jornadas na senda do amor, vol. i

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Neste volume I, são 5 peças teatrais, baseadas nas vidas de importantes bahá’ís que dedicaram suas vidas em promover a Causa Bahá’í que tanto amavam. Tendo em vista a importância dessas pessoas, e que a dramatização e a teatralização nos possibilitam uma maior percepção dos fatos, a sra. Shoghieh sempre tem buscado retratar na dramaturgia alguns bahá’ís que ficaram proeminentes por seus serviços. A autora deseja que este livro possa acender no coração do leitor aquela chama inextinguível que nos faz embarcar em maravilhosas jornadas na senda do amor.

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JORNADAS NA

SENDA DO AMOR

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Shoghieh Shaikhzadeh

Planeta Paz

JORNADAS NA

SENDA DO AMOR

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JORNADAS NA SENDA DO AMORShoghieh Shaikhzadeh

1ª edição: 1997

ISBN 85-320-0027-4

Uma publicação daEDITORA PLANETA PAZC. Postal 19813800-000 - Mogi-Mirim, SPFone/Fax: 019-862.2507

Impressão:ABAETÉ, COPIADORA E GRÁFICA LTDASão Paulo - SP

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“Chegará o dia quando a Causa expandir-se-ácomo um relâmpago, quando seu espírito e seusensinamentos serão apresentados em palcos ouatravés das artes e da literatura como um todo.A arte pode melhor despertar sentimentosnobres, em vez de uma racionalização fria,especialmente entre as massas da população.”

(Carta escrita em nome de Shoghi Effendia um crente individual, 10 de Outubro de 1932)

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À memória do meu queridoesposo, Mohamad Shaikhzadeh,meu companheiro e apoiador noserviço desta Grandiosa Causa.

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“Ó FILHO DA JUSTIÇA!Aonde pode ir o apaixonado senão à terra de sua bem-

amada? E aquele que procura, poderá ele ficar tranqüilolonge do desejo de seu coração?

Para quem ama verdadeiramente, a união é vida, e aseparação, morte. Vazio de paciência está seu peito; privadode paz, seu coração. A miríades de vidas ele renunciaria, afim de se apressar para onde se encontra a bem-amada.”

BAHÁ’U’LLÁH

Em todas as épocas da história humana, podemos teste-munhar a dedicação e o sacrifício de pessoas que abraçaramCausas que iriam transformar a humanidade. Através de seusatos demonstraram ao mundo a grandeza desses ideais.

Desde o início da história da Fé Bahá’í, vemos que no Irã,país berço da Fé, mais de vinte mil pessoas, entre elas homens,mulheres, jovens, idosos e até mesmo crianças, ricos ou pobres,sábios ou iletrados, deram seu sangue em prol desta Causa.Além dos mártires no Irã, muitas outras pessoas, em diversaspartes do mundo, tiveram uma vida inteira de dedicação esacrifícios pela Fé que amavam. Esses heróis abnegadosdavam testemunho, em suas próprias vidas, das palavras deBahá’u’lláh:

Prefácio

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“Seja eu incluído, ó meu Senhor, no número dos queforam tão comovidos pelos suaves odores emanados emTeus dias, que eles ofereceram suas vidas por Ti, apressan-do-se à cena de sua morte, em seu ardente desejo de con-templar Tua beleza, e em seu anseio por atingir Tua presen-ça. E se alguém lhes perguntassem, no caminho: ‘Aondeides?’ — diriam: ‘Vamos a Deus, o Possuidor de tudo, oAmparo no perigo, O que existe por Sí próprio.”

Tendo em vista a importância dessas vidas, e que a drama-tização e a teatralização nos possibilitam uma maior percepçãodos fatos, tenho buscado retratar algumas dessas vidas poresses meios artísticos.

Desejo que este livro possa acender no coração do leitoraquela chama inextinguível que nos faz embarcar em maravi-lhosas jornadas na senda do amor.

Shoghieh Shaikhzadeh

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Agradecimentos

Meus sinceros agradecimentos à nossa Assembléia Espiri-tual Nacional, sempre pronta a apoiar as iniciativas que a co-munidade bahá’í brasileira humildemente oferece no caminhoda Abençoada Beleza.

À minha querida filha Faezeh, por sua valiosa colaboraçãona organização e tradução dos textos, ao meu estimado amigoOsmar Mendes, que desde o início me encorajou na realizaçãodeste trabalho e a todos os amigos que com tanto amor e de-dicação contribuíram para as montagens de cada uma dessaspeças teatrais.

Shoghieh Shaikhzadeh

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ANIS ZUNÚZÍ .................................................................. 15

LEONORA STIRLING ARMSTRONG ..................................... 29

LUA GETSINGER .............................................................. 37

MARTHA ROOT ............................................................... 57

RÚHU’LLÁH ..................................................................... 71

Sumário

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Anis Zunúzí

(— - 1850)

Adaptado da obra“Anis Zunúzí”

de R. Mehrabkhani

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NARRADOR

“Ó Filho da Justiça! Aonde pode ir o apaixonado senãoà terra de sua bem-amada? E aquele que ama, poderá eleficar tranqüilo longe do desejo de seu coração? Para quemama verdadeiramente a união é vida, e a separação, morte,vazio de paciência está seu peito, privado de paz seu cora-ção, a miríades de vidas ele renunciaria a fim de se apressarpara onde se encontra a bem amada.”

As demonstrações de amor e sacrifício dos amantes doBáb são um relato que pena alguma pôde ainda descrever deforma digna. Quando lemos a história da Fé, vemos que milha-res de homens e mulheres, jovens e velhos, ricos e pobres,sábios e iletrados foram de tal modo encantados pelas magné-ticas palavras do Báb, um jovem de 25 anos, que chegaram acantar histórias de amor na hora de seu enforcamento, a pro-nunciar melodias e cânticos na boca do canhão e a dançar comvelas encrustadas por todo o corpo na hora do seu martírio.

Estes mártires, verdadeiramente, viviam no Vale do Amor.O vale do Amor é um vale muito ardente. A entrada neste vale sóé possível para os que possuem coração de leão, não é pararaposas covardes. Neste vale deve-se obedecer a três condiçõesbásicas: Primeiro, o esquecimento de tudo menos de Deus.Segundo, esquecer de si mesmo perante a vontade do Bem Ama-do. E, por fim, suportar todas as aflições no caminho do Amado.

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Neste vale há subidas e descidas, transformações e mu-danças. O juízo dos amantes é sempre variável e miríades deprovas se encontram em cada um de seus passos, até que oenamorado caminhante põe seus pés na etapa do entendi-mento e saboreia a delícia do conhecimento com o paladardo espírito.

Um destes amantes foi Mirzá Muhammad Alí-i-Zunúzí, oqual ficou em tal grau cativo de seu Bem Amado, que era-lhemais gratificante sacrificar sua vida do que se separar do Báb,ainda que fosse por um instante sequer. Desta forma lhe foiconferido pela língua dO Exaltado o título de Anis, o qual sig-nifica companheiro.

Este atributo, além de seu significado aparente, tem, comtoda certeza, um significado mais íntimo. Era esta associaçãoeterna que faria possível que o desprendido jovem encontrasseo “Senhor dos Mundos” e ficasse abraçado por toda a eternida-de ao “Bem Amado das Nações”.

(entra Anis)

ANIS

Nasci em Zunúz, numa aldeia que se encontra na regiãode Adirbayjan, no Irã. Meu pai era um dos eruditos de Zunúze nos últimos anos de sua vida mudamos para Tabríz. Eu era ocaçula dentre os seus três filhos e quando eu tinha dois anos,meu pai faleceu.

Depois de algum tempo, minha mãe casou-se com umerudito sacerdote de Tabríz. Meu padrasto era um homemmuito fidedigno e religioso, de tal forma que todas as pessoasda cidade depositavam nele grande confiança. Ele cuidou denós com muita atenção e se esforçou ao máximo para nos darboa educação.

Assim, eu era um jovem afortunado que havia chegado àposição de sacerdote, contava com o respeito de meus concida-dãos e possuía segurança, riqueza e independência. Me casei efui pai de duas ternas crianças que davam calor ao meu lar.

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(pensativo)Sabem, verdadeiramente não importa a minha vida antes

do reconhecimento da tão sublime Revelação do Báb, Revela-ção esta que transformou a minha vida em chamas.

(com alegria)“Que dias felizes aqueles que passei com o Bem Amado.

O resto da minha vida foi vazio, sem sentido” Foi neste períododa minha vida que O Báb veio à cidade de Tabríz, dando as boasvindas a todos que ansiavam por esta nova Revelação Divina.

(levanta as mãos)Aquela Divina Beleza honrou com Seus passos, por três

vezes consecutivas, a cidade de Tabríz. A primeira vez foiquando Ele estava a caminho da prisão de Mah-Kú. A segundavez que lá esteve, foi vindo da prisão de Chihriq e a caminhonovamente da mesma penosa prisão. E a terceira e última vez,foi para o seu martírio, quando enfim empreendeu o Seu vôoao mundo celestial.

Na primeira viagem, apesar das dificuldades que se colo-cavam diante das pessoas que desejavam encontrar O Báb, al-gumas conseguiram alcançá-Lo e dentre estas pessoas, eu tiveo privilégio de estar.

Este encontro acendeu um fogo na minha alma. Ninguém,ninguém conhece os significados encerrados naqueles olharesdo Bem Amado e as palavras pronunciadas por Ele naquelaocasião. Eu comecei a viver em tal estado de êxtase e felicida-de que alguns chegaram a dizer que eu havia enlouquecido.Tornei-me um cativo do meu Bem Amado. Era muito maisgrato em sacrificar minha vida do que em me separar Dele,ainda que fosse por um instante sequer.

Quando o Amado Báb partiu de Tabríz, indo a Mah-Kú, asaudade no meu coração aumentou ainda mais. Então decidipercorrer montanhas e vales para chegar na presença do meuBem Amado. E quando voltei a Tabríz (pausa, rosto radiante)meu coração estava mais flamejante. Comecei, então, a ensinare me dediquei ardentemente a diálogos com os sacerdotes.

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(com seriedade)Os inimigos da Fé acreditavam que, com o encarceramen-

to e exílio do Báb em Mah-Kú e Chihriq, apagariam a luz deDeus. Porém, a Fé adquiria uma força cada vez mais crescente.Resolveram então afligir e ferir aos amigos de Deus. Assim, nacidade de Tabríz, como em tantas outras, a vida dos babíscorria grande perigo.

(Pausa)(respira fundo)Meus familiares, temerosos por minha vida e vendo que

os conselhos e advertências que me davam não adiantavamnada, (mostrar a porta) me prenderam em um cômodo da casa,impedindo a minha saída. Esta foi a minha primeira aflição nocaminho do meu Bem Amado, mas, com paciência, eu a acei-tei. Naquele quarto solitário, eu comungava com o meu Senhor.Dia e noite estava dedicado à oração e, com o coração ardente,os olhos banhados em lágrimas e a língua pronunciando pala-vras de louvor, dirigia minha face a Chihriq. Tal era o meu graude turbulência, que, à meia-noite, meus lamentos e soluçoseram ouvidos por toda a casa. Por fim, adoeci (vai abaixandoaos poucos até sentar no chão) e a dor do amor fez do meufraco corpo um hóspede do leito.

(sentado no chão, com fraqueza)Certa noite, enquanto estava preso na minha cela, volvi

meu coração ao Báb e lhe implorei com as seguintes palavras:

(levanta a cabeça e as mãos implorando por auxílio divino)‘Tu vês, ó meu Bem Amado, meu cativeiro e desamparo,

e sabes com que ansiedade anelo contemplar Tua face. Com aluz de Teu semblante dissipa a treva que me oprime o coração.’Quantas lágrimas de agonia e dor derramei naquele instante!Senti-me tão tomado de emoção que parecia ter perdido a cons-ciência. De repente ouvi a voz do Báb e, eis que me chamava!Mandou-me levantar.

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(levanta-se e olha firme para a platéia)Contemplei a majestade de Seu semblante ao apresentar-

se diante de mim. Sorria enquanto olhava-me nos olhos.

(rosto radiante)Precipitei-me com rapidez e lancei-me a Seus pés.

(voz firme)‘Regozija-te’, dizia-me, ‘aproxima-se a hora em que, nes-

ta mesma cidade, serei suspenso diante dos olhos da multidão,e cairei vítima do fogo do inimigo.

(pausa)A ninguém escolherei, senão a ti, para participar comigo

da taça do martírio. Assegura-te que esta promessa que te douserá cumprida’.

(com crescente radiância)Senti-me extasiado pela beleza daquela visão. Ao voltar a

mim, senti-me imerso em um oceano de júbilo, um júbilo quetodas as tristezas do mundo não poderiam obscurecer. Aquelavoz continua a ressoar nos meus ouvidos. Aquela visão sobremim paira durante o dia, bem como nas horas da noite. Amemória daquele sorriso esplendoroso já dissipou a solidão daminha prisão. Estou firmemente convencido de que não se podeadiar mais a hora em que há de ser cumprida a Sua promessa.

(pausa)Sabem, depois desta dia, tão grande paz e tranqüilidade se

apoderaram de mim, que minha família com muita alegria esatisfação libertou-me do meu cativeiro. Naqueles dias eu esta-va em outro mundo, não encontrando nenhum familiar, amigoou confidente com quem pudesse compartilhar o segredo queguardava no meu coração.

(com alegria)Em meu lar todos presenciavam a minha alegria, sentiam-

se felizes em ver a minha felicidade.

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(suspirando)Mas que diferença há entre estes dois mundos. Eles esta-

vam felizes porque achavam que eu tinha apagado o meu amorpelo Báb. Mas eu estava feliz por ter ouvido dos lábios do Bába promessa da união.

É claro que eu tinha os mais nobres sentimentos humanospara com os meus familiares. Lógico, eu amava profundamenteos meus dois filhos, queria com ternura a minha jovem esposae tinha grande afeto pelos meus pais.

Mas tais amores, comparados com o amor pelo Bem Ama-do, eram semelhantes à luz da vela frente ao sol do meio dia. Estesol iluminou e deu calor às raízes da minha própria existência.

(pausa)Enquanto todos me achavam um louco, eu também os

considerava loucos. Um dia, um sacerdote me disse que euestava enlouquecendo. Um grande lamento surgiu em meucoração e lhe respondi:

(com espanto)‘Eu não sou louco por haver reconhecido o prometido

Qaím. Louco és tu, que tem negado o Prometido’.(pausa)Sim, não demorou muito para que o Báb, no dia 16 de

junho de 1850, por ordem do primeiro ministro Amír Kabirchegasse na cidade Tabríz e fosse hospedado na residênciadesignada pelo governador. O governador pensava que o propó-sito do Primeiro Ministro era a libertação daquele Santo e lhedispensou o maior dos respeitos tanto no caminho quanto nachegada. Três dias depois foi enviada, pelo antigo soberano, aordem de execução do Báb.

