face ao douro nº 51

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Escola EB2/3 de Olival Escola Secundária/3 Diogo de Macedo Agrupamento de Escolas Diogo de Macedo, Olival Novembro 2014 N.º 51 Ano: XX Preço: 0,50€ D. Carlos Filipe Ximenes Belo, Bispo Emérito de Díli, no AEDMO “FACE AO DOURO” 20 ANOS AO SERVIÇO DA EDUCAÇÂO E DA CULTURA 22 DE NOVEMBRO DIA DO PATRONO HOMENAGEAR UMA DATA

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Jornal Face ao Douro nº 51 de Novembro de 2014

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Page 1: Face ao Douro nº 51

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Escola EB2/3 de Olival Escola Secundária/3 Diogo de Macedo

Agrupamento de Escolas Diogo de Macedo, Olival

Novembro 2014 N.º 51 Ano: XX Preço: 0,50€

D. Carlos Filipe Ximenes Belo, Bispo Emérito de Díli, no AEDMO

“FACE AO DOURO” 20 ANOS AO SERVIÇO DA

EDUCAÇÂO E DA CULTURA

22 DE NOVEMBRO DIA DO PATRONO

HOMENAGEAR UMA DATA

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Propriedade: Agrupamento de Escolas Diogo de Macedo, Olival

Diretor: Carlos Silva

Equipa Coordenadora: Manuel Filipe Sousa, Isabel Pereira, Henri-que Ribeiro e Luísa Azevedo.

Convidados: Margarida Santos, Delfim de Sousa e Francisco Macedo. Professores: Almerinda Devezas, Ana Sofia Dias, Isaura Pe-reira, Manuel Filipe Sousa, Maria Rosário Meireles e Marta Cordeiro. Fotografias: Isaura Pereira, Manuel Brandão, Manuel Filipe Sousa, Mª do Rosário Meireles e Margarida Santos.

Arranjo gráfico: Isabel Pereira, Luísa Azevedo e Henrique Ribeiro

FACE AO DOURO

A venda deste número do Face ao Douro reverte a favor do CLUBE DE SOLIDARIEDADE

2ª PÁGINA FACE AO DOURO

Diogo Cândido de Macedo nasceu na freguesia de Mafamude, concelho de Vila Nova de Gaia, a 22 de Novembro de 1889, tendo morrido em Lisboa a 19 de Fevereiro de 1959.

Formou-se em Es-cultura na Academia Portuense de Belas-Artes e foi viver para Paris, como muitos modernistas portugueses, onde aprofundou os estu-dos com Bourdelle

na Académie de la Grande Chaumière. O meio artístico português celebrou as suas esculturas neo-românticas e rodinianas, e ainda os desenhos e pinturas sob o signo de Modigliani, com quem conviveu em Paris. Mas mais do que a criação artística, foi a sua ação cultural que teve um im-pacto particularmente decisivo no país, como um dos autores mais prolíferos sobre arte moderna e contemporânea, e enquanto comissário e museólogo, assu-mindo em 1944 a direção do Museu Na-cional de Arte Contemporânea (atual Museu do Chiado) até ao final da vida.

Desde 1995 que a Escola Secundária de Olival passou a ter o nome de Diogo de Macedo como seu patrono, tendo, com a constituição do AEDMO, a desig-nação alargado a todo o Agrupamento, razão pela qual a Comunidade Educativa comemora este dia (corresponde à data de nascimento de Diogo Cândido de Macedo) com diversas atividades (ver programa).

De salientar a presença entre nós de D. Ximenes Belo, bispo emérito de Díli, que nos vem trazer uma mensagem de paz e esperança, do pintor José Silva com a exposição dos seus trabalhos e de outros convidados. Momento único pela envolvência de todos os estabelecimen-tos de ensino com os seus alunos, pais, professores e demais funcionários é a Sessão Comemorativa que terá lugar no Centro Cultural de Olival.

Estas comemorações, enquanto pro-duto do esforço de todo o Agrupamen-to, principalmente dos alunos, envolven-do igualmente elementos da Comunida-de Educativa local e municipal, devem ser vividas por todos na sua plenitude, pois representam um momento especial no reforço da nossa própria existência.

Novembro de 2014. Em pleno primeiro período deste no-

vo ano letivo voltamos a celebrar no-vembro. Celebrar a figura que nos identi-fica institucionalmente e que connosco colabora na procura de uma identidade sólida e coesa para um agrupamento da dimensão do nosso. Celebrar os 125 anos de Diogo de Macedo e o legado que nos deixou nos mais diversos forma-tos da esfera cultural.

É neste enquadramento que novem-bro significa um mês ‘diferente’ para nós. E, por isso, celebramos o Dia do Patrono desenvolvendo um conjunto forte de iniciativas e de atividades tendo a figura de Diogo de Macedo no centro.

Singularmente inspirador, Diogo de Macedo ajuda-nos a delinear aquilo que se pretende venha a constituir o nosso Projeto Educativo de Agrupamento.

Estruturando-se em torno de 7 ideias chave, o nosso Projeto Educativo pro-põe-se responder ao desafio de assegurar que todos os seus membros alcancem a expressão máxima do seu desenvolvi-mento pessoal e coletivo numa crescente intencionalidade emancipatória. Este é um enorme desafio que pretendemos enfrentar com a colaboração e o contri-buto de todos. É o desafio da nossa Eficácia institucional.

Contudo, sabemos que é fundamental termos presente a necessidade de obter os melhores resultados com a aplicação dos menores recursos possível e isto significa que temos e queremos incutir nos nossos alunos preocupações de Efi-ciência e de consciência de que as nossas

O DIA DO PATRONO ações têm impacto no mundo que nos rodeia.

Este entendimento, simultaneamente de Economia e de Ecologia (a atenção ao indivíduo, aos outros e à natureza), numa perspetiva ampla de inter-relacionamento saudável e sustentável com o indivíduo, o coletivo e o ambien-te, deve articular-se com este espírito Empreendedor que as sociedades mo-dernas reclamam e que o AEDMO deve incutir na sua comunidade. Gostaría-mos, ainda, que o nosso agrupamento se tornasse igualmente notável pela sua abordagem Estética, demonstrando ca-pacidade de fazer cada vez melhor e, ao mesmo tempo, fazer com cuidado, com lisura, polimento, fair play e graciosida-de.

Ao fazer tudo isto, este novo Projeto Educativo para o AEDMO deve olhar todas as pessoas e empenhar-se na cria-ção de uma atmosfera de bem-estar que faça com que todos se sintam bem, se sintam reconhecidos e com vontade de melhorar em prol do Bem comum, ten-do como meta o SER Humano, único e irrepetível, capaz de mostrar bem alto a bandeira Ética do Saber, do Ser, mais que do parecer. Ser uma referência de respeito e interajuda, ser um caminho mais que um local. Manter-se atento às necessidades globais e criar sustentabili-dade pelas opções mas também e sobre-tudo pelas ações.

