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INSTITUTO DE PESQUISAS DA MATA ATLÂNTICA

PROJETO APOIO À CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO ESTADO DO

ESPÍRITO SANTO: UM PROCESSO PARTICIPATIVO INTEGRANDO AS COMUNIDADES

LOCAIS

CONTRIBUIÇÃO AO PROCESSO DE CRIAÇÃO DA

RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

DA FOZ DO RIO DOCE

VITÓRIA

2009

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FICHA TÉCNICA

Instituição executora: Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema)

Coordenação Geral: Elizete Sherring Siqueira

Coordenação Administrativo-financeira: Leandro Vieira Chiesa

Educação socioambiental: Roberta Cordeiro Fassarella

Assessoria de Comunicação Social: Fernanda Couzemenco

Assessoria de Mobilização social: Deusdedet Alle Son

Organização: Geovanni Ribeiro Loiola

Histórico: Roberto Sforza

Consultores

Flora: Marcelo Simonelli (coordenador), Luiz Fernando Silva Magnago, André Paviote

Fontana, Ludovic Jean Charles Kollmann, Fabio Ribeiro de Mattos e Clara Esgário

Entomofauna: Karina Schmidt Furieri (coordenadora), Antonia Figueira Van de Koken,

Francisco Candido Cardoso Barreto, Fernanda Tonini Gobbi e Geovanni Ribeiro Loiola

Herpetofauna: José Luiz Helmer (coordenador), Edicarlos Pralon da Silva e Marcio Lopes

Gomes

Avifauna: José Eduardo Simon (coordenador) e Juliana Peres

Mastofauna não-voadora: Daniela Munhoz Rossoni (coordenadora), Barbara Maria de

Andrade Costa, Lauro Narciso e Anderson Durão

Mastofauna voadora: Rodrigo Lemes Martins (coordenador), Luciany Ferreira de Oliveira,

Rodrigo da Silva Cipriano, Renata Costa Carvalho e Mirela Scabello

Geologia, Pedologia e Clima: João Antônio Motta Neto

Socioeconomia: Aloisio Fritzen

Perfil Fundiário: Maris Anandréia dos Santos

Educação Ambiental: Deusdedet Alle Son, Flavia Nascimento Ribeiro e Roberta Cordeiro

Fassarella

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PARCERIAS

Instituto Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (IEMA)

Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal/PDA (MMA/PDA)

Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia (SECT)

Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (IDAF)

Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER)

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Museu de Biologia Professor Mello Leitão (MBML)

Faculdade de Ciências da Saúde de Vitória (FAESA)

Conservação Internacional do Brasil (CI – BRASIL)

Associação de Certificação de Produtos Orgânicos do Espírito Santo Chão Vivo

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FICHA TÉCNICA DO INSTITUTO

DE PESQUISAS DA MATA

ATLÂNTICA (IPEMA)

CONSELHO DELIBERATIVO

Presidente

Elizete Sherring Siqueira

Vice-presidente

Luiz Son

Conselheiros

Luiz Paulo de Souza Pinto

Marcelo Simonelli

Sérgio Lucena Mendes

Antônio Claudino de Jesus

Leonora Pires Costa

CONSELHO FISCAL

Conselheiros

Hélio de Queiroz Boudt Fernandes

João Carlos Alciati Thomé

Roberta Cordeiro Fassarella

Valéria Fagundes

Rua Desembargador Sampaio, 40, Sala 702/704, Edifício Top Center, Praia do Canto,

Vitória, ES

CEP 29055-250

CNPJ 39.351.4320001-82

Telefone: (27) 3314-2537

E-mail: [email protected]

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SUMÁRIO

1. Introdução..................................................................................................................................... 1

1.1. Histórico................................................................................................................................ 2

2. Meio Abiótico................................................................................................................................ 5

2.1. Meio Físico............................................................................................................................ 5

2.1.1. Introdução.................................................................................................................. 5

2.1.2. Objetivo...................................................................................................................... 5

2.1.3. Materiais e métodos.................................................................................................. 6

2.1.4. Geologia...................................................................................................................... 6

2.1.5. Clima.......................................................................................................................... 7

2.1.6. Recursos hídricos...................................................................................................... 8

2.1.7. Solos............................................................................................................................ 12

2.1.8. Fatores antrópicos e impactos ambientais.............................................................. 18

2.2. Perfil Fundiário.................................................................................................................... 21

2.2.1. Introdução.................................................................................................................. 21

2.2.2. Materiais e métodos.................................................................................................. 22

2.2.3. Resultados.................................................................................................................. 23

2.2.3.1. Aspectos econômicos do município de Linhares.................................................... 23

2.2.3.2. Aspectos fundiários da área de estudo.................................................................... 24

2.2.4. Discussão.................................................................................................................... 26

3. Meio Biótico................................................................................................................................... 26

3.1. Flora....................................................................................................................................... 26

3.1.1. Introdução................................................................................................................. 26

3.1.2. Materiais e métodos.................................................................................................. 28

3.1.3. Resultados.................................................................................................................. 29

3.1.3.1. Enquadramento fitogeográfico............................................................................... 29

A. Restinga................................................................................................................... 29

B. Planície aluvial........................................................................................................ 34

3.1.3.2. Caracterização fitofisionômica............................................................................... 36

A. Restinga................................................................................................................... 36

A1. Herbácea Não-inundável................................................................................... 36

A2. Formação Arbustiva Fechada Não-inundável (Pós-praia)............................. 37

A3. Floresta Não-inundável (Mata Seca de Restinga)........................................... 37

A4. Arbustiva Aberta Não-inundável (Aberta de Clusia)....................................... 38

A5. Herbácea Inundável (Brejos ou Alagados)...................................................... 41

A6. Floresta Inundada e Inundável (Floresta Paludosa)...................................... 41

B. Floresta Aluvial...................................................................................................... 42

B1. Mata de cabruca................................................................................................ 42

C. Culturas................................................................................................................... 43

C1. Pastagem............................................................................................................ 45

3.1.3.3. Florística................................................................................................................. 45

3.1.3.4. Espécies ameaçadas de extinção............................................................................ 54

3.1.3.5. Plantas endêmicas e raras...................................................................................... 59

3.1.3.6. Plantas úteis............................................................................................................ 59

3.1.4. Considerações finais................................................................................................. 60

3.2. Entomofauna......................................................................................................................... 61

3.2.1. Introdução................................................................................................................. 61

3.2.2. Materiais e métodos.................................................................................................. 62

3.2.2.1. Área de estudo......................................................................................................... 62

3.2.2.2. Espécies de insetos ameaçadas de extinção........................................................... 63

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3.2.2.3. Odonata.................................................................................................................... 63

3.2.2.4. Lepidoptera frugívoros............................................................................................ 65

3.2.2.5. Vespas parasitóides.................................................................................................. 66

3.2.2.6. Análise dos dados.................................................................................................... 67

3.2.3. Resultados.................................................................................................................. 68

3.2.3.1. Espécies de insetos ameaçadas de extinção........................................................... 68

3.2.3.2. Odonata................................................................................................................... 68

3.2.3.3. Lepidoptera frugívoros........................................................................................... 70

3.2.3.4. Vespas parasitóides................................................................................................. 70

3.2.4. Discussão.................................................................................................................... 71

3.3. Herpetofauna........................................................................................................................ 72

3.3.1. Introdução................................................................................................................. 72

3.3.2. Materiais e métodos.................................................................................................. 73

3.3.3. Resultados e discussão.............................................................................................. 76

3.3.4. Conclusão................................................................................................................... 84

3.4. Avifauna................................................................................................................................ 85

3.4.1. Introdução................................................................................................................. 85

3.4.2. Materiais e métodos.................................................................................................. 86

3.4.2.1. Área de estudo......................................................................................................... 86

3.4.2.2. Ambientes amostrados............................................................................................. 87

3.4.2.3. Esforço amostral...................................................................................................... 89

3.4.2.4. Inventário da avifauna............................................................................................ 90

3.4.2.5. Nomenclatura científica.......................................................................................... 92

3.4.3. Resultados.................................................................................................................. 93

3.4.3.1. Composição da avifauna local................................................................................ 93

3.4.3.2. Riqueza de espécies na área de estudo................................................................... 104

3.4.3.3. Riqueza de espécies nos ambientes amostrados..................................................... 105

3.4.3.4. Riqueza das guildas tróficas nos fragmentos florestais......................................... 105

3.4.4. Discussão.................................................................................................................... 106

3.4.5. Conclusões.................................................................................................................. 107

3.5. Mastofauna não-voadora..................................................................................................... 107

3.5.1. Introdução.................................................................................................................. 107

3.5.2. Caracterização da área de estudo............................................................................ 108

3.5.2.1. O distrito de Regência............................................................................................. 108

3.5.2.2. O distrito de Povoação............................................................................................ 108

3.5.3. Materiais e métodos.................................................................................................. 108

3.5.3.1. Mamíferos de pequeno porte.................................................................................. 108

3.5.3.2. Mamíferos de médio e grande porte....................................................................... 111

3.5.4. Resultados.................................................................................................................. 112

3.5.4.1. Mamíferos de pequeno porte.................................................................................. 112

3.5.4.2. Mamíferos de médio e grande porte....................................................................... 114

3.5.5. Síntese dos resultados............................................................................................... 117

3.6. Mastofauna voadora............................................................................................................. 118

3.6.1. Introdução.................................................................................................................. 118

3.6.2. Materiais e métodos.................................................................................................. 118

3.6.2.1. Área de estudo......................................................................................................... 118

3.6.2.2. Amostragem............................................................................................................. 119

3.6.2.3. Procedimentos laboratoriais................................................................................... 120

3.6.2.4. Análises.................................................................................................................... 121

3.6.3. Resultados.................................................................................................................. 121

3.6.4. Discussão.................................................................................................................... 125

3.6.5. Conclusões.................................................................................................................. 126

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4. Meio antrópico.............................................................................................................................. 127

4.1. Socieconomia......................................................................................................................... 127

4.1.1. Introdução.................................................................................................................. 127

4.1.2. Objetivos.................................................................................................................... 128

4.1.3. Materiais e métodos.................................................................................................. 128

4.1.4. Desenvolvimento........................................................................................................ 128

4.1.4.1. Informações municipais.......................................................................................... 128

A. Histórico................................................................................................................... 128

B. População................................................................................................................ 129

C. Educação e cultura.................................................................................................. 130

D. Saúde........................................................................................................................ 131

E. Habitação e saneamento......................................................................................... 133

F. Atividade econômica e agropecuária...................................................................... 134

G. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) municipal......................................... 136

4.1.5. Informações sobre as comunidades locais............................................................... 136

4.1.5.1. População, infra-estrutura e organização social................................................... 136

A. Regência................................................................................................................... 136

B. Povoação.................................................................................................................. 137

C. Comboios................................................................................................................. 137

4.1.5.2. Problemas ambientais............................................................................................. 138

4.1.5.3. Potencialidades........................................................................................................ 139

4.1.6. Considerações finais.................................................................................................. 140

4.2. Educação Ambiental............................................................................................................ 140

4.2.1. Introdução................................................................................................................. 140

4.2.2. Materiais e métodos.................................................................................................. 141

4.2.2.1. Definição dos agentes pesquisados......................................................................... 141

4.2.2.2. Coordenação da pesquisa........................................................................................ 141

4.2.2.3. Instrumentos de pesquisa........................................................................................ 141

4.2.3. Resultados.................................................................................................................. 142

4.2.3.1. Identificação dos entrevistados............................................................................... 142

4.2.3.2. Perfil socioeducacional........................................................................................... 142

4.2.3.3. Participação e organização social.......................................................................... 144

4.2.3.4. Aspectos ambientais................................................................................................ 144

4.2.4. Conclusão................................................................................................................... 148

4.3. Comunicação Social.............................................................................................................. 149

5. Apresentação e discussão dos estudos com as comunidades locais e demais

participantes................................................................................................................................. 149

5.1. Introdução............................................................................................................................. 149

5.2. Resultados............................................................................................................................. 150

5.3. Discussão e recomendações propostas pelas comunidades locais e demais

participantes.................................................................................................................... 151

6. Considerações finais...................................................................................................................... 153

7. Referências..................................................................................................................................... 154

Anexo I. Relatório do Workshop sobre a Proposta de Criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio Doce................................................................................................. 170

Anexo II. Diagnóstico da Educação Ambiental sobre a área de interesse para criação de Unidades de Conservação.................................................................................................................................201

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1. INTRODUÇÃO

A Mata Atlântica é a segunda maior floresta tropical do continente americano, um dos maiores e

mais relevantes centros de biodiversidade do planeta e um dos biomas mais ameaçados do mundo.

Originalmente o Estado do Espírito Santo possuía quase 90% de sua superfície coberta por este

bioma, uma paisagem que ficou restrita a 11% do território estadual devido ao processo de

ocupação desordenado. Apesar deste histórico, seus remanescentes florestais ainda abrigam uma

enorme diversidade biológica, incluindo um alto grau de endemismo, o que reforça a necessidade

de sua preservação. Das áreas florestais estaduais, menos de 3,5% estão sob a forma de áreas

protegidas, não diferindo dos outros Estados brasileiros, que cobrem em conjunto menos de 2% de

todo o seu território.

Visando contribuir para o processo de criação de novas Unidades de Conservação no Estado do

Espírito Santo e conservação da sociobiodiversidade da Mata Atlântica estadual, o Instituto de

Pesquisas da Mata Atlântica elaborou e implementou o Projeto de Apoio à Criação de Unidades de

Conservação ou Projeto Saberes da Mata: Um Jeito Participativo de Cuidar da Mata Atlântica,

uma iniciativa financiada pelo Kreditanstalt für Wiederaufbau (KfW) e pelo Ministério do Meio

Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA).

A etapa inicial de mobilização para o desenvolvimento do projeto ocorreu em abril de 2005, com a

realização de um workshop que mapeou 30 áreas prioritárias e potenciais para a criação de

Unidades de Conservação, um esforço coletivo de vários especialistas de diversas regiões e Estados

com representatividade no Espírito Santo. Cinco destas trinta áreas foram priorizadas para a

realização do projeto: (1) Serra das Torres, compartilhada pelos municípios de Atílio Vivácqua,

Mimoso do Sul e Muqui; (2) Santa Lúcia, localizada no município de Santa Teresa; (3) Alto

Misterioso, formada por áreas dos municípios de Itaguaçu, Santa Teresa, Itarana e São Roque do

Canaã; (4) Santa Leopoldina, localizada no município de mesmo nome e como última área de

atuação o (5) Delta do Rio Doce, no município de Linhares.

As etapas do projeto incluíram: (1) realização de estudos técnicos, coletando informações sobre o

meio físico, estrutura fundiária, flora, entomofauna, herpetofauna, avifauna, mastofauna não-

voadora, mastofauna voadora e socioeconomia de cada área; (2) fóruns de divulgação e

compartilhamento de informações com entidades governamentais, empresariais, da sociedade civil

organizada e comunidades locais, incluindo a realização de uma Oficina de Integração em cada

área; (3) atividades de Educação Ambiental, comunicação e mobilização social; (4) realização de

um workshop técnico para cada área e (5) elaboração de um relatório final para cada área, contendo

todas as informações obtidas nas etapas anteriores, especialmente a proposta de criação de

Unidades de Conservação, obtida e validada com a realização da Oficina de Integração.

Os fóruns e atividades de Educação Ambiental, comunicação e mobilização social envolveram

exposições itinerantes, encontros com pesquisadores, estímulo de atividades alternativas de renda e

divulgação dos diagnósticos ambientais e socioeconômicos.

Neste sentido, quatro Relatórios, referentes às áreas de Serra das Torres, Santa Lúcia, Alto

Misterioso e Santa Leopoldina, contendo todas as informações resultantes dos estudos e,

especialmente a proposta de criação de Unidades de Conservação discutida e validada nas Oficinas

de Integração, já foram entregues ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos

(IEMA).

Deste modo, este documento pretende contribuir para a criação do processo da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, um processo iniciado no ano de 2002, com a

elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado e Sustentável para as Comunidades do Entorno

da Reserva Biológica de Comboios, ao longo de um extenso processo histórico.

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Os estudos físicos e pesquisas aqui expostos ampliam o conhecimento da região e fornecem

subsídios para a conservação e proteção da sociobiodiversidade local. Com este registro, espera-se

que a experiência da proposta de criação da Unidade de Conservação no Espírito Santo possa

contribuir para o desenvolvimento de métodos que incluam contribuições da população local, bem

como inclusão dos estudos socioambientais como um passo importante na gestão participativa de

Unidades de Conservação.

1.1 Histórico

No ano de 2002, a Fundação Pró-TAMAR, com recursos captados junto ao Fundo Nacional do

Meio Ambiente (FNMA), concluiu a elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado e

Sustentável para as Comunidades do Entorno da Reserva Biológica de Comboios, situada na região

da foz do Rio Doce, município de Linhares, Estado do Espírito Santo.

O assim chamado Plano Comboios foi construído de forma participativa junto às comunidades de

Regência e Povoação e teve no seu Conselho Gestor a sua instância de avaliação, orientação e

validação das propostas apresentadas, sendo formada por representantes da Associação de

Moradores de Regência, Associação de Moradores de Povoação, Associação dos Pescadores de

Regência, Associação Indígena Tupiniquins de Comboios, Fundação Nacional do Índio (FUNAI),

Fundação Pró-TAMAR, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA), Reserva Biológica de Comboios, Centro TAMAR e Prefeitura Municipal de

Linhares.

Um dos principais resultados do Plano Comboios constituiu-se na formulação da proposta para a

criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, visando garantir a

conservação da rica biodiversidade local e buscando proporcionar instrumentos para a melhoria da

qualidade de vida das comunidades de Regência e Povoação. Estes objetivos têm como base a

manutenção e elaboração de práticas sustentáveis de uso dos recursos naturais historicamente

desenvolvidas por estas comunidades.

As Unidades de Conservação integrantes do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da

Natureza (SNUC), instituído pela Lei n° 9985/2000 e regulamentado pelo Decreto n° 4340/2002

dividem-se em dois grupos de áreas protegidas com características específicas: Unidades de

Proteção Integral, cujo objetivo básico é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto

dos seus recursos naturais; e Unidades de Uso Sustentável, cujo objetivo básico é compatibilizar a

conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.

Ainda de acordo com o SNUC, as Reservas de Desenvolvimento Sustentável, Unidades de

Conservação da categoria de Uso Sustentável, compreendem áreas naturais utilizadas por

populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se em sistemas sustentáveis de

exploração dos recursos naturais, tendo como objetivos básicos a preservação da natureza,

melhoramento das condições de vida e exploração dos recursos naturais pelo aperfeiçoamento das

técnicas de manejo.

Esta categoria de Unidade de Conservação foi selecionada pelo Conselho Gestor do Plano

Comboios, por se enquadrar perfeitamente nas características da região, marcada pela presença de

comunidades tradicionais que vivem da pesca, agricultura e silvicultura e pela grande diversidade

de ambientes em excelente estado de conservação. As praias arenosas e semidesérticas da região

abrigam o único sítio conhecido no Brasil de desova da tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea)

e atuam como importante sítio reprodutivo da tartaruga cabeçuda (Caretta caretta), ambas

constando na Lista Oficial Brasileira de Espécies Ameaçadas de Extinção. A região também

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apresenta formações de restingas que variam desde vegetações herbáceas, arbustivas, até matas

secas e matas de aluvião associadas ao cultivo de cacau, localmente conhecidas como mata de

cabruca; bem como várias lagoas costeiras, veredas e cursos d’água que abrigam diversificada

fauna de aves, anfíbios e insetos aquáticos.

O Rio Doce, que forma a bacia hidrográfica de maior representatividade dos Estados do Espírito

Santo e Minas Gerias, apresenta uma característica impar na sua foz, um estuário projetado sobre a

área marinha contígua, sem a ocorrência de manguezais na sua porção interna, dada a grande vazão

do rio que dificulta a penetração de água do mar. Esta condição proporciona a ocorrência de uma

diversificada fauna aquática, onde predominam espécies dulciaquícolas na porção interna da foz,

além de alta produtividade biológica sobre a plataforma continental interna, suportando estoques

pesqueiros de grande relevância econômica e social, sendo explorados tanto pela pesca artesanal e

de pequena escala praticadas pelas comunidades locais, quanto por frotas industriais provenientes

de outras regiões do Estado, do sul e sudeste do Brasil.

Considerando a relevância ambiental da região, o Governo do Estado do Espírito Santo doou ao

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em janeiro

de 2003, uma área de aproximadamente 2700 ha, com o objetivo específico de ampliar a Reserva

Biológica de Comboios ou para a criação de outra Unidade de Conservação em categoria

compatível com as necessidades de conservação e uso dos recursos naturais tradicionalmente

praticados pelas comunidades da região. Esta área, que representa cerca de 30 % da superfície

continental total proposta para a Unidade, encontra-se escriturada em nome do Instituto Brasileiro

do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e os procedimentos

administrativos para indenização das benfeitorias realizadas por posseiros ali instalados já se

encontram em andamento.

A proposta inicial de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável incluía somente as áreas

continentais na região da foz do Rio Doce, limitando-se ao sul pela terra indígena de Comboios,

abrangendo as formações de restinga e lagoas costeiras no entorno da Reserva Biológica de

Comboios, além da porção interna da foz do rio, a parte das matas de cabruca do Rio Doce,

alcançando a região da lagoa de Monsarás ao norte.

Entretanto, com o incremento de ações na região marinha da foz do Rio Doce nos últimos anos,

como atividades petrolíferas, da navegação de cabotagem, de capturas acidentais de tartarugas e

botos nas pescarias e do aumento dos conflitos de pesca entre comunidades locais e pescadores de

escala semi-industrial provenientes de outras regiões, efetuou-se uma revisão da proposta original,

havendo a inclusão de uma área marinha na plataforma continental interna até aproximadamente a

isóbata de 20 metros.

Apesar da convergência de interesses das instituições conservacionistas e das comunidades locais

para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, a proposta foi

efetivamente formalizada junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

(ICMBio) em novembro de 2007 no processo n° 02009.002052/2007-41, após reuniões com as

comunidades de Regência e Povoação, proponentes da Unidade de Conservação, para a ratificação

da inclusão da área marinha.

Entre dezembro de 2007 e julho de 2008, por meio de recursos obtidos junto à Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Brasil, foi realizado um

diagnóstico participativo da atividade pesqueira, abrangendo as comunidades de Barra do Riacho,

localizada no município de Aracruz, além de Regência, Povoação e Degredo, localizados no

município de Linhares, ambos no Estado do Espírito Santo e que realizam suas pescarias na região

estuarina da foz do Rio Doce. Também foram realizados os diagnósticos das atividades turísticas e

dos empreendimentos industriais e de infra-estrutura, públicos e privados existentes na região,

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4

visando contribuir para os estudos técnicos realizados e necessários para a criação da Unidade de

Conservação.

Com as contribuições dos estudos sobre os meios físico, biótico e socioeconômico realizados pelo

Instituo de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema) na área proposta para a criação da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce (Figura 1), foram dados passos significativos

para a conclusão da etapa de estudos técnicos, complementando as informações necessárias para

consolidar e fortalecer a iniciativa de criação da Unidade de Conservação e permitindo que se

avance para a etapa de consulta pública inerente ao processo de criação de Unidades de

Conservação estabelecido pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

(SNUC).

Figura 1. Área em estudo para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio

Doce.

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2. MEIO ABIÓTICO

2.1 Meio Físico

2.1.1 Introdução

O Estado do Espírito Santo apresenta somente cerca de 11% da sua cobertura original (SOS Mata

Atlântica, 2009), havendo a necessidade de esforços emergenciais para conter a devastação

florestal e ampliar a área coberta por este bioma.

A melhoria das condições de vida das populações direta e indiretamente dependentes dos recursos

naturais também é necessária e as Unidades de Conservação de Proteção Integral e Uso Sustentável

são ferramentas muito úteis neste processo.

Desta maneira, o compartilhamento de informações científicas aliadas a processos democráticos e

participativos de criação de novas Unidades de Conservação caracterizam iniciativas estratégicas

desenvolvidas e implatadas para viabilizar a superação de problemas e contribuir na formulação de

novos caminhos sob a ótica de um desenvolvimento sustentável.

2.1.2 Objetivo

O objetivo dos estudos sobre o meio físico consistiu em caracterizar parte do meio abiótico da

região denominada Delta do Rio Doce, situada nos municípios de Aracruz e Linhares, incluindo

especificamente as comunidades de Regência e Povoação (Figura 2). Desta forma, foram descritos

aspectos geológicos, climáticos, pedológicos e hidrográficos, além de uma breve exposição sobre

fatores antrópicos e impactos ambientais associados à área.

Figura 2. Área de estudo.

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2.1.3 Materiais e métodos

Os métodos utilizados foram: (1) análise de manuais, artigos, livros, mapas e fotografias aéreas

sobre a área de estudo; (2) visitas a campo para o reconhecimento da área de estudo (Figura 3) e (3)

registro fotográfico da área de estudo.

Figura 3. Aspecto da estrada de acesso à área de estudo.

2.1.4 Geologia

A região estudada encontra-se sob domínio dos Sedimentos Quaternários, que se distribuem no

litoral brasileiro desde o Estado do Pará até o norte do Rio de Janeiro (Brasil, 1960). Estes

sedimentos são constituídos por camadas arenosas (Figura 4), argilo-arenosas e argilosas, de cores

variegadas, apresentando por vezes intercalações de leitos lateríticos. Tidos como sedimentos

depositados em condições subaéreas, consolidados ou não, exibem frequentemente uma

estratificação real.

Figura 4. Ambientes sedimentares e alagáveis característicos da região.

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Os Sedimentos Quaternários distribuem-se em aluviões atuais ou antigos, ao longo dos vales e vias

fluviais nas planícies costeiras e formam dunas, praias, aluviões, recifes de arenito e restingas; e

podem estar associadas a depósitos de manguezais. Apresentam-se em geral não-consolidados e

são constituídos por sedimentos arenosos (EMBRAPA, 1978).

2.1.5 Clima

A área está localizada nos municípios de Linhares e Aracruz, com altitudes que variam de 10 a 20

metros, sob um regime climático do tipo Aw, de acordo com a classificação de Köppen (1948),

caracterizado como um clima tropical úmido com estação chuvosa no verão e seca no inverno, com

temperatura média do mês mais quente superior a 22oC e do mês mais frio inferior a 18oC. A média

mínima no mês mais frio pode variar entre 11,8 e 18oC, enquanto a média máxima no mês mais

quente pode variar entre 30,7 e 34oC.

A única estação meteorológica existente na região está localizada em Linhares, denominada de

Estação Automática A614, pertencente ao Instituto Nacional de Metereologia (INMET) e

componente do Centro Capixaba de Meteorologia e Recursos Hídricos (CECAM) do Instituto

Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER) (Figuras 5 e 6).

Figura 5. Precipitação média mensal e número de dias chuvosos (1976-2006). Fonte:

CECAM/INCAPER.

Figura 6. Média mensal da temperatura máxima e mínima (1976 a 2006). Fonte: CECAM/INCAPER.

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Tratando-se da classificação das Unidades Naturais do Espírito Santo, pode-se enquadrar a área

como sendo de terras quentes, planas e transição seca e chuvosa (Feitoza et al., 2001),

apresentando cerca de cinco meses secos (Tabela 1).

Tabela 1. Características da unidade natural local (U = chuvoso; S = seco; P = parcialmente seco, com

dois meses parcialmente secos contados como um mês seco)

Zona Relevo Pluviosidade

Terras quentes, planas e

de transição seco-chuvosa

(Zona 8)

Declividade Meses secos, seco-chuvosos e chuvosos

< 8%

J F M A M J J A S O N D

P P P P P P P S P U U U

2.1.6 Recursos hídricos

A região em estudo situa-se na Bacia Hidrográfica do Rio Doce (Figura 7), abrangendo

integralmente os municípios de Afonso Cláudio, Águia Branca, Alto Rio Novo, Governador

Lindemberg, Itarana, Itaguaçu, Laranja da Terra, Pancas, Marilândia, Rio Bananal, São Domingos

do Norte, São Gabriel da Palha, São Roque do Canaã, Sooretama e Vila Valério. A bacia também

abrange de forma parcial os municípios de Ibatiba, Ibiraçu, Iúna, Jaguaré, João Neiva, Linhares,

Mantenópolis, Nova Venécia, Santa Teresa e São Mateus.

Figura 7. Bacia Hidrográfica do Rio Doce. Fonte: Sub-Gerência de Geomática do Instituto Estadual de

Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA, 2007).

A Bacia Hidrográfica do Rio Doce abrange uma área de 13807 quilômetros quadrados no Espírito

Santo e sua rede de drenagem equivale a 10630 quilômetros (Figuras 8 e 9). O principal rio desta

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bacia é o Rio Doce, que tem como principais afluentes os Rios Guandu, Pancas, Santa Joana, Santa

Maria do Rio Doce e São José.

Figura 8. Bacia Hidrográfica do Rio Doce com destaque para a área de estudo delimitada por uma

circunferência vermelha. Fonte: Sub-Gerência de Geomática do Instituto Estadual de Meio Ambiente

e Recursos Hídricos (IEMA, 2007).

Figura 9. Sub-bacias hidrográficas do Rio Doce com destaque para a área de estudo delimitada por

uma circunferência vermelha. Fonte: Sub-Gerência de Geomática do Instituto Estadual de Meio

Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA, 2007).

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O Rio Comboios também está presente na região analisada, com cerca de 30 quilômetros de

extensão, sendo formado pela drenagem das várzeas litorâneas, ao sul do Rio Doce. Este curso de

água corre no sentido norte-sul, desaguando no Rio Riacho (Fundação Pró-TAMAR, 2002). Uma

série de ilhas oriundas de deposição de sedimentos também é encontrada próxima à foz, sendo

utilizadas para a exploração agrícola de cacau e banana.

A região apresenta diversas lagoas de menor ou maior porte (Figura 10), destacando-se as Lagoas

Areal, Monsarás, Cacimbas e Parda. As principais praias existentes são as de Regência, Comboios,

Povoação e Monsarás, utilizadas principalmente para o lazer e a prática de surf, sendo também um

local essencial para desova de tartarugas marinhas (Fundação Pró-TAMAR, 2002).

Figura 10. Rede de drenagem da Bacia Hidrográfica do Rio Doce com destaque para a área de estudo

delimitada por uma circunferência vermelha. Fonte: Sub-Gerência de Geomática do Instituto Estadual

de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA, 2007).

Analisando-se as curvas de distribuição das chuvas nesta Bacia Hidrográfica, pode-se notar que a

pluviosidade corrente na área de estudo varia entre 1190 a 1310 milímetros (Figura 11).

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Figura 11. Curvas de precipitação da Bacia Hidrográfica do Rio Doce com destaque para a área de

estudo delimitada por uma circunferência vermelha. Fonte: Sub-Gerência de Geomática do Instituto

Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA, 2007).

2.1.7 Solos

As classes encontradas na região foram:

1. Neossolos quartzarênicos hidromórficos A moderados, com fase de floresta subperenifólia de

restinga e campos de restinga em relevo plano (RQ).

2. Associação de gleissolos tiomórficos distróficos com textura argilosa (GJ) mais organossolos

tiomórficos textura orgânica, em fase de campos de várzea em relevo plano (OJ).

3. Espodossolo humilúvico A com proeminente textura arenosa em fase de campos de restinga e

floresta perenifólia de restinga em relevo plano (EK).

4. Neossolos flúvicos eutróficos A fracos e moderados de textura argilosa, com fase de floresta

perenifólia de várzea relevo plano (RY).

Na região estudada os neossolos quartzarênicos distróficos foram predominantes e consistem em

solos profundos, com textura arenosa em todo o perfil, excessivamente drenados, de rápida

permeabilidade, porosos e pouco susceptíveis à erosão devido ao relevo plano. Possuem também

um caráter distrófico, com acidez variando de forte a extremamente ácidos (Figura 12).

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Figura 12. Neossolos quartzarênicos hidromórficos.

Estes solos desenvolvem-se a partir de sedimentos arenosos, ocorrendo em relevo plano com

altitudes que variam de 5 a 10 metros, tendo como vegetação natural os campos de restinga e

floresta subperenifólia de restinga.

Esta classe de solos apresenta uma sequência de horizontes A e C, com espessura superior a 250

centímetros. Há pouca diferenciação entre os horizontes devido a uma pequena variação entre suas

características morfológicas, podendo ser evidenciada alguma diferenciação em relação à

coloração. Pode-se citar como elemento diferencial entre os horizontes A e C os pequenos teores de

matéria orgânica no horizonte superficial, que segue decrescendo com o aumento da profundidade.

Também são encontrados solos conhecidos como gleissolos tiomórficos distróficos (Figura 13),

que tem caráter organo-mineral, rasos, pouco desenvolvidos e apresentando horizonte A com alto

teor de matéria orgânica, seguidos de horizontes fortemente gleizados. Estão situados em área de

relevo plano, com altitudes variando em torno de 10 metros, com drenagem dificultada e lençol

freático bastante elevado.

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Figura 13. Associação de solos gleissolos tiomórficos distróficos mais organossolos tiomórficos.

Estes solos têm sua origem relacionada às deposições orgânicas e de sedimentos aluviais argilo-

arenosos, ambos do Holoceno e atualmente cobertos pelos campos de várzea. A acidez varia entre

fortemente ácido, nos horizontes superiores; e extremamente ácida nas partes inferiores.

Ocorrendo de forma associada aos gleissolos tiomórficos distróficos, estão os organossolos

tiomórficos, que consistem em solos relativamente jovens, pouco desenvolvidos, originados a partir

de depósitos orgânicos e sedimentos fluviais, sob condições de alagamento permanente, com lençol

freático mantendo-se sempre bastante elevado, com exceção de áreas drenadas. O relevo onde se

localizam permanece plano, ocupando as cotas mais baixas com no máximo 20 metros e com

declividade variando entre 0% a 10%.

Apresentam drenagem dificultada e permeabilidade lenta, podendo ser impedida na parte inferior

do perfil. O perfil apresenta-se constituído por espessas camadas orgânicas assentadas sobre

camadas minerais gleizadas (Horizonte IIC) podendo ocasionalmente originar um horizonte A.

O material de origem desta classe caracteriza-se por acumulações orgânicas sobre depósitos de

natureza arenosa ou argilosa, apresentando uma litologia proveniente de sedimentos do Holoceno.

As propriedades químicas e físicas destas classes de solos exibem uma variação extremamente

diversificada (Tabelas 2, 3 e 4).

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Tabela 2. Descrição física e química dos neossolos quartzarênicos hidromórficos A moderado em fase de floresta subperenifólia de restinga e campos de restinga

relevo plano. Fonte: embrapa (1978).

Horizonte Profundidade

(cm)

Composição granulométrica

da terra fina (%) pH

da

água

Complexo sortivo (mE/100 g) V m P

(ppm)

C

orgânico

% Areia

grossa

Areia

fina Silte Argila Ca Mg K Na S Al H T %

A11 0-10 72 18 7 3 4,4 4,8 0,8 0,06 0,11 5,8 0,7 13,1 19,6 30 11 3 2,72

A12 10-25 79 16 4 1 4,4 0,6 0,03 0,04 0,7 0,8 3,5 5,0 14 53 5 0,84

C1 25-140 77 19 3 1 5,4 0,1 0,01 0,02 0,7 0,0 0,4 0,5 20 0 12 0,05

C2 140-250 + 67 25 7 1 5,4 0,1 0,01 0,02 0,7 0,0 0,3 0,4 25 0 < 1 0,06

Tabela 3. Descrição física e química dos gleissolos tiomórficos distróficos textura argilosa fase campos de várzea relevo plano. Fonte: embrapa (1978).

Horizonte Profundidade

(cm)

Composição granulométrica

da terra fina (%) Densidade

aparente

(g/cm3)

Porosidade

(%)

pH

da

água

Complexo sortivo (mE/100 g) V m P

(ppm)

C

orgânico

% Areia

grossa

Areia

fina Silte Argila Ca Mg K Na S Al H T %

A1 0-17 8 21 32 39 0,55 79 5,0 10,0 4,2 0,07 0,61 14,9 1,5 33,2 49,6 30 9 1 13,85

B21g 17-34 1 12 38 49 1,12 55 4,9 1,8 1,8 0,27 0,44 4,3 2,4 5,0 11,7 37 36 < 1 0,84

B22g 34-56 1 18 42 39 0,99 64 4,7 1,1 1,1 0,09 0,35 2,6 2,0 4,3 8,9 29 43 < 1 0,68

B3g 56-76 2 51 24 23 1,07 59 4,3 0,7 0,8 0,08 0,26 1,8 2,0 3,7 7,5 24 53 < 1 0,05

Cg 76-100+ 0 32 13 13 0,89 67 2,6 0,6 0,11 0,19 0,9 3,1 5,5 9,5 9 78 3 1,96

Tabela 4. Descrição física e química dos organossolos tiomórficos textura orgânica fase campos de várzea relevo plano Fonte: EMBRAPA (1978).

Horizonte Profundidade

(cm)

Composição granulométrica da

terra fina (%) pH

da

água

Complexo sortivo (mE/100 g) V m P

(ppm)

C

orgânico

% Areia

grossa

Areia

fina Silte Argila Ca Mg K Na S Al H T %

1a camada 0-13 - - - - 4,9 8,1 6,6 0,74 1,18 16,6 2,5 62,9 82,0 20 20 2 37,88

2a camada

13-56 - - - - 4,8 7,7 6,0 0,83 1,50 16,0 3,6 75,8 95,4 17 18 < 1 44,18

IIC 56-200+ 6 3 15 76 4,8 0,4 0,9 0,09 0,21 1,6 2,5 6,7 10,8 15 61 < 1 1,49

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O espodossolo humilúvico é um solo profundo (Figura 14), constituído por horizonte A

proeminente, textura arenosa, tendo o horizonte B com acumulação de húmus aluvial

imperfeitamente drenado, com permeabilidade rápida na porção superior, passando a lenta no

horizonte B, sendo invariavelmente distrófico e com acidez variando entre fortemente a

extremamente ácida. São solos desenvolvidos a partir de sedimentos marinhos de caráter

arenoso, ocorrendo em relevo plano, com altitude em torno de 20 metros estabelecidos sob

campos de restinga e floresta perenifólia de restinga.

Figura 14. Espodossolo humilúvico.

Outra classe de solo encontrada foi a de neossolos flúvicos eutróficos (Figura 15), mais

comumente conhecidos como solos aluviais, aparecendo em associação com relevos planos e

vizinhos aos cursos d’água.

Figura 15. Neossolo flúvico eutrófico.

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Estes são solos minerais, recentes, pouco desenvolvidos, apresentando horizontes A/C sem

relação pedogenética entre si, com camadas mais ou menos estratificadas, mas não

consolidadas. Além disto, caracterizam-se como solos férteis, com drenagem excessiva a

imperfeita, apresentando muita desuniformidade textural. Esta característica é conhecida como

anisotropia, que significa uma grande e caótica variação espacial de atributos físicos e químicos

explicada pelo seu processo de formação, que é realizado através da deposição de sedimentos

orgânicos e minerais em camadas alternadas depositadas nos períodos de secas e enchentes

(EMBRAPA, 1999). Estas classes de solo variam quanto às diversas propriedades químicas e

físicas entre as classes de solos (Tabelas 5 e 6).

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Tabela 5. Descrição física e química do espodossolo humilúvico A proeminente textura arenosa em fase de campos de restinga e floresta perenifólia de restinga em

relevo plano

Horizonte Profundidade

(cm)

Composição granulométrica da

terra fina (%) Densidade

aparente

(g/cm3)

Porosidade

(%)

pH

da

água

Complexo sortivo (mE/100 g) V m P

(ppm)

C

orgânico

% Areia

grossa

Areia

fina Silte Argila Ca Mg K Na S Al H T %

A1 0-29 73 24 2 1 1,51 42 3,5 0,8 0,02 0,06 0,9 0,5 4,1 5,5 16 36 2 1,19

A2 29-80 63 35 1 1 1,59 39 4,9 0,2 0,01 0,02 0,2 0,0 0,2 0,4 50 0 < 1 0,05

B2h 80-129 54 41 3 2 1,59 37 4,2 0,7 0,4 0,01 0,03 1,1 3,0 13,2 17,3 6 73 < 1 2,83

B3h 129-172+ 52 44 3 1 1,50 40 4,8 0,5 0,01 0,03 0,5 1,1 6,1 7,7 6 69 < 1 1,38

Fonte: EMBRAPA (1978).

Tabela 6. Descrição física e química do neossolo flúvico eutrófico A fraco e moderado textura argilosa em fase de floresta perenifólia de várzea em relevo plano

Horizonte Profundidade

(cm)

Composição granulométrica

da terra fina (%) pH

da

água

Complexo sortivo (mE/100 g) V m P

(ppm)

C

orgânico

% Areia

grossa

Areia

fina Silte Argila Ca Mg K Na S Al H T %

A1 0-6 5 3 43 49 6,2 11,2 6,4 1,16 0,29 19,1 0,0 4,0 23,1 83 0 3,4 3,24

B1 6-20 2 2 25 71 4,9 1,6 2,4 0,57 0,30 4,9 0,5 4,1 9,5 52 9 1,1 0,93

B21 20-40 X 1 28 71 5,0 0,8 1,2 0,17 0,32 2,5 1,2 2,9 6,6 38 32 0,6 0,43

B22 40-55 1 1 35 63 5,3 0,8 1,5 0,12 0,34 2,8 0,8 2,9 6,5 43 22 0,7 0,31

B23 55-72 1 2 34 63 5,4 0,9 1,8 0,12 0,34 3,2 0,7 2,7 6,6 48 18 0,8 0,30

C1 72-82 1 3 30 66 5,5 1,0 1,5 0,10 0,20 2,8 0,2 3,0 6,0 47 7 0,7 0,40

C2 82-100 2 7 36 55 5,6 0,6 2,1 0,10 0,34 3,1 0,2 2,6 5,9 53 6 0,7 0,43

IIC3g 100-125 23 42 21 14 5,7 0,4 1,0 0,04 0,11 1,6 0,4 1,2 3,2 50 20 2,2 0,25

IIIC4g 125-180 94 4 0 0 6,5 0,4 0,1 0,02 0,11 0,6 0,0 0,3 0,9 67 0 1,3 0,05

IIIC5g 180-190 17 68 9 6 5,8 0,5 1,1 0,07 0,28 2,0 0,2 1,1 3,3 61 9 1,5 0,09

IIIC6g 190-220 2 1 0 0 6,5 0,5 - 0,02 0,08 0,6 0,0 0,2 0,9 75 0 1,1 0,03

Fonte: EMBRAPA (1978).

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2.1.8 Fatores antrópicos e impactos ambientais

As principais atividades produtivas existentes na região estão concentradas na exploração e

transporte de petróleo, turismo, pesca, pecuária de corte, silvicultura, extrativismo e agricultura de

subsistência.

Os sistemas de produção agrícolas são baseados na produção de gado de corte, cacau, banana,

lavouras brancas e silvicultura, principalmente no cultivo de eucalipto, sendo conduzidos sob baixa

base tecnológica, com exceção dos plantios florestais.

Não foram encontrados sistemas de produção alternativos, como cultivo de produtos orgânicos e

outras práticas sustentáveis. Entretanto, as lavouras de cacau são conduzidas no sistema conhecido

como mata de cabruca (Figura 16), mantendo algumas espécies nativas da Mata Atlântica para

proporcionar o sombreamento necessário ao cacau, coerente com os princípios da agricultura

sustentável.

Figura 16. Lavoura de cacau.

Este sistema de produção de certa forma é responsável pela manutenção de diversas porções de

mata ciliar nas margens do Rio Doce. A criação de gado e as plantações de eucalipto estão

localizadas em propriedade rurais com extensões maiores (Figura 17), sendo algumas áreas de

propriedade da empresa Aracruz Celulose.

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Figura 17. Área de produção de eucalipto.

Os rebanhos de gado ocupam extensas áreas de pastagens plantadas (Figura 18), circulando

livremente e sem nenhuma tecnologia de rotatividade de pasto, o que provavelmente contribui para

a compactação e degradação das propriedades físicas destes solos.

Figura 18. Pastagem com rebanho bovino.

Neste sentido, a região estudada encontra-se desmatada, com diversas áreas originalmente alagadas

sob efeito de drenagem e consequentemente impactadas quanto ao meio físico (Figura 19). Podem

ser relacionados problemas como degradação física a compactação de solos pelo pisoteio do gado e

alterações químicas no pH e fertilidade, além da utilização de herbicidas e formicidas nas lavouras

de eucalipto.

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Figura 19. Canal aberto para desvio de curso de água.

Estes solos de caráter tiomórfico são muito sensíveis às variações nos teores de umidade, pois

quando drenados tornam-se extremamente ácidos, devido à formação de ácido sulfúrico

proveniente do seu elevado teor de enxofre. Esta acidificação pode levar à formação de um

verdadeiro “deserto químico”, onde pouquíssimas plantas têm capacidade ecológica para

sobreviver (SEMA, 2008). Diversos trechos de mata ciliar foram eliminados da paisagem,

provocando erosão e assoreamento do Rio Doce, havendo degradação qualitativa e quantitativa,

com intenso aporte de sedimentos, esgotos, efluentes e resíduos sólidos ao longo do seu curso

(Figura 20).

Figura 20. Estrada vicinal construída em área de mata ciliar.

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21

Foram observadas diversas estruturas em operação pertencentes à empresa Petrobras extraindo

petróleo do subsolo (Figura 21). Os impactos desta atividade manifestam-se principalmente de

forma indireta, através do fluxo de veículos e equipamentos utilizados em ações de manutenção

para a condução dos trabalhos.

Figura 21. Poço de petróleo em atividade.

Existem diversas iniciativas de caráter ambiental na região, como as atividades desenvolvidas pelo

Projeto TAMAR, Organizações Não-Governamentais (ONG’s) ligadas à bacia hidrográfica do Rio

Doce e projetos de extensão e pesquisa de diversas instituições de ensino superior.

De forma sintética, pode-se concluir que a região estudada representa uma área importante para a

desova de tartarugas marinhas, concentrando cerca de 70% a 80%, além de apresentar comunidades

de pescadores artesanais e tribos indígenas, com suas respectivas manifestações folclóricas e

tradicionais diversas. Desta forma, além da criação de uma Unidade de Conservação, recomenda-se

à implementação de ações e programas que visem à recuperação e conservação dos seus atributos

naturais, colaborarando para a manutenção da sociobiodiversidade existente.

2.2 Perfil Fundiário

2.2.1 Introdução

As informações seguintes referem-se ao perfil fundiário de uma área localizada na zona rural do

município de Linhares (Figura 22). Para tanto, buscou-se levantar e analisar dados a respeito da

quantidade e do tamanho dos imóveis rurais, a condição do produtor ou do sitiante e as principais

atividades realizadas nas propriedades, permitindo uma caracterização da realidade fundiária dos

imóveis localizados no interior da área delimitada.

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22

Figura 22. Localização da área de estudo no Delta do Rio Doce.

2.2.2 Materiais e métodos

Os métodos utilizados para a obtenção dos dados da área subdividiram-se em dois níveis: (1)

levantamento e análise de referências e dados secundários provenientes do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária e (2) visitas a campo para coleta de dados.

Após a realização de uma revisão de referências, alguns pontos essenciais foram estabelecidos

servindo para orientar o levantamento de dados secundários e direcionar o trabalho desenvolvido

em campo.

O trabalho de campo foi realizado nos dias 21 e 22 de outubro de 2008 e adotou abordagens diretas

e indiretas sobre os imóveis localizados na área de estudo. Com o auxílio de materiais

cartográficos, o percurso com veículo foi realizado ao longo das estradas e caminhos da área,

visitando as propriedades de interesse.

A coleta de dados ocorreu especialmente mediante a realização de entrevistas, caracterizando-se os

imóveis quanto as suas dimensões, à condição do produtor ou sitiante e o uso da terra.

Para garantir as contextualizações espaciais e à manutenção da coleta de dados sem que fossem

ultrapassados os limites da área selecionada para o estudo, o processo foi auxiliado tomando como

base a interpretação de fotografias áreas do ano de 2008, fornecidas pelo Instituto de Meio

Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA).

A partir do uso das fotografias aéreas e de um estereoscópio, foram delimitadas de forma

aproximada às propriedades, identificando à hidrografia, a malha viária, a cobertura florestal e o

uso predominante da terra associados.

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23

O Sistema de Posicionamento Global (GPS) foi utilizado para obter as coordenadas geográficas dos

locais das propriedades, um processo realizado mediante a coleta de pontos e coordenadas no

sistema Universal Transversa de Mercator (UTM), nos limites e nas sedes das propriedades

visitadas. Ainda foram coletadas trilhas utilizando Sistema de Posicionamento Global, passando

posteriormente a fazer parte da atualização da malha viária da base cartográfica.

Por fim, o tratamento dos dados e a elaboração dos mapas finais foram realizados com o auxílio

dos softwares Microsoft Excel para organização e compilação de dados do campo; TrackMaker no

tratamento de dados coletados pelo Sistema de Posicionamento Global e ArcGis 9.1(ESRI, 2005)

para a elaboração de mapas temáticos e mapas de uso e ocupação do solo.

2.2.3 Resultados

Como a área de estudo pertence em sua maior parte ao município de Linhares e apresenta uma

pequena porção localizada no município de Aracruz, optou-se, em um primeiro momento, por uma

breve contextualização das características fundiárias do município de Linhares, apresentando os

resultados advindos do trabalho de campo realizado na área delimitada para estudo.

2.2.3.1 Aspectos econômicos do município de Linhares

Como em outros municípios do norte capixaba, a economia de Linhares foi baseada na exploração

de madeira nativa e expansão das atividades agrícolas até a década de 1970. Este modelo

econômico foi adotado pelo Estado do Espírito Santo com o intuito de estimular o povoamento da

região norte estadual.

A partir da década de 1990, a economia de Linhares passou a crescer baseada nas atividades

industriais e agroindústrias, contando com a ampliação do pólo moveleiro especialmente após sua

inserção na área de abrangência da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)

no ano de 1998.

Atualmente, o município apresenta uma economia bastante diversificada e com grande potencial

produtivo. Entre as atividades presentes destacam-se as produções de frutas, café, cacau, cana-de-

açúcar, eucalipto, seringueira, indústria moveleira, indústria de confecções, agroindústrias,

beneficiamento de rochas ornamentais, extração de petróleo e gás natural.

A maior parte de sua produção é exportada para outros países. Entretanto, há uma parte da

produção destinada a abastecer os mercados consumidores do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São

Paulo, um abastecimento facilitado devido à posição estratégica ocupada pelo município, que dista

120 quilômetros da capital Vitória, o que facilita o acesso ao aeroporto e ao porto. O município

também possui um aeroporto local que auxilia no escoamento de produtos.

Devido ao processo de colonização municipal, a maior parte da vegetação original foi retirada

ainda nas primeiras décadas do século XX, principalmente para o uso da madeira como

combustível empregado no funcionamento das usinas instaladas na Grande Vitória, além de

contribuir para a expansão da fronteira agrícola.

A produção agrícola de Linhares é voltada para a exportação e para o abastecimento das indústrias

do município. Devido a este fato, a base da produção não é a mão-de-obra familiar, o que foi um

fator predominante nas outras áreas de estudo; mas sim o trabalho assalariado, que é na maior parte

executado com auxílio mecânico.

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24

Dentre os produtos cultivados no município de Linhares merecem destaque: (1) como lavoura

permanente a banana, borracha, cacau, café, coco, goiaba, laranja, limão, mamão, manga,

maracujá, palmito, pimenta-do-reino e tangerina; (2) como lavoura temporária, cana-de-açúcar,

feijão, mandioca e milho; e (3) na silvicultura, o carvão vegetal, a lenha e a celulose.

2.2.3.2 Aspectos fundiários da área de estudo

As terras abrangidas pela área de estudo não são utilizadas para o abastecimento das indústrias do

município de Linhares, uma vez que não foi observado o seu uso em atividades de fruticultura,

plantio de eucalipto, seringueiras ou extração de madeira, com exceção da área destinada para o

plantio de cacau.

A área de estudo do Delta do Rio Doce possui 9070 ha distribuídos em 140 propriedades. Destas,

39 estão localizadas na área de ampliação da Reserva Biológica de Comboios. Se considerarmos o

número total de propriedades, o tamanho médio é de aproximadamente 65 ha.

Na porção localizada à margem direita do Rio Doce, encontramos 13 famílias de caseiros, que são

responsáveis por gerenciar as propriedades, uma vez que os proprietários residem, em sua maioria,

na sede do município de Linhares. O principal uso da terra é para a criação de gado bovino. Esta

atividade é hegemônica e está presente em quase todas as propriedades. Há também pequenas áreas

de cultivo de coco e não foi observado nenhum outro produto agrícola. À margem direita do Rio

Doce também apresenta a Reserva Biológica de Comboios, além de uma área destinada a sua

ampliação, compreendendo aproximadamente 41% do total da área de estudo, enquanto 11%

pertencem ao leito do Rio Doce.

