memoria,linaje y representación

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MOLLOY, Sylvia. Memoria, linaje y representación. In.: Actos de presencia. México: Fondo de cultura económica, 1996. 1. La autobiografía como historia: una estatua para la posteridad Molloy inicia fazendo uma caracterização da literatura hispanoamericana como uma literatura que tende à lembrança. Fenômeno que se estende desde a literatura do século XIX. Daí que Molly afirme que “Toda ficción es, claro está, recuerdo. La novelística hispanoamericana acepta esa condición general y elige destacarla poniendo de relieve, a menudo dentro del relato mismo, la figura del recordante” (p. 185). Algum individuo da ficção lembra e essas lembranças comumente vêm acompanhadas duma reflexão sobre a memoria. Segundo Molly, esse caráter reflexivo da ficção hispanoamericana falta na autobiografia, determinado pelo lugar que se tem dado à memoria e à escritura autobiográfica em relação com o que a época espera do gênero. A autobiografia do século XIX é um texto vacilante entre a história e a ficção, mas para evitar a ambiguidade, o autobiografo, prefere coloca-o dentro dos limites da história, legitimando seu valor documental. O afã do autobiografo por demostrar o caráter histórico de seu texto é o que coarcta a reflexão sobre as complexidades da memoria,

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Reseña del capítulo Memoria, linaje y representación. In.: MOLLOY, Sylvia. Actos de presencia. México: Fondo de cultura económica, 1996.

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Page 1: Memoria,Linaje y Representación

MOLLOY, Sylvia. Memoria, linaje y representación. In.: Actos de presencia. México: Fondo de cultura económica,  1996.  

1. La autobiografía como historia: una estatua para la posteridad

Molloy inicia fazendo uma caracterização da literatura hispanoamericana como uma

literatura que tende à lembrança. Fenômeno que se estende desde a literatura do século

XIX. Daí que Molly afirme que “Toda ficción es, claro está, recuerdo. La novelística

hispanoamericana acepta esa condición general y elige destacarla poniendo de relieve, a

menudo dentro del relato mismo, la figura del recordante” (p. 185). Algum individuo da

ficção lembra e essas lembranças comumente vêm acompanhadas duma reflexão sobre a

memoria. Segundo Molly, esse caráter reflexivo da ficção hispanoamericana falta na

autobiografia, determinado pelo lugar que se tem dado à memoria e à escritura

autobiográfica em relação com o que a época espera do gênero.

A autobiografia do século XIX é um texto vacilante entre a história e a ficção, mas

para evitar a ambiguidade, o autobiografo, prefere coloca-o dentro dos limites da história,

legitimando seu valor documental. O afã do autobiografo por demostrar o caráter histórico

de seu texto é o que coarcta a reflexão sobre as complexidades da memoria, pois esta é

orientada e condicionada para conseguir determinados propósitos.

Molloy detém-se na produção do Sarmiento para colocar algumas considerações em

torno à autobiografia do século XIX. Em primeiro lugar, emprega a referencia ao Facundo

o Civilización y barbarie para associar o gênero da biografia, muito prezado na época, com

a autobiografia, ao ponto que esta ultima termina sendo o melhor meio da transmissão da

história, e no caso concreto de Hispanoamérica, da nova história nacional. No entanto, há

diferencias entre as duas, enquanto a autobiografia usa a memoria como provedora da

sustância e composição do relato, a biografia apoia-se em documentos. “Más que recordar,

el biógrafo registra un pasado en el que acaso solo participó de manera incidental” (p.190).

Só em duas biografias de Sarmiento esse afastamento da escritura autobiográfica se

quebra. Segundo Molloy, Facundo e Vida de Dominguito são obras biográficas em

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aparência, mas que têm algo muito próximo do desassossego autobiográfico. Por um lado,

Facundo é uma “biografia” que se debate entre uma escritura inspirada, descuidada,

informal, e uma obra com valor documental, não só porque seus informantes assistiram os

atos narrados, senão porque tais fatos estão registrados em documentos públicos e oficiais.