Continuação de bom primeiro período

e Boas Notas!

Carlos Silva

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FACE AO DOURO

Lisboa, 20-03-54 Minha prezada Prima: Só hoje e por informação do meu

amigo Joaquim Lopes, soube do triste acontecimento que enlutou o seu cora-ção e o de seus filhos. Constava-me a doença do Mário, mas não a sabia de tanta gravidade. Longe dessa minha ter-ra, mas sem ninguém que me informasse das nossas pessoas de família, que me restam, assim uma vez mais ignorei a tempo o falecimento do último primo que tinha, recebendo hoje a surpresa do seu desaparecimento. Se muito o choro, sabendo-o entregue a Deus, aumenta-se-me a mágoa pelo quanto sua Esposa e seus filhos sofrerão o desamparo em que ficaram. Sei da grande ternura familiar que todos unia, e por isso venho trazer-lhes as minhas condolências e as de mi-nha Mulher, abraçando-os a todos em espírito, como em espírito, ainda que tardiamente, me despeço do pobre Má-rio, seu Marido.

Desta geração na família, sou o último que fico a recordar os que perdi, até que Deus queira levar-me também. Que a paz seja o lenitivo para o sofrimento de todos! E que a resignação e a coragem dos que ficam, sejam bondosos amparos da sua dor.

Peço-lhe e a seus filhos, que creiam na sinceridade com que participo do vosso profundo pesar, suplicando que reajam na recordação daquele que tanto bem lhes queria.

Beijo-lhe as mãos e abraço seus filhos, com dedicada comoção, o vosso primo e amigo

Diogo de Macedo

P.S.- Esta manhã enviei-lhes um tele-

grama que me foi devolvido com a nota de ser desconhecido o destinatário, por eu me ter enganado na direção. A título de prova, aqui envio o respetivo docu-mento. Peço-lhes que me perdoem o atraso destas minhas palavras.

REPRODUÇÃO DA CARTA DE DIOGO DE MACEDO

À SUA PRIMA Conheci Diogo de Macedo, primo de

meu pai, numa rápida visita com a minha mãe ao Museu Nacional de Arte Con-temporânea, em Lisboa (atualmente Mu-seu do Chiado), do qual o insigne escul-tor e escritor foi Diretor entre 1944 e 1959.

Eu era ainda muito novo e apenas recordo a simpatia e o carinho com que nos recebeu. E foi a única vez que me encontrei com tão ilustre parente.

Com meu pai visitei algumas vezes o seu irmão Tomaz, na sua residência na Rua João de Deus, em Vila Nova de Gaia. Ambos conversavam sobre Diogo, que também era recordado em minha casa, pela filha de Soares dos Reis, Ra-

quel, cuja mãe também era prima de meu pai e de Diogo de Macedo.

Recordações materiais de Diogo de Macedo conservo algumas:

- Um desenho à pena da Torre de Bad Kissingen, na Alemanha, datado de 1924;

- Uma fotografia de 1911, com o re-trato de Diogo, da obra final do Curso de Escultura sob o tema “Um homem do povo mortalmente ferido dá um viva à Pátria”. Tem uma dedicatória escrita pelo autor “ao meu bom tio Camillo de Ma-cedo (meu avô), na hora da minha partida para Paris, com um saudoso cumprimento de muita amizade”;

(cont. pág. 4)

DIOGO “UM HOMEM DE FAMÍLIA”

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(cont. pág. 3)

- A monografia evocativa (Lisboa 1938) “Gáia a de Nome e Renome” com a seguinte dedicatória: “Ao Azevedo, o primeiro colega que tive nestas coisas da Arte, com o melhor abraço do Diogo”;

- O livro de sua autoria “Soares dos Reis, sua vida dolorosa” com a dedicató-ria: “A meu tio Camilo, homenagem de muita simpatia, esta lembrança do Diogo, Lisboa 1943”;

- O documento mais comovente é uma carta de Lisboa, datada de 20 de Março de 1954, e dirigida a minha mãe, alguns dias depois do falecimento de meu pai, Mário de Macedo, carta que termina esta breve evocação desse extra-ordinário Artista gaiense que é Diogo de Macedo.

Francisco de Macedo

Diogo de Macedo Canto de café, 1924

Desenho, Carvão e Grafite sobre Papel

Francisco Diogo Faria de Macedo nasceu em 1940, em Vila Nova de Gaia, sendo filho de um pri-mo do escultor Diogo de Macedo e da esposa de Soares dos Reis. Fre-quentou o Colégio Ex-

ternato de Gaia, o Liceu de Alexandre Herculano no Porto, e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Filologia Germâni-ca.

Como bolseiro frequentou um curso de férias na Universidade de Bona, Ale-

manha. Foi professor de Inglês e Ale-mão no Colégio de Gaia, tendo-se refor-mado em 1995.Fez parte do Coral da Faculdade de Letras de Coimbra, do Círculo Portuense de Ópera e do Orfeão da Madalena. Atualmente é sócio da prestigiosa Associação Cultural “Os Amigos de Gaia”.

Francisco Macedo é um amante de música, um verdadeiro melómano e inte-grou a mesa de honra que presidiu à cerimónia da atribuição do nome de Diogo de Macedo à Escola Secundária de Olival, no dia 22 de novembro de 1995.

D. Ximenes Belo, Bispo Emérito de Díli, vai estar presente no Dia do Patro-no do AEDMO, encontrando-se com a Comunidade Educativa.

A presença desta personalidade entre nós é motivo de grande alegria, não só pelo que representa no contexto mundi-al, mas, principalmente, pela riqueza da sua mensagem,. Pelo que vai trazer de enriquecedor para cada um de nós

Quem é D. Ximenes Belo? A esta questão vamos procurar res-

ponder com o texto/resumo que vos apresentamos.

Ximenes Belo, nasceu em Uailacama, concelho de Baucau, Timor-Leste, no dia 3 de Fevereiro de 1948. Ingressou no Colégio Salesiano de S. Teresinha em Ossu, concelho de Videqueque, a 2 de Outubro de 1962, onde completou o ensino básico. Fez os estudos prepara-tórios no Seminário Diocesano de Dili, e no Instituto de S. João de Bosco em Mogofortes (Anadia). Concluiu o ensino liceal na escola Salesiana de Manique de Baixo - Estoril, onde deu entrada no noviciado a 6 Outubro de 1972 e pro-fessou pela primeira vez na congregação Salesiana de Lisboa.