Na porção localizada à margem esquerda do Rio Doce, somente um proprietário reside na terra,

enquanto o restante mora na área urbana de Povoação. Nesta parte, realiza-se o cultivo de coco em

terrenos arenosos, mas não representa grandes proporções. Além desta cultura, o cacau é cultivado

em meio a espécies nativas, formando a mata de cabruca. Há ainda grandes áreas de pastagens.

Quanto à cobertura vegetal, pode-se observar a presença de vegetação típica de Restinga,

subdividindo-se em Formação Praial Graminóide com arbustos, Formação Aberta de Clusia e

Formação Mata Seca de Restinga. Na Formação Mata Seca de Restinga encontram-se áreas com a

vegetação bastante esparsa. Ainda existem áreas sujeitas às inundações com vegetação denominada

Formação Brejo Herbáceo. Próximo ao leito do Rio Doce existe uma vegetação com características

similares a vegetação de Mata Atlântica florestal, ocorrendo também em algumas ilhas do Rio

Doce, dividindo espaço com áreas de plantio de cacau.

No ponto de coordenadas geográficas 414900E e 7832350N, pode se visualizar uma bateria de

fornos localizada em uma área com pastagem entre a mata de cabruca a margem direita do Rio

Doce.

O uso e cobertura do solo são compreendidos entre 21,5% de Formação Mata Seca de Restinga,

3,5% Formação Aberta de Clusia, 5% de Formação Praial Graminóide com arbustos, pouco mais

de 1% de vegetação de Mata Atlântica em estágios iniciais e médios de regeneração, 12% de

agrofloresta, 1% de áreas de cultivo de coco, 0,5% de áreas de cultivo de eucalipto, 7% de áreas

úmidas ou alagáveis e 32% destinados as pastagens (Figura 23).

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Figura 23. Utilização do solo na área de estudo.

Não foi observada a presença de grandes propriedades conforme a classificação do Instituto

Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), pois uma grande propriedade deve possuir

pelo menos de 15 módulos fiscais de área. No caso do município em questão, o módulo fiscal é de

20 há. Apenas os imóveis com área superior a 300 ha seriam considerados como grande

propriedade (Tabela 7).

Tabela 7. Distribuição de propriedades na área de estudo

Grupo de áreas

(hectares)

Número de

imóveis

Participação

(%)

Área

(hectares) Área (%)

Até 5 há 41 29,28 859 9,48

5,1 a 18 16 11,42 1334 14,71

18,1 a 50 41 29,28 2415 26,63

51 a 100 34 24,28 3492 38,50

> 100 8 5,71 969 10,68

Total 140 100.00 9070 100

Entretanto, a estrutura fundiária da área de estudo mostrou-se relativamente concentrada. Se houver

uma ponderação pelo tamanho das propriedades, que variam entre 1 a 187 ha, não há concentração

de terras. Contudo, se houver consideração de que uma mesma pessoa é proprietária de mais de

uma propriedade, pode-se afirmar que há concentração de terras na região estudada. Isto ocorre

principalmente na porção localizada à margem direita do Rio Doce, onde também estão as

propriedades com extensões maiores. Na porção norte da área de estudo encontra-se propriedades

de dimensões menores, contando inclusive com um loteamento localizado entre a área urbana de

Povoação e o Oceano Atlântico. Quanto à condição do ocupante do imóvel, observa-se o

predomínio de caseiros, uma vez que apenas um proprietário é residente nas propriedades presentes

na área de estudo, os demais residem nos núcleos urbanos próximos.

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2.2.4 Discussão

A partir do exposto, nota-se que a área estudada possui potencial considerável para a preservação,

levando-se em conta a presença da Reserva Biológica de Comboios e de sua área de ampliação,

com ambas as áreas localizadas no Delta do Rio Doce. Outro fator é a ausência de moradores nas

propriedades, sendo encontrados apenas 13 indivíduos que zelam pelas mesmas. Pode-se ainda

ressaltar que a vegetação da região encontra-se bastante descaracterizada apesar da presença de

algumas áreas remanescentes. Estas informações expõem a necessidade de intervenção visando à

preservação e recuperação da cobertura vegetal nativa da região, uma realidade possível a partir da

consolidação da criação de uma Unidade de Conservação com área maior que a já existente na

região.

3. MEIO BIÓTICO

3.1 Flora

3.1.1 Introdução

A Mata Atlântica é composta por vários ecossistemas associados (Rizzini, 1997) e apresenta

feições vegetais que vão desde formações herbáceas até florestais. Estando entre as florestas

tropicais mais ameaçadas do planeta, a Mata Atlântica atualmente se encontra dramaticamente

ameaçada por um histórico de destruição que é mais antigo que o da Amazônia (Ayres et al., 2005).

O termo Mata Atlântica, quando referente ao Brasil, engloba um mosaico de comunidades de

vegetação que se desenvolvem ao longo da cadeia montanhosa e de terras baixas que ladeiam o

Oceano Atlântico, desde o Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte. Sua área principal situa-

se nos limites das Serras do Mar e da Mantiqueira na região sudeste (Siqueira-Filho & Leme,

2006). Legalmente, segundo o Decreto Federal n0 750 de 1993, a Mata Atlântica é composta por

formações florestais bem distintas, incluindo a Floresta Ombrófila do Litoral, a Floresta Decídua

do Planalto, a Floresta com Araucária dos Estados sulinos, manguezais, restingas e campos de

altitude (Tonhasca-Junior, 2005).

Segundo Scarano (2002), estes diferentes ecossistemas ou comunidades vegetais que compõe a

Mata Atlântica estão sob efeito de uma vasta gama de condições ambientais, tais como

temperaturas altas e baixas, incluindo congelamento; inundações, secas, ações do vento e elevadas

salinidades. Estes fatores ambientais são responsáveis por criar a elevada diversidade de

ecossistemas e fitofisionomias que compõe a Mata Atlântica sensu lato, onde cada qual ocorre em

uma faixa estreita de condições consideradas ideais para o seu estabelecimento.

Apesar da sua importância, a Mata Atlântica encontra-se hoje, segundo a Fundação SOS Mata

Atlântica & INPE (2009), reduzida a aproximadamente 8% da sua cobertura nacional original. No

Espírito Santo, restam apenas 11,3% de fragmentos florestais remanescentes.

A Mata Atlântica ocupa três províncias geomorfológicas bem distintas no Espírito Santo: a Região

Serrana, os Tabuleiros Terciários e as Planícies Quaternárias (Simonelli, 2007), sendo as duas

últimas encontradas na área de estudo da área proposta para a criação da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce. Sobre os Tabuleiros Terciários erguem-se as

denominadas Florestas de Tabuleiro, que apresentam fitofisionomias diferenciadas, principalmente

quanto à pedologia, influência do lençol freático, composição florística e estrutural (Peixoto &

Simonelli, 2007). Segundo Simonelli (2007), os maiores remanescentes das Florestas de Tabuleiro

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estão no norte do Espírito Santo, sendo quase relíquias comparadas às outras regiões do Estado

devido à ação do desmatamento.

As Planícies Quaternárias, que ocupam a maior parte da área de estudo, apresentam as Restingas,

que são definidas como o conjunto da vegetação litorânea sobre solos arenosos marinhos

depositados tanto no Pleistoceno, como no Holoceno, associadas com alguns pontos de sedimentos

fluvio-marinhos presentes na costa. No Espírito Santo a Restinga abrange a maior parte da extensão

da costa, sendo interrompida em alguns trechos pela foz de rios (Pereira, 2007).

Apresentando-se como um ecossistema associado à Mata Atlântica, as restingas ocorrem em

diferentes faixas de extensão por toda a costa brasileira (Araujo, 2000; Tonhasca-Junior, 2005;

Coutinho, 2006), ocupando cerca de 80% do litoral brasileiro (Lacerda et al., 1993), o que

corresponde a 7110 quilômetros em extensão (Suguio & Tessler, 1984).

Este ecossistema ocorre sobre sedimentos arenosos quartzosos que foram depositados por meio de

diferentes processos durante o período Quaternário (Rizzini, 1997). Tais processos ocorreram

durante o Pleistoceno e Holoceno, havendo deposição predominante de areias quartzosas marinhas.

Alguns trechos apresentaram entradas de areias fluviais, principalmente nas proximidades de

grandes rios (Pereira, 2003).

As regressões marinhas ocorridas durante o Pleistoceno deram origem aos cordões arenosos mais

internos ao continente, sendo por isso mais antigos, com cerca de 120000 anos, já os cordões

Holocênicos, mais recentes e com cerca de 5100 anos; são posicionados mais próximos aos limites

do continente, fazendo divisa com as linhas de praia (Martin et al., 1997). Sobre estes cordões

arenosos são encontradas as formações vegetais não-inundáveis de restinga (Araujo & Henriques,

1984; Pereira, 1990; Menezes & Araujo, 2005; Magnago et al., 2007). A origem destes cordões

litorâneos implicou no aparecimento de lagoas, lagunas e baias (Bigarella, 2001). Alguns trechos

destas áreas alagadas, que ocorrem geralmente entre os cordões arenosos, sofreram deposição

sedimentar dando origem a formações de turfas (Martin et al., 1997) e sobre os intercordões são

encontradas as formações vegetacionais inundadas e inundáveis de restinga (Araujo & Henriques,

1984; Pereira, 1990; Menezes & Araujo, 2005; Magnago et al., 2007).

Os solos que compõe o ecossistema restinga são quimicamente pobres, apresentando como

principal fonte de nutrientes o spray marinho (Araujo & Lacerda, 1987; Leão & Dominguez,

2000). As classes de solos predominantes neste ecossistema são os Espodossolos e Neossolos

Quartzarênicos (Moura Filho, 1998; Gomes et al., 1998; Rossi, 1999), muitas vezes apresentando

um incipiente processo de podzolização, levando-os a demonstrar características intermediárias

para os Espodossolos (Gomes et al., 2007). As porções de argila e silte equivalem a 1% do total das

amostras, evidenciando uma proporção pouco representativa em relação aos nutrientes quando

comparados a outros ecossistemas. A quantidade de cálcio, magnésio e potássio disponíveis

também são muito baixas, enquanto os níveis de alumínio são elevados (Pereira, 2003).

As restingas apresentam formações compreendidas desde fitofisionomias predominantemente

herbáceas, arbustivas e florestais, que podem ser divididas pelo nível de influência do lençol

freático de acordo com Pereira (2003). Entretanto, Menezes & Araujo (2005) indicam que outros

fatores também possam contribuir para a caracterização destas formações. Este ecossistema

apresenta maior extensão nos Estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Espírito Santo

(Henriques et al., 1986), demonstrando por isso, uma expressividade considerável nas regiões sul e

sudeste da costa brasileira (Menezes-Silva & Britez, 2005).

A restinga apresenta uma elevada diversidade fitofisionômica originada por diversos tipos de

influências bióticas e abióticas (Pereira, 1990; Assis et al. 2004; Magnago et al., 2007), podendo

estar associada ao gradiente no sentido mar/continente, onde a localização da formação

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vegetacional em relação aos cordões arenosos e depressões intercordões pode exercer uma

influência marcante sobre a composição florística. A diversidade de fitofisionomias existente na

restinga do Espírito Santo foi primeiramente descrita por Pereira (1990) para o Parque Estadual

Paulo Cesar Vinha. Posteriormente outros autores também apontaram esta heterogeneidade

fitofisionômica para outras localidades do Estado (Pereira & Gomes, 1994; Pereira, 2007; Magnago

et al., 2007).

3.1.2 Materiais e métodos

Para o levantamento florístico e fitofisionômico foram feitas amostragens em toda região de

Regência e Povoação, localizados no município de Linhares, norte do Espírito Santo (Figuras 24 e

25). Os levantamentos tiveram a duração de dez dias envolvendo um número total de seis pessoas,

divididas em quatro botânicos e dois estagiários, revezando-se em grupos de três.

Figura 24. Localização das áreas de estudo em Regência e Povoação, Linhares, Espírito Santo.

Figura 25. Limites da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce em amarelo,

Linhares, Espírito Santo. Fonte: Fundação Pró-TAMAR et al. (2002).

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O enquadramento fitogeográfico utilizou as classificações propostas por Ruschi (1950), Azevedo

(1962), RADAMBRASIL (1983), IBGE (1987) e Rizzini (1997). A caracterização fitofisionômica

foi realizada com base no levantamento de campo, onde foram feitas observações percorrendo a

área estudada. A base para a classificação dos estágios de sucessão utilizada neste estudo está em

conformidade com as recomendações da Lei n° 5361 de Política Florestal do Estado do Espírito

Santo, seguindo as definições e terminologias para reconhecimento em campo. Estes critérios não

foram utilizados para o estudo do ecossistema Restinga, adotando-se terminologias propostas por

Pereira (2003).

A caracterização florística também foi realizada com base no levantamento de campo, onde os

espécimes em estágio de floração e/ou frutificação foram coletados e tratados conforme Mori et al.

(1989). Também foram feitas observações relativas às formas de vida, fisionomia, altitude e

coordenadas geográficas onde cada um foi encontrado.

Para a identificação do material coletado foram utilizadas referências especializadas e comparações

com espécimes depositados no herbário VIES da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES),

sendo enviadas fotografias dos espécimes para especialistas quando necessário, principalmente

quando se tratavam de Famílias botânicas mais complexas.

Além das espécies coletadas foram incorporadas espécies observadas em campo em uma listagem

florística, porém não coletadas. Também foi consultado o banco de dados do herbário do Museu de

Biologia Professor Mello Leitão (MBML), do herbário VIES (UFES) e referências cientificas com

informações sobre a área de estudo.

O sistema proposto por Cronquist (1981) foi adotado para a elaboração da listagem, com exceção

para Leguminosae, que foi considerada como Família única. As espécies ameaçadas de extinção

foram citadas conforme a Lista Internacional da International Union for Conservation of Nature

(IUCN, 2004); a Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção via Portaria

do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) Nº 6-N de

15 de janeiro de 1992 e de acordo com o Decreto nº 1499-R, que homologa a Lista de Espécies

Ameaçadas de Extinção no Espírito Santo.

3.1.3 Resultados

3.1.3.1 Enquadramento fitogeográfico

A. Restinga

O principal fator que promoveu a sedimentação arenosa da planície do Rio Doce foi à variação do

nível relativo do mar, sendo que estes eventos regressivos expuseram grandes quantidades de areia

na plataforma continental, constituindo-se na principal fonte de sedimentos que subsidiaram a

progradação da zona arenosa (Dominguez et al., 1983). Os eventos transgressivos então

interromperam a progradação, erodindo e afogando as planícies costeiras, resultando no

aparecimento de sistemas laguna-ilha barreira, passando então a construir deltas nestas localidades.

Segundo Dominguez et al. (1983), foi possível estabelecer dois sentidos preferenciais para o

trânsito litorâneo de sedimentos durante a evolução de sua planície costeira do Rio Doce (Figura

26). O primeiro seria de orientação norte/sul, tendo predominado na região durante a construção

dos terraços marinhos pleistocênicos, bem como na construção da primeira geração de cordões

holocênicos (Figura 27A). Em seguida, quando houve a construção do sistema de cordões

litorâneos associados ao intumescimento apresentado pela planície costeira nas vizinhanças da

Lagoa do Zacarias, o sentido da deriva inverteu-se para sul/norte. Em períodos mais recentes o

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trânsito litorâneo readquiriu seu sentido original norte/sul, como atesta o ponta1 arenoso associado

à desembocadura do Rio Doce (Figura 27B).

Figura 26. Mapa geológico da planície costeira associada à desembocadura do Rio Doce (Suguio &

Tessler, 1984).

Segundo Dominguez et al. (1983) é possível reconhecer oito estágios principais na história do

desenvolvimento das feições deltaicas do Rio Doce, embora estes nem sempre estejam bem

representados (Figura 27).

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Figura 27. Esquema evolutivo da sedimentação quaternária nas feições deltaicas da costa leste do

Brasil (Dominguez et al., 1983).

O Estágio I (Figura 27A) corresponde à deposição da Formação Barreiras, durante o Plioceno.

Nesta época, ocorria um clima mais seco que o atual, sujeito a tempestades esporádicas e violentas,

dando lugar à deposição de leques aluviais coalescentes no sopé das encostas. Durante a deposição

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desta formação, o nível relativo do mar encontrava-se mais baixo que o atual, tendo seus

sedimentos recobertos em parte da plataforma continental (Bigarella & Andrade, 1965).

O Estágio II (Figura 27B) consistiu no processo em que deposição da Formação Barreiras foi

interrompida assim que o clima passou a adquirir características úmidas. Este período coincide com

o início do episódio transgressivo mencionado por Bittencourt et al. (1979), como a transgressão

mais antiga. Além disto, erodiu a porção externa da Formação Barreiras, com o limite máximo

atingido pelo mar sendo representado por antigas linhas de falésias entalhadas ao longo da

formação.

O Estágio III (Figura 27C) caracteriza o período em que o clima voltou a adquirir características

semi-áridas após o máximo alcançado pela transgressão marinha mais antiga e durante a regressão

que se seguiu. Esta retomada de condições climáticas semelhantes às prevalecentes durante a

deposição da Formação Barreiras propiciou a formação de novos depósitos continentais do tipo

leques aluviais coalescentes no sopé das falésias esculpidas nas Barreiras ao longo do evento

transgressivo anterior.

O Estágio IV (Figura 27D) corresponde ao máximo alcançado pela penúltima transgressão, há

cerca de 120000 anos. Nesta época, o nível do mar erodiu total ou parcialmente os depósitos

continentais colocados durante o estágio anterior. Durante este evento, os baixos cursos dos rios

São Francisco, Jequitinhonha, Doce e Paraíba do Sul foram afogados constituindo os estuários.

Nesta ocasião, foram atingidos os locais em que o mar conseguiu erodir totalmente os sedimentos

continentais depositados no estágio anterior, as ondas, por sua vez, retrabalharam a linha de falésias

construída na Formação Barreiras durante a transgressão mais antiga.

O Estágio V (Figura 27E) corresponde ao evento regressivo subsequente à transgressão anterior.

Nesta época, foram construídos os terraços marinhos pleistocênicos, que possivelmente formaram

planícies costeiras semelhantes às atuais.

O Estágio VI (Figura 27F), refere-se à última transgressão que erodiu e afogou parcialmente as

planícies associadas ao Rio Doce durante seu curso. A rede de drenagem que havia se instalado nos

terraços pleistocênicos, favorecida pela descida acentuada do nível de base que caracterizou o

evento anterior, foi invadida pelo mar da mesma maneira que foram escavados alguns valores na

Formação Barreiras. Durante o máximo desta transgressão, os baixos cursos dos rios São

Francisco, Jequitinhonha, Doce e Paraíba do Sul foram mais uma vez parcialmente afogados,

constituindo os estuários. Associado ao afogamento da planície costeira pleistocênica iniciou-se o

desenvolvimento de ilhas-barreiras, que eliminaram o contato direto entre o mar e o que restou dos

terraços marinhos relacionados àquelas planícies. Atrás destas ilhas instalaram-se sistemas

lacustres que em algumas regiões alcançaram dimensões consideráveis, sendo condições datadas

por volta de 6000 atrás a exemplo das planícies costeiras do Rio Doce.

No Estágio VI1 (Figura 27G) foram construídos deltas intralagunares nas lagunas instaladas no

estágio anterior pelos rios que penetravam. Este estágio encontra-se bem representado nas planícies

costeiras dos rios Doce e Paraíba do Sul. Suas feições constituem de fato as únicas acumulações

sedimentares presentes nas planícies costeiras aqui analisadas e podem ser consideradas como

deltas típicos, uma vez que foram construídas a partir dos aportes de sedimentares fluviais

aprisionados nestas lagunas, exibindo uma morfologia característica dos deltas de domínio fluvial.

No Estágio VIII (Figura 27H), o abaixamento do nível relativo do mar, que ocorreu com um

máximo de retrassão há 5000 anos; se traduziu na formação de terraços marinhos a partir da ilha-

barreira original, o que resultou na progradação da linha da costa. Para a planície costeira do Rio

Doce, a formação de uma primeira geração de cordões holocênicos ocorreu entre 5100 e 3800 anos

atrás. È interessante notar que a construção da primeira geração de cordões o Rio Doce ainda não

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33

alcançava diretamente o mar, apresentando sua carga sedimentar totalmente retida na laguna,

constituindo o delta intralagunar. Neste estágio, além da construção dos terraços marinhos

arenosos, o abaixamento do nível relativo do mar também provocou o desaparecimento dos

sistemas lagunares, uma vez que foram substituídos por zonas baixas pantanosas (Figuras 28 e 29).

Figura 28. Esquema da evolução paleogeográfica da feição deltaica do Rio Doce durante o Holoceno.

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34

Figura 29. Representação da situação atual da sedimentação do Rio Doce. Fonte: Instituto Estadual de

Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA).

B. Planície aluvial

As margens do rio Doce são constituídas por solos aluviais eutróficos, geralmente cobertos por

matas de cacau e nas áreas mais distantes do leito do rio predominam os aluviais distróficos, já com

presença de pastagens, além de vários fragmentos de florestas (Rolim et al., 2006). Esta formação

está assentada principalmente sobre sedimentos fluviais de origem holocênica, sendo depositados

nas planícies aluviais nos últimos 6,5 mil anos (Suguio & Tessler, 1984).

O principal remanescente florestal sobre as planícies aluviais do Rio Doce encontra-se na Floresta

Nacional de Goytacazes, sendo citada como o único remanescente de Floresta Atlântica da Planície

Aluvial do Rio Doce (Rolim et al., 2006). A composição de espécies e características fitofisiômicas

encontrada sobre este tipo florestal é apontada como semelhante às encontradas na Floresta de

Tabuleiro (Rolim et al., 2006).

Rolim et al. (2006) indica que a variação topográfica observada nas margens do Rio Doce é

mínima, formando uma extensa planície aluvial. Entretanto, podem ser observadas pequenas bacias

de acúmulo ao longo de vários trechos as margens, propiciando mosaicos de umidade

principalmente devido à influência do lençol freático ou até mesmo das lagoas temporárias, onde é

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comum a ocorrência de grandes cheias que se estendem por mais de 2 quilômetros de extensão

sobre a planície aluvial, havendo à deposição de sedimentos nestas épocas.

Esta floresta pode, então, ser classificada como uma Floresta Estacional Semidecídua ribeirinha

com influência fluvial sazonal (Rolim et al., 2006), correspondendo à Floresta Estacional

Semidecidual Aluvial segundo a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) (Veloso et al., 1991). Contrastando com esta hipótese, o IBGE (1987) classifica toda esta

área como pertencente à região fitoecológica de Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas ou

Floresta de Tabuleiro, em classificações anteriores.

Os Tabuleiros Terciários coincidem com os sedimentos cenozóicos do Grupo Barreiras,

constituídos de areias e argilas variegadas e eventuais linhas de pedra, dispostos em camadas com

espessura variada conforme as ondulações do substrato rochoso que ocasionalmente aflora nas

formas do modelado (Simonelli, 2007). O Espírito Santo possui áreas mais expressivas cobertas

por Florestas de Tabuleiros ao norte do Rio Doce (Peixoto & Simonelli, 2007).

Essa unidade está posicionada no sentido norte-sul, com largura variável entre 20 e 120

quilômetros e altitudes em torno de 10 a pouco mais de 100 metros, abrangendo área de 20994

quilômetros quadrados, integrados principalmente aos Estados da Bahia e do Espírito Santo (IBGE,

1987).

Veloso e colaboradores (1991) classificam estas áreas de Tabuleiro como Florestas Ombrófilas

Densas de Terras Baixas. Já Ruschi (1950) atribuiu a esta formação vegetal o nome de Floresta dos

Tabuleiros Terciários, destacando-a como a formação florestal de maior importância no Espírito

Santo, face às espécies vegetais existentes no local, que rivalizam com a diversidade encontrada na

Amazônia, chegando mesmo a ultrapassá-los em espessura. Esta mesma denominação é também

adotada por Rizzini (1979), que a inclui na Província Atlântica e Subprovíncia Austro-oriental.

O IBGE (1987) classifica a área como Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, destacando que

a sua composição florística revela uma semelhança extrema com florestas que ocorrem na

Amazônia. Esta característica ombrófila também é evidenciada por Andrade-Lima (1966), que a

inclui na Floresta Ombrófila Hileiana.

Outros autores tendem a evidenciar o caráter estacional, como Azevedo (1962), que atribuiu ao

local à classificação de Comunidade Arbórea Mesófila dos Tabuleiros, enquanto Jesus (1988)

acredita tratar-se de uma Floresta Estacional Semidecidual com período decíduo geralmente muito

curto.

A importância desta vegetação em termos de conservação fez com que Peixoto & Silva (1997)

incluísse as Florestas de Tabuleiro do norte do Espírito Santo entre os 14 centros de elevada

diversidade vegetal do Brasil. Na realidade, a região denominada por Floresta de Tabuleiro não é

ocupada somente por formações florestais, mas sim por um mosaico de formações vegetais,

contendo quatro formações vegetais naturais dos Tabuleiros do Espírito Santo, denominadas de

Floresta Alta, Floresta de Muçununga, Áreas Inundadas e Inundáveis e Campos Nativos.

Apesar de toda a importância destas áreas, a vegetação nativa tem sido exaustivamente explorada

para fins madeireiros e para a implementação de projetos agropastoris ao longo dos anos,

principalmente devido à facilidade de acesso fornecida pelas próprias condições do relevo

(Simonelli, 1998). Esta realidade levou a região a uma intensa fragmentação, confinando a

extensões florestais a manchas esparsas distribuídas em paisagens fortemente antropizadas (Garay

& Rizzini, 2003).

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Como conseqüência, a Floresta de Tabuleiro do norte do Espírito Santo está praticamente restrita a

um núcleo florestal constituído pela Reserva Biológica de Sooretama e Reserva Natural da Vale,

respectivamente nos municípios de Sooretama e Linhares, havendo destaque local para a intensa

exploração madeireira e a expansão da fronteira agrícola (Peixoto et al., 2008).

3.1.3.2 Caracterização fitofisionômica

A. Restinga

A1. Herbácea Não-inundável (halófila/psamófila)

A Formação de Herbácea Não-inundável (halófila/psamófila) foi estudada no Espírito Santo por

Thomaz (1991), reunindo as formações de halófila e psamófila em um único grupo, por

apresentarem interações e funções ecológicas muito próximas, o que dificulta a separação destas

comunidades. Estudos no Estado do Espírito Santo envolvendo esta fitofisionomia também foram

feitos por Pereira (1990), Pereira et al. (1992) e Pereira et al. (1998).

As espécies encontradas nesta formação são geralmente herbáceas com crescimento estolonífero,

não ultrapassam 50 centímetros de altura e apresentam adaptações para tolerar a salinidade de áreas

próximas ao mar e erosões causadas pela ação das marés. Além disto, tem a importante função de

fixar areia e manter a formação de dunas, um papel exercido por espécies como Panicum

racemosum (Henriques et al., 1984; Thomaz, 1991; Menezes-Silva, 1998; Menezes-Silva & Britez,

2005) (Figura 30).

Figura 30. Aspecto da Formação Herbácea Não-inundável. Foto: Fabio Matos.

Devido às condições de estresse hídrico e salino existente, a riqueza de espécies desta comunidade

apresenta-se sempre baixa. Entres as espécies mais características desta formação estão

Alternanthera littoralis, Blutaparon portulacoides, Hydrocotyle bonariensis, Ipomoea imperati,

Ipomoea pes-caprae, Panicum racemosum, Canavalia rosea, Remirea maritima, Paspalum

maritimum e Sporobolus virginicus.

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A baixa riqueza florística desta formação pode ser compreendida levando-se em consideração os

fatores restritivos presentes nesse tipo de ambiente, como a escassez de nutrientes, elevadas

salinidade e temperatura e a movimentação intensa do substrato causada pelo vento. Isto faz com

que poucas espécies ocupem estas localidades, sendo necessária para a sua ocupação, a presença de

adaptações na forma e funcionamento das espécies, como caules rastejantes, estoloníferos e

presença de glândulas de sal.

A2. Formação Arbustiva Fechada Não-inundável (Pós-praia)

Esta formação vegetacional caracteriza-se por apresentar uma dominância fitofisionômica de

indivíduos lenhosos e arbustivos que variam entre 2 e 3,5 metros de altura, com conformação

contínua e bem adensada (Figura 31). Além destes aspectos, posicionam-se frequentemente em

uma zona anterior as formações florestais, compondo um gradiente de porte e estrutura crescente

de vegetação a medida que se afasta do mar (Magnago et al., 2007).

Figura 31. Aspecto da vegetação da Formação de Pós-praia na região de Povoação. Foto: Luiz

Magnago.

Entre as espécies arbustivas que caracterizam esta formação estão Schinus terebinthifolius, Protium

heptaphyllum, Psidium macahense, Eugenia uniflora, Guapira pernambucensis. Espécies

herbáceas que são características desta formação são Bromelia antiacantha, Cereus

fernambucensis, Anthurium raimundii, Quesnelia quesneliana, havendo destaque para a

Allagoptera arenaria, que exibe uma alta predominância fitofisionômica. Lianas como Davilla

flexuosa e Smilax rufescens apresentam relevância considerável em termos florísticos.

A3. Floresta Não-inundável (Mata Seca de Restinga)

As florestas não-inundáveis de restinga possuem uma diversidade maior de espécies quando

comparada as demais formações (Fabris & Cesar, 1996; Assis et al., 2004). Esta diversidade e

riqueza de espécies estão ligadas a uma condição estrutural mais diversificada, possuindo maior

nível de estratificação, com estrato superior de dossel, estrato médio de sub-bosque e extrato

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inferior herbáceo terrestre (Figura 32). Devido a este maior desenvolvimento estrutural, um maior

contingente de espécies epifíticas podem se estabelecer nesta fitocenose.

Figura 32. Detalhe para o interior de uma Floresta Não-inundável em Regência. Foto: Luiz Magnago.

Entre as espécies arbóreas que caracterizam o dossel destas florestas estão Manilkara bella,

Tapirira guianensis, Protium heptaphyllum e Pera glabrata. Entre as arbóreas não-emergentes

estão Couepia schotti, Himatanthus phagedaenicus e Myrsine umbellata. Das espécies que

caracterizam o sub-bosque podem ser citadas Cordia taguahyensis, Sorocea hilarii e Salzmannia

nitida. Herbáceas terrestres como Eltroplectris calcarata, Pseudananas sagenarius, Paradisanthus

micranthus, Aechmea bromeliifolia e Dichorisandra thrysiflora são comumente encontradas nesta

formação. Entre as epífitas destacam-se Tillandsia stricta, Tillandsia usneoides, Vriesea

neoglutinosa, Aechmeia nudicaulis, Campylocentrum micranthum, Epidendrum densiflorum e

Cattleya guttata.

A4. Arbustiva Aberta Não-inundável (Aberta de Clusia)

Esta formação foi denominada por Pereira (1990) como Formação Aberta de Clusia, sendo mais

recentemente adotada a terminologia de Arbustiva Aberta Não-inundável (Pereira, 2003), já que a

caracterização que diferencia esta formação com mais clareza não é presença de espécies do gênero

Clusia e sim a falta de fortes influências do lençol freático e até mesmo do afloramento sazonal.

Esta fitofisionomia forma um mosaico vegetacional representado por moitas de diferentes

tamanhos, sendo geralmente de formato elíptico, existindo espécies herbáceas e pequenos arbustos

lenhosos que ocorrem de maneira espaçada entre estas moitas, havendo predominância de cerca de

80% de solo com ausência de vegetação (Figura 33).

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Figura 33. Aspecto da formação Arbustiva Aberta Não-inundável em Povoação. Foto: Luiz Magnago.

Entre as espécies arbustivas que caracterizam esta fitofisionomia estão a Clusia hilariana,

Kielmeyera albopunctata, Cupania emarginata, Byrsonima sericea, Pera glabrata e Protium

hepthaphyllum. Entre as espécies herbáceas terrestres estão Anthurium raimundi, Aechmea

nudicaulis, Aechmea blanchetiana, Vriesea procera e Cyrtopodium polyphyllum. As espécies

epífitas Vriesea neoglutinosa, Brassavola tuberculata, Tillandsia stricta e Tillandsia gardineri são

encontradas comumente no interior das moitas.

As espécies Evolvulus spp., Chamaecrista ramosa e Axonopus pressus também podem ser

encontradas nas áreas entre moitas. A espécie Axonopus pressus é endêmica da restinga de

Regência e encontra-se classificada como Criticamente Em Perigo na Lista das Espécies

Ameaçadas de Extinção do Espírito Santo. Esta espécie ocupa áreas extensas nas restingas de sua

área de ocorrência, principalmente em alguns pontos próximos a Reserva Biológica de Comboios.

Pereira (1995) denominou estas áreas como áreas de Formação Praial Graminóide com Arbusto,

apresentando largura aproximada de 250 metros e uma topografia plana (Figura 34).

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Figura 34. Formação Praial Graminóide com Arbusto na localidade de Regência, Linhares, Espírito

Santo. Foto: Marcelo Simonelli.

Os elementos herbáceos que dominam esta formação pertencem principalmente à Família Poaceae,

que também se caracteriza por possuir elementos arbustivos esparsos e de pequeno porte que não

ultrapassam 10% da cobertura vegetal, representados principalmente pela palmeira gurirí ou

Allagoptera arenaria (Figura 35).

Figura 35. Formação Praial Graminóide com detalhe para uma moita de Allagoptera arenaria. Foto:

Marcelo Simonelli.

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Os elementos dominantes nesta faixa são a Axonopus pressus, que caracteriza a comunidade nesta

região. Esta espécie não é citada para outras formações de Restinga do Espírito Santo, como

comentado anteriormente, estando aparentemente restrita à Reserva Biológica de Comboios e

adjacências. Outras espécies encontradas na área são Chamaecrista ramosa, Remiria maritima,

Hybanthus calceolaria, Mytracarpus frigidus e Ipomoea littoralis. Menos frequentes são os

elementos arbustivos, com a área sendo principalmente representada por Allagoptera arenaria e

Scaevola plumieri.

A5. Herbácea Inundável (Brejos ou Alagados)

A Formação Herbácea Inundável tem sua ocorrência nas depressões dos intercordões arenosos,

onde ocorrem inundações sazonais que provavelmente alteram sua composição florística,

apresentando alta produtividade (Figura 36).

Figura 36. Aspecto da formação Herbácea Inundável em Regência. Foto: Luiz Magnago.

Entre as espécies características desta formação destacam-se integrantes da Família Cyperaceae,

principalmente nas áreas mais encharcadas, havendo espécies do Gênero Eleocharis. Também

existem áreas extensas dominadas por indivíduos de Montrichardia linifera. No entorno desta

formação encontram-se indivíduos subarbustivos e herbáceos, principalmente em zonas com solo

drenado.

A6. Floresta Inundada e Inundável (Floresta Paludosa)

Esta formação é influenciada por alagamentos em função de estar localizada em áreas de depressão

nos intercordões arenosos, permanecendo com água aflorada em sua maior extensão por longos

períodos (Figura 37). A sazonalidade de alagamento do solo determina a existência de florestas

periodicamente inundadas e permanentemente inundadas.

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Figura 37. Aspecto de uma Floresta Inundável em Regência. Detalhe para um trecho de Floresta

Inundável à direita e aspecto do interior de Floresta Inundável à esquerda. Fotos: Marcelo Simonelli.

A estrutura destas áreas é muito distinta de terrenos secos em razão do número de espécies (Toniato

et al., 1998), já que a condição de encharcamento constante do solo é o fator determinante para a

seleção de espécies vegetais que ocorrem (Ivanauskas & Rodrigues, 2000), resultando em uma

diminuição da diversidade em ambientes paludosos (Sugiyama & Mantovani, 1994; Sztutman &

Rodrigues, 2002).

Pequenas diferenças no teor de umidade do solo, assim como em sua topografia, possibilitam

alterações na composição florística dos ambientes paludosos (Costa et al., 2003). Neste ambiente,

as florestas periodicamente inundadas apresentam maior riqueza de espécies que aquelas

permanentemente inundadas (Sztutman & Rodrigues, 2002).

Entre as espécies arbóreas mais características destas florestas estão Calophyllum brasiliense e

Tapirira guianensis. No sub-bosque as espécies mais comuns são Tovomita brasiliensis, Sapium

glandulatum, Myrcia racemosa e Guapira opposita.

B. Floresta Aluvial

B1. Mata de cabruca

As Florestas Aluviais estão representadas na área de estudo apenas pela mata de cabruca. As matas

de cabruca consistem em áreas de sub-bosque com elementos florísticos retirados para a realização

do plantio de cacau. Desta forma o sub-bosque sofre a retirada de espécies, sendo mantidas apenas

as árvores formadoras do dossel (Figuras 38 e 39).

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Figura 38. Detalhe para a espessura de uma sapopema ou raiz tabular de Ficus sp. em Floresta de

Tabuleiro de cabruca em Povoação, Linhares, Espírito Santo. Foto: Luiz Magnago.

Figura 39. Detalhe das matas de cabruca plantadas em consórcio com bananas em Povoação, Linhares,

Espírito Santo. Foto: Luiz Magnago.

C. Culturas

C1. Pastagem

Nestas áreas a vegetação natural sofreu corte raso para implementação da pecuária, prejudicando

não apenas a vegetação, mas causando danos ao solo a partir do pisoteio do gado. Esta formação é

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predominantemente herbácea com raros indivíduos arbóreos e arbustivos, com alguns deles

constituídos por remanescentes da vegetação original (Figura 40).

Figura 40. Aspecto da Fisionomia de pastagem em Povoação, Linhares, Espírito Santo. Foto: Luiz

Magnago.

Nesta formação as espécies herbáceas mais comuns são as gramíneas Brachiaria spp; Melinis

minutiflora; Panicum maximum e Paspalum spp., além das espécies de outras Famílias como

Desmodium incanum, Stylozanthes viscosa, Stylozanthes guianensis, Mimosa pudica, Crotalaria

lanceolata e Centrosema virginianum. Alguns indivíduos arbustivos e arbóreos comuns em outros

estágios de regeneração também aparecem nestas áreas. Os representantes arbustivos mais comuns

são representados pelas espécies Cordia verbenacea e Psidium guianensis. Outros tipos de cultivo

característicos, além do cacau, consistem no plantio de coco (Cocos nucifera) e eucalipto

(Eucaliptus spp.) (Figura 41).

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Figura 41. Aspecto do plantio de coco em Povoação, Linhares, Espírito Santo. Foto: Luiz Magnago.

3.1.3.3 Florística

Foi analisado um total de 730 dados procedentes de diferentes fontes de informações. Deste total,

344 informações (47,2%) foram extraídas de bibliografias, 209 (28,7%) foram inventariadas no

trabalho de campo in loco e 176 (24,1%) provenientes de dados a partir da consulta de materiais

botânicos depositados em herbários (Tabela 8).

Tabela 8. Números de espécies listadas por tipo de informação analisada para avaliação da vegetação

Fonte de dados Campo Herbário Referências

Coletadas in loco 163 - -

Observadas in loco 46 - -

MBML - 44 -

Species Link/CRIA - 132 -

Aracruz Celulose (2001) - - 87

Fraga (2000) - - 11

Rodrigues & Simonelli (2007) - - 20

Salvador & Ventura (2007) - - 49

Thomaz (1991) - - 19

Thomaz & Monteiro (1993) - - 5

Simonelli et al. (2006) - - 153

Total 209 179 344

Após uma filtragem dos dados coletados, um total de 730 informações; foram relacionadas à

ocorrência de 382 espécies para área em estudo distribuídas em 88 famílias (Tabela 9). Apesar da

elevada riqueza encontrada, a região proposta para a criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio Doce tem potencial para apresentar um número muito maior de espécies,

pois a realização de um levantamento florístico restrito a uma única semana do ano, concentrado

em apenas uma estação do ano, reflete uma amostra do potencial florístico da região. Para

levantamentos mais aprofundados, seria necessário realizar coletas sazonais, abrangendo todas as

estações, pelo menos durante um ano.

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Tabela 9. Lista florística das espécies com ocorrência na área proposta para a criação da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, elaborada a partir de três fontes. Campo: 1a =

coletadas in loco; 1b = observadas in loco; Herbário: 2a = Museu de Biologia Professor Mello Leitão

(MBML); 2b = Species Link/Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA); Referências: 3a

= Aracruz Celulose, 2001; 3b = Fraga, 2000; 3c = Rodrigues & Simonelli, 2007; 3d = Salvador &

Ventura, 2007; 3e = Thomaz, 1991; 3f = Thomaz & Monteiro, 1993 e 3g = Simonelli et al., 2006.

Família Espécie Fonte

ACANTHACEAE Mendoncia velloziana Mart. 2b

ACANTHACEAE Thunbergia alata Bojer ex Sims 1b

ACHARIACEAE Carpotroche brasiliensis (Raddi.) A. Gray 2b 3g

AMARANTHACEAE Alternanthera maritima (Mart.) A. St.-Hil 3a

AMARANTHACEAE Blutaparon portulacoides (St.Hil.) Mears 2b 3a 3e 3f

ANACARDIACEAE Anacardium occidentale L. 3a

ANACARDIACEAE Astronium graveolens Jacq. 3g

ANACARDIACEAE Mangifera indica L. 1b

ANACARDIACEAE Schinus terebintefolius Raddi 1b 2b 3d

ANACARDIACEAE Tapirira guianensis Aubl. 2b 3a 3g

ANACARDIACEAE Theobroma cacao L. 1b

ANACARDIACEAE Thyrsodium schomburgkianum Benth. 3g

ANNONACEAE Annona glabra L. 2b

ANNONACEAE Xylopia sericea A. St.-Hil. 3a

APOCYNACEAE Alamanda polyantha Müll. 1a 2a

APOCYNACEAE Alternanthera maritima (Mart.) A. St.-Hil 3e

APOCYNACEAE Aspidosperma parvifolium A.DC. 3a

APOCYNACEAE Aspidosperma pyricollum Muell. Arg. 3a 3g

APOCYNACEAE Condylocarpon intermedium Müll. Arg. 2b

APOCYNACEAE Fischeria martiana Decne. 2b

APOCYNACEAE Fischeria stellata (Vell.) Fourn. 2a

APOCYNACEAE Himatanthus phagedaenicus (Mart.) Woodson 2b 3a 3g

APOCYNACEAE Mandevilla hirsuta (Rich.) K.schum. 1a 2b

APOCYNACEAE Oxypetalum banksii Schult. 1a 2a 3g

APOCYNACEAE Peplonia asteria (Vell.) Fontella & E. A. Schwarz 2b

APOCYNACEAE Rauvolfia mattfeldiana Markgr. 3g

APOCYNACEAE Tabernaemontana flavicans Willd. ex Roem. & Schult. 2b

APOCYNACEAE Tabernaemontana hystrix Steud. 3g

APOCYNACEAE Tabernaemontana laeta Mart. 2b

APOCYNACEAE Temnadenia odorifera (Vell.) J. F. Morales 2b

ARACEAE Anthurium pentaphyllum (Aubl.) G. Don 2b

ARACEAE Anthurium raimundii Mayo 3d

ARACEAE Dracontioides desciscens (Schott) Engl. 2b

ARACEAE Montrichardia arborescens (L.) Schott 1b

ARACEAE Montrichardia linifera (Arruda) Schott 2b

ARACEAE Phylodendron pedatum (Hook.) Kunth 1b

ARACEAE Syngonium vellozianum Schott 1a 2a

ARALIACEAE Hydrocotyle umbellata L. 3e

ARECACEAE Allagoptera arenaria (Gomes) O. Ktze. 3d 3a

ARECACEAE Bactris gasipaes Kunth 1b

ARECACEAE Bactris humilis (Wallace) Burret 3g

ARECACEAE Cocos nucifera L. 1b

ARECACEAE Elaeais guineensis Jaquim 1b

ARISTOLOCHIACEAE Aristolochia trilobata L. 2b

ASTERACEAE Centratherum punctatum Cass. 1a

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Família Espécie Fonte

ASTERACEAE Dasycondylus resinosus (Spreng.) R.M. King & H. Robinson 2b

ASTERACEAE Eclipta alba Hassk. 1a

ASTERACEAE Emilia sonchifolia (L.) DC. 1b

ASTERACEAE Mikania glomerata Spreng. 3g

ASTERACEAE Vernonia fruticulosa (Vell.) Font. & Schw. 3a

ASTERACEAE Vernonia salzmannii DC. 1a

ASTERACEAE Vernonia scorpioides (Lam.) Pers. 1a

BIGNONIACEAE Arrabidaea conjugata (Vell.) Mart. 3d

BIGNONIACEAE Fridericia conjugata (Vell.) L.G. Lohmann 2b

BIGNONIACEAE Jacaranda bracteata Bur. & K.Sch. 1a

BIGNONIACEAE Lundia cordata (Vell.) A. DC. 3g

BIGNONIACEAE Tabebuia cassinoides (Lam.) DC. 2b

BIGNONIACEAE Tabebuia obtusifolia (Cham.) Bureau 3g

BIGNONIACEAE Tabebuia riodocensis A. Gentry 3g

BIXACEAE Bixa orellana L. 1b

BLECHNACEAE Blechnum occidentale L. 1a

BORAGINACEAE Cordia curassavica (Jacq.) Roem. 2a

BORAGINACEAE Cordia superba Cham. 1a

BORAGINACEAE Cordia taguahyensis Vell 3g

BORAGINACEAE Heliotropium indicum L. 1a

BORAGINACEAE Heliotropium procubens Mill. 1a

BORAGINACEAE Turnefortia bicolor Sw. 1a 2b

BRASSICACEAE Capparis flexuosa (L.) L. 1a 3a 3d

BROMELIACEAE Acanthostachys strobilacea (Schult. f.) Klotzsch 1a

BROMELIACEAE Aechmea blanchetiana (Baker) L. L. B. Sm. 3a 3d 3g

BROMELIACEAE Aechmea bromeliifolia (Rudge) Baker 1a

BROMELIACEAE Aechmea chlorophylla L.B. Sm. 2b

BROMELIACEAE Aechmea multiflora L.B. Sm. 2b

BROMELIACEAE Aechmea nudicaulis (L.) Griseb. 1a 1b 2a 3d

BROMELIACEAE Aechmea ramosa Mart. ex Schult. f. 1b

BROMELIACEAE Bromelia antiacantha Bertol. 3a 3g

BROMELIACEAE Hohenbergia angusta (Vell.) E.Morren 1a 1b

BROMELIACEAE Neoregelia pascoaliana L. B. Sm. 1a 2a 3a

BROMELIACEAE Pseudonanas sagenarius (Arruda) Camargo 2b 3g

BROMELIACEAE Quesnelia quesneliana (Brongn.) L. B. Sm. 3a 3d

BROMELIACEAE Tillandsia gardneri Lindl. 1a 2b 3d 3g

BROMELIACEAE Tillandsia stricta Sol. ex Sims 1a 3d 3g

BROMELIACEAE Tillandsia usneoides (L.) L. 1a 1b 2a 3g

BROMELIACEAE Vriesea neoglutinosa Mez€ 3g

BROMELIACEAE Vriesea procera (Mart. ex Schult.f.) Wittm. 1a 1b 3d

BURSERACEAE Protium aff. warmingianum March. 3g

BURSERACEAE Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand 1a 2b 3a 3d 3g

BURSERACEAE Protium icicariba (DC) March. 3a

CACTACEAE Cereus fernambucensis Lem. 3a 3e 3g

CACTACEAE Epiphyllum phyllanthus (L.) Haw. 1b

CACTACEAE Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byles & G. D. Rowley 3a 3d 3g

CACTACEAE Rhipsalis floccosa Salm-Dyck ex Pfeiff. 1a 2a

CALYCERACEAE Acicarpha spathulata R. Br. 3e

CAMPANULACEAE Centropogon cornutus (L.) Druce 1a

CELASTRACEAE Maytenus obtusifolia Mart. 2b 3a

CHRYSOBALANACEAE Chrysobalanus icaco L. 1a 3d 3e

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48

Família Espécie Fonte

CHRYSOBALANACEAE Couepia schottii Fritsch 3a 3g

CHRYSOBALANACEAE Licania heteromorpha Benth. 3g

CHRYSOBALANACEAE Licania littoralis Warm 3g

CLUSIACEAE Calophyllum brasiliense Cambess. 2b

CLUSIACEAE Clusia hilariana Schltdl. 3a 3d

CLUSIACEAE Garcinia brasiliensis Mart. 3a 3g

CLUSIACEAE Kielmeyera albopunctata Saddi 1a 3a 3d 3g

CLUSIACEAE Tovomita brevistaminea Engl. 3g

COMBRETACEAE Terminalia glabrescens Mart. 3g

COMMELINACEAE Dichorisandra thyrsiflora J.C.Mikan 1a 2a

CONNARACEAE Rourea glabra Kunth var. glabra 2b

CONVOLVULACEAE Ipomoea imperati (Vahl.) Griseb. 3a

CONVOLVULACEAE Ipomoea littoralis (L.) Blume 3e

CONVOLVULACEAE Ipomoea pes-caprae (L.) Sweet 1a 2a 3a 3e 3f

CYPERACEAE Bulbistylis capillaris (L.) C.B. Clarke 1a

CYPERACEAE Mariscus pedunculatus (R.Br.) T. koyana 2b 3e 3f

CYPERACEAE Remirea maritima Aubl. 3a

CYPERACEAE Sporobulus virginicus (L.) Kunth. 3e 3f

DILLENIACEAE Davilla flexuosa A. St.-Hil. 3d

DILLENIACEAE Davilla rugosa Poir. 2a 3g

DRYOPTERIDACEAE Ctenitis submarginalis (Lands. & Fisch.) Copel. 1a 2a

DRYOPTERIDACEAE Tectaria incisa Cav. 1a 2a 2b

ELAEOCARPACEAE Sloanea guianensis (Aubl.) Benth. 1a

ERYTROXYLACEAE Erythroxylum macrocalyx Mart. 3g

EUPHORBIACEAE Alchornea iricurana Casar. 1a

EUPHORBIACEAE Chamaecyse thymifolia (L.) Mill. 1a 3a

EUPHORBIACEAE Chamaesyce aff. prostata (Aiton) Small 1a

EUPHORBIACEAE Chamaesyce hyssopifolia (L.) Small 3e

EUPHORBIACEAE Croton floribundus Spreng. 1b

EUPHORBIACEAE Croton urucurana Baill. 2b

EUPHORBIACEAE Euphorbia bahiensis (Klotzsch & Garcke) Dugand 2b

EUPHORBIACEAE Joanesia princepis Vell. 1a

EUPHORBIACEAE Margaritaria nobilis Linn. F. 3g

EUPHORBIACEAE Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill. 1a 2b 3a 3d 3g

EUPHORBIACEAE Pera leandri Baill. 1a 3g

EUPHORBIACEAE Pera parvifolia Mull. Arg. 3g

EUPHORBIACEAE Pogonophora schomburgkiana Miers ex Benth. 2b

EUPHORBIACEAE Ricinus communis L. 1b

EUPHORBIACEAE Sapium glandulatum (Vell.) Pax 2b

EUPHORBIACEAE Sebastiana aff. corniculata (Vahl) Müll. Arg. 1a

EUPHORBIACEAE Sebastiana glandulosa Müll. Arg. 1a 3a 3d

EUPHORBIACEAE Sebastiana hispida (Mart.) Pax 2b

FABACEAE Abarema jupumba Willd. 1a

FABACEAE Andira fraxinifolia Benth. 2b 3a 3g

FABACEAE Canavalia rosea (Sw.) DC. 2b 3a 3e 3f

FABACEAE Centrosema virginianum (L.) Benth. 1a 3e

FABACEAE Chamaecrista ensiformis (Vell.) H. S. Irwin & Barneby var. ensiformis 2b

FABACEAE Chamaecrista flexuosa (L.) Greene 3a 3d

FABACEAE Chamaecrista nictitans L. 1a

FABACEAE Chamaecrista ramosa (Vogel) Irwing & Barneby 2b 3a 3d

FABACEAE Chamaecrista rotundifolia (Pers.) Greene var. grandiflora (Benth.) H. S. Irwin & Barneby 2b