(pausa)Passaram aproximadamente três semanas, desde o recebi-

mento da ordem e a execução do Báb. Neste ínterim, alcanceia presença do meu Bem Amado Báb e recebi as Suas graças.Assim que meu padrasto e meus familiares souberam, imergi-ram novamente no oceano do temor. Meu padrasto, por um

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lado sentia a dor da desonra e, por outro, temia pela minhavida. Ele me escreveu:

(tira uma carta do bolso)“Ó filho degenerado, apesar de que me tens feito vil e

desprezível entre os doutos de Tabríz e já que agora o perigote acerca mais, na qualidade de pai te aconselho e te dou minhabenevolência, dizendo-te que não temas nem te aflijas pelafama de tua associação com o Siyyíd-i-Báb, já que o homem épecador. Tens errado. Mesmo assim as portas do arrependimen-to e remissão estão abertas. Se te arrependeres e pedires cle-mência, tua posição não diminuirá e serás salvo por mim.”

Como eram diferentes o conteúdo desta carta e a minhaforma de pensar. Eu temia que o Bem Amado mudasse a SuaPromessa no último instante e meu pai pedia para não temera conseqüência da minha ação, prometendo aceitar o meuarrependimento.

(guardando carta)Escrevi-lhe uma carta de resposta e na sua margem citei

o seguinte verso do poeta Háfiz:“Sou um amante libertinoe me pedes que me arrependa.Deus me livre de fazê-lo!Deus não o consinta!”

(pausa)Meu padrasto se abalou pelo poder desta resposta. Ele era

um famoso mullá, possuía propriedades e bens e vivia no ápicedo êxito da vida material. Seu desejo era que eu me parecessecom ele, enquanto o meu desejo era ver que ele não sacrificasseuma soberania perdurável por um mundo material.

(pausa) No dia 8 de julho, O Báb rodeado por soldados edespojado da Sua faixa da cintura e de Seu turbante verde, queeram os sinais visíveis da sua descendência direta do profetaMaomé, foi conduzido ao quartel. A cidade de Tabríz estavamergulhada em profunda comoção, a população enchia as ruasdificultando a passagem da comitiva.

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(com firmeza)O Rei dos reis do amor, O Báb, desprovido de Seu cinto e

turbante, caminhava com sublime majestade até a prisão, ador-nado com uma coroa divina e um cinto celestial. Ao se aproximardo quartel, consegui finalmente abrir caminho através da multi-dão e, rompendo a fileira dos soldados, alcancei a proximidadedo Báb, segurei a túnica do meu Bem Amado e lhe disse:

(ajoelhando-se, como se estivesse agarrado à túnica do Báb)“Meu Senhor, não me separes de Ti”.

(levantando-se aos poucos, primeiro o rosto e depois oresto do corpo com alegria)

Ele, sorrindo, tomando-me pelos braços, levantou-me edisse: “Tu estás junto de Mim. Amanhã se atestará o prescrito”.

Neste dia fui aprisionado com dois outros jovens, namesma cela de Aqá Siyyid Husayn, o amanuense do Báb. Aotodo, éramos cinco pessoas. Ficamos em uma das celas doquartel militar enquanto quarenta soldados foram colocados emcima dos terraços e ao redor do calabouço a fim de nos vigiar.

O Báb passou a noite na cela junto conosco e sussurroumelodias de amor nos ouvidos daquela companhia de fiéis atéo último momento. Óh, mas as provações divinas estão sempreconosco e nos testam até o último instante de nossas vidas.Assim, naquela noite, aquele Santo, volvendo a Face para osseus discípulos e com a intenção de prová-los e dar uma liçãoà humanidade, dirigiu-nos as seguintes palavras:

“Amanhã será o dia do Meu martírio. Oxalá um de vós selevante agora e, com as próprias mãos, possa pôr fim à Minhavida. Prefiro morrer nas mãos de um amigo que nas do inimigo.”

Quão grandiosas foram tais palavras e quão sublime aprova. Como era possível imaginar que um fiel amante pudes-se, com as próprias mãos, levar à morte um Enviado de Deus?

(pausa)Ao ouvir este pedido, os presentes ficaram completamente

perplexos sem saber o que fazer e começaram a chorar amar-

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gamente. Mas (levanta) eu levantei, tirei minha faixa da cintura(tira faixa) e exclamei: “qualquer que seja o Teu desejo, assimo cumprirei.”

(pausa)Eu tinha de obedecer a ordem do Meu exaltado mestre.

(pausa, olha firme para a platéia)O Báb olhou nos meus olhos e me mostrou um doce sor-

riso, então ouvi a voz melodiosa do Senhor pronunciando “Estemesmo jovem será Meu Anis, será Meu companheiro e ofere-cerá sua vida em Meu caminho.

(pausa)Sim, a benção do meu Mestre me atingiu na manhã se-

guinte. No dia 9 de julho, um guarda veio me levar na presençados sacerdotes para receber minha sentença.

Meu padrasto e os demais membros da minha famíliaperguntavam incessantemente sobre a minha condição e esta-vam cada vez mais desiludidos pela ineficácia das medidas deliberação que tentavam realizar. Por fim compreenderam queeu jamais iria voltar. Foi assim que fizeram sua última tentati-va, desta vez mediante a provocação de meus ternos sentimen-tos para com minha esposa e meus filhos. Minha irmã e mi-nha esposa levaram meu filho de dois anos ao quartel e sereuniram ao meu lado. Ajoelhando-se várias vezes aos meuspés e beijando-me com os olhos cheios de lágrimas, minhairmã lamentou-se: “Irmão, peço-te pelo Alcorão e pelo Profetado fim dos tempos que escondas tua crença no fundo do teuser, como é permitido no Islã. Que te salves do precipício daperdição e favoreça com tua vida a tua esposa e filhos, tuamãe e irmãos.”

(pausa)Ó irmã!Se chovessem espadas no caminho do Amado, levaria o

pescoço erguido.Avançando até encontrá-lo.

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(pausa)Durante anos tenho desejado este momento. Graças a

Deus, por fim alcancei o meu propósito. Sê paciente e agrade-cida, e não te lamentes nem te aflijas. Dentro em breve, pelodecreto do Onipotente e Poderoso Criador, surgirá uma novaraça de homens que nos glorificarão com as melhores lembran-ças e as mais excelsas obras. Se levantarão com alegria e rego-zijo no lugar deste grupo que nos considera merecedores damorte. Eles contemplarão em nossos túmulos e epitáfios o lu-gar de descanso das graças e das confirmações celestiais e atra-vés de nós elevarão ante a corte do Altíssimo suas orações esúplicas. Portanto, não estejas triste.

NARRADOR

Após ter se despedido deles, Anis se dirigiu ao altar dosacrifício. Tirou sua túnica, deixando-a num lado e vestindouma outra nova de cor branca. Como a anelada hora haviachegado, pediu para ser suspenso de tal maneira que todo o seucorpo se situasse na frente de Sua Santidade, O Báb, para assimpoder fixar seus olhos até o último instante naquele formosorosto e converter-se em um escudo protetor Daquela divinaManifestação. Amarraram-no de tal forma que sua cabeça sesituou sobre o peito de seu Amado.

Escreveram que as últimas palavras sussurradas repetida-mente por seus lábios, antes que seu corpo se convertesse naalvorada das balas mortais, foram:

“Ó meu Mestre! Estás contente comigo?”Anis se sacrificou primeiro, para converter-se em nada

depois. Seu ser se desvaneceu em seu Bem Amado, alçando-secomo o vivo testemunho das palavras de Bahá’u’lláh, refletidasnos Sete Vales: “Pois, quando um verdadeiro amante e afá-vel amigo encontra o Ser amado, a irradiação da beleza doAmado e o fogo do coração do amante criarão uma confla-gração que consumirá todos os véus e envolturas, aindatudo o que possua. Mais ainda, seu próprio ser será consu-mido e nada restará senão o Amigo”.

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Leonora Stirling Armstrong

(1897 - 1980)

Baseado em cartas autobiográficase em texto escrito pelo

Sr. Hooper Dunbar

T

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(No palco uma máquina de datilografar sobre uma mesa,uma cadeira, alguns livros, uma pasta com as cartas de‘Abdu’l-Bahá e Shoghi Effendi, uma mala)

(Leonora está em cena, sentada à mesa, quase de costaspara a platéia/música instrumental ao fundo)

NARRADOR

Referindo-se aos portadores da Palavra Divina, Sua San-tidade O Báb proclamou:

“Ó meus queridos amigos! Vós sois nesse dia os porta-dores do Nome de Deus. Vós fostes escolhidos como os re-positórios de Seu Mistério. Cumpre a cada um de vós ma-nifestar os atributos de Deus e exemplificar por vossasações e palavras os sinais de Sua retidão, Seu poder e glória.

Ó Minhas Letras! Vós sois as testemunhas do amanhe-cer do Dia Prometido de Deus. Purificai vossos corações dosdesejos terrenos e deixai as virtudes angélicas serem vossosadornos. Esforçai-vos para que, através de vossas ações,possais dar testemunho da verdade destas Palavras deDeus, e acautelai-vos para que, voltando atrás, Ele “Não vospossa mudar por outros, que não serão iguais a vós” e to-marão de vós o reino de Deus.Não olheis vossas fraquezase debilidades; fixai, sim, vosso olhar no invencível poder do

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Senhor, nosso Deus, o Onipotente.Erguidos em Seu Nome,colocai vossa confiança inteiramente Nele e assegurai-vosda vitória final.”

(pausa)Esta é a história de uma jovem pioneira que em sua vida

exemplificou estas palavras sagradas. Seu nome é Leonora Stir-ling Holsapple Armstrong.

(pausa)

LEONORA (datilografa um pouco, levanta, dá uma caminhadapensativamente)

Nasci na cidadezinha de Hudson, um município de NovaIorque. Meus pais eram bem conhecidos, a minha querida mãe,além de ensinar em uma escola, servia ativamente no serviçosocial.

Porém, a minha infância foi logo ofuscada pela tragédia etristeza, pois a saúde de minha mãe piorava a cada dia. Por fim,quando eu tinha 5 anos, ela faleceu. A morte prematura daminha mãe teve um efeito profundo sobre mim e a minha irmãmais nova, Alethe. (pausa) Jamais tivemos o que se pode cha-mar de um verdadeiro lar. (pausa) Às vezes penso como pude-mos suportar através daqueles anos de nossa infância e adoles-cência igual solidão, igual sofrimento e até crueldade, (pausa)eu não sei. Posso lembrar como, ainda criancinha, sempre ànoite, antes de ir para a cama, me ajoelhava ao lado da camada minha irmã e agoniada, implorava a Deus, com toda a inten-sidade do meu ser, para nos deixar sentir a Sua Presença, SuaProximidade, Sua Proteção. Pouco sonhava, então, de quemaneira aquela oração seria atendida.”

(...pausa...)Mas Ele nos atendeu, quando eu tinha treze anos, a minha avó

materna, a qual chamávamos de “mamãe Stirling”, após longosanos de busca espiritual encontrou e abraçou a Fé Bahá’í. Primei-ro, ela começou a nos ensinar as verdades do Novo Dia. Pouco a

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pouco fiquei muito atraída pela Revelação de Bahá’u’lláh ecomecei a memorizar passagens e orações dos Escritos.

(pausa)Em 1919 tive o privilégio de participar na Convenção

Nacional realizada em Nova Iorque quando as Epístolas doPlano Divino de ‘Abdu’l-Bahá foram desveladas. Óh, como euqueria ser uma pioneira e servir à Causa. Imediatamente, escre-vi ao Mestre, expressando meu desejo de sair para qualquerparte do mundo a fim de difundir a mensagem de Bahá’u’lláh.“Abdu’l-Bahá me mandou então uma carta:

(pega carta que está entre os livros)“Tendes expressado o vosso grande desejo de estar a

serviço do Divino Limiar e curar os enfermos com o Remé-dio Divino - o enfermo que está atormentado com paixão eegoísmo. A doença espiritual é mais severa que a física, poispode ser que a última possa ser convertida, com pouco re-médio, em vigor, enquanto a primeira não será curada pormil remédios conhecidos. Minha esperança é que possaisvos tornar uma médica espiritual.”

(pausa/ balança a cabeça enfaticamente)Minha esperança é que possais vos tornar uma médica

espiritual!

(Espontaneamente)Que desafio! Se esta era realmente a esperança do Mestre

para mim, poderia eu deixar qualquer obrigação me impedir depelo menos tentar cumpri-lá? Mas o único membro da minhafamília que me animava a dedicar a vida na administração doRemédio Divino, isto é, da Fé de Bahá’u’lláh, era a minha avó,a mamãe Stirling.

Foi então, no início de 1920, que li a Epístola do Mestrea Martha Root, elogiando o seu trabalho de ensino na Américado Sul e salientando a importância dele ser continuado poroutros. De imediato, pareceu-me que ali estava a tarefa defini-tiva para mim.

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(Deixa a carta sobre a mesa, com um sorriso)Martha Root veio especialmente a Boston para falar comi-

go. Sabem, o que ela mais enfatizou foi que a chave para o suces-so era o desprendimento. E desprendimento significava renunci-ar à família, às pessoas amigas, ao conforto, à profissão. Signifi-cava a oportunidade de ganhar a benção de “ser pobre em tudoexceto em Deus”. Finalmente, decidi que iria para o Brasil.

Mas aí comecei a pensar nos obstáculos que a minha fa-mília e os amigos colocavam na minha frente. Comecei a dei-xar minha decisão se enfraquecer pois pensava sobre os perigose rigores deste país distante.

(com lamento e tristeza)e eu estaria sozinha, sem amigos e sem saber uma palavra

do português.De repente, tive a idéia de dar uma escapada até Montreal

para consultar com a minha mãe espiritual, a querida MayMaxwell.

(com satisfação)Ela salvou a situação, embora estivesse gravemente enferma,

sentou-se na cama e em tons vibrantes que ainda ecoam na minhamemória, disse: “Leonora, por que esperas? Vá em frente!”

(pausa)“Irei no primeiro navio”, foi a minha resposta.

(Pausa)Assim, no meu coração eu nutria a visão de uma missão

gloriosa, a expansão da luz de Deus. No dia 15 de janeiro de1921 saí de Nova Iorque a bordo do “Vasari”. Na minha bolsa(pega bolsa), eu levava todas as minhas economias, as quaiseram suficientes apenas para as modestas despesas de duassemanas.

Ao chegar ao Brasil, fiquei esperando alguma notícia doSr. Guido Gnochi, o qual morava em Santos. Martha Root tinhaescrito a ele informando sobre a minha chegada.

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Ansiosa, esperei por doze dias sem ter nenhuma notícia evendo minhas escassas economias acabarem, até que veio umtelegrama do Sr. Guido informando que pegasse um navio e oencontrasse na costa de Santos.

(com tristeza)Oh, quando chegamos em Santos presenciei o desembar-

que de todos os passageiros, vendo-os serem carinhosamenteabraçados por seus parentes e depois se retirarem, até não res-tar mais nenhum. Só eu restava no convés (olha para cima)olhando para aquela chuva torrencial. E se esse Guido Gnochinão aparecesse? Para mim ele era apenas um nome.

(pausa)Após o que me pareceu um tempo imenso, lá vinha Guido

(com sorriso) uma pequena figura embaixo de um enormeguarda chuva.