Foi ordenado definitivamente a 7 de Dezembro de 1976

Fez o estágio no Colégio Salesiano de Fatumaca, em Timor, em Agosto de 1974. A guerra surpreendeu-o em Díli e impediu-o de regressar ao seu colégio, passando para o colégio Dom Bosco de Macau. Em 1980 veio a Lisboa e foi ordenado presbítero por D. José da

Cruz Policarpo, Bispo auxiliar do Patri-arcado de Lisboa.

A 25 de Julho de 1981 regressou a

Timor e em Setembro desse mesmo ano foi escolhido para mestre de noviços salesianos. Em 1982 é nomeado diretor do colégio Salesiano em Fatumaca. Em Maio de 1983, foi nomeado por João Paulo II Administrador Apostólico da Diocese de Díli, sucedendo ao Monse-nhor Martinho da Costa. Em 1988, é elevado a Bispo de Loreum, continuan-do como Administrador Apostólico desta diocese.

Em 1989, vendo que os massacres e o genocídio não paravam, conhecendo bem o pensar da população, apelou para o Secretário-geral da ONU, a sugerir como solução um referendo a todo o povo de Timor-Leste, para conhecer a sua opinião. A partir desta data, D. Ximenes Belo tornou-se num porta-voz do povo timorense, assim como o seu protetor, dando apoio à causa da guerri-lha e continuando a apelar interna e externamente à manutenção da Paz. Estes esforços foram recompensados em 1996, ano em que, juntamente com Ramos Horta, recebeu o Prémio Nobel da Paz

Após a independência de Timor-Leste, em 26 de novembro de 2002, o papa João Paulo II aceitou a sua demis-são como administrador apostólico de Díli. Após se ter retirado, Ximenes Belo viajou para Portugal.

Em meados de 2004, D. Ximenes Belo aceitou a ordem da Santa Sé para fazer trabalho de missionação na dioce-se de Maputo, como membro da con-gregação dos Salesianos em Moçambi-que.

D. Ximenes Belo é Doutor Honoris Causa pela Universidade do Porto, por proposta da respetiva Faculdade de Le-tras (investido em outubro de 2000, juntamente com Xanana Gusmão e José Ramos-Horta). Em 21 de fevereiro de 2010 recebeu o "Prémio Personalidade Lusófona do Ano", concedido pelo MIL - Movimento Internacional Lusó-fono.

VISITA DE D. XIMENES BELO ENCONTRO COM A COMUNIDADE EDUCATIVA

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FACE AO DOURO

I - O Escultor

O nome do escultor que aqui recor-damos com orgulho, 55 anos após a sua partida (22/11/1889 - 19/10/1959), o de Diogo de Macedo, permanece presente entre nós, não somente através da sua memória, que desde 1995 dá o seu nome à Escola que se chamava Escola Secundária de Olival, mas sobretudo através da imensa produção criativa da obra teóri-ca e prática no domínio da escultura que nos legou.

Figura polémica no seu percurso pessoal, individual e singular, porém consensual e pluridisciplinar na sua versatilidade, Diogo de Macedo distin-guiu-se pela sua criação reflexiva, dire-mos mesmo intelectual, sobre a escul-tura nacional e alguns vultos artísticos de referência do seu tempo.

Este homem, nascido em Mafamude, V. N. de Gaia, que inicia a sua activida-de escultórica profissional em 1911, terá sido um dos mais destacados per-sonagens activos da primeira geração de artistas modernistas portugueses, com um percurso pouco usual na pri-meira metade do século XX.

O seu inegável estatuto de escultor

DIOGO DE MACEDO - O ESCULTOR, VISTO POR UMA ESCULTORA

com obra publicada em diver-sos materi-ais - terra cota, gesso, cimento, madeira, mármore, bronze, etc, encon-tra-se em

parte sitiado nas Galerias Diogo de Ma-cedo, parte integrante do Património Municipal da Casa - Museu Teixeira Lopes, que vivamente aconselhamos a visitar, mas muitas das suas obras estão espalhadas por colecções particulares, outras estão em paradeiro incerto ou foram por ele próprio destruídas, mas aquelas de que dispomos devem ser conhecidas e divulgadas.

Enquanto escultor, aquilo que conce-beu e materializou através das formas produzidas em acção no que concerne ao trabalho oficinal ou seja à tradução de emoções e sentimentos e à capacida-de de comunicar a interioridade humana, é indiscutível, embora haja quem não o considere, no conjunto dos escultores de Gaia, um vulto de primeira linha dada a sua intensa intervenção noutros domí-nios artístico - literários. Diogo foi um grande escultor de Gaia, um escultor do seu tempo.

Em Paris desligou-se do provincianis-mo português mas não se deixou influ-enciar particularmente pelo vanguardis-mo de artistas seus contemporâneos, que ficaram na História da Modernida-de, como Amadeo Modigliani, seu predi-lecto amigo, que o introduziu no meio em que se movimentavam artistas de correntes artísticas em voga e onde eram produzidas, com reconhecimento van-guardista, obras de artistas ilustres como Brancusi, Bracque, Degas, Boccioni, Archipenco ou Zadkine. Diogo de Ma-cedo gostava de desfrutar da boémia parisiense e produzia pouco nesses tem-pos.

Mas foi nesse meio que se tornou grande admirador dos excessos expressi-onistas de Bourdelle, de quem foi aluno, e de Rodin, o escultor obcecado pelo erotismo romântico, dos quais sofreu

nítidas influências quando se decidiu por escrever menos e produzir mais escultura.

Dentre as suas obras iniciais podemos dizer que datam de 1911 o 'Monumento a Camões' e de 1913 o busto de 'Camilo Castelo Branco' e que em 1915 esculpiu peças em cimento, denominadas ‘A Bondade’, ‘O Amor’, ‘A Dor’ e ‘O Ódio’ destinadas a decorar espaços ar-quitectónicos específicos para a fachada do Teatro Nacional de S. João no Porto. Dizer ainda que foi em Portugal que expôs em Lisboa e Porto pela primeira vez e que em 1912 e no início de 1913 participou no Salon de Paris, voltando ao Porto para expôr na Exposição anual da Sociedade de Belas Artes. Por esta época ia dividindo a sua vida entre o Porto, Lisboa e Paris e foi expondo individual e colectivamente.

