b)

Page 63: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

54

5. Conclusões

O principal objectivo deste trabalho, a síntese de nanopartículas nanoestruturadas

núcleo/coroa superparamgnéticas, foi atingido. Na primeira etapa, as nanopartículas foram

sintetizadas por via química, por um mecanismo de redução-precipitação. Das várias reacções

químicas que conduzem à síntese de nanopartículas magnéticas magnetite /magmite, a

primeira é a formação de um complexo de ferro ao ar. Esta é a razão pela qual este

procedimento não necessita de atmosfera redutora, para evitar a oxidação do Fe2+

a Fe3+

.

Quando se adiciona a base, ocorre rapidamente as reacções de oxidação-redução, referentes

aos pares redox Fe3+

/Fe2+

e S6+

/S4+

. Após o termo destas reacções, forma-se um precipitado

preto, de magnetite/magmite. A caracterização das nanopartículas indica que há uma elevada

polidispersão dos tamanhos, embora a morfologia seja quase esférica para todas as

nanopartículas. Estas nanopartículas apresentam um comportamento ferrimagnético.

Trataram-se termicamente as nanopartículas de magnetite/magmite, o que conduziu formação

de uma nova fase, identificada como hematite, que é antiferromagnética à temperatura

ambiente resultando numa redução da magnetização de saturação.

Para reduzir a polidispersão das nanopartículas, introduziu-se a operação unitária,

centrifugação. Verificou-se que esta operação, para além de reduzir a polidispersão de

tamanhos das nanopartículas, aumentou o grau de pureza das mesmas, pois consegue-se

eliminar impurezas. O facto das nanopartículas apresentarem tamanhos menores (dmédio= 6

nm) resultou no comportamento superparamagnético.

Na segunda etapa, sintetizaram-se nanoestruturas núcleo/coroa. O núcleo corresponde às

nanopartículas de magnetite/magmite previamente preparadas e a coroa é de sílica amorfa.

Para tal testaram-se dois procedimentos. Concluiu-se que existem dois factores determinantes

para se conseguir recobrir os núcleos de magnetite/magmite com sílica. Um dos factores é o

tipo de agitação. Observou-se que com a agitação manual, se conseguiu uma melhor

dispersão das nanopartículas. O outro factor, a adição de TEOS deve ser realizada em

parcelas, e não de uma só vez. Verificou-se que é na primeira adição de precursor que ocorre

a cobertura dos núcleos, sobrando pouca superfície para posterior recobertura. Este facto pode

levar a aglomeração das nanoestruturas e/ou à formação de partículas secundárias.

No que diz respeito às propriedades magnéticas, observou-se que as nanoestruturas

núcleo/coroa mantiveram o comportamento superparamagnético, no entanto, a magnetização

de saturação diminuiu. Este facto resultou da anulação dos momentos magnéticos na

superfície das nanopartículas

A corroboração dos resultados obtidos pelas técnicas de DRX, espectroscopia de Mössbauer e

TEM permitiram confirmar estas conclusões. Do ponto de vista da sua aplicação, estes

materiais podem ser utilizados prioritariamente em nanomedicina, podendo servir de base a

portadores de fármacos, anticorpos, entre outros.

Page 64: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

55

6. Propostas de trabalho futuro

No que diz respeito às nanopartículas de magnetite/magmite seria interessante testar um

surfactante, com por exemplo o quitosano, de modo a diminuir a aglomeração das

nanopartículas. A adição do surfactante poderá permitir:

1. Estudar o comportamento magnético de cada partícula individualmente, caso se

conseguir dispersar as nanopartículas numa matriz não magnética;

2. Caso o surfactante seja compatível com a sílica, conseguir-se sintetizar nanoestruturas

núcleo/coroa apenas com um núcleo.

Na síntese das nanoestruturas núcleo/coroa, sugere-se a optimização do segundo

procedimento testado, nomeadamente, o rácio nanopartículas/TEOS.

A funcionalização das partículas, poderá ser um de tema trabalho futuro.

Poderão ser efectuados testes in vivo de direccionalidade, na presença de um campo

magnético.

Page 65: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

56

7. Referências

1. Wolf, E. L., “Nanophysics and Nanotechnology: An Introduction to Modern concepts in

Nanoscience”, Wiley-VCH, weinheim, 2006;

2. Cao, Z. – “Nanostructures & Nanomaterials: Synthesis, Properties & Applications”,

Imperial College Press, 2004, pág. 3 ;

3. Gu, C.; Xu, H; Park, M.; Shannom, C., “Formation of Metal-Semiconductor Core-Shell

Nanoparticles Using Electrochemical”, Electrochemical Society Transitions, 2008. 16: p.