Depois de algum tempo, por intermédio do Guido eu sou-be de um Congresso Nacional de Esperanto a ser realizado noRio. Ele me deu a sugestão de escrever, pedindo permissão paraapresentar um trabalho sobre a Fé em esperanto e eu aceitei.Mas devo confessar, meu desejo secreto era que recusassem omeu pedido pois viajar sozinha ao Rio para tomar parte em umCongresso Nacional de Esperanto me assustava. Além disso, sófazia 3 meses que eu estava no país, e nem o português sabia.

Mas a minha proposta foi aceita e eu não podia fugir, assimestudei minha palestra linha por linha, ou melhor, palavra porpalavra, usando um pequeno dicionário inglês/esperanto que euhavia recebido de presente. Para meu grande alívio, depois queterminei a palestra, o presidente declarou (com sorriso) ter sidoprovado que o esperanto podia ser entendido mesmo quandofalado por pessoas de nacionalidades diferentes e me levou parauma entrevista no jornal. Resultado, na edição de domingo, se nãome engano na primeira página, saiu um artigo com o retrato de‘Abdu’l-Bahá e o meu. E mais tarde toda a palestra foi publicadaem uma revista esperantista de alguns países europeus. Creio queesta foi a minha primeira vitória sobre a minha timidez natural.

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Depois do Rio de Janeiro eu tinha o objetivo de prosseguirpara a Bahia, mencionada por ‘Abdu’l-Bahá nas Epístolas doPlano Divino. Então escolhi Salvador, na Bahia, sendo que viaja-va constantemente percorrendo várias cidades deste imenso país.

Em junho de 1921, ‘Abdu’l-Bahá me escreveu uma epísto-la. Essa Epístola se transformou numa fonte de grande consolopara mim, uma vez que, coincidentemente, chegara no momentoque eu acabara de saber da morte da minha amada avó.

Neste mesmo período, quando eu aguardava com o cora-ção cheio de alegria a primeira visita da minha única irmã,soube da sua morte em um acidente durante o caminho.

(pausa)Ainda naquele mesmo ano de 1921, uma dor profunda me

surpreendeu quando veio a notícia do passamento de ‘Abdu’l-Bahá. Eu desejava tanto encontrá-Lo nesta vida.

(triste)Todas estas notícias partiram muito o meu coração.(com crescente entusiasmo)Mas logo as mensagens do Amado Guardião começaram

a chegar e ele me encorajava a nunca desanimar, mas, sim,redobrar os meus esforços, e orientava-me com sua infalívelsabedoria, seu caloroso encorajamento. Em uma de suas cartas,ele assim escreveu:

(pega carta)“Sinto-me muito afeiçoado ao seu trabalho. Seu nome,

asseguro-lhe, ornamentará os anais da Causa e inspirarámuitos pioneiros bahá’ís no futuro. Você não pode se darconta do esplendor e significado do trabalho que está rea-lizando no presente. Orarei para que possa ser orientada efortalecida pelo espírito do nosso Amado Mestre, que, estoucerto, lhe orientará e cuidará para sustentá-la no seu traba-lho. Persevere e nunca perca o estímulo.

“O amado Guardião havia pedido que eu traduzisse livrose folhetos também para o espanhol. Como não tinha muito

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conhecimento deste idioma, decidi fazer um curso para estran-geiros na Espanha. Porém, ao lá chegar adoeci a tal ponto queeu corria risco de ficar cega de um olho e um diagnóstico er-rado me levou a uma séria operação no nariz, a qual chegou ame abalar tanto que eu pensei que não iria resistir.

Mandei um telegrama a Shoghi Effendi pedindo permis-são para uma visita, a resposta veio imediatamente: “Sejamuito bem vinda.” Com coragem renovada, parti. Passei emHaifa um período de nove inesquecíveis dias como hóspede doquerido Guardião.

Quando voltei à Bahia, embora não tivesse conseguidorealizar o meu plano do curso intensivo de espanhol, conseguiadquirir um pouco mais de conhecimento da língua e assimcompletei a tradução para o espanhol de “Bahá’u’lláh e a NovaEra”, e mais tarde, a pedido do Guardião, traduzi o “Kitáb-i-Iqán”, o Livro da Certeza.

Em 1940, após 19 anos da minha chegada ao Brasil, atra-vés do trabalho de ensino, tradução e serviço social tive a ale-gria de ver formada oficialmente a primeira instituição bahá’íno Brasil, a Assembléia Espiritual Local do Bahá’ís de Salva-dor e tive o privilégio de ser membro daquela Assembléia.

No ano de 1941, casei com um inglês chamado HaroldArmstrong. Ele me deu grande apoio. Durante os próximosanos moramos em diversos lugares do Brasil e criamos váriosfilhos adotivos, o que era um sonho desde a minha infância.

Nos finais dos anos cinqüenta, dei um maior impulso aotrabalho de tradução e aprendi o braile em português. Foi nestaépoca que me mudei para Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais.

(Senta-se novamente, um pouco de costa para a platéia ecomeça a datilografar)

NARRADOR

Em 1961, Leonora teve a alegria de ver estabelecida aprimeira Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

Em 1973, a Casa Universal de Justiça a indicou membrodo Corpo Continental de Conselheiros na América do Sul. Sete

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anos de serviço restaram a Leonora, depois que foi indicadaConselheira. Suas costas se arquearam, curvada por anos e anosde tradução e datilografia, seu pescoço endurecia e tornava-secada vez mais dolorido, porém, antes de moderar os seus esfor-ços Leonora ampliou imensamente as suas atividades e viagens.

Gradativamente a sua saúde levou-a à cama e, durante seusúltimos meses decidiu voltar à Bahia. Na Bahia, os amigosamorosamente lhe prestaram assistência. Ainda na semana finalde sua vida ela reuniu forças para uma última efusão. Amparadana sua cama escreveu a tradução da recém chegada versão in-glesa da Epístola de Cura e da Epístola do Fogo, de Bahá’u’lláh,uma herança final para os seus muitos filhos espirituais.

No dia 17 de outubro de 1980, seu precioso espírito man-samente levantou vôo para o Reino de Abhá. A Casa Universalde Justiça imediatamente telegrafou:

“Corações entristecidos passamento da eminente Leo-nora Stirling Armstrong, Arauta do Reino, amada serva de‘Abdu’l-Bahá, mãe espiritual da América Latina. Seus ses-senta anos de valorosos e devotados serviços para a Causano Brasil, derramam brilho sobre os anais da Fé naquelaterra promissora. Solicitamos serviços memoriais nosMashriqu’l-Adhkárs de Wilmette e Panamá. Recomenda-mos ardentes súplicas no mais excelso santuário para oradiante progresso do seu espírito no Reino de Abhá.”

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Lua Getsinger

(1871 - 1916)

Adaptado da obra“The Flame”

de William Sears e Robert Quigley

T

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(Música instrumental ao fundo)

NARRADOR

Hoje, vamos apresentar uma personagem que se destacoudentro da história da Fé Bahá’í. Ela é Lua Getsinger, Arauta doConvênio. Durante os dias em que a senhora Elen Moore car-regava Lua no ventre, a sua sede de conhecimento estava dire-cionada para a religião. A senhora Moore aproveitava todaoportunidade para falar, fosse em casa, em público, na igreja;e fazia as suas perguntas mas não encontrava respostas. Assim,seu coração estava cheio de angústia e tristeza. Na sua agoniaespiritual orou, fervorosamente, ao Deus Todo-Poderoso:

(Voz feminina)“Ó Deus, se esta criança que estou carregando no ventre

for uma menina, dê-lhe a chance de falar abertamente e desaber a verdade da qual eu, sua mãe, fui privada”

NARRADOR

Sua oração foi respondida, pelo menos, em parte. A crian-ça era uma menina. Seu nome, Lua. Lua Moore nasceu noprimeio dia de novembro de 1871. A infância de Lua foi cheiade espantos e admiração. Suas professoras logo perceberamque estavam lidando com uma criança abençoada. Lua cresceue tornou-se eloquente e talentosa.

ATO I

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(entra Lua)Sua mãe foi estimulada a enviá-la para onde aqueles raros

talentos pudessem ser devidamente desenvolvidos.

LUA

A minha querida mãe, sempre desejando o melhor paramim, ajudou-me a ir para Chicago para estudar arte dramática.Meus amigos ficaram confusos. “Por que Lua, com seu dom,preferiu Chicago à Nova Iorque? Há muito mais futuro emNova Iorque! “ Até eu não sabia porque havia tomado estadecisão, mas toda vez que pensava em ir para Nova Iorque,uma força interior me dirigia para Chicago. Em Chicago, supe-rava meus professores, mas nada me deixava satisfeita. Gradu-almente, percebi que nenhuma carreira, por mais triunfante quefosse, poderia satisfazer o meu interior.

NARRADOR

Toda a vida de Lua tornou-se uma busca pelo Espírito daVerdade. Ia de igreja em igreja, em busca de respostas àquelasperguntas que sua mãe havia plantado há anos em seu coração.Lua tinha somente 22 anos quando a famosa Feira Mundialiniciou-se em Chicago, em 1893. Foi nesta ocasião que o Par-lamento Mundial da Religião reuniu-se e a primeira palavraveio para o mundo ocidental sobre uma nova e maravilhosa Fé.

LUA

Enquanto o Parlamento da Religião se realizava , eu oravaa Deus, O Todo-Poderoso e pedia que Ele me ajudasse a encon-trar a verdade. Enquanto lia o jornal, vi a notícia sobre o Par-lamento da Religião. Naquele artigo meus olhos viram pelaprimeira vez o nome de Bahá’u’lláh. Aquele ia ser um dia degrandes descobertas para mim. Senti uma irresistível urgênciaem visitar um amigo, onde encontrei um desconhecido persa.De repente, comecei a conversar espontaneamente com ele e

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perguntei : “Você ouviu falar do persa Bahá’u’lláh e Sua Fé?”Houve um longo momento de silêncio, ele olhou para mimsorrindo e disse: “Sim, eu sou um seguidor de Bahá’u’lláh.” E,assim, fiz muitas perguntas que foram respondidas com umasimplicidade e clareza que acenderam dentro de mim umachama. Eu estava tão impaciente e ansiosa que o desconhecidome disse que deveria ser paciente e que chegaria o dia em queiria aprender mais sobre esta nova Fé. Fui para casa e orei anoite toda.

De manhã cedo,uma querida amiga bateu à minha porta edisse: “Lua, eu encontrei uma nova e maravilhosa religião. Euacho que é exatamente o que você está buscando”. Agradeci,mas disse a ela que já havia feito uma maravilhosa descobertapor conta própria. Mas a Madame Maartens foi insistente: “Háuma reunião hoje a noite, vá e veja você mesma.”. Eu estavaimpaciente, mas ela havia sido sempre tão companheira que eunão podia desapontá-la, fui ao encontro. Quando cheguei lá, fuiapresentada ao palestrante, meu coração encheu-se de alegria,lá estava o desconhecido na minha frente.

NARRADOR

Durante as semanas de estudo intensivo que se seguiram,Lua estava sempre entre os primeiros a chegar e os últimos apartir. Que dias de emoções eram aqueles! Os questionamentosforam sendo todos respondidos: Sim, Bahá’u’lláh é o retornode Cristo. Sim, Ele cumpriu todas as profecias da Bíblia. Sim,todas as raças são iguais perante Deus. Sim, sim, sim - tinha aresposta de todas aquelas perguntas feitas por sua mãe, enquan-to Lua ainda estava no ventre materno. Gradualmente, todas assuas dúvidas foram removidas. Durante aqueles dias, Lua me-morizou as palavras de Bahá’u’lláh. Ela absorvia cada palavra,sempre buscando uma maior compreensão. Conforme os mesespassavam, o inevitável aconteceu. Lua, mais uma vez, eclipsouo seu professor. Sua insistente demanda por maiores informa-ções sobre Sua gloriosa mensagem foi redobrada.

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LUA

Me foi dito que havia um homem maravilhoso na TerraSanta, o filho de Bahá’u’lláh. Seu nome era ‘Abdu’l-Bahá. Elepoderia responder todas as minhas questões. Oh, se eu pudessealcançá-Lo, seria guiada à nascente desta verdade espiritual!Formamos um grupo de 15 pessoas, dentre os quais estavam aquerida May Maxwell e meu marido, Edward Getsinger. Ne-nhuma palavra poderia trazer maior felicidade ao nosso cora-ção do que a visita ao Mestre. ‘Abdu’l-Bahá vivia na cidade-prisão de Akká e ainda era considerado prisioneiro, assim comoos peregrinos que estavam com Ele. Ele nos disse:

“Esta é a prisão e em uma prisão não se encontra des-canso. Vocês permanecerão nesta prisão conosco e serãocontados como prisioneiros. Em verdade, vocês são meuscompanheiros no serviço ao mundo, e vocês estão na prisãocomo Eu, e em tudo somos companheiros”.

NARRADOR

Esta era a Lua que iria tornar-se a “instrutora-mãe”doLeste, e a “Arauta” do novo-dia que breve alvoreceria na Amé-rica. ‘Abdu’l-Bahá deu-lhe o título persa, Levá, o Estandarte.Ela iria agitar a bandeira do Convênio em várias terras.

(pausa)Chegou o dia que aqueles peregrinos deveriam partir.

Naquela ocasião, dentre as palavras de conforto e inspiraçãoditas por ‘Abdu’l-Bahá, estavam:

“Agora chegou o tempo em que devemos nos separar,mas nossa separação é apenas física, em espírito estamosunidos... Nunca esqueçam isto, olhem um para o outro comos olhos da perfeição; olhem para mim, sigam-me, sejamcomo Eu; não pensem em si mesmos ou em suas vidas, seestão comendo ou dormindo, se possuem conforto, se estãobem ou doentes, se estão com amigos ou inimigos, se estão

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recebendo louvor ou crítica. Olhem para mim, sejam comoeu; vocês devem morrer para si mesmos e para o mundo;assim, nascerão novamente e entrarão no Reino do Céu. Ve-jam como uma vela dá sua luz. Ela oferece sua vida gota porgota, a fim de emitir a chama da sua luz .”

LUA

Apesar das instruções do Mestre serem compassivas e amo-rosas, para mim, deixar a presença de ‘Abdu’l-Bahá era o maiordesastre possível. Eu sentia estar sendo banida da companhia domeu amado Mestre. Sentia que ‘Abdu’l-Bahá mandava-me devolta para ensinar-me paciência. Sabia quão desesperadamenteprecisava aprender esta lição, mas deixar a presença de ‘Abdu’l-Bahá era como sair da luz do sol para entrar na escuridão.

Agora, eu tinha um objetivo, deveria falar com todo omundo sobre Bahá’u’lláh. Oh, Mestre como me encorajastes!Um dia Ele me disse: “Lua, você deve tornar-se corajosa comoTahereh” e me deu uma oração para recitar para alcançar esteobjetivo, mas como eu sabia da glória e grandeza de Tahereh,disse-lhe: “Mestre, isto está além de mim, eu sou muito fraca,cheia de faltas. Se eu orar para ser como ela, Deus saberá queestou mentindo.” ‘Abdu’l-Bahá olhou-me e disse: “Você deve!”E me disse que deveria orar sempre para ser como Tahereh, aqual rompeu com o passado, abandonou o véu, e soprou atrombeta que ajudou a anunciar o Novo Dia de Deus.