Em 1920 volta a França onde a sua actividade foi profícua em trabalho e rica em vida social, tendo viajado bas-tante. Datam de 1922 o seu auto-retrato em gesso patinado e uma das suas mais líricas obras, «Torso de Mulher»,

(encontramo-la datada de 1924) consi-derada pela crítica uma das melhores obras do Modernismo Português

Em 1923 fixou-se em Lisboa onde exibia a sua premiada arte e foi viajando pela Europa entre 1920 e 1930. A sua década de excelência na escultura foi a dos anos 20 (tendo vivido em Paris en-tre 1921 e 1926) com exposições no Salon. Esculpiu os bustos de Sara Afon-so e a Cabeça de Mulher em 1927, de António Boto em 1928, de Antero de

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Quental em 1929, de Flor-bela Espanca em 1931, (inaugurada em 1949 no Jardim Públi-co de Évora), de Mário Eloy em 1932, etc. Expôs em Paris e em

Portugal, onde em 1923 organizou a Exposição dos 5 Independentes (Diogo de Macedo, Alfredo Miguéis, Dórdio Gomes, Francisco Franco, Henrique Franco) e animou exposições em que participaram por convite Almada Ne-greiros, Eduardo Viana, Mily Possoz..., e em 1930 organizou o I Salão dos In-dependentes na SNBA.

No que respeita à Arte Pública Diogo de Macedo execu-tou algumas obras entre as quais o monumento a An-tero de Quental, 1929, (Braga), mo-numento a Afonso de Albuquerque 1930, (Porto), mo-numento a Fialho Gouveia, 1931, (Vila de Frades), monumento a João de Deus, 1932, (Lisboa), duas esculturas – ‘A Pintura’, ‘A Escultura’ para o Pórti-co do Museu de Arte Antiga, 1939, (Lisboa).

Figuras alegóricas como as cinco es-culturas, «O Tejo» segurando uma nau, montado num cavalo marinho empina-

do sobre golfinhos e as quatro «Tágides», figuras femininas com cauda de peixe segurando búzios e golfinhos datadas entre 1939 e 1940, feitas para a Fonte Monumental, em Lisboa, terão sido o sua última contribui-ção escultórica para espaço público. Em 1941 renunciou voluntariamente à escultura, embora tivesse voltado a

Margarida Santos é natural da freguesia de Canelas, Vila Nova de Gaia, tendo estudado na Escola de Artes Decorativas Soares dos

Reis, transferindo-se, depois, para a Es-cola Superior de Belas Artes do Porto., onde concluiu o curso de Escultura.

Após finalização da licenciatura, conci-liou a produção artística com uma carrei-ra no ensino.

Entre 1972 e 1974 recebeu um subsí-dio da Fundação Calouste Gulbenkian para desenvolver o tema "Mulher-Fertilidade", tema este que veio a tornar-se recorrente no seu repertório, e, a par-tir de 1973, começou, individualmente, a expor obras de pintura, desenho e escul-tura, quer em Portugal, quer no estran-geiro.

Obras suas integram coleções particu-lares e de instituições privadas e públi-cas, tendo sido merecedoras de vários prémios e distinções, como o prémio de Desenho do Governo Espanhol, o "Prémio Especial do Júri", em Puy-en-Velay, em França e a Medalha de Mérito Cultural e Científico, classe de ouro, da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.

expôr em mostras nacionais e internaci-onais, tendo-se dedicado a outras activi-dades, tendo sido posteriormente, (1944), convidado para dirigir o Museu de Arte Contemporânea, hoje o Museu do Chiado, cargo que aceitou e manteve até ao fim da vida.

Fez grandes viagens pelo mundo fora (Angola, Moçambique, Brasil, Itália, entre outros) enriquecendo a sua própria cultura e desenvolvimento pessoal pon-do-as ao serviço das funções que desem-penhava.

Foi um homem com uma forte perso-nalidade, um espírito que não se perdeu em perfeições técnicas e teve como uma maneira de estar na vida inconfundível. São dele estas palavras: «A diversidade parecer-vos-ha desharmónica, Enga-no. A escala dos sentimentos é infini-ta. Rimos e choramos, amamos e odiamos, dentro duma mesma hora. E, no entanto, nada mai harmonico que os sentimentos humanos! (...) No meu atelier não tenho theorias nem grammatica. Tenho barro e...alma».

II - Notas breves sobre algumas obras

Na actualidade deste raiar do séc. XXI assiste-me a honra de ser uma escultora empenhada em dar continuidade aos ilustres mestres escultores da chamada Escola de Gaia, a que Diogo de Macedo

pertenceu, e nessa quali-dade gostaria de destacar algumas obras de que mais gosto, mais me tocam e se encontram expostas nas Galerias Diogo de Macedo.

Trata-se sobretudo de obras/retratos de pequena dimensão, com os quais muito pude aprender. Todas elas pas-sam, através da matéria da escultura, as comoções interiores que atravessam cada um dos personagens retratados.

O Declínio/Velha, 1913, bronze, pati-ne negra

Camilo Castelo branco, 1912, bronze, patine negra

Último Antero/ Antero de Quental, 1917, gesso, patine cinza

Camões, 1918, barro cozido Busto Aristocrático,1918, gesso pati-

nado L'adieu/Le pardon, 1922, bronze, pa-

tine castanha Torso de Mulher, 1922, bronze, patine

negra Oenone/Minha mulher, 1927, mármo-

re Busto de Beatriz Costa, 1931, gesso

policromado Florbela Espanca, 1931, mármore Infante D. Henrique, 1935, barro cozi-

do Margarida Santos

Nota: este texto não obedece ao acordo orto-gráfico, com o qual a autora está em desacordo.

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Na senda dos pulsares estéticos que marcaram a vida e a obra do escultor Diogo de Macedo (1889-1959), depara-mos com uma ausência considerável de informação na História de Arte portu-guesa sobre a Arte desenvolvida por este notável escultor, crítico de Arte e mu-seólogo. Estranha e incompreensível lacuna, uma injustiça a uma personalida-de que, talvez mais do que as obras de Arte que nos legou, se constituiu como agente de mudança no ensino artístico em Portugal, bem como estimulou e promoveu, durante a primeira metade do século XX, muitos jovens artistas que hoje são conhecidos como os mais con-sagrados.

A vida de Diogo de Macedo foi pauta-

da pelo estudo e trabalho artístico de excelência na linha da responsabilidade da herança cultural de ser natural de Gaia, essa terra que viu nascer tão insig-nes artistas como Soares dos Reis, Tei-xeira Lopes e muitos outros. Na Escola de Belas Artes do Porto, instalada no antigo convento franciscano de Santo António, onde também estava instalada a Biblioteca Pública (actual Biblioteca Pú-blica Municipal do Porto, junto ao jar-dim de São Lázaro), teve como profes-sores, entre outros, Teixeira Lopes, José de Brito e Marques de Oliveira. Diogo de Macedo, segundo relato de A. Lopes de Oliveira, (1) terá iniciado a sua activi-dade de crítico de arte desde cedo, en-quanto estudante.