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49

Família Espécie Fonte

FABACEAE Dialium guianense (Aubl.) Sandwith 3g

FABACEAE Dioclea violaceae Mart. ex Benth. 2b

FABACEAE Hymenaea courbaril (Hayne) Y.T. Lee & Langenh. 3g

FABACEAE Inga aff. fagifolia (L.) Willd. ex Benth. 1a

FABACEAE Inga capitata Desv. 3g

FABACEAE Inga cf. cylindrica (Vell.) Mart. 3g

FABACEAE Inga edulis Mart. 1a

FABACEAE Inga exfoliata T.D. Penn. & F.C.P. Garcia 3g

FABACEAE Inga flagelliformis (Vell.) Mart. 3g

FABACEAE Inga striata Benth 1a

FABACEAE Inga subnuda subsp. subnuda T. D. Penn. 3a 3g

FABACEAE Pithecellobium pedicellare (DC.) Benth. 3g

FABACEAE Stylosanthes viscosa (L.) Sw. 1a 3a

FABACEAE Swartzia acutifolia Vogel 2b

FABACEAE Swartzia apetala Raddi 2b 3a 3d 3g

FABACEAE Swartzia oblata 2b

FABACEAE Vatairea heteroptera (Allem.) Ducke ex de Assis Iglesias 3g

FABACEAE Zollernia modesta A.M. de Carvalho & R.C. Barneby 3g

GENTIANACEAE Nymphoides indica (L.) Kuntze 2a

GOODENIACEAE Scaevola plumieri (L.) Vahl. 1a 3a

HELICONIACEAE Heliconia episcopalis Vell. 1a 2a

HELICONIACEAE Heliconia psittacorum L.f. 2a

HUMIRIACEAE Humiriastrum dentatum Casar. 3g

HYPERICACEAE Vismia aff. martiana Reichardt. 3g

LAURACEAE Nectandra cuspidata Nees & Mart. 2b

LAURACEAE Nectandra nitidula Nees 2b

LAURACEAE Nectandra oppositifolia Nees 1a 2b

LAURACEAE Ocotea aciphylla (Nees) Mez 3g

LAURACEAE Ocotea cernua (Ness) Mez Vell. 3g

LAURACEAE Ocotea conferta Coe Teixeira 3g

LAURACEAE Ocotea confertiflora (Meisn.) Mez 3g

LAURACEAE Ocotea elegans Mez 3g

LAURACEAE Ocotea neesiana (Miq.) Kosterm. 3g

LAURACEAE Ocotea notata (Nees & C. Martius ex Ness) Mez 3a 3d

LAURACEAE Ocotea teleiandra Mez 3g

LAURACEAE Rhodostemonodaphne capixabensis Baitello & Coe-Teix. 2b

LECYTHIDACEAE Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze 1a 1b

LECYTHIDACEAE Cariniana legalis (Mart.) Kuntze 2b

LECYTHIDACEAE Eschweilera ovata (Cambess.) Mart. ex Miers 1a 2b 3a 3g

LECYTHIDACEAE Lecythis pisonis Cambess. 1b

LENTIBULARIACEAE Utricularia foliosa L. 1b 2b

LOGANIACEAE Strychnos recognita Krukoff & Barneby 2b

LYTHRACEAE Cuphea carthaginensis (Jacq.) J.F.Macbr. 1a

LYTHRACEAE Cuphea melvilla Lindley 2a

MALPIGHIACEAE Byrsonima cacaophila W.R. Anderson 3g

MALPIGHIACEAE Byrsonima sericea DC 2b 3a 3d 3g

MALPIGHIACEAE Heteropterys alternifolia W.R. Anderson 1a

MALPIGHIACEAE Heteropterys chrysophylla (Lam.) Kunth 2b

MALPIGHIACEAE Niedenzuella sericea (A. Juss.) W. R. Anderson 2b

MALPIGHIACEAE Stigmaphyllon ciliatum (Lam.) A. Juss 2b

MALVACEAE Calathea monophylla Körn. 1b

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50

Família Espécie Fonte

MALVACEAE Eriotheca macrophylla (K. Schum.) A. Robyns 3g

MALVACEAE Eriotheca pentaphyla (Vell.) A. Robyns 3a

MALVACEAE Hibiscus pernambucensis Arruda 2a

MALVACEAE Pavonia cancellata (L.) Cav. 1a 2a 2b

MALVACEAE Pseudobombax grandiflorum (Cavin) A. Robyns 3a 3g

MALVACEAE Urena lobata L. 1a

MALVACEAE Waltheria aspera K. Schum. 3a

MALVACEAE Wissadula contracta (Link) R.E.Fries 1a

MARANTACEAE Calathea monophylla Körn 2b

MARANTACEAE Thalia geniculata L. 1a

MELASTOMATACEAE Clidemia bullosa DC. 2b

MELASTOMATACEAE Miconia albicans (Sw.) Triana 3d

MELASTOMATACEAE Miconia brevipes Benth. 2b

MELASTOMATACEAE Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin 2b 3g

MELASTOMATACEAE Miconia latecrenata (DC.) Naudin 1a

MELASTOMATACEAE Miconia pusilliflora (DC.) Naudin 2b

MELASTOMATACEAE Mouriri doriana Saldanha ex Cogn. 3g

MELASTOMATACEAE Tibouchina urceolaris (DC) cong. 2b

MELIACEAE Cedrela fissilis Vell. 1b

MELIACEAE Guarea guidonia (L.) Sleumer 1a

MELIACEAE Guarea penningtoniana Pinheiro 3g

MELIACEAE Trichilia casaretti C. DC. 3g

MELIACEAE Trichilia lepidota Mart. Subsp. Schumaniana 3g

MELIACEAE Trichilia quadrijuga Kunth 2b

MENISPERMACEAE Orthomene schomburgkii (Miers) R. C. Barneby & Krukoff 2b

MENYANTHACEAE Nymphoides indica (L.) Kuntze 1a

MOLLUGINACEAE Mollugo verticillata L. 1a

MORACEAE Artocarpus heterophyllus Lam 1b

MORACEAE Clarisia racemosa Ruiz & Pav. 3g

MORACEAE Ficus clusiifolia Schott 3g

MORACEAE Sorocea guileminiana Gaudich. 3g

MORACEAE Sorocea hilarii Gaudich. 2b

MUSACEAE Musa paradisiaca L. 1b

MYRISTICACEAE Virola gardneri (A.DC.) Warb. 3g

MYRSINACEAE Myrsine guianensis (Aubl.) O.Kuntze 1a 2a 2b

MYRSINACEAE Myrsine parvifolia A. DC. 3a 3d

MYRSINACEAE Myrsine umbellata Mart. 1a 3a 3d

MYRTACEAE Calyptranthes brasiliensis Spreng. 3d

MYRTACEAE Campomanesia guazumifolia (Camb.) Berg 3a 3g

MYRTACEAE Eugenia aff. oblongata 3a

MYRTACEAE Eugenia bahiensis DC. 2b

MYRTACEAE Eugenia cerasiflora Miq. 3g

MYRTACEAE Eugenia cf. tinguyenses 3a

MYRTACEAE Eugenia cuspidata Berg 3g

MYRTACEAE Eugenia excelsa Berg 3g

MYRTACEAE Eugenia ligustrina Berg 3g

MYRTACEAE Eugenia rotundifolia Casar. 3d

MYRTACEAE Eugenia ubensis Camb. 3g

MYRTACEAE Eugenia uniflora 1a

MYRTACEAE Gomidesia cerqueiria Niedenzu 3g

MYRTACEAE Gomidesia martiana O. Berg 3g

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Família Espécie Fonte

MYRTACEAE Marlierea grandiflora O. Berg 3a

MYRTACEAE Marlierea neuwiediana (O. Berg) Nied. 3a

MYRTACEAE Marlierea obscura Berg 3g

MYRTACEAE Marlierea obversa Legrand. 3g

MYRTACEAE Myrcia fallax DC. 3g

MYRTACEAE Myrcia lineata (Berg.) G.M. Barroso 3g

MYRTACEAE Myrcia racemosa (O. Berg) Kiaersk. 2b

MYRTACEAE Myrciaria floribunda (West. Ex Willd.) Berg 3d 3g

MYRTACEAE Psidium brownianum DC. 2b

MYRTACEAE Psidium guajava L. 1b 3g

MYRTACEAE Psidium guinense Pers. 1a 2b

MYRTACEAE Psidium macahenses O. Berg. 3a 3d

MYRTACEAE Syzygium malaccense (L.) Merr. & L.M. Perry 1b

NYCTAGINACEAE Guapira opposita (Vell.) Reitz 2b 3a 3g

NYCTAGINACEAE Guapira pernambucensis (Casar.) Lundell 1a 2b 3a 3d

NYMPHAEACEAE Nymphaea ampla (Salisb.) DC. 1b

OCHNACEAE Ouratea cuspidata Tiegh. 2b 3d

OLACACEAE Ludwigia cf. leptocarpa (Nutt.) H. Hara 1a

OLACACEAE Ludwigia cf. tomentosa (Cabess.) H. Hara 1a

OLACACEAE Ludwigia octovalvis (Jacq.) P.H.Raven 1a

OLACACEAE Schoepfia brasiliensis A. DC. 3d 3g

OLACACEAE Schoepfia oblongifolia Turez 3g

ORCHIDACEAE Acianthera strupifolia (Lindl.) Pridgeon & M. W. Chase 3c

ORCHIDACEAE Brassavola tuberculata Hook. 3c 3g

ORCHIDACEAE Campylocentrum micranthum (Lindl.) Rolfe 3c 3g

ORCHIDACEAE Catasetum discolor (Lindl.) Lindl. 3d

ORCHIDACEAE Catasetum luridum (Lindk.) Lindl. 3b

ORCHIDACEAE Cattleya guttata Lindl. 1b 3c 3g

ORCHIDACEAE Cyrtopodium gigas (Vell.) Hoehne 1a 3c 3g

ORCHIDACEAE Cyrtopodium holstii L.C.Menezes 3b 3c 3g

ORCHIDACEAE Cyrtopodium polyphyllum (Vell.) Pabst ex F. Barros 2b 3c 3d 3g

ORCHIDACEAE Dimerandra emarginata (G. Mey.) Hoehne 1a 3c, 3g

ORCHIDACEAE Dryadella obrieniana (Rolfe) Luer 2a 3b

ORCHIDACEAE Eltroplectris calcarata (Sw.) Garay & Sweet. 3c 3d 3g

ORCHIDACEAE Epidendrum carpophorum Barb. Rodr. 3c 3g

ORCHIDACEAE Epidendrum densiflorum Hook. 3c 3g

ORCHIDACEAE Epidendrum imatophyllum Lindl. 2a 3b 3c 3g

ORCHIDACEAE Epidendrum rigidum Jacq. 3b

ORCHIDACEAE Koellensteinia altissima Pabst. 2a 3b 3c 3d 3g

ORCHIDACEAE Notylia pubescens Lindl. 3c 3g

ORCHIDACEAE Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl. 3c 3g

ORCHIDACEAE Oncidium ciliatum Lindl. 3c 3g

ORCHIDACEAE Paradisanthus micranthus (Barb. Rodr.) Schltr. 2a 3b 3c 3g

ORCHIDACEAE Pleurothallis strupifolia Lindl. 3g

ORCHIDACEAE Polystachya concreta (Jacq.) Garay & Sweet. 3c 3b 3g

ORCHIDACEAE Prosthechea fragans (Sw.) W.E.Higgins 2a 3b 3c 3g

ORCHIDACEAE Rauhiella silvana Toscano 2a 3b

ORCHIDACEAE Vanilla bahiana Hoehne 2a 3a 3b 3d

ORCHIDACEAE Vanilla chamissonis Klotzsch ex Cogn. 3c 3g

OXALIDACEAE Oxalis clausenii Lourteig 2a 2b

PASSIFLORACEAE Passiflora galbana Mast. 1a

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Família Espécie Fonte

PASSIFLORACEAE Passiflora mucronata Lam. 3a

PHYTOLACCACEAE Galesia integrifolia (Spreng.) Harms 1a

PIPERACEAE Peperomia magnolifolia A.Dietr. 1a

PIPERACEAE Piper lhotzkianum Kunth 1a

PIPERACEAE Piper ovatum Vahl var. boucheanum (C. DC.) Callejas 2b

PIPERACEAE Piper tuberculatum Jacq. 1a 2b

PIPERACEAE Piper umbelata L. 1b

POACEAE Axonopus pressus (Ness) Parodi 3a 3d

POACEAE Panicum racemosum (P. Beauv.) Spreng. 3e

POACEAE Paradiolyra micrantha (Kunth) Davilla & Zullago 1a

POACEAE Paspalum maritimum Trin. 3a 3e

POACEAE Paspalum repens P.J.Begius 1a

POACEAE Sporobolus virginicus (L.) Kunth. 2b 3a

POACEAE Stenotaphrum secundatum (Walt.) Ktze. 3a 3e

POLYGALACEAE Polygala cyparissias A. St.-Hil. & Moq. 3e

POLYGONACEAE Coccoloba alnifolia Mart. 3a 3d 3g

POLYGONACEAE Coccoloba arborescens (Vell.) R.A. Howard 3a 3d

POLYPODIACEAE Microgramma vaccinifolia (laugsd & Fisch.) Copet. 1a 2a

POLYPODIACEAE Pleopeltis angusta Humb. & Bonpl. ex Willd. 1a

PTERIDACEAE Adiantum latifolium Lam. 1a 2a 2b

RHAMNACEAE Zizyphus platiphylla Reiss. 3a

RUBIACEAE Borreria verticillata (L.) G. Mey. 3d

RUBIACEAE Coccocypselum campanuliflorum (Hook.) Cham. & Schltdl. 2b

RUBIACEAE Diodia radula (Willd. & Hoffmanns. ex Roem. & Schult.) Cham. & Schltdl. 3e

RUBIACEAE Genipa americana L. 1b 2b

RUBIACEAE Guettarda angelica Mart. ex. Muell. Arg. 3g

RUBIACEAE Mitracarpus frigidus (Willd.) Schum. 3a

RUBIACEAE Psychotria carthagenensis Jacq. 3g

RUBIACEAE Psychotria maporioides DC. 3g

RUBIACEAE Salzmannia nitida DC. 3d

RUBIACEAE Simira grazielae A. L. Peixoto 3g

RUBIACEAE Spermaccose verticilata L. 1b

RUBIACEAE Tocoyena bullata (Vell.) Mart. 3a 3d

RUTACEAE Citrus limon (L.) Burm. f. 1b

RUTACEAE Conchocarpus heterophyllus (A.St.H.O) Kallunki & Pirani 3g

RUTACEAE Conchocarpus macrophyllus (Mikan) Kallunki & Pirani 3g

RUTACEAE Esenbeckia grandiflora Mart. 3a

RUTACEAE Neoraputia alba (Nees & Mart.) Emmerich 3a

SALICACEAE Casearea ulmifolia Vahl. Ex Vent. 3g

SALICACEAE Casearia commersoniana Cambess. 3g

SAPINDACEAE Allophylus petiolulatus Radlk. 3g

SAPINDACEAE Cupania cf. scrobiculata L. C. Rich. 3g

SAPINDACEAE Cupania emarginata Camb. 3a 3d 3g

SAPINDACEAE Cupania racemosa (Vell.) Radlk. 1a

SAPINDACEAE Cupania zanthoxyloides Camb. 3g

SAPINDACEAE Matayba guianensis Aubl. 1a 2b

SAPINDACEAE Paullinia racemosa Wawra 2b

SAPINDACEAE Paullinia riodocensis G. V. Somner 2a 2b

SAPINDACEAE Paullinia weinmanniaefolia Mart. 3a 3d

SAPINDACEAE Serjania salzmanniana Schltr. 2b

SAPINDACEAE Toulicia patentinervis Radlk. 3g

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Família Espécie Fonte

SAPOTACEAE Chrysophyllum lucentifolium Cronquist 3g

SAPOTACEAE Chrysophyllum splendens Spreng. 2b

SAPOTACEAE Manilkara bella Monach. 3g

SAPOTACEAE Manilkara subsericea (Mart.) Dubbard 3a 3d

SAPOTACEAE Micropholis gardneriana (A.DC.) Pierre 3g

SAPOTACEAE Micropholis venulosa (Mart. & Eichl) Pierre 3g

SAPOTACEAE Pouteria bangii (Tusby) T.D. Pennington 3g

SAPOTACEAE Pouteria caelomatica Rizzini 3g

SAPOTACEAE Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk. 1a

SAPOTACEAE Pouteria venosa subsp. amazonica T.D. Pennington 3g

SAPOTACEAE Pradosia lactescens (Vell.) Radlk. 1a

SCHIZAEACEAE Lygodium volubile Sw. 1a 2a

SIMAROUBACEAE Simaba cuneata A.St. -Hil. & Tul. 3a

SIMAROUBACEAE Simaba subcymosa A.St.H. & Tul. 3g

SIMAROUBACEAE Simarouba amara Aubl. 3a 3g

SMILACACEAE Smilax remotinervis Hand.-Mazz. 2a

SMILACACEAE Smilax rufescens Griseb. 3a 3d 3g

SOLANACEAE Solanum asperolatum Ruiz & Pav. 1a

SOLANACEAE Solanum asterophorum Mart. 2b

SOLANACEAE Solanum capsicoides All. 1a

SOLANACEAE Solanum cordifolium Dunal 2b

THEOPHRASTACEAE Clavija caloneura Mart. Miq. 3g

TURNERACEAE Turnera ulmifolia L. 1a

ULMACEAE Celtis fluminensis Carauta, Valente & Araújo 1a

URTICACEAE Boehmeria caudata Sw. 1a

URTICACEAE Cecropia pachystachya Trécul 1b 3a

VERBENACEAE Bouchea fluminensis (Vell.) Moldenke 1a 2a

VERBENACEAE Lantana camara L. 1a

VERBENACEAE Lippia aff. alba (Mill.) N.E.Br 1a

VIOLACEAE Hybanthus calceolaria (L.) Schulze-Menz 1a 3a 3e

VIOLACEAE Hybanthus communis (A.St.-Hil.) Taub. 1a

VITACEAE Cissus verticillata (L.) Nicolson & Jarvis 1a

As Famílias mais representativas em riqueza de espécies foram Fabaceae, Myrtaceae e Orchidaceae

com 27 espécies cada, seguidas por Euphorbiaceae, com 18 espécies; Bromeliaceae, com 17

espécies; Apocynaceae, com 16 espécies; Lauraceae e Rubiaceae, com 12 espécies cada;

Sapindaceae e Sapotaceae, com 11 espécies cada; Malvaceae, com nove espécies; Asteraceae e

Melastomataceae, com oito espécies cada; Anacardiaceae, Araceae, Bignoniaceae, Malpighiaceae e

Poaceae, com sete espécies cada; Boraginaceae e Meliaceae, com seis espécies cada; Arecaceae,

Clusiaceae, Moraceae, Olacaceae, Piperaceae e Rutaceae, com cinco espécies cada; Cactaceae,

Chrysobalanaceae, Cyperaceae e Lecythidaceae, com quatro espécies; Burseraceae,

Convolvulaceae, Myrsinaceae, Simaroubaceae, Solanaceae e Verbenaceae, com três espécies cada;

Acanthaceae, Amaranthaceae, Annonaceae, Dilleniaceae, Dryopteridaceae, Heliconiaceae,

Lythraceae, Nyctaginaceae, Passifloraceae, Polygonaceae, Polypodiaceae, Salicaceae, Smilaceae,

Urticaceae e Violaceae, com duas espécies cada (Figura 42), enquanto 37 famílias restantes foram

representadas por apenas uma espécie cada.

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54

Figura 42. Famílias mais representativas em riqueza de espécies presentes na área proposta para a

criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, Linhares e Aracruz, Espírito

Santo.

3.1.3.4 Espécies ameaçadas de extinção

A verificação da existência de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção é considerada por

alguns autores como essencial para a mauntenção da diversidade, pois preenche dois dos três

critérios considerados relevantes no estabelecimento de prioridades para conservação, consistindo

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55

em Diferenciação, que prediz que áreas que apresentam basicamente espécies endêmicas devem

apresentar maior valor que áreas com espécies comuns e o Perigo, que prediz que áreas que

possuem espécies ameaçadas devem ser priorizadas em detrimento das demais (Primack &

Rodrigues, 2001).

A lista de espécies encontradas na área proposta para a criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio Doce e ameaçadas de extinção foi elaborada a partir de três listas

oficiais disponíveis, sendo uma internacional (IUCN, 2004), uma nacional (IBAMA, 2008) e uma

estadual (ESPÍRITO SANTO, 2005).

Das 382 espécies de plantas analisadas oriundas da área de estudo foram identificadas 35 espécies

ameaçadas de extinção, pertencentes a 19 famílias (Tabela 10). Dentre estas, 18 encontram-se na

categoria Vulnerável (VU), quatro na categoria Em Perigo (EN) e duas Criticamente Em Perigo

(CP), segundo a lista das espécies ameaçadas do Espírito Santo (ESPIRITO SANTO, 2005). Na

lista da IUCN (2004) foram identificadas três espécies Em Perigo (EN) e oito espécies Vulneráveis

(VU). Na lista do IBAMA (1992), Rhodostemonodaphne capixabensis Baitello & Coe-Teix, da

Família Lauraceae; é a única espécie ameaçada de extinção, também encontrada como Vulnerável

(VU) na lista estadual. Podemos observar que quase dois terços das espécies (65,4 %) estão

enquadrados na categoria de menor risco (VU). Entretanto, estas espécies, assim como todas as

outras, merecem uma atenção especial para que não venham a ocupar categorias de maior ameaça.

Tabela 10. Lista das espécies ameaçadas de extinção que ocorrem na Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio Doce. ES= espécies que constam na lista de espécies ameaçadas do Espírito

Santo; BR = espécies presentes na lista oficial de espécies ameaçadas do Brasil e IUCN = espécies

presentes na lista internacional da International Union for Conservation of Nature (IUCN)

Família Espécies ES BR IUCN

ARACEAE Dracontioides desciscens (Schott) Engl. EN - -

ASTERACEAE Dasycondylus resinosus (Spreng.) R.M. King & H. Robinson VU - -

BIGNONIACEAE Tabebuia riodocensis A. Gentry EN - -

BROMELIACEAE Aechmea blanchetiana (Baker) L. B. Sm. (Figura 43) VU - -

BROMELIACEAE Neoregelia pascoaliana L. B. Sm. VU - -

BROMELIACEAE Vriesea neoglutinosa Mez VU - -

CHRYSOBALANACEAE Couepia schottii Fritsch - - VU

EUPHORBIACEAE Joanesia princepis Vell. - - VU

FABACEAE Inga exfoliata T.D. Penn. & F.C.P. Garcia - - EN

FABACEAE Inga subnuda subsp. subnuda T. D. Penn. - - VU

FABACEAE Zollernia modesta A.M. de Carvalho & R.C. Barneby VU - -

GOODENIACEAE Scaevola plumieri (L.) Vahl. (Figura 44) VU - -

HELICONIACEAE Heliconia episcopalis Vell. VU - -

LAURACEAE Ocotea confertiflora (Meisn.) Mez VU - -

LAURACEAE Rhodostemonodaphne capixabensis Baitello & Coe-Teix. VU EN -

LENTIBULARIACEAE Utricularia foliosa L. VU - -

MARANTACEAE Calathea monophylla Körn. VU - -

MELIACEAE Trichilia casaretti C. DC. - - VU

MELIACEAE Trichilia lepidota Mart. Subsp. Schumaniana - - VU

MORACEAE Sorocea guileminiana Gaudich. - - VU

MYRTACEAE Myrcia lineata (Berg.) G.M. Barroso - - VU

ORCHIDACEAE Acianthera strupifolia (Lindl.) Pridgeon & M. W. Chase VU - -

ORCHIDACEAE Cattleya guttata Lindl. (Figura 45) VU - -

ORCHIDACEAE Cyrtopodium gigas (Vell.) Hoehne VU - -

ORCHIDACEAE Cyrtopodium holstii L.C.Menezes (Figura 46) VU - -

ORCHIDACEAE Dimerandra emarginata (G. Mey.) Hoehne EN - -

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Família Espécies ES BR IUCN

ORCHIDACEAE Eltroplectris calcarata (Sw.) Garay & Sweet. VU - -

ORCHIDACEAE Epidendrum carpophorum Barb. Rodr. EN - -

ORCHIDACEAE Epidendrum imatophyllum Lindl. VU - -

ORCHIDACEAE Rauhiella silvana Toscano CR - -

POACEAE Axonopus pressus (Ness) Parodi CR - -

SAPINDACEAE Paullinia riodocensis G. V. Somner VU - -

SAPOTACEAE Chrysophyllum splendens Spreng. - - VU

SAPOTACEAE Manilkara bella Monach. (Figura 47) - - EM

SAPOTACEAE Pouteria caelomatica Rizzini - - EM

Figura 43. Detalhe de Aechmea blanchetiana (Baker) L. B. Sm. Foto: Ludovic Jean Charles Kollmann.

Figura 44. Detalhe da flor de Scaevola plumieri (L.) Vahl. Foto: Ludovic Jean Charles Kollmann.

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Figura 45. Detalhe da inflorescência de Cattleya guttata Lindl. Foto: Ludovic Jean Charles Kollmann.

Figura 46. Detalhe da flor de Cyrtopodium holstii L.C.Menezes. Foto: Ludovic Jean Charles Kollmann.

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Figura 47. Manilkara bella. Foto: Luiz Magnago.

A Família que apresentou o maior número de espécies ameaçadas foi Orchidaceae, com nove

espécies, sendo seis Vulneráveis (VU), duas Em Perigo (EN) e uma Criticamente Em Perigo (CR)

distribuídas em sete gêneros; seguida por Bromeliaceae com três espécies Vulneráveis (VU), em

três gêneros; Fabaceae com três espécies, uma Vulnerável (VU) e duas Em Perigo (EN)

pertencendo a dois gêneros; Sapotaceae com três espécies também em três gêneros, com uma

Vulnerável (VU) e duas Em Perigo (EN). A lista ainda apresenta duas espécies de Lauraceae, com

representantes de dois gêneros, com uma espécie (VU) e outra Em Perigo (EN); Meliaceae, com

um gênero e duas espécies Em Perigo (EN); Araceae, com uma espécie Em Perigo (EN);

Asteraceae com uma espécie Vulnerável (VU); Bignoniaceae, com uma espécie Em Perigo (EN);

Chrysobalanaceae, com uma espécie Vulnerável (VU); Euphorbiaceae, com uma espécie

Vulnerável (VU); Fabaceae com uma espécie Vulnerável (VU); Goodeniaceae, com uma espécie

Vulnerável (VU); Heliconiaceae, com uma espécie Vulnerável (VU); Lauraceae, com uma espécie

Vulnerável (VU); Lentibulariaceae, com uma espécie Vulnerável (VU); Marantaceae, com uma

espécie Vulnerável (VU); Moraceae, com uma espécie Vulnerável (VU); Myrtaceae, com uma

espécie Vulnerável (VU); Poaceae, com uma espécie Criticamente Em Perigo (CR) e Sapindacea,

com uma espécie Vulnerável (VU) (Figura 48).

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

ORCHID

ACEAE

FABACEAE

LAURAC

EAE

ARACEA

E

BIG

NO

NIA

CEAE

EUPHORBIA

CEAE

HELI

CO

NIA

CEAE

MARAN

TACEAE

POACEAE

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da

s

Figura 48. Famílias que apresentaram mais espécies ameaçadas de extinção por ordem decrescente em

riqueza presentes na Foz do Rio Doce, Linhares, Espírito Santo.

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Na lista das espécies ameaçadas de extinção do Delta do Rio Doce podemos observar que a maioria

pertence às Angiospermas, sendo 19 eudicotiledôneas e 16 monocotiledôneas. O grande número de

monocotiledônea ocorre devido à grande quantidade de espécies de Bromeliaceae e Orchidaceae

que vem sofrendo coletas predatórias intensivas por serem ornamentais. Não foram registradas

espécies de Pteridófitas nas listas de espécies ameaçadas.

Entre as espécies que merecem destaque podemos citar Cattleya guttata (Orchidaceae) na categoria

Vulnerável (VU) da lista estadual. Esta espécie é uma orquídea muito procurada por

colecionadores, resultando em uma diminuição de exemplares no Estado do Espírito Santo, uma

situação agravada também pela ocorrência de desmatamento. A Aechmea blanchetiana

(Bromeliaceae), também é muito procurada para o uso em paisagismo devido a sua beleza e

resistência a condições ambientais desfavoráveis. Scaevola plumieri (Goodeniaceae), por sua vez, é

uma planta endêmica das restingas do Rio de Janeiro e Espírito Santo, crescendo na beira da praia.

3.1.3.5 Plantas endêmicas e raras

Na Foz do Rio Doce, foram identificadas mais de 40 espécies endêmicas da Mata Atlântica. Na

região do Rio Doce varias espécies novas foram descobertas e publicadas em revista

especializadas, como a Rhodostemonodaphne capixabensis Baitello & Coe-Teix, Simira Graziela

A.L.Peixoto, Tabebuia riodocensis A.Gentry, Inga exfoliata T.D.Penn. & F.C.P.Garcia, Guarea

penningtoniana Pinheiro e Paullinia riodocensis G.V.Sommer. Dentre as espécies endêmicas da

Mata Atlântica encontradas podemos citar, Mikania glomerata Spreng., Aechmea blanchetiana

(Baker) L.B.Sm., Aechmea multiflora L.B.Sm., Hohenbergia angusta (Vell.) E.Morren, Quesnelia

quesneliana (Brongn.) L.B.Sm. (Bromeliaceae), Couepia schottii Fritsch (Chrysobalanaceae),

Dichorisandra thyrsiflora J.C.Mikan (Commelinaceae), Capotroche brasiliensis (Raddi.) A.Gray

(Achariaceae), Ocotea elegans Mez (Lauraceae), Trichilia chasaratti C.DC. (Meliaceae), Eugenia

cuspidata Berg, Marlierea obscura Berg (Myrtaceae), Acianthera strupifolia (Lindl.) Pridgeon &

M.W.Chase e Koellensteinia altissima Pabst (Orchidaceae).

3.1.3.6 Plantas úteis

A verificação da presença de espécies consideradas úteis pelo homem preenche o terceiro critério

considerado importante na priorização de áreas para a conservação da biodiversidade, consistindo

na Utilidade. Segundo este critério, a espécie que tem um valor usual ou potencial tem mais

importância para a conservação do que espécies que não tem nenhum uso evidente para a

população (Primack & Rodrigues, 2001).

Das 382 espécies catalogadas na área estudada, mais de 100 espécies apresentaram potencial para

uso ornamental, integrando principalmente às Famílias Bromeliaceae, Orchidaceae, Marantaceae,

Piperaceae, Araceae, Fabaceae, Palmae e Cactaceae. As espécies ornamentais encontradas incluem

Cattleya guttata e Cyrtopodium holstii (Orchidaceae), Peperomia magnolifolia (Piperaceae),

Heliconia episcopalis (Heliconiaceae), Allagoptera arenaria (Arecaceae), Tabebuia cassinoides e

T. riodocensis (Bignoniaceae), Aechmea blanchetiana, Neoregelia pascoaliana, Quesnelia

quesneliana e Vriesea procera (Bromeliaceae), Cereus fernanbucensis e Pilosocereus arrabidae

(Cactaceae) e Clusia hilariana (Clusiaceae). A quantidade de espécies selecionadas com potencial

ornamental é alta devido à diversidade rica das matas oriundas do Estado do Espírito Santo

(Chamas, 1995; Kollmann et al., 2007).

Várias espécies madeireiras, usadas regionalmente, também ocorrem na área estudada, como

Astronium graveolens e Schinus terebintifolia (Anacardiaceae); Tabebuia cassinoides

(Bignoniaceae), além de várias Lauraceae, como Nectandra nitidula e Ocotea elegans. Duas

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espécies de Jequetibá foram encontradas na área estudada, representadas por Cariniana estrellensis

e C. legalis (Lecythidaceae) e o cedro Cedrela fissilis (Meliaceae).

Foram encontradas várias espécies com potencial para uso medicinal no Delta do Rio Doce como

Anacardium occidentale e Schinus terebintefolius (Anacardiaceae); Eclipta alba, Emilia

sonchifolia e Mikania glomerata (Asteraceae); Cecropia pachystachia (Urticaceae); Heliotropium

indicum (Boraginaceae); Bromelia antiacantha (Bromeliaceae); Protium heptaphyllum

(Burseraceae); Croton urucurana (Euphorbiaceae); Carpotroche brasiliensis (Achariaceae);

Guaria guidonia (Meliaceae); Piper umbelata (Piperaceae) e Genipa americana (Rubiaceae)

(Lorenzi, 2002; Lorenzi & Matos, 2002).

Na área também podem ser encontradas espécies nativas com potencial alimentício como a

pimenta-rosa Schinus terebintefolius (Anacardiaceae), Xylopia sericea (Annonaceae), Bromelia

antiacantha (Bromeliaceae), Chrysobalanus icaco (Chrysobalanaceae), Inga edulis (Fabaceae),

Genipa americana (Rubiaceae) e Allagoptera arenaria (Arecaceae). As espécies citadas são muito

importantes e de valor comercial significante, apresentando potencial para serem cultivadas em

escala comercial visando o uso sustentável dos recursos naturais.

Dentre as espécies identificadas no levantamento florístico várias apresentam potencial para

recuperação de áreas degradadas, como Schinus terebintefolius e Papirira guianensis

(Anacardiaceae); Xylopia sericea (Annonaceae); Tabebuia cassinoides (Bignoniaceae); Alchornea

triplinervia, Joanesia principes, Pera glabrata e Sapium glandulatum (Euphorbiaceae); Abarema

jupumba, Dialum guianense e Hymenaea courbaril (Fabaceae); Carpotroche brasiliensis

(Achariaceae); Nectandra nitidula e Ocotea elegans (Lauraceae); Byrsonima sericea

(Malpighiaceae); Hibiscus pernambucensis (Malvaceae); Cedrela fissilis e Guarea guidonia

(Meliaceae) e Guapira opposita (Nyctaginaceae) (Lorenzi, 2002).

3.1.4 Considerações finais

A área proposta para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce

apresentou diversas fitofisionomias que se diferenciaram pela florística e porte da vegetação. As

condições determinantes para o estabelecimento destas fisionomias variam de acordo com os

fatores abióticos, principalmente edáficos, bem como do tempo de regeneração das regiões que

sofreram influência humana.

A quantidade de espécies ameaçadas de extinção, endêmicas e úteis na área estudada é muito

significante, preenchendo todos os fatores e critérios de priorização, denominados respectivamente

de Perigo, Diferenciação e Utilidade, frequentemente utilizados na ciência da Biologia da

Conservação.

Face ao exposto, a área estudada pode ser considerada como de extrema importância para a

conservação da biodiversidade, necessitando de critérios e medidas rigorosas em prol da

preservação, sendo extremamente plausível a necessidade de implementar uma Unidade de

Conservação para garantir a sustentabilidade das comunidades locais e a conservação das espécies

existentes.

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61

3.2 Entomofauna

3.2.1 Introdução

A Mata Atlântica é um ecossistema com alto índice de diversidade, com estimativas de 10000

espécies vegetais e milhares de espécies animais, muitas delas talvez ainda desconhecidas da

Ciência. O Estado do Espírito Santo, apesar de possuir apenas 11% da área original de Mata

Atlântica, suportando um desmatamento desenfreado, apresenta uma das áreas de maior

diversidade biológica do mundo, com níveis extremamente altos de endemismo em todas as

categorias.

Os insetos apresentam uma enorme diversidade de espécies nos trópicos e um papel importante nos

estudos aplicados em biologia tropical, diversidade de comunidades e conservação de habitats

(Edwards et al., 1993). Apesar de representarem grande parte da biodiversidade e seu inegável

papel no funcionamento de ecossistemas tropicais (Chapin III et al., 1997; Wilsey & Potvin, 2000;

Roubik, 2002; De Marco & Coelho, 2004), seu uso na determinação de áreas prioritárias para a

conservação não é frequente, devido principalmente à ausência de informações sistematizadas,

inclusive no Brasil.

Dentre os insetos, os representantes da Ordem Odonata ou libélulas apresentam espécies

predadoras, cujas larvas vivem em ambientes aquáticos e apresentam alta diversidade em domínios

tropicais (Corbet, 1999). O maior interesse em estudar libélulas reside no fato de serem predadores

generalistas, considerados junto aos peixes, como o topo da cadeia trófica do litoral de lagos e

riachos. Em geral, as espécies de topo de cadeia são as primeiras a serem afetadas nos processos de

impacto ambiental. Portanto, sua perda pode ocasionar efeitos cascata na comunidade, com uma

redução desproporcional da riqueza em espécies (Ricklefs, 2003). Por depender da integridade dos

ambientes hídricos, libélulas são fortemente afetadas pelas condições físico-químicas dos corpos

d’água, como alterações no pH ambiental. Por estas razões, os representantes deste grupo podem

ser utilizados como indicadores da qualidade da água de riachos e outros corpos d’água (Carvalho

& Nessimian, 1998).

A Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção apresenta atualmente

oito espécies de Odonata. Duas destas são Zygoptera endêmicos do Estado do Espírito Santo, com

Mecistogaster pronoti considerada Criticamente Em Perigo (CP). Contudo, devem-se considerar

alguns aspectos importantes da Biologia de Conservação em países em desenvolvimento: o número

de espécies ameaçadas e sua distribuição são definidos principalmente em função do esforço de

coleta e do número de pesquisadores na área.

Muitos pesquisadores afirmam a importância da ordem Lepidoptera em monitoramentos por sua

grande diversidade de espécies, facilidade de coleta, identificação e grande distribuição espacial, o

que a torna um grupo indicador confiável sobre o nível de impacto nos ecossistemas (Holloway et

al., 1992; Brown Jr. & Hutchings, 1997).

A Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (IBAMA, 2003)

contém 50 espécies de Lepidoptera Em Perigo (EN) ou Criticamente Ameaçadas (CR). Deste total,

26 pertencem à família Nymphalidae e 10 pertencem as espécies de uma guilda alimentar particular

composta por borboletas que se alimentam da polpa de frutos em putrefação, correspondendo a um

quinto do total (DeVries et al., 1997). Este valor ressalta a importância dos levantamentos de

espécie de Lepidoptera. A guilda frugívora inclui as subfamílias Charaxinae, Morphinae,

Brassolinae, Amathusiinae, Satyrinae e alguns gêneros de Nymphalinae, apresentando entre 40 e

55% da riqueza total dos Nymphalidae em florestas tropicais (DeVries, 1987).

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62

A Ordem Hymenoptera é extremamente abundante na natureza e seus representantes ocupam os

mais diversos tipos de ambientes disponíveis. Atualmente estão incluídas nesta Ordem cerca de

115000 espécies, mas estima-se que existam pelo menos 250000 espécies no mundo (Hanson &

Gauld, 1995).

Dentre os himenópteros, as vespas parasitóides apresentam diversidade variada (Lasalle & Gauld,

1991) e têm uma grande relevância biológica, ecológica e econômica. Segundo Godfray (1994),

vespas parasitóides são consideradas espécies de Hymenoptera cujas larvas se desenvolvem no

corpo de outro artrópodo, usualmente um inseto, em uma massa única ou gregária de hospedeiros,

como ootecas ou em massas de larvas galhadoras. O término do desenvolvimento do parasitóide

acarreta na morte do hospedeiro. Essas vespas participam em mais de 50% das cadeias alimentares

dos ambientes terrestres como os de florestas úmidas (Lasalle & Gauld, 1991). O grupo é

considerado um indicador ecológico eficiente, principalmente pela sua potencialidade no controle

biológico natural, regulando possíveis explosões populacionais de plantas e consequentemente, de

animais herbívoros. Entretanto, apesar de ser potencialmente um indicador ecológico, o emprego

de vespas parasitóides para esta finalidade não é comum.

A Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção não inclui nenhuma

espécie de himenóptero parasitóide citado, isso ocorre principalmente devido à falta de

conhecimento da fauna de vespas em localidades nacionais.

O estudo desenvolvido na área proposta para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável

da Foz do Rio Doce utilizou o método de protocolos de levantamento rápido da biodiversidade

(RAP). Estes surgiram como resposta à urgência de produzir dados sobre a biodiversidade de um

local pela maximização da relação entre custo, tempo e resultados; e se tornaram frequentes nos

esforços recentes para a estimava da biodiversidade tropical com objetivos conservacionistas

(Oliver & Beattie, 1993; Oliver & Beattie, 1996; Jones & Eggleton, 2000; Simonson et al., 2001).

O objetivo do levantamento das Ordens de insetos, com ênfase nas espécies ameaçadas de

extinção; foi caracterizar a abundância das famílias e espécies de Odonata, de Lepidoptera da

guilda frugívora da Família Nymphalidae e de vespas parasitóides, na área da foz do Rio Doce,

Linhares, Espírito Santo.

3.2.2 Materiais e métodos

3.2.2.1 Área de estudo

O presente estudo foi realizado na região da foz do Rio Doce, nas localidades de Povoação e

Regência, localizadas no município de Linhares, Espírito Santo (Tabela 11).

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63

Tabela 11. Pontos amostrados para levantamento de insetos. O * indica coletas realizadas na Reserva

Biológica de Comboios a partir da realização do Projeto Leptagrion, financiado pelo Fundo Nacional

do Meio Ambiente, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia

Legal (MMA)

Localidade Coordenadas

S W

Povoação 19° 33' 34,6" 39° 47' 15,3"

19° 33' 32,9" 39° 47' 16,5"

19° 33' 29,2" 39° 47' 8"

19° 33' 30,2" 39° 47' 7,6"

19° 33' 30,0" 39° 47' 6,3"

19° 33' 30,4" 39° 47' 5,1"

19° 33' 30,5" 39° 47' 4,3"

19° 33' 30,4" 39° 47' 2,9"

Reserva Biológica de Comboios* 19° 40' 8,5" 39° 53' 18,8"

Para a execução da lista de espécies com ocorrência local, foi realizada uma coleta de campo em

Povoação, porém o esforço de coleta apresentou uma eficiência reduzida de captura, pois esteve

associado à influência de períodos de chuva, ocorrendo nos dias 12 a 14 de novembro de 2008. As

coletas foram realizadas por uma equipe de quatro pessoas, com uma amostragem utilizando

métodos diferenciados para cada grupo de inseto.

O levantamento de insetos foi complementado com dados obtidos pela realização do Projeto

Leptagrion, que atuou na Reserva Biológica de Comboios e foi realizado pelo Instituto de

Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema) em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV),

com recursos fornecidos pelo Governo Federal.

3.2.2.2 Espécies de insetos ameaçadas de extinção

Para o levantamento das espécies de insetos ameaçadas de extinção foram utilizadas as espécies

citadas na lista do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

(IBAMA, 2003); na Lista Vermelha do Estado do Espírito Santo (2005) e na Lista da International

Union for Conservation of Nature (IUCN, 2004). Foram realizadas buscas ativas com utilização de

redes entomológicas, apenas observando, quantificando e fotografando os indivíduos de cada

espécie ameaçada.

3.2.2.3 Odonata

As amostragens de espécies da Ordem Odonata foram feitas nos principais corpos d’águas da

propriedade do Senhor Rodrigues, em áreas de mata, pasto e mata de cabruca. Também foram

coletados espécimes em uma área de restinga próxima à praia de Povoação. Foi feita apenas uma

amostragem qualitativa em corpos d’água lênticos por meio de busca ativa devido ao tempo

desfavorável para a atividade dos insetos (Figuras 49, 50 e 51).

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Figura 49. Poça temporária na estrada para a propriedade do Senhor Rodrigues. Foto: Karina

Schmidt Furieri.

Figura 50. Corpo d’água lêntico com vegetação aquática na estrada para a propriedade do Senhor

Rodrigues. Foto: Karina Schmidt Furieri.

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Figura 51. Coleta ativa de libélulas a partir de um puçá utilizado na propriedade do Senhor Rodrigues.

Foto: Karina Schmidt Furieri.

3.2.2.4 Lepidoptera frugívoros

O protocolo para borboletas frugívoras consistiu na instalação de cinco armadilhas Van Someren-

Rydon utilizadas na captura de borboletas frugívoras (Shuey, 1997), na propriedade do Senhor

Rodrigues (Figura 52), sendo verificadas a cada 24 horas quanto à coleta de indivíduos e para a

renovação de iscas. As iscas foram compostas por uma mistura de caldo de cana e bananas

fermentadas (DeVries, 1987). A composição das iscas foi de cerca de 600 mililitros de caldo de

cana e 2 quilos de banana triturada, deixadas para fermentar durante dois dias. Foi disponibilizado

por dia cerca de 50 mililitros de isca, acondicionados no centro da armadilha.

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Figura 52. Armadilha Van Someren-Rydon para coleta de borboletas frugívoras. Foto: Karina

Schmidt Furieri.

As armadilhas foram dispostas sob a forma de um transecto, com distanciamento de cerca de 70

metros uma da outra. A distância entre as armadilhas visou evitar que a atratividade de uma fosse

influenciada pela presença de outra. Desta forma, esperava-se captar ao máximo a heterogeneidade

ambiental, permitindo uma estimativa mais acurada tanto da riqueza de espécies como de sua

variação. Além disto, buscou-se garantir a independência das amostras, o que é um requisito

essencial para o uso de testes estatísticos, evitando a pseudoreplicação (Hurlbert, 1984).

3.2.2.5 Vespas Parasitóides

A análise da abundância das Famílias de vespas parasitóides foi realizada com o emprego das

armadilhas Malaise (Figura 53) e Möricke. As armadilhas ficaram expostas de 13 a 14 de

novembro de 2008.

Os exemplares foram identificados ao nível de Família segundo chaves de Fernández & Sharkey

(2006). O material coletado foi depositado na Coleção Entomológica da Universidade Federal do

Espírito Santo (UFES). Também foram identificadas outras Ordens de insetos que foram

capturadas nas armadilhas de vespas parasitóides.

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Figura 53. Armadilhas Malaise utilizadas na coleta de vespas parasitóides. Foto: Karina S. Furieri.

3.2.2.6 Análise dos dados

A estimativa de riqueza de espécies foi obtida através de estimadores não-paramétricos, com o

Jackknife sendo utilizado para os dados de Odonata e vespas parasitóides e o Bootstrap utilizado

para os dados de borboletas frugívoras.

1. O Jackknife de primeira ordem (Heltshe & Forrester, 1983; Heltshe & Forrester, 1985;

Hellmann & Fowler, 1999):

m

mQSS obsjack

111

Onde:

Sobs é o número total de espécies observadas em todas as amostras coletadas;

m é o número total de amostras;

Qj é o número de espécies que ocorrem em exatamente j amostras (Q1 é a freqüência de espécies

que ocorrem em apenas uma amostra (“uniques”), Q2 é a freqüência de espécies que ocorrem em

apenas duas amostras (“duplicates”).

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2. O Bootstrap (Efron, 1979; Efron, 1982; Hellmann & Fowler, 1999):

Onde:

Sobs é o número total de espécies observadas em todas as amostras coletadas;

m é o número total de amostras;

pk é a proporção de amostras que contém a espécie k.

3.2.3 Resultados

3.2.3.1 Espécies de insetos ameaçadas de extinção

A saúva-preta (Atta robusta), formiga ameaçada de extinção nacionalmente e regionalmente

(Vulnerável), foi detectada na Reserva Biológica de Comboios (Machado et al., 2008).

A libélula Mecistogaster amalia também apresentou registro para a Reserva Biológica de

Comboios, sendo considerada Deficiente em Dados (DD) pela International Union for

Conservation of Nature (IUCN).

3.2.3.2 Odonata

Um total de 17 espécies de libélulas (Odonata) foi registrado para a região do Delta do Rio Doce,

sendo 12 pertencentes à Subordem Anisoptera e cinco a Zygoptera (Tabela 12 e Figura 54). Estas

espécies estão distribuídas em quatro famílias: Coenagrionidae, Gomphidae, Pseudostigmatidae e

Libellulidae. Mecistogaster amalia, Leptagrion porectum e Leptagrion dispar foram coletados

durante as atividades do Projeto Leptagrion na Reserva Biológica de Comboios e não foram

observadas nas áreas visitadas pela equipe na última campanha. Todas as demais espécies de

libélulas foram coletadas na propriedade do Senhor Rodrigues. Na restinga, foram coletados

indivíduos de Ischnura fluviatilis pousados na vegetação halophila-psamofila e pós-praia. Nesta

mesma área, observamos a presença de Pantala flavescens e de Erythemis vesiculosa durante uma

pequena parada da chuva.

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Tabela 12. Espécies de libélulas encontradas na região do Delta do Rio Doce

Família Gênero Espécies Local

COENAGRIONIDAE

Ischnura Ischnura fluviatilis Povoação

Leptagrion Leptagrion dispar Reserva Biológica de Comboios

Leptagrion Leptagrion porrectum Reserva Biológica de Comboios

Telebasis Telebasis filiola Povoação

GONPHIDAE - - Povoação

LIBELLULIDAE

Diastatops Diastatops obscura Povoação

Erythemis Erythemis attala cf Povoação

Erythemis Erythemis haematogaster cf Povoação

Erythemis Erythemis vesiculosa Povoação

Erythrodiplax Erythrodiplax ocracea cf Povoação

Erythrodiplax Erythrodiplax umbrata Povoação

Miathyria Miathyria marcella cf Povoação

Miathyria cf - Povoação

Micrathiria - Povoação

Pantala Pantala Flavescens Povoação

Perithemis Perithemis mooma Povoação

PSEUDOSTIGMATIDAE Mecistogaster Mecistogaster amalia Reserva Biológica de Comboios

Figura 54. Telebasis filiola, uma das espécies de libélulas coletada na propriedade do Senhor

Rodrigues. Foto: Karina Schmidt Furieri.

De acordo com as listas de espécies de Odonata para o Estado (Costa & Oldrini, 2005; Lencioni

2005, 2006), não foram registradas novas ocorrências. Não foi encontrada nenhuma espécie de

libélula ameaçada de extinção, mas Mecistogaster amalia está na categoria Deficiente em Dados

(DD) da lista vermelha mundial. Leptagrion porrectum é uma espécie rara restrita às restingas do

norte do Espírito Santo e que possivelmente será incluída na próxima revisão das listas de espécies

ameaçadas de extinção nacional e estadual (Furieri & De Marco, dados não publicados).

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70

Há grande probabilidade de mais espécies serem encontradas caso sejam feitas campanhas

adicionais. Os indivíduos que não foram identificados ao nível de espécie serão encaminhados aos

especialistas de cada grupo.

3.2.3.3 Lepidoptera frugívoros

Nenhuma borboleta caiu nas armadilhas. A chuva interferiu na atratividade da isca e o vento

derrubou uma armadilha. Muitas borboletas foram observadas pela equipe e a de Mamíferos não-

voadores, porém não foi possível sua identificação.

3.2.3.4 Vespas parasitóides

Foi registrado um total de nove superfamílias, 20 Famílias e 256 indivíduos de vespas parasitóides

com ocorrência para Povoação (Tabela 13). A Família mais abundante foi Diapriidae, com 74

indivíduos equivalentes a 30,2 % do total, seguida de Scelionidae com 45 indivíduos equivalentes a

18,3 % dos indivíduos coletados e Ceraphronidae com 30 indivíduos equivalentes a 12,2%.

Tabela 13. Famílias de vespas parasitóides coletadas em Povoação nos dias 13 e 14 de novembro de

2008

Superfamília Família

Quantidade de

indivíduos

(Möricke)

Quantidade de

indivíduos

(Malaise)

Quantidade de

indivíduos

(Total)

CERAPHRONOIDEA CERAPHRONIDAE 30 1 31

CHALCIDOIDEA

ENCYRTIDAE 2 0 2 EUCHARITIDAE 0 3 3 EULOPHIDAE 7 6 13 EUPELMIDAE 0 2 2 EURYTOMIDAE 0 1 1 MYMARIDAE 8 4 12 PTEROMALIDAE 8 2 10

CHRYSIDOIDEA BETHYLIDAE 3 3 6 DRYINIDAE 1 0 1

CYNIPOIDEA EUCOILIDAE 2 1 3

EVANIOIDEA EVANIIDAE 0 3 3

ICHNEUMONOIDEA BRACONIDAE 14 4 18 ICHNEUMONIDAE 1 2 3

PLATYGASTROIDEA PLATYGASTRIDAE 8 3 11 SCELIONIDAE 35 10 45

PROCTRUPOIDEA DIAPRIIDAE 70 4 74

VESPOIDEA

MUTILLIDAE 1 2 3 POMPILIDAE 0 3 3 TIPHIIDAE 0 1 1

TOTAL 190 55 245

A riqueza de Famílias de vespas parasitóides foi estimada entre 20 a 26, utilizando-se apenas os

dados da Malaise, ressaltando a necessidade de mais coletas para a região mediante ao aumento do

esforço amostral e possibilidade de encontrar novas Famílias.

Foi registrado um total de 13 Ordens de insetos nas armadilhas usadas no levantamento de vespas

parasitóides na região de Povoação: Blattaria, Coleoptera, Collembola, Diptera, Hemiptera,

Hymenoptera, Isoptera, Lepidoptera, Mantódea, Orthoptera, Psocoptera, Strepsiptera e

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71

Thysanoptera. Adicionadas a Ordem Odonata, a região do Delta do Rio Doce apresenta pelo menos

um total de 14 Ordens coletadas a partir dos métodos utilizados.

3.2.4 Discussão

A chuva e o frio são desfavoráveis à coleta de insetos e isto certamente influenciou nos resultados.

Entretanto, apesar das condições climáticas desfavoráveis, um número considerável de espécies de

libélulas e Famílias de vespas parasitóides foi encontrado na área de estudo em um curto período de

amostragem.

A formiga saúva-preta (Atta robusta) é endêmica das restingas dos Estados do Espírito Santo e Rio

de Janeiro e está ameaçada na categoria Vulnerável (VU) em nível nacional e no Espírito Santo.

Ela se alimenta durante o dia e é mais frequente em locais sombreados nas formações arbustivas

conhecidas como matas de mirtáceas (Teixeira et al., 2004).