181-190;

4. Vollath, D., “Nanomaterials: An Introduction to Synthesis, Properties and Applications”,

Wiley-VCH, Weinheim, 2008;

5. Pradeep, T., “Nano: The Essentials”, Tata McGraw-Hill, New Delhi, 2007, pág. 215;

6. Varadan, V. K., Chen, L., Xie, J., “Nanomedicine: Design and Applications of Magnetic

Nanomaterials, Nanosensors and Nanosystems”, John Wiley & Sons Ltd, Chichester,

2008, pág. 18;

7. Jain, K. K., “The Handbook of Nanomedicine”, Humana Press, New Jersey, 2008, pág.

29;

8. Sun, C.; Lee, J. S. H.; Zhang, M., “Magnetic nanoparticles in MR Imaging and Drug

Delivery”, Advanced Drug Delivery Reviews, 2008. 60: p. 1252-1265;

9. Schwertmann, U.; Cornell, R. M., “Iron Oxides in the Laboratory: Preparation and

Characterization”, Wiley-VCH, Weinheim, 2000, pág. 1;

10. Gupin, S. P., “Magnetic Nanoparticles”, Wiley-VCH, Weinheim, 2009, pág 14;

11. Cornell, R. M., Schwertmann, U., “The Iron Oxides”, Wiley-VCH, Second Completely

revised and Extended Edition, Weinheim, 2003, pág. 2;

12. Behrens P.; Baeuerlein, E., “Handbook of Biomineralization: Biomimetric and

Bioinspired Chemistry”, Wiley-VCH, Weinheim, 2007, pág. 160;

13. Schaffer, J. P., Saxena, A.; Antolovich, S. D; Sanders, T. H.; Warner, S. B., “The

Science and Design of Engineering Materials”, McGraw-Hill, 2ªEd., 1999;

14. Jeng, H-T; Guo, g. Y., “First-principles investigations of the electronic structure and

magnetocrystalline anisotropy in strained magnetite Fe3O4”, Physical review B., 2002.

65: 094429 (9pp);

15. Raghavan, V., “Materials Science and Engineering: A First Course”, Prentice-Hall of

India Private Limited, New Delhi, 5ª Ed., 2006, pág. 61;

16. Fonin, M.; Pentcheva, R.; Rüdiger, U.; Güntherodt, G., “Magnetite: a search for the half-

metallic state”, Journal of Physics: Condensed Matter, 2007. 19: p.1-12;

17. Wiesner, M. R.; Bottero, J-Y, “Environmental Nanotechnology: Applications and Impacts

of Nanomaterials”, McGraw-Hill, New York, 2007, pág. 40;

18. Evans, M. E.; Heller, F., “Environmental Magnetism: Principles and Applications of

Enviromagnetics”, Academic Press, California, 2003, pág. 40;

Page 66: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

57

19. Massalski, T. B., “Binary alloys Phase Diagrams”, American Society for Metals, Vol. 1,

1986, USA;

20. Teja, A. S.; Koh, P-Y., “Synthesis, properties, and applications of magnetic iron oxide

nanoparticles”, Progress in Crystal Growth and Characterization of Materials, 2009. 55:

p. 22-45;

21. Qu, S.; Yang, H.; Ren, D.; Kan, S.; Zou, G.; Li, D.;Li, M., “Nanoparticles prepared by

Precipitation from Partially Reduced Ferric chloride Aqueous Solutions”, Journal of

Colloid and Interface Science, 1999. 215: p.190-192;

22. Betterton, E. A., “On the pH-Dependent Formation Constants of Iron(III)-Sulfur(IV)

Transient Complexes”, Journal of Atmospheric Chemistry, 1993. 17: p. 307-324;

23. http://www.ed.gov.nl.ca/edu/k12/evaluation/chem3202/standardreductionpotentials.pdf

(19/08/2010)

24. Lente, G.; Fábián, I., “Kinetics and mechanism of the oxidation of sulfur (IV) by iron (III)

at metal ion excess”, Journal of the Chemical Society Dalton Transactions, 2002. :

p.778-784;

25. Li, X.; Yang, H.; Fu, W.; Wu, C.; Liu, S.; Zhu, H.; Pang, X., “Preparation of low-density

superparamagnetic microspheres by coating glass microballoons with magnetite

nanoparticles”, Materials Science and Engineering B, 2006. 135: p. 38-43;

26. Jolivet, J-P.; Henry, M.; Livage, J., “Metal Oxide Chemistry and Synthesis: From

Solution to Solid State”, Jonh wiley & Sons, Chichester, 2000, pág. 39;