Acabou o curso com distinção em

1911 e partiu, em Outubro do mesmo ano, para Paris com pensão familiar, permanecendo aí até ao início da Grande Guerra de 1914. Paris marcou-lhe o des-tino e abriu-lhe os horizontes que a cida-de do Porto não lhe preenchia. Diogo libertou-se de amarras e quis ser outro, viver!

No dia 24 de Dezembro de 1913,

aproveitando a vinda a Portugal, inaugu-rou, juntamente com o seu amigo pintor Joaquim Lopes, a sua primeira exposição na Galeria da Misericórdia do Porto, que mereceu da crítica da época rasgados elogios.

DIOGO DE MACEDO: EXEMPLO DE VIDA E DE ARTE

Esta exposição foi um marco de che-gada e ponto de partida na vida artística de Diogo, definindo o seu espírito de entrega naquilo em que acreditava e jul-gava sério com a sua consciência: a Arte!

Terminados os seus estudos em Paris,

regressa ao Porto em 1914, e instala-se em Lisboa, em 1915, onde desenvolveu intensa actividade artística até 1919, data em que casou e viajou de novo para França, cultivou um espírito aventureiro no sentido de não criar raízes, pois tinha um anseio imenso de conhecer mundo, museus, Arte, escrever, desenhar, escul-pir, pintar e, como refere em inúmeras cartas a Joaquim Lopes, viver!!! Neste sentir, envia carta a seu amigo Joaquim Lopes ,no dia 22 de Novembro de 1919, de Lisboa – Hotel Borges, Chiado: “É hoje o dia dos meus anos. Cá contam 30, meu velho. É esta a etapa perigosa. Ou estaciono na vida, ou galgo os obstáculos que na mesma nos aparecem a cada passo. Estou cheio de Fé. Cabeça erguida, olhar a direito, passo firme, eis-me disposto à liça. Em breve vou entrar no novo circo. Sairei vencedor? Vencido? Mistério!!! De resto, todo o futuro é um grande ponto de inter-rogação? (2)

Seguiram-se anos de actividade intensa e irreverente, quer como artista quer como crítico de arte. Nunca deixou de afirmar na sua existência a fidelidade aos princípios e valores de qualidade e ver-dade dos tempos modernos. Assim, Dio-go de Macedo, solidário com os jovens artistas portugueses que, influenciados pelas emergentes correntes de expressão estética da escola de Paris, afirmam na primeira década de XX uma arte de pro-testo em tudo dissonante com os mode-los tradicionais, expressa o seu incentivo no Catálogo do I Salão dos Independen-tes, em Maio de 1930: “A inquisição das artes foi a Academia, e as suas fogueiras – que ainda algumas ardem – são os sistemas. Há que substituir os autos-de-fé por actos de fé”. Esta nota crítica de Diogo reflecte o estado de espírito dum tempo sempre novo que existe em todos os tempos, ou seja, a superação da existência de “sistemas” bloqueadores do progresso da cultura nas suas diversas vertentes: arte, literatura, correntes de pensamento social e político, etc.

Por isso, alerta que «contestar as persona-lidades de Eduardo Viana, Francisco Smith, Armando de Basto, Almada Negreiros, Dórdio Gomes ou Abel Manta; de Mário Eloy, Carlos Botelho ou Júlio Resende, será tarefa vã e perdi-da, porque são elas as representativas dos sonhos e dos valores das gerações, que nos colocam no tempo a par da pintura europeia». (3)

Este desejo imenso de absorver co-

nhecimentos e outras expressividades artísticas fizeram de Diogo um artista permanentemente insatisfeito com a sua obra escultórica, que recebeu influências diversas (naturalismo, Rodin, Bourdelle, expressionismo), sem se fechar ou evolu-ir para uma escultura mais estruturada, a qual viria a abandonar definitivamente em 1941. Desprezando a natural legiti-midade de evidenciar a sua Arte, Diogo de Macedo procurou ser, sobretudo, um “crítico avisado e um escritor-ensaista sempre presente e actuante na disputa dos problemas da arte (...), tornando-se no mais caloroso e cons-tante propagandista dos seus companheiros escultores e pintores da sua geração” (4) e de outras que se seguiram. Em 1944, foi nomeado Director do Museu Nacional de Arte Contemporânea, actividade mu-seológica que desenvolveu com sapiente profissionalismo de excelência até ao fim da sua vida.

Diogo soube, melhor do que ninguém,

compreender o espírito em mudança, quer na sua arte, na qual inovou continu-amente ao encontro da mais recente manifestação estética, quer nos seus es-critos, nos quais compreendeu as ansie-dades modernas sempre inconformadas com o espírito das épocas anteriores: “As revoluções em Arte não são capri-chos de qualquer destino; têm, pelo me-nos, a razão do tempo, que nunca se fixa”.

Diogo Macedo é, sem sombra de dúvi-

das, um dos historiadores de arte mais importantes de Portugal! O esquecimen-to propositado do seu nome é incompre-ensível…. Se dúvidas existissem sobre o que acabamos de afirmar, bastava verifi-car o número avultado de citações bibli-ográficas em que Diogo aparece nos textos dos historiadores de arte portu-guesa dos últimos trinta anos. Ou seja, os mesmos que o têm silenciado! …

(cont. pág. .11)

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FACE AO DOURO

INTERCÂMBIO ESCOLAR ES DIOGO DE MACEDO/ AEDMO - SINT-DIMPNACOLLEGE/

Na semana de dezanove a vinte e cin-co de outubro, decorreu na escola se-cundária , o programa de intercâmbio que envolveu a Escola Secundária do Agrupamento Diogo de Macedo e a Escola Secundária Sint – Dimpnacolle-ge, do agrupamento de escolas Kogeka, em Geel, Bélgica. Um grupo de dezano-ve alunos belgas foram acolhidos pelas famílias, pais e encarregados de educa-ção, dos dezanove alunos portugueses diretamente envolvidos no projeto de Intercâmbio. De igual modo os dois professores belgas acompanhantes da-quele grupo foram acolhidos pelas pro-fessoras portuguesas que dinamizaram o intercâmbio.

O programa iniciou-se no dia dezano-ve de outubro, domingo, cerca das 16h na escola secundária. A receção aos par-ticipantes belgas, vindos do aeroporto em autocarro, era ansiosamente aguarda-da pelos alunos portugueses e respetivas famílias que prepararam um lanche com-posto por algumas das especialidades gastronómicas típicas do nosso país. Também os aguardavam, elementos da direção do agrupamento, professores e funcionários. Depois da sua chegada, do reconhecimento e dos primeiro contac-tos, teve lugar a confraternização, após a qual as famílias hospedeiras se retiraram levando consigo o novo “elemento da família.”