As larvas do gênero Mecistogaster habitam água acumulada em buracos de troncos de árvores

(Corbet, 1999). As libélulas que se desenvolvem em ocos de árvores são especialmente vulneráveis

a situações em que os troncos de árvores são reduzidos devido ao desmatamento ou coleta seletiva

de árvores mortas, um processo semelhante a extração de bromélias, havendo uma redução de

populações de espécies que as utilizam (Machado et al., 2008). Mecistogaster amalia alimenta-se

de aranhas ou capturando presas imobilizadas nas teias (Corbet, 1999; observação pessoal). O fato

de ter sido incluída na Lista Vermelha Mundial da IUCN como Deficiente em Dados (DD) mostra

a necessidade de estudos sobre a espécie Mecistogaster amalia e a importância do registro de

ocorrência dessa espécie na Reserva Biológica de Comboios.

Espécies do gênero Leptagrion Selys são fortemente associadas a bromélias em diferentes

ecossistemas na América do Sul (Williamson, 1917; Santos, 1968a; 1968b; 1979; De Marco &

Furieri, 2000; Furieri et al., 2004). A especialização quanto ao microhabitat pode expor estas

libélulas às mesmas ameaças impostas as bromélias utilizadas como recursos, como a destruição de

habitat, sua degradação e a extração ilegal para a ornamentação (Simonelli & Fraga, 2007). Furieri

(2008) e Furieri & De Marco (dados não publicados) avaliaram o risco de extinção das espécies de

Leptagrion com registro para a Mata Atlântica. Leptagrion dispar foi considerada uma espécie rara

com registro apenas para Bahia e Espírito Santo. Leptagrion porrectum, por sua vez, apresenta uma

distribuição restrita, ocorrendo apenas nas restingas do norte do Espírito Santo, tanto para os

registros de ocorrência, quanto para a sua distribuição potencial. Estes autores indicam que L.

porrectum seja incluída nas listas vermelhas estadual, nacional e mundial na categoria Em Perigo

(EN) de extinção. A presença destas espécies de libélulas na região do Delta do Rio Doce mostra a

importância desta área para a preservação da biodiversidade.

Mesmo em condições climáticas desfavoráveis, foram amostradas 20 Famílias de vespas

parasitóides, número similar aos resultados de Serra das Torres e Santa Leopoldina e inferior a

Santa Teresa e Alto Misterioso (Tabela 14).

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Tabela 14. Riqueza e estimativa de riqueza para cada área estudada no projeto (R = riqueza e E =

estimativa de riqueza)

Serra das

Torres

Santa

Teresa Alto Misterioso

Santa

Leopoldina

Delta do Rio

Doce

R E R R E R E R E

Libélulas 22 – 43 22 23 a 31 11 19 a 34 17 –

Borboletas

frugívoras 17 18 a 28 397* 21 24 a 28 5 – – –

Vespas

parasitóides 24 24 a 29 35 29 30 a 36 28 28 a 38 20 20 a 26

Em comparação com os demais dados de coleta em Mata Atlântica, a riqueza de Famílias obtidas é

menor que as outras áreas voltadas para a conservação, mas deve-se levar em consideração que as

condições climáticas foram desfavoráveis e que as armadilhas ficaram expostas durante tempo

muito inferior ao que é de costume, um período menor que 24 horas, uma vez que o padrão consiste

em pelo menos uma semana. Alencar et al. (2007) relataram a ocorrência de 1997 espécimes e 28

Famílias de vespas parasitóides no Parque Estadual de Pedra Azul no município de Domingos

Martins, Espírito Santo. Azevedo et al. (2003) obtiveram 28 Famílias com armadilha de Möericke

e 30 com armadilha Malaise, totalizando 35 Famílias citadas para a Estação Biológica de Santa

Lúcia. Utilizando a varredura de vegetação ao longo de um ano, Azevedo & Santos (2000)

obtiveram 30 Famílias para a Reserva Biológica de Duas Bocas, enquanto Azevedo et al. (2002)

encontraram 28 Famílias para o Parque Estadual da Fonte Grande.

3.3 Herpetofauna

3.3.1 Introdução

A Classe Amphibia consiste na Ordem Anura, Urodela e Gymnophiona (Duellman & Trueb, 1986;

Izecksohn & Carvalho-e-Silva, 2001; Frost, 2004), sendo que os anuros se caracterizam pela

ausência da cauda pós-anal na fase adulta. O nome anfíbio deriva da presença de uma larva

aquática, chamada de girino e de uma forma terrestre, o que os torna um grupo especial

(Hildebrand, 1974; Freitas & Silva, 2004). Os anfíbios anuros, que atingiram o seu ápice evolutivo

100 milhões de anos atrás e são os animais popularmente conhecidos como sapos, rãs e pererecas

(Freitas & Silva, 2004). O número de espécies de anfíbios presentes no mundo está em torno de

5931 (Frost, 2004), com 841 espécies descritas para o Brasil (SBH, 2008a).

No mundo existem quatro Ordens de Répteis, sendo que três delas ocorrem no Brasil: Chelonia,

Squamata e Crocodylia. A Ordem Squamata possui três subordens: Amphisbaenia, que engloba os

animais popularmente conhecidos como cobras-cegas; Squamata, que inclui os lagartos e

similares, com quatro patas e alguns com as mesmas reduzidas e as Serpentes, que se referem às

cobras, todas ápodas (Pough et al., 2003).

Até o momento são citadas para o Brasil 641 espécies de répteis, incluindo neste total todas as

Ordens e os ambientes terrestre, dulcícola e marinho. A Ordem Chelonia ou Testudines possui 35

espécies representadas em nosso território, a Ordem Crocodylia possui seis e os Squamata contam

com mais 701 espécies no Brasil (SBH, 2008b). Assim, o Brasil possui a quarta maior diversidade

de espécies de répteis, atrás apenas da Austrália, com cerca de 840 espécies; do México, com cerca

de 770 e da Índia, com cerca de 750 (SBH, 2008b). Portanto, existiam no Brasil até 2005, pelo

menos 1541 espécies de anfíbios e répteis descritas.

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73

A vulnerabilidade em anuros é decorrente do seu elevado grau de endemismo (Lynch, 1979), bem

como dos seus modos reprodutivos especializados (Duellman & Trueb, 1986). Outros aspectos que

contribuem para o seu declínio são: destruição, alteração e fragmentação de habitat (Fisher &

Shaffer, 1996; Davidson et al., 2001; Marsh & Trenham, 2001), introdução de espécies exóticas

(Kats & Ferrer, 2003; Vredenburg, 2004), sobre-exploração (Jennings & Hayes, 1985; Lannoo et

al., 1994), mudança de clima (Pounds et al., 1999; Kiesecker et al. 2001; Carey & Alexander,

2003), radiação ultravioleta, contaminantes químicos (Hayes et al., 2002) e doenças infecciosas

(Daszak et al., 2003), que provavelmente são decorrentes de estresses ambientais como o déficit

hídrico e extremos de temperatura.

Embora o Brasil tenha a fauna mais rica de toda a América Central e do Sul, as informações sobre

répteis ainda são preliminares e demonstram a necessidade de realização de mais estudos

faunísticos (Rodrigues, 2005).

Levando em consideração esta diversidade, o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos

e da Amazônia Legal (MMA, 2000) cita apenas 470 espécies, dentre as quais 197 ocorrem como

endêmicas do Bioma Mata Atlântica. Já a Sociedade Brasileira de Herpetologia, cita 641 espécies

para o Brasil (SBH, 2008b), enquanto Rodrigues (2005) cita para o Brasil um número de 650

espécies descritas, com a maioria pertencente aos Squamata (94%). Estes números desencontrados

refletem a ausência de conhecimento adequado sobre a fauna de répteis brasileiros como salientado

anteriormente.

Tendo em vista os empreendimentos existentes e futuros previstos para o Delta do Rio Doce, a

conservação da fauna de anfíbios e répteis da região segue como essencial. A região inclusive

propiciou a descrição recente de um leptodactilídeo para a Ciência (Almeida & Ângulo, 2006).

3.3.2 Materiais e métodos

O levantamento de espécies de anfíbios e répteis na região de Regência e Povoação abrangeu as

margens sul e norte da foz do Rio Doce, localizada no município de Linhares, com os dias 14, 15 e

16 de novembro de 2008, dedicados a Regência; e 29 e 30 de novembro de 2008 dedicados a

Povoação (Figura 55), havendo o registro das coordenadas geográficas dos pontos visitados

(Tabela 15).

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Figura 55. Pontos de estudo de anfíbios e répteis na região do entorno do Delta do Rio Doce, Linhares,

Espírito Santo, no período de 16 a 31 de novembro de 2008.

Tabela 15. Coordenadas geográficas dos pontos locais aonde ocorreram buscas por espécies de anfíbios

e répteis em Regência e Povoação

Regência Povoação

19°37’38,74”S e 39°52’03,52”W 19°35’21,62”S e 39°47’32,82”W

19°40’12,67”S e 39°52’58,15”W 19°35’01,92”S e 39°47’06,28”W

19°39’31,61”S e 39°53’26,99”W 19°34’58,78”S e 39°47’04,30”W

19°39’26,36”S e 39°52’42,30”W 19°34’00,64”S e 39°47’14,42”W

19°39’14,07”S e 39°52’36,96”W 19°33’53,96”S e 39°47’12,82”W

19°39’23,26”S e 39°51’19,04”W 19°33’51,71”S e 39°47’11,45”W

19°39’18,77”S e 39°51’21,35”W 19°33’52,59”S e 39°47’04,66”W

19°38’48,72”S e 39°51’38,93”W 19°33’42,49”S e 39°47’09,57”W

19°38’19,69”S e 39°52’56,36”W 19°33’45,84”S e 39°48’34,87”W

19°38’02,58”S e 39°52’56,37”W 19°33’42,37”S e 39°48’30,54”W

19°38’02,79”S e 39°52’48,24”W

19°37’59,80”S e 39°52’10,87”W

19°37’46,30”S e 39°52’17,43”W

Os procedimentos de observação envolveram a busca ativa (Conte & Rossa-Ferres, 2006), na qual

anfíbios e répteis são procurados nas serrapilheiras das restingas e ao longo dos corpos d’água e

pastos (Figura 56 e 57). As observações noturnas contaram com auxílio do uso de lanternas (Bastos

et al., 2003). O acompanhamento de sítios de reprodução foi realizado entre as 18 e 24 horas para o

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reconhecimento visual e obtenção das vocalizações de anuro a partir de gravadores digitais. Os

gravadores foram posicionados a uma distância variando entre 30 e 60 centímetros e uma curva

acumulada de espécies foi calculada a partir dos dias de observação utilizados como unidade de

esforço. Os exemplares observados foram capturados, fotografados e soltos nos próprios locais de

captura.

Figura 56. (A) Busca ativa durante o dia em áreas de restinga com serrapilheira; (B) áreas de restinga

investigadas próximo à Lagoa Parda; (C) aspectos gerais do interior de uma mata de cacau e (D)

aspecto geral da vegetação de pasto e da restinga ao fundo, onde foram feitas as investigações de

anfíbios e répteis.

Figura 57. Aspecto geral de um córrego onde foram realizadas as investigações de ocorrência de

anfíbios e répteis na região de Povoação, Linhares, Espírito Santo.

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Espécies capturadas e registradas pelos diversos autores a partir das referências de estudos

desenvolvidos na região e do mapa de distribuição das espécies apresentado pela International

Union for Conservation of Nature (IUCN, 2008) foram consideradas como potenciais para a região

do Delta do Rio Doce. A sistemática e nomenclatura para as espécies de anfíbios e répteis

utilizadas neste levantamento seguiram as recomendações da Sociedade Brasileira de Herpetologia

(SBH, 2008a, 2008b).

As espécies ameaçadas encontradas e aquelas com possibilidade de ocorrerem na região do Delta

do Rio Doce foram categorizadas de acordo com a Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira

Ameaçadas de Extinção (MMA, 2003), a lista de Espécies da Fauna e Flora Silvestres Ameaçadas

de Extinção no Estado do Espírito Santo, consolidada a partir do Decreto n° 1499-R (Espírito

Santo, 2005) e a Lista Vermelha da International Union for Conservation of Nature (IUCN, 2006b).

A identificação dos táxons foi feita utilizando-se as seguintes referências para répteis: Vanzolini et

al. (1980), Peters & Orejas-Miranda (1986), Borges (2001), Marques et al. (2001), Freitas (2003),

Freitas & Silva (2005). As seguintes referências foram utilizadas para anfíbios: Heyer et al. (1990),

Izecksohn & Carvalho-e-Silva (2001), Bastos et al. (2003), Freitas & Silva (2004), Ramos &

Gasparini (2004), Haddad et al. (2005) e Haddad et al. (2008).

3.3.3 Resultados e discussão

Foram registradas 27 espécies de anfíbios (Tabela 16) e sete espécies de répteis (Tabela 17) para os

dias de coleta (Figura 58). O número de espécies de anfíbios anuros observados visualmente, nestes

cinco dias, pode ser considerado satisfatório, pois segundo Antônio de Pádua Almeida

(comunicação pessoal) já foi observado na região 42 espécies de anuros.

Figura 58. Curva acumulada de espécies da herpetofauna obtida em cinco dias de amostragem, em

Regência e Povoação, Linhares, Espírito Santo.

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Tabela 16. Lista de anfíbios já registrados para a região do Delta do Rio Doce (IUCN = International

Union for Conservation of Nature: LC = Não-ameaçada e DD = Dados Deficientes; ES = Espírito

Santo: NC = Não citada como ameaçada e Tipo de Registro: a = audição, g = gravação, f = foto, v =

visualização e b = referência)

Táxon IUCN ES Endêmica de Mata

Atlântica

Tipo de

registro

Bufonidae

Bufo crucifer (Figura 59) LC NC Sim a f v

Rinella granulosa (Figura 60) LC NC Sim a f v

Rinella Schneideri (Figura 61) LC NC Sim f v

Craugastoridae

Haddadus binotatus (Figura 62) LC NC Sim f v

Hylidae

Aparasphenodon brunoi (Figura 63) LC NC Sim a g f v

Dendropsophus bipunctatus (Figura 64) LC NC Não a g f v

Dendropsophus decipiens (Figura 65) LC Sim a g f v

Dendropsophis sp.1 (Figura 66) a g f v

Dendropsophis sp.2 (Figura 67) a g f v

Dendropsophis elegans (Figura 68) LC NC Sim a g f v

Hypsiboas albomarginata (Figura 69) LC NC Sim a g f v

Hypsiboas pardalis (Figura 70) LC NC Sim a f v

Hypsiboas semilineatus (Figura 71) LC NC Sim a g f v

Phyllodytes luteolus (Figura 72) LC NC Sim a g f v

Scinax alter (Figura 73) LC NC Sim a g f v

Scinax argyreornatus (Figura 74) LC NC Sim f v

Scinax fuscovarius (Figura 75) LC NC Não a f v

Trachycephalus nigromaculatus (Figura 76) LC NC Não a f v

Leiuperidae

Physalaemus crombiei (Figura 77) LC NC Sim f v

Physalaemus obtectus DD NC Sim f v

Leptodactylidae

Leptodactylus fuscus (Figura 78) LC NC Não a g f v

Leptodactylus natalensis (Figura 79) LC NC Sim f v

Leptodactylus spixi (Figura 80) LC NC Não f v

Leptodactylus ocellatus (Figura 81) LC NC Não f v

Leptodactylus thomei - - - b

Microhylidae

Arcovomer passarellii (Figura 82) LC NC Sim a f v

Dasypops schirchi - - - b

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Figura 59. Bufo crucifer, sapo comum encontrado

no Delta do Rio Doce, Linhares, Espírito Santo.

Figura 60. Rhinella granulosa encontrada junto a

alagados em várias áreas no Delta da Foz do Rio Doce.

Figura 61. Rhinella schneideri encontrada em

áreas de restinga e próxima a edificações em

Povoação, na região do Delta do Rio Doce.

Figura 62. Eleutherodactylus binotatus encontrado

junto ao chão em áreas de mata de restinga, na região

do Delta do Rio Doce.

Figura 63. Aparasphenodon brunoi encontrada na

região do Delta do Rio Doce.

Figura 64. Dendropsophus bipunctatus encontrada no

Delta do Rio Doce.

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79

Figura 65. Dendropsophus decipiens encontrada

no Delta do Rio Doce.

Figura 66. Dendropsophus sp.1 encontrada na região do

Delta do Rio Doce.

Figura 67. Dendropsophus sp.2 encontrada na

região do Delta do Rio Doce.

Figura 68. Dendropsophus elegans encontrada na do

Delta do Rio Doce.

Figura 69. Hypsiboas albomarginata encontrada

no Delta do Rio Doce.

Figura 70. Hypsiboas pardalis encontrada em

vegetação arbustiva, na região do Delta do Rio Doce.

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80

Figura 71. Hypsiboas semilineata encontrada em

vegetação arbustiva, na região do Delta do Rio

Doce.

Figura 72. Phyllodytes luteolus encontrado em

bromélias de restinga, na região do Delta do Rio Doce.

Figura 73. Scinax alter encontrada em alagados,

na região do Delta do Rio Doce.

Figura 74. Scinax argyreornatus encontrada na

serrapilheira de mata de restinga, na região do Delta

do Rio Doce.

Figura 75. Scinax fuscovarius encontrada em

habitações e áreas de restinga aberta, na região do

Delta do Rio Doce.

Figura 76. Trachycephalus nigromaculatusem

encontrada em árvores de áreas de restinga na região

do Delta do Rio Doce.

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Figura 77. Physalaemus crombiei encontrado junto

ao chão em áreas de mata de restinga, na região

do Delta do Rio Doce.

Figura 78. Leptodactylus fuscus encontrado em áreas

de gramíneas alagáveis, na região do Delta do Rio

Doce.

Figura 79. Leptodactylus natalensis encontrado em

áreas alagáveis em áreas de restinga, na região do

Delta do Rio Doce.

Figura 80. Leptodactylus spixi encontrado próximo as

áreas alagáveis, na região do Delta do Rio Doce.

Figura 81. Leptodactylus ocellatus encontrado em

áreas alagáveis, na região do Delta do Rio Doce.

Figura 82. Arcovomer passarellii encontrado em áreas

alagáveis em áreas de restinga, na região do Delta do

Rio Doce.

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Tabela 17. Lista de répteis já registrados para a região do Delta do Rio Doce (IUCN = International

Union for Conservation of Nature: LC = Não-ameaçada; ES = Espírito Santo: NC = Não citada como

ameaçada e Tipo de Registro: f = foto e v = visualização)

Táxon IUCN ES Endêmica de Mata

Atlântica

Tipo de

registro

Tropiduridae

Tropidurus torquatus (Figura 83) LC NC Não v f

Gekkonidae

Hemidactylus mabouia (Figura 84) LC NC Não v f

Gymnodactylus darwinii (Figura 85) NC NC Não v f

Teiidae

Ameiva ameiva (Figura 86) NC NC Não v f

Scincidae

Mabuya agilis (Figura 87) NC NC Não v f

Colubridae

Phimophis sp. (Figura 88) LC NC Não v f

Viperidae

Bothrops jararaca (Figura 89) LC NC Não v f

Figura 83. Tropidurus torquatus encontrada em

áreas abertas degradadas pela ação humana, no

Delta do Rio Doce, Linhares, Espírito Santo.

Figura 84. Hemidactylus mabouia encontrada em

residências no Delta do Rio Doce.

Figura 85. Gymnodactylus darwinii encontrada em

área de mata de restinga, na região do Delta do

Rio Doce, Povoação, Linhares, Espírito Santo.

Figura 86. Ameiva ameiva encontrada em área de

restinga, na região de Regência, Linhares, Espírito

Santo.

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83

Figura 87. Mabuya agilis encontrada em área de

restinga, na região de Povoação.

Figura 88. Phimophis sp. encontrada em área de pasto

próxima a restinga, na região de Regência.

Figura 89. Bothrops jararaca encontrada em área de pasto próxima a restinga, na região de Regência.

Das 25 espécies de anfíbios, 14 pertencem à Família Hylidae, com maior número de espécies para a

região; quatro pertencem à Família Leptodactylidade, três à Família Bufonidae, uma à Família

Leiuperidae e uma espécie para a Famílias Craugastoridae e uma para Microhylidae.

Foram encontradas sete espécies de répteis, sendo que a Família Gekkonidae apresentou duas

espécies e as Famílias Tropiduridae, Teiidae, Scincidae, Colubridae e Viperidae apresentaram

apenas uma espécie cada.

Estudos anteriores realizado em áreas próximas a região (Aracruz Celulose, 2003a, 2003b, 2003c),

citam também as seguintes espécies: Dendropsophus branneri, provavelmente a espécie citada

como Dendropsophus sp2; Dendropsophus minutus, Hybsiboas faber, Phyllomedusa burmeisteri e

Sphaenorhynchus planicola. A espécie Bufo ictericus parece ser uma identificação errônea, pois ela

não possui distribuição para o Espírito Santo, sendo provavelmente confundida com Bufo crucifer,

o que totaliza 30 espécies de anuros.

A fauna de répteis de áreas próximas ao Delta do Rio Doce também foi estudada pela empresa

Aracruz Celulose (2003a, 2003b, 2003c). Nestes estudos foram encontradas as seguintes espécies

de répteis terrestres: Anolis sp., Enyalius sp.; Ophioides striatus, Tupinambis meriane, Leposoma

scincoides, Mabuya macrorhyncha, Boa constrictor, Liophis miliaris, Philodryas olfersii e Spilotes

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84

pullatus. Além destas espécies também foram observadas, por um dos autores na região de

Regência as seguintes espécies: Leposternum sp., Liophis meridionalis, Oxyrhophus sp. e

Cnemidophorus nativo, totalizando 21 espécies de répteis.

Utilizando as informações disponíveis a partir de estudos realizados em áreas próximas à região

associadas aos mapas sobre a distribuição geográfica de espécies, elaborados pela International

Union for Conservation of Nature (IUCN, 2006a), cerca de 80 espécies de anfíbios podem ocorrer

na região do Delta do Rio Doce, o que representa 55% das espécies já registradas para o Estado do

Espírito Santo, um valor equivalente a 144 espécies. Enquanto o Estado do Espírito Santo apresenta

124 espécies de anfíbios endêmicas de Mata Atlântica, a região do Delta do Rio Doce e seu entorno

tem potencial para ter 80 delas, correspondendo a cerca de 40% do total.

Das 80 espécies de anfíbios com possibilidade de ocorrência na região de Santa Lucia, 77 foram

consideradas pela International Union for Conservation of Nature (IUCN, 2006b) como Não-

ameaçadas (LC), duas Vulneráveis (VU), nenhuma Quase-ameaçada (NT), uma com Dados

Deficientes (DD) e nenhuma Em Perigo (EN).

A lista de espécies ameaçadas estadual (Espírito Santo, 2005) considerou que dez espécies de

anfíbios sofrem ameaça sendo que destas, três podem ser encontradas na região do Delta do Rio

Doce: Cycloramphus fulginosus Tschudi, 1838, como Criticamente Em Perigo (CP) e

Hyalinobatrachium eurygnathum (A. Lutz, 1925) e Hyalinobatrachium uranoscopum (Muller,

1924) como Vulneráveis (VU). Uma análise mais detalhada sobre as espécies de anfíbio ameaçadas

com ocorrência para o Espírito Santo foi realizada por Vieira & Gasparini (2007).

Diferentemente dos anfíbios, não existe ainda um mapa de distribuição potencial para a maioria das

espécies de répteis, tornando não-confiável a estimativa do número de espécies que podem ocorrer

no Delta do Rio Doce.

Dos répteis registrados neste levantamento nenhum se encontra ameaçado. Entretanto, Vieira

Gasparini (2007) citam para a região o lagartinho-de-linhares, Chenmidophorus nativo,

considerado ameaçado de extinção na categoria Vulnerável (VU).

A conservação das áreas de florestas interiores da região do Delta do Rio Doce é importante para as

espécies florestais que são mais sensíveis à influência marinha e águas ácidas das florestas

alagáveis do litoral.

3.3.4 Conclusão

Existe a possibilidade de ocorrer 80 espécies de anfíbios, contando com 63% de espécies

endêmicas da Mata Atlântica. A região ao norte do Rio Doce apresenta remanescentes de florestas

de restingas relevantes, havendo poucas áreas protegidas, o que indica a necessidade de

implementação de novas áreas protegidas para a conservação efetiva da sociobiodiversidade.

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85

3.4 Avifauna

3.4.1 Introdução

O crescente nível de ameaça aos ecossistemas naturais gerou a necessidade de se estabelecer

programas de proteção para a diversidade biológica e uma das principais estratégias nacionais

adotadas tem sido a criação de Unidades de Conservação com base na Lei do Sistema Nacional de

Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), de número 9985 do ano de 2000 (CNRBMA,

2000).

Contudo, as limitações financeiras e o tempo disponível para a tomada de decisões impedem

muitas vezes que a criação de áreas protegidas não contemple a realidade dos biomas ameaçados.

Desta forma, existem importantes regiões de riqueza faunística e endemismos onde não existem

Unidades de Conservação implementadas, bem como áreas de extrema importância biológica com

pouca ou nenhuma forma de proteção. Além disto, permanecem áreas com grandes lacunas de

conhecimento científico, o que dificulta uma avaliação ou indicação da eficiência de proteção

garantida pelas Unidades de Conservação (Figueiredo & Rodrigues, 2006).

Como outras regiões do leste do Brasil, a Mata Atlântica do Estado do Espírito Santo, que outrora

recobria mais de 90% do seu território; sofreu um desordenado e constante processo de devastação,

pois restam não mais do que 11% de sua cobertura vegetal original (Ipema, 2005). Sem dúvida,

esta extrema modificação ambiental provocou profundas alterações em comunidades biológicas

que só recentemente começaram a ser noticiadas, seja a partir do declínio de populações de

espécies e extinções locais (Bauer, 1999; Simon 2001; Willis & Oniki, 2002; Simon & Lima, 2004)

ou a partir do estabelecimento de espécies exóticas que podem ser nocivas à biota autóctone (GISP,

2005; Frigotto & Serafim-Junior, 2007).

A utilização de elementos bioindicadores em análises de impactos ambientais segue a idéia de que

as espécies reagem distintamente à perda de seu habitat em função da ocupação dos nichos

ecológicos, um ajuste que ocorreu e ocorre durante sua história evolutiva (Sick, 1997). Com efeito,

diagnósticos faunísticos em regiões submetidas à intervenção humana podem fornecer subsídios

concretos para minimizar os impactos sobre a biota local (Fausch et al., 1990; Accacio et al.,

2003). Além disto, a preocupação com espécies sensíveis ou espécies guardas-chuva pode

contribuir para a conservação da biodiversidade como um todo (Franklin, 1993).

O acompanhamento da ocorrência de espécies de aves, em particular, pode fornecer dados

confiáveis e indicadores da qualidade sobre os ecossistemas terrestres devido a sua relativa

facilidade de detecção em campo e resposta rápida as alterações do hábitat (Faaborg et al., 1993;

Simon, 2007). Portanto, a análise da composição regional de espécies de aves viabiliza seu uso para

a definição de medidas de conservação, projetos de restauração de áreas degradadas e seleção de

refúgios naturais para a fauna em geral (Verner, 1981; Morrison, 1986; Willis & Oniki, 1992;

Moser et al., 1994; Lawton, 1996; Develey, 2003; Vielliard, 2000; Simon, 2007). Por esta razão, a

avifauna constitui um grupo recomendado para os estudos de Avaliação Ecológica Rápida [Rapid

Ecological Assessment (REA)], cujo interesse prioriza os elementos especiais da fauna compostos

por espécies cinegéticas, especialistas de hábitat, endemismos e táxons ameaçados de extinção

(Sobrevila & Bath, 1992; Oren, 2000).

Em recente avaliação sobre o estado de conservação da Mata Atlântica no Espírito Santo, foram

reconhecidas 30 áreas prioritárias para a criação de Unidades de Conservação, entre as quais a

região do Delta do rio Doce. Embora Linhares seja um dos municípios ornitologicamente mais bem

investigados do Espírito Santo, os estudos voltados ao complexo vegetacional de sua porção

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86

litorânea são escassos, incluindo estudos sobre as áreas com lavouras do cacau Theobroma cacao

L. no baixo Rio Doce.

Assim como outras regiões, o cutivo de cacau do norte do Espírito Santo foi predominantemente

implantado sob o dossel da mata nativa raleada, denominada mata de cabruca (Miranda, 1938;

Vinha & Silva, 1982; Sambuichi, 2006) e o valor das cabrucas para a conservação da

biodiversidade tem sido avaliado por diferentes autores (Faria & Baumgartem, 1998; Greenberg et

al., 2000; Argôlo, 2004; Laps, 2006; Sambuichi, 2006).

O presente estudo objetivou inventariar a composição da avifauna na área prevista para a criação da

Reserva do Desenvolvimento Sustentável da Foz do rio Doce e realizado como área integrante do

projeto Apoio à Criação de Unidades de Conservação no Estado do Espírito Santo: Um Processo

Participativo Integrando as Comunidades Locais, sob a coordenação do Instituto de Pesquisas da

Mata Atlântica (Ipema).

3.4.2 Materiais e métodos

3.4.2.1 Área de estudo

Os trabalhos de campo foram desenvolvidos na área prevista para a criação da Reserva de

Desenvolvimento da Foz do Rio Doce, envolvendo a porção litorânea dos municípios de Aracruz e

Linhares. Com limites terrestres em torno de 9700 hectares, sua área abrange várias tipologias

vegetacionais como a mata de cabruca, restingas, alagados e pastagens, estando sob forte influência

do ambiente marinho ao longo de toda a sua extensão. Na porção central do Delta do Rio Doce

encontram-se as vilas de Regência e Povoação, sendo que sua parte sul faz divisa com a Reserva

Biológica de Comboios.

O inventário da avifauna concentrou-se na margem norte do Rio Doce e arredores de Povoação;

incluindo 20 estações de amostragem que contemplaram diferentes tipologias vegetacionais

(Tabela 18).

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87

Tabela 18. Pontos com ambientes amostrados, respectivas coordenadas geográficas UTM (Datum SA

69) e altitudes

Pontos Localidades/Ambientes Coordenadas geográficas Altitude (m)

1 Boca da Barra, foz do Rio Doce 415347 7829330 4

2 Restinga 415728 7830116 4

3 Praia 416146 7831400 8

4 Sítio dona Maria 416566 7832317 11

5 Fazenda de Santa Julia 416986 7833097 12

6 Praia 417838 7834434 9

7 Campos 417244 7839800 12

8 Campos 416418 7839274 8

9 Fazenda Reunidas Ceará 415680 7838612 9

10 Fazenda Paraíso 415818 7837550 13

11 Ponte rio Monsarás 415956 7837300 5

12 Mata de cabruca 410859 7838228 15

13 Margem do Rio Doce 409429 7838973 12

14 Restinga 418164 7835226 8

15 Mata de cabruca 410937 7838180 15

16 Mata de cabruca sem dossel 414596 7837209 14

17 Ponte de Povoação 415647 7836533 10

18 Vila de Povoação 416927 7834946 15

19 Restinga 416927 7836095 6

20 Lagoa de Monsarás 419059 7837172 5

3.4.2.2 Ambientes amostrados

Cinco tipos principais de ambientes foram delineados de acordo com a conformação atual da

vegetação da região, permitindo a realização do inventário da avifauna local: (1) vegetação

implantada a partir de ação antrópica (VA), incluindo capoeiras, pastagens, monoculturas e áreas

urbanizadas (Figura 90); (2) ambientes dulcícolas (AD), representados por brejos, lagoas e o curso

do Rio Doce (Figura 91); (3) matas de aluvião (MA), representadas por fragmentos de Floresta

Ombrófila Densa Aluvial (Veloso et al., 1991) (Figura 92); (4) mata de cabruca (MC), formação

florestal constituída pelo plantio de cacau sob a mata nativa de aluvião raleada (Figura 93) e (5)

restinga (RE);

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88

Figura 90. Tipo de ambiente amostrado pela equipe de avifauna: vegetação implantada a partir de ação

antrópica.

Figura 91. Tipo de ambiente amostrado pela equipe de avifauna: ambientes dulcícolas, Rio Doce.

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89

Figura 92. Tipo de ambiente amostrado pela equipe de avifauna: mata de aluvião.

Figura 93. Tipo de ambiente amostrado pela equipe de avifauna: mata de cabruca.

3.4.2.3 Esforço amostral

Os trabalhos de campo foram desenvolvidos entre os dias 30 de novembro de 2008 e 3 de

dezembro de 2008, empregando-se as primeiras e últimas horas do dia, respectivamente entre 6:00

e 10:00 horas e 15:00 e 19:00 horas, totalizando cerca de 30 horas de esforço amostral para o

levantamento das espécies na área de estudo, consistindo em um estudo de curta duração,

conduzido sob aos métodos da Avaliação Ecológica Rápida [Rapid Ecological Assessment (REA)]

(Sobrevila & Bath, 1992; Oren, 2000).

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90

Em função de sua maior complexidade vegetacional, as cabrucas foram submetidas a um maior

tempo de amostragem, com aproximadamente 60% das horas trabalhadas, a partir de trilhas pré-

existentes em seu interior.

3.4.2.4 Inventário da avifauna

O inventário da avifauna foi conduzido pelo método de MacKinnon, que adota a lista das 20

espécies como unidade de esforço amostral durante os levantamentos de campo (MacKinnon &

Phillips, 1993). A partir destas listas (N = 15), foi possível obter a “curva do coletor”, que mostra

a descoberta de novas espécies conforme evoluem as amostragens via listas numéricas na área de

estudo, sendo muito úteis para a estimativa de riqueza faunística e comparações entre regiões,

habitats e épocas distintas (Santos, 2003).

O levantamento de campo para a obtenção das listas das 20 espécies apoiou-se em registros visuais

(Figura 94) e auditivos (Figura 95), bem como no uso da técnica de play-back (Figura 96),

consisitindo em gravar e reproduzir a vocalização de determinada espécie a partir de sua atração

para o observador identificá-la visualmente (Johnson et al., 1981; Parker III, 1991). Embora o

método auditivo seja o mais eficiente em áreas florestais (Sick, 1997), a combinação dos três

métodos supracitados é recomendável para maximizar a amostragem de avifaunas regionais,

considerando a variação da chance de detecção das espécies (Simon et al., 2007).

Entrevistas com moradores rurais (Figura 97) foram realizadas para a obtenção de dados adicionais

sobre a avifauna local, incluindo registros históricos e pressão de caça, visando subsidiar as

discussões na oficina realizada pelo projeto em questão.

Problemas de determinação taxonômica em campo foram resolvidos com base em referências

especializadas (Meyer de Schauensee, 1982; Ridgely & Tudor, 1989, 1994; Sick, 1997) e consultas

ao material da coleção científica do Museu de Biologia Professor Mello Leitão (MBML), Santa

Teresa, Espírito Santo (Figura 98). Os principais equipamentos utilizados no trabalho de

identificação das espécies foram: binóculo Olympus 7 x 35 mm, Telescópio Nikon ED =

60x/ocular 20-45x, gravador Sony TCM 5000-EV, microfone cardióide Sennheiser ME-66 e

parábola acústica.

Figura 94. Método de levantamento visual da avifauna. Foto: Juliana Peres.

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91

Figura 95. Método de levantamento auditivo da avifauna. Foto: Juliana Peres.

Figura 96. Método de levantamento da avifauna com auxílio da técnica de playback. Foto: Juliana

Peres.

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92

Figura 97. Entrevista com moradores rurais como fonte adicional de informações sobre a avifauna

local. Foto: Juliana Peres.

Figura 98. Consulta à coleção zoológica do Museu de Biologia Professor Mello Leitão (MBML), Santa

Teresa, Espírito Santo, para a identificação da avifauna observada em campo Foto: Juliana Peres.

3.4.2.5 Nomenclatura científica

A seqüência sistemática e a nomenclatura científico-popular seguem a Lista Primária das Aves do

Brasil, organizada pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO, 2007). As aves

endêmicas de Mata Atlântica e aquelas dependentes do ambiente florestal foram citadas segundo

Parker III et al. (1996), considerando as atualizações taxonômicas dos últimos anos (CBRO, 2007).

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93

A menção ao status de conservação das espécies seguiu o Livro Vermelho da Fauna Brasileira

ameaçada de Extinção (MMA, 2008, fundamentado na Instrução Normativa 3 de 27 de maio de

2003) e a lista das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Estado o Espírito Santo (Simon et

al., 2007), de acordo com as seguintes categorias de ameaça: Criticamente Em Perigo (CP ou CR);

Em Perigo (EP ou EN); Vulnerável (VU) e Regionalmente Extinta (RE).

As seis guildas tróficas adotadas para este estudo, compostas por carnívoros, frugívoros,

insetívoros, granívoros, onívoros e nectarívoros; incluiu apenas espécies florestais, dada à

importância deste grupo para a caracterização dos impactos ambientais sobre a biota de uma região.

A inclusão das espécies em cada uma dessas guildas apoiou-se na sua dieta preferencial

mencionada em referências conforme Moojen et al. (1941), Schubart et al. (1965), Willis (1979),

Sick (1997) e Simon (2006).

3.4.3 Resultados

3.4.3.1 Composição da avifauna local

Um total de 190 espécies de aves, distribuídas em 55 Famílias, foram registradas na área de estudo

(Tabela 19). As Famílias com a maior riqueza de espécies entre as aves não-passeriformes, com

103 espécies foi Ardeidae e Psittacidae, ambas representadas por oito espécies. Entre as aves

Passeriformes, a Família Tyrannidae, com 22 espécies, apresentou a maior riqueza específica,

seguida por Emberezidae, com 11 espécies.

Tabela 19. Lista de espécies de aves registradas a partir do trabalho de campo desenvolvido na área

proposta para a criação da Reserva Biológica da Foz do Rio Doce (F e En = espécies dependentes do

ambiente florestal e endêmicas do bioma Mata Atlântica, CP = Criticamente Em Perigo, EP = Em

Perigo, VU = Vulnerável e RE = Regionalmente Extinta; Registro: a = auditivo, v = visual, r = captura

em rede de neblina e c = coleta de espécime; Ambiente: VA = vegetação de origem antrópica, AD =

ambientes dulcícolas, MA = matas de aluvião, MC = mata de cabruca e RE = restinga e Guilda

Trófica: CA = carnívoros, FR = frugívoros, IN = insetívoros, GR = granívoros, ON = onívoros e NE =

nectarívoros)

Nome científico Nome popular Registro Ambiente Guilda

Trófica

Aves Passeriformes (N=103 spp.)

Tinamidae

Crypturellus soui (Hermann, 1783) F Tururim a v MC MA GR

Crypturellus variegatus (Gmelin, 1789) F, EP Inhambu-

anhangá a MA GR

Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) Inhambu-

chororó a VA -

Rhynchotus rufescens (Temminck, 1815) Perdiz a VA -

Anatidae

Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) Irerê a v AD -

Dendrocygna autumnalis (Linnaeus, 1758) Asa-branca v AD -

Amazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789) Pé-vermelho a v AD -

Cracidae

Ortalis guttata (Spix, 1825) F Aracuã a v MC MA RE ON

Penelope superciliaris Temminck, 1815 F Jacupemba a v MC MA RE FR

Podicipedidae

Tachybaptus dominicus (Linnaeus, 1766) Mergulhão v AD -

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Nome científico Nome popular Registro Ambiente Guilda

Trófica

Aves Passeriformes (N=103 spp.)

Podicipedidae

Podilymbus podiceps (Linnaeus, 1758) Mergulhão-

caçador v AD -

Ardeidae

Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783) Socó-boi a v AD -

Nycticorax nycticorax (Linnaeus, 1758) Savacu a v AD MC -

Butorides striata (Linnaeus, 1758) Socozinho a v AD -

Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) Garça-vaqueira v AD VA -

Ardeidae

Ardea cocoi Linnaeus, 1766 Garça-moura v AD -

Ardea alba Linnaeus, 1758 Garça-branca-

grande v AD -

Egretta thula (Molina, 1782) Garça-branca-

pequena v AD -

Egretta caerulea (Linnaeus, 1758) Garça-azul v AD -

Threskiornithidae

Platalea ajaja Linnaeus, 1758 Colhereiro v AD -

Ciconiidae

Ciconia maguari (Gmelin, 1789) CP Maguari v AD -

Cathartidae

Cathartes aura (Linnaeus, 1758)

Urubu-de-

cabeça-

vermelha

v AD MC VA -

Cathartes burrovianus Cassin, 1845 Urubu-de-

cabeça-amarela v AD VA -

Coragyps atratus (Bechstein, 1793) Urubu-de-

cabeça-preta v MC VA -

Pandionidae

Pandion haliaetus (Linnaeus, 1758) Águia-

pescadora v AD -

Accipitridae

Elanoides forficatus (Linnaeus, 1758) F Gavião-tesoura v MC MA IN

Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817) Gavião-

caramujeiro v AD -

Ictinia plumbea (Gmelin, 1788) F Sovi a v MC MA IN

Heterospizias meridionalis (Latham, 1790) Gavião-caboclo v VA -

Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) Gavião-carijó a v MC MA -

Buteo albicaudatus Vieillot, 1816 Gavião-de-

rabo-branco v VA -

Falconidae

Caracara plancus (Miller, 1777) Caracará a v MC VA -

Milvago chimachima (Vieillot, 1816) Carrapateiro a v MC MA

VA -

Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758) F Acauã a MA CA

Falco sparverius Linnaeus, 1758 Quiriquiri a v VA -

Falco rufigularis Daudin, 1800 F Cauré v MC MA CA

Falco femoralis Temminck, 1822 Falcão-de-

coleira v MC VA -

Aramidae

Aramus guarauna (Linnaeus, 1766) Carão v AD -

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95

Nome científico Nome popular Registro Ambiente Guilda

Trófica

Aves Passeriformes (N=103 spp.)

Rallidae

Aramides cajanea (Statius Muller, 1776) Saracura-três-

potes a MC MA -

Laterallus melanophaius (Vieillot, 1819) Sanã-parda a AD -

Porzana albicollis (Vieillot, 1819) Sanã-carijó a v AD -

Pardirallus nigricans (Vieillot, 1819) Saracura-sanã a AD -

Gallinula melanops (Vieillot, 1819) Frango-d'água-

carijó v AD -

Charadriidae

Vanellus chilensis (Molina, 1782) Quero-quero a v VA -

Recurvirostridae

Himantopus melanurus Vieillot, 1817 Pernilongo-de-

costas-brancas v AD -

Scolopacidae

Actitis macularius (Linnaeus, 1766) Maçarico-

pintado v AD -

Tringa solitaria Wilson, 1813 Maçarico-

solitário a v AD -

Jacanidae

Jacana jacana (Linnaeus, 1766) Jaçanã a v AD -

Sternidae

Phaetusa simplex (Gmelin, 1789) Trinta-réis-

grande v AD -

Rynchopidae

Rynchops niger Linnaeus, 1758 Talha-mar v AD -

Columbidae

Columbina talpacoti (Temminck, 1811) Rolinha-roxa v MC RE VA -

Columbina squammata (Lesson, 1831) Fogo-apagou a v MC VA -

Columbina picui (Temminck, 1813) Rolinha-picui v RE VA -

Columba livia Gmelin, 1789 Pombo-

doméstico v VA -

Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) Pombão a v MC RE VA -

Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792) F Pomba-galega v VA GR

Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 F Juriti-pupu a v MC MA RE GR

Psittacidae

Aratinga leucophthalma (Statius Muller, 1776) F Periquitão-

maracanã a v MC MA GR

Aratinga aurea (Gmelin, 1788) Periquito-rei a v MC VA -

Pyrrhura cruentata (Wied, 1820) F, En, (VU) EP Tiriba-grande a v MC MA FR

Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) Tuim a v MC VA FR

Brotogeris tirica (Gmelin, 1788) F, En Periquito-rico a v MC VA FR

Pionus maximiliani (Kuhl, 1820) F Maitaca-verde a v MC MA FR

Amazona rhodocorytha (Salvadori, 1890) F, En, (EP) Chauá a v MC MA

VA FR

Amazona amazonica (Linnaeus, 1766) Curica a v MC MA -

Cuculidae

Piaya cayana (Linnaeus, 1766) F Alma-de-gato a v MC MA IN

Crotophaga major Gmelin, 1788 F Anu-coroca a v MC RE IN

Crotophaga ani Linnaeus, 1758 Anu-preto a v MC RE VA -

Guira guira (Gmelin, 1788) Anu-branco a v MC RE VA -

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96

Nome científico Nome popular Registro Ambiente Guilda

Trófica

Aves Passeriformes (N=103 spp.)

Cuculidae

Tapera naevia (Linnaeus, 1766) Saci a VA -

Tytonidae

Tyto alba (Scopoli, 1769) Coruja-da-

igreja a v MC VA -

Strigidae

Megascops choliba (Vieillot, 1817) F Corujinha-do-

mato a v MC VA IN

Pulsatrix cf. perspicillata (Latham, 1790) F Murucututu a MC CA

Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) Caburé a v MC MA -

Athene cunicularia (Molina, 1782) Coruja-

buraqueira a v VA -

Rhinoptynx clamator (Vieillot, 1808) Coruja-

orelhuda v MC -

Nyctibiidae

Nyctibius grandis (Gmelin, 1789) F, VU Mãe-da-lua-

gigante a v MC MA IN

Nyctibius aethereus (Wied, 1820) F, VU Mãe-da-lua-

parda v MC MA IN

Nyctibius griseus (Gmelin, 1789) F Mãe-da-lua a v MC MA IN

Caprimulgidae

Lurocalis semitorquatus (Gmelin, 1789) F Tuju a v MC MA IN

Nyctidromus albicollis (Gmelin, 1789) F Bacurau a v MC MA RE IN

Apodidae

Chaetura cf. cinereiventris Sclater, 1862 F Andorinhão-de-

sobre-cinzento a v MC MA IN

Trochilidae

Glaucis hirsutus (Gmelin, 1788) F Balança-rabo-

de-bico-torto a v MC MA NE

Phaethornis idaliae (Bourcier & Mulsant, 1856) F, En Rabo-branco-

mirim a v MC MA RE NE

Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) Beija-flor-

tesoura v MC RE VA -

Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812) Besourinho-de-

bico-vemelho v RE VA -

Thalurania glaucopis (Gmelin, 1788) F, En Beija-flor-de-

fronte-violeta a v MC MA NE

Polytmus guainumbi (Pallas, 1764) Beija-flor-de-

bico-curvo v RE -

Amazilia fimbriata (Gmelin, 1788) F Beija-flor-de-

garganta-verde a v MC RE NE

Trogonidae

Trogon viridis Linnaeus, 1766 F

Surucuá-

grande-de-

barriga-amarela

a v MA ON

Alcedinidae

Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766)

Martim-

pescador-

grande

a v AD -

Chloroceryle amazona (Latham, 1790) Martim-

pescador-verde a v AD -

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97

Nome científico Nome popular Método de

Registro Ambiente

Guilda

Trófica

Aves Passeriformes (N=103 spp.)

Alcedinidae

Chloroceryle americana (Gmelin, 1788)

Martim-

pescador-

pequeno

v AD -

Bucconidae

Malacoptila striata (Spix, 1824) F, En Barbudo-rajado v MA IN

Ramphastidae

Ramphastos vitellinus Lichtenstein, 1823 F Tucano-de-

bico-preto a v MC MA FR

Selenidera maculirostris (Lichtenstein, 1823) F Araçari-poca a v MC MA FR

Pteroglossus aracari (Linnaeus, 1758) F Araçari-de-

bico-branco a v MC MA FR

Picidae

Picumnus cirratus Temminck, 1825 F Pica-pau-anão-

barrado a v

MC MA RE

VA IN

Melanerpes candidus (Otto, 1796) Birro, pica-pau-

branco a v VA -

Veniliornis affinis (Swainson, 1821) F Picapauzinho-

avermelhado v MA IN

Colaptes campestris (Vieillot, 1818) Pica-pau-do-

campo a v MC RE VA -

Celeus flavescens (Gmelin, 1788) F Pica-pau-de-

cabeça-amarela a v MC MA IN

Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766) F Pica-pau-de-

banda-branca a v MC MA IN

Aves Passeriformes (N=87 spp.)

Thamnophilidae

Taraba major (Vieillot, 1816) Choró-boi a v RE VA -

Thamnophilus palliatus (Lichtenstein, 1823) Choca-listrada a v VA -

Thamnophilus ambiguus Swainson, 1825 F, En Choca-de-

sooretama a v MA IN

Myrmotherula axillaris (Vieillot, 1817) F Choquinha-de-

flanco-branco a v MA IN

Formicivora rufa (Wied, 1831) Papa-formiga-

vermelho a r v RE -

Dendrocolaptidae

Dendrocincla turdina(Lichtenstein, 1820) F, En Arapaçu-liso a v MA IN

Furnariidae

Furnarius figulus (Lichtenstein, 1823) Casaca-de-

couro-da-lama a v AD VA -

Furnarius rufus (Gmelin, 1788) João-de-barro a v AD VA -

Furnariidae

Certhiaxis cinnamomeus (Gmelin, 1788) Curutié a v AD -

Xenops rutilans Temminck, 1821 F Bico-virado-

carijó a v MA IN

Tyrannidae

Todirostrum poliocephalum (Wied, 1831) F, En Teque-teque a v MC MA

VA IN

Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766) F Ferreirinho-

relógio a v MC VA IN

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98

Nome científico Nome popular Registro Ambiente Guilda

Trófica

Aves Passeriformes (N=87 spp.)

Phyllomyias fasciatus (Thunberg, 1822) F Piolhinho a v MC MA IN

Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) Guaracava-de-

barriga-amarela a v MC RE VA -

Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824) Risadinha a v MC MA RE

VA -

Pseudocolopteryx sclateri (Oustalet, 1892) Tricolino v AD -

Euscarthmus meloryphus Wied, 1831 Barulhento a v RE -

Myiornis auricularis (Vieillot, 1818) F, En Miudinho a v MC MA IN

Tolmomyias sulphurescens (Spix, 1825) F Bico-chato-de-

orelha-preta a v MA IN

Tolmomyias flaviventris (Wied, 1831) F Bico-chato-

amarelo a v MC MA IN

Myiophobus fasciatus (Statius Muller, 1776) Filipe a v VA -

Hirundinea ferruginea (Gmelin, 1788) Gibão-de-couro a v MA -

Cnemotriccus fuscatus (Wied, 1831) F Guaracavuçu a v MA IN

Fluvicola nengeta (Linnaeus, 1766) Lavadeira-

mascarada a v AD MC VA -

Arundinicola leucocephala (Linnaeus, 1764) Freirinha v AD -

Machetornis rixosa (Vieillot, 1819) Suiriri-

cavaleiro v VA -

Myiozetetes similis (Spix, 1825)

Bentevizinho-

de-penacho-

vermelho

a v AD VA -

Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) Bem-te-vi a v MC MA RE

VA -

Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) F Neinei a v MC MA IN

Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 Suiriri a v MC MA RE

VA -

Tyrannus savana Vieillot, 1808 Tesourinha v VA -

Myiarchus ferox (Gmelin, 1789) F Maria-cavaleira a v MC MA

VA IN

Pipridae

Manacus manacus (Linnaeus, 1766) F Rendeira a v MA FR

Tityridae

Schiffornis turdina (Wied, 1831) F, VU Flautim-

marrom a v MA IN

Tityridae

Pachyramphus polychopterus (Vieillot, 1818) F Caneleiro-preto a v MC MA IN

Vireonidae

Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766) F Juruviara a v MC MA ON

Hirundinidae

Tachycineta albiventer (Boddaert, 1783) Andorinha-do-

rio v AD -

Tachycineta leucorrhoa (Vieillot, 1817) Andorinha-de-

sobre-branco v AD -

Progne tapera (Vieillot, 1817) Andorinha-do-

campo a v MC VA -

Progne chalybea (Gmelin, 1789)

Andorinha-

doméstica-

grande

a v VA -

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Nome científico Nome popular Registro Ambiente Guilda

Trófica

Aves Passeriformes (N=87 spp.)

Hirundinidae

Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) Andorinha-

serradora a v AD VA -

Hirundo rustica Linnaeus, 1758 Andorinha-de-

bando v AD -

Troglodytidae

Troglodytes musculus Naumann, 1823 Corruíra a v MC MA

VA -

Pheugopedius genibarbis (Swainson, 1838) F Garrinchão-pai-

avô a v MA -

Donacobiidae

Donacobius atricapilla (Linnaeus, 1766) Japacanim a v AD -

Turdidae

Turdus amaurochalinus Cabanis, 1850 F Sabiá-poca a v MC RE VA ON

Turdus albicollis Vieillot, 1818 F Sabiá-coleira a v MA ON

Mimidae

Mimus gilvus (Vieillot, 1807) EP Sabiá-da-praia a v RE -

Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) Sabiá-do-

campo a v MC RE VA -

Motacillidae

Anthus lutescens Pucheran, 1855 Caminheiro-

zumbidor a v VA -

Coerebidae

Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) Cambacica a v MC MA RE

VA -

Thraupidae

Schistochlamys melanopis (Latham, 1790) Sanhaçu-de-

coleira a v AD -

Nemosia pileata (Boddaert, 1783) F Saíra-de-

chapéu-preto a v

MC MA RE

VA ON

Tachyphonus cristatus (Linnaeus, 1766) F Tiê-galo v MC MA ON

Ramphocelus bresilius (Linnaeus, 1766) F, En Tiê-sangue a v AD RE ON

Thraupidae

Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766) Sanhaçu-

cinzento a v

MC MA RE

VA -

Thraupis palmarum (Wied, 1823) F Sanhaçu-do-

coqueiro a v MC VA ON

Tangara cayana (Linnaeus, 1766) Saíra-amarela a v MC RE VA -

Dacnis cayana (Linnaeus, 1766) F Saí-azul a v MC RE VA ON

Cyanerpes cyaneus (Linnaeus, 1766) F Saíra-beija-flor v MC RE VA ON

Conirostrum speciosum (Temminck, 1824) F Figuinha-de-

rabo-castanho a v MC MA ON

Emberizidae

Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776) Tico-tico v VA -

Ammodramus humeralis (Bosc, 1792) Tico-tico-do-

campo a v VA -

Sicalis luteola (Sparrman, 1789) Tipio a v VA -

Emberizoides herbicola (Vieillot, 1817) Canário-do-

campo a v VA -

Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) Tiziu a v VA -

Sporophila collaris (Boddaert, 1783) Coleiro-do-

brejo v AD -

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100

Nome científico Nome popular Registro Ambiente Guilda

Trófica

Aves Passeriformes (N=87 spp.)