Para Sarmiento sua obra se transforma também em documento.

De outro lado, Facundo é considerado um exercício de vaidade pessoal, ao recriar seu

autorretrato. Recuerdos de provincia, definida por Sarmiento como sua própria biografia,

opera igual que Facundo, “solo que esta vez no hay documento fidedigno, y mucho menos

numerosos documentos oficiales, para dar validez al yo y atestiguar la veracidad del relato”

(p. 193). Mas para dar objetividade e validez histórica a sua autobiografia sustenta que a

historia de seu eu está baseada na resposta e retificação dos documentos que escrevem

sobre ele seus inimigos. Assim, a autobiografia toma a forma de documento público, dotado

de significação histórica, e num testemunho nacional.

Contudo, noutro trecho da autobiografia de Sarmiento, a memoria cobra importância

pela falta de documentos e arquivos que deem conta do passado do seu lugar de origem. “El

ejercicio de la memoria no es tanto privilegio de un sujeto solipsista como deber cívico: se

recuerda para que no se pierda un pasado común” (p.197). A lembrança adquire uma

responsabilidade histórica que restringe sua forma de agir no texto. Isto gera como

consequência uma falta de atenção à infância, assim como uma ausência de especulações

sobre o funcionamento e alcances da memoria.

A seguir Molly coloca a consideração de que “la autorrepresentación es el producto

final, pero es también la figura inicial que rige el desarrollo de la autobiografía. Se recrea el

pasado para satisfacer las exigencias del presente: las exigencias de mi propia imagen, de la

imagen que supongo otros esperan de mí, del grupo al cual pertenezco” (p.199). Isto com o

fim de afirmar que a imagem que Sarmiento procura projetar na sua autobiografia é a do

país que ele deseja fundar junto com a imagem dele como padre da pátria.

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2. Santuarios y laberintos: Los sitios de la memoria

Molloy abre este capitulo afirmando que na autobiografia há uma forte tendência a

escrever como se a memoria do autor contivesse um passado mais amplo do que o próprio.

As lembranças são transmitidas e também expropriadas pelo autobiografo, que ao marcar o

texto com sua subjetividade, apodera-se da imagem do passado. Essa ligação entre memoria

própria e a memoria dos outros marca a escrita de muitas autobiografias

hispanoamericanas.

O autobiografo hispanoamericano tem uma vocação testemunhal, no sentido de que

se acha a única testemunha duma época concluída que só mora em seu relato e que se não é

resgatada está condenada a morrer. Daí a intervenção simultânea de dois tipos de memoria

que se complementam. Uma memoria individual, que guarda detalhes seletos da vida

pessoal, e uma memoria coletiva que deseja preservar o passado de uma comunidade da

qual o autobiografo é membro privilegiado. (Benjamin). “Los recuerdos se vuelven

territorio, la memoria se expande y abarca toda la superficie del país, llega a ser ese país,

suerte de nueva patria en la que la autobiografía manda, como terrateniente convertida en

propietaria del pasado” (p. 215)

Essa associação da lembrança em proveito duma comunidade real o fictícia, leva a

uma sensação particular do espaço. Por isso, Molloy sustenta que há lugares protegidos

para lembrar e desde onde lembrar, nos que se pretendem inscrever os sinais de restauração

comunitária. Esses lugares da memoria estão afastados no tempo e no espaço, fora do

alcance do presente do autobiografo. De modo que todo ato autobiográfico está marcado

por uma distancia temporal e psicológica, “los sitios que reclama la autobiografía para los

ritos de la memoria están fuera de su alcance porque se los ha dejado para siempre atrás o

porque el tiempo los ha desgastado hasta dejarlos irreconocibles” (p.223). Em procura

desse lugar da memoria, o autobiógrafo cria um lugar comum estável para a rememoração.

A forma que adota esse lugar comum é frequentemente a casa familiar.