Para além de terem a possibilidade, durante a sua estadia no nosso país e especialmente nas freguesias a que per-tence o Agrupamento, de experiencia-rem as vivências de uma família portu-

guesa, os alunos belgas tiveram, igual-mente, a oportunidade de visitar, conhe-cer e aprender sobre os hábitos, tradi-ções, cultura, língua e aspetos científicos da realidade portuguesa. Para que tal acontecesse, houve uma minuciosa pla-nificação prévia do programa implemen-tado que envolveu diretamente as pro-fessoras que preconizaram e integram o projeto, a direção do Agrupamento e professores colaboradores de diversas áreas que acompanharam os alunos em algumas das visitas de estudo.

Das variadas atividades realizadas po-demos mencionar a participação em aulas, a visita a pontos de interesse das freguesias de Crestuma, Lever, Olival e Sandim, circuito na cidade do Porto através de um autocarro panorâmico, cruzeiro das pontes e visita às caves de vinho do Porto, visita ao estuário do Douro, Parque das Dunas, Estação Lito-ral da Aguda, Parque Biológico, Casa

Museu Teixeira Lopes e Galerias Dio-go de Macedo e Centro de Estágio do Futebol Clube do Porto. Nestas ativida-des foram também integrados alunos que não estavam diretamente ligados ao intercâmbio por modo a ser envolvido um maior número de elementos da co-munidade educativa.

O encerramento oficial do intercâm-bio teve lugar no Convento Corpus Christi, no dia 24, sexta-feira contando com a presença da Vereadora Elisa Ci-dade, em representação da Câmara Mu-nicipal de Gaia, do Diretor do Agrupa-mento de Escolas Diogo de Macedo, de elementos da direção e das professoras dinamizadoras do projeto. Este momen-to culminou com a entrega a todos os alunos intervenientes e professores bel-gas, de um certificado de participação.

No dia vinte cinco de outubro, sába-

do, teve lugar a despedida, com lágrimas e muitos abraços à mistura. Todos os pais e alunos se apresentaram no aero-porto à hora previamente estipulada. Mais uma vez os Encarregados de Edu-cação revelaram todo o sentido de res-ponsabilidade que manifestaram no de-senrolar deste projeto e que sem os quais, a respetiva concretização jamais seria possível.

Foi uma semana que proporcionou aos alunos e professores belgas imer-girem numa cultura totalmente diversa da sua e que, até então, sobre a qual provavelmente, pouco conheceriam. A mesma troca e enriquecimento a nível pessoal e coletivo se espera obter quan-do em março de 2015, os alunos portu-gueses se deslocarem a Geel, Bélgica e se der por findo este programa de inter-câmbio.

Muito obrigado a todos!

Marta Cordeiro e Isaura Pereira

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FACE AO DOURO

Em pleno século XXI, é geralmente aceite que os Media (jornais, TV, rádio, cinema, Internet, videojogos, telemóveis,…) possuem um papel cada vez mais fulcral na vida dos cidadãos, sobretudo depois do extraordinário desenvolvi-mento das Tecnologias de Informação e Comunicação.

Sendo a escola, além da família, o local privilegiado de educação de crianças e jovens, deverá dotar os alunos dos ins-trumentos para um melhor entendimen-to da realidade que os cerca e dos meios de comunicação, bem como para um melhor exercício da cidadania. O Jornal escolar tem sido, ao longo do tempo, um excelente instrumento de educação para a cidadania, de promoção do espírito crítico e de integração dos saberes a um nível transversal.

in Jornais Escolares, DGE

No momento em que o Face ao Dou-ro comemora o seu vigésimo aniversário entendemos percorrer as suas memórias, num misto de recordação, mas também de homenagem a todos aqueles que ao longo de todos estes anos tornaram pos-sível a concretização deste projeto.

A ideia do jornal escolar nasceu em

França na década de 20, tendo sido o seu grande impulsionador o professor Célestin Freinet. Foi o próprio que no seu livro “Le Journal Scolaire” publicado em 1967 pela Cooperativa de Ensino “Laic Cannes” escreveu, “só reconhece-mos um «antepassado»: a realização de-pois da 1ª Guerra Mundial (1914-1918) pela Escola Decroly, na Bélgica, do Cor-reio da Escola, impresso na própria es-cola”.

A ideia da criação de um jornal escolar nasceu em Freinet depois da realização de atividades extra curriculares com os seus alunos. “Estavam excitados, cada um queria contar o que vira, o que des-cobrira. Assim criavam textos nos seus cadernos mas, apesar do entusiasmo no momento da elaboração, os textos de-pois não eram lidos por mais ninguém. Acabavam ali”.

Inconformado com esta realidade Freinet teve a ideia de imprimir aqueles textos para que passassem de mão em mão, sendo lidos e relidos por outras pessoas. Assim conseguiu uma impres-

sora… O interesse das crianças pela iniciativa

surpreendeu o próprio Freinet. Elas queriam ver os seus textos impressos e mostrá-los aos seus pais e amigos. Não se cansavam nunca!

Em janeiro de 1927, Freinet editava o seu primeiro livro, “A Imprensa na Es-cola”, no qual explicava as inúmeras vantagens do jornal escolar. A aprendi-zagem da leitura e da escrita, o sentido permanente da construção de frases corretas, a aprendizagem da ortografia pela globalização e análise de palavras e frases ao mesmo tempo, o sentido de responsabilidade pessoal e colectiva, um novo clima de uma comunidade fraterna e dinâmica, entre outras.

Assim começava a imprensa na escola. Desde então, disseminou-se por todo o mundo e, hoje, mais do que nunca, constata-se a sua importância no âmbito escolar.

Consciente desta impor-tância, desde a abertura da Escola Secundária de Olival que a ideia de se publicar um jornal da escola foi ganhando adeptos entre alunos e professores, tendo surgi-do alguns títulos, como

o Lavilo, da responsabilidade dos pro-fessores Osvaldo Bouça e Maria José Santos, que acabaram por não ter conti-nuidade.

Decorria o mês de novembro de 1995 quando, no âmbito do Curso Tecnológi-co de Comunicação, tendo como profes-sores responsáveis Paula Azevedo e Manuel Ferreira, apareceu o número 0 do jornal Face ao Douro. No seu edito-rial escrevia-se “Nascemos (…) a nossa ambição é abrir o Jornal não só à Escola, mas também à Comunidade”.