Emberizidae

Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823) Baiano v VA -

Sporophila caerulescens (Vieillot, 1823) Coleirinho a v VA -

Sporophila leucoptera (Vieillot, 1817) Chorão a v AD -

Sporophila bouvreuil (Statius Muller, 1776) Caboclinho a v AD -

Coryphospingus pileatus (Wied, 1821) Tico-tico-rei-

cinza a v VA -

Cardinalidae

Saltator maximus (Statius Muller, 1776) F Tempera-viola a v MC MA ON

Parulidae

Parula pitiayumi (Vieillot, 1817) F Mariquita a v MC IN

Geothlypis aequinoctialis (Gmelin, 1789) Pia-cobra a r v AD -

Basileuterus culicivorus (Deppe, 1830) F Pula-pula a v MA IN

Icteridae

Cacicus haemorrhous (Linnaeus, 1766) F Guaxe a v MC MA ON

Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) Graúna a v VA -

Agelasticus cyanopus (Vieillot, 1819) Carretão v AD -

Chrysomus ruficapillus (Vieillot, 1819) Garibaldi a v AD -

Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789) Vira-bosta a v VA -

Sturnella superciliaris (Bonaparte, 1850) Polícia-inglesa-

do-sul a v VA -

Fringillidae

Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) F Fim-fim a v MC VA ON

Euphonia violacea (Linnaeus, 1758) F Gaturamo-

verdadeiro a v MC MA ON

Estrildidae

Estrilda astrild (Linnaeus, 1758) Bico-de-lacre a v VA -

Passeridae

Passer domesticus (Linnaeus, 1758) Pardal a v VA -

Total de espécies: 190

Total de espécies florestais: 60

Total de espécies endêmicas da Mata Altântica: 11

Total de espécies ameaçadas: 8

Entre as espécies registradas, oito estão ameaçadas de extinção, seja em nível regional, contando

com sete espécies; ou nacional, contando com duas espécies: Crypturellus variegatus (inhambu-

anhangá), Ciconia maguari (maguari, Figura 99), Pyrrhura cruentata (tiriba-grande, Figura 100),

Amazona rhodocorytha (chauá), Nyctibius grandis (mãe-da-lua-gigante), Nyctibius aethereus (mãe-

da-lua-parda, Figura 101), Schiffornis turdina (flautim-marrom) e Mimus gilvus (sabiá-da-praia,

Figura 102).

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101

Figura 99. Ciconia maguari (maguari), espécie regionalmente ameaçada de extinção. Trata-se de uma

ave aquática de grande porte registrada em vôo sobre as áreas alagadas ao norte da área de estudo.

Foto: José Eduardo Simon.

Figura 100. Pyrrhura cruentata (tiriba-grande), espécie ameaçada de extinção, em nível regional e

nacional. Trata-se de uma ave frugívora registrada nas cabrucas e em alguns fragmentos de matas

nativas, se agrupando em bandos de quatro a seis indivíduos. Foto: F. M. Flores.

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102

Figura 101. Nyctibius aethereus (mãe-da-lua-parda), espécie regionalmente ameaçada de extinção.

Trata-se de uma ave insetívora de médio porte, com notável plumagem de coloração críptica. Espécie

registrada nas matas de cabruca e fragmentos de matas nativas da margem norte do Rio Doce. Foto:

José Eduardo Simon.

Figura 102. Mimus gilvus (sabiá-da-praia), espécie regionalmente ameaçada de extinção. Trata-se de

uma ave restrita as restingas, com populações sujeitas ao desaparecimento em várias localidades do

Espírito Santo em função da pressão de caça e especulação imobiliária. Foto: José Eduardo Simon.

Outro resultado peculiar do inventário foi à constatação de que 60 espécies (31%) são dependentes

do ambiente florestal e de que 11 (6%) correspondem a endemismos do bioma Mata Atlântica, a

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103

exemplo de Thalurania glaucopis (beija-flor-de-fronte-violeta, Figura 103), Malacoptila striata

(barbudo-rajado, Figura 104), Thamnophilus ambiguus (choca-de-sooretama, Figura 105) e

Ramphocelus bresilius (tiê-sangue, Figura 106).

Figura 103. Thalurania glaucopis (beija-flor-de-fronte-violeta), espécie nectarívora associada ao sub-

bosque de matas nativas, onde atua como importante agente polinizador de várias plantas nativas.

Espécie endêmica da Mata Atlântica. Foto: José Eduardo Simon.

Figura 104. Malacoptila striata (barbudo-rajado), espécie associada ao sub-bosque de matas nativas,

pertencente à guilda das aves insetívoras. Espécie endêmica da Mata Atlântica. Foto: José Eduardo

Simon.

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104

Figura 105. Thamnophilus ambiguus (choca-de-sooretama), espécie associada ao sub-bosque de matas

nativas, pertencente à guilda das aves insetívoras. Espécie endêmica da Mata Atlântica. Foto: José

Eduardo Simon.

3.4.3.2 Riqueza de espécies na área de estudo

A maior parte da avifauna inventariada (76%), correspondendo a 145 espécies, foi registrada pelas

onze primeiras listas do método de MacKinonn, o que correspondeu a mais da metade do esforço

amostral empregado em campo, constituído por 15 listas. Contudo, a curva do coletor obtida por

este método não alcançou a sua assíntota, indicando que o incremento nas amostragens de campo

pode adicionar a ocorrência de novas espécies para a área de estudo (Figura 106).

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

0 2 4 6 8 10 12 14 16

Amostragens

de e

sp

écie

s

Figura 106. Curva do coletor obtida pelo método de MacKinnon para o levantamento da avifauna na

área prevista para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce,

Linhares, Espírito Santo.

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105

3.4.3.3 Riqueza de espécies nos ambientes amostrados

Os ambientes amostrados indicam riquezas faunísticas diferenciadas, notando-se que cerca da

metade das espécies, o equivalente a 88 espécies (46%) esteve associado a um tipo particular de

ambiente (Figura 107).

Figura 107. Riqueza exclusiva de aves nos cinco ambientes diferentes amostrados na área prevista para

a criação da Reserva de Desenvolvimento da Foz do Rio Roce, Linhares, Espírito Santo: VA =

vegetação antrópica; AD = ambientes dulcícolas; RE = restinga; MA = mata de aluvião e MC = mata

de cabruca.

Dos cinco tipos de ambientes amostrados, os alagados apresentaram a maior riqueza específica,

representada por 43 espécies exclusivamente associadas (Tabela 19, Figura 107). Em seguida,

destacaram-se as matas de aluvião, com 17 espécies restritas. A menor riqueza foi encontrada nas

matas de cabruca, contando com apenas três espécies. Entre as espécies registradas nas áreas

antropizadas, 21 foram exclusivas destes ambientes, sendo que apenas três espécies estiveram

associadas à restinga. Várias espécies apresetaram distribuição em dois ou até três tipos de

ambientes distintos, indicando fraca especificidade por determinado tipo de hábitat.

3.4.3.4 Riqueza das guildas tróficas nos fragmentos florestais

A repartição das espécies em guildas tróficas (N=70) mostrou que as aves insetívoras, constituídas

por 33 espécies, predominam nos ambientes florestais da região, como as matas de cabruca e de

aluvião; embora as onívoras, compostas por 15 espécies, também demonstrem participação comum

na estrutura da comunidade da avifauna amostrada (Figura 108). A riqueza nas demais guildas

variou de três espécies carnívoras a 10 espécies frugívoras.

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106

0 5 10 15 20 25 30 35

IN

ON

FR

GR

NE

CA

Gu

ild

as

Número de espécies

Figura 108. Participação das seis guildas tróficas na estrutura da comunidade de aves florestais na

área prevista para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce,

Linhares, Espírito Santo: CA= carnívoros; FR = frugívoros; GR = granívoros; IN = insetívoros; NE =

nectarívoros e ON = onívoros.

3.4.4 Discussão

O conjunto das 190 espécies registradas na área de estudo corresponde a 29% da avifauna

conhecida para todo o Estado do Espírito Santo (Simon, 2009). Contudo, tal riqueza não deve ser

assumida como parâmetro real, por duas principais razões: primeiro, em função do curto período

das amostragens de campo, o que impossibilita a avaliação precisa da diversidade biológica em

análise, além de dificultar a detecção de espécies raras (Santos, 2003) e segundo, em função da

necessidade de inclusão de novos pontos de amostragem para cobrir a complexidade vegetacional

da região. De fato, a curva do coletor, obtida pelo método de MacKinnon, indicou que o

incremento nas amostragens de campo pode revelar novas ocorrências de outras espécies de aves

para a localidade estudada.

O inventário biológico realizado acusou a ocorrência de aves ameaçadas de extinção, endemismos

da Mata Atlântica e que pelo menos 30% das espécies ali registradas são dependentes do ambiente

florestal. O ambiente florestal regional é constituído basicamente pelas matas de cabruca,

destacando-se como um dos principais remanescentes de florestas nativas no Estado do Espírito

Santo (Fundação SOS Mata Atlântica & INPE, 1993). Contudo, notou-se que as cabrucas possuem

pouca efetividade na conservação de um importante segmento da avifauna florestal, em função de

sua estrutura vegetacional simplificada, o resultado de um processo de eliminação do sub-bosque

nativo e da ausência de muitas espécies arbóreas (Miranda, 1938; Vinha & Silva, 1982; Sambuichi,

2006). Detalhes sobre a perda da diversidade nas cabrucas foram obtidos por Laps (2006) no sul da

Bahia, chamando a atenção para a falta de aves terrícolas e do sub-bosque nesse tipo de sistema.

Contudo, vale ressaltar que pesquisadores de outros grupos de vertebrados, como répteis e

morcegos, verificaram a contribuição das cabrucas para a conservação da biodiversidade da Mata

Atlântica, como Argôlo (2004) e Faria & Baumgartem (1998).

As áreas úmidas, como alagados, brejos e estuários estão entre os ambientes que merecem atenção

especial no plano de zoneamento da área proposta para a Reserva de Desenvolvimento Sustentável

da Foz do Rio Doce, pois abrigam rica diversidade de aves aquáticas (Novaes & Simon, 2002,

2003), representadas por espécies residentes, migratórias, ribeirinhas, limícolas e marinhas, como

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107

mergulhões, socós, garças, maçaricos, trinta-réis e marrecas, entre as quais estão aves

emblemáticas como o maguari e o colhereiro. Em função do regime de chuvas, o que determina

primordialmente a oferta de águas nos ambientes alagados e extensos da região; muitas aves

aquáticas apresentam uma distribuição sazonal fixa e consolidada, consequentente uma série de

populações de aves dependem fortemente da capacidade suporte e do grau de conservação destes

ambientes.

Neste contexto, os canais de drenagem do Departamento Nacional de Obras e Saneamento

(DNOS), implantados na década de 60, devem ter provocado distúrbios marcantes nos processos

ecológicos das planícies inundáveis ao norte do Rio Doce e cujos impactos sobre a biota local

nunca foram investigados. Além de constituírem-se em ecossistemas fragilizados, são normalmente

negligenciados em programas de conservação ambiental, evidenciando a importância de sua

inclusão nas ações de conservação voltadas para a região do Delta do Rio Doce.

3.4.5 Conclusões

A composição diversificada da avifauna local, decorrente da complexidade ambiental que se

distribui pela região do Delta do Rio Doce, reforça a necessidade de implementação da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável proposta ao Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade (ICMBio) para a conservação da biodiversidade de ambientes litorâneos do Espírito

Santo.

Não há dúvida de que as cabrucas representam um importante componente ambiental na região do

Delta do Rio Doce. Contudo, ainda que visualmente exuberantes, possuem estrutura vegetacional

simplificada em relação à ocorrência de aves, estando destituídas de muitas aves típicas das matas

de terras baixas do norte espírito-santense.

A implementação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável deve indicar práticas adequadas

para o manejo das cabrucas, que poderão atuar como importante refúgio da fauna silvestre.

Apesar das alterações ambientais resultantes da desordenada ocupação e uso do solo, a região do

Delta do Rio Doce ainda detém uma diversidade biológica excepcional e diferenciada,

constituindo-se em um local estratégico imprescindível para a conservação de aves no Estado do

Espírito Santo.

3.5 Mastofauna não-voadora

3.5.1 Introdução

O grupo dos mamíferos de pequeno porte não-voadores, como os marsupiais e roedores da família

Cricetidae e Echimyidae, exerce influência fundamental para a dinâmica das florestas, seja através

da predação do banco de sementes e de plântulas ou pela dispersão de sementes. Além disto, são

indicadores eficientes para alterações locais do habitat e alterações na paisagem (Pardini &

Umetsu, 2006). Vale ressaltar que formam o grupo ecológico mais diversificado de mamíferos das

Florestas Neotropicais, com mais de 190 espécies atualmente reconhecidas para o Brasil (Fonseca

et al., 1996). Entretanto, ainda existem muitas espécies novas a serem descobertas e catalogadas.

No intervalo de sete anos entre a publicação da primeira e segunda edição de um guia de campo de

mamíferos de florestas neotropicais (Emmons & Feer, 1997), o número de espécies reconhecidas

aumentou em 10%. Grande parte deste aumento é consequência de rearranjos taxonômicos

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108

resultantes de revisões sistemáticas, muitas vezes com a elevação de subespécies a espécies,

retomando visões taxonômicas utilizadas no passado (Emmons et al., 2002).

Os mamíferos de maior porte desempenham uma função importante na manutenção da diversidade

e na preservação dos sistemas biológicos (Terborgh, 1988, 1992; Dirzo & Miranda, 1990; Janson &

Emmons, 1990). Contudo, ainda existe uma carência de informações sobre a distribuição das

espécies e levantamentos da fauna deste porte em remanescentes florestais. O conhecimento de

características, funções ambientais e hábitos destas espécies têm colocado em evidência a sua

importância em uma série de processos nos ecossistemas florestais.

Os mamíferos fornecem um excelente indicativo quanto ao estado de conservação dos ambientes

nos quais estão presentes, podendo funcionar como parâmetro para a elaboração de diagnósticos

ambientais. Além disto, o grupo é de importância prioritária na elaboração de listas de espécies

onde constitui uma ferramenta básica para gerar conhecimento, planejar o manejo da vida silvestre

e prover a conservação dos recursos naturais.

3.5.2 Caracterização da área de estudo

As atividades para amostragem das espécies de mamíferos não-voadores presentes na área do Delta

do Rio Doce, abrangendo os distritos de Regência e Povoação, Estado do Espírito Santo, foram

realizadas a partir de uma campanha de campo conduzida no período de 7 a 14 de novembro de

2008. As atividades em campo compreenderam amostragens intensivas das espécies de mamíferos

de pequeno porte não-voadores, incluindo os marsupiais da Família Didelphidae e roedores das

Famílias Cricetidae e Echimyidae; e mamíferos de médio e grande porte.

3.5.2.1 O distrito de Regência

O distrito de Regência está localizado à aproximadamente 42 km do centro do município de

Linhares. O Rio Doce, que corta Linhares do oeste ao litoral, desemboca no povoado de Regência.

Neste distrito, encontram-se ainda a Reserva Biológica de Comboios e uma unidade do Projeto

TAMAR, recebendo visitas e executando a monitoria da reprodução de tartarugas-marinhas,

incluindo áreas de desova de tartaruga-gigante (Dermochelys coriacea).

3.5.2.2 O distrito de Povoação

A praia de Povoação fica na margem norte da barra do Rio Doce, podendo-se visualizar o seu

encontro com as águas do Oceano Atlântico, acerca de 3 km do povoado. Para o norte da orla

marítima e a 3 km da base do Projeto TAMAR encontra-se a barra do rio Monsarás. A base do

Projeto TAMAR, localizada em Povoação, abriga o maior número de ninhos entre as bases do

Espírito Santo, desde 1987. No local, desovam a tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) e a tartaruga-

gigante (Dermochelys coriacea).

3.5.3 Materiais e métodos

3.5.3.1 Mamíferos de pequeno porte

Para a realização do inventário, foram selecionados locais de amostragem nos distritos de Regência

e Povoação com a finalidade de amostrar os principais ambientes encontrados na região (Figura

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109

109). As coordenadas geográficas de cada ponto de coleta foram registradas e a denominação

empregada em campo consistiu nos seguintes ambientes: restinga baixo porte (TA); restinga de

médio porte (TB); restinga de grande porte (TC); margens do Rio Doce (TD); propriedade do pai

do Rogério (TE) e matas próximas a lagoa de Monsarás (TF) (Tabela 20). As trilhas instaladas em

Regência e Povoação foram percorridas separadamente (Figura 110 e 111). Os pontos de

amostragem consideraram as fitofisionomias presentes.

Figura 109. Pontos de amostragem da fauna de mamíferos não-voadores. É possível observar as seis

trilhas instaladas para a realização do inventário nos distritos de Regência e Povoação, Linhares,

Espírito Santo.

Tabela 20. Pontos de amostragem de pequenos mamíferos não-voadores na área proposta para criação

da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, focando os distritos de Regência e

Povoação

Pontos (trilhas) Localidade Coordenadas

TA Regência 19°39'12,03"S 39°51'24,85"W

TB Regência 19°37'58,87"S 39°52'10,62"W

TC Regência 19°38'12,33"S 39°52'57,19"W

TD Regência 19°36'26,44"S 39°49'11,42"W

TE Povoação 19°33'34,06"S 39°47'15,49"W

TF Povoação 19°33'29,59"S 39°47'10,07"W

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110

Figura 110. Pontos de amostragem da fauna de mamíferos não-voadores em Regência, Linhares,

Espírito Santo.

Figura 111. Pontos de amostragem da fauna de mamíferos não-voadores em Povoação, Linhares,

Espírito Santo.

Para a caracterização das espécies de mamíferos de pequeno porte não-voadores foi adotado um

modelo de captura-marcação-recaptura de espécimes a partir do emprego de armadilhas de captura

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111

viva (live trap) tipo gaiola, confeccionadas com arame galvanizado e sistema de gancho; e tipo

sherman, confeccionadas de alumínio. Foi estabelecido um transecto linear com 20 postos de

amostragem ou estações de captura para cada um dos seis ambientes selecionados dispostos em

intervalos de 20 metros. Desta forma, cada transecto apresentou 600 metros de extensão em linha

reta. Ao todo foram instaladas 240 armadilhas na área de estudo.

Em cada estação de captura foram instaladas duas armadilhas, com uma disposta no solo e outra na

vegetação de sub-bosque fixada em galhos ou cipós a uma altura média de 1,5 metos; totalizando

40 armadilhas por transecto. Este procedimento teve por objetivo amostrar espécies terrícolasou

que se deslocam no solo e na vegetação, conhecidas como escansoriais; e arborícolas. Esta

disposição das armadilhas foi adotada em todas as áreas de acordo com a estrutura vegetacional de

cada local. Para os pontos nos quais não foram identificadas estruturas de sub-bosque adequadas

para instalação de armadilhas, as duas unidades foram dispostas no solo.

Uma mistura composta de fubá, óleo de fígado de bacalhau (Emulsão Scott), banana e creme de

amendoim (Amendocrem) foi utilizada como isca. As iscas foram renovadas quando necessário,

principalmente em armadilhas com ocorrência de captura e/ou durante o terceiro dia de atividades.

As armadilhas foram vistoriadas diariamente, preferencialmente no período da manhã,

permanecendo ativas ou abertas com iscas no decorrer de cinco noites consecutivas de amostragem.

Os animais capturados foram primeiramente acondicionados em sacos de pano e as seguintes

informações foram anotadas em uma ficha de campo e posteriormente tabuladas em uma planilha

de dados: espécie, quando possível a identificação foi realizada em campo; data, área, posto,

posição da armadilha, medidas morfológicas externas, incluindo comprimento cabeça-corpo,

cauda, pata traseira e orelha; massa corpórea do indivíduo, idade, sexo e suas condições

reprodutivas. Espécimes testemunhos foram submetidos a técnicas usuais de preparação e

preservação de material biológico para depósito posterior em coleção científica.

3.5.3.2 Mamíferos de médio e grande porte

Para a caracterização de mamíferos de médio e grande porte potencialmente presentes na área de

estudo foram consultados dados secundários disponíveis em livros e artigos científicos publicados e

que abrangem aspectos das paisagens presentes na região de estudo. Para a obtenção de registros do

grupo faunístico foram utilizados, em campo, métodos apropriados com o mesmo esforço amostral

em cada local de coleta contemplando a estação de chuva e seca.

O registro das espécies de mamíferos presentes na área foi realizado a partir da procura ativa por

rastros e/ou vestígios que confirmassem a presença de representantes da mastofauna, como

pegadas, fezes e tocas ou a própria visualização de espécimes. Estas atividades foram realizadas

durante caminhadas em estradas de terra, acessos não-pavimentados e margens de corpos d’água,

como córregos e áreas drenadas. Áreas com solo exposto e ambientes lineares, como margem de

corpos d’água, trilhas e acessos, são consideradas locais prováveis para a detecção de evidências

indiretas da presença de mamíferos. Neste contexto, ocorre uma facilidade de visualização dos

vestígios em locais abertos e o uso tais áreas para a realização de atividades rotineiras como

alimentação e vigilância territorial por determinadas espécies. Foram considerados apenas os

vestígios em estado de preservação que fornecessem informações confiáveis.

Além disto, foram instaladas parcelas de areia como método complementar e auxiliar na detecção e

identificação das pegadas de mamíferos de médio e grande porte. As parcelas corresponderam a

áreas de 1x1 metro preenchidas com areia fina e úmida até uma altura de aproximadamente 3

centímetros e iscadas com abacaxi ou banana. Cada parcela foi previamente limpa, retirando-se a

vegetação e o folhiço para colocação da areia em solo limpo. A areia foi descompactada e sua

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superfície homogeneizada para que rastros de animais mais leves fossem registrados. Foram

dispostas dez parcelas de areia na região de Regência.

A cada dia, as armadilhas foram vistoriadas, umedecidas e a isca renovada. A identificação das

pegadas baseou-se em experiência prévia, auxiliada pela utilização do guia de campo de Becker &

Dalponte (1991). Em cada registro de presença foram anotados: espécie, data, local, horário e

número da parcela. Os registros em cada parcela não apresentaram independência, um fator que

dificultou a utilização deste método para o cálculo de abundância de espécies. Desta forma,

calculou-se a frequência de parcelas com o registro de presença das espécies em cada área.

Pressupõe-se que os índices indiretos, como pegadas, apresentem relação linear positiva com a

abundância relativa das espécies (Wilson et al., 1996).

Também foram realizadas, de forma complementar, entrevistas com moradores das comunidades

em Regência e Povoação para a obtenção de informações referentes às espécies de mamíferos

presentes na área, especialmente se tratando de grupos de visualização rara em campo e/ou que

ocorrem naturalmente em densidade populacional baixa. Ilustrações e/ou fotografias de mamíferos

(Auricchio, 1995; Borges & Tomas, 2004) foram apresentadas aos entrevistados para auxiliar no

reconhecimento das espécies presentes na área ou confirmar os táxons citados, quando necessário.

3.5.4 Resultados

Foram registradas 27 espécies de mamíferos não-voadores provenientes de registros diretos,

indiretos e de entrevistas com a comunidade local. Deste total, cinco espécies representam

mamíferos de pequeno porte, sendo quatro marsupiais e um roedor. As 22 espécies de mamíferos

de médio e grande porte foram agrupadas em sete Ordens e 15 Famílias.

3.5.4.1 Mamíferos de pequeno porte

Foram registrados nove indivíduos pertencentes a cinco espécies, agrupados em duas Famílias

(Tabela 21). O esforço de captura empregado totalizou 1000 armadilhas-noite, refletindo em um

sucesso de captura total de 0,9%. O sucesso de captura é estimado a partir da relação do número de

capturas dividido pelo esforço de captura vezes 100%, o que representa a porcentagem de

aproveitamento.

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113

Tabela 21. Lista de espécies de pequenos mamíferos com base em amostragem da área proposta para

criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, distritos de Regência e

Povoação. Apenas as trilhas nas matas próximas as margens do Rio Doce (TD) e matas próximas a

lagoa de Monsarás (TF) tiveram espécimes capturados, apesar da ausência de detecção de espécimes

nas trilhas da restinga de baixo porte (TA); restinga de médio porte (TB); restinga de grande porte

(TC) e propriedade do pai do Rogério (TE).

Nome local Locais de coleta com

registros

Ordem / Família / Espécie TD TF

Ordem Didelphimorphia

Família Didelphidae

Didelphis aurita Lund, 1840 Gambá, saruê X

Marmosops incanus (Lund, 1840) Cuíca, catita X

Marmosa murina (Linnaeus, 1758) Cuíca, marmosa X X

Metachirus nudicaudatus (E. Geoffroy, 1803) Cuíca-de-quatro-olhos, jupati X

Ordem Rodentia

Família Cricetidae

Nectomys sauqmipes (Brants, 1827) Rato d’água, ratão do banhado X

Os números de espécimes capturados e os percentuais de sucesso de captura foram diferentes entre

as localidades (Tabela 22). O número de armadilhas instaladas em cada trilha, bem como o número

total de armadilhas em cada trilha durante as cinco noites de coleta variou. Além disto, o total de

capturas que representa o número de indivíduos capturados por trilha e a riqueza ou o número de

espécies capturadas também foram diferentes entre si.

É importante ressaltar as limitações durante a campanha de campo, com origens na intensa chuva

durante todos os dias de coleta. A chuva intensa muitas vezes restringe a captura destas espécies,

pois optam por permanecer em abrigos. Desta forma, pode-se justificar o baixo sucesso de captura

neste inventário. Provavelmente o registro de novas espécies ocorrerá a partir da continuidade dos

esforços de captura e amostragens nos períodos de seca. Os registros de captura na estação seca

costumam serem maiores, quando comparados aos períodos chuvosos.

Tabela 22. Sucesso de captura (%) e esforço amostral por ambiente inventariado durante campanha

na região do Delta do Rio Doce, nos distritos de Regência e Povoação, Espírito Santo (TA = restinga de

baixo porte; TB = restinga de médio porte; TC = restinga de grande porte; TD = mata as margens do

Rio Doce; TE = Propriedade pai do Rogério e TF = mata ao lado da lagoa de Monsarás)

Locais de coleta Número de

armadilhas

Total de

armadilhas

Total de

capturas Riqueza

Sucesso de

captura (%)

TA 40 200 0 0 0%

TB 40 200 0 0 0%

TC 40 200 0 0 0%

TD 40 200 0 0 0%

TE 40 200 4 3 2%

TF 40 200 5 2 2,5%

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114

3.5.4.2 Mamíferos de médio e grande porte

Foram identificadas 22 espécies de mamíferos de médio e grande porte silvestres para a região do

Delta do Rio Doce, agrupadas em sete Ordens e 15 Famílias (Tabela 23). Quatro espécies (18,18%)

foram registradas de forma direta a partir de visualização, vocalização ou armadilhas fotográficas.

Três espécies (13,63%) foram registradas a partir de vestígios indiretos, como fezes e pegadas. O

método de entrevistas revelou 17 espécies (77,27%) para a área de estudo.

A Ordem Carnivora apresentou o maior número de táxons registrados, com dez espécies, seguida

pela Ordem Rodentia, com cinco espécies. As Ordens Cingulata e Primates apresentaram duas

espécies, enquanto Artiodactyla, Pilosa, e Lagomorpha foram representadas por um táxon (Tabela

23).

Tabela 23. Espécies de mamíferos de médio e grande porte detectadas por evidências diretas e

indiretas na área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio

Doce, distritos de Regência e Povoação, município de Linhares, com seus respectivos nomes populares

e tipos de registros pelo qual foram detectados (ET = entrevista; DS = dados secundários; PG =

pegada; VI = visualização e VO = vocalização)

Ordem Família Espécie Nome popular Tipo de

registro

Cingulata Dasypodidae Cabassous unicinctus Tatu-de-rabo-mole ET

Dasypus septemcinctus Tatu-galinha ET

Pilosa Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla Tamanduá-de-colete ET

Primates Cebidae Callithrix sp. Mico-estrela ET VI VO

Callicebus personatus Sauá, guigó ET

Carnivora

Canidae Cerdocyon thous Cachorro-do-mato ET PG VI

Procyonidae Nasua nasua Quati ET

Procyon cancrivorus Mão-pelada ET

Mephitidae Conepatus semistriatus Jaratataca ET

Mustelidae Eira barbara Irara ET

Galictis cuja Furão ET

Felidae

Leopardus tigrinus Gato-do-mato-pequeno ET

Leopardus pardalis Jaguatirica ET

Puma concolor Onça-parda, onça-vermelha ET

Puma yagouaroundi Gato-mourisco ET VI

Artiodactyla Cervidae Mazama americana Veado mateiro ET PG

Rodentia

Caviidae Cavia aperea Preá ET

Erethizontidae Coendou prehensilis Ouriço-cacheiro ET

Cuniculidae Cuniculus paca Paca ET

Dasyproctidae Dasyprocta agouti Cutia ET

Hydrochaeridae Hydrochoerus hydrochaeris Capivara ET

Lagomorpha Leporidade Sylvilagus brasiliensis Tapeti ET VI

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Cabassous unicinctus (tatu-de-rabo-mole) e Dasypus septemcinctus (tatu-galinha) foram

registrados a partir do método de entrevista na área de estudo. Embora estas espécies sejam

descritas como amplamente distribuídas e não-ameaçadas de extinção, a perda de hábitat é uma

preocupação para suas populações.

Quanto aos primatas, foram visualizados bandos de Callithrix sp. (mico-estrela) nos distritos de

Regência e Povoação, sendo detectados também a partir de vocalização nestes locais. A espécie

Callicebus personatus (sauá) foi registrada a partir de entrevistas com moradores locais e consulta

de dados secundários, sendo uma espécie considerada de ocorrência potencial para a área de

estudo.

Os sauás (gênero Callicebus), por sua vez, são primatas monogâmicos que vivem em grupos

familiares compostos por um casal adulto e seus filhotes, formados em geral por até cinco

indivíduos, onde o macho progenitor é o principal responsável pelo cuidado dos filhotes (Reis et

al., 2006). Alimentam-se principalmente de frutos, complementando a dieta com insetos e folhas

(Reis et al., 2006). Este conjunto de características ecológicas e comportamentais torna as espécies

de Callicebus sensíveis às alterações ambientais, pois sua estrutura social é fundamental para a

manutenção de seus indivíduos, tornando-as naturalmente vulneráveis quando este quadro social é

alterado.

Para a Ordem Carnivora, foram obtidos registros a partir de entrevistas com a comunidade para

Leopardus pardalis (jaguatirica), Nasua nasua (quati) e Cerdocyon thous (cachorro-do-mato). Dois

indivíduos de Cerdocyon thous (cachorro-do-mato) também foram registrados a partir de

visualização. O gerente da base do Projeto TAMAR, em Regência, havia recolhido dois indivíduos

atropelados em estrada próxima a Reserva Biológica de Comboios. Estes animais foram doados e

farão parte da coleção científica da Universidade Federal do Espírito Santo. Esta espécie de ampla

distribuição no Brasil é onívora, generalista e oportunista e sua dieta varia sazonalmente e

composta por frutos, pequenos vertebrados, insetos e crustáceos. Esta espécie desempenha uma

função fundamental para a manutenção da diversidade do ambiente devido ao seu consumo

frequente de frutos, podendo agir como dispersor de sementes (Reis, 2006).

O mesmo fato ocorreu com um exemplar de gato-mourisco (Puma yagouaroundi), o qual também

foi encontrado atropelado próximo à Reserva Biológica de Comboios e recolhido pela equipe do

Projeto TAMAR local. É de extrema importância ressaltar as vulnerabilidades destas espécies às

alterações ambientais, tanto locais quanto regionais, mesmo considerando os seus potenciais de

dispersão, pois necessitam de áreas com conectividades funcionais para a sua dispersão. A

destruição e a fragmentação dos habitats em escala local e regional são ameaças reais para estas

espécies.

Os quatis (Nasua nasua) formam grupos sociais de mais de 20 indivíduos, sendo também

considerados generalistas, ocorrendo em diversos tipos de vegetação (Eisenserg & Redford, 1999).

Sua dieta pode variar sazonalmente, alimentando-se principalmente de frutos em determinada

época do ano (Eisenserg & Redford, 1999), sendo também considerados dispersores de sementes

(Reis et al., 2006). Esta espécie foi registrada a partir das entrevistas.

O ouriço-cacheiro (Coendou prehensilis) e o veado-mateiro (Mazama americana) revelam-se

espécies menos oportunistas, embora sejam observados com frequência em áreas rurais. Apesar de

apresentar hábito locomotor arborícola, o ouriço-cacheiro é comumente encontrado no solo, o que

favorece seu contato e confronto com cães-domésticos. Este comportamento torna-o vulnerável,

embora apresente pêlos modificados em espinhos rígidos que, em geral, repelem o predador. O

ouriço-cacheiro foi registrado a partir do método de entrevistas com a comunidade local. Os veados

são considerados espécies cursoriais, realizando longos deslocamentos durante atividades de

forrageamento que podem ser efetuadas em vegetação aberta e pastagens. Foram registradas

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pegadas desta espécie tanto em algumas trilhas percorridas para a amostragem de pequenos

mamíferos quanto nas parcelas de areia instaladas na área.

O mão-pelada (Procyon cancrivorus) e a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) são consideradas

espécies generalistas, podendo ocorrer em diversos tipos de hábitats, incluindo áreas alteradas;

revelando-se dependentes de locais com disponibilidade de corpos d’água (Eisenserg & Redford,

1999). A paca (Cuniculus paca) também se caracteriza como associada a drenagens, revelando-se

menos tolerante as alterações ambientais e ocorrendo preferencialmente em áreas florestais

(Eisenserg & Redford, 1999).

O tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) apresenta hábito alimentar especializado, consumindo

apenas formigas e cupins, o que o torna especialista e com distribuição determinada pela

disponibilidade do recurso alimentar que consome. O tamanduá-mirim pode ser encontrado em

uma grande variedade de habitats e possui facilidade para escalar os troncos de árvores (Eisenserg

& Redford, 1999).

A jaritataca (Conepatus chinga) e o furão (Galictis cuja) habitam preferencialmente áreas com

vegetação aberta, com campos e borda de mata, podendo ser encontrados em ambientes florestais

(Reis et al., 2006). Os furões alimentam-se predominantemente de vertebrados, um hábito

alimentar de predação especializada, enquanto as jaritatacas se alimentam de invertebrados e

pequenos vertebrados, consumindo ocasionalmente frutos (Reis et al., 2006).

Sylvilagus brasiliensis (tapeti) caracteriza-se como oportunista e tolerante a alterações ambientais,

sendo normalmente encontrado em áreas urbanas e/ou periurbanas.

Foi detectada também a presença de cão (Canis familiaris), gato doméstico (Felis catus), gado

(Boa sp.) e equinos (Equus sp.). A utilização da área por animais domésticos contribui para a

redução da qualidade ambiental local. O tráfego de veículo foi considerado intenso durante todos

os dias de amostragem na área de estudo. O atropelamento de espécimes silvestres nas vias de

tráfego da região, conforme identificado durante as atividades realizadas em campo; causa a perda

de indivíduos, fragiliza as populações silvestres e prejudica o fluxo de espécimes entre as áreas

naturais remanescentes.

Das 22 espécies registradas na área, quatro encontram-se na Lista da Fauna Ameaçada de Extinção

no cenário nacional (Tabela 24). Entre os táxons registrados e inclusos na lista de espécies

ameaçadas, Callicebus personatus encontra-se na categoria Vulnerável (VU), juntamente com as

espécies Leopardus pardalis (jaguatirica) e Leopardus tigrinus (gato-do-mato-pequeno). Puma

concolor (onça-parda) é uma espécie inserida na categoria Em Perigo (EN).

Tabela24. Espécies de mamíferos silvestres ameaçados de extinção registrados na área proposta para a

criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, nos distritos de Regência e

Povoação [MAES (2006) = Aves e mamíferos ameaçados de extinção na região Serrana do Estado do

Espírito Santo (Mendes et al., 2006); LFBAE = Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

(Machado et al., 2005); IUCN (2006b) = Red List of Threatened Species; VU = Vulnerável; EN = Em

Perigo].

Ordem Família Espécie MAES LFBAE IUCN

Categorias de ameaça

Primates Pitheciidae Callicebus personatus VU VU VU

Carnivora Felidae

Leopardus pardalis VU - -

Leopardus tigrinus VU VU VU

Puma concolor EM - -

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117

Os dados inventariados indicam uma riqueza significativa de espécies de mamíferos para a região

do Delta do Rio Doce. Como a grande maioria dos dados foi obtida através de entrevistas, não é

possível inferir sobre a representatividade ou abundância das diferentes espécies na área de estudo.

Entretanto, pode-se associar esta riqueza significativa ao contexto de ocupação local e regional

existente atualmente em parte desta região. É iminente a necessidade de realização de mais

inventários na região que amostrem a fauna de mamíferos, bem como a de outros grupos animais e

vegetais, tanto na estação seca quanto na chuvosa. Uma série de amostragens mais intensivas ao

longo de todo o ano também é necessária.

Apesar de toda a alteração ambiental decorrente principalmente da ocupação humana, ainda é

possível atribuir a riqueza da fauna de mamíferos à área florestal presente. Em uma análise geral,

observa-se que a riqueza de espécies de mamíferos na região é representativa, porém encontra-se

alterada em sua diversidade. A maioria das espécies citadas é formada por um maior número de

indivíduos, considerando-as não-ameaçadas, com maior plasticidade ambiental e podendo ocorrer

em uma grande variedade de habitats. As espécies consideradas como vulneráveis, raras e

ameaçadas geralmente apresentam densidades mais baixas. Entretanto, estas inferências devem ser

confirmadas a partir da realização de estudos de um inventário mastofaunístico detalhado na região.

A supressão de vegetação e consequentemente a perda de habitats para áreas de pastagem extensas

afetam de um modo geral todas as espécies. Pode-se inferir, então, que a presença de um mosaico

de ambientes é fundamental para a permanência de populações viáveis das espécies de mamíferos

não-voadores. A diversidade de ambientes presentes no Delta do Rio Doce é um dos pilares para a

manutenção da fauna de mamíferos não-voadores e demais formas de vida.

3.5.5 Síntese dos resultados

Considerando-se a região do Delta do Rio Doce, que compreende os distritos de Regência e

Povoação, foram registradas 27 espécies de mamíferos não-voadores provenientes de registros

diretos, indiretos e de entrevistas com a comunidade local. Deste total, cinco espécies representam

mamíferos de pequeno porte, sendo quatro marsupiais e um roedor. O baixo sucesso de captura

para este grupo pode ser justificado pela intensa chuva que ocorreu durante todos os dias de coleta.

A necessidade de realização de mais inventários na região é urgente, havendo a necessidade de

focar a fauna de mamíferos nas estações de seca e chuvosa. Amostragens mais intensivas ao longo

de todo o ano também são necessárias.

Das 22 espécies de mamíferos de médio e grande porte registradas na área de estudo, duas

encontram-se na Lista da Fauna Ameaçada de Extinção em nível nacional. Entre os táxons

registrados e inclusos na lista de espécies ameaçadas, Callicebus personatus encontra-se na

categoria vulnerável (VU), juntamente com as espécies Leopardus pardalis (jaguatirica) e

Leopardus tigrinus (gato-do-mato-pequeno) (Mendes et al., 2006). Puma concolor (onça-parda),

por sua vez, é uma espécie que está incluída na categoria de ameaça Em Perigo (EN) (Mendes et

al., 2006).

A área é composta por diferentes tipos de vegetação importantes para a mastofauna local,

especialmente os ambientes de mata e restinga, sendo utilizada como área de permanência,

obtenção de abrigo, realização de forrageamento e/ou deslocamento de espécimes para acesso a

outras áreas mais preservadas na região. As diferentes tipologias vegetacionais apresentam valor

ecológico funcional e essencial para a manutenção da mastofauna local, abrigando altos valores de

riqueza, diversidade e espécies ameaçadas de extinção. É importante ressaltar que os ambientes de

mata e restinga nativas não-protegidas presentes na região são abundantes. Estas áreas que formam

um mosaico de ambientes, juntamente com a Reserva Biológica de Comboios, tornam-se

importantes como corredores de dispersão da mastofauna local.

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118

3.6 Mastofauna voadora

3.6.1 Introdução

A elevada diversidade aliada à estreita interação com o ambiente torna as comunidades de

morcegos neotropicais muito complexas (Nowak, 1991; Fenton, 1992; Findley, 1993; Kunz &

Pierson, 1994). Além da dificuldade de obtenção de dados sistemáticos para as espécies de

Chiroptera, existem áreas extensas com pouco ou nenhum estudo (Bergallo & Esbérard, 2003). No

Estado do Espírito Santo o conhecimento sobre o grupo avança no sentido de descrever padrões

biogeográficos. Entretanto as amostragens ainda são pontuais, havendo carência de informações

sobre as áreas e ecossistemas estaduais (Bergallo & Esbérard, 2003), inclusive dos que possuem as

restingas como componente (Fogaça & Reis, 2008).

As restingas são ecossistemas característicos do bioma da Mata Atlântica localizadas nas baixadas

litorâneas onde a especulação imobiliária exerce forte pressão. O desmatamento neste ecossistema

ameaça elminar um conjunto de processos que regulam e colaboram para a manutenção de um

mosaico de formações integradas e pouco conhecido, além de todos os seus aspectos ecológicos.

De uma forma geral, a mastofauna de quirópteros da restinga ainda é relativamente pouco estudada

e as informações sobre a ecologia destes ecossistemas permanecem escassas (Oprea, 2007; Fogaça

& Reis, 2008).

Nesse contexto, o presente trabalho tem por finalidade aumentar o conhecimento sobre a

composição faunística de quirópteros nas restingas de Linhares, Espírito Santo, amostrando as

imediações da Reserva Biológica de Comboios e da vila de Povoação. A informação obtido é

espacialmente e temporalmente pontual, mas permite avaliar a potencialidade biológica da área e

consequentemente o seu potencial para uma conservação efetiva.

3.6.2 Materiais e métodos

3.6.2.1 Área de estudo

O estudo foi realizado em Regência e Povoação, no município de Linhares (Figura 112), Espírito

Santo. Linhares faz fronteira com os municípios de São Mateus, Jaguaré e Sooretama ao norte, Rio

Bananal, Marilândia, Colatina e João Neiva a oeste e Aracruz ao sul. O município está localizado a

uma latitude sul de 19º39’11’’ e uma longitude oeste de 40º07’22’’, em uma região conhecida

como "Baixo Rio Doce". Possui uma área de 3501,604 km2, sendo o maior município em extensão

territorial do Estado do Espírito Santo.

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119

Figura 112. Mapa do Espírito Santo, Brasil, destacando a localização do município de Linhares.

Parte do trabalho foi realizada nas imediações da Reserva Biológica de Comboios, localizada ao

sul do Rio Doce. A Reserva Biológica de Comboios possui 837 hectares e está localizada a 7

quilômetros do povoado de Regência. Sua vegetação foi classificada como Formação Arbustiva

Aberta de áreas de Restinga, caracterizada por apresentar um grande número de espécies vegetais

de pequeno porte, geralmente herbáceas distribuídas em moitas, com a maior parte do solo sem

cobertura vegetal (Colodete & Pereira, 2007).

A vila de Povoação, localizada ao norte do Rio Doce, a quilômetros do centro da cidade de

Linhares, também foi local de realização de parte das coletas, apresentando áreas de formações

abertas, além de ambientes alterados próximos a edificações e pastagens. Destaca-se a

proximidade das formações de Floresta Estacional Semidecidual Aluvial (Veloso et al., 1991) que

também foram incluídas no inventário. A Floresta Estacional Semidecidual Aluvial presente no

Delta do Rio Doce possui extensas áreas de mata de cabruca, um tipo de cultivo onde as árvores de

cacau Theobroma cacao L. (Sterculiaceae) são plantadas abaixo do dossel da floresta nativa,

mantendo-se menos de 10% das árvores da floresta original para o sombreamento (Alves, 1990). O

clima da região é do tipo Af, segundo a classificação de Köppen, sendo caracterizado por

temperaturas elevadas, sempre acima de 20ºC e estação seca pouco pronunciada.

3.6.2.2 Amostragem

As coletas foram realizadas durante 12 noites, cinco no final da estação seca e sete no final da

estação chuvosa (Tabela 25).

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120

Tabela 25. Localidades inventariadas nas adjacências das vilas de Povoação e Regência, apresentando

suas respectivas coordenadas geográficas e datas de coleta

Data /Estação Regência Coordenadas geográficas

Seca Chuvosa

15/10/2008 6/4/2009 Fazenda Santa Lúcia 19º39'56,3”S 39º53’0,4"W

16/10/2008 8/4/2009 Mata da lagoa Parda 19º38'17,3"S 39º52'56,4"W

17/10/2008 7/4/2009 Mata da lagoa Caiçara 19º39'9,1"S 39º51'26,5"W

Seca Chuvosa Povoação

25/10/2008 4/4/2009 Mata de Guriri 19º39'43,4"S 39º46'58,9"W

26/10/2008 2/4/2009 Ecótone (pasto e restinga) 19º34'43,3"S 39º47'6"W

- 3/4/2009 Sítio Império (cabruca) 19º33'40"S 39º48'46"W

- 5/4/2009 Sítio Sebastião (cabruca) 19º33'14"S 39º49'51"W

Para as amostragens foram utilizadas redes de neblina ou mist-nets de sete a quinze metros de

comprimento, armadas ao nível do solo. A cada dia foram abertos aproximadamente 102 metros de

rede, totalizando 1222 metros ao final do estudo. As redes ficaram estendidas durante seis horas

por noite totalizando um esforço de 72 horas. As redes foram vistoriadas em intervalos de 10 a 30

minutos, o que dependeu da atividade dos morcegos. Redes de neblina são amplamente utilizadas

em levantamento de fauna de morcegos, permitindo uma comparação com os dados adquiridos em

outras áreas amostradas utilizando o mesmo método.

Os espécimes de morcegos capturados foram identificados no local quanto à espécie que pertencem

e em caso de dúvida encaminhados ao Laboratório de Estudos de Quirópteros da Universidade

Federal do Espírito Santo (LABEQ-UFES) para a confirmação de sua espécie.

Cada exemplar capturado passou pelas seguintes etapas: (1) identificação ao nível taxonômico mais

preciso; (2) identificação do local de captura; (3) identificação do sexo; (4) medida do antebraço

em milímetros; (5) classificação etária com base no desenvolvimento dos caracteres sexuais

secundários, como gônadas e glândulas mamárias e (6) o grau de ossificação das sínfises dos ossos

do metacarpo, com jovens apresentando sínfises cartilaginosas e adultos apresentando sínfises

ossificadas e gônadas e glândulas desenvolvidas. As fêmeas foram classificadas quanto à condição

reprodutiva em: (1) fêmeas grávidas, (2) fêmeas lactantes ou pós-lactantes e (3) fêmeas não-

grávidas e/ou não-lactantes. Exemplares mortos, conservados em álcool, foram doados por

moradores da região e também considerados na listagem de espécies para a área. Também foram

considerados no inventário exemplares mortos, conservados em álcool, doados por moradores da

região.

3.6.2.3 Procedimentos laboratoriais

Foram sacrificados no máximo dez exemplares de cada espécie de morcego em ambas as

localidades, conforme limite permitido pelas licenças do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis de números 12075-1 e 16752-1, com o objetivo de se obter

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121

material testemunho para as localidades de Regência e Povoação. Os exemplares coletados foram

eutanasiados por deslocamento cervical, método recomendado pela resolução n° 714 de 2002 do

Conselho Federal de Medicina Veterinária. Para conservação, estes exemplares foram tratados

conforme Peterson (1965) e armazenados em via úmida (álcool 70%) no Laboratório de Estudos de

Quirópteros da Universidade Federal do Espírito Santo (LABEQ-UFES). Os exemplares serão

posteriormente encaminhados para a coleção de quirópteros do Museu de Biologia Professor Mello

Leitão (MBML), situado na cidade de Santa Teresa, Espírito Santo, ao final do estudo.

Cada animal coletado foi identificado a partir de chaves de identificação própria (Vizotto &

Taddei, 1973) e/ou para os diferentes gêneros e Famílias. Os indivíduos coletados também

receberam uma etiqueta numerada que está relacionada ao local de captura e medidas padrões do

corpo, como o comprimento rosto-anal, comprimento da cauda, comprimento do pé, comprimento

da orelha, comprimento do tragus, comprimento do antebraço e peso.

3.6.2.4 Análises

A freqüência relativa (fr) de captura de cada espécie foi obtida apenas para os exemplares

capturados por rede de neblina, de acordo com a seguinte fórmula:

fr = n x 100/ N

Sendo n o total de capturas de uma espécie e N o total de capturas de todas as espécies.

A abundância das espécies foi definida de acordo com o valor de fr obtido para cada uma, com

espécies abundantes apresentando valor de fr superior a 10%, comuns apresentando fr entre 10% e

4% e pouco comuns para espécies com fr inferior a 4%.

O sucesso de captura foi calculado para cada localidade a partir da divisão do número total de

capturas de espécies pelo esforço total de captura:

Sucesso de captura = Ntotal/Etotal

Sendo este último a soma dos esforços de capturas diários (Etotal = Σ Edi), calculado pela

metragem de rede estendida no dia vezes o número de horas:

Σ Edi = mi*h

A taxa de capturas foi calculada pela divisão entre o número de indivíduos capturados e o número

de horas de amostragem.

Uma curva do coletor foi gerada para uma melhor visualização do incremento do número de

espécies a cada duas horas de captura.

As espécies também foram avaliadas com base no hábito alimentar e estratégia de forrageamento

conforme referências bibliográficas.

3.6.3 Resultados

Ao final do estudo, foi obtido um total de 182 espécimes, considerando exemplares doados e

capturas por rede de neblina. Todos os indivíduos foram identificados até o nível taxonômico mais

específico, permitindo a elaboração de uma riqueza de 16 espécies (Tabela 26).

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122

Tabela 26. Lista de espécies de morcegos inventariados em Regência e Povoação e suas respectivas

frequências relativas e números totais de espécimes (fr = frequência relativa; N = número de

indivíduos e A = abundância, com AB = abundante, CO = comum e PC = pouco comum)

Família Subfamília Espécie fr N A

Molossidae Molossinae Molossus molossus (Pallas, 1766)* - 2 IA

Phyllostomidae

Carolliinae Carollia perspicillata (Linnaeus,1758) 20,67 37 FS

Rhinophylla pumilio Peters,1865 1,67 3 F

Glossophaginae Glossophaga soricina (Pallas, 1766) 1,67 3 CL

Lonchophylla mordax Thomas, 1903* - 1 NA

Phyllostominae

Chrotopterus auritus (Peters, 1856) 0,55 1 C

Phyllostomus discollor (Wagner,1843) 0,55 1 ON

Phyllostomus elongatus (E. Geoffroy, 1810) 0,55 1 ON

Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) 4,46 8 ON

Trachops cirrhosus (Spix, 1823) 1,11 2 CL

Stenodermatinae

Artibeus cinereus (Gervais, 1856) 1,11 2 FD

Artibeus fimbriatus Gray, 1838 13,4 24 FD

Artibeus lituratus (Olfers, 1818) 46,36 83 FD

Artibeus obscurus (Schinz, 1821) 5,59 10 F

Chiroderma villosum Peters, 1860 0,55 1 F

Vespertilionidae Myotinae Myotis nigricans (Schinz, 1821) 1,67 3 I

Total 16 100 182

Com relação aos indivíduos inventariados exclusivamente por rede de neblina, foram amostradas

14 espécies de morcegos em 179 capturas. O sucesso de captura foi de 0,024 capturas/m*h e a taxa

de capturas foi de 2,48 indivíduos por hora. Os Molossidae foram capturados a partir de busca ativa

e doados por moradores da região.