27. Oskam, G., “Metal Oxide Nanoparticles: Synthesis, Characterization and Applications”,

Journal of Sol-Gel Science and Technology, 2006. 37: 161-164;

28. Brantley, S. L.; Kubicki, J. D.; White, A. F., “Kinetics of Water-Rock Interaction”,

Springer, New York, 2008, pág. 292;

29. Zhang, J.; Huang, F; Lin, Z., “Progress of nanocrystalline growth kinetics based on

oriented attachment”, Nanoscale, 2010. 2: p.18-34;

30. Rahaman, M. N.,” Ceramic processing ”, Academic Publishers, Boston 2003, pág. 250;

31. Satcher, J., “Novel Materials from Sol-Gel Chemistry”, Science & Technology Review,

2005. 925: p. 422-7794;

32. Zarzycki, J., “Past and Present of Sol-Gel science and Technology”, Journal of Sol-Gel

Science and Technology, 1997. 8: p. 17-22;

33. Pierre, A. C., “Introduction to Sol Gel processing”, Kluwer Academic Publishers, Boston

1998, pág. 4;

34. Collinson, M. M.,” Sol-Gel strategies for the Preparation of Selective Materials for

Chemical Analysis”, Critical reviews in Analytical Chemistry, 1999. 29(4): p. 289-311;

35. Rahaman, M. N., “Ceramic Processing and sintering”, Marcel Dekker, Inc.,2ªEd, New

York, 2003;

36. Regalbuto, J., “Catalyst Preparation, Science and Engineering”, CRC Press, New

York,2007;

Page 67: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

58

37. Brinker, C. J.; Scherer, G. W., “Sol Gel science: the physics and chemistry of Sol-Gel

processing”, Academic Press, Inc. United Kingdom, 1990;

38. Abd-El-Aziz, A. S.; Jr., C. E. C.; Jr., C. U. P., Zeldin, M-, “Macromolecules Containing

Metal and Metal-Like Elements: Group IVA Polymers”, John Wiley & Sons, Inc., New

Jersey, 2005, pág. 206;

39. Ward, D. A.; Ko, E. I., “Preparing Catalytic Materials by Sol-Gel Method”, Industrial &

Engineering Chemistry Research, 1995. 34: p.421-433;

40. Thomas, I. M., ”Sol-Gel Technology for films, fibers, performs, electronics, and specialty

shapes”, Noyes Publications, Park Ridge, 1988, pág. 3;

41. Fahlman, B. D., “Materials chemistry”, Springer, Netherlands, 2007, pág. 67;

42. Thomas, S.; Zaikov, G. E., “Polymer nanocomposites research advances”, Nava

Science Publishers, Inc., New York, 2008, pág. 164;

43. Chiang, Y-M; Binie III, D.; Kingery, W. D., “Physical Ceramics: Principles of Ceramic

Science and Engineering”, John Wiley & sons, Inc., New York, 1976, pág. 54;

44. McNaught, A. D.; Wilkinson, A.; International Union of Pure; Applied Chemistry,

“Compendium of chemical terminology”, Blackwell Science, 2ªEd, 1997;

45. Sellmyer, D.; Skomski, R., “Advanced Magnetic Nanostructures”, Springer, New York,

2006, pág. 185;

46. Saini, S.; Frankel, R. B.; Stark, D. D.; Ferrucci, J. T., “Magnetism: A Primer and

Review”, American Journal Roentgenology, 1988. 150: p. 735-743

47. Deng, Y-H; Wang, C-C; Hu, J-H; Yang, Fu, S-K, “Investigation of formation of sílica-

coated magnetite nanoparticles via sol-gel approach”, Colloids and Surfaces A, 2005.

262: p. 87-93;

48. Ge, J.; Yin, Y., “Magnetically Tunable Colloidal Photonic Structures in Alkanol

Solutions”, Advanced Materials, 2008. 20: p.3485-3491;

49. He, B. B., “Two-dimensional x-ray diffraction”, John wiley & Sons, Inc., 2009, pág. 13;

50. Lynch, C., “Physico-Chemical analysis of Industrial Catalysts: A Practical Guide to

Characterization”, Editions Technip, Paris, 2001, pág. 1;

51. Ingard, K. U, “Fundamentals of waver and oscillations”, Cambridge University Press,

1988, pág. 340;

52. Putnis, A., “Introduction to mineral science”, Cambridge University Press, Cambridge,

1992, pág. 50;

53. Rohrer, G. S., “Structure and Bonding in Crystalline Materials”, Cambridge University

Press, Cambridge, 2001, pág. 244;

54. Ramesh, K. T., “Nanomaterials: Mechanics and Mechanism”, Springer, New York,

2009, pág. 65;