Passados estas duas décadas e quando se publica o quinquagésimo primeiro número do nosso jornal escolar, por vicissitudes várias alguns números foram repetidos, (ver caixa) razão pela qual se assume nesta edição a contagem integral de todos os números publicados – nú-mero 51, ano XX, devemos iniciar um balanço do que foi feito, do que poderia ter sido feito e, essencialmente, do rumo a seguir, sendo que para nós é inquestio-nável a importância de um jornal no

FACE AO DOURO - 20 ANOS AO SERVIÇO DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DA CIDADANIA

A primeira repetição de uma edição do Face ao Douro aconteceu em novembro de 2002, quando se repete o número 17. A situação agra-va-se em dezembro de 2005 quando sai a edição 22 e deveria ter sido publicada a 26. A partir daí o jornal sempre foi publicado com a indicação de quatro números a menos, pelo que em junho do último ano, 2014, saiu a edição 46 quando deveria ter sido mencionado o número50!

Lamentavelmente essa edição de referência saiu com esse erro, porém sem termos consciên-cia do lapso podemos ficar satisfeitos pelo que esse número e o anterior significaram de uma nova viragem, o consolidar do projeto, pois contamos com a colaboração do atual Presidente da Câmara - Março de 2014 - e com um artigo de Gonçalves Guimarães sobre “Gaia e a 1ª Guerra Mundial” – Junho 2014

AEDMO, seja ele restrito às escolas que leccionam os 2º e 3º ciclo e secundário ou a todos os estabelecimentos de ensi-no, qualquer que seja o nível leccionado.

Mas no âmbito da memória e homena-gem devemos referenciar os alunos do já referenciado Curso Tecnológico de Co-municação, as turmas do 11ºC e 12º D de 1997, encarregadas da sua redacção e composição, e as turmas do Curso de Comunicação ao longo da sua existência na escola secundária, sem esquecer todos os professores que acompanharam e coordenaram o projeto.

Sem outra refe-rência que não a da sua ligação cronológica ao jornal, devemos lembrar os nomes dos professores Paula Azevedo e Mário Ferreira, a que devemos juntar os de Car-los Trigo, Antoni-eta Carvalho, Luís

Serra, Susana Loureiro, Maria José San-tos, Luísa Azevedo, Helena Campos, Helena Gomes, Filomena Teixeira, Rui Magalhães, Carla Soares e Joaquim Pata-cas, Mário Madeira e Manuel Brandão (fotografia), além dos nomes da atual equipa, Manuel Filipe Sousa e Isabel Pereira, desde dezembro de 2007 ligados à coordenação do jornal, Henrique Ri-beiro, na equipa desde novembro de 2013, e Luísa Azevedo, regressada este ano letivo.

Ao longo destas duas décadas o Face ao Douro procurou sempre evoluir, sen-do evidentes as alterações registadas na

apresentação gráfica, bem como na estrutura básica do jornal, embora sem-pre fiel aos seus propósitos iniciais.

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FACE AO DOURO

Mais uma vez, a con-vite do Plano Na-cional de Leitura, propomos o desafio CNL aos nossos jovens leitores do

3º ciclo e secundário para que possam desenvolver as suas competências leito-ras e reforçar o seu gosto pela leitura lúdica.

Tal como tem vindo a acontecer, a 1º fase deste concurso acontece a nível de escola, sendo que esta estará terminada logo após a prova realizada no dia 14 de janeiro, pelas 14h, na Biblioteca Escolar. Para a 2ª fase (fase distrital) passam os três alunos de cada escalão que melhor provarem conhecer as obras a concurso. Da escola básica, serão selecionados três alunos do 3º ciclo e, da escola secundá-ria, três alunos do 3º ciclo e três do se-cundário. O regulamento do concurso encontra-se disponível na plataforma moodle e no blogue ocheirodoslivros.

Obras a concurso: 1º escalão (3º ciclo) Missão Impossível, de Ana Maria

Magalhães e Isabel Alçada Os Saqueadores, de Iain Lawrence 2º escalão (secundário) Livro Sem Ninguém, de Pedro Gui-

lherme Moreira O Triunfo dos Porcos, de George

Orwell Pedro Guilherme Moreira será nosso convidado no dia 2 de feve-reiro, na escola sede de Agrupa-mento, no âmbi-to da atividade “Encontro com Escritores”.

Mª do Rosário Meireles

CONCURSO NACIONAL DE LEITURA - 9ª EDIÇÃO

MÊS INTERNACIONAL DAS

BIBLIOTECAS ESCOLARES

Subordinado ao tema “A Tua BE: Um Mapa de Ideias”, o mês de outubro foi muito dinâmico em termos de atividades para os nossos alunos.

Na realidade, as Bibliotecas Escolares são essencialmente, espaços de constru-ção: construção de saberes, construção de conhecimento, construção de compe-tências, construção de leitores… É por isso que são tão importantes numa esco-la! É inegável a sua evolução ao longo de vários anos, fruto de uma “teimosia” de

construir um novo conceito de Bibliote-ca Escolar e de o tornar viável em todas as instituições de ensino. Quantas esco-las não tinham biblioteca ou, se tinham, não era mais do que um pequeno espa-ço, mal iluminado, onde os livros jaziam fechados à espera de um leitor que os libertassem?!...

Pois, se bem que a caminhada ainda não tenha terminado e muitos objetivos estejam por atingir, já são visíveis gran-des progressos e impactos na população escolar.

Assim, no sentido de reforçar o traba-lho das Bibliotecas Escolares, as profes-soras responsáveis receberam os novos alunos de ambas as escolas (básica e secundária), aproveitando para lhes dar a conhecer a sua organização e os serviços prestados; dinamizaram, igualmente, sessões de divulgação da Coleção e pro-moveram os recursos de auxílio à realiza-

ção de trabalhos escolares que disponibi-lizam na plataforma moodle.

Com a participação de alunos e de Encarregados de Educação foi construí-

do um p a i n e l com as experiên-cias de d u a s gerações distintas, c o m

escolas e bibliotecas bem diferentes. (mais fotografias disponíveis no blogue o cheirodoslivros)

No dia 27 de outubro, assinalou-se o Dia Internacional das Bibliotecas Escola-res com um curto intercâmbio entre alunos da escola básica e secundária. Os alunos Abigail Baptista, Beatriz Moreira, Daniela Silva, Joana Fernandes, Daniel Costa e Tiago Carvalho, do 12º A, con-cordaram em partilhar, com os colegas mais novos do 6º A, a sua opinião sobre

a importância da Biblioteca da sua escola e da ligação com a mesma.

Por sua vez, os alunos mais novos, questionaram os mais velhos sobre as atividades em que costumam participar e falaram da sua ligação com a biblioteca da sua escola. No final, houve lugar para a leitura expressiva do conto de José Jorge Letria, “Perdido num livro”.