Dentre as duas Famílias identificadas, Phyllostomidae compreendeu 98,33% das capturas,

enquanto Vespertilionidae representou 1,67%. Com relação à frequência relativa das espécies,

Artibeus lituratus representou 46,36% do número total de espécies, seguido por Carollia

perspicillata, com 20,67% e Artibeus fimbriatus, 13,4%. Artibeus lituratus, C. perspicilata e A.

fimbriatus foram considerados abundantes, Artibeus obscurus e Phylostomus hastatus foram

considerados comuns e as demais espécies pouco comuns (Tabela 26 e Figura 113).

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123

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

Arti

beus

litu

ratu

s

Car

ollia

pers

picil

lata

Arti

beus

fim

bria

tus

Arti

beus

obsc

urus

Phy

llostom

us has

tatu

s

Rhinop

hylla p

umilio

Gloss

ophaga

sor

icin

a

Myo

tis n

igric

ans

Trach

ops c

irrhos

us

Arti

beus

cinere

us

Chr

otop

teru

s au

ritus

Phy

llostom

us disc

ollor

Phy

llostom

us elo

ngatu

s

Chiro

derm

a villo

sum

Figura 113. Frequências reativas das espécies capturadas por rede de neblina em Regência e Povoação.

A linha de tendência obtida pelo incremento do número de espécies a cada duas horas não

apresenta sinais de estabilização (Figura 114).

0

2

4

6

8

10

12

14

16

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Figura 114. Gráfico do número cumulativo de espécies inventariadas por rede de neblina ou curva do

coletor, pelo número de horas trabalhadas.

As espécies capturadas a partir de rede de neblina e buscas ativas estão distribuídas em cinco

hábitos alimentares e oito estratégias de forrageamento (Tabela 27).

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124

Tabela 27. Hábitos alimentares e estratégias de forrageamento das espécies capturadas em Regência e

Povoação (F = frugívoro, FB = frugívoro de sub-bosque, FD = frugívoro de dossel, C= carnívoro, CL=

capturam presas na folhagem ou solo, NA = nectarívoro de vôo adejado e ON = onívoro)

Hábito

alimentar Espécies

Estratégia de

forrageamento

Frugívoro

Carollia perspicillata (Linnaeus,1758) FS

Chiroderma villosum Peters, 1860 F

Artibeus lituratus (Olfers,1818) FD

Artibeus fimbriatus (Gray, 1838) FD

Artibeus obscurus( Schinz, 1821) F

Artibeus cinereus (Gervais, 1856) FD

Rhinophyla pumilio Peters,1865 F

Insetívoro Myotis nigricans (Schinz, 1821) I

Molossus molossus (Pallas, 1766) IA

Nectarívoro Lonchophylla mordax Thomas, 1903 NA

Glossophaga soricina (Pallas, 1766) CL

Carnívoro Trachops cirrosus (Spix, 1823) CL

Chrotopterus auritus (Peters, 1856) C

Onívoro

Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) ON

Phyllostomus elongatus (E. Geoffroy, 1810) ON

Phyllostomus discollor Wagner, 1843 ON

Fonte: Kalko et al. (1996), citado por Esbérard (2004).

O hábito alimentar frugívoro foi predominante, ocorrendo em sete espécies de morcegos, cujas

frequências de captura somam 87,97%; seguido pelo hábito onívoro, correspondendo a 5,49%,

enquanto os demais hábitos alimentares apresentaram duas espécies cada (Figura 115).

2,18%

5,49%2,73% 1,63%

87,97%

Figura 115. Hábitos alimentares das espécies de morcego inventariadas em Regência e Povoação,

expressos em porcentagem com base na frequência relativa das espécies capturadas (Azul = Frugívoro;

Vermelho = Onívoro; Verde = Insetívoro; Roxo = Nectarívoro e Amarelo = Carnívoro).

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125

3.6.4 Discussão

A razão entre o número de espécies registradas e o número de noites de coleta em Regência e

Povoação apresenta um valor superior ao encontrado em outras áreas de Mata Atlântica (Tabela

28).

Tabela 28. Inventários de morcegos da Mata Atlântica na região Sudeste do Brasil

Estadoa Localidade

N° de

noites

N° de

capturas

N° de

espécies Referência

MG Parque Estadual do Rio Doce 12 195 19 Tavares (1999)

RJ Vargem Grande 17 140 13 Baptista & Ribeiro-Mello (2001)

SP Parque Estadual Morro do Diabo 12 345 15 Reis et al. (1996)

ES Estação Biológica Santa Lúcia 15 148 15 Tahara et al. (2005)

ES Reserva Biológica de Duas Bocas 16 627 19 Scabello (2006)

ES Regência e Povoação 12 194 16 Trabalho atual

a MG = Minas Gerais; RJ = Rio de Janeiro; SP = São Paulo; ES = Espírito Santo.

Considerando o número de espécies em função do esforço de captura, Regência e Povoação

apresentaram uma riqueza superior ao Parque Estadual Morro do Diabo em São Paulo, Estação

Biológica de Santa Lúcia, no Espírito Santo e Vargem Grande, no Rio de Janeiro. Apesar dos

métodos similares e esforços desconhecidos em termos de metros de rede, algumas localidades

supracitadas, como Vargem Grande e Estação biológica Santa Lúcia, apresentaram um período de

amostragem superior ao aplicado neste trabalho.

A Família Phyllostomidae integrou a maioria das coletas realizadas em Regência e Povoação.

Morcegos desta família geralmente voam abaixo do dossel usando sinais de ecolocalização de

baixa freqüência (Kunz, 1982). Desta maneira, as redes de neblina são mais eficientes na captura de

indivíduos desta Família, pois foram armadas ao nível do solo com uma altura média de 2,5 metros.

A dominância de Artibeus pode estar relacionada à presença de localidades perturbadas no entorno

de Regência e Povoação, uma vez que espécies deste gênero, em especial A. lituratus, são

classificadas como típicas de ambientes alterados (Silva, et al., 2005; Uieda & Chaves, 2005;

Tahara et al., 2006). O termo ambiente alterado é utilizado para se referir às áreas urbanas, o que

não é o caso das restingas de Regência e Povoação ou da mata de cabruca. Contudo, a mata de

cabruca é um ambiente modificado e a Floresta Estacional Semidecidual Aluvial do Rio Doce, na

qual está inserida, apresenta áreas ricas em espécies de Moraceae (Rolim et al., 2006), consistindo

em uma Família bastante utilizada por morcegos do gênero Artibeus (Pinto & Ortencio Filho,

2006). Oprea (2007) encontrou dominância de C. perspicillata em outra restinga ao sul do Estado

do Espírito Santo, reforçando a hipótese de que as alterações decorrentes das localidades adjacentes

as restingas de Regência e Povoação e a ocorrência de espécies de árvores frutíferas da cabruca

possam ser responsáveis pela dominância do gênero Artibeus.

Os dez dias de estudo nas localidades com vegetação de restinga resultaram em uma riqueza de 11

espécies, com a adição dos dois dias de amostragem nas localidades de mata de cabruca ampliando

o número em mais cinco espécies. Trabalhos realizados em áreas de cabruca demonstram que

mesmo com a forte transformação do ambiente, estas regiões se mantêm bastante estratificadas, o

que garante a ocorrência de muitas espécies de aves e mamíferos (Alves, 1990). Segundo Bernard

& Fenton (2002), os estudos que incluem variedades de habitats são mais eficientes em amostrar a

fauna de morcegos, o que corrobora os resultados obtidos para Regência e Povoação, visto que

Oprea (2007), após realizar 45 noites de esforço de amostragem na Restinga de Setiba, presente no

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126

sul do Espírito Santo, encontrou apenas 19 espécies de morcegos em comparação as 16 espécies do

presente estudo.

A não estabilização da linha de tendência, feita a partir da curva do coletor, demonstra que novas

espécies de morcegos podem ser inventariadas se o esforço amostral for aumentado. Entretanto, em

um contexto de uma Avaliação Ecológica Rápida, considera-se o resultado do presente trabalho

como satisfatório, já que seu objetivo foi uma amostragem genérica sobre a comunidade de

morcegos presente em Regência e Povoação, buscando fornecer dados preliminares sobre estas

localidades e confirmar sua importância para a manutenção dos ciclos biológicos naturais presentes

nos diversos ambientes do Delta do Rio Doce.

3.6.5 Conclusões

Regência e Povoação apresentam uma riqueza de espécies expressiva se comparada a outras áreas

de Mata Atlântica em que foram utilizados os mesmos métodos de amostragem (Tabela 29).

Tabela 29. Inventários de morcegos da Mata Atlântica na região Sudeste do Brasil.

Estadoa Localidade

N° de

noites

N° de

capturas

N° de

espécies Referências

MG Parque Estadual do Rio Doce 12 195 19 Tavares (1999)

MG Caratinga 33 372 20 Aguiar (1994)

RJ Ilha Grande-Provetá 9 141 18 Bergallo et al. (2000)

RJ Parque Henrique Lage 4 220 16 Bergallo et al. (2000)

RJ Praia do Sono 4 179 17 Bergallo et al. (2000)

RJ Quinta Boa Vista 89 2361 19 Bergallo et al. (2000)

RJ Reserva Biológica de Poço das Antas 45 2200 18 Mello (2002)

RJ Vargem Grande 17 140 13 Baptista & Ribeiro-Mello (2001)

SP Parque Estadual Morro do Diabo 12 345 15 Reis et al. (1996)

SP Jardim Botânico 33 117 6 Pedro et al. (1995)

SP Serra do Japi 31 354 10 Marinho-Filho (1985)

ES Parque Estadual da Fonte Grande 31 879 17 Tahara et al. (2004)

ES Estação Biológica Santa Lúcia 15 148 15 Tahara et al. (2005)

ES Reserva da Companhia Vale do Rio Doce 8 55 8 Pedro & Passos (1995)

ES Reserva Biológica de Duas Bocas 16 627 19 Scabello (2006)

ES Parque Estadual Paulo Cesar Vinha 45 538 17 Oprea (2007)

ES Regência e Povoação 12 194 16 Trabalho atual

a MG = Minas Gerais; RJ = Rio de Janeiro; SP = São Paulo; ES = Espírito Santo.

A dominância de morcegos do gênero Artibeus, um grupo típico de ambientes perturbados, sugere

que Regência e Povoação possam estar sofrendo influência de regiões alteradas do entorno e das

áreas de cabruca. Contudo, as áreas de cabruca, mesmo alteradas, garantem a ocorrência de uma

fauna diversificada de morcegos, o que pode estar relacionada à manutenção dos diferentes estratos

florestais e elementos da flora de Mata Atlântica.

A diversidade de hábitos alimentares e estratégias de forrageamento detectadas para as espécies de

morcegos corroboram a conclusão sobre a ocorrência da manutenção da diversidade de habitats,

pois são indicadores eficientes sobre o potencial da área para abrigar diferentes espécies, o que

também garante a continuidade dos processos biológicos fundamentais as diversas paisagens e

elementos do Delta do Rio Doce.

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127

4. MEIO ANTRÓPICO

4.1 Socioeconomia

4.1.1 Introdução

O Brasil é um dos maiores centros de biodiversidade do planeta e conserva uma parte significativa

das reservas naturais, tornando-o um país fundamental na resistência a degradação e exploração

excessiva dos recursos naturais.

A Mata Atlântica merece a máxima atenção pelo grau de importância que exerce na conservação da

sociobiodiversidade. Este bioma cobria aproximadamente 90% da superfície terrestre do Estado do

Espírito Santo. Entretanto, o processo de destruição florestal alterou esta extensão para apenas

cerca de 10% de cobertura natural.

Como os demais Estados brasileiros, o Espírito Santo reconhece a grande responsabilidade na

conservação e proteção dos bens naturais. O manejo, o uso sustentável e a proteção dos recursos

naturais podem ser considerados ferramentas eficazes para a criação e gestão de um modelo mais

adequado para a conservação, não podendo excluir a participação ampla da sociedade.

No processo de desenvolvimento da consciência pela preservação das riquezas naturais, o Instituto

de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema), em parceria com o governo do Estado do Espírito Santo,

realizou estudos com base em áreas eleitas prioritárias para a conservação natural, visando

transformá-las em Unidades de Conservação. Esta atitude representou um esforço conjunto com o

poder público, a comunidade científica, as organizações não-governamentais e cidadãos que

demonstram crescente interesse pela proteção do meio ambiente.

Entre as áreas consideradas importantes e de relevância para a conservação da biodiversidade no

Espírito Santo, o município de Linhares foi contemplado como uma das regiões prioritárias. A área

de estudo incluiu os distritos de Regência e Povoação.

O município de Linhares está localizado ao norte do Estado do Espírito Santo, às margens do Delta

do Rio Doce. Possui uma área de 3460,30 quilômetros quadrados, sendo o maior município em

área territorial estadual. Linhares é cortado pela BR-101 ao longo de toda a sua extensão, uma

rodovia que interliga o sul ao nordeste do Brasil e por onde são escoados os principais produtos da

região.

A população de Linhares, em sua maioria, descende de italianos, caboclos e alemães. As principais

atividades culturais do município estão relacionadas ao folclore, como o congo, festas de

padroeiros, música, literatura, artesanato e artes plásticas. Linhares, conta com 124581 habitantes e

caracteriza-se por apresentar população predominantemente urbana, apesar de muitas famílias

dependerem da agricultura como fonte de renda (IBGE, 2007). A atividade econômica está baseada

principalmente no cultivo do café, cacau, cana-de-açúcar e frutas como mamão, banana, maracujá e

coco.

Nos últimos anos a economia de Linhares ganhou um novo dinamismo, abrindo perspectivas

crescentes de desenvolvimento a partir da ampliação de indústrias e agroindústrias já existentes,

instalação de novos empreendimentos e da descoberta e exploração de grandes jazidas petrolíferas

e de gás natural.

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128

4.1.2 Objetivos

O presente estudo pretende:

Diagnosticar a realidade sócio-econômico-cultural do município de Linhares para subsidiar

o projeto de apoio à criação de Unidades de Conservação no Estado do Espírito Santo;

Identificar os principais problemas e benefícios relacionados ao meio ambiente e à

implementação de Unidades de Conservação e mencionar as potencialidades referentes ao

município de Linhares e seu entorno;

Conhecer iniciativas e projetos já implantados no município por meio de entidades privadas

e públicas que estimulem a consciência pela preservação dos recursos naturais e viabilizem

o desenvolvimento sustentável.

4.1.3 Materiais e métodos

A pesquisa foi constituída por dois métodos básicos: (1) obtenção de informações a partir de dados

secundários, incluindo pesquisas em livros, jornais, revistas, relatórios de atividades das Secretarias

Municipais de Saúde, Educação e Meio Ambiente, relatórios de programas e projetos

desenvolvidos por entidades e organizações sociais como o Instituto Capixaba de Pesquisa,

Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Programa de Assistência Técnica e Extensão

Rural, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) e Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE); e (2) e

obtenção de dados primários a partir de entrevistas com secretários e/ou servidores das Secretarias

Municipais de Saúde, Educação e Meio Ambiente, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Instituto

Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e informantes-chave

residentes no município que compõe a área de pesquisa. Também foram incluídas informações

adquiridas a partir de participações em reuniões com lideranças da área de abrangência do estudo e

conversas informais com moradores das comunidades. O período de desenvolvimento das

atividades de pesquisa ocorreu entre novembro de 2008 e fevereiro de 2009.

4.1.4 Desenvolvimento

4.1.4.1 Informações municipais

A. Histórico

Em 1800, devido ao tráfico de ouro através do Rio Doce e pela implantação do Quartel Militar para

a Proteção da Navegação, surgiu o Povoado de Coutins. Neste cenário, os índios do grupo

Botocudos, nação Gês ou Tapuias, foram os primeiros donos da terra e resistiram à colonização

branca na área, uma realidade alterada com a implantação de um reforço militar que colaborou com

a dizimação dos índios.

Naquela época toda a área era coberta pela Mata Atlântica, sendo aos poucos devastada pela

instalação de povoamentos e atividades de pastoreio e agricultura.

O primeiro povoado foi inteiramente destruído por ataques sucessivos de índios botocudos. Em

1809, outro povoado foi levantado no mesmo lugar, recebendo o nome de Linhares, em

homenagem a D. Rodrigo de Souza Coutinho, o Conde de Linhares. O povoado ficava situado em

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um platô em forma de meia-lua, às margens do Rio Doce. No leste e no oeste do povoado, ficavam

situados dois quartéis militares para avisar a população sobre os prováveis ataques dos indígenas.

Um deles estava situado onde hoje é o Bairro Aviso, enquanto o outro se localizava nas

proximidades de onde fica hoje o Colégio Estadual.

Em 1819, por ordem de Francisco Alberto Rubim, foi feita uma "vista e perspectiva do povoado de

Linhares", havendo a construção da Primeira Igreja sob o patrocínio de Rubim. O povoado foi

construído em volta de uma praça quadrada, a atual Praça 22 de Agosto, que guarda até hoje seu

traçado original, um local em que os índios dançavam e cantavam no passado.

Em abril de 1833, o povoado foi elevado à condição de Vila devido à execução de uma Provisão de

Paço Imperial, sendo a sede do município recebendo também o nome de Linhares, sob a proteção

de Nossa Senhora da Conceição. A Provisão de Paço corresponde, hoje, a um decreto do Presidente

da República. Em 22 de Agosto do mesmo ano, realizou-se a primeira sessão solene da Câmara de

Vereadores do Município de Linhares, dando início a sua vida político-administrativa. Nesta época,

o Brasil era Império, enquanto o Espírito Santo apenas uma Província. Já a Vila consistia na sede

dos municípios, sendo administrados pela Câmara de Vereadores, uma vez que não havia prefeito.

O território do município de Linhares abrangia a região pertencente aos atuais municípios de

Linhares, Rio Bananal, Colatina, Baixo Guandu, Pancas, São Gabriel da Palha, Sooretama e partes

de Ibiraçu, Santa Tereza e Itaguaçu.

No final do século XIX, a Vila de Linhares entra em decadência e o povoado de Colatina, que

pertencia ao município de Linhares, conhece rapidamente o crescimento graças à colonização

italiana e a realização do plantio de café, bem como a inauguração dos trilhos da Estrada de Ferro

Vitória-Minas. Assim, por decreto de 30 de dezembro de 1921, ficou criado o município de

Colatina, englobando a Vila e o antigo município de Linhares. Este fato contribuiu mais ainda com

a decadência de Linhares, um processo verificado ao longo dos 22 anos seguintes.

Em 1930 iniciou-se a abertura de uma estrada que ligaria Vitória ao sul e depois ao norte, até São

Mateus. Este fato, somado ao trabalho de linharenses junto ao Governo do Estado, fez com que

uma nova perspectiva surgisse para o município. No dia 31 de dezembro de 1943, por decisão do

Governo do Estado, o município de Linhares foi restabelecido e desligado do município de

Colatina. O fato foi muito festejado pela população, que passaria a contar com seu primeiro

prefeito nomeado, Dr. Roberto Calmon. A partir de 1943, o município apresentou um

desenvolvimento contínuo e promissor no município de Linhares.

A fundação do povoado ocorreu em 1800 e a criação do município de Linhares em 22 de agosto de

1933. A recriação e nomeação do primeiro prefeito de Linhares ocorreram em 31 de dezembro de

1943.

B. População

O aumento da população de Linhares esteve vinculado à introdução da cultura do cacau. Com a

abertura das vias de comunicação, a partir de 1937; e a construção da ponte sobre o Rio Doce,

houve um crescimento demográfico que foi maximizado pelo asfaltamento da BR-101. No

Governo de Joaquim Calmon, entre 1951 e 1955, numerosas famílias italianas vieram estabelecer-

se nos povoados deste município. Muitos baianos e mineiros ocuparam a região, assim como

migrantes de vários Estados do Brasil. Atualmente, com o cenário comercial de exploração do

petróleo, o aumento da população no município de Linhares continua progressivamente.

Em 2000, o município de Linhares contava com 112617 habitantes. O censo realizado pelo

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Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2007 registrou o aumento da população

para 124581 habitantes. Em 2000, a população urbana era de 92917, sendo que 19700 ocupavam a

área rural. A densidade demográfica passou de 32 habitantes em 2000, para 36 em 2007. A taxa de

urbanização é de 82,5%. A população está concentrada na faixa etária entre 30 e 49 anos.

C. Educação e cultura

O município de Linhares tem como base para o plano de ação a missão de “assegurar a formação

integral das crianças, jovens e adultos para o exercício pleno da cidadania, dando condições de

permanência e acesso equitativo à educação” a partir de sua Secretaria de Educação e Cultura.

Os princípios da política educacional traçados pela Secretaria de Educação incluem prioridades de

educação como um direito do cidadão, escola pública, gratuita e de qualidade,

universalização do ensino, combate ao analfabetismo, apoio à diversidade cultural e gestão

democrática.

A rede municipal de ensino mantém sua estrutura com as seguintes unidades: nove escolas de

ensino fundamental de 1º a 4º ano (4ª série); 13 escolas de ensino fundamental de 1º a 9º ano (8ª

série); 18 escolas de ensino fundamental na zona rural; 24 escolas de educação infantil na zona

urbana e 13 escolas de educação infantil na zona rural.

A Universidade Aberta do Brasil (UAB) e a Faculdades Integradas do Ensino Superior do

Município de Linhares (FACELI), além de oito projetos sociais, também integram a estrutura e

organização de ensino no município.

O número de alunos matriculados na rede municipal de ensino de Linhares consiste em: 7316

alunos de educação infantil; 13545 alunos de ensino fundamental; 250 alunos no Programa

Universidade para Todos (PUPT) e 65 alunos da Universidade Aberta do Brasil, totalizando 21176

alunos.

Os principais programas e projetos da Secretaria de Educação e Cultura de Linhares consistem em:

(1) Programa de Resistência às Drogas e Violência (PROERD); (2) A Gazeta na Sala de Aula; (3)

Programa de Formação de Professores do Ensino Fundamental das séries iniciais (FORMAR); (4)

Pró-letramento de Matemática e Pró-letramento de Ciências (CEFOCO); (5) Associação Pestalozzi

de Linhares Escola Especial "Bem-Me-Quer"; (6) Centro Linharense de Atendimento ao Menor

(CLAM); (7) Projeto Educar; (8) Projeto Meninos da Terra; (9) Seccional Regional de Linhares do

Instituto Histórico e Geográfico (SERLIHGES); (10) Biblioteca Pública Municipal; (11) Projeto

Universidade Para Todos; (12) Projeto Vida (CEVIP); (13) Projeto Violino nas Escolas; (14)

Educacenso; (15) Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos

(ENCCEJA); (16) Transporte Escolar; Estudo sobre Transtorno do Déficit de Atenção com

Hiperatividade (TDAH) e Dificuldade de Aprendizagem, que mobiliza funcionários das escolas da

rede municipal de Linhares; e (17) Corredor literário, para comemorar o dia nacional do livro.

D. Saúde

O município de Linhares conta com 34 unidades assistenciais de saúde próprias, 16 de Serviço de

Apoio ao Diagnóstico e Terapia e um Hospital Filantrópico.

As unidades assistenciais incluem: (1) Unidade de Saúde do Bairro Aviso, (2) Unidade de Saúde do

Bairro Novo Horizonte, (3) Unidade de Saúde de Baixo Quartel, (4) Unidade de Saúde de

Bebedouro, (5) Unidade de Saúde do Bairro Canivete, (6) Unidade de Saúde do Bairro Conceição,

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131

(7) Unidade de Saúde do Bairro Conjunto Juparanã, (8) Unidade de Saúde de Desengano, (9)

Unidade de Saúde do Farias, (10) Unidade de Saúde do Guaxe, (11) Unidade de Saúde de Humaitá,

(12) Unidade de Saúde do Bairro Interlagos I, (13) Unidade de Saúde do Bairro Interlagos II, (14)

Unidade de Saúde de Japira, (15) Unidade de Saúde Jardim Laguna, (16) Unidade de Saúde do

Bairro Linhares V, (17) Unidade de Saúde do Bairro Nova Esperança, (18) Unidade de Saúde de

Perobas, (19) Unidade de Saúde do Pontal do Ipiranga, (20) Unidade de Saúde de Povoação, (21)

Unidade de Saúde de Regência, (22) Unidade de Saúde de Rio das Palmas, (23) Unidade de Saúde

do Bairro Santa Cruz, (24) Unidade de Saúde do Bairro São José, (25) Unidade de Saúde do Bairro

Shell, (26) Unidade de Saúde de Rio Quartel e (27) Unidade de Saúde de São Rafael.

O Centro de Controle de Zoonoses assume os principais programas para controle de zoonoses,

incluindo o Programa de Combate à Dengue e outras endemias como malária, esquistossomose,

leishmaniose, doença de chagas, raiva e tracoma e o Programa de Vigilância Sanitária e Ambiental.

A Unidade Sanitária de Linhares (USL) concentra 24 serviços especializados ambulatoriais, tais

como: Ortopedia, Ginecologia, Neurologia, Pequenas Cirurgias, Pediatria, Psiquiatria, Psicologia,

Clínica Geral, Consulta em Cirurgia Geral e Pediátrica, Astroenterologia, Proctologia, Cardiologia,

Dermatologia, Angiologia, consulta em Cirurgia Plástica, consulta em Cirurgia Cardiovascular,

Endocrinologia, Hematologia, Oftalmologia, Otorinolaringologia, Pneumonologia, Urologia e

Mastologia, servindo de base para as unidades básicas dentro do sistema de referência e contra-

referência.

O Núcleo de Atenção e Promoção da Saúde (NAPS) concentra os programas estratégicos da saúde

e realiza o trabalho de registrar as referências da Equipe da Saúde da Família (ESF), Programa de

Agentes Comunitários de Sáude (PACS) e Unidades Básicas de Saúde do Município (UBS). Além

disto, apresenta uma boa infra-estrutura, contando com 138 funcionários e equipes de profissionais

especializados formadas por médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas,

farmacêuticos, técnicos de enfermagem e cirurgião dentista.

A equipe Núcleo de Atenção e Promoção da Saúde (NAPS) desenvolve os seguintes programas:

Programa de Vigilância Alimentar e Nutricional: tem por objetivo combater à desnutrição em

crianças com idade de 6 a 59 meses e diminuir a mortalidade infantil. Para isto, intensifica a

promoção e o incentivo ao aleitamento materno e se necessário o complementa a partir do leite

artificial modificado, além de um trabalho educativo e preventivo junto aos usuários e seus

familiares;

Programa de Controle da Hanseníase: apresenta como objetivo descobrir sinais e sintomas

dermatológicos, lesões de pele e lesões de nervos periféricos, principalmente nos pés e nas

mãos. A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa de evolução lenta. Apos iniciar o

tratamento o paciente deixa de ser transmissor;

Programa de Controle da Tuberculose: tem por objetivo diagnosticar pacientes com

Tuberculose, uma doença infectocontagiosa de potencial epidêmico diagnosticado a partir de

exames de escarro e raios-x do tórax. A doença encontra-se controlada após 15 a 30 dias do

início do tratamento e o paciente deixa de ser transmissor;

Programa de Planejamento Familiar: tem por objetivo orientar e educar a população que deseja

fazer o uso de métodos contraceptivos para o controle da natalidade, bem como orienta aqueles

que desejam ter filhos. Mensalmente são oferecidas oficinas no Núcleo de Atenção e Promoção

da Saúde (NAPS) pela Equipe da Saúde da Família (ESF) e pelo Programa de Agentes

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Comunitários de Saúde (PACS). São distribuídos gratuitamente preservativos, contraceptivos

hormonais, mini-pílula, injetável trimestral, diafragma e dispositivo intra-uterino;

Programa de Humanização do Parto e Puerpério: tem por objetivo reduzir as taxas de

mortalidade materna e perinatal e fornecer uma melhoria no acesso deste serviço às gestantes

com alto risco de perda do bebê, promovendo uma melhoria na qualidade da assistência em

geral;

Programa Viva Mulher: tem por objetivo reduzir os riscos de mortalidade feminina oferecendo

ações de promoção e prevenção contra doenças junto às equipes de Equipe da Saúde da Família

(ESF), Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e Unidades Básicas de Saúde do

Município (UBS) e demais programas Núcleo de Atenção e Promoção da Saúde (NAPS). O

Viva Mulher conta com profissionais especializados no tratamento de cânceres e reabilitação de

mulheres. O diagnóstico precoce do câncer de mama e colo uterino é primordial nas ações do

programa, onde a Secretaria Municipal de Saúde terceiriza exames de imagem como

mamografia, ultra-som de mama, pélvica, abdominal e exames laboratoriais.

Programa de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)/Síndrome da Imunodeficiência

Adquirida (AIDS) e Hepatite B e C: tem por objetivo desenvolver ações de prevenção, emissão

de diagnóstico precoce e redução da transmissão vertical do Vírus da Imunodeficiência Humana

(HIV)/AIDS, VDRL e Hepatites B e C. O programa atende toda a demanda de Doenças

Sexualmente Transmissíveis encaminhadas pela Equipe da Saúde da Família (ESF), Programa

de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), Unidades Básicas de Saúde do Município (UBS) e

abuso sexual;

Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) em HIV/VDRL/HEPATITES B e C: tem por

objetivo oferecer o teste de da Imunodeficiência Humana (HIV), Venereal Disease Research

Laboratory (VDRL) e marcadores de hepatite, com pré e pós-aconselhamento. Estas doenças

são de transmissão horizontal e vertical. A partir de um diagnóstico precoce reduz-se a

contaminação dos comunicantes sexuais e dos bebês que nasceram de mães com estas

patologias. As máquinas para realização destes exames foram cedidas pelo Programa Nacional

de DST/AIDS bem como os testes de hepatite virais;

Serviço de Atendimento Especializado (SAE): tem por objetivo atender toda a demanda de

pacientes com sorologia positiva para HIV/AIDS e hepatites B e C. Apresenta ambulatório de

média complexidade pela gravidade das patologias e dispõe de uma equipe multiprofissional

para o acolhimento;

Programa de Combate ao Tabagismo: tem por objetivo estimular o indivíduo a deixar o vício do

fumo a partir de atividades de grupo, psicoterapia individual e abordagem cognitiva

comportamental preconizada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA). O cigarro é

considerado o maior agravante externo para o desenvolvimento de diversos cânceres. O

programa desenvolve ações de prevenção e controle do uso do tabaco por crianças; adolescentes

e adultos, intensificando atividades nas escolas, empresas e comunidades a partir uma equipe

multidisciplinar;

Programa de Controle da Hipertensão e Diabetes (HIPERDIA): programa de referência para o

encaminhamento de pacientes com hipertensão e diabetes para o Programa de Agentes

Comunitários de Saúde (PACS), Programa Saúde da Família (PSF) e Unidades Básicas de

Saúde do Município (UBS), havendo atendimento de complicações oculares, lesões vasculares

das extremidades, incluindo o pé diabético, acidente vascular encefálico, diabetes de difícil

controle e rastreamento de complicações crônicas;

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Programa de Imunização: tem por objetivo programar e articular as campanhas do Calendário

Nacional de Vacinação no município, além do controle e logística do estoque de vacinas;

Programa Bota de Una: tem com objetivo o atendimento a pacientes com úlcera venosa. É

referência para todo o Estado. As ações e atendimentos acontecem em grupo a partir do

fornecimento de treinamento para o cuidador do paciente, com orientação específica para um

bom resultado ao longo do tratamento;

Coordenação de Vigilância Epidemiológica: tem por objeto a coleta de dados, análise e

interpretação de dados, recomendações das medidas de controle apropriadas, como medidas de

bloqueio e vacinas; monitorar, avaliar, investigar e alimentar os sistemas de informação do

Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), Sistemas de Informações sobre

Mortalidade (SIM), Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), que são

indispensáveis para a geração do perfil epidemiológico municipal;

Centro de Fisioterapia de Linhares (CEFIL): tem como finalidade servir de referência às demais

Unidades de Saúde para realização dos procedimentos de reabilitação dos pacientes;

Hospital Geral de Linhares (HGL): realiza serviços de média complexidade. Dentro do Espaço

Físico do HGL, funciona o Laboratório Municipal onde são realizados os exames HIV, VDRL e

os marcadores de Hepatite B e C colhido no CTA - Centro de Testagem e Aconselhamento.

E. Habitação e saneamento

No setor habitacional, o município de Linhares acompanha o desenvolvimento econômico e

apresenta uma expansão de novas construções tanto na área urbana, quanto na zona rural. Foram

registrados 24124 domicílios permanentes urbanos, enquanto a área rural conta com 4833

domicílios (IBGE, 2000). O perímetro urbano é composto por 26116 famílias, enquanto a zona

rural apresenta 5142 famílias. Estes dados demonstram uma concentração urbana para os residentes

do município, o que confirma a taxa de 82% de urbanização. Referindo-se aos domicílios urbanos,

21436 são constituídos por casas e 2366 por apartamentos. Na área rural, 4788 domicílios são

constituídos por casas e apenas 13 compõem a modalidade de apartamento.

Quanto à forma de utilização dos domicílios, 72% dos proprietários ocupam os imóveis na área

urbana, enquanto 14% habitam os imóveis na condição de inquilinos. Na área rural, 67% dos

domicílios constituem-se de imóvel próprio e totalmente quitado, com apenas 12% sendo alugados.

A média de moradores por domicílio nas residências urbanas é de 3,8 habitantes, enquanto a área

rural abriga 4 habitantes por domicílio.

No setor de saneamento, o município necessita de investimentos cada vez mais elevados fornecidos

pelo poder público para acompanhar e atender a estrutura e a necessidade da população nos

aspectos básicos.

Considerando a rede de distribuição de água, o sistema canalizado atende a 74% da população,

enquanto 12,3% dos moradores utilizam a água de nascentes ou poços instalados na propriedade.

A rede geral de saneamento atende 49% da população. Muitos ainda utilizam a fossa rudimentar,

um padrão que atinge 35,3% da população; enquanto 7% dos moradores mantêm a fossa séptica,

com 5% do esgoto lançados em rios, lago ou no mar. Quanto ao destino do lixo, ocorre a coleta de

79% do que é produzido, queima ou enterro de 15,5% e um acúmulo de 4,5% em terrenos ou

propriedades.

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F. Atividade econômica e agropecuária

Durante as décadas de 1950 a 1970, a economia de Linhares experimentou um crescimento

vertiginoso, sustentado basicamente pela exploração predatória de madeira nativa e expansão das

atividades agrícolas. Na década iniciada em 1980, Linhares viveu um período de estagnação

econômica principalmente devido à crise na agricultura e em especial ao fim do ciclo da madeira, o

que provocou a transferência estadual ou fechamento de mais de 200 serrarias que havia no

município.

A partir de meados da década iniciada em 1990, a economia de Linhares voltou a crescer,

principalmente devido à modernização da agricultura e ampliação do setor de comércio e serviços

envolvidos com a ampliação do setor industrial.

De um modo geral, a economia de Linhares cumpriu um ciclo semelhante ao da economia do

Espírito Santo. Foi progressivamente passando de um perfil predominantemente agrícola para um

perfil mais industrial. O processo de industrialização estadual ganhou força a partir dos grandes

projetos industriais nas décadas iniciadas em 1960 e 1970, como a usina de pelotização da

Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), a Aracruz

Celulose e a Samarco Mineração.

Este processo teve continuidade após a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

(SUDENE) incluir o município de Linhares em 1998, o que colaborou com a ampliação do pólo

moveleiro, de indústrias metalmecânicas e de agroindústrias.

Linhares, juntamente com os demais municípios do norte do Espírito Santo e do norte do Estado de

Minas Gerais, faz parte de uma região considerada como transição entre o Sudeste e o Nordeste do

Brasil. A partir de 1998, todos os municípios desta zona territorial, apesar de pertencerem à Região

Sudeste, passaram a fazer parte da área de abrangência da Agência para o desenvolvimento do

Nordeste (ADENE). Esta incorporação abriu perspectivas novas de desenvolvimento, uma vez que

Linhares localiza-se próxima aos grandes centros consumidores nacionais do Rio de Janeiro e São

Paulo, além de se encontrar no eixo principal da BR-101 e possuir um Aeroporto distando pouco

mais de 120 quilômetros do Aeroporto de Vitória e dos principais portos do Espírito Santo, o que

facilita o acesso aos mercados internacionais.

Um dinamismo recente ocorre sobre a economia de Linhares e um novo ciclo de ampliação de

indústrias e agroindústrias já existentes e de novos empreendimentos vem surgindo como

consequência da descoberta e exploração de grandes jazidas de gás natural.

As principais atividades econômicas de Linhares nos setores produtivos são compostas por: (1)

Setor Primário ou Setor Agropecuário com café, cacau, mamão, banana, maracujá, coco, cana-de-

açúcar, seringa e eucalipto; (2) Setor Secundário ou Setor Industrial e Agroindustrial com indústria

de móveis, agroindústria de sucos prontos e polpa, indústrias metalmecânicas, agroindústria de

álcool, indústria de exploração de petróleo e gás, agroindústria de frangos, indústria de confecções

e indústria de beneficiamento de rochas ornamentais e (3) Setor Terciário ou de Comércio e

Serviços com comércio varejista, comércio de máquinas, equipamentos e insumos agrícolas,

serviços nas áreas de educação, saúde e manutenção de veículos.

O município destaca-se ainda por ser o maior produtor e exportador brasileiro de mamão para a

Europa e Estados Unidos, sendo a Gaia e a Caliman as maiores empresas. Além disto, destaca-se

por apresentar uma das redes industriais moveleiras mais relevantes do Brasil; pela produção de

álcool, pela produção de cacau, pela produção de confecções e pela produção de petróleo e gás

natural.

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135

Nos últimos anos, Linhares conseguiu atrair para o seu território os mais importantes

empreendimentos industriais instalados no Espírito Santo: Brametal, Perfilados Rio Doce, Indústria

de Sucos Mais/Coca-Cola, Ducôco, Trop Frutas do Brasil, De Carli Mármore e Granito e Imetame

Granitos.

Linhares participou com 6,5% dos dez mil novos postos de trabalho no Espírito Santo a partir de

suas 10335 empresas e nove instituições financeiras e se destaca como o município espírito-

santense que mais gera empregos com carteira assinada, superando inclusive Vitória, que

participou com apenas 1% do total.

Considerando a Microrregião Pólo Linhares, 37,3% do capital estão concentrados essencialmente

nas atividades de extração de petróleo, enquanto 37% estão associados à fabricação de outros

equipamentos de transporte, uma perspectiva de investimentos basicamente ligada à construção

naval. Outro destaque se refere aos investimentos na atividade de fabricação de celulose e na

silvicultura do eucalipto, que, juntos correspondem a 7,2% do total de investimentos. Em escala

menor está a previsão de investimentos no setor de construção, colaborando com apenas 5,3%.

Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a estrutura fundiária

municipal envolve 63% dos 2111 proprietários rurais existentes no município de Linhares sendo

composta por agricultores familiares que detém 45323 hectares. Isto representa 20% da área total

abrangida pelos estabelecimentos rurais no município. A partir destes dados, pode-se verificar um

padrão de concentração fundiária característico.

Na distribuição percentual das propriedades rurais de Linhares quanto ao tamanho, verifica-se que

dos 2111 estabelecimentos rurais pertencentes a agricultores familiares, apenas 144 deles estão

acima de 100 hectares, uma faixa que apresenta mais de 50% dos estabelecimentos rurais do tipo

patronal. A maioria dos estabelecimentos familiares ou 60% das propriedades concentra-se na faixa

com 5 e 50 hectares de extensão (Tabela 30).

Tabela 30. Distribuição percentual das propriedades

Área (hectares) Familiar Patronal

Menos de 5 13,6 0,6

Entre 5 e 20 39,2 9,1

Entre 20 e 50 26,8 20,2

Entre 50 e 100 13,5 18,0

Mais de 100 6,8 52,1

Fonte: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

Os agricultores familiares e pescadores artesanais encontram-se organizados em associações,

cooperativas, colônias e sindicatos. Muitas associações de produtores e de moradores rurais foram

criadas durante o início da década de 90 do século XX. As principais associações são: (1)

Associação dos Produtores de Cacau de Linhares (ACAL), (2) Associação das Mulheres

Trabalhadoras Rurais do Espírito Santo (AMUTRES), (3) Associação dos Piscicultores do Guaxe

(APIGUA), (4) Associação de Moradores da Localidade de Bagueira, (5) Associação Pequenos

Produtores Córrego Farias (APRUCOF), (6) Associação de Produtores e Moradores de Baixo

Quartel, (7) Associação Escola-Comunidade (AEC), (8) Associação Moradores de Japira e Região,

(9) Associação Produtores Rurais Córrego Dr. Jones, (10) Associação Produtores Rurais Córrego

Dr. Jones, (11) Associação de Pescadores do Degredo, (12) Associação de Moradores e Produtores

Rurais do Degredo, (13) Associação de Mulheres do Degredo e (14) Associação de Comerciantes e

Colaboradores e amigos do Pontal do Ipiranga (ACAPPI).

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G. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) municipal

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) municipal é uma medida comparativa de qualidade

de vida do município. Para chegar ao resultado do IDH são observados a riqueza da população,

especificamente a renda per capita; a taxa de alfabetização, a esperança de vida ao nascer, a

frequência escolar, o índice de esperança de vida e de educação, além de outros fatores. Este índice

possibilita uma padronização de avaliação e medida do bem-estar de uma população, especialmente

do bem-estar infantil. O IDH do município de Linhares é de 0,757, enquanto o Estado do Espírito

Santo registra um IDH de 0,767 e o Brasil de 0,766.

4.1.5 Informações sobre as comunidades

4.1.5.1 População, infra-estrutura e organização social

A. Regência

A Vila de Regência Augusta situa-se na margem sul da foz do Rio Doce, em Linhares, distando 56

quilômetros da sede do município e 125 quilômetros de Vitória pela rodovia ES-010. Seu limite

territorial coincide com o término da área da Reserva Biológica de Comboios, com a qual tem

grande relação.

Ocupando uma área de cerca de 40 hectares, possui 1157 habitantes, pertencentes a 471 famílias,

com 65,2% da população presente na faixa economicamente ativa e possuindo renda mensal média

de um salário mínimo.

Dos 471 imóveis da Vila, 389 são residenciais e 83% das famílias possuem residência própria. São

residentes permanentes 71,5%, enquanto 52% da população residem na Vila há menos de 12 anos.

Por outro lado, 28,5% dos imóveis pertencem a residentes sazonais, provenientes principalmente de

Linhares. As principais atividades econômicas estão envolvidas com a pesca, o Projeto TAMAR,

vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Petrobras,

empreiteiras, comércio e atividades voltadas para o desenvolvimento municipal e ligadas à

prefeitura.

Na Vila de Regência, 30,7% dos moradores são crianças e adolescentes com idade entre 1 a 13

anos, caracterizando famílias numerosas. Quanto à escolaridade, verifica-se um baixo nível escolar,

já que 16,7 % da população possuem o ensino fundamental incompleto e apenas 2,5% possui o

ensino médio completo. Vale acrescentar que este quadro pode ser revertido futuramente,

considerando que a população é constituída por jovens e conta com uma frequência elevada de

estudantes. A maior reivindicação da comunidade é por uma escola de ensino médio. O

desemprego atinge 5,47% dos moradores da Vila de Regência.

Considerando o nível de escolaridade, renda familiar e os bens de consumo, as diferenças sociais

entre os moradores de Regência podem ser identificadas de forma acentuada.

A água utilizada pelos moradores é canalizada em quase todos os imóveis. Os domicílios que não

são contemplados pela rede canalizada de distribuição de água possuem poço próprio e instalação

de bomba para o abastecimento.

Com relação ao destino do lixo, a coleta é feita pela Prefeitura Municipal de Linhares. Muitos

moradores adotam a coleta seletiva, outros estão habituados a queimar, enterrar ou jogar o lixo nos

terrenos. Na comunidade, pode ser observada uma consciência sobre a importância correta do

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destino do lixo, com os moradores sendo incentivados pelas associações a praticarem uma coleta

seletiva.

A Vila de Regência conta com moradores de expressiva participação e envolvimento na

comunidade, sendo que a maioria dos residentes está vinculada a uma associação. A organização

com maior número de participantes é a Associação de Moradores de Regência (AMOR), que tem

por objetivo discutir e buscar alternativas para o desenvolvimento da comunidade. Esta iniciativa

demonstra que os moradores, além da preocupação e importância do desenvolvimento local,

exercem plenamente a cidadania e buscam por uma qualidade de vida melhor na comunidade a

partir de uma organização.

Os principais problemas que afetam a comunidade de Vila de Regência estão relacionados à falta

de escola para atender alunos com necessidade de cursarem o ensino médio, a precariedade do

posto de saúde e a falta de posto bancário. Deste modo, as prioridades a serem desenvolvidas em

parcerias com o Poder Público Municipal e Estadual para a melhoria da qualidade de vida na

comunidade de Regência são a educação, a saúde e a oferta de serviços especializados. A

instalação de um posto policial também é solicitada pela comunidade.

A população economicamente ativa na vila de Regência é composta por 65% dos cidadãos e

apresenta uma faixa etária entre 14 e 65 anos. As profissões e ocupações mais frequentes estão

relacionadas à educação, saúde, serviços sociais, coletivos, pessoais e domésticos. Em virtude da

organização social já mencionada com base nas associações, há um grande interesse nas áreas que

promovem a geração de emprego e renda, como mecânica, educação, abertura de micro-empresas,

indústrias e turismo.

A população jovem busca o desenvolvimento econômico pessoal e comunitário com a garantia de

estabilidade empregatícia, rompendo com uma tradição econômica de extrativismo baseada na

pesca e agricultura sem uma estabilidade de renda ou relação formal de trabalho.

B. Povoação

A Vila de Povoação situa-se às margens norte do Rio Doce, em Linhares, distante 36 quilômetros

da sede do município e 160 quilômetros de Vitória, pela BR-101. A área ocupada pela Vila é de 29

hectares e a população é de cerca de 1000 habitantes, dos quais 57% não possuem fonte de renda

fixa e apresentam renda mensal média de R$ 99,00. Dos 370 imóveis locais, 92,1% são ocupados

por residentes permanentes. A residência própria é uma realidade para 83% das famílias. As

principais atividades econômicas são as ligadas à pesca, à agricultura e à educação.

C. Comboios

A explicação mais usual para a origem do nome faz referência a organização de brancos

colonizadores em comboios e caravanas, visando o desbravamento e exploração da região quando

ela ainda era habitada pelos índios botocudos.

A Reserva Biológica de Comboios foi criada pelo Governo Federal em 25 de setembro de 1984,

com os atuais 833 hectares. Situada no Delta do Rio Doce, Comboios é a única Reserva Biológica

costeira da Região Sudeste, sendo considerada de extrema importância biológica. Uma das

principais razões para a implantação da Reserva Biológica de Comboios foi o fato de a região

constituir-se na única área de concentração de desova da tartaruga-gigante no Brasil, cuja

população vem sendo protegida desde 1982 pelo Projeto TAMAR.

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Importantes ecossistemas estão preservados ao longo de sua extensão, porém sua dimensão

reduzida indica a necessidade de ampliação das ações de conservação para o entorno com o

objetivo de recuperar áreas e reorientar a utilização dos recursos naturais.

A Reserva limita-se ao sul pela Reserva Indígena de Comboios, ao norte pela Vila de Regência, a

leste pelo Oceano Atlântico e a oeste pelas diversas propriedades rurais utilizadas principalmente

para a pecuária.

Além da pecuária, o cultivo do cacau, turismo, pesca, atividades de exploração e transporte de

petróleo são realizadas na região. Uma série de estradas cruza o limite da Reserva Biológica e seu

entorno e dão acesso às pequenas comunidades de Regência, Areal, Comboios e Povoação.

O entorno é habitado pela comunidade indígena Tupiniquim, contando com 384 integrantes. A área

ocupa 2983,65 hectares de solos arenosos, cobertos de vegetação de restingas, roças de mandiocas

e pastagens. A totalidade da população, cerca de 73 famílias, vive em um pequeno aldeamento

central próximo ao Rio Comboios, apresentando também áreas próximas à praia e à Reserva

Biológica sem povoamento.

A comunidade possui posto de saúde, escola municipal, uma igreja católica e um posto da

Fundação Nacional do Índio (FUNAI). A subsistência é obtida por meio da pesca no Rio

Comboios, no mar, a partir de plantios de mandiocas, pequena criação de gado, artesanato

incipiente e mais recentemente do cultivo de feijão em uma área de 96 hectares.

Cerca de 83% da área no entorno da Reserva Biológica de Comboios é ocupada por propriedades

extensas, cujos proprietários não residem no local. A pastagem com pecuária extensiva ocupa 46%

da área e a agricultura de subsistência é utilizada em menor escala nas pequenas propriedades e na

Reserva Indígena de Comboios.

4.1.5.2 Problemas ambientais

A Reserva Biológica de Comboios e seu entorno recebem influência do Rio Doce e do Rio

Comboios. O Rio Doce, com uma extensão de 875 km, é o principal corpo d’água da região e do

Estado, sendo responsável pela formação e pelo regime de águas de toda a Planície Costeira do Rio

Doce.

Diversas ilhas são formadas pela deposição de sedimentos erodidos nas cabeceiras e são ocupadas

gradativamente por atividades agrícolas. Nas ilhas mais antigas, onde está presente a Floresta de

Aluvião, é cultivado o cacau, enquanto as ilhas mais recentes estão submetidas ao cultivo de

banana, a cultura mais comum. Os desmatamentos ao longo deste rio estão acelerando o processo

de formação de ilhas e diminuindo a profundidade de seu leito.

Com cerca de 30 quilômetros, o Rio Comboios é formado pela drenagem das várzeas litorâneas

localizadas ao sul do Rio Doce. O Rio Comboios anteriormente se ligava ao Rio Doce e corria no

sentido norte-sul estadual, paralelo à costa, desaguando no Rio Riacho, próximo à sua foz, mas

atualmente recebe águas do Rio Doce através de um canal artificial.

As lagoas da região, juntamente com os rios e pântanos, formam um rico e complexo sistema de

corpos d’água, um cenário que foi alterado intensamente pelos desmatamentos e dragagens

realizadas ao longo das últimas décadas. Além da retirada das matas ciliares, a poluição e a

introdução de diversas espécies exóticas de forma acidental ou intencional causaram grandes

impactos sobre os componentes dos rios e lagoas da região.

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139

Os problemas regionais principais apresentam-se sob duas dimensões: (1) macro-problemas

ambientais e sociais e (2) problemas por eixo de desenvolvimento.

Os macro-problemas ambientais e sociais incluem: (1) ocupação desordenada dos espaços, (2)

estagnação econômica, (3) pressões antrópicas sobre o ambiente, (4) ausência de escolas

profissionalizantes, (5) tendência de redução dos recursos naturais, (6) degradação ambiental, (7)

baixo aproveitamento do uso do solo e (8) ausência de oportunidades de trabalho e renda.

Os problemas por eixo de desenvolvimento subdividem-se nas seguintes áreas: (1) problemas no

ecoturismo; (2) pesca; (3) agricultura e (4) serviços.

Os problemas enfrentados pelo ecoturismo consistem em: (1) estradas ruins sem a devida

sinalização, (2) recursos humanos turísticos de baixa qualificação profissional, (3) inexistência de

equipamentos para recreação e roteiros ecoturísticos, (4) ausência de estruturação da oferta

turística, (5) ausência de acesso via travessia do Rio Doce e (6) deficiências em hospedagem e

alimentação.

Os problemas enfrentados pela pesca incluem: (1) assoreamento do Rio Doce e fechamento sazonal

da barra, (2) limitações de porte e de condições adequadas das embarcações para pesca em alto-

mar, (3) falta de qualificação de mão-de-obra e capacitação, (4) declínio do estoques pesqueiros

tradicionais, (5) produção insuficiente, (6) dificuldades de acesso ao mercado e (7) pesca

predatória.

As dificuldades apresentadas pela agricultura são: (1) ausência de condições de acesso a terra, (2)

migração da mão-de-obra para outros setores e (3) ausência de incentivo à agricultura familiar.

Finalmente, as deficiências vinculadas aos serviços incluem: (1) ausência de capacitação

profissional e (2) ausência de empresa prestadora de serviços local.

4.1.5.3 Potencialidades

Com base no Plano de Desenvolvimento Integrado e Sustentável das Comunidades do Entorno da

Reserva Biológica de Comboios, denominado Plano Comboios, podem ser identificadas as

principais potencialidades para o desenvolvimento econômico e social das comunidades a partir do

uso responsável dos recursos naturais.

A vocação turística já é uma realidade na região e incluem a integração de Regência e Povoação

devido a seus atrativos naturais e à sua importância ecológica e cultural. O potencial de

crescimento e profissionalização da atividade do turismo é reconhecido em diversos estudos.

A comunidade, por sua vez, possui conhecimento desta vocação local e vem demonstrando

interesse quanto ao investimente nesta atividade, consciente de que o desenvolvimento sem

planejamento pode comprometer a qualidade de suas vidas e destruir o principal produto turístico; a

paisagem natural.

Nesta perspectiva, foi criado o Plano Indutor de Desenvolvimento do Ecoturismo, com a finalidade

de contribuir para a ampliação de renda da população, geração de postos de trabalho e o incremento

na arrecadação de impostos, incentivando a conservação ambiental e cultural e buscando

implementar melhorias sociais para as comunidades da região.