NARRADOR

‘Abdu’l-Bahá diversas vezes dissera a Lua: “Dia e noitevocê deve se engajar em difundir os ensinamentos deBahá’u’lláh. Nada lhe será mais proveitoso”. Assim, ela seesqueceu de tudo, exceto do ensino da Palavra de Deus. Começoua semear em todas as partes da América. A vida de Lua tornou-seum exemplo vivo das Palavras de Bahá’u’lláh: “Sê irrestritocomo o vento, enquanto levares a Mensagem de Deus...Elesopra em todas as direções, como ordenado pelo seu Criador.”

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LUA

Um dos desejos mais profundos da minha vida era que umdia me fosse permitido seguir os passos do Mestre, mesmo quefosse por uma distância muito curta. Um dia, estava caminhan-do com ‘Abdu’l-Bahá e alguns amigos, nas brancas areias domar perto de Akká. Eu estava caminhando um ou dois passosatrás do Mestre, quando percebi Suas pegadas naquela areia.

De repente, espontaneamente, comecei a caminhar atrásde ‘Abdu’l-Bahá e a trilhar nos Seus passos, colocando meussapatos um após o outro nas Suas pegadas. ‘Abdu’l-Bahá, semse virar, disse para mim: “O que você está fazendo? “Estouseguindo os Seus passos, Amado Mestre. Sem uma palavra,‘Abdu’l-Bahá continuou caminhando vigorosamente.

De repente, senti uma forte dor no meu tornozelo, quandoolhei para baixo percebi que havia sido picada por um escor-pião. Gritei, mas o Mestre não se virou nem diminuiu Suacaminhada. Continuei andando com grande dificuldade, o tor-nozelo estava inchando rapidamente, a dor era intensa, mascerrando os dentes eu me esforçava para continuar. Quando osofrimento tornou-se quase insuportável, o Mestre virou-Separa mim e disse: “Isto é o que realmente significa seguir osMeus passos”. Assim, mais uma vez, o amado Mestre meensinou a lição do sacrifício no caminho de Bahá’u’lláh.

NARRADOR

Em outra ocasião, chegou uma carta de ‘Abdu’l-Baháonde Ele a convocava para realizar uma de suas missões maisimportantes. Lua ficou surpresa ao abrir a carta do Mestre e verque lá havia outra carta. Era uma carta escrita por ‘Abdu’l-Bahá ao rei da Pérsia que estava em Paris. A carta explicavaque mais uma vez os fanáticos religiosos na Pérsia começavama executar os seguidores da Fé Bahá’í. ‘Abdu’l-Bahá haviaescolhido uma mensageira especial. Apesar de haver muitosbahá’ís em Paris naquela época, foi Lua que vivia na Américaque Ele escolhera como mensageira. Assim que Lua chegou a

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Paris, procurou o Primeiro Ministro da Pérsia.

(Entra o secretário oficial)

SECRETÁRIO OFICIAL

Pois não, a senhora deseja alguma coisa?

LUA (segurando um envelope nas mãos)

Sim, por favor, poderia levar uma mensagem minha paraSua Excelência e me permitiria aguardar a resposta?

SECRETÁRIO OFICIAL

Não, não. De jeito nenhum. Ele não está disposto a rece-ber ninguém pois seu filho está seriamente doente e não hánenhuma expectativa de vida para o menino.

LUA (insiste gentilmente)

Mas você não poderia sequer perguntar-lhe se eu possovê-lo amanhã, caso neste interim seu filho estiver melhor?

SECRETÁRIO OFICIAL (franzindo as sombrancelhas impa-cientemente)

Minha senhora, como estava lhe dizendo, pode ir embora.Já lhe disse que ele não vai falar com ninguém.

NARRADOR

Mas Lua não partiu. Finalmente, o secretário oficial olhou-a mais uma vez. Ela sorriu para ele com paciência amorosa.

SECRETÁRIO OFICIAL (balança os ombros e diz impa-cientemente)

Muito bem. Espere aqui então. (sai)

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LUA

Enquanto o oficial foi trazer uma resposta para mim sobrea audiência com o Primeiro-Ministro, eu orava a Deus, o Todo-Poderoso para que me concedesse a benção de poder cumprira minha missão.

SECRETÁRIO OFICIAL (retorna com um olhar confuso)

O Ministro a verá amanhã. Mas somente sob suas própriascondições!

LUA

Oh, que bom. Muito obrigada. Agradeço muito pela suaatenção.

(Secretário oficial sai de cena)

LUA

Naquela noite em Paris, reunimos tantos bahá’ís quantonos era possível. Quando estávamos reunidos, eu lhes dissesobre minha tarefa.Contei aos amigos como o Mestre me ensi-nou que sempre que temos dificuldades estas serão resolvidasatravés de orações sinceras, como Ele havia ensinado sobre opoder da oração para as dificuldades revelada pelo Báb. E as-sim, durante toda aquela noite tivemos uma vigília de oraçõespelo menino. Na manhã seguinte, retornei ao escritório do Pri-meiro-Ministro.

SECRETÁRIO OFICIAL (entra e recebe Lua com sorriso deboas-vindas)

Ah, a senhora quer uma resposta?

LUA

Como está o menino, está melhor?

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SECRETÁRIO OFICIAL

A crise passou. Ele está bem no caminho da recuperação.

LUA

Que maravilha. Graças a Deus!

SECRETÁRIO OFICIAL

O Primeiro-Ministro já irá recebê-la.

(saem de cena)

NARRADOR

E assim, Lua foi bem sucedida, duas petições alcançaramo rei, uma através da Primeiro Ministro e outra entregue pes-soalmente por Lua. Por algum tempo depois da apresentaçãodestas 2 petições, houve uma notável interrupção nas persegui-ções aos bahá’ís.

LUA (dos bastidores)

Ó, ‘Abdu’l-Bahá como te agradeço. Ó meu Amado Mes-tre, como a persistência que me ensinastes com tanto amor ecomo as orações realizadas com sinceridade com os amigosabriram as portas!

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ATO II

NARRADOR

Em 1908, quando Lua tinha 38 anos, ‘Abdu’l-Bahá foilibertado da prisão. Imediatamente, Ele fez planos para visitaro Ocidente. ‘Abdu’l-Bahá iria mostrar, pessoalmente, o queensinava sobre o que significa levantar-se e ensinar a Causa deDeus. Foi, primeiro, ao Egito, depois à Europa e, posteriormen-te, à América. Um dos mais grandiosos dias de Lua foi quando‘Abdu’l-Bahá chegou à América.

(Lua entra)

LUA

Oh, que dias maravilhosos eu tive com meu amado Mes-tre! Eu não queria ficar longe do meu Bem-Amado nem sequerpor um instante. Lembro-me de um dia quando eu estava emHaifa e me preparava para partir. ‘Abdu’l-Bahá disse sorriden-temente: “Lua, você irá começar a planejar a sua volta para cáassim que chegar na América?”. Então, respondi com honesti-dade: “Não, amado Mestre, eu deverei começar a planejar as-sim que entrar no barco”.

NARRADOR

‘Abdu’l-Bahá passou os meses de junho e julho em NovaIorque. Foram dias de extrema alegria para Lua. No fim de

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49

junho, entretanto, ‘Abdu’l-Bahá chamou Lua e lhe disse quequeria que ela fosse ensinar na Califórnia. Lua ficou frenética.Não queria deixá-Lo. Estava tão ansiosa para ficar com Ele,que frequentemente esquecia-se da lição de paciência que Eleestava tentando ensiná-la.

LUA

Eu fiquei tão desesperada com esta notícia de que ficarialonge de meu Mestre que fui logo visitar minha querida amigaJuliet Thompson, e expliquei-lhe um plano que tinha em mente.

NARRADOR

‘Abdu’l-Bahá havia pedido a Juliet que pintasse um retra-to de Lua. Esta era uma maravilhosa indicação do grande amorque Ele tinha por Lua. Então todo o plano de Lua circundava-se em torno da pintura.

LUA

Juliet! Juliet!

JULIET (entra)

O que aconteceu?

LUA

Juliet, o Mestre pediu para que você pintasse meu retrato,por favor, querida, diga-Lhe que você não pode pintar meuretrato se eu estiver na Califórnia.

JULIET

Ele sabe disso.

LUA

Mas se você lembrá-Lo, talvez Ele ache que é mais impor-tante que eu fique aqui com Ele.

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JULIET

O importante é ser obediente para com o Mestre.

LUA

Eu sou obediente, irei à Califórnia, mas só quando nãopuder mais estar com o Mestre.

JULIET

Lua, Lua... seja obediente.

NARRADOR

Para Juliet, era impossível recusar algo que Lua lhe pedis-se. Então Juliet foi até o Mestre e disse que não poderia pintaro retrato de Lua se ela estivesse na Califórnia. O Mestre riu edisse que Lua retornaria a Nova Iorque em um ano.

JULIET

Lua, querida, o Mestre disse que depois de um ano, quan-do você voltar eu poderei pintar seu retrato. Suas instruçõesfinais foram: “Diga à Lua que vá a Califórnia”.

LUA (depois de um minuto de silêncio)

Sim, obedecerei o Mestre. Mas Juliet você sabe que ama-nhã o Mestre irá para Montclair. Vamos vê-Lo, depois partirei.

JULIET (espantada)

Mas, Lua, nós não podemos fazer isso. Não fomos convi-dadas, além disso você tem de ir à Califórnia.

LUA

Mas, nós temos uma desculpa perfeita. Você tem as provasde todas aquelas fotografias recentes tiradas de ‘Abdu’l-Bahá.Ele deve vê-las, para aprová-las.

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JULIET

Você realmente crê nisso?

LUA

Claro, querida.

(As duas saem de cena)

NARRADOR

E assim, foram juntas para Montclair. O Mestre olhoupara as fotografias, mas não olhou para Lua. Ela começou apensar que o Mestre nunca mais olharia para ela novamente,pelo menos, até que ela partisse para a Califórnia. A próximavisita de ‘Abdu’l-Bahá foi a New Jersey, o Mestre convidoutodos os bahá’ís a se juntarem a Ele numa grande festa daunidade. Sim, ‘Abdu’l-Bahá também convidou Lua.

LUA

Fiquei muito encantada e feliz com este convite do Mes-tre, mas para minha tristeza percebi que assim que a festa ter-minasse, ‘Abdu’l-Bahá aguardava a minha partida para a Cali-fórnia. Logo que a festa terminou, percebi que havia me ma-chucado com uma erva de uma trepadeira venenosa; a dor e oinchaço eram insuportáveis. Mas eu estava cheia de felicidade,assim estaria incapacitada, especialmente para longas viagens,e poderia ficar perto do meu Amado Mestre. Rapidamente, faleicom Juliet sobre minha feliz aflição.

JULIET (entra e olha os tornozelos inchados de Lua)

“Oh, Lua. ‘Que castigo’.”

LUA

Não, é uma recompensa.

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JULIETIsto é um teste.

LUAIsto é guia. Por favor, Juliet vá até o Mestre e diga-lhe que

meus pés estão inchados devido ao veneno e que não possocaminhar. Assim, não tenho possibilidade de ir a Califórnia.

NARRADORRelutante, Juliet levou a mensagem. O Mestre riu, nova-

mente, e disse: “Eu curarei Lua”. Juliet voltou com uma xícarade chá.

JULIETO Mestre mandou você tomar este chá.

NARRADORLua foi obediente e tomou o chá até a última gota.

LUANo fim da mesma tarde o Mestre veio me visitar, Ele disse

sorrindo: “Você está bem Lua, você pode partir para a Califór-nia. Eu a curei com um copo de chá gelado”. Eu fui curadatanto interiormente quanto exteriormente, e para minha intensafelicidade a viagem transformou-se em uma benção. ‘Abdu’l-Bahá me mandou na frente para preparar o caminho, logo Elee Seus companheiros uniram-se a mim na Califórnia.

NARRADORO Mestre apontou Lua como a Arauta do Convênio e

exortou-a a ir avante e proclamar esta verdade. Neste momento,Lua foi transfigurada, ela era uma chama de Deus, como ummetal que é colocado no fogo, tudo o que havia sido no passadofoi queimado. Agora, ela possuía as características do fogo. A

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chama que o Mestre acendeu no coração de Lua, acenderiaoutras chamas por toda a América, e assim ela ganharia o títulode “Instrutora-mãe do Ocidente”.

LUA

Durante muitos meses estive afastada do meu AmadoMestre por um oceano, todo dia orava para que pudesse servi-Lo. Em um destes dias, quando retornava triste para casa devidominha falta de perfeição no caminho da Causa de Deus, umacarta com carimbo da Palestina estava me esperando. Que ale-gria! Era uma carta do Mestre onde Ele me chamava para levara mensagem de Bahá’u’lláh para a India. Imediatamente obe-deci. Minha alegria completou-se quando, depois desta viagem,o Mestre chamou-me para ir à Terra Santa até a Sua presença.Permaneci durante sete meses na presença de meu Bem-Amado.(Pausa) Um dia diante d’Ele perguntei-Lhe se permitiria que eufosse uma mártir e pedi aos amigos que orassem nos SantuáriosSagrados para que eu tivesse o privilégio de morrer pela Fé.(Pausa) Quando, pela primeira vez, ‘Abdu’l-Bahá ouviu o meupedido, riu com prazer e olhou-me com muito carinho e amor.Quando insisti no meu pedido, o Mestre tornou-se silencioso enão respondeu. (Com um suspiro) Não implorei mais.

NARRADOR

Já se passavam sete meses que Lua estava na presença doMestre. Um dia ‘Abdu’l-Bahá chamou-a e com profundo amordisse-lhe que deveria retornar à América. Lua aprendeu a sualição de desprendimento nessa conversa com o Mestre antes desua partida. ‘Abdu’l-Bahá perguntou-lhe: “O que farás se elescontestarem estes ensinamentos?”

LUA

Eu me dirigirei a ‘Abdu’l-Bahá e pedirei confirmaçãoespiritual. Depois de repetir o nome de Bahá’u’lláh abrireimeus lábios e então direi o que me for dado para ser dito.

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NARRADORE Abdul’-Bahá perguntou-lhe: “O que farás se te perse-

guirem?”

LUASaberei que é um presente celestial, e que o amor de Deus

está jorrando sobre mim.

NARRADORE o Amado Mestre perguntou: “E o que farás se te apri-

sionarem?”

LUAAgradecerei a Deus por ter andado na Sua senda e por me

ter permitido compartilhar daquilo que ‘Abdu’l-Bahá tem sofri-do há anos.

NARRADOR’Abdu’l-Bahá permaneceu em silêncio por um instante e

depois perguntou: “E o que farás se te matarem?”

LUAEu saberei que o primeiro pedido que fiz em toda minha vida

a ‘Abdu’l-Bahá me foi concedido, e que fui privilegiada ao darminha vida para que os homens possam ouvir a Palavra de Deus.

NARRADOROs olhos de Lua estavam cheios de lágrimas. Ela olhou

para o seu Amado e disse:

LUANo minuto que meu espírito estiver livre do meu corpo, eu

voarei para Deus, de quem espero nunca mais me separar portoda a eternidade.