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Seguindo, Molloy detém-se na autobiografia de Lucio Victorio Mansilla, para apontar

aspectos interessantes de seu trabalho. Em primeiro lugar Mansilla é um caso atípico das

autobiografias hispanoamericanas do século XIX, pois ele começa Mis memorias

perguntando-se sobre o exercício autobiográfico, e coloca em questão a fidelidade da

memoria como instrumento histórico, pois medita sobre o que lembra e como lembra, sobre

o que deve contar e o que vão acreditar.

A autora também encontra na autobiografia de Mansilla um exemplo de lugar comum

para rememorar, pois ele descobre seu locus do eu autobiográfico no território de sua mãe.

Ao não poder visualizar-se dentro dum espaço de memoria próprio, consegue faze-lo no

espaço de outros, neste caso, no espaço de sua mãe.

Sarmiento reescreve sua autobiografia sete anos depois, mudando dados e omitindo

outros, acrescentando informação, e dando importância a fatos que antes nem tinha

mencionado. De modo que as lembranças de Sarmiento adequam-se ás distintas imagens

que quis brindar aos distintos destinatários, oferecendo pessoas autobiográficas diversas em

cada texto, biográfico ou declarado autobiográfico.

3. Primeros recuerdos, primeros mitos: El “Ulises criollo” de José Vasconcelos

A diferença de Sarmiento que aproveita a imagem projetada em Recuerdos de

provincia para apresentar uma figura profética do eu, o politico no qual se transformaria,

Vasconcelos utiliza seu Ulises criollo para olhar retrospectivamente e construir a imagem

de um homem que tivera podido ser presidente de seu país se as circunstâncias tiveram sido

distintas. Ainda que o proposito parecesse distanciar-se, em Sarmiento e Vasconcelos

converge esse interesse por apresentar uma imagem gigantesca de si mesmos, em

correlação com a vida de suas nações.

Além de caracterizar sua autobiografia como uma novela, consciente da natureza

híbrida do texto, por um lado autobiográfica e confessional, e por outro, com alcances

históricos; Vasconcelos pretende localizar sua história de vida no reino do mito, no qual as

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reminiscências do individuo se formulam em procura de uma interpretação comunitária.

“Al querer identificarse con Ulises, Vasconcelos subraya la búsqueda heroica, y al asignar

una identidad nacional a su persona mítica, se presenta a sí mismo dentro de un grupo y

dentro de una tradición” (p.253). Ao definir seu eu autobiográfico como um herói mítico,

Vasconcelos condiciona a recuperação do passado, e a memoria funciona como um espaço

fechado, onde o autobiografo recupera o que perdeu na realidade.

Em Vasconcelos, assim como em Sarmiento e Mansilla a presença materna marca sua

escrita autobiográfica. Mas, em Vasconcelos a figura materna domina o projeto

autobiográfico como volta a um estado intemporal. “La imagen inicial del niño en brazos

de su madre, fundido con ella, se suplementa con una nueva figura que ahora apuntala la

autorrepresentación de Vasconcelos y brinda coherencia al resto de la autobiografía: la

figura del héroe, fundido con una nación que él y su madre soñaron” (p.276) (Sitios

maternales de la memoria).

A primeira lembrança harmoniza com a ideia que o adulto tem de si no presente da

escrita. E se a autobiografia é o retorno às origens, a primeira lembrança tem um valor

mítico, pois representa o verdadeiro nascimento do individuo (Bruno Vercier). A maioria

das primeiras lembranças das autobiografias hispanoamericanas estão marcadas por uma

intensidade emocional, que faz com que sejam violentas. O único que escolhe uma primeira

lembrança positiva é Vasconcelos. “Como él mismo dice, la memoria objetiva palidece ante

la memoria emocional, y, sin duda, esta última es la que almacena los recuerdos. Sin

embargo, no es la memoria emocional sino un claro sentido estratégico lo que explica la

calculada ubicación de esas escenas al comienzo de la autobiografía, dispuestas de tal

manera que inmediatamente sugieren una pauta de interpretación para el resto de la obra”

(p.261). Finalmente Molloy reforça o caráter condicionado e intencional do ato de lembrar

na autobiografia hispanoamericana, mas também põe de releve a necessidade da memoria

de fugir dessas intenções em procura do eu.