O programa contempla as seguintes ações: (1) criação da Comissão de Ecoturismo, (2) elaboração

do Calendário de Eventos, (3) implementação da Central de Reservas e Informações, (4)

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organização de roteiros turísticos, (5) formação e capacitação de monitores e guias, (6) melhoria da

sinalização de estradas e pontos turísticos e (7) melhorias de infra-estrutura de alojamentos e

pousadas. Os resultados desta forma coletiva de atuação são essenciais para a valorização da auto-

estima e o reconhecimento do potencial das pessoas formadoras das comunidades.

O meio ambiente local ainda encontra-se relativamente preservado e a comunidade está disposta a

buscar soluções de interesse comum, o que propicia uma vantagem para a construção de um plano

de soluções dos problemas comuns, onde todos possam participar dos resultados e da divisão dos

benefícios.

4.1.6 Considerações finais

O Estado do Espírito Santo, outrora totalmente coberto pela Mata Atlântica, apresenta atualmente

somente cerca de 10% da sua cobertura original. São necessários esforços urgentes e um potencial

coletivo para diminuir a agressão do homem sobre os recursos naturais visando estabelecer o seu

equilíbrio e manutenção.

Também é necessária a melhoria das condições de vida das populações que dependem direta e

indiretamente dos recursos naturais deste bioma. Neste contexto, as Unidades de Conservação de

uso indireto ou de uso sustentável se tornam ferramentas muito úteis ao longo do processo de

manutenção da sociobiodiversidade.

No município de Linhares, mais especificamente nas comunidades de Regência, Povoação e

Comboios, há um consenso na busca de soluções e alternativas para o desenvolvimento,

conservação e o uso sustentável dos recursos naturais. A vocação turística da região torna-se cada

vez mais intensa e a implementação de uma sustentabilidade efetiva apresenta-se como parte de

garantir a continuidade da existência de uma sociobiodiversidade íntegra.

Desta forma, justifica-se a criação de uma área de conservação para garantir um desenvolvimento

mais justo, que vise a sustentabilidade ambiental e econômica, com ganhos sociais para todos.

Conclui-se ainda, que a iniciativa pela preservação caracteriza uma importante estratégia para o

desenvolvimento do município e para a superação de problemas sociais e econômicos da

população.

4.2 Educação Ambiental

4.2.1 Introdução

O Projeto Saberes da Mata no campo da Educação Ambiental propôs-se a um trabalho diferenciado

para a área do Delta do Rio Doce, principalmente quanto ao meio antrópico e suas ações de

participação social. O conhecimento prévio da existência de um trabalho de Educação Ambiental

local desenvolvido pelo Projeto Ecocidadania nas localidades de Regência, Povoação e Pontal do

Ipiranga colaborou para que fosse realizada uma pesquisa de modo semelhante a um mapeamento

com destaque e delimitação de práticas e atividades ligadas a Educação Ambiental desenvolvidas

pelos educadores presentes nestas três localidades. Além disto, uma caracterização do perfil dos

educadores ambientais que atuam na região também foi elaborada.

Eesta pesquisa diagnóstica permitiu dar uma maior visibilidade às iniciativas de Educação

Ambiental desenvolvidas por atores sociais regionais e teve por objetivo analisar os contextos de

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141

atuação dos praticantes, os principais temas trabalhados e as estratégias utilizadas nas práticas

educativas implantadas.

4.2.2 Materiais e métodos

A pesquisa teve um caráter qualitativo e utilizou o método de busca ativa a partir de idas aos locais

previamente identificados e que fornecessem uma maior probabilidade de encontro com os

possíveis entrevistados, sendo complementada pela abordagem domiciliar de outros entrevistados.

O número de entrevistados na área de estudo do Delta do Rio Doce foi de oito. O critério de

escolha consistiu na atuação desempenhada por estes indivíduos em projetos e atividades de

Educação Ambiental locais. Neste sentido, optou-se pelo enfoque em pessoas-chave que atuem em

práticas socioambientais cotidianas instituídas ou em processo de instituição na região.

Além disto, vale ressaltar que houve uma conversa inicial com o coordenador do Projeto

Ecocidadania, Carlos Sangalia, permintindo um levantamento prévio sobre a realidade local. Esta

entrevista auxiliou no processo posterior de aplicação dos questionários para obtenção de dados

sobre iniciativas socioambientais da região.

4.2.2.1 Definição dos agentes pesquisados

O primeiro a ser entrevistado foi Carlos Sangalia, coordenador do Projeto Ecocidadania. A

entrevista ocorreu em dezembro de 2008 no escritório do Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica

(Ipema). Após esta etapa, a equipe de Educação Ambiental do projeto, juntamente com o

pesquisador do socioeconomia, realizou visitas a área do Delta do Rio Doce em dezembro de 2008,

havendo destaque para a área de Regência. O objetivo foi conhecer a realidade local.

Ao longo das visitas também foram realizados alguns diálogos informais com integrantes do

Projeto Ecocidadania e da Fundação Pró-Tamar, o que possibilitou à identificação de pessoas

envolvidas com a área proposta para a criação da Unidade de Conservação.

Uma nova série de visitas foi realizada em janeiro de 2009 nas localidades de Pontal do Ipiranga,

Regência e Povoação, havendo a participação da equipe de mobilização, comunicação e Educação

Ambiental do porjeto na reunião do Conselho Gestor do Ecocidadania, que foi realizada em Pontal

do Ipiranga, um evento em que foram aplicados os questionários.

4.2.2.2 Coordenação da pesquisa

Após o contato realizado em dezembro para o reconhecimento da área e seus possíveis

informantes-chaves, foram aplicados dez questionários em janeiro de 2009. Por fim, as

informações coletadas sobre os educadores ambientais representaram a situação dos envolvidos

com a Educação Ambiental na região do Delta do Rio Doce.

4.2.2.3 Instrumentos de pesquisa

Um questionário contendo 19 questões semi-estruturadas também foi aplicado como instrumento

de pesquisa, além da inclusão de informações a partir da entrevista com o coordenador do Projeto

Ecocidadania.

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142

4.2.3 Resultados

4.2.3.1 Identificação dos entrevistados

Dos dez questionários aplicados, apenas oito foram respondidos pelos informantes-chave

envolvidos com o Delta do Rio Doce. Os dados coletados forneceram informações sobre

localidades de Pontal do Ipiranga, Povoação e Regência. Os entrevistados também foram

categorizados quanto ao sexo, sendo 50% do sexo feminino e 50% do masculino. Em relação à

faixa etária, o grupo de entrevistados foi composto por 38% de indivíduos apresentando entre 41 e

50 anos; seguido por 37% com 20 a 30 anos e os 25% restantes com 31 a 40 anos (Figura 116).

Figura 116. Distribuição etária dos entrevistados envolvidos com atividades de Educação Ambiental.

4.2.3.2 Perfil socioeducacional

Os entrevistados atuam às vezes em duas instituições distintas, com quatro pessoas trabalhando

tanto no Projeto Ecocidadania quanto na Agência de Sustentabilidade Comunitária da Planície

Costeira do Rio Doce (ASCORDE). Três pessoas integram a Fundação Pró-Tamar. A Escola

Estadual de Ensino Fundamental Vila Regência também foi indicada como instituição de atuação.

No que diz respeito ao cargo e papel social, os entrevistados atuam na coordenação local e geral do

Projeto Ecocidadania desempenhando as funções de biólogo executor, professora e supervisor

administrativo.

Quanto ao tempo de atuação dedicado a Educação Ambiental, 50% dos entrevistados possuem

período de trabalho superior a dez anos neste ramo de atividade, enquanto 37% atuam de dois a

cinco anos na área (Figura 117).

Figura 117. Tempo de atuação na área de Educação Ambiental dos entrevistados.

Quanto à escolaridade, 63% dos entrevistados possuem o ensino superior completo. As áreas de

formação incluem Pedagogia, Artes Visuais, Ciências Biológicas e Contabilidade. Do universo de

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entrevistados, quatro possuem pós-graduação, havendo destaque para as áreas de Biologia Animal,

História, Gestão Empresarial, Saúde Pública e Biologia da Conservação (Figura 118).

Figura 118. Nível de escolaridade dos entrevistados.

A remuneração dos entrevistados que trabalham como educadores variou consideravelmente, com

72,41% apresentando uma renda familiar de 1 e 3 salários mínimos; 17,24% com renda menor que

um salário mínimo; 6,9% com renda familiar entre 4 e 6 salários mínimos e 3,45% com renda

acima de 10 salários mínimos.

Em relação ao campo de atuação, mas especificadamente em Educação Ambiental, respostas

múltiplas surgiram quanto à localidade e quanto à instituição em que trabalham (Figuras 119 e

120).

Figura 119. Setores de atuação dos entrevistados.

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Figura 120. Localidades de atuação dos entrevistados.

4.2.3.3 Participação e organização social

A investigação sobre a participação social aponta que a maioria dos oito entrevistados atua em

organizações sociais ligadas a algum movimento ou rede, participa de listas de discussão sobre o

tema e tem atuação em alguma Organização Não-Governamental (ONG), inclusive colaborando

com fóruns de discussão e comitês de Educação Ambiental (Figura 121).

Figura 121. Setores e atividades sociais que contam com a atuação dos entrevistados.

4.2.3.4 Aspectos ambientais

A área de atuação e demandas de Educação Ambiental mencionadas pelos entrevistados apontou

para a necessidade prioritária e urgente de financiamento de atividades ambientais em andamento,

necessidade de elaboração de materiais educativos, realização de cursos de formação e

fornecimento de apoio institucional (Figura 122).

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122. Áreas de atuação e demandas dos programas de Educação Ambiental no Delta do Rio Doce.

Em relação ao desenvolvimento da Educação Ambiental pelos educadores, a maioria respondeu

que trabalha com o cotidiano escolar e por meio de projetos. Em seguida, aparecem atividades

ligadas à realização de palestras e atividades artístico-culturais visando o desenvolvimento da

Educação Ambiental. Um fato que chama atenção nestes dados é a pouca articulação com áreas de

pesquisa científica (Figura 123).

Figura 123. Áreas de desenvolvimento de Educação Ambiental apresentadas pelos entrevistados.

Os problemas ambientais existentes na região e que apareceram com maior preponderância

ocorrem na seguinte ordem de frequencia: (1) ausência de rede de esgoto, (2) presença de atividade

de caça, (3) falta de atividades de Educação Ambiental, (4) realização de desmatamento, (5)

ausência de água potável, (6) presença de poluição das águas e (7) presença de queimadas e

incêndios (Figura 124).

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Figura 124. Principais problemas ambientais presentes na região do Delta do Rio Doce.

Apesar de a região apresentar preocupação com a questão da rede de esgoto, que é insatisfatória na

opinião dos entrevistados, os problemas ambientais mais graves incluem a prática de caça, seguida

pelas questões do tratamento de lixo e ocupação do solo por petróleo (Figura 125). O fator caça

também aparece como importante.

Figura 125. Problemas ambientais mais graves presentes na região do Delta do Rio Doce.

Um maior investimento em educação e escolas aparece como principal solução para os problemas

ambientais, seguido por uma necessidade da participação popular e do poder público maior que a

observada e pela necessidade de promoção de mais eventos de conscientização e mobilização

(Figura 126).

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Figura 126. Soluções indicadas para a redução ou eliminação dos problemas ambientais locais.

Quando os entrevistados foram perguntados sobre quais atores ou entidades podem solucionar os

problemas ambientais locais, as respostas apontaram para a seuinte multiplicidade: (1) Prefeitura;

(2) Política Ambiental; (3) contratação de funcionários; (4) próprios moradores; (5) Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e (6) por meio de uma

ação conjunta envolvendo o Governo, entidades e sociedade.

Questionados quanto à importância da criação de uma Unidade de Conservação para a região,

100% responderam que consideram a iniciativa de importância fundamental para o equilíbrio

ambiental e social da região. Os entrevistados acreditam que a região possui uma diversidade de

paisagens e alto grau de espécimes de fauna e flora comuns, endêmicos, raros e em vias de

extinção. Além disto, segundo dois entrevistados, a existência de uma Unidade de Conservação

melhoraria a qualidade de vida e proporcionaria uma nova visão ambiental para os habitantes ou

visitantes do Delta do Rio Doce, enquanto outros dois acreditam que ocorrerá uma melhoria na

conscientização e na garantia de preservação das áreas.

Em uma análise sobre os benefícios que, porventura, uma Unidade de Conservação possa trazer

para a região, foi destacado o aumento na renda da comunidade mediante a realização de atividades

de turismo, a intensificação da preservação e a valorização e sensibilização sobre a região (Figura

127). A predominância de jovens na população local pode ser um fator favorável para a realização

de atividades ligadas a práticas de ecoturismo, esportes aquáticos ou radicais, vindo a suprir a

necessidade por empregos que podem ser providenciados a partir de cursos técnicos voltados para o

artesanato e práticas turísticas.

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Figura 127. Possíveis benefícios como consequência da criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio Doce.

4.2.4 Conclusão

O diagnóstico sobre a Educação Ambiental no Delta do Rio Doce revelou a prática de iniciativas

socioambientais presentes na região. Neste contexto, notou-se que existe uma diversidade

significativa de interações entre o campo da educação, gestão cultural e dos movimentos de ação

social emergentes nas localidades.

De acordo com os dados qualitativos coletados nas entrevistas, pode-se observar que a presença do

Projeto Ecocidadania desempenha um papel fundamental na região quanto às iniciativas sociais e

ambientais, uma vez que ele é referência para os diversos atores sociais pesquisados. Além disto, a

criação de um Conselho Gestor do Projeto em 2003 possibilitou uma maior integração com as

comunidades.

Cabe destacar que o Conselho Gestor foi uma espécie de embrião para a criação da Agência de

Sustentabilidade Comunitária da Planície Costeira do Rio Doce (ASCORDE), reunindo assim

professores, técnicos das Secretarias Municipais, Fundação Pró-Tamar e associações comunitárias

como as mulheres dedicadas ao artesanato e comunidades de pescadores. Ainda no âmbito

participativo, a região apresenta, juntamente com o Conselho Gestor, uma série de fóruns de

discussões em cada comunidade e os Comitês Comunitários de Turismo.

Em relação aos trabalhos realizados com as escolas, nota-se que o Projeto Ecocidadania tem

contribuído bastante para a implantação de três laboratórios de ensino de Ciências em uma escola

estadual de Regência; e em escolas municipais de Povoação e Pontal do Ipiranga. Há também um

trabalho em torno da formação de professores sendo realizado desde 2006, onde ocorrem encontros

com uma proposta multidisciplinar ao longo do ano, denominados de “Encontro Transdisciplinar”.

Além disto, há um trabalho de implantação de brinquedotecas junto aos Centros de Educação

Infantil (CEMEI’s).

Ainda no campo da educação, o Projeto vem contribuindo para a inclusão digital, uma vez que

foram instalados alguns laboratórios de informática em escolas. Além disto, a ampliação dos meios

educomunicativos como o Rádio Recreio e a TV Comunitária (TV Eco) tem sido importantes

ferramentas difusoras do processo escolar e não-escolar entre as comunidades. Também foram

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produzidos videos no formato de desenhos, denominados “Programa Ecocidadania” por moradores

das comunidades de Pontal, Regência e Povoação.

As ações do Projeto Ecocidadania têm sido potencializadas pela Fundação Pró-TAMAR, uma

parceria que vem favorecendo a realização das seguintes iniciativas na região:

Projeto Robalo: iniciado pela Fundação Pró-TAMAR e criado com os pescadores locais, uma

iniciativa apoiada pelo Projeto Ecocidadania;

Cineclube: com instalações de três equipamentos de reprodução de filmes em cada comunidade;

Projeto TAMAR: como gestor da Fundação Pró-TAMAR.

De modo geral, a organização social da região do Delta do Rio Doce tem sido representada pelas

associações de moradores, pescadores e artesanato; pela atuação da Agência de Sustentabilidade

Comunitária da Planície Costeira do Rio Doce (ASCORDE), Fundação Pró-TAMAR, Projeto

Ecocidadania, instituições privadas como a Petrobras; e Organizações Não-Governamentais

(ONG’s) ambientalistas como o Grupo Ambientalista Natureza e Cia (GANC).

Os movimentos e atividades comunitárias identificadas que devem ser favorecidas para que ocorra

um fortalecimento das comunidades locais consistem em: serviço de limpeza das trilhas, ofertas de

cursos e oficinas de artesanato com fibra de bananeira, condutores de ecoturismo, papel reciclado,

filmagem, pintura em tecido, confecção de redes de tarrafas, artesanato com fibras de taboa,

atividades pedagógicas denominadas Cores da Terra, atividades de rádio, cursos para fabricação de

bombons, biscuits e criação e manutenção da horta comunitária.

4.3 Comunicação Social

As atividades de Comunicação Social desenvolvidas no Projeto Saberes da Mata obedeceram aos

três objetivos principais que foram cumpridos com sucesso: (1) comunicação entre os agentes

locais e atores estratégicos para a criação das Unidades de Conservação, (2) produção de peças que

serviram como registro da prestação de contas às comunidades e aos parceiros e (3) divulgação dos

valores e resultados do projeto junto à sociedade.

O trabalho de comunicação social envolvendo a região do Delta do Rio Doce foi transversal

durante todo o processo de realização, havendo destaque para as atividades de divulgação do

Projeto e principalmente para a confecção do informativo sobre a localidade. Este informativo teve

a função estratégica de resumir as ações e interações do Projeto na área de interesse, evidenciando

seu trabalho participativo e seus resultados.

5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS ESTUDOS COM AS COMUNIDADES LOCAIS E DEMAIS

PARTICIPANTES

5.1.1 Introdução

O Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema), promoveu no dia 28 de agosto de 2009, entre

às 13:00 e 17:00 horas, a Oficina sobre a Proposta de Criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio visando a participação e contribuição das comunidades locais,

representantes de instituições públicas federais e estaduais, instituições privadas e membros da

sociedade civil organizada, a partir da apresentação e discussão dos estudos realizados pela equipe

de pesquisadores acima apresentados. Além de divulgar os resultados técnicos, o evento

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possibilitou a participação comunitária a partir do registro das manifestações de relatos, opiniões,

necessidades e reecomendações dos diversos participantes dos vários setores da sociedade.

A Oficina ocorreu em três vertentes: (1) apresentação dos resultados dos estudos técnicos sobre o

meio físico, perfil fundiário, flora, entomofauna, herpetofauna, avifauna, mastofauna não-voadora,

mastofauna voadora, socioeconomia e Educação Ambiental do Delta do Rio Doce; (2) a divulgação

e discussão dos resultados dos estudos interdisciplinares apresentados e discutidos anteriormente

em um Workshop, realizado no dia 4 de agosto de 2009, na Sede do Vitória do Futuro, em Vitória,

denominado de Workshop sobre a Proposta de Criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio Doce e (3) a inserção comunitária por meio das manifestações, relatos,

opiniões, necessidades e recomendações dos diversos participantes dos vários setores da sociedade

presentes.

A partir da apresentação e discussão dos estudos realizados pela equipe de pesquisadores, houve

um compartilhamento de conhecimentos e sugestões pelos participantes compostos por membros

das comunidades e técnicos de entidades parceiras e convidadas, representanto um processo mais

completo e participativo para garantir a conservação da natureza do Delta do Rio Doce. Todas as

atividades de Comunicação e Mobilização Social receberam o apoio profissional da pesquisadora

Deusdedet Alle Son.

5.1.2 Resultados

O início da Oficina foi marcado pela apresentação do Projeto Apoio à criação de Unidades de

Conservação no Estado do Espírito Santo: um processo participativo integrando as

comunidades locais pela Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto de Pesquisas da Mata

Atlântica (Ipema), Elizete Sherring Siqueira. Elizete comunicou que a área do Delta do Rio Doce

consiste na última área de estudo e implementação de Unidades de Conservação abordada pelo

projeto ao longo de um processo de três anos e que assim como nas demais áreas, houve uma

abertura comunitária para a participação e discussão dos dados.

Elizete informou que o processo de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do

Rio Doce ocorre em um momento favorável, pois o Projeto TAMAR, o Projeto Ecocidadania, o

interesse e presença das Reservas Biológica de Comboios e Reserva Indígena de Comboios, das

comunidades locais e do Governo Federal colaboram para o sucesso desta iniciativa, que já ocorre

há dois anos; e é essencial para dar continuidade a presença e vivência das comunidades locais e

dos recursos naturais. Além disto, o Delta do Rio Doce está envolvido com um dos maiores rios do

Brasil e que influencia e interessa inclusive o Estado de Minas Gerais.

Elizete finalizou sua apresentação destacando que, apesar de a Oficina caracterizar um primeiro

encontro, o Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema) está disposto a acompanhar todo o

processo envolvendo a proposta de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do

Rio Doce.

A Oficina teve prosseguimento com a apresentação do oceanógrafo Roberto Sforza, representante

do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Fundação Pró-TAMAR,

informando a evolução de todo o processo de elaboração da proprosta de criação da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce e que está evolução não consiste em submeter às

comunidades a uma realidade de estagnação de desenvolvimento ambiental, econômico, político ou

social, mas promover o desenvolvimento com sustentabilidade.

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Após este momento, foi dado início a apresentação dos estudos técnicos bióticos pelos

pesquisadores, exibindo os dados regionais sobre flora, entomofauna, herpetofauna, avifauna,

mastofauna não-voadora, mastofauna voadora e socioeconomia.

Após a finalização das apresentações, a assessora de Educação Ambiental, Roberta Cordeiro

Fassarella; apresentou um informativo impresso contendo informações sobre os aspectos abióticos,

bióticos e antrópicos do Delta do Rio Doce. O informativo foi explicado detalhadamente para todos

os participantes do evento.

Após a apresentação do informativo, deu-se início a um longo momento de trocas de conhecimento

e exposição de sugestões, depoimentos e necessidades incluindo participantes das comunidades

presentes no evento, bem como das entidades públicas federais e estaduais, entidades privadas e

integrantes da sociedade civil organizada.

5.1.3 Discussão e recomendações propostas pelas comunidades locais e demais

participantes

O momento para que os presentes destacassem-se os seguintes pontos e necessidades que possam

complementar os trabalhos técnicos desenvolvidos na região foi muito produtivo e os seguintes

pontos e necessidades foram destacados pelos integrantes das comunidades locais e demais

participantes:

1. Os elementos da diversidade biológica extremamente diversificada do Delta do Rio Doce

podem ser utilizados como símbolos no artesanato local, já que os animais e plantas

apresentam uma função cultural local. A utilização não envolveria a retirada destes elementos

bióticos da natureza, mas apenas teriam suas imagens divulgadas e utilizadas na elaboração de

itens de artesanato, como estampas e esculturas;

2. Existe uma necessidade de resgate do processo histórico e econômico a partir de um processo

de valorização das comunidades extrativistas tradicionais;

3. Os danos ambientais causados pelo ciclo da madeira e pela expansão desestruturada da

pecuária devem ser revertidos a partir de políticas públicas, auxiliando no renascimento

ambiental da região do Delta do Rio Doce;

4. O processo de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce

necessita de uma divulgação mais ampla e contar também com o envolvimento efetivo de

proprietários rurais antigos e comunidades populacionais de baixa renda;

5. Deve haver a garantia real de que as populações tradicionais e de baixa renda tenham acesso

aos recursos naturais de forma equilibrada, além da necessidade de criar áreas públicas

voltadas para a geração e divulgação de cultura e de renda;

6. Áreas de pastos inativas podem ser convertidas em centros de fruticultura quando possível e

quando necessárias, gerando emprego e renda;

7. O uso de pesticidas e inseticidas em matas de cabruca deve ser evitado, uma medida que não é

adotada pelos produtores de extensas plantações de cacau, desencadeando a contaminação de

recursos hídricos e demais recursos naturais. Este cenário pode ser revertido mediante a

orientação de instituições estaduais envolvidas com atividades agrícolas e a partir de uma

fiscalização efetiva;

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8. Os proprietários que produzem cacau em pequenas áreas de matas de cabruca não conseguem

competir com os proprietários de plantações extensas de cacau, havendo a necessidade de uma

integração e parceria entre estas duas escalas de produção visando fortalecer um comércio

justo do produto;

9. Existe a necessidade da realização de um estudo de impacto ambiental aprofundando e dos

impactos reais causados pela produção de cacau em matas de cabruca com pequena ou grande

extensão;

10. Há a necessidade da substituição do sistema produtivo extrativista e predatório municipal, um

sistema implantado antes mesmo da ocorrência da emancipação política do município de

Linhares, por um modelo baseado em um desenvolvimento sustentável;

11. Os riscos ambientais presentes na prática do sistema vigente de produção cacaueira devem ser

informados, um conjunto de informações que pode ser obtido junto a Comissão Executiva do

Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC);

12. As áreas de mata de cabruca necessitam de serem protegidas de forma efetiva e legal;

13. Atividades e projetos de Educação Ambiental devem ser realizados na região do Delta do Rio

Doce com intuito de facilitarem a transição do modelo produtivo que escasseia os recursos

naturais por um sistema igualmente produtivo e rentável com base no desenvolvimento

sustentável e na conservação dos recursos naturais, compreendido por todos os habitantes;

14. Existe a necessita de atividades e organizações comunitárias de Regência e Povoação

estreitarem suas relações para o fortalecimento social e compartilhamento dos benefícios

provenientes da criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce;

15. Existe a necessidade de restauração e fortalecimento de atividades culturais tradicionais em

ambas as comunidades, como as cantigas de roda, celebrações que relembram a história do

Caboclo Bernardo, festividades ligadas ao congo e carnavais tradicionais. Bernardo José dos

Santos, conhecido como Caboclo Bernardo; nasceu na Vila de Regência, no município de

Linhares, no ano de 1859, sendo morto em de 1914 e ficou conhecido como o pescador que

salvou cento e vinte e oito marinheiros do Cruzador Imperial Marinheiro, da Marinha Imperial

do Brasil no ano de 1887;

16. É de urgência máxima a realização de estudos sobre a composição, variação e situação do

estoque pesqueiro de espécies aquáticas, como invertebrados e peixes explorados ou não

comercialmente. Espécies de outros grupos de organismos vivos e processos responsáveis pela

integridade do ambiente marinho localizado na área proposta para a criação da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce também devem ser estudados, pois são

essenciais para a manutenção da existência das comunidades pesqueiras tradicionais;

17. A realização de estudo etnobotânicos na região do Delta do Rio Doce pode colaborar para a

descoberta de usos potenciais e amplificados de princípios químicos ativos que possam ser

utilizados na indústria de medicamentos;

18. Estudos sobre a situação e rotas de espécies de aves migratórias que incluem a região do Delta

do Rio Doce podem fortalecer a manutenção de uma área ambientalmente protegida;

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19. As comunidades locais do Delta do Rio Doce têm papel insubstituível na estruturação do

possível plano de manejo que venha a ser elaborado após a consolidação da criação da

Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce;

20. A análise da situação dos recursos hídricos que caracterizam e dão forma ao Delta do Rio

Doce deve ser feita de forma aprofundada mediante estudos técnicos, uma ação fundamental

para indicar os usos potencias e a capacidade de utilização que suportam sem alterar a

paisagem e o estoque hídrico;

21. A criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce consiste em uma

oportunidade rara de restaurar a relação harmônica entre o homem e os recursos naturais;

22. É necessária a busca e compatilhamento de informações sobre propostas e processos de

criação de Reservas de Desenvolvimento Sustentável em outras localidades do território

nacional, seja a partir de encontros locais, seja em fóruns, seminários e congressos;

23. Os resultados técnicos da região devem ser apresentados e divulgados sempre que solicitados,

seja mediante apresentação técnica, seja pela veiculação de materiais informativos;

24. Existe a necessidade urgente de uma discussão da iniciativa com empresas que também fazem

parte da paisagem do Delta do Rio Doce, como a Petrobras, os grandes produtores de cacau e

outros atores;

25. Existe a necessidade de elaboração de um plano de manejo adequado para o plantio de cacau

em matas de cabruca, pois os indivíduos que compõem as espécies vegetais nativas

envelhecem e morrem com o tempo, não havendo uma renovação de representantes da flora.

Após a exposição e debates destas necessidades e sugestões, Roberto Sforza ressaltou que embora

o processo de criação de uma Unidade de Conservação ocorra em etapas, a presença e ação da

mobilização local se tornam essenciais. Elizete Siqueira Sherring finalizou a Oficina comentando

que a região do Delta do Rio Doce conta com o benefício de não apresentar conflitos internos

referentes à possível criação de uma Unidade de Conservação e que a mobilização local conjunta

ocorre em um momento oportuno, aliado ao clima político convergente sobre a importância da

conservação dos recursos naturais da área e da melhoria da qualidade de vida das populações

locais.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos físicos indicaram a presença de um sistema complexo de paisagens e ambientes, além

de uma abundância considerável de recursos hídricos representada por rios, lagoas e áreas alagadas

no Delta do Rio Doce. Estes elementos contribuem para a formação de ecossistemas muito

importantes para a manutenção dos recursos naturais locais, sendo os principais responsáveis pelas

características paisagísticas únicas encontradas da área proposta para a criação da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce. Infelizmente, alguns destes ambientes já

apresentam algum nível de degradação causado principalmente pelo desmatamento e pelo uso

inadequado do solo, indicando a necessidade de proteção.

Os estudos bióticos apresentados neste relatório e realizados a partir do método de Avaliação

Ecológica Rápida [Rapid Ecological Assessment (REA)] indicaram índices significativos de

riqueza da diversidade biológica tanto para flora, quanto para a fauna; um conjunto de dados

obtidos mesmo com a ocorrência de intempéries durante as amostragens de alguns grupos animais.

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Apesar de os estudos bióticos comprovarem uma biodiversidade extremamente diversificada, a

região pode possuir uma diversidade ainda maior, sendo unanimemente recomendada pelos

especialistas para tornar-se uma área protegida a partir da criação de uma Unidade de Conservação

na categoria de Reserva de Desenvolvimento Sustentável. A presença de espécies em extinção,

raras e endêmicas e os riscos eminentes de perda de habitat pela extensão da ocupação da área por

humanos e a fragmentação fornecem um suporte ainda maior para a necessidade da criação de uma

Unidade de Conservação.

Além disto, a presença de Unidades de Conservação da Reserva Biológica de Comboios e de terras

indígenas próximas adiciona um valor significativo para a consolidação do processo de criação da

Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce.

Os estudos antrópicos e as atividades de Educação Ambiental apontaram para uma organização

social marcante e muito atuante na região, pois a área apresenta manifestações culturais distintas,

planos de desenvolvimento social funcionais, como o Plano de Desenvolvimento Integrado e

Sustentável das Comunidades do Entorno da Reserva Biológica de Comboios; conselhos

comunitários ligados a projetos sociais, participação do Governo Federal, representado

principalmente pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio);

Governo Municipal, Fundação Pró-TAMAR e Organizações Não-Governamentais (ONG’s), além

de empresas como a Petrobras.

As recomendações e conclusões dos estudos realizados por cada especialista e apresentadas no

Workshop, somadas às informações dos participantes da Oficina confirmam a relevância e

importância da criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce para a

conservação dos recursos naturais, a ampliação e melhoria da qualidade de vida dos moradores e a

implementação de atividades previstas no Plano de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do

Entorno da Reserva Biológica de Comboios.

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170

ANEXO I. RELATÓRIO DO WORKSHOP SOBRE A PROPOSTA DE CRIAÇÃO DA RESERVA DE

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA FOZ DO RIO DOCE

1. Introdução

Este documento tem como objetivo principal consolidar as informações fornecidas pelos estudos

bióticos realizados na área do Delta do Rio Doce, uma das áreas estudadas pelo “Projeto de Apoio

à Criação de Unidades de Conservação no Estado do Espírito Santo: um processo participativo

integrando as comunidades locais”, com a finalidade de contribuir para a conservação da

biodiversidade da Mata Atlântica no Espírito Santo, analisando a viabilidade da criação de

Unidades de Conservação (UC’s) de forma participativa e integrada com comunidades locais.

Este projeto foi consolidado através de um convênio entre o Banco do Brasil e o Instituto de

Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema), com recursos doados pelo Kreditanstalt für Wiederaufbau

(KfW).

A exposição e o compartilhamento de informações sobre o Delta do Rio Doce ocorreu no dia 4 de

agosto de 2009, com a realização do Workshop sobre a Proposta de Criação da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, com início às 13:00 horas e término às 18:30

horas, na Sede do Vitória do Futuro, no município de Vitória, Estado do Espírito Santo, contando

com a participação de vários especialistas envolvidos com a conservação da biodiversidade de

diferentes grupos animais e vegetais.

As informações contidas nestes estudos visaram o fornecimento de dados para consolidação da

proposta de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, uma região

que envolve territórios pertencentes à Regência e Povoação, bem como outras localidades próximas

pertencentes ao município de Linhares, contando com 9617,30 ha de extensão terrestre e 36937,11

ha de extensão marinha, delimitados pela área de influência da Reserva Biológica de Comboios

(Figura 1).

Figura 1. Área proposta para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio

Doce com destaque para a extensão terrestre, em verde; extensão marinha; em roxo; e a presença da

Reserva Biológica de Comboios, em vermelho; com seus 833 hectares de extensão.

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171

Este processo de criação esta associado a uma futura gestão compartilhada e participativa que

permitirá monitorar, através de diretrizes e indicadores, os resultados de ações propostas para o

desenvolvimento social e conservação da biodiversidade local.

Os estudos realizados pelos especialistas permitiram conhecer a situação regional do meio

ambiente e recursos naturais presente em áreas do entorno da Reserva Biológica de Comboios,

além de possibilitarem a elaboração do presente documento. Os seguintes tópicos o compõem:

contextualização regional da área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio Doce; resultados com ênfase na ocorrência de espécies de cada grupo

biótico; discussões e conclusões de cada grupo biótico; discussão sobre a importância das áreas de

alagados na região da Foz do Rio Doce e uma lista de participantes.

2. Contexto regional da área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio Doce

Após a recepção dos participantes realizada pela Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto

de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema), Elizete Siqueira Sherring e com o intuito de contextualizar

as características e interesses regionais associados à criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio Doce, o oceanógrafo Roberto Sforza, representante do Instituto Chico

Mendes de Conservação da Biodiversidade e Centro Nacional de Conservação e Manejo das

Tartarugas Marinhas; iniciou uma apresentação para os demais participantes, sobre a situação local

quanto à conservação dos recursos naturais, interesse e necessidade dos pescadores pelo processo

de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável e as pressões exercidas por

empreendimentos ligados a atividades de exploração de petróleo e gás.

Sforza ressaltou que o processo de delimitação da área proposta para criação da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável incluiu o conhecimento acumulado pelos pescadores locais, um

processo realizado a partir da aplicação da técnica de mapa mental, onde cada pescador indica a

ocorrência de determinado recurso pesqueiro em áreas marinhas. Este procedimento foi bem

recebido por parte dos pescadores, uma vez que representou o interesse em manter o sustento e as

formas de uso e incluir os processos que envolvem consultas públicas, fundamentais para a

elaboração de políticas públicas.

A indicação dos locais com classificação dos tipos de recursos naturais pesqueiros permitiu a

complementação e delimitação da extensão marinha da proposta, um conjunto de informações

fundamentais para um maior conhecimento dos recursos naturais existentes e que serão protegidos.

Houve destaque também para a decisão de não promover a desapropriação de proprietários com

território presente na área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da

Foz do Rio Doce.

Segundo Sforza, estas informações, bem como outras provenientes de estudos científicos,

permitiram a ampliação da área proposta para a criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável, pois as descrições e exigências das categorias de Unidades de Conservação (UC’s)

presentes no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) infelizmente não

são muito detalhadas, dando margem a interpretações desfavoráveis para a conservação da

biodiversidade. Além disto, os processos de negociação política vêm exigindo estudos cada vez

mais aprofundados.

A importância de juntar o máximo de informação possível também colabora para reduzir o tempo

necessário para a criação de uma UC, pois entidades e pessoas contrárias a preservação da

biodiversidade muitas vezes questionam as informações demonstradas por estudos superficiais, um

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172

quadro que pode ser revertido a partir da contribuição de um maior número de técnicos em prol da

conservação da biodiversidade.

O processo para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce foi

aberto junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no ano de

2007 e faz parte de um quadro com 150 a 200 pedidos de propostas de criação de UC’s. Entretanto,

cerca de 20 a 25 destas propostas vem recebendo prioridade máxima por parte do ICMBio,

incluindo a proposta de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce.

O processo de tomadas de decisão junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis (IBAMA), por sua vez, passou recentemente por uma reestruturação. Esta

alteração passou a responsabilidade de tomadas de decisões a quatro diretorias integradas e

destinadas ao assessoramento do Presidente da República Federativa do Brasil. Aparentemente este

apoio técnico promoverá o aumento na criação de Reservas de Desenvolvimento Sustentável,

principalmente as criadas em processos que envolvam consultas públicas, um contexto seguido

pela proposta de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce.

Após a apresentação destas informações, foi aberto um momento para questionamentos sobre o

assunto. O seguinte questionamento, então, foi colocado pelo pesquisador José Luiz Helmer,

especialista em herpetofauna: a abertura para a inclusão do conhecimento popular, como as

informações fornecidas pelos pescadores, criou alguma dificuldade quanto à delimitação da área

proposta pela Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce? Sforza informou que

não, principalmente pelo fato de as informações serem posteriormente checadas e limitadas quando

necessário, pois a inclusão de todas as informações emitidas poderia tornar inviável a gestão de

uma área protegida muito extensa.

Após este momento, Sforza passou a dar destaque às possíveis ameaças presentes na área proposta,

havendo destaque para a proximidade de blocos petrolíferos explorados ou com vistas a serem

explorados (Figura 2).

Figura 2. Blocos potenciais de exploração petrolífera terrestre, à direita; e oceânicos; à esquerda,

presentes na região da Foz do Rio Doce.

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173

Houve também o relato da existência de campos petrolíferos leiloados na região de Povoação,

pertencente ao município de Linhares, que possibilitam a exploração de petróleo através da injeção

de água no solo para viabilizar o seu ressurgimento na superfície. A água utilizada neste processo

vem sendo transportada a partir do Terminal de Regência.

Após esta informação, Sforza solicitou aos participantes o compartilhamento de informações

relevantes sobre áreas externas e próximas a área de delimitação destinada a Reserva de

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, que eventualmente sofreram estudos, um tema

que tomou grande importância nas discussões posteriores.

Informações envolvendo a área marinha proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável também foram divulgadas, destacando a importância da criação da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável antes do início de uma possível exploração de petróleo e gás nas

proximidades litorâneas, pois uma vez consolidada, colaboraria para a delimitação e contenção dos

danos deste tipo de atividade, por vezes irreversíveis.

Sforza ainda destacou que o Brasil felizmente não apresenta um cenário de exploração tão intenso e

destrutivo quanto aos recursos naturais presentes na zona costeira como outros países e que cabe ao

Governo garantir, mediante interesse público, uma conservação eficiente de sistemas costeiros.

Os dados de um estudo de pesca realizado em 2009 serão considerados para a elaboração da

proposta de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, pois contam

com um diagnóstico participativo, apresentando dados de coordenadas geográficas e um senso de

pescadores locais.

Após esta informação, as apresentações com os resultados obtidos pelos especialistas dos grupos

bióticos de flora, mamíferos não-voadores, mamíferos voadores, entomofauna, herpetofauna e

avifauna foram exibidas, havendo uma discussão final sobre as informações compartilhadas entre

os participantes.

3. Principais resultados dos grupos bióticos

3.1 Flora

A Mata Atlântica ocupa três províncias geomorfológicas bem distintas no Espírito Santo: a região

serrana, os tabuleiros terciários e as planícies quaternárias. A área proposta para criação da Reserva

de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce integra parte das duas últimas formações.

Os tabuleiros terciários apresentam as Florestas de Tabuleiro, com fitofisionomias diferenciadas

principalmente quanto ao tipo de solo, influência do lençol freático e espécies vegetais com

composição e estrutura diferenciadas. As Florestas de Tabuleiro do norte do Espírito Santo estão

entre os 14 centros de diversidade vegetal elevada do Brasil. Na realidade, a região denominada por

Floresta de Tabuleiro não é ocupada somente por formações florestais, mas composta por um

mosaico de formações vegetais de Floresta Alta, Floresta de Muçununga, Áreas Inundadas e

Inundáveis e Campos Nativos. As Planícies Quaternárias, por sua vez, ocupam a maior parte da

área de estudo, apresentando zonas de restingas, um conjunto de vegetação litorânea estabelecido

sobre depósitos arenosos marinhos.

A área também apresenta alguns trechos alagáveis presentes junto aos cordões arenosos, com a

presença de turfas. Este cenário apresentou formações de vegetação de áreas inundadas e

inundáveis de restinga, imprescindíveis para existência de diversas espécies animais e vegetais.

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Os levantamentos florístico e fitofionômico foram feitos em toda região de Regência e Povoação,

município de Linhares, norte do Espírito Santo, apresentando duração de dez dias com um número

total de seis especialistas envolvidos. O levantamento florístico registrou 382 espécies vegetais

para área distribuídas em 88 Famílias, com potencial para apresentar um número ainda maior de

espécies (Figura 3).

Figura 3. Famílias com riqueza de espécies mais representativas na área proposta para a criação da

Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, municípios de Linhares, Espírito Santo.

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175

Apesar de esta região estar próxima ao maior núcleo florestal do norte do Estado do Espírito Santo,

as formações florestais presentes são compostas por manchas de vegetação fragmentadas, um

cenário comum para os remanescentes da Mata Atlântica. Entretanto, a área apresenta como

diferencial a presença de cordões arenosos e áreas com cultivo de cacau em meio às espécies

vegetais arbóreas nativas, compondo as formações vegetais denominadas de cabruca. Infelizmente,

a maior parte da matriz regional é composta por áreas desmatadas para criação de pastagens.

A Restinga apresentou as seguintes Formações: Herbácea de Restinga; Arbustiva Fechada Não-

inundável; Floresta Não-inundável ou Mata seca de Restinga; Formação Arbustiva Aberta Não-

inundável ou Aberta de Clusia; área entre moitas e áreas inundadas, de brejo ou de alagados.

A Formação Herbácea da Restinga apresentou como principais espécies a Panicum racemosum;

Alternanthera littoralis, Blutaparon portulacoides, Hydrocotyle bonariensis, Ipomoea imperati,

Ipomoea pes-caprae, Panicum racemosum, Canavalia rosea, Remirea maritima, Paspalum

maritimum e Sporobolus virginicus.

A Formação Arbustiva Fechada Não-inundável, por sua vez apresentou as espécies arbustivas

Schinus terebinthifolius, Protium heptaphyllum, Psidium macahense, Eugenia uniflora, Guapira

pernambucensis; espécies herbáceas Bromelia antiacantha, Cereus fernambucensis, Anthurium

raimundii, Quesnelia quesneliana, com destaque para Allagoptera arenaria e espécies de lianas

Davilla flexuosa e Smilax rufescens.

A Formação de Floresta Não-inundável ou Mata seca de Restinga apresentou as espécies

formadoras de dossel Manilkara bella, Tapirira guianensis, Protium heptaphyllum, Pera glabrata;

espécies arbóreas não-emergentes Couepia schotti, Himatanthus phagedaenicus e Myrsine

umbellata; espécies de sub-bosque Cordia taguahyensis, Sorocea hilarii e Salzmannia nítida;

espécies herbáceas terrestres Dichorisandra thrysiflora, bromélias Pseudananas sagenarius,

Aechmea bromeliifolia; além de orquídeas Paradisanthus micranthus e Eltroplectris calcarata;

espécies epífitas de bromélias Tillandsia stricta, Tillandsia usneoides, Vriesea neoglutinosa e

Aechmeia nudicaulis e epífitas de orquídeas Campylocentrum micranthum, Epidendrum

densiflorum e Cattleya guttata.

A Formação Arbustiva Aberta não-Inundável ou Aberta de Clusia apresentou as espécies Clusia

hilariana, Kielmeyera albopunctata, Cupania emarginata, Byrsonima sericea, Pera glabrata e

Protium hepthaphyllum; espécies herbáceas terrestres Anthurium raimundi, Aechmea nudicaulis,

Aechmea blanchetiana, Vriesea procera e Cyrtopodium polyphyllum e epífitas de interior de moitas

Vriesea neoglutinosa, Brassavola tuberculata, Tillandsia stricta e Tillandsia gardineri.

Nas áreas entre moitas foram encontradas as espécies Chamaecrista ramosa e Evolvulus spp.,

contendo ainda a espécie endêmica Axonopus pressus constando como Criticamente Em Perigo

(CP) na Lista de Espécies Ameaçadas do Espírito Santo (Espirito Santo, 2005), presente em pontos

próximos a Reserva Biológica de Comboios em áreas extensas de restinga. Esta região também

apresenta Chamaecrista ramosa, Remiria maritima, Hybanthus calceolaria, Mytracarpus frigidus,

Ipomoea littoralis e elementos arbustivos Allagoptera arenaria e Scaevola plumieri.

Estas áreas, que apresentam com elemento dominante a Axonopus pressus, são denominadas de

Formação Praial Gramnóide com Arbusto, estando aparentemente restrita à Reserva Biológica de

Comboios e adjacências.

As áreas inundadas, de brejo ou de alagados presentes nos intercordões arenosos locais

apresentaram espécies do gênero Eleocharis e a espécie Montrichardia linifera, havendo zonas

com solo drenado no entorno desta formação.

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As áreas com Floresta Inundadas e Inundáveis ou Florestas Paludosas apresentaram espécies

arbóreas Calophyllum brasiliense e Tapirira guianensis, enquanto o sub-bosque apresentou

espécies mais comuns como Tovomita brasiliensis, Sapium glandulatum, Myrcia racemosa e

Guapira opposita.

As áreas de Floresta Aluvial apresentaram regiões com mata de cabruca e outras culturas

associadas. As matas de cabruca consistem em áreas de sub-bosque que mantiveram as espécies

formadoras de dossel e foram destinadas ao plantio consorciado de cacau. Além do cacau, a região

também apresenta plantios de coco (Cocos nucifera) e eucalipto (Eucaliptus spp.). As áreas de

pastagem apresentam Brachiaria spp; Melinis minutiflora; Panicum maximum e Paspalum spp.,

todas pertencentes às gramíneas. Além destas, espécies de outras Famílias como Desmodium

incanum, Stylozanthes viscosa, Stylozanthes guianensis, Mimosa pudica, Crotalaria lanceolata,

Centrosema virginianum entre outras, também estiveram presentes. Alguns indivíduos arbustivos e

arbóreos presentes em estágios de regeneração também ocorrem nestas áreas, havendo

representantes arbustivos das espécies Cordia verbenacea e Psidium guianensis.

Apesar de toda a importância destas áreas (Figura 4), a vegetação nativa tem sido exaustivamente

explorada para fins madeireiros e para a implementação de projetos agropastoris não-sustentáveis,

um processo maximizado pela facilidade de acesso e pelas condições regionais favoráveis do

relevo, o que acarreta na fragmentação da vegetação, que permanece distribuída entre paisagens

degradadas.

Figura 4. Exemplos de formações vegetais presentes na área proposta para criação da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, no sentido horário: Formação Herbácea Não-

inundável, Formação de Pós-praia, Floresta Não-inundável, Formação Arbustiva Aberta Não-

inundável, Formação Praial Graminóide e Floresta Inundável.

3.1.1. Espécies ameaçadas de extinção

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A lista de espécies da flora ameaçadas de extinção na área da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio Doce foi elaborada a partir de três listas oficiais disponíveis, sendo uma

internacional (IUCN, 2004), uma nacional (IBAMA, 2008) e uma estadual (Espírito Santo, 2005).

Das 382 espécies de plantas analisadas 35 espécies encontram-se ameaçadas de extinção,

envolvendo 19 famílias (Tabela 1). Observa-se que quase dois terços das espécies ameaçadas

(65,4%) estão enquadrados na categoria de menor risco (VU). Entretanto, estas espécies merecem

uma atenção especial para que não se tornem cada vez mais ameaçadas e não se enquadrem em

uma categoria de ameaça maior.

Tabela 1. Lista das espécies ameaçadas de extinção que ocorrem na área proposta para criação da

Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce [ES = espécies que constam na lista de

espécies ameaçadas do Espírito Santo; BR = espécies presentes na Lista Oficial de Espécies Ameaçadas

do Brasil e IUCN = espécies presentes na Lista Internacional da International Union for Conservation

of Nature (IUCN); CP = Criticamente Em Perigo; EN = Em Perigo e VU= Vulnerável]

Família Espécies ES BR IUCN

Araceae Dracontioides desciscens EN

Asteraceae Dasycondylus resinosus VU

Bignoniaceae Tabebuia riodocensis EN

Bromeliaceae Aechmea blanchetiana VU

Bromeliaceae Neoregelia pascoaliana VU

Bromeliaceae Vriesea neoglutinosa VU

Chrysobalanaceae Couepia schottii VU

Euphorbiaceae Joanesia princepis VU

Fabaceae Inga exfoliata EN

Fabaceae Inga subnuda subsp. subnuda VU

Fabaceae Zollernia modesta VU

Goodeniaceae Scaevola plumieri VU

Heliconiaceae Heliconia episcopalis VU

Lauraceae Ocotea confertiflora VU

Lauraceae Rhodostemonodaphne capixabensis VU EN

Lentibulariaceae Utricularia foliosa VU

Marantaceae Calathea monophylla VU

Meliaceae Trichilia casaretti VU

Meliaceae Trichilia lepidota subsp. schumaniana VU

Moraceae Sorocea guileminiana VU

Myrtaceae Myrcia lineata VU

Orchidaceae Acianthera strupifolia VU

Orchidaceae Cattleya guttata VU

Orchidaceae Cyrtopodium gigas VU

Orchidaceae Cyrtopodium holstii VU

Orchidaceae Dimerandra emarginata EN

Orchidaceae Eltroplectris calcarata VU

Orchidaceae Epidendrum carpophorum EN

Orchidaceae Epidendrum imatophyllum VU

Orchidaceae Rauhiella Silvana CR

Poaceae Axonopus pressus CR

Sapindaceae Paullinia riodocensis VU

Sapotaceae Chrysophyllum splendens VU

Sapotaceae Manilkara bella EN

Sapotaceae Pouteria caelomatica EN

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A Família que apresentou o maior número de espécies ameaçadas de extinção foi Orchidaceae,

com nove espécies pertencentes a sete gêneros; seguida por Bromeliaceae, com três espécies

integrantes de três gêneros; Fabaceae com três espécies pertencendo a dois gêneros; Sapotaceae

com três espécies em três gêneros; Lauraceae com dois gêneros; Meliaceae com duas espécies de

mesmo gênero e as demais Famílias com apenas uma espécie (Figura 5).

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

ORCHID

ACEAE

FABACEAE

LAURAC

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ARACEA

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EUPHORBIA

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TACEAE

POACEAE

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s

Figura 5. Famílias destacadas na área proposta para a criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio Doce quanto à presença de espécies ameaçadas de extinção em ordem

decrescente de riqueza.

3.1.2. Espécies endêmicas e raras

A área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce

apresentou mais de 40 espécies endêmicas da Mata Atlântica, sendo a fonte de descrição de

várias espécies novas como Guarea penningtoniana, Inga exfoliata, Paullinia riodocensis,

Rhodostemonodaphne capixabensis, Simira graziel e Tabebuia riodocensis. Dentre as espécies

endêmicas da Mata Atlântica foram encontradas Aechmea blanchetiana, Aechmea multiflora,

Hohenbergia angusta, Mikania glomerata, Quesnelia quesneliana (Bromeliaceae), Couepia

schottii (Chrysobalanaceae), Dichorisandra thyrsiflora (Commelinaceae), Capotroche brasiliensis

(Achariaceae), Ocotea elegans (Lauraceae), Trichilia chasaratti (Meliaceae), Eugenia cuspidata e

Marlierea obscura (Myrtaceae), Acianthera strupifolia e Koellensteinia altissima (Orchidaceae),

dentre outras.

3.1.3 Plantas úteis

A presença de espécies consideradas úteis pelo homem preenche o terceiro critério considerado

importante para a priorização da conservação da biodiversidade, a Utilidade. Segundo este critério,

uma espécie que tem um valor atual ou potencial tem uma maior importância para a conservação

do que uma espécie que não apresenta nenhum uso evidente para as pessoas.

As 382 espécies catalogadas na área estudada incluem mais de 100 espécies com potencial

ornamental, pertencentes principalmente às famílias Bromeliaceae, Orchidaceae, Marantaceae,

Piperaceae, Araceae, Fabaceae, Palmae e Cactaceae, dentre outras. Espécies como Cattleya guttata

e Cyrtopodium holstii (Orchidaceae), Peperomia magnolifolia (Piperaceae), Heliconia episcopalis

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(Heliconiaceae), Allagoptera arenaria (Arecaceae), Tabebuia cassinoides e T. riodocensis

(Bignoniaceae), Aechmea blanchetiana, Neoregelia pascoaliana, Quesnelia quesneliana e Vriesea

procera (Bromeliaceae), Cereus fernanbucensis e Pilosocereus arrabidae (Cactaceae), Clusia

hilariana (Clusiaceae), tabém estão presentes na área.