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NARRADOR

Houve um longo silêncio, os olhos do Mestre estavamfechados. Ele disse: “Quando alguém parte para ensinar,deve pensar sobre todas estas questões. Deve estar prepara-do para tudo que venha no Caminho de Deus.” (Pausa) Luaagarrou-se à mão de ‘Abdu’l-Bahá naquele último dia. Seusolhos pousavam sobre aquele semblante que ela amava mais doque qualquer outra coisa sobre a terra. ‘Abdu’l-Bahá conheciao seu coração. Lua virou-se e, chorando silenciosamente, dei-xou Sua presença, mas o seu coração permaneceu. Ela nuncamais veria aquela face amada, nem ouviria aquela voz maravi-lhosa. Ela estava partindo. Estava deixando o Seu AmadoMestre para nunca mais vê-Lo neste mundo. Nunca mais!(Pausa) Quando Lua chegou ao Egito ficou terrivelmente doen-te e foi forçada a deixar o barco. Enquanto estava no Egito aguerra irrompeu e ela não pôde viajar.

LUA

Apesar da minha saúde enfraquecida, tentava aumentar oritmo das minhas atividades de ensino. Os amigos imploravampara que eu descansasse. Eu sorria e respondia: “O Mestrejamais descansa e sempre diz: “O descanso material pode nosprivar do descanso espiritual”. (Pausa) Num dia de primave-ra, no Cairo, quando voltava para casa encontrei vários estu-dantes que estavam ansiosos para ouvir mais sobre a Fé Bahá’í.Eu estava muito fraca e cansada. Depois de alguns minutos,pedi desculpas e fui para o meu quarto.

(Lua sai de cena )

NARRADOR

Pouco tempo depois, eles ouviram um forte grito de dor.Lua estava em grande agonia. Mesmo então, ela pensou emsomente uma coisa: ‘Abdu’l-Bahá. Ela gritou...

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LUA (fala dos bastidores)

Deus é o Mais Glorioso! Deus é o Mais Glorioso! Deus éo Mais Glorioso!

NARRADOR

Desta vez, o anjo da morte não se manteve longe. Luaaproximava-se dos seus 45 anos quando morreu, tão jovem etão bonita. (Pausa) ‘Abdu’l-Bahá sentiu profundo pesar quandorecebeu a notícia da sua morte. Um dos secretários de ‘Abdu’l-Bahá escreveu: Ele ficou profundamente abalado e sentiu maisdo que qualquer um de nós esta grande perda. Desde aquele diaouvi-O exclamar mais de 100 vezes: Que perda! Que perda!Que perda!” (Pausa) ‘Abdu’l-Bahá telegrafou para os amigosna América: “A serva de Deus, Lua, acesa com o fogo doamor de Deus partiu. Lua, a folha abençoada, tem sido acausa de guia de muitas almas. Ela foi dotada de um cora-ção que estava atraído, uma língua eloqüente, e passou seutempo dia e noite ensinando.” Neste momento, ela está cha-mando do Reino e dizendo: “ Sabem vocês que benção eu atin-gi?”. Lua, sem lar na terra, agora no mundo das alturas tem oseu palácio. Esta é a promessa de seu Amado Mestre.

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Martha Root

(1872 - 1939)

Adaptado da obra“The Passing of Exquisite Music”

de Ann Boylese do “Curso Para Pioneiros”

T

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(No palco uma mesa com cadeira, algumas malas, umaroupa branca em um baú, pastas com recortes de jornal, má-quina de datilografar)

(Música instrumental, Martha está em cena, sentada)

NARRADOR

“Tu és realmente uma Arauta do Reino e precursorado Convênio, e te sacrificas. Mostras bondade para comtodas as nações. Estás espargindo a semente que a longoprazo trará milhares de colheitas. Plantas uma árvore quedará folhas, flores e frutos até a eternidade, e cuja sombracrescerá dia a dia em magnitude.”

Shoghi Effendi, designou-a como “aquela indômita e fer-vorosa discípula de ‘Abdu’l-Bahá” e modelo de instrutora bahá’íviajante; chamou-a também de “Arauta sem par da Causa”.

Martha Root nasceu no dia 10 de agosto de 1872 em Ohio,nos Estados Unidos. Ingressou na Universidade de Chicago,tornando-se professora e jornalista.

MARTHA (Levanta e caminha)

Meu contato com a Fé e como me declarei bahá’í é umahistória muito curiosa. Como jornalista, eu vivia fazendo repor-tagens sobre viagens, moda, automóveis, esportes, sociedade ereligião. Mas eu sempre estava procurando “A Grande História”.

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Bem, “A Grande História” era tão grande que a princípioeu não quiz saber nada a respeito dela. Meu primeiro contatocom ela foi em 1908 em um restaurante. Eu estava cobrindo aConvenção Internacional para o jornal da cidade de Pittsburgh,quando fomos com um pequeno grupo jantar em umrestaurante.Se não me engano, quando o garçom trouxe a conta,estávamos discutindo se os ateus seriam ou não condenadoseternamente. Decidimos então ir para casa e lá continuar adiscussão.

Estávamos começando a ir embora, quando um senhor damesa ao lado, pediu desculpas e ofereceu seu pequeno parecersobre o assunto. Ele disse que estava acabando de voltar deuma viagem à Palestina e ao Egito, e tinha lá verificado queseguidores de outras religiões além do Cristianismo estavamlevando uma vida bastante decente. De fato, ele era de opiniãoque a humanidade estava entrando em uma Nova Era ondetodos reconheceriam que amam ao mesmo Deus, não importan-do o nome pelo qual o chamam.

Para mim, tudo aquilo parecia muito esquisito, mas con-siderando que eu era a editora do jornal Religião e Sociedade,dei o meu cartão de visitas. Além disso, uma jornalista nuncasabe de que fonte imprevisível, uma boa história pode aparecer.

(Pausa)Este homem chamava-se Roy Wilhelm. É, havia algo no

olhar deste homem que eu não sabia dizer o que era, mas elenão parecia um fanático religioso. Ele parecia bem normal,digno e bondoso. Então, quando perguntou se poderia me es-crever sobre o assunto, concordei. Logo depois, um livro che-gou pelo correio. Daí a pouco, outro, e depois mais um.

Por mais ou menos um ano, Roy Wilhelm, persistente-mente, enviou-me literatura bahá’í, a qual eu nunca lia. Sim-plesmente enviava para os líderes Teosofistas, pessoas do NovoPensamento. Certamente eu não queria ser vista com um livrobahá’í. Eu deixei o meu primeiro livro num balcão de umafarmácia. Mais tarde, descobri que a esposa do dono da farmá-cia o pegou, leu, e tornou-se bahá’í.

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(sorrindo)Acho que meu instinto jornalístico falhou um pouquinho

neste caso.Mas Roy insistiu. Ele respondia às minhas perguntas e

convidava-me a ler mais livros. É, comecei a eventualmente leros livros que ele enviava. E então, sendo uma repórter, decidiencontrar outros bahá’ís e descobrir o resto da história. Viajei,então, para Nova Iorque, Washington e Chicago para colher osfatos.

É, eu colhi os fatos. E, após um ano recolhendo fatos, euacordei uma manhã e descobri que estava apaixonada. Eu esta-va tendo um romance com a religião, eu estava totalmenteenvolvida pela Fé Bahá’í! E então o que eu poderia fazer?Abracei-a e a fiz minha. É lógico, escrevi sobre ela.

(pausa)De que forma posso expressar o que significou para nós,

um pequeno número de bahá’ís na América, a vinda de‘Abdu’l-Bahá em 1912? Alguns de nós, como Lua, O seguirampara tudo quanto foi lugar! Outros, como Fred Mortensen, vi-ajaram embaixo de vagões para ficar perto d’Ele.

Eu queria desesperadamente encontrá-Lo. Vê-Lo com osmeus próprios olhos, e não mais através dos olhos daqueles quetinham sido tão felizes por vê-Lo. Então tirei alguns dias de folgado trabalho e dei um jeito de ir a todas as reuniões em que ‘Abdu’l-Bahá estava nas regiões de Nova Iorque e Washington.

Mas ver ‘Abdu’l-Bahá em pessoa foi a maior surpresa!Energia personificada! Eu sempre havia imaginado ‘Abdu’l-Bahácomo uma pessoa de natureza espiritual profunda e muito dócil.

Oh, mas o Mestre era muito mais do que a nossa imagi-nação poderia conceber! Ele cintilava! Que vibração! Que di-namismo! Nós mal podíamos acompanhá-Lo!

(pausa)Eu obtive permissão para fazer uma entrevista com ‘Abdu’l-

Bahá. No início imaginei que seria uma entrevista. Claro, umaentrevista especial, porém, apenas uma entrevista. Eu lhe pergun-

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taria algumas coisas e Ele responderia, e talvez eu até escrevesseum artigo para o jornal, baseado no que Ele havia dito.

(sorrindo)Isso era o que eu imaginava até entrar na presença de

‘Abdu’l-Bahá.

(com emoção)Quando fui conduzida à Sua presença, toda habilidade

jornalística que eu havia adquirido desapareceu. Seu rosto eraluz deslumbrante, eu não podia olhar. Ele foi tão meigo, tãoamoroso. Era como um querido e amoroso pai. (senta-se nacadeira) Sentei-me ao seu lado, e Ele pegou as minhas mãos eas segurou.

Fiquei olhando para aquelas mãos que cobriam as minhase pensei: “Estas são as mãos do Centro do Convênio deBahá’u’lláh, o filho de Bahá’u’lláh!” Não podendo controlarminhas lágrimas, deixei-as cair sobre Suas mãos.

(pausa com suspiro)Eu chorei, chorei e chorei até sentir que com certeza não

havia mais lágrimas dentro de mim. Quando terminei, Ele se-cou meus olhos e disse na mais suave, na mais doce voz quejá ouvi: “Agora, minha filha, diga-me o que é que há?”

Como Ele sabia? Eu não pretendia contar para ninguém -e certamente não iria incomodar ‘Abdu’l-Bahá sobre aquilo queme causava tanto sofrimento.

(com dificuldade)“Eu tenho um caroço...(coloca mão no seio)... talvez dois... no meu seio. Eu não contei para ninguém.

Fiz uma operação horrível há tempos e agora não poderei terfilhos. Não quero ir para outro médico. Por favor, me ajude.”

(pausa)E assim Ele fez. Ele foi o meu Médico de confiança. E

nós dois eramos os únicos a saber.

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(levanta-se)Em 1919, as Epístolas do Plano Divino, escritas por

‘Abdu’l-Bahá foram lidas na Convenção Nacional Bahá’í Ame-ricana. O efeito foi eletrizante! Ouvir aquelas palavras doMestre que ressoavam por toda a sala dizendo:

(com exaltação)“Oh, se Eu pudesse viajar, nem que fosse a pé e na

maior pobreza, para estas regiões e exclamar o chamado deYá Bahá’u’l-Abhá, nas cidades, vilas, montanhas, desertose oceanos, promovendo os Divinos ensinamentos! Infeliz-mente, não o posso fazer. Quão intensamente deploro! Quei-ra Deus, vós o possais.”

Quando ouvi estas palavras do Mestre, comecei a planejarviajens para ensinar a Fé, e escrevi para ‘Abdu’l-Bahá. Elerespondeu dizendo que era para todos os bahá’is da América doNorte viajarem a fim de ensinar. Bem, Ele não teve de dizeristo uma segunda vez, era exatamente o que estava esperando.Antes de ter tempo para pensar, voltei para o quarto, fiz asmalas e marquei passagem para a América do Sul.

(pega a mala)Assim, em 1919, iniciei os meus 20 anos de ensino con-

tínuo, dando quatro voltas ao redor do mundo, viajando detrem, de navio, em carros e carruagens, em pequenos barcos eaté mesmo a pé.

(deixa mala no chão)Na minha primeira viagem para a América do Sul, o navio

aportou em Belém, no Pará e aproveitei para visitar o principaljornal da cidade. Lá ninguém falava inglês, nem esperanto. Porsorte encontrei um senhor, que era o melhor advogado do Pará,e ele falava inglês. Então ficou combinado que eu escreveriaum artigo de mil palavras sobre a Fé e que ele traduziria. Estefoi o meu primeiro contato no Brasil.

A próxima cidade foi Recife, onde também encontrei di-ficuldades com a língua. Bem, quando fui me hospedar no

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hotel encontrei uma mulher americana. Ó, Bahá’u’lláh! ComoTu tens nos guiado, como Tu abres as portas. Esta senhora, asra. Vegas, era prima de Lua Getsinger, famosa instrutorabahá’í nos Estados Unidos. Falamos sobre Lua e uma grandesimpatia estabeleceu-se entre nós. Com ela, visitei os cincojornais da cidade, sendo vários artigos publicados e tendosempre a sra. Vegas como intérprete.

Próximo destino: Salvador. E depois São Paulo, Rio deJaneiro e por fim a cidade de Santos. Durante toda esta viagem,sempre visitava as autoridades, bibliotecas, jornais...

E enquanto eu viajava pela América do Sul, enviava rela-tórios para ‘Abdu’l-Bahá relatando com todos os detalhes quepudesse, sobre os lugares que visitava. Que alegria receber umaresposta de Suas abençoadas mãos!

(pega uma carta)‘Abdul’-Bahá respondeu: “É claro e evidente que o po-

der do Reino está te ajudando, que os olhos de Sua amorosabondade estão virados para ti, que as hostes do ConcursoSupremo estão te ajudando e o poder do Espírito Santo teestá amparando. Dentro em breve os resultados desta pode-rosa incumbência serão descobertos e evidenciados peranteos olhos de todos os homens.”

(guarda a carta)Como poderia qualquer pessoa deixar de continuar se

mexendo, servindo, ensinando, após receber uma carta tãocheia de amor? E após o Mestre ter partido deste mundo, oamado Guardião me escrevia. Algumas vezes, cartas como es-tas eram a única forma de me manter seguindo.

(senta-se)Muitas vezes, enquanto meu querido pai era vivo, eu

voltava para casa durante alguns meses para cuidar dele.(levanta-se)Oh, meu querido pai! Foi o único da minha família que

entendeu uma faísca do que eu havia encontrado na Fé Bahá’í.

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Ele se manteve ao meu lado quando o restante da minha famíliatentava me internar devido as minhas “noções excêntricas”.

Eu tentei inundar a todos com amor quando despejavamgrosserias sobre mim, da mesma forma que o Mestre nos haviadito para fazer - da mesma forma que Jesus nos ensinou. Masadmito: por muitas vezes esta foi uma tarefa díficil.

(anda para o meio do palco)Mas quem em sua vida foi mais abençoada que eu?

Lembro-me de quando estive em Budapeste no início de1926, e veio à minha mente que a rainha Maria da Romênia pre-cisava e merecia receber a mensagem de Bahá’u’lláh. Bem, oministro americano me afirmou que eu não tinha a menor chancede ver a rainha. Mas isto não iria me deter. Simplesmente, conta-tei uma de suas damas de companhia, lhe enviei uma foto de‘Abdu’l-Bahá e o livro “Bahá’u’lláh e a Nova Era”.

(estala os dedos)Mágica, dentro de 24 horas eu estava frente a frente com

a rainha, dentro de seu próprio palácio.E, me digam, que roupa eu usaria para visitar uma Rainha?