55. Watt, I. M., “The Principles and Practice of Electron Microcopy”, Cambridge University

Press, 1985, pág. 60;

56. McLaren, A. C., “Transmission Electron Microscopy of Minerals and Rocks”, Cambridge

University Press, Cambridge, 1991, pág. 40;

Page 68: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

59

57. Lamberti, C., “Characterization of Semiconductor Heterostructures and

Nanostructures”, Elsiver B. V., Amsterdam, 2008, pág. 134;

58. Scott, R. A.; Lukehart, C. M., “Application of Physical Methods to Inorganic and

Bioinorganic chemistry”, John Wiley & Sons Ltd., West Sussex, 2007, pág. 146;

59. Reeves, G. M; Sims, I.; Cripps, J. C., “Clay Materials Used in Construction”, Geological

Society, London, 2006, pág. 199;

60. Sawyer, L. C.; Grubb, D. T.; Meyers, G. F., “Polymer Microscopy”, Springer, New York,

3ªEd, 2008, pág. 54;

61. Long, G. J., “Mössbauer Spectroscopy Applied to Inorganic Chemistry”, Plenum Press,

Vol. 1, New York, 1984, pág. 8;

62. Liu, Y.; Shindö, D.; Sellmyer, D. J., “Advanced Magnetic Materials: Characterization and

simulation”, Tsinghua University Press, Vol. 2, 2006, pág. 155;

63. Niemantsverdriet, J. W., “Spectroscopy in Catalysis: as introduction”, Wiley-VCH,

Weinheim, 2007, pág. 122;

64. Dickson, D. P. E.; Berry, F. J., “Mössbauer spectroscopy”, Cambridge University Press,

New York, 1986, pág. 4;

65. Pfannes, H. D.; Filho, J. D.; Magalhães-Paniago, R.; López, J. L.; Paniago, R.,

“Mössbauer Spectroscopy, Superparamagnetism and Ferrofluids”, Brazilian Journal of

Physics, 2001. 31: p.409-417;

66. Dyar, m. D.; Agresti, D. G.; Schaefer, M W.; Grant, C. A.; Sklute, E. C., “Mössbauer

Spectroscopy of Earth and Planetary Materials”, Annual Review of Earth and Planetary

Science, 2006. 34: p.83-125;

67. Roque-Malherbe, R. M. A, “The physical chemistry of materials: energy and

environment applications”, CRC Press, New York, 2010;

68. Bandyopadhyay, D., “Study of materials using Mössbauer Spectroscopy”, International

Materials Reviews, 2006. 51: p. 171-208;

69. Chtchelkanova, A.; Wolf, S. A.; Idzerda, Y., ”Magnetic interactions and spin transport”,

Kluwer Academic/Plenum Publishers, New York, 2003, pág. 328;

70. Blitz, J., “Electrical and Magnetic Methods of Non-destructive Testing”, Chapman &

Hall, London, 2ªEd, 1997, pág. 71;

71. Shmidt, V. V.; Müller, P.; Ustinov, A. V., “The Physics of Superconductors: Introduction

to Fundamentals and Applications”, Springer-Verlag Berlin Heidelberg, New York, 1997,

pág. 89;

72. Lu, A-H; Salabas, E. L.; Schüth, F., “Magnetic Nanoparticles: Synthesis, Protection,

Functionalization, and Application”, Angewandte Chemie International Edition, 2007. 46:

p. 1222-1244;

73. Sergent, J. E.; Krum, A., “Thermal management handbook: for electronic assemblies”,

McGraw-Hill, New York, 1998, pág. 2.22;

74. Gubin, S. P., “Magnetic Nanoparticles”, Wiley-VCH, Weinheirn, 2009;

Page 69: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

60

75. Oh, S. J.; Cook, D. C.; Townsend, H. E., “Characterization of Iron Oxides commonly

formed as corrosion products on steel”, Hyperfine Interactions, 1998. 112: p. 59-65,

pág. 228;

76. Buschow, K. H. J. “Handbook of Magnetic Materials”, Elsevier, vol. 16, 2006, pág. 455;

Page 70: Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina · Nanopartículas Magnéticas para Nanomedicina Ana Rosa Lopes Pimenta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia

61

8. Publicações

A. R. Pimenta, L. M. Fortes, R. M. Almeida, M. Deus Carvalho, L. Ferreira, M. M. Cruz, M.

Godinho and M. C. Gonçalves, “Synthesis of multifunctional magnetic nanoparticles”, J. Phys.

Condens. Mater. (submetido em 2010)

Participação em conferência (poster):

PECS-IX 2010, 9th International Conference on Photonic and Electromagnetic

Crystal Structures, Granada, Espanha, Setembro 2010