Espécies madeireiras utilizadas estiveram representadas por Astronium graveolens e Schinus

terebintifolia (Anacardiaceae); Tabebuia cassinoides (Bignoniaceae); Nectandra nitidula e Ocotea

elegans (Lauracea); além das espécies de Jequetibá Cariniana estrellensis e C. legalis

(Lecythidaceae) e de cedro Cedrela fissilis (Meliaceae).

Espécies com potencial medicinal incluem Anacardium occidentale e Schinus terebintefolius

(Anacardiaceae); Eclipta alba, Emilia sonchifolia e Mikania glomerata (Asteraceae), Cecropia

pachystachia (Urticaceae); Heliotropium indicum (Boraginaceae); Bromelia antiacantha

(Bromeliaceae); Protium heptaphyllum (Burseraceae); Croton urucurana (Euphorbiaceae);

Carpotroche brasiliensis (Achariaceae); Guaria guidonia (Meliaceae); Piper umbelata

(Piperaceae) e Genipa americana (Rubiaceae).

Espécies com potencial alimentício e que podem ser cultivadas em escala comercial para uso

sustentável dos recursos naturais incluem a pimenta-rosa Schinus terebintefolius (Anacardiaceae);

Xylopia sericea (Annonaceae); Bromelia antiacantha (Bromeliaceae); Chrysobalanus icaco

(Chrysobalanaceae); Inga edulis (Fabaceae); Genipa americana (Rubiaceae) e Allagoptera

arenaria (Arecaceae).

Espécies com potencial para recuperação de áreas degradadas incluem Schinus terebintefolius e

Papirira guianensis (Anacardiaceae); Xylopia sericea (Annonaceae); Tabebuia cassinoides

(Bignoniaceae); Alchornea triplinervia, Joanesia principes, Pera glabrata e Sapium glandulatum

(Euphorbiaceae); Abarema jupumba, Dialum guianense e Hymenaea courbaril (Fabaceae);

Carpotroche brasiliensis (Achariaceae); Nectandra nitidula e Ocotea elegans (Lauraceae);

Byrsonima sericea (Malpighiaceae); Hibiscus pernambucensis (Malvaceae); Cedrela fissilis e

Guarea guidonia (Meliaceae) e Guapira opposita (Nyctaginaceae), dentre outras.

3.2 Mastofauna não-voadora

O grupo dos mamíferos não-voadores, compostos principalmente pelos marsupiais e roedores das

Famílias Cricetidae e Echimyidae; exercem influência fundamental nas dinâmicas florestais, seja

pelo consumo do banco de sementes e plântulas ou pela dispersão de sementes que promovem. O

registro ou ausência de suas espécies pode atuar como indicadores confiáveis das alterações de

habitat e da paisagem.

O inventário de espécies foi realizado em pontos pertencentes aos distritos de Regência e Povoação

ao longo de cinco noites de amostragem, com 240 armadilhas, totalizando um esforço-amostral de

1200 armadilhas por noite. Este método permitiu a realização de coletas em pontos com uma maior

representatividade dos principais ambientes encontrados na região, uma coleta de dados possível

graças à existência de trilhas presentes em áreas de restinga de baixo porte (TA); restinga de médio

porte (TB); restinga de grande porte (TC); matas as margens do Rio Doce (TD); matas presentes na

propriedade do Pró-TAMAR (TE) e matas ao lado da lagoa de Monsarás (TF) (Figura 6). As

coordenadas geográficas de cada trilha foram respectivamente registradas (Tabela 2). Métodos

como a busca por pegadas, registro de fezes, realização de entrevistas e instalação de armadilha

fotográfica também foram utilizados na detecção de espécies de mamíferos não-voadores.

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Figura 6. Pontos de amostragem da fauna de mamíferos não-voadores. É possível observar as seis

trilhas instaladas para a realização do inventário nos distritos de Regência e Povoação, município de

Linhares, Espírito Santo.

Tabela 2. Pontos de amostragem de pequenos mamíferos não-voadores na área proposta para criação

da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, focando os distritos de Regência e

Povoação

Pontos (trilhas) Localidade Coordenadas

TA Regência 19°39'12.03"S 39°51'24.85"W

TB Regência 19°37'58.87"S 39°52'10.62"W

TC Regência 19°38'12.33"S 39°52'57.19"W

TD Regência 19°36'26.44"S 39°49'11.42"W

TE Povoação 19°33'34.06"S 39°47'15.49"W

TF Povoação 19°33'29.59"S 39°47'10.07"W

Os registros diretos, indiretos e entrevistas realizadas com as comunidades locais contabilizaram a

ocorrência de 27 espécies de mamíferos não-voadores, com cinco espécies de mamíferos de

pequeno porte (Figura 7 e Tabela 3) e 22 espécies de mamíferos de médio e grande porte,

agrupadas em sete Ordens, subdivididas em 15 Famílias. O esforço-amostral de 1200 armadilhas

por noite apresentou um sucesso de captura de 0,75%, com captura de nove indivíduos.

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Marmosops incanus (Didelphidae) Didelphis aurita (Didelphidae)

Metachirus nudicaudatus (Didelphidae) Nectomys squamipes (Cricetidae)

Figura 7. Algumas das espécies de pequenos mamíferos encontradas na área proposta para criação da

Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce.

Tabela 3. Lista de espécies de pequenos mamíferos com base em amostragem da área proposta para

criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, distritos de Regência e

Povoação. Apenas as trilhas nas matas próximas as margens do Rio Doce (TD) e matas próximas a

lagoa de Monsarás (TF) tiveram espécimes capturados

Nome local Locais de coleta com registros

Ordem / Família / Espécie TD TF

Ordem Didelphimorphia

Família Didelphidae

Didelphis aurita Gambá, saruê X

Marmosops incanus Cuíca, catita X

Marmosa murina Cuíca, marmosa X X

Metachirus nudicaudatus Cuíca-de-quatro-olhos, jupati X

Ordem Rodentia

Família Cricetidae

Nectomys sauqmipes Rato-d’água, rato do banhado X

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Dentre os mamíferos de médio e grande porte, a Ordem Carnivora apresentou o maior número de

espécies, com registro de 10 espécies; seguida pela Ordem Rodentia, com cinco espécies, enquanto

as Ordens Cingulata e Primates apresentaram duas espécies e Artiodactyla, Pilosa e Lagomorpha

apresentaram uma única espécie cada (Tabela 4).

Tabela 4. Espécies de mamíferos de médio e grande porte detectadas por evidências diretas e indiretas

na área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce,

distritos de Regência e Povoação, município de Linhares, com seus respectivos nomes populares e tipos

de registros pelo qual foram detectados (ET = entrevista; DS = dados secundários; PG = pegada; VI =

visualização e VO = vocalização)

Ordem Família Espécie Nome popular Tipo de

registro

Cingulata Dasypodidae Cabassous unicinctus Tatu-de-rabo-mole ET

Dasypus septemcinctus Tatu-galinha ET

Pilosa Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla Tamanduá-de-colete ET

Primates Cebidae Callithrix sp. Mico-estrela ET VI VO

Callicebus personatus Sauá, guigó ET

Carnivora

Canidae Cerdocyon thous Cachorro-do-mato ET PG VI

Procyonidae Nasua nasua Quati ET

Procyon cancrivorus Mão-pelada ET

Mephitidae Conepatus semistriatus Jaratataca ET

Mustelidae Eira barbara Irara ET

Galictis cuja Furão ET

Felidae

Leopardus tigrinus Gato-do-mato-pequeno ET

Leopardus pardalis Jaguatirica ET

Puma concolor Onça-parda, onça-vermelha ET

Puma yagouaroundi Gato-mourisco ET VI

Artiodactyla Cervidae Mazama americana Veado mateiro ET PG

Rodentia

Caviidae Cavia aperea Preá ET

Erethizontidae Coendou prehensilis Ouriço-cacheiro ET

Cuniculidae Cuniculus paca Paca ET

Dasyproctidae Dasyprocta agouti Cutia ET

Hydrochaeridae Hydrochoerus hydrochaeris Capivara ET

Lagomorpha Leporidade Sylvilagus brasiliensis Tapeti ET VI

3.2.1. Espécies ameaçadas de extinção

Entre as 27 espécies de mamíferos registradas na área, quatro das 22 espécies de médio e grande

porte encontram-se na Lista da Fauna Ameaçada de Extinção nacional. A espécie Callicebus

personatus apresenta-se como Vulnerável (VU) para a região serrana do Espírito Santo, assim

como as espécies de felino Leopardus pardalis (jaguatirica) e Leopardus tigrinus (gato-do-mato-

pequeno). A espécie de felino Puma concolor (onça-parda), por sua vez, encontra-se na categoria

de ameaça Em Perigo (EN) (Tabela 5).

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Tabela 5. Espécies de mamíferos silvestres ameaçados de extinção registrados na área proposta para a

criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, nos distritos de Regência e

Povoação [MAES = Aves e mamíferos ameaçados de extinção na região Serrana do Estado do Espírito

Santo (Mendes et al., 2006); LFBAE (2005) = Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

(Machado et al., 2005); IUCN (2006a) = Red List of Threatened Species; VU = Vulnerável; EN = Em

Perigo].

Ordem Família Espécie MAES LFBAE IUCN

Categorias de ameaça

Primates Pitheciidae Callicebus personatus VU VU VU

Carnivora Felidae

Leopardus pardalis VU - -

Leopardus tigrinus VU VU VU

Puma concolor EN - -

3.3 Mastofauna voadora

As comunidades compostas por morcegos neotropicais são muito complexas e os especialistas que

trabalham com este grupo animal no Estado do Espírito Santo tem se esforçado para traçar os

padrões biogeográficos demonstrados pelas espécies com ocorrência estadual.

Infelizmente, muitas áreas, incluindo a região do Delta do Rio Doce, vêm sofrendo com o aumento

da especulação imobiliária e o desmatamento, o que coloca em risco a obtenção de informações de

áreas de ocorrência e uso de várias espécies.

As coletas para amostragem de espécies de morcegos ocorreram durante 12 noites, sendo cinco delas

realizadas no final da estação seca e sete no final da estação chuvosa (Tabela 6 e Figura 8).

Tabela 6. Localidades inventariadas nas adjacências das vilas de Povoação e Regência, apresentando

suas respectivas coordenadas geográficas e datas de coleta

Data /Estação Regência Coordenadas geográficas

Seca Chuvosa

15/10/2008 6/4/2009 Fazenda Santa Lúcia 19º39'56,3”S 39º53’0,4"W

16/10/2008 8/4/2009 Mata da lagoa Parda 19º38'17,3"S 39º52'56,4"W

17/10/2008 7/4/2009 Mata da lagoa Caiçara 19º39'9,1"S 39º51'26,5"W

Seca Chuvosa Povoação

25/10/2008 4/4/2009 Mata de Guriri 19º39'43,4"S 39º46'58,9"W

26/10/2008 2/4/2009 Ecótone (pasto e restinga) 19º34'43,3"S 39º47'6"W

- 3/4/2009 Sítio Império (cabruca) 19º33'40"S 39º48'46"W

- 5/4/2009 Sítio Sebastião (cabruca) 19º33'14"S 39º49'51"W

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Figura 8. Locais inventariados quanto a fauna composta por morcegos em Povoação e Regência na área

proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce.

As amostragens utilizaram redes de neblina (mist-nets) de sete a quinze metros de comprimento,

armadas ao nível do solo. A cada dia foram abertos aproximadamente 102 metros de rede,

totalizando 1222 metros ao final do estudo. As redes ficaram estendidas durante seis horas por

noite totalizando um esforço de 72 horas.

Cada exemplar capturado passou pelas etapas de identificação até o nível taxonômico mais preciso;

do local de captura; do sexo; medida do antebraço em milímetros; classificação etária com base no

desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, como gônadas e glândulas mamárias e grau

de ossificação das sínfises dos ossos do metacarpo, com jovens apresentando sínfises cartilaginosas

e adultos apresentando sínfises ossificadas e gônadas e glândulas desenvolvidas. As fêmeas foram

classificadas quanto à condição reprodutiva em fêmeas grávidas; fêmeas lactantes ou pós-lactantes

e fêmeas não-grávidas e/ou não-lactantes. Exemplares mortos, conservados em álcool, foram

doados por moradores da região e também considerados na listagem de espécies para a área.

A área amostrada apresentou 16 espécies, mediante a classificação taxonômica de um total de 182

espécimes. A frequência relativa (fr) foi obtida apenas para os exemplares capturados por rede de

neblina e definidas como abundantes, comuns e pouco comuns (Tabela 7).

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Tabela 7. Lista de espécies de morcegos inventariados em Regência e Povoação e suas respectivas

frequências relativas e números totais de espécimes (fr = frequência relativa; N = número de

indivíduos; A = abundância, com AB = abundante, CO = comum e PC = pouco comum; e EF =

estratégia de forrageamento, com I= insetívoro, IA = insetívoro aéreo, F = frugívoro FB = frugívoro de

sub-bosque, FD = frugívoro de dossel, C= carnívoro, CL= capturam presas na folhagem ou solo, NA =

nectarívoro de vôo adejado e ON = onívoro)

Família Subfamília Espécie fr N A EF

Molossidae Molossinae Molossus molossus* - 2 PC IA

Phyllostomidae

Carolliinae Carollia perspicillata 20,67 37 AB FS

Rhinophylla pumilio 1,67 3 PC F

Glossophaginae Glossophaga soricina 1,67 3 PC CL

Lonchophylla mordax* - 1 PC NA

Phyllostominae

Chrotopterus auritusC 0,55 1 PC C

Phyllostomus discollorC 0,55 1 PC ON

Phyllostomus elongatusC 0,55 1 PC ON

Phyllostomus hastatusC 4,46 8 CO ON

Trachops cirrhosusC 1,11 2 PC CL

Stenodermatinae

Artibeus cinereus 1,11 2 PC FD

Artibeus fimbriatus 13,4 24 AB FD

Artibeus lituratus 46,36 83 AB FD

Artibeus obscurus 5,59 10 CO F

Chiroderma villosum 0,55 1 PC F

Vespertilionidae Myotinae Myotis nigricans 1,67 3 PC I

Total 16 100 182

* Animais coletados por busca ativa. C Espécies coletadas apenas na cabruca e que não foram utilizadas nas análises comparativas.

O hábito alimentar frugívoro foi predominante, ocorrendo em sete espécies de morcegos; seguido

pelo hábito onívoro e pelos demais hábitos alimentares, que apresentaram duas espécies cada, mas

com freqüências de captura diferentes (Figura 9).

2,18%

5,49%2,73% 1,63%

87,97%

Figura 9. Hábitos alimentares das espécies de morcego inventariadas em Regência e Povoação,

expressos em porcentagem com base na frequência relativa das espécies capturadas (Azul = Frugívoro;

Vermelho = Onívoro; Verde = Insetívoro; Roxo = Nectarívoro e Amarelo = Carnívoro).

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186

As redes de neblina possibilitaram a captura de 179 indivíduos distribuídos em 14 espécies de

morcegos, com sucesso de captura de 0,024 capturas por metro por hora e taxa de captura de 2,48

indivíduos por hora. A busca ativa permitiu a captura de dois exemplares da família Molossidae. A

Família Phyllostomidae colaborou com 98,33% das capturas, enquanto a Vespertilionidae

colaborou com apenas 1,67%. Com relação à freqüência relativa das espécies, Artibeus lituratus

representou 46,36% do número total de espécies, seguido por Carollia perspicillata, com 20,67% e

Artibeus fimbriatus, 13,4%.

A linha de tendência ou curva do coletor obtida pelo incremento do número de espécies a cada duas

horas não apresenta sinais de estabilização, significando que outras espécies ainda podem ser

encontradas na área proposta para a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (Figura 10).

0

2

4

6

8

10

12

14

16

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Figura 9. Gráfico do número cumulativo de espécies inventariadas por rede de neblina, pelo número

de horas trabalhadas, com ausência de estabilidade.

3.4 Entomofauna

A Mata Atlântica é um bioma com alto índice de diversidade e extremamente ameaçado,

apresentando uma diversidade expressiva de espécies de insetos, como libélulas, borboletas e

vespas.

As libélulas são predadores generalistas e apresentam larvas aquáticas e adultos terrestres. Os

dados provenientes da ocorrência ou ausência de suas espécies podem ser utilizados como

indicadores de qualidade de habitat de confiança. As libélulas apresentam como presas principais

os mosquitos e moscas.

As vespas parasitóides, por sua vez, participam de 50% das cadeias alimentares terrestres e atuam

no controle biológico natural das populações de suas presas, além de exibirem algumas espécies

utilizadas no controle biológico de pragas agrícolas.

Os grupos de insetos que tiveram espécies levantadas na área de estudo foram compostos por

libélulas (Ordem Odonata), borboletas (Ordem Lepidoptera), especialmente as da guilda frugívora;

e Famílias de vespas parasitóides (Ordem Hymenoptera), todos com ênfase nas espécies ameaçadas

de extinção.

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187

Os métodos utilizados consistiram em um levantamento rápido com busca ativa para espécies de

libélula, uso de armadilhas Malaise e Möricke para vespas e uso de armadilha Van Someren-Rydon

para borboletas da guilda frugívora. Os métodos foram empregados em um período de dois dias de

amostragem durante o mês de novembro de 2008 (Tabela 8).

Tabela 8. Pontos amostrados para o levantamento de insetos na área proposta para a criação da

Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce

Local Coordenadas geográficas

S W

Povoação

19° 33' 34,6" 39° 47' 15,3"

19° 33' 32,9" 39° 47' 16,5"

19° 33' 29,2" 39° 47' 08,0"

19° 33' 30,2" 39° 47' 07,6"

19° 33' 30,0" 39° 47' 06,3"

19° 33' 30,4" 39° 47' 05,1"

19° 33' 30,5" 39° 47' 04,3"

19° 33' 30,4" 39° 47' 02,9"

Reserva Biológica de Comboios* 19° 40' 08,5" 39° 53' 18,8"

* Dados complementares provenientes de coletas realizadas no Projeto Leptagrion, financiando pelo Fundo

Nacional do Meio Ambiente (FNMA) do Ministério do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (MMA) e

desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema).

A coleta na área de estudo registrou 17 espécies distintas de libélulas, pertencentes a quatro

famílias, havendo destaca para as espécies raras Mecistogaster amalia, Leptagrion díspar e

Leptagrion porrectum (Figura 11 e Tabela 9).

Mecistogaster amalia Leptagrion díspar Leptagrion porrectum

Figura 11. Espécies raras de libélulas.

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188

Tabela 9. Espécies de libélulas encontradas na região da Foz do Rio Doce.

Família Espécies Local

Coenagrionidae

Ischnura fluviatilis Povoação

Leptagrion dispar Reserva Biológica de Comboios

Leptagrion porrectum Reserva Biológica de Comboios

Telebasis filiola Povoação

Gomphidae Não identificada Povoação

Libellulidae

Diastatops obscura Povoação

Erythemis attala Povoação

Erythemis haematogaster Povoação

Erythemis vesiculosa Povoação

Erythrodiplax ocracea Povoação

Erythrodiplax umbrata Povoação

Miathyria marcella Povoação

Pantala flavescens Povoação

Perithemis mooma Povoação

Não identificada Povoação

Não identificada Povoação

Pseudostigmatidae Mecistogaster amalia Reserva Biológica de Comboios

Mecistogaster amalia é uma espécie com ocorrência em matas e enquadrada na categoria

Dados Deficientes na Lista de Espécies Ameaçada da IUCN. Suas larvas desenvolvem-se em

água acumulada nos ocos de árvores e nas raízes tabulares e os adultos alimentam-se de

aranhas e presas capturadas em teias. Leptagrion porrectum e L. dispar, por sua vez, são

endêmicas da Mata Atlântica e colocam seus ovos na água acumulada em bromélias, onde

suas larvas crescem até a formação do adulto e machos normalmente encontrados pousados

sobre ou perto das bromélias nas épocas mais quentes do ano. Leptagrion porrectum é

endêmica das restingas do norte no Espírito Santo e L. dispar ocorre somente no Espírito

Santo e Bahia.

As armadilhas destinadas para a amostragem de vespas parasitóides permitiram contabilizar 256

indivíduos representados por 20 Famílias, com estimativas para existência de 20 a 26 Famílias,

havendo predominância de Diapriidae (30,2%), Scelionidae (18, 3%) e Ceraphronidae (12,2%).

Devido à ocorrência de chuvas e ventos repentinos, nenhuma borboleta caiu nas armadilhas.

Entretanto, borboletas foram visualizadas, mas não possível uma identificação confiável.

Um total de 13 Ordens de insetos foi reconhecido a partir das armadilhas no levantamento de

vespas parasitóides na região de Povoação, consistindo em: Blattaria, Coleoptera, Collembola,

Diptera, Hemiptera, Hymenoptera, Isoptera, Lepidoptera, Mantodea, Orthoptera, Psocoptera,

Strepsiptera e Thysanoptera, que com a Ordem Odonata, composta pelas libélulas, resulta em 14

Ordens coletadas.

3.5 Herpetofauna

O levantamento de espécies de anfíbios e répteis na região de Regência e Povoação abrangeu as

margens sul e norte da Foz do Rio Doce, localizada no Município de Linhares, durante os dias 14,

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189

15 e 16 de novembro de 2008, dedicados a Regência; e 29 e 30 de novembro de 2008 dedicados a

Povoação, havendo o registro das coordenadas geográficas dos pontos visitados (Tabela 10).

Tabela 10. Coordenadas geográficas dos pontos locais aonde ocorreram buscas por espécies de anfíbios

e répteis em Regência e Povoação

Regência Povoação

19°37’38,74”S e 39°52’03,52”W 19°35’21,62”S e 39°47’32,82”W

19°40’12,67”S e 39°52’58,15”W 19°35’01,92”S e 39°47’06,28”W

19°39’31,61”S e 39°53’26,99”W 19°34’58,78”S e 39°47’04,30”W

19°39’26,36”S e 39°52’42,30”W 19°34’00,64”S e 39°47’14,42”W

19°39’14,07”S e 39°52’36,96”W 19°33’53,96”S e 39°47’12,82”W

19°39’23,26”S e 39°51’19,04”W 19°33’51,71”S e 39°47’11,45”W

19°39’18,77”S e 39°51’21,35”W 19°33’52,59”S e 39°47’04,66”W

19°38’48,72”S e 39°51’38,93”W 19°33’42,49”S e 39°47’09,57”W

19°38’19,69”S e 39°52’56,36”W 19°33’45,84”S e 39°48’34,87”W

19°38’02,58”S e 39°52’56,37”W 19°33’42,37”S e 39°48’30,54”W

19°38’02,79”S e 39°52’48,24”W

19°37’59,80”S e 39°52’10,87”W

19°37’46,30”S e 39°52’17,43”W

A catalogação das espécies ocorreu a partir de busca ativa e complementação de informações pela

consulta de diversos estudos desenvolvidos a partir de um mapa de distribuição das espécies

apresentado pela IUCN (2006b).

Os totais de 25 espécies de anfíbios e sete espécies de répteis foram registrados para a área (Figura

12, Tabela 11 e Tabela 12). Informações adicionais provenientes de estudos realizados em áreas

próximas à região abordada e pelos mapas de distribuição geográfica da IUCN (2006b)

confirmaram a presença de 80 espécies de anfíbios para região da Foz do Rio Doce, o que

representa 55% das espécies já registradas para o Estado do Espírito Santo, um total de 144

espécies. Enquanto o Estado do Espírito Santo apresenta 124 espécies de anfíbios endêmicas de

Mata Atlântica, a região da Foz do Rio Doce e seu entorno tem potencial para abrigar cerca de 80

destas espécies (40%).

Figura 12. Curva acumulada de espécies da herpetofauna obtida em cinco dias de amostragem, em

Regência e Povoação, município de Linhares.

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190

Tabela 11. Lista de anfíbios já registrados para a região da Foz do Rio Doce (IUCN = International

Union for Conservation of Nature: LC = Não-ameaçada e DD = Dados Deficientes; ES = Espírito

Santo: NC = Não citada como ameaçada e Tipo de Registro: a = audição, g = gravação, f = foto, v =

visualização e b = fonte bibliográfica)

Táxon IUCN ES Endêmica de Mata

Atlântica

Tipo de

registro

Bufonidae

Bufo crucifer LC NC Sim a f v

Rinella granulosa LC NC Sim a f v

Rinella Schneideri LC NC Sim f v

Craugastoridae

Haddadus binotatus LC NC Sim f v

Hylidae

Aparasphenodon brunoi LC NC Sim a g f v

Dendropsophus bipunctatus LC NC Não a g f v

Dendropsophus decipiens LC Sim a g f v

Dendropsophis sp. 1 a g f v

Dendropsophis sp. 2 a g f v

Dendropsophis elegans LC NC Sim a g f v

Hypsiboas albomarginatus LC NC Sim a g f v

Hypsiboas pardalis LC NC Sim a f v

Hypsiboas semilineatus LC NC Sim a g f v

Phyllodytes luteolus LC NC Sim a g f v

Scinax alter LC NC Sim a g f v

Scinax argyreornatus LC NC Sim f v

Scinax fuscovarius LC NC Não a f v

Trachycephalus nigromaculatus LC NC Não a f v

Leiuperidae

Physalaemus crombiei LC NC Sim f v

Physalaemus obtectus DD NC Sim f v

Leptodactylidae

Leptodactylus fuscus LC NC Não a g f v

Leptodactylus natalensis LC NC Sim f v

Leptodactylus spixi LC NC Não f v

Leptodactylus ocellatus LC NC Não f v

Leptodactylus thomei - - - b

Microhylidae

Arcovomer passarellii LC NC Sim a f v

Dasypops schirchi - - - b

A região é a única conhecida por apresentar registro da espécie Leptodactylus thomei (Almeida &

Ângulo, 2006), além da presença exclusiva de espécies de baixada como a Dasypops schirchi.

A distribuição dos répteis não conta com a elaboração prévia de um mapeamento detalhado para a

maioria das espécies. Esta ausência de informações torna arriscada a obtenção de uma estimava do

número real de espécies que ocorre na Foz do Rio Doce, havendo a necessidade de mais estudos na

região.

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191

Tabela 12. Lista de répteis já registrados para a região da Foz do Rio Doce (IUCN = International

Union for Conservation of Nature: LC = Não-ameaçada; ES = Espírito Santo: NC = Não citada como

ameaçada e Tipo de Registro: f = foto e v = visualização)

Táxon IUCN ES Endêmica de Mata

Atlântica

Tipo de

registro

Tropiduridae

Tropidurus torquatus LC NC Não v f

Gekkonidae

Hemidactylus mabouia LC NC Não v f

Hemidactylus mabouia LC NC Não v f

Teiidae

Ameiva ameiva Não v f

Scincidae

Mabuya agilis Não v f

Colubridae

Phimophis sp LC NC Não v f

Viperidae

Bothrops jararaca LC NC Não v f

3.5.1. Espécies ameaçadas de extinção

Levando-se em consideração a Lista de Espécies Ameaçadas do Espírito Santo (2005), dez

espécies de anfíbios apresentam algum grau de ameaça, com as espécies Cycloramphus

fulginosus Tschudi, 1838 estando na categoria Criticamente em Perigo (CP) e a espécie

Hyalinobatrachium eurygnathum e Hyalinobatrachium uranoscopum (Muller, 1924) como

Vulneráveis (VU), presentes na área proposta para a criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio Doce.

As espécies de répteis detectadas na campanha de campo não constam nas listas de espécies

ameaçadas, com exceção das espécies de tartarugas marinhas. Entretanto, a espécie

Chenmidophorus nativo ou lagartinho-de-linhares, com registro em área próxima (Vieira &

Gasparini, 2007); é considerada uma espécie ameaçada de extinção na categoria Vulnerável

(VU).

3.6 Avifauna

O levantamento de espécies de aves ocorreu de 30 de novembro de 2008 a 3 de dezembro de 2008,

acumulando cerca de 40 horas de amostragens pelos métodos de Avaliação Ecológica Rápida,

entrevistas e pelo método de MacKinnon ou listas numéricas, elaboradas por meio de registros

visuais, auditivos e bioacústica.

Um total de 20 estações de amostragens foi distribuído em cinco tipos de ambientes: vegetação

antrópica, restingas, ambientes aquáticos dulcícolas, matas de Tabuleiro e matas de cabruca

presente em meio a Floresta Estacional Semidecidual Aluvial (Tabela 13).

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192

Tabela 13. Pontos com seus respectivos ambientes, coordenadas geográficas e altitudes

Pontos Localidades/Ambientes Coordenadas geográficas Altitude (m)

1 Boca da Barra, Foz do Rio Doce 415347 7829330 4

2 Restinga 415728 7830116 4

3 Praia 416146 7831400 8

4 Sítio dona Maria 416566 7832317 11

5 Fazenda de Santa Julia 416986 7833097 12

6 Praia 417838 7834434 9

7 Campos 417244 7839800 12

8 Campos 416418 7839274 8

9 Fazenda Reunidas Ceará 415680 7838612 9

10 Fazenda Paraíso 415818 7837550 13

11 Ponte rio Monsarás 415956 7837300 5

12 Cabrucas 410859 7838228 15

13 Margem do Rio Doce 409429 7838973 12

14 Restinga 418164 7835226 8

15 Cabruca 410937 7838180 15

16 Cabruca sem dossel 414596 7837209 14

17 Ponte de Povoação 415647 7836533 10

18 Vila de Povoação 416927 7834946 15

19 Restinga 416927 7836095 6

20 Lagoa de Monsarás 419059 7837172 5

A base de analises da composição faunística de aves forneceu a Diversidade gama (riqueza geral de

espécies) e a Diversidade alfa (riqueza de espécies nos ambientes). Os elementos especiais da fauna

também foram considerados mediante o registro de endemismos da Mata Atlântica, das espécies

ameaçadas de extinção, das espécies cinegéticas, dos registros históricos e das espécies com alta

sensibilidade ecológica.

Uma riqueza de 195 espécies distribuída em 55 Famílias foi obtida na área proposta para a criação

da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce. Esta riqueza apresentou 60

espécies florestais, 11 espécies endêmicas de Mata Atlântica e oito espécies ameaçadas, com a área

apresentando potencial para registros de outras espécies (Figura 13).

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193

0

20

40

60

80

100

120

140

0 2 4 6 8 10 12 14 16

Amostragens

de e

sp

écie

s

Figura 13. A curva do coletor não atingiu a estabilidade, indicando a potencialidade para obtenção do

registro de outras espécies para a área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável da Foz do Rio Doce.

A Diversidade Alfa exclusiva de Mata Atlântica apresentou 21 espécies em área de vegetação

antrópica, quatro espécies em áreas de restinga, 17 espécies em matas de Tabuleiro, três espécies

em matas de cabruca e 43 espécies em áreas de ambientes aquáticos, representando o ambiente

mais rico em termos de espécies.

As espécies também apresentaram uma diversidade expressiva quanto à guildas tróficas, havendo

predominância de espécies insetívoras (Figura 13).

0 5 10 15 20 25 30 35

IN

ON

FR

GR

NE

CA

Gu

ild

as

Número de espécies Figura 13. Guildas tróficas com respectivo número de espécies de aves (CA = carnívoros, NE =

nectarívoros, GR = granívoros, FR = frugívoros, ON = onívoros e IN = insetívoros).

A visita de naturalistas que percorreram a região do Delta do Rio Doce possibilitou inferir a

presença de diversas espécies não mais presentes devido à pressão da caça, do tráfico de animais

silvestres e da alteração de habitats anteriormente intactos e estáveis (Figura 14).

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194

Figura 14. Alguns dos elementos faunísticos anteriormente presentes no Delta do Rio Doce e que foram

localmente ou totalmente extintos.

Durante a amostragem foi possível observar a ocorrência de aglomerações de formigas de correição

do gênero Eciton em busca de presas, um fenômeno que pode favorecer diversas outras espécies

animais por meio de interações ecológicas complexas, incluindo outras espécies de insetos, anfíbios

e aves.

3.6.1. Espécies ameaçadas de extinção

As espécies ameaçadas de aves presentes na área proposta para a Reserva de

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce incluem Crypturellus variegatus (chororão);

Ciconia maguari (maguari); Pyrrhura cruentata (tiriba); Amazona rhodocorytha (papagaio-

chauá); Nyctibius grandis (mãe-da-lua-grande); Nyctibius aethereus (mãe-da-lua-parda);

Schiffornis turdina (flautin) e Mimus gilvus (sabiá-da-praia).

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195

4. Discussões e conclusões

2.1 Flora

A realização de um levantamento florístico restrito a uma única semana do ano, concentrado em

parte de uma única estação do ano, forneceu uma diversidade de espécies considerável e reflete

apenas uma amostra do potencial florístico da área proposta para criação da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, sendo necessária a realização de coletas

sazonais, abrangendo todas as estações, pelo menos durante um ano, o que pode ser realizado

futuramente mediante a preservação da área.

A quantidade de espécies ameaçadas de extinção, endêmicas e úteis na área estudada preenche os

principais critérios de priorização valorizados para que a manutenção da conservação da

biodiversidade seja considerada, como o Perigo, a Diferenciação e a Utilidade.

A presença de ameaças como: especulação imobiliária, turismo sem abordagem conservacionista e

retirada de espécies para comercialização, principalmente de bromélias; associada a uma rica

representatividade de formações e espécies vegetais endêmicas, raras e ameaçadas de extinção

sustenta a necessidade da consolidação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio

Doce, pois é de importância extrema para a conservação da biodiversidade e a necessidade de

critérios efetivos de preservação.

A implementação de uma Unidade de Conservação sob a forma de um Reserva de

Desenvolvimento Sustentável também é essencial para garantir a sustentabilidade das comunidades

locais e a conservação de espécies existentes, bem como a futura realização de um zoneamento

ecológico e econômico.

2.2 Mastofauna não-voadora

Apesar das limitações ocorridas durante a campanha de levantamento de espécies devido à intensa

chuva, o número de espécie de mamíferos não-voadores para á área de estudo deve ser considerado

como essencial.

O registro de novas espécies poderá ocorrer com a continuidade dos esforços de captura e com

amostragens nos períodos de seca, uma vez que o número de espécies amostrado na estação seca

geralmente supera o obtido na estação chuvosa.

Apesar de a amostragem ter sido realizada na estação chuvosa, a diversidade de espécies de

mamíferos não-voadores foi significativa, tendo sua importância ecológica aumentada devido à

associação destes elementos da fauna com os tipos de vegetação presentes na área proposta para

criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce. A presença confirmada

de determinadas espécies de mamíferos não-voadores na área, em conjunto com espécies de outros

grupos animais, aumenta os valores de riqueza, diversidade e o número de espécies ameaçadas de

extinção presentes nesta área.

É importante destacar que os ambientes de mata e restinga nativas não protegidas são abundantes,

apesar do intenso processo de degradação; e podem tornar-se importantes como corredores de

dispersão para espécies locais de mamíferos e outros grupos animais, caso as formações vegetais

sejam integradas a um mosaico de ambientes que inclua a Reserva Biológica de Comboios.

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196

Apesar de toda a alteração ambiental decorrente principalmente da ocupação humana, é possível

atribuir à riqueza da fauna de mamíferos à área florestal presente, uma área que necessita ser

preservada e assegurada mediante a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do

Rio Doce.

Ainda que a riqueza de espécies na região seja representativa é importante ressaltar que teve sua

diversidade alterada. Este contexto se torna mais grave quando considerada a presença de espécies

vulneráveis, raras e ameaçadas, principalmente as que ocorrem em densidades relativamente mais

baixas.

A supressão de vegetação e consequentemente a perda de habitat para as grandes áreas de pastagem

afeta de um modo geral todas as espécies. Portanto, torna-se interessante a presença de um mosaico

de ambientes fundamental para a permanência de populações viáveis de espécies de mamíferos,

pois a diversidade de ambientes garante a manutenção da fauna.

2.3 Mastofauna voadora

A razão entre o número de espécies registradas e número de noites de coleta em Regência e

Povoação apresenta um valor superior ao encontrado em outras áreas de Mata Atlântica (Tabela

14).

Tabela 14. Inventários de morcegos da Mata Atlântica na região Sudeste do Brasil

Estadoa Localidade

b Categoria

N° de

noites

N° de

capturas

N° de

espécies

MG Rio Doce P 12 195 19

RJ Vargem Grande - 17 140 13

SP Morro do Diabo P 12 345 15

ES Santa Lúcia E 15 148 15

ES Duas Bocas RB 16 627 19

ES Regência e Povoação - 12 194 16

a MG = Minas Gerais; RJ = Rio de Janeiro; SP = São Paulo e ES = Espírito Santo. b P = Parque Federal ou Estadual; R = Reserva; RB = Reserva Biológica e E = Estação Biológica.

Apesar de os outros estudos utilizarem métodos similares e empregarem esforços não-informados

em termos de metros de rede para algumas localidades citadas, a área proposta para a criação da

Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce apresentou uma riqueza de espécies

mais expressiva quando comparada a maioria das áreas estudadas de Mata Atlântica.

Os dias de estudo nas localidades de vegetação de restinga resultaram em uma riqueza de 11

espécies, havendo a adição de mais cinco espécies ao se realizar dois dias de coleta nas localidades

de mata de cabruca. O aumento da riqueza ocorreu provavelmente devido à manutenção da

estratificação ambiental, especificamente para os morcegos, ao se criar uma mata de cabruca,

mesmo após a alteração parcial da vegetação nativa (Alves, 1990), o que pode não significar uma

alteração benéfica para outros grupos animais como as aves.

A não estabilização da linha de tendência a partir da curva do coletor demonstra que novas espécies

de morcegos podem ser registradas mediante o aumento do esforço amostral.

A diversidade de hábitos alimentares e estratégias de forrageamento consolidam a necessidade da

manutenção da diversidade de habitats presentes na área proposta para a Reserva de

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197

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, indicando o potencial da área para abrigar

diferentes espécies, havendo a necessidade da consolidação de sua criação, o que garantirá a

continuidade de processos biológicos importantes para a diversidade de ambientes local e das

espécies que nela ocorrem.

2.4 Entomofauna

As condições climáticas desfavoráveis estiveram presentes ao longo dos dias de amostragem.

Entretanto, ainda assim foram amostradas 20 Famílias de vespas parasitóides, número similar aos

resultados obtidos nas áreas de Serra das Torres e Santa Leopoldina e inferior as diversidades

obtidas em Santa Teresa e Alto Misterioso (Tabela 15).

Tabela 15. Riqueza (R) e Estimativa de Riqueza (ER) para cada área estudada no Projeto de Apoio à

Criação de Unidades de Conservação no Estado do Espírito Santo: um processo participativo

integrando as comunidades locais

Serra das

Torres

Santa

Teresa

Alto

Misterioso

Santa

Leopoldina

Delta do Rio

Doce

R ER R R ER R ER R ER

Libélulas 22 – 43 22 23 a 31 11 19 a 34 17 –

Borboletas 17 18 a 28 397* 21 24 a 28 5 – – –

Vespas 24 24 a 29 35 29 30 a 36 28 28 a 38 20 20 a 26

Em comparação com os demais dados de coleta em Mata Atlântica, a riqueza de Famílias obtidas é

baixa, mas deve-se levar em consideração que as condições climáticas foram desfavoráveis e que

as armadilhas ficaram expostas durante tempo muito inferior ao que é recomendado, um tempo

menor do que 24 horas, enquanto o padrão sugere uma permanência de pelo menos uma semana.

Além disto, ambientes com potencial para fornecimento de novos registros de espécies, como as

áreas de alagados ou brejos em Regência, não foram amostrados devido às condições climáticas

desfavoráveis para a coleta de insetos.

Os tipos de ambientes e sua heterogeneidade influenciam consideravelmente muitos grupos de

insetos, sendo essencial a preservação de cada tipo de habitat para a preservação eficiente do maior

número de espécies; principalmente as espécies raras de libélula Mecistogaster amalia, Leptagrion

dispar e L. porrectum, bem como suas interações com recursos vegetais escassos com retirada

exploratória frequente em localidades pertencentes à área proposta para criação da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce.

A saúva-preta (Atta robusta), formiga ameaçada de extinção nacionalmente e regionalmente na

categoria Vunerável (VU), também ocorre na área da Reserva Biológica de Comboios (Teixeira et

al., 2004; Machado et al., 2008), sendo mais uma espécie que reforça a necessidade de proteção do

Delta do Rio Doce.

O fato de esta área ser insubstituível devido a sua diversidade ecossistêmica e de espécies

corrobora a necessidade da implementação de uma proteção eficiente mediante a criação de uma

Unidade de Conservação.

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2.5 Herpetofauna

A região da Foz do Rio Doce apresenta uma espécie de réptil ameaçada, com exceção das espécies

de tartaruga; e três de anfíbios sob alguma forma de ameaça. Aliado a esta informação, existe a

possibilidade da ocorrência de pelo menos 80 espécies de anfíbios, com 63% destas estando restrita

a Mata Atlântica.

A região ao norte do Rio Doce, rica em remanescentes de florestas de restingas, possui poucas

áreas protegidas, havendo a necessidade da proteção de áreas adicionais.

Enquanto o Estado do Espírito Santo apresenta 124 espécies de anfíbios endêmicas de Mata

Atlântica, a região do Delta do Rio Doce e seu entorno tem potencial para ter 80 delas (40%); com

possibilidade de ocorrência de 77 espécies consideradas Não-ameaçadas (LC), duas como

Vulneráveis (VU), nenhuma como Quase ameaçada (NT), uma com Dados Deficientes (DD) e

nenhuma Em Perigo (EN), informações que fortalecem a necessidade da consolidação da Reserva

de Desenvolvimento Sustentável devido a sua importância para a conservação da biodiversidade

em áreas efetivamente desprotegidas em um primeiro momento.

2.6 Avifauna

A área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce

apresenta potencial para a existência de várias outras espécies de aves.

As matas de cabruca características da área apresentam uma estrutura simplificada em relação ao

número de espécies de aves, estando destituídas de muitas espécies presentes nas matas de

Tabuleiro do norte do Espírito Santo.

A implementação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável deve indicar práticas adequadas

para o manejo das matas de cabruca, que poderão torná-las áreas importantes para o refúgio da

fauna silvestre.

É fundamental que a complexidade de tipos de vegetação da área proposta para a criação da

Reserva de Desenvolvimento Sustentável seja preservada, pois só assim será garantido a

manutenção dos taxa, da variabilidade genética, dos processos evolutivos e das interações

complexas entre espécies de diferentes grupos animais, vegetais e de microorganismos.

A presença de elementos vegetais diversificados e formadores da complexidade ambiental, bem

como o histórico de extinção de espécies de aves em uma localidade que já foi anteriormente mais

diversificada, justifica a implementação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio

Doce para a conservação da biodiversidade de ambientes litorâneos do Espírito Santo.

5. Importância da conservação de ambientes aquáticos em áreas de alagados

Levando-se em consideração os ambientes raros e até mesmo exclusivos presentes no entorno da

área proposta para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce; é

imprescindível que os ambientes como os brejos ou alagados passem a integrar a área que deve ser

protegida, uma recomendação inicialmente proposta pelos especialistas em aves, insetos e anfíbios

e apoiada pelos especialistas dos demais grupos animais, vegetais e de abordagem

socioeducacional.

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199

Estas áreas são caracterizadas por permanecerem cobertas por água doce, além de sofrerem

períodos de flutuação do nível da água, sendo muito sensíveis e as alterações ambientais via

poluentes e remoção ou introdução de novos elementos da fauna e flora. Isto consiste, em parte, por

serem sistemas muito abertos, recebendo influência direta dos ecossistemas terrestres e aquáticos

vizinhos ao qual estão integrados.

Infelizmente, muitos destes ambientes foram considerados insalubres até a década de 70 do Século

XX. Uma realidade que foi alterada mediante o aumento de pesquisas direcionadas, demonstrando

que são peças fundamentais para a autodepuração de rios, lagoas e demais ambientes associados.

Além disto, atuam como locais para reprodução, desenvolvimento e habitat de várias espécies

aquáticas de insetos, peixes, crustáceos, microcrustáceos, moluscos, espécies vegetais, anfíbios,

répteis, aves, inclusive migratórias; e mamíferos.

Esta imensa variedade de formas de vida ocorre e se mantém principalmente devido à variação

constante das características físico-químicas da água e produtividade de matéria em comparação a

outros corpos hídricos.

A inclusão destes ambientes na área protegida poderá evitar a exploração econômica excessiva

proveniente de um turismo sem planejamento, ocorrência de ocupação habitacional em áreas

vizinhas não- apropriadas, utilização do entorno para o plantio de coco e outras culturas de forma

desenfreada e drenagem local.

Desta forma, o estado de conservação do ambiente como um todo pode ser garantido impedindo o

desmatamento de suas bordas; o que evitaria o aumento do escoamento superficial das águas de

chuva e da evapotranspiração e redução da infiltração hídrica responsável pela recarga das águas

superficiais. Neste contexto, a mata atua como um filtro biológico onde a água precipitada é

liberada gradualmente por evapotranspiração e acumulada por infiltração no solo.

Diante do exposto, torna-se evidente a necessidade da implementação de uma estratégia de

conservação da biodiversidade local, anexando-se as áreas alagadas mencionadas ao território

proposto para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce.

A medida pode inclusive beneficiar a implementação de visitas monitoradas para observação de

aves, uma vez que as áreas alagadas abrigam uma diversidade de espécies considerável,

colaborando para a transmissão de idéias conservacionistas e de uso sustentável.

6. Referências

ALMEIDA, A.P & ANGULO, A., 2006 A new species of Leptodactylus (Anura: Leptodactylidae) from the

state of Espírito Santo, Brazil, with remarks on the systematics of associated populations. Zootaxa

1334: 1–25.

ALVES, M.C., 1990. The role of cacao plantations in the conservation of the Atlantic Forest of Southern

Bahia, Brazil. 1990. M.Sc. thesis, University of Florida. Gainesville, Florida.

ESPÍRITO SANTO, 2005. Decreto n° 1499-R. Declara as espécies da fauna e flora silvestres ameaçadas de

extinção no estado do Espírito Santo. Diário oficial da união (13 de junho de 2005), Vitória, ES.

VIEIRA, F. & J.L. GASPARINI, 2007 Anfíbios Ameaçados de Extinção no Estado do Espírito Santo. In.

PASSAMANI, M. & S.L. MENDES (Org.). Espécies da Fauna Ameaçadas de extinção no Estado do

Espírito Santo. Ipema, Vitória.

IBAMA, 2008. Lista oficial de Flora Ameaçada de Extinção.

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200

IUCN, 2004. 2004 IUCN Red List of Threatened Species.

IUCN, 2006a. 2006 IUCN Red List of Threatened Species.

IUCN, 2006b. Conservation International and Nature Serve. Global Amphibian Assessment.

MACHADO, A. B. M.; C.S. MARTINS & G.M. DRUMMOND, 2005. Lista da fauna brasileira

ameaçada de extinção, incluindo as listas das espécies quase ameaçadas e deficientes em

dados. Belo Horizonte (MG). Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte, 157 pp.

MENDES, S.L.; J.E. SIMON; D.M. VIANNA & A. GATTI, 2006. Aves e mamíferos ameaçados

de extinção na região serrana do estado do Espírito Santo. Ipema, Vitória, 90 p.

TEIXEIRA, M.C., J.H. SCHOEREDER & J.N.C. LOUSADA, 2004. Occurrence of Atta robusta

Borgmeier (Hymenoptera: Formicidae) in the north of Espírito Santo State, Brasil.

Neotropical Entomology, 33(2):265-266.

7. Lista de presença

Nome do participante Equipe / Instituição E-mail

Edicarlos Pralon Silva Herpetofauna [email protected]

Elizete Sherring Siqueira Ipema [email protected]

Geovanni Ribeiro Loiola Entomofauna / Ipema [email protected]

Ivani Zecchinelli Vitória do Futuro [email protected]

José Eduardo Simon Avifauna [email protected]

José Luiz Helmer Herpetofauna [email protected]

Karina Schmidt Furieri Entomofauna [email protected]

Lauro Narciso Mastofauna não-voadora [email protected]

Marcelo Simonelli Flora [email protected]

Renata Costa Carvalho Mastofauna voadora [email protected]

Roberta Cordeiro Fassarella Educação Ambiental / Ipema [email protected]

Roberto Sforza TAMAR / ICMBio [email protected]

Rodrigo Lemes Martins Mastofauna voadora / Ipema [email protected]

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201

ANEXO II. DIAGNÓSTICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL SOBRE A ÁREA DE INTERESSE PARA

CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

PROJETO SABERES DA MATA

MEIO ANTRÓPICO / EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS

DELTA DO RIO DOCE

I. Identificação

1. Nome do entrevistado:__________________________________________________________________

2. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino Idade: ________anos

3. Endereço:___________________________________ ________________________________________

4. Telefone: ( )_______________________ E-mail:_________________________________________

5. Grupo setorial de identificação: ___________________________________________________________

6. Nome da instituição/entidade/organização:__________________________________________________

7. Cargo /papel social:_____________________________________________________________________

II. Perfil Social e ambiental

8. Escolaridade:

( ) Não escolarizado ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo

( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo

( ) Ensino superior incompleto Curso: ________________________________________________________

( ) Ensino superior completo. Curso:_________________________________________________________

( ) Pós-graduação. Curso: _________________________________________________________________

PROJETO SABERES DA MATA

UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DELTA DO RIO DOCE/ES

“Diagnóstico da Educação Ambiental”

Nome do

entrevistador:

Data de aplicação Hora exata de início da entrevista: Questionário nº:

2009

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202

9. Onde trabalha/atua como educador/educadora ambiental?

( ) Educação Infantil ( ) Legislativo

( ) Ensino Fundamental ( ) Sindicato

( ) Ensino Médio ( ) Associação Comunitária

( ) Ensino Superior ( ) Órgão Governamental Federal

( ) Especialização ( ) Órgão Governamental Estadual

( ) Mestrado ( ) Órgão Governamental Municipal

( ) Doutorado ( ) Movimentos sociais

( ) Empresa ( ) Pesquisa

( ) ONG/OSCIP

( ) Outros. Especificar:____________________________________________________________________

9.1 Indique o nome do local onde trabalha/atua em EA:__________________________________________

10. Participa de:

( ) Organização social em rede ou Movimento Social. Qual? ______________________________________

( ) Lista de discussão. Qual?________________________________________________________________

( ) Conselhos de Meio Ambiente. Qual?______________________________________________________

( ) Comissões e Câmaras Técnicas de EA. Qual?________________________________________________

( ) Fóruns de EA. Qual?___________________________________________________________________

( ) Comitês de Bacias Hidrográficas. Qual?____________________________________________________

( ) ONG. Qual?__________________________________________________________________________

( ) Outros. Quais?________________________________________________________________________

11. Tempo de atuação em EA:

( ) Até 2 anos

( ) Mais de 2 anos - 5 anos

( ) Mais de 5 anos - 10 anos

( ) Mais de 10 anos

12. Na sua área de atuação, qual a demanda de Educação Ambiental que em sua opinião necessita de apoio

prioritariamente:

( ) Acesso a informações relacionadas a EA

( ) Materiais educativos sobre EA

( ) Cursos de formação continuada em EA

( ) Apoio institucional a promoção da EA

( ) Formação de grupos de estudo

( ) Acesso às novas tecnologias da comunicação (Internet)

( ) Financiamento de projetos de EA

( ) Outros. Especificar:_____________________________________________________________________

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13. Você desenvolve prioritariamente a E.A. por meio de/do:

( ) Cotidiano escolar ( ) Campanhas

( ) Pesquisa ( ) Palestras

( ) Programas ( ) Eventos (encontros, seminários e cogressos)

( ) Projetos ( ) Produção de material educativo

( ) Cursos e/ou oficinas ( ) Atividades artístico cultural

14. Os problemas ambientais listados, quais, na opinião do (a) Sr (a), existem aqui:

( ) Queimadas/incêndios florestais

( ) Desmatamento

( )Caça de animais silvestres

( ) Poluição das águas/lençol freático

( ) Mineração/Garimpo

( ) Poucas áreas preservadas

( ) Falta de água para beber

( ) Desperdício de água

( ) Falta de coleta de lixo/sujeira provocada por lixo

( ) Falta de rede de esgoto

( ) Falta de educação ambiental das pessoas

( ) Falta de moradia adequada

( ) Falta de locais de lazer

( ) Contaminação com agrotóxico

( ) Poluição do ar (poeira, fumaça)

( ) Vibrações e ruídos

( ) Falta de jardins e áreas verdes

Outros:

( ) Desperdício de __________________________________________________________________

( ) Alteração da paisagem ____________________________________________________________

( ) Outros ________________________________________________________________________

15. Qual o problema ambiental que o(a) Sr(a) acha mais grave ou mais sério nesta localidade, hoje?

__________________________________________________________________________________

16. Quais são, na opinião do Sr(a), as soluções mais adequadas para esse problema?

__________________________________________________________________________________

Soluções __________________________________________________________________________

17. Quem pode solucionar esse problema?___________________________________________________

Como?____________________________________________________________________________

18. O(A) Sr(a) acha importante a existência de uma Unidade de Conservação (UC) para a região?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe

Se sim, por quê? __________________________________________________________________________

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19. Acha que uma UC traz benefícios para a região?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe

Se sim, qual ou quais são eles? ________________________________________________________

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