Eu revirei meu baú e achei um lindo vestido longo, branco, (pegao vestido) que eu havia usado em 1921 numa Convenção Bahá’í.Vestir-me apropriadamente era importante. Sempre fiz questãode usar branco para as ocasiões especiais. Oh, eu sei que nuncafui de grande beleza, mas quando ia falar sobre a Mais PreciosaDádiva na Fé Bahá’í fazia o possível para vestir-me de acordo.Esta era uma regra que nunca quebrei - e não era fácil estar sem-pre limpa, bem arrumada, roupa bem passada, com o tipo de pro-gramação que eu mantinha. Em todo caso, para a querida SuaMajestade, eu certamente me vesti de branco.

(guarda vestido)E os presentes? Eu tinha de levar alguns pequenos presen-

tes apropriados para a ocasião. Presentes são importantes. Eusempre levei presentes às pessoas com quem eu ia ter uma

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entrevista. Mas o que eu levaria para a Rainha Maria? Bem, eupensei e pensei.

(tira presentes do baú)Eu não conseguia me decidir sobre nenhum, então levei

“O Maior Nome” e “Os Sete Vales”, um pequeno frasco deperfume, uma caixa de balas, um ramo de lilás brancos, e oartigo de um Congresso sobre Educação que eu havia assistidorecentemente em Edinburgh. Vocês sabem, antes do casamento,ela era a Princesa de Edinburgh. Achei que talvez isso fosse osuficiente.

(guarda os presentes)(anda bem devagar para o centro do palco)Ela me encontrou no topo de uma escada em forma de

espiral. Enquanto eu subia, eu podia vê-la de pé. Ela era umaverdadeira rainha. A rainha Maria veio rapidamente à frentecom um sorriso de boas-vindas. Como ela era linda, pareciauma flor, e seus grandes olhos azuis brilhavam com a luz de umgrande espírito - ela sabe, ela entende, ela ama! Eu me curvei(curva-se) e fiquei dominada pela emoção, devido ao que viaem seus olhos e depois que ela me cumprimentou, suas primei-ras palavras foram: “Eu acredito que estes Ensinamentos são asolução para os problemas mundiais de hoje!”

Na noite anterior, até as três horas da madrugada, a rainhatinha lido o livro “Bahá’u’lláh e a Nova Era”. E assim, imagi-nem só como foi a nossa conversa... Foi simplesmente divina!

(pausa)A rainha Maria, que era uma escritora nata, começou

imediatamente a escrever nos jornais. Em um dos seus artigos,assim escreveu:

(pega pasta e lê)“Uma pessoa trouxe-me um Livro. Eu escrevo com letra

maiúscula porque é um livro glorioso, sobre amor e bondade,força e beleza. A mensagem que Bahá’u’lláh e seu filho‘Abdu’l-Bahá deixaram é surpreendente. Eu recomendo a todos

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vocês. Se alguma vez o nome de Bahá’u’lláh ou ‘Abdu’l-Baháchegar até vocês, não desprezem Suas Escrituras. ProcuremSeus Livros e deixem que suas gloriosas, pacíficas palavras elições criadoras de amor penetrem em seus corações, assimcomo penetraram no meu.”

(guarda a pasta)Estas palavras foram escritas logo após o primeiro encon-

tro com a rainha Maria e foram registradas em mais de 200jornais nos Estados Unidos e Canadá - e também foram tradu-zidas para leitores da China, do Japão e em todo o Pacífico.

(Pausa)Minha segunda viagem para a China em 1937 foi muito

diferente. Cheguei com uma expectativa de meses de trabalhofrutífero, mas a guerra também já havia chegado naqueles re-motos lugares do Pacífico.

Eu estava fazendo meu trabalho, dando aulas, escrevendoartigos para o jornal, levando livros bahá’ís para a biblioteca,quando de repente, as invasões aéreas começaram em Shangai.O zumbido, o som repetido - tick, tick, tick - mais alto, maisalto sobre nossas cabeças... Silêncio..... E daí

(voz aumentando num grito e se abaixa como se estivessese escondendo)

as bombas, as horríveis explosões, o horror, a casa tre-mendo. Eu, no andar superior da casa, tinha certeza que elahavia sido atingida. Inclinei minha cabeça e rezei. Mas entãoaquele terrível zumbido e os roncos foram sumindo,o bombar-deameno parou e, mais tarde, eu soube que 1200 pessoasmorreram naquelas explosões, algumas delas a dois quarteirõesde onde eu estava.

Eu sabia que não tinha sentido ficar em Shangai naquelascondições. Eu tinha de sair. Porém, não é facil fugir de um paíscom 23 itens de bagagens! Entre um e outro bombardeio eu

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empacotava desesperadamente. Ao chegar no navio me disse-ram que eu tinha direito a apenas uma das malas.

(com tristeza)Uma mala! Felizmente eles afrouxaram um pouco quando

souberam que eu era jornalista e me deixaram levar a máquinade datilografar também.

Bem, lá estavamos sentados e eu tinha que fazer algumacoisa a fim de levar meu pensamento para longe da possívelaniquilação, então me dirigi ao homem que estava ao meu ladoe comecei a lhe dar a Mensagem. Vocês podem imaginar aminha felicidade e surpresa quando ele respondeu: “Eu conhe-ço a Fé Bahá’í muito bem! E eu a conheço. Você é a Srta.Martha Root que nos deu uma palestra sobre os princípiosbahá’ís na Universidade de Michigan em 1931". É, acho que eutinha mesmo... Naquele exato momento eu soube queBahá’u’lláh estava tomando conta de mim e tudo ficaria bem.

Ah, e a minha viagem para a Pérsia, para os lugares sagradosbahá’ís. Pérsia. Abençoada terra de Bahá’u’lláh! Eu vivi uma vidainteira naqueles quatro meses. Não foram muito seguros também.Muitas vezes eu parei para pensar e agradecer a Bahá’u’lláh poraquela viagem através da Pérsia, pois sabia que só por Seu favore Sua bondade estive em segurança. Cada passo era um dramainterior e admito que às vezes ficava com medo.... Indo secreta-mente à casa do Báb em Shíráz, à casa de Bahá’u’lláh em Teerã,sentindo como se meu coração fosse explodir por ter tido oprivilégio de orar naqueles Santuários abençoados.

(com um suspiro/ começa a andar para o centro)Tantas jornadas, tantas maravilhosas jornadas. Mas estas

foram mais que viagens de um lado para o outro. Se elas tives-sem sido apenas isto, eu já teria sucumbido há muito tempo...pelo cansaço, pela solidão de estar em um quarto estranho,numa cidade estranha, doente demais para chamar um bahá’í....os itinerários absurdos.... os terremotos, os furacões... até adura economia diária. Admito que por vezes sofri, derrameialgumas lágrimas por causa disso tudo. Porém, mais que jorna-

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das de um lado para o outro, as minhas jornadas foram dentrode mim mesma, eram aventuras espirituais.

E que aventuras! Aventuras para as quais você não neces-sita de 23 itens de bagagens. Nem sequer uma peça! Ou amáquina... ou nem mesmo um visto. Ah! sempre haverão jor-nadas, eu acho. Estaremos a caminho por toda a eternidade.Pelo menos é o que eu espero.

(pega uma mala e sai de cena)

NARRADOR (música instrumental ao fundo)

Martha deixou Bombay no dia 29 de dezembro de 1938,com destino à Australia, Tasmânia e Nova Zelândia. De lá,planejara viajar ao Hawai. Seu corpo, porém, pelo câncer quehá vinte anos nele se desenvolvia, decorrente de um tumor noseio, enfraquecera muito nos últimos seis meses, com fortesdores nos ossos, particularmente nas costas, transmitindo-separa as pernas, que gradualmente a incapacitava de caminhar,ou mesmo se mover no leito.

Martha deixou este mundo no dia 28 de setembro de 1939,aos 67 anos, na cidade de Honolulu, no Hawai. Martha acabarade embarcar em mais uma viagem, mas nesta não precisou dosinúmeros volumes de bagagem que sempre tinha de carregarconsigo, nem precisou das dezenas de livros de endereços.

Aos bahá’ís do Irã, cujo amor por Martha Root era inco-mensurável, o Guardião telegrafou anunciando seu falecimento,dizendo:

“A folha pura, a instrutora ilustre, o sinal de despren-dimento, a tocha de amor e afeição, o exemplo de corageme fidelidade, o consolo do povo de Bahá - Martha Root -ascendeu ao cume da habitação eterna. O Concurso do Altorecebeu-a, saudando-a com as seguintes palavras: Bem-vin-da, ó glória dos instrutores. Muito bem, muito bem, ó tuque te sacrificaste inteiramente em tua atração pelo Reinodo Senhor dos Sinais Manifestos. Abençoada és mil vezespor este grau iluminado, exaltado, elevado, inacessível.”

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Rúhu’lláh

(1884-1896 )

Adaptado do vídeo“Rúhu’lláh - The twelve year old martyr”

de Manouchehr Farid

T

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(Música instrumental ao fundo)(Nos bastidores estão batendo no assassino com chicote e

estão gritando:)

GUARDA 1

96, 97, 98, 99, 100

ASSASSINO (que está apanhando, grita)

Chega!

GUARDA 1 (que está batendo)

Por hoje basta!

(Os dois guardas trazem o assassino para o palco)

GUARDA 2 (pendura o chicote na frente do assassino)

Abra os seus olhos e olhe para este chicote! se você gritarou reclamar de novo sobre a comida ou falar bobagem, eu voupendurar você neste teto e com este chicote cortar seu corpoem pedaços (grita) Entendeu, seu assassino?

ASSASSINO

Sim, senhor.

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GUARDA 1

Promete não reclamar mais?

ASSASSINO

Sim, prometo.

(Os guardas saem)

ASSASSINO (senta-se devagar/ com raiva)

Sim, prometo, prometo quando sair daqui não deixareinenhum de vocês vivos (repete devagar) prometo, prometo(deita no chão)

(Dos bastidores ouve-se a voz de algumas pessoas queestão conversando)

GUARDA 1

O que eles fizeram?

GUARDA 2

Eles são descrentes, são babís, e por ordem do governo deZanján ficarão aqui até ser resolvida a situação deles.

GUARDA 1

Como será que podem dizer que uma criança é descrente?

GUARDA 2

Não sei o que dizer, esse menino realmente é muito inte-ligente e sábio. No caminho todos os soldados e guardas fica-ram admirados com o menino e cuidaram bem dele.

GUARDA 1

Qual é o seu nome?

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VARQÁ

Meu nome é ‘Ali Muhammad, me chamam de Dr. Varqá,sou filho de Mirzá Mihdí Yazdí.

CHEFE

Este menino é seu?

VARQÁ

Sim.

NAIEB

Qual é o nome dele?

VARQÁ

Rúhu’lláh.

NAIEB (voz alta)

Guardas, levem a comida deles para a minha sala e oslevem para a cela.

(Guardas, levam os dois, com grilhões no pé e correntes,para a cela)

GUARDA 1

Ó assassino! Trouxe visita para você, agora você não estámais sozinho. (enquanto Rúhu’lláh e Varqá entram, o guardafala com gozação para o assassino) Veja, este senhor é médico,mostre suas feridas para ele, quem sabe pode curá-las.

(Rúhu’lláh vai perto do assassino e o cumprimenta)

VARQÁ

Meu filho, vem aqui e não amole este senhor.

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(Querem levar Rúhu’lláh para prendê-lo do outro lado dacela)

VARQÁ

Por favor, deixem-no perto de mim.

GUARDA 2 (fala para o outro)

Ele tem razão, vamos deixar a criança perto do pai.

(Levam o menino para perto de Varqá. Neste ínterim, oguarda fala para o assassino)

GUARDA 1

Ó assassino! Cuidado para não ser enfeitiçado por eles,com as suas palavras eles enfeitiçam as pessoas para se tornarembabís. Os mullás falam que os babís enfeitiçavam as pessoasdando tâmaras para comerem. Logo após elas se tornavam babís.Pouco a pouco, como perceberam o truque, passaram a não co-mer mais as tâmaras. Aí sabe o que eles começaram a fazer?

Mudaram o feitiço, estão fazendo cápsulas de essência detâmara e quando têm uma reunião os babís sentam perto daporta ou no fundo da sala, e ficam segurando esta cápsula nomeio dos dedos. Quando um visitante fica de boca aberta elesjogam a cápsula dentro da boca do visitante e aí o coitado éenfeitiçado e pronto, torna-se babí.

VARQÁ

Eu, como médico, nunca vi alguém tirar a essência datâmara e depois fazer comprimido.

RÚHU’LLÁH

E, também, uma pessoa educada não fica de boca abertana frente do outros.

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GUARDA 1

Não sei, pois foi o mullá quem disse isso, talvez tenhaalguma sabedoria.

(os guardas saem, e depois de um instante, o assassinomeio levantado, olha para Varqá e Rúhu’lláh, depois em dire-ção à porta, e diz)

ASSASSINOMiseráveis, vão para o inferno! (deita novamente)

VARQÁQuerido Rúhu’lláh, quero te perguntar uma coisa.

RÚHU’LLÁHO que foi, pai?

VARQÁQuando estávamos chegando à cidade, você tentava escon-

der do povo este grilhão que prende o seu pé; este grilhão é noCaminho da Abençoada Beleza e você tem vergonha?

RÚHU’LLÁHPai, eu não tinha a intenção de esconder o meu pé, eu amo

Bahá’ú’lláh, na verdade eu queria que este grilhão fosse o maiordo mundo. Afinal eu sei que isto é no Caminho da AbençoadaBeleza. Desculpe se eu falhei, mas é que eu estava tentando co-brir o meu pé, pois de manhã cedo estava muito frio.

ASSASSINO (depois de alguns segundos)O Naieb fala a verdade? Vocês são babís?

RÚHU’LLÁHNão senhor, nós somos bahá’ís.

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ASSASSINOE qual é a diferença?

VARQÁTodas as Revelações anteriores falaram sobre duas revela-

ções gêmeas: uma é a do Báb e a outra é a Revelação deBahá’u’lláh. Primeiro o Báb se declarou em Shiráz e deu asboas-novas da vinda de Bahá’ú’lláh, os seguidores do Bábpassaram a ser chamados de babís. E quando Bahá’u’lláh de-clarou a sua missão, acabou o período da Era Babí e uma novarevelação, uma religião mundial começou e os seguidores destaGrandiosa Causa são os bahá’ís.

ASSASSINO (com gozação e risada)Uma religião mundial!

RÚHU’LLÁHPor que você está rindo?

ASSASSINOHoje em dia qualquer um abre uma loja e em nome da

religião está vendendo santidade.

VARQÁSim, você está certo. Infelizmente este amor por Deus que

as pessoas têm em seus corações muitas vezes foi manipuladopor algumas pessoas guiadas por seus desejos e interesses ego-ístas, como você disse. Por outro lado, um pequeno número depessoas, através da aceitação de dificuldades e aflições, indica-ram o Caminho de Deus e da Sua Verdade.

RÚHU’LLÁHSempre foi assim, o reconhecimento dos Mensageiros de

Deus nunca foi possível por outros meios. Pense na religião

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maometana, como Maomé foi sacrificado para guiar a humani-dade. E ainda mais, pense na época de Cristo, onde primeirosacrificaram o próprio Cristo e depois, por mais de 300 anos,os cristãos suportaram o martírio a fim de provar a veracidadeda Sua missão.