Para terminar o dia, metade da turma do 7º G visitou a biblioteca da escola secundária e participou num biblio-paper que lhes permitiu descobrir este espaço.

Mª do Rosário Meireles e Ana Sofia Dias

Professoras Bibliotecárias

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serem apresentadas nas visitas aos Jar-dins de Infância e aos Centros de Dia.

Vontade de ser amigo e ser solidário são os propósitos de todos aqueles que abraçaram e abraçam este projeto, sendo esta disponibilidade e entrega ao próxi-mo que nos faz continuar a sorrir.

Sê solidário, vem sorrir connosco nes-te projeto. As inscrições para o Clube continuam abertas. Esperamos por ti!

Almerinda Devezas

Iniciado o novo ano letivo, mais um ano de sorrisos solidários se anuncia, resultante das atividades que o Clube de Solidariedade pretende desenvolver ao longo dos próximos meses, com o obje-tivo de apoiar aqueles que precisam da nossa colaboração.

Neste momento o Clube conta com o envolvimento de doze alunos, aos quais se associam mais alguns colaboradores. O horário de funcionamento do Clube é às 5ªfeiras das 11H50 às 12H35 e às 6ªfeiras das 13H25 às 14H20.

Até ao mo-mento já fo-ram entregues bens alimenta-res a quatro famílias caren-ciadas e cola-boramos com a Liga Portu-

guesa contra o Cancro, através da reali-zação do peditório nacional em todas as escolas do Agrupamento. Foi ainda feita a recolha e seleção de roupas para serem entregues às equipas de apoio aos sem abrigo e a instituições de solidariedade social.

Conscientes da necessidade de muitos, mas também da disponibilidade e solida-riedade de muitos mais, estamos a prepa-rar a “ Loja Solidária”. Esta ação de di-namização e auxílio, que se realizará no Dia do Patrono, consiste na venda de donativos oferecidos ao clube, no senti-do de angariarmos fundos para o mes-mo.

Como habitualmente todo o dinheiro angariado com a venda do jornal “ Face ao Douro” reverterá a favor do clube. Em janeiro será realizado o peditório a favor da APARF (Associação Portugue-sa de Amigos de Raoul Follereau) e, no mês de abril, dia dezoito, será realizada a V Caminhada Solidária, este ano com novo percurso, mas com os objetivos e propósitos dos anos anteriores.

No âmbito do combate à pobreza, à fome e à indiferença no AEDMO, o Clube irá estabelecer parcerias com o projeto “ Energia com vida, o Clube das Artes e a instituição “ Mais Jovem”.

Sempre com o propósito de ser solidá-rio com um sorriso, um grupo de alunos irá ensaiar pequenas peças de teatro para

CLUBE DE SOLIDARIEDADE “ TUDO POR UM SORRISO”

(cont. pág. 9)

No momento em que D. Ximenes Belo nos honra com a sua presença entre nós, uma análise, embora superficial, aos cinquenta números do FD mostra que a motivação inicial, “abrir o jornal à escola e à comunidade”, esteve sempre presente, verificando-se a permanente interligação entre as atividades escolares e as situa-ções ligadas à sociedade, como são as referências ao drama vivido em Timor Leste e que marcou profundamente todo o povo português, ou os casos reais da nossa Comunidade Educativa.

A ligação do jornal com a Biblioteca / Centro de Recursos foi outra relação constante ao longo destes anos, numa primeira fase aparecendo como suple-mento - Boletim Informativo, e surgindo ultimamente integrada no corpo do pró-prio jornal.

Memória futura para todos aqueles que frequentaram(am) a Secundária de Olival/ Diogo de Macedo e agora o AEDMO, o Face ao Douro, com o apoio das várias direções da Escola/Agrupamento, pode igualmente mostrar a sua componente solidária, estabelecen-do uma parceria com o Clube de Solida-riedade, revertendo a receita da venda do jornal para aquele Clube.

No ano do seu vigésimo aniversário o FD vai procurar desenvolver algumas atividades específicas, nomeadamente uma exposição retrospetiva (a Galeria de Arte Diogo de Macedo teve sempre um destaque particular), palestras com nomes ligados ao jornalismo e continuar a convidar personalidades da sociedade civil para escreveram nas suas páginas.

Porém devemos ter sempre presente que o FACE AO DOURO será o que os membros do AEDMO quiserem. A nos-sa disponibilidade enquanto equipa é total, contamos contigo/ consigo.

Manuel Filipe Sousa

(cont. pág..7)

Visitar a Casa-Museu Teixeira Lopes,

em particular o núcleo das Galerias com o nome de Diogo de Macedo, deve constituir uma obrigação de prazer e orgulho de todos os gaienses em con-templar a Arte de tão insigne escultor!

Delfim Sousa

(Vereador da Cultura C. M. Gaia)

Notas:

1. Oliveira, A. Lopes de, Diogo de Macedo a as suas Manifestações artísticas, in “Novidades”, Lisboa 5/6/1952. 2. Carta existente no Arquivo pessoal de Joaquim Lopes na posse de sua família. 3. Extracto da Conferência «Arte Contempo-rânea ou Moderna», lida por Diogo de Mace-do em 17 de Abril de 1958, no Museu Alber-to Sampaio, em Guimarães – Arquivo de Diogo de Macedo, Casa-Museu Teixeira Lopes, Capa 13(cota antiga)-Doc.38. 4. Mendes, Manuel – Diogo de Macedo, Artis, 1959, p.7. Obs: este texto não obedece ao acordo ortográ-fico por opção do autor.

Delfim Manuel Ma-galhães de Sousa é licenciado em Filo-sofia pela Faculdade de Letras do Porto, Pós-graduado em Psicologia da Saúde

e Intervenção Comunitária pela Univer-sidade Fernando Pessoa, obteve o Di-ploma de Altos Estudos do Curso de Doutoramento em Desenvolvimento Pessoal e Intervenção Social da Faculda-de de Psicologia da Universidade de Valência.

Atualmente é doutorando da Faculda-de de Ciências da Educação da Universi-dade de Santiago de Compostela.

Eleito vereador nas últimas eleições autárquicas, dirige o Pelouro da Cultura na Câmara Municipal de Gaia, onde foi vereador do Ambiente e Salubridade Pública, entre 1998-2003.

Tendo exercido funções docentes no Instituto Superior Politécnico de Gaya, desenvolveu atividade como museólogo na Casa-Museu Teixeira Lopes entre 2003-2013, onde foi Diretor.

É colaborador permanente na impren-sa e televisão regional, bem como produ-tor e apresentador do programa de tele-visão "Avenida das Artes" na Regiões TV– RTV.

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