ASSASSINOPor que inocentes devem ser maltratados, mortos e ter seu

sangue derramado?

VARQÁ (depois de alguns instantes)Quando entramos na cela o Naieb o chamou de assassino,

posso perguntar por quê?

ASSASSINOPorque matei um desumano.

VARQÁPor que matou?

ASSASSINOPorque sofri crueldade e injustiça. Porque queria o que era

meu por direito, porque eu não tinha nenhuma outra alternativa.

VARQÁQue direito? Por que sofreu crueldade e injustiça? Posso

lhe perguntar?

ASSASSINO (depois de alguns segundos)Meu nome é Háfez. Nasci no Curdistão. Quando era

muito jovem, eu estava procurando um serviço onde pudessetrabalhar honestamente. Por fim, achei um senhor que tinhaalgumas terras e ele me contratou, então combinamos que nofim de todo ano ele me daria 1/10 do lucro.

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Comecei a trabalhar para ele com muita honestidade edevoção e assim cada ano eu produzia mais do que no anoanterior, até que ele se tornou um dos homens mais ricos dacidade. Conquistou muito respeito e posição social. Minha vidatambém, graças a Deus, ficou bem melhor, me casei e tive filhos.

Até que no ano passado, depois que foi vendida a produ-ção, ele me deu uma pequena quantia e falou que queria mepagar mensalmente e bem menos do que antes. Protestei, eledeu risada. Não deu nenhuma atenção e me gozou. Eu disseque iria dar queixa para o governo e ele me respondeu : “Podefazer o que quiser”. E ainda me ameaçou dizendo que se eufizesse alguma coisa contra ele, iria acabar com a minha vida.

Comecei então a procurar outro trabalho, mas não achei,pois ele tinha influência e poder, tinha muito dinheiro. Osgovernantes não fizeram nada, muito menos os sacerdotes.

(pausa)Eu decidi então lutar e pegar o que era meu por direito...

Um dia, coloquei fogo no armazém dele e fugi para as monta-nhas. Quando souberam, foram atrás de mim, mas como nãoconseguiram me encontrar. Foram até a minha casa e tortura-ram e molestaram minha mulher e meus filhos.

(quando fala, chora e Varqá e Rúhu’lláh cabisbaixos ecom tristeza, escutam)

Até que numa noite sai do meu esconderijo para visitar aminha família, quando lá cheguei, eu vi que não tinha maiscasa. Ele tinha colocado fogo na minha casa e matado minhamulher e filhos. Então, enlouqueci. Peguei minha espingarda ematei o desgraçado.

RÚHU’LLÁH (recita a Palavra Oculta)

Ó OPRESSORES NA TERRA!Retirai as vossas mãos da tirania, porque jurei não

perdoar a injustiça de nenhum homem. Este é Meu Convê-nio, o qual decretei irrevogavelmente, na epístola preserva-da, e selei com Meu selo de glória.

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(Pausa)

VARQÁ

A resposta para sua pergunta está na sua própria vida. Oseu mestre, enquanto necessitava, reconhecia o seu mérito, masquando tornou-se rico, começou a querer a sua riqueza e eletornou-se injusto.

O que quer que você veja neste mundo não é nada senãoilusão e vã imaginação, não é realidade divina. Somente quan-do o homem esquecer de tudo exceto de Deus encontrará afelicidade. Os manifestantes divinos revelaram-se com o obje-tivo de ensinar esta grande lição de renúncia aos desejos ego-ísticos e ajudar a dirigirmo-nos ao reino do Alto.

ASSASSINO

Muito bem, os manifestantes divinos vieram para guiar ahumanidade para o caminho reto. Moisés, Cristo e Maomé jávieram, se é para alguém aprender alguma lição só poderá seratravés deles.

RÚHU’LLÁH

O que você está dizendo? Se você aceita Sua SantidadeJesus Cristo como um mensageiro de Deus e Ele disse: “Euvoltarei”. Então você quer dizer que ele é um mentiroso?

(pausa)Se você disser isso para um cristão ele corta a sua orelha!Maomé refere-se ao Dia da Ressurreição em cada página

e verso. Hoje todos os povos da Terra estão esperando, mas oque e quem, eles mesmos não sabem. Os judeus esperam oMessias prometido no Velho Testamento, mas quando ele apa-rece e diz: “Eu sou o Messias prometido”, eles o matam edizem: “Não, você é Jesus!”

E assim, os muçulmanos que agora esperam o Prometido,fazem exatamente o mesmo que fizeram os seus irmão judeus,

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matam o Prometido e o continuam procurando no fundo dopoço de suas imaginações e ilusões. Eu te pergunto como ummuçulmano: quando o prometido Qáim manifesta-se, é suaobrigação obedecê-lo, ou não é?

ASSASSINOClaro que é minha obrigação.

RÚHU’LLÁHE se ele disser que o tempo de Sua Santidade Maomé já

acabou?

ASSASSINOEu digo, você não é o Qáim, vá abrir a sua loja em outro

lugar.

RÚHU’LLÁHAh, então é Ele quem tem de lhe obedecer?

ASSASSINOO que?

VARQÁMuito bem, meu filho, você deu um ótimo exemplo.

RÚHU’LLÁHEu disse que então é Ele quem lhe deve obedecer. Ele é

quem deve obedecer todas as autoridades religiosas. Quandohoje nosso senhor Jesus Cristo aparece e diz: “Eu sou o Mes-sias prometido. Eu sou Bahá’ú’lláh, o Prometido de todo omundo, livrai-vos de todas as vãs imaginações e observai averdade. Eles dizem:

“Não, você é Mirzá Husayn Alí, você não é Cristo, o pro-metido de todos os mundos. Nós conhecemos a sua mãe. Nós

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conhecemos o seu pai. Nós sabemos onde você nasceu.” Exa-tamente aquelas mesmas palavras ditas para Cristo pelos líde-res judeus.

(com muito amor)Meu amigo, hoje Deus veio para a terra. Hoje Deus ma-

nifestou-se entre os homens.

ASSASSINOMeu querido menino, você fala com todos assim?

RÚHU’LLÁHNão, primeiro eu olho nos olhos deles.

ASSASSINOVocê também olhou para os meus olhos?

RÚHU’LLÁHClaro, naquele primeiro instante quando entrei e lhe cum-

primentei.

ASSASSINOMe desculpe por não lhe ter tratado bem. Você está esclare-

cendo a minha mente. Desde que eu nasci sempre aprendi a ouvircegamente os líderes religiosos. Mas qual é a verdade? Comoposso encontrá-la? Até agora aprendi a me acomodar, mas eu sintoque as suas palavras têm outro sentido, você quer dizer que eu souresponsável por mim mesmo, que eu devo achar a verdade?

VARQÁCerto Háfez, é assim mesmo. Cada um deve se tornar um

pesquisador. Deve purificar o seu coração, que é o repositórioda realidade divina, e então procurar a verdade. “Abrasa o fogodo amor e queima todas as coisas, põe o pé então na terra dosque amam.”

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(Naieb entra e entrega uma fotografia para Varqá)

NAIEBColoque o nome das pessoas que estão nesta foto aqui

atrás, que eu quero levar para Sua Majestade, o Rei.

(Enquanto Varqá escreve os nomes, o outro guarda queestá com o chefe fala para o assassino)

GUARDA 1Ó assassino! Sabe que amanhã é o aniversário de 50 anos

de reinado do Xá, e que ele deve libertar todos os prisioneiros,e você também deve ser libertado. (Guarda pega a foto e sai decena)

VARQÁ (depois de alguns segundos com tristeza)Amanhã é o aniversário de 50 anos do reinado do Xá, 50

anos de martírios de inocentes, 50 anos de derramamento desangue, mais de 20.000 inocentes foram martirizados no Cami-nho de Deus, o peito do Báb foi perfurado com centenas debalas e agora ele quer fazer festa?

(logo depois, de trás de cena vem um barulho de alguémcaminhando, pára na porta e com voz alta diz)

NAIEBO grandioso chefe Sr. Jafar Gholi Khán está chegando!

(O chefe com o assistente Naieb entram, todos se levan-tam)

CHEFE (com voz alta para Varqá)

Por que você não voa, afinal o significado do seu nome épomba. Então voe. (com voz brava) Fala, por que não fala?

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VARQÁComo pode um pássaro voar, quando está nas mãos de um

opressor?

CHEFEFaça um milagre. Você que é o profeta, faça um milagre

para tirar este grilhão do seu pé.

VARQÁ (com muito respeito)Me desculpe, mas quando eu falei que sou um profeta e

que faço milagres?

CHEFEVocê é muito corajoso, por que atrás desta foto escreveu

o nome do Báb, não foi avisado de que esta foto seria levadapara o rei?

VARQÁSim, senhor. O senhor falou mas eu não posso mentir, e o

rei neste meio século conhece muito bem os bahá’ís e sabe queeles querem o bem de toda a humanidade.

CHEFEVocê com toda esta sabedoria por que não é muçulmano?

VARQÁNesta grande Revelação 20 mil pessoas foram sacrificadas

e martirizadas para ensinar a fé muçulmana, através da forçadivina da revelação de Bahá’u’lláh a árvore da religião muçul-mana foi regada.

CHEFEOlha Varqá, eu não quero matar você e seu filho. Isto que

você sente e acredita, guarde no seu coração, mas, aparente-

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mente diga que não é bahá’í. Assim, vou deixar vocês saíremda prisão, devolvo todos os seus livros e digo para o rei quedepois de investigarmos descobrimos que vocês não sãobahá’ís e por isso foram libertados.

VARQÁMe desculpe, mas eu vou manter a minha consciência

tranqüila e por isso devo continuar dizendo a verdade.

CHEFE (depois que Varqá fala isso, chefe começa a sair)Você é quem sabe, mas deixa eu lhe dizer algumas últimas

palavras, saiba que isto que digo não é mentira, eu lhe dou umaparte do meu salário, pego mais 500 tumans do rei, e o tornomeu próprio médico particular.

VARQÁ (com ar de quem acha tudo muito estranho)Será que uma pessoa que reconheceu a verdade divina

vende a sua fé por causa de dinheiro, ou ao invés de seu amadose contenta com a riqueza do mundo?

CHEFE (bravo)Eu queria lhe dar uma posição elevada, mas você não

merece, então fique aqui mesmo até que tenha alguma resposta.

(Chefe está saindo, quando Rúhu’lláh o chama de volta)

RÚHU’LLÁHMe desculpe, mas posso perguntar uma coisa, senhor?

CHEFE (com carinho)Claro meu filho, parece que você ainda está na sua sã

consciência. Pode perguntar.

RÚHU’LLÁHTodas estas medalhas que o senhor tem, para que são?

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CHEFE

São para provar os meus merecimentos, para que todossaibam como sou importante.

RÚHU’LLÁH (com ar de espanto)

E quem as deu para o senhor? Foi Deus?

CHEFE

Foi o nosso rei, o rei dos reis.

RÚHU’LLÁH

Mas que interessante, posso tocar nelas?

CHEFE

Parece que você está começando a ter juízo. Pode tocar.

(Rúhu’lláh pega uma medalha e de repente ela cai)

CHEFE (grita)

Ó menino estúpido!

RÚHU’LLÁH

Desculpe senhor, eu não tenho culpa. Não queria que issoacontecesse...

(quando se abaixa para pegar a medalha e dá-la ao che-fe, passam-se alguns segundos. Pega medalha, levanta-se edepois diz)

Senhor, que merecimento é este que pode ser facilmentearrancado com dois dedos de um menino?

(Com braveza, chefe pega a medalha, vai até a porta parasair, mas antes volta-se ao Naieb e diz)

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CHEFE

Tire os grilhões dos pés dos dois e também as algemas domenino.

NAIEB

O que Vossa Senhoria disse?

CHEFE

Faça o que eu mando.

NAIEB (chama os dois guardas)

Tragam as chaves para os grilhões e algemas. (logo en-tram os guardas com as chaves)

NAIEB

Em todos esses anos, nunca vi alguém ter tamanha sorte,nunca aconteceu de soltarem os grilhões de um prisioneiro. (esai de cena)

ASSASSINO (estende as mãos)

Este é um milagre. Este é um milagre.

VARQÁ

(faz a oração/ enquanto assassino continua falando: “Éum milagre. É um milagre.”)

“Dize: Ó Deus, meu Deus! Adorna minha cabeça coma coroa da justiça, e minha fronte com o ornamento daeqüidade. Tu, verdadeiramente, és o Possuidor de todas asdádivas e graças.”

(Rúhu’lláh olha para o pai, depois se levanta, e apontan-do para o chicote pergunta)

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RÚHU’LLÁH

Por que deixaram isso aqui?

ASSASSINO

Hoje deram 100 chicotadas no meu pé e deixaram o chi-cote na minha frente para eu não me esquecer.

RÚHU’LLÁH (vai na frente do assassino e pergunta)

E foi muito difícil para você suportar a dor?

ASSASSINO

Quer a verdade? Foi muito difícil, muito difícil.

RÚHU’LLÁH

Se Deus quiser você logo estará melhor. (anda em direçãoao chicote e como se o estivesse segurando diz) Bang 1! Bang 2!

VARQÁ

Sente-se meu filho. Não faça nada para que coloquem osgrilhões e as algemas em nós novamente.

RÚHU’LLÁH (senta-se ao lado do pai)

Sim, senhor. Posso deitar no seu colo?

VARQÁ

Claro, meu filho. (depois de alguns segundos Rúhú’lláhdorme) Ó Deus! Aceita o meu filho em Teu caminho.

ASSASSINO

Os prisioneiros estão fazendo festa, disseram que comoamanhã comemora-se os 50 anos de reinado, o rei vai libertaros prisioneiros. Quem sabe vão libertar vocês, afinal até os

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grilhões e algemas já tiraram, isto quer dizer que vocês nãocometeram um pecado tão grande.

VARQÁNinguém sabe sobre o seu próprio destino. Aquilo que

Deus quiser será realizado e nós devemos aceitar a vontade deDeus. (faz um trecho da oração...)

“Com um olhar Ele realiza cem mil esperanças, numrelance cura cem mil doenças incuráveis... Ele cumpre coma Sua vontade, Ele ordena o que Lhe apraz. Assim, te émelhor curvares a cabeça em submissão e colocar Tua con-fiança no Senhor, Todo-misericordioso.”

Enfim, nós estamos nas poderosas mãos Dele! Vamostentar descansar um pouco.

(Dormem, toca a música de fundo. Depois vai amanhe-cendo, e ouve-se o som do galo e pássaros. Rúhu’lláh, levanta-se de repente.)

VARQÁO que aconteceu meu filho? Durma mais um pouco, ainda

é muito cedo.

RÚHU’LLÁH (senta-se e conforme vai falando levanta osbraços)

Sonhei, meu pai. Sonhei que você e eu éramos duas pom-bas. O senhor voou e foi embora, e desesperadamente estavaesperando por mim. Eu batia as minhas asas, mas não conse-guia voar para chegar até o senhor. Até que, finalmente, voei echeguei até o senhor e voamos juntos aos mais altos céus.

VARQÁDeus queira que este seja um sonho bom meu filho, Deus

queira que seja bom.

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(Assassino olha para eles com muito amor)

RÚHU’LLÁH

Tenho um sentimento tão bom, agora me sinto tão feliz.Pai, quero meditar. Quero orar (e assim levanta as mãos e fazesta oração):

“Enaltecido seja Teu Nome, ó meu Deus, por haveresmanifestado o Dia que é o Rei dos Dias, o Dia que anunci-aste a Teus eleitos e Teus Profetas, em Tuas mais excelentesEpístolas, o Dia em que difundiste sobre toda a criação oesplendor da glória de todos os Teus Nomes. Grande é afelicidade de quem se dirigiu a Ti, entrou em Tua Presençae percebeu os tons da Tua voz.” (depois levanta, anda umpouco, olha para a direita e para a esquerda, levanta a mão /começa música de fundo)

Lembra-se daquele dia quando a minha avó mandou nossoempregado Kalíl matar o senhor, pai? Mas ela não sabia queKalíl, tinha através do senhor, aceitado esta Causa Abençoadae que assim ele lhe contaria tudo. (abaixa a mão) Assim, Kalílfoi falar com o senhor (senta ajoelhado com as mãos nos jo-elhos) e então o senhor foi obrigado a sair da cidade. Eu e meusirmãos ficamos com a nossa avó, (levanta de novo) então elafoi até um dos sacerdotes e queria que ele escrevesse umasentença de morte para o senhor, o sacerdote disse: “Eu nãoposso escrever a sentença de morte dele, até que a sua blasfê-mia não seja comprovada.”

A avó respondeu: “Eu vou provar a blasfêmia dele atravésde uma de suas crianças. (levanta as mãos) Então minha avóveio até mim e disse: “Um dos amigos de teu pai quer te ver”e me levou até o sacerdote. E me perguntou: “Você pode fazeruma das suas orações?” Eu fiz de cor toda a oração obrigatórialonga (em pé, as mãos repousando nos joelhos)

“Vês, ó meu Deus, quanto meu espírito se agita dentrodeste corpo em seu anseio de te adorar, em seu ardente

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desejo de Te lembrar e louvar; vês como dá testemunhodaquilo que a Língua do Teu mandamento atestou, no reinoda Tua Palavra e no céu do Teu conhecimento. Nesta posi-ção, ó meu senhor, gosto de pedir tudo o que está Contigo,para que eu possa demonstrar minha pobreza, e glorificarTua riqueza e generosidade, declarar minha incapacidade emanifestar Teu poder e domínio.”

(depois, se levanta e erguendo as mãos diz):“Depois que terminei a oração, o sacerdote olhou para a

minha avó e disse: “A senhora deveria envergonhar-se de simesma, como eu posso mandar matar uma pessoa que ensinouao seu filho, numa idade tão tenra, o conhecimento e o amorde Deus?”

(Abaixa as mãos, e então se curva e se levanta três vezese diz o seguinte trecho da oração obrigatória longa)

“Maior é Deus do que todos os grandes!”

(depois, senta e põe as mãos sobre os joelhos. Termina amúsica)

VARQÁ (depois de alguns segundos)Que Deus aceite a sua oração, meu filho. Que Deus aceite

a sua oração.

(neste intervalo, vem um barulho de trás da cena e ouve-se: “Levem todos os prisioneiros para dentro das celas, e ossoldados devem subir nos telhados para vigiar todos os lados,para que ninguém possa fugir. Se você observar qualquer mo-vimento suspeito atire imediatamente”.)

(os três se entreolham com preocupação e estranheza)

RÚHU’LLÁHParece que aconteceu alguma coisa (vai até a porta) Há

duas pessoas vindo para cá.

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NAIEB (enquanto estão indo para a cela fala para chefe)Não se preocupe, eu vou dar um jeito.

ASSASSINOO que aconteceu, o que você acha que aconteceu?

CHEFEAbra a porta. (O Naieb abre a porta)

CHEFEAbra as algemas deste homem (abre as algemas de Varqá,

enquanto o chefe continua pensando) Enfim, vocês consegui-ram fazer o que queriam.

VARQÁMas nós não fizemos nada de errado.

CHEFEVocês o fizeram muito bem feito. O que mais queriam

fazer? (anda de um lado para o outro) Durante 50 anos vocêsbabís estão tumultuando este país através de um clima de terrore medo, e não deixaram sossegada por um segundo as autori-dades deste país.

VARQÁForam os próprios chefes de estado que criaram este clima deterror e medo. Durante estes 50 anos o que o senhor viu dosbabís e dos bahá’ís, além de sua inocência, seu auto-sacrifício,sua fé, sua crença e amor a Deus?

CHEFEEnfim, vocês fizeram aquilo que queriam, (e fala com

muita braveza) mataram o rei, no dia dos 50 anos do reinadodele o mataram!

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VARQÁ

Quem fez isso?

CHEFE

Vocês, foram vocês que o mataram, eu tenho certeza queforam vocês babís (grita) e eu não vou deixar nenhum de vocêsvivos.

VARQÁ

Esta não é uma decisão que o senhor acabou de tomar, há50 anos que vocês querem acabar com os bahá’ís, mas será queconseguiram? Muito pelo contrário, com estas perseguições,vocês acabaram ajudando para que todo o mundo conhecessecada vez melhor esta Revelação. Agora é a sua vez. Faça aquiloque deseja.

CHEFE (com braveza levanta a faca na direção deles e falapara Varqá)

O que você quer, mato primeiro você ou seu filho?

VARQÁ

Para mim, não há diferença.

(chefe sai correndo em direção a Varqá e o acerta, eRúhu’lláh segurando o pai, fala chorando, enquanto o chefe saicaminhando para o outro lado da cena)

RÚHU’LLÁH

Ó pai, ó meu querido pai! Pai querido!

CHEFE (pergunta para Varqá)

E agora, como se sente?

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VARQÁ

Graças a Deus, eu estou bem melhor do que você. (e caino chão)

RÚHU’LLÁH (ajoelha-se do lado do pai e grita alto)

Meu querido pai. (joga-se em cima do pai, um pouco tem-po depois levanta, olha para o chefe e diz) Assassino, me matetambém, mate-me (e vai até o chefe e fala) assassino (batenele) Me mate. Eu quero ir para perto do meu pai. Me matetambém.

(Chefe joga Rúhu’lláh na direção do pai, e ele cai emcima do pai)

ASSASSINO (grita com choro)

Ó assassino, escuta bem o que estou falando: juro porDeus, se você fizer alguma coisa com ele, eu mato você.

CHEFE

Ó safado, agora você também está do lado deles e fica meprovocando. Levem-no daqui!

ASSASSINO (Grita e chora enquanto o estão levando)

Escuta , meu filho, se eu sair desta prisão direi a todos queDeus veio à Terra, que Deus manifestou-se entre os homens. (eassim o levam de uma vez)

(Rúhu’lláh senta-se de costas e fica olhando para a pare-de e chefe fica em pé pensando, depois de um tempo começa acaminhar de um lado para o outro, olha para Rúhu’lláh edepois fala para Naieb)

CHEFE (com calma)

Feche esta porta e saia daqui você também.

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NAIEB

Por favor, chefe, Eu sei que eu não sou ninguém compa-rado ao senhor, mas por favor não faça nada com esta criança,não judie dela, é um inocente, por favor.

CHEFE

Saia. (anda e senta de novo) Ó Naieb, saia! (o Naieb sai)

RÚHU’LLÁH (sentado, de costas)

Eu quero o meu pai. Eu quero ir para junto dele.

CHEFE

Seu pai morreu, ele não está mais aqui para você ir paraperto dele.

RÚHU’LLÁH

Se você me matar também, eu sem dúvida vou para juntodele, por isso ande e complete o seu crime, me mate também.

CHEFE

Não, não tenha medo, eu não vou fazer isso. A partir deagora o seu destino está nas minhas mãos.

RÚHU’LLÁH

E qual é a sua decisão? O que você quer fazer comigo?

CHEFE

Quero te levar aos mais altos tronos. Quero que você atin-ja as posições mais elevadas.

RÚHU’LLÁH

Como?

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CHEFE

Olha, menino querido, você é um menino de apenas 12anos, mas tem uma inteligência e percepção muito superior àda sua idade. Desde ontem, quando o vi pela primeira vez,percebi que se você for educado devidamente vai ter uma po-sição muito elevada.

RÚHU’LLÁH

Não, eu quero ir até o meu pai. (pausa)

CHEFE (levanta)

O seu pai morreu. Ele era um diabo que te aprisionou, eleera um diabo que, através do nome de pai, te fez prisioneiro.(anda em direção a Rúhu’lláh) Hoje você encontrou a salvação,meu querido filho.

RÚHU’LLÁH

Será que o senhor é muçulmano?

CHEFE

É lógico, que sou.

RÚHU’LLÁH

Aceita Alí como o sucessor de Maomé?

CHEFE

Sim.

RÚHU’LLÁH

Mas o filho de Muljim pensava que Alí era um diabo queenganou o povo, e ele achava que matando Alí, livraria aspessoas do cativeiro. O senhor acredita na Sua Santidade JesusCristo como um Mensageiro de Deus? (chefe vai andando de-

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sesperado de um lado para o outro) Mas, os assassinos Deleacreditavam que tinham salvado a humanidade.

CHEFEEles não entendiam. Eles não conseguiam distinguir entre

a verdade e a falsidade. Por exemplo, Maomé se declarou quan-do a humanidade estava na maior ignorância e Cristo tambémse declarou quando o povo estava mergulhado em corrupção.

RÚHU’LLÁH (pouco a pouco vira a cabeça e continua)Será que hoje o povo não está nesta mesma ignorância?

Será que nesta época a humanidade não está mergulhada emcorrupção? Será que quando Maomé se declarou o povo sabiaque estava sendo ignorante, ou quando Cristo se declarou elessabiam que eram corruptos? Em todas as épocas, a humanidadesempre pensa que eles são os melhores, que eles são civiliza-dos, que eles podem fazer tudo e que os seus ancestrais é queeram maus, selvagens e ignorantes.

CHEFE (grita)Chega! Tudo isso que o seu pai lhe ensinou é bobagem.

Olhe para o seu futuro, olhe para o horizonte de luz que estáà sua frente. Escute o que eu digo, e se você me seguir eu tedarei uma posição muito elevada, muito alta. (pega nos braçosde Rúhu’lláh) e todos vão lhe respeitar muito.

RÚHU’LLÁHUma posição como a do senhor?

CHEFEUma posição muito mais elevada que a minha.

RÚHU’LLÁH (chefe está andando e falando e Rúhu’lláh atrásdele recita a Palavra Oculta)

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Ó FILHOS DA VANGLÓRIA!Por uma soberania efêmera, abandonaste Meu domí-

nio imperecível e com as vestes ornadas do mundo vos en-feitastes, ufanando-vos disso. Por Minha beleza! Hei dereunir todos debaixo da coberta unicolor do pó e apagar ascores diversas de todos, salvo daqueles que escolheram aMinha própria cor, a qual é a expurgação de toda cor.”

CHEFE (anda nervoso e grita)Chega! (pega o pescoço de Rúhu’lláh e grita) Chega. (sol-

ta, vai andando para trás, olha para a mão, vai até a porta ediz) Naieb, venha aqui e traga uma corda.

RÚHU’LLÁH (continua falando, vai encurralando o chefe atéa parede oposta)

“Não penseis que os atos que perpetrastes tenham sidoapagados de Minha vista. Por Minha beleza! Todas as vos-sas ações, Minha Pena as gravou em caracteres nítidos so-bre tábuas de crisólito.”

CHEFENaieb!!!

NAIEB (chega até a porta e diz)Senhor, peço que não faça nada com este menino.

CHEFEMandei você trazer uma corda.

RÚHU’LLÁH (mostra bastão)Por que o senhor não usa isto?

CHEFEEu vou usar isto mesmo.

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NAIEB (com choro)

Senhor, por favor, eu imploro que não faça isso. Não omate, você está sendo pior do que os que mataram ImamHusayn e Cristo. Por favor, deixe-o.

CHEFE (com braveza)

Suma daqui. (repete várias vezes) Suma. (e o chefe poucoa pouco vai sentando do lado da porta)

RÚHU’LLÁH

Por que você está esperando, sua excelência? Eu tenhopressa, o meu pai está esperando.

CHEFE...

Seu pai morreu e você não está querendo entender isso. Ocorpo dele, que não tem mais vida, está jogado aqui.

(Começa música final)

RÚHU’LLÁH

Faça o seu serviço e deixe o espírito do meu pai me levar.Chegou a hora de eu ir até ele e voar para o céu celestial.

(O chefe olha para ele e devagar vai pegar o bastão e trazaté Rúhu’lláh que está sentado, coloca no pescoço dele e diz)

CHEFE

Diga as suas últimas palavras.

RÚHU’LLÁH (levanta as mãos)

‘Alláh’u’Abhá! Yá Bahá’ul-Abhá!

(Encerra-se com música)

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‘Abdu’l-Bahá: “Servo da Glória”, título de ‘Abbás Effendi, ofilho mais velho de Bahá’u’lláh.Báb: “Porta”. Título assumido por Mirzá ‘Alí Muhammad de-pois da declaração de Sua missão em Shiráz em 23 de maio de1844.Bahá’u’lláh: Título de Mirzá Husayn Ali (1817-1892), o Pro-feta-Fundador da Fé Bahá’í. Em arábe significa “ao mesmotempo, a glória, a luz e o esplendor de Deus”.Bahá’í: Seguidor de Bahá’u’lláh.Bahjí: Mansão onde Bahá’u’lláh, na cidade-prisão de ‘Akká,passou Seus últimos anos de vida. Significa “Deleite”.Bayán: “Expressão”, “Explicação”; nome do Livro Sagradorevelado pelo Báb.Hájí: Um muçulmano que tenha feito peregrinação a Meca.Imame: Título dos doze sucessores xiitas de Mohammad(Maomé). Também se aplica aos dirigentes religiosos muçul-manos.Imame Jumih: O imame principal de uma cidade. Chefe dosmullás.Irã: Sob o reinado da dinastia Pahleví (1925-1979) o antigonome Irã substituiu a designação Pérsia. Em geral se refere àPérsia quando trata-se de eventos históricos anteriores ao sé-culo XX. Os eventos mais recentes referem-se àquele paíscomo Irã.Khánum: Senhora.

Glossário

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Kitáb: Livro.Kitáb-i-Aqdás: O Livro Sacratíssimo, o Livro das Leis deBahá’u’lláh.Kitáb-i-Iqán: O Livro da Certeza.Mirzá: Quando se coloca depois de um nome significa “Prin-cípe”; se à frente, simplesmente “Senhor”.Mullá: Clérigo muçulmano.Naw-Rúz: “Novo Dia”. Nome que se dá ao Ano Novo Bahá’í.Qaim: O Prometido, conforme as Sagradas Escrituras do Islã.Ridván: “Paraíso”.Siyyid: Descendente de Maomé.Siyáh-Chál: “Cova Negra”, prisão subterrânea onde foi apri-sionado Bahá’u’lláh.Vizir: Ministro da Corte Persa.Xá: Rei da antiga Pérsia, hoje Irã.Xiitas: Seita do Islamismo.

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