Ética e política pública

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ÉTICA, PESQUISA E POLÍTICAS PÚBLICAS ORGANIZADORAS Flávia Mori Sarti | Gislene Aparecida dos Santos

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Livro publicado em 2010 pela Editora Rubio e destinado à área de Ética Médica.

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Page 1: Ética e Política Pública

ÉTICA,PESQUISA E

POLÍTICAS PÚBLICASORGANIZADORAS

Flávia Mori Sarti | Gislene Aparecida dos Santos

ÉTICA, PESQ

UISA

E POLÍTICA

S PÚB

LICAS

9 7 8 8 5 7 7 7 1 0 4 6 1

Flávia Sarti G

islene dos Santos

Ética, Pesquisa e Políticas Públicas oferece aos leito-res elementos que auxiliam na refl exão sobre pres-supostos éticos que podem ser assumidos na propo-sição, na avaliação e em pesquisas acadêmicas cujo foco sejam as políticas públicas.

Ao discutir temas que abrangem políticas de reconhe-cimento, pós-colonialismo, movimentos sociais, saú-de, diversidade, juventude, sexualidade, nanotecnolo-gia, comunicação, meio ambiente e sustentabilidade, gênero, pobreza, direitos reprodutivos e o fi m da vida, os autores percorrem diferentes tópicos das políticas públicas setoriais, questionando a noção de ética e os fundamentos que alicerçam cada uma delas. Se a separação entre ética e política inaugurou as socie-dades modernas, o que se pode dizer da cisão entre ética e gestão pública, ou ética e proposição de políti-cas públicas? O gestor público pode pautar sua ação pela ideia de que os fi ns justifi cam os meios? Como defi nir quais fi ns e quais meios, sem estar atento à diversidade de desejos e interesses que permeiam a ação política?

Tomando tais questões como pano de fundo, esta obra traduz-se em leitura obrigatória para todos que desejam saber mais sobre as indagações que a ética pode lançar às pesquisas e práticas associadas às po-líticas públicas setoriais.

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ORGANIZADORAS

Flávia Mori Sarti

Docente do Bacharelado em Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes,Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP).

Graduada em Economia e Nutrição pela USP.

Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em NutriçãoHumana Aplicada (PRONUT) da USP.

Líder do Grupo Interdisciplinar de Física da Informação e Economia(GRIFE) e Vice-Coordenadora do Programa de Pós-Graduação

em Modelagem de Sistemas Complexos (USP).

Gislene Aparecida dos Santos

Professora-Associada do Bacharelado em Gestão de Políticas Públicasda Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH)

da Universidade de São Paulo (USP).

Professora do Programa de Pós-Graduação em DireitosHumanos da Faculdade de Direito da USP.

Mestre em Filosofi a pela USP.

Doutora em Psicologia pela USP.

Especialista em Epistemologia da Psicologia e Psicanálise pelaUniversidade Estadual de Campinas (UNICAMP), SP.

Page 5: Ética e Política Pública

Ética, Pesquisa e Políticas Públicas

Copyright © 2010 Editora Rubio Ltda.

ISBN 978-85-7771-046-1

Todos os direitos reservados.

É expressamente proibida a reprodução

desta obra, no todo ou em partes,

sem a autorização por escrito da Editora.

Produção e Capa

Equipe Rubio

Editoração Eletrônica

Redb Style Produções Gráficas e Editorial Ltda.

Mori Sarti, Flávia (org.)

Ética, pesquisa e políticas públicas. – Rio de Janeiro: Editora Rubio, 2010.

Bibliografia

ISBN 978-85-7771-046-1

1. Ética nas políticas públicas. 2. Políticas públicas – Ética. 3. Pesquisa em políticas públicas. 4. Políticas públicas – Pesquisa. I. Santos, Gislene Aparecida dos (org.). II. Título.

CDD 170

Editora Rubio Ltda.Av. Churchill, 97 sala 203 – Castelo20020-050 – Rio de Janeiro – RJTelefax: (21) 2262-3779 2262-1783E-mail: [email protected]

www.rubio.com.br

Impresso no Brasil

Printed in Brazil

Page 6: Ética e Política Pública

Ao longo do processo de efetivação do curso de Gestão de Políticas Públicas, em diferentes momentos, nos confrontamos com questões que instigam nossa imaginação, inteligência, curiosidade. Algumas transformam-se em projetos, outras em aulas, ou mesmo em temas de discussão entre colegas, estudantes e professores.

O livro Ética, Pesquisa e Políticas Públicas resultou do encontro feliz de pequenas doses de cada um dos elementos que nos têm desafiado na Escola de Artes, Ciências e Humanidades: imaginação, curiosidade acadêmica, bem como inteligência de estudantes e professores que se dispõem a buscar respostas, quer ao longo de disciplinas como Reso-lução de Problemas, quer em todas as outras oportunidades oferecidas ou criadas no dia a dia, pensando e trabalhando na área das políticas públicas.

Assim, sem nomear individualmente – simplesmente porque são muitos –, somos gratas a todos que, de algum modo, colaboraram para que o projeto do livro se concretizasse.

As organizadoras

Agradecimentos

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Alessandro Soares da Silva

Docente nas Áreas de Multiculturalismo e Políticas Públicas de Saúde do Ba-charelado em Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP).

Graduado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG).

Mestre e Doutor em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Cofundador da Associação Brasileira de Psicologia Política e Coeditor da Revis-ta de Psicologia Política.

Andrea Ferreira Jacques de Moraes

Coordenadora do Projeto “Bacias Irmãs – Construindo Capacidade na Socieda-de Civil para o Gerenciamento de Bacias Hidrográficas em São Paulo, Brasil”, parceria entre York University (Canadá), Universidade de São Paulo (USP) e Instituto Ecoar para Cidadania.

Graduada em Psicologia e Mestre em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Doutoranda pela Universidade de Missouri, Columbia (Tese sobre “Mulher e Água no Brasil”).

Colaboradores

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Andréia Patrícia Gomes

Professora Titular da Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Curso de Graduação em Medicina do Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNI-FESO) – Teresópolis, RJ.

Professora Titular da Disciplina de Saúde Coletiva do Curso de Graduação em Medicina da UNIFESO – Teresópolis, RJ.

Professora-Assistente de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa (UFV), MG.

Bernardo Monteiro de Castro

Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

(PUC-MG).

Mestre e Doutor em Letras pela PUC-MG.

Pós-Doutorado em Literatura Medieval e em Psicologia do Desenvolvimento

pela University of Cincinnati, EUA.

Bianca Freire-Medeiros

Pesquisadora e Docente do Centro de Pesquisa e Documentação de História

Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas.

Graduada em Ciências Sociais e Pós-Graduada em Sociologia Urbana pela Uni-

versidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Ja-

neiro e Doutora em História e Teoria da Arte e Arquitetura pela Binghamton

University, EUA.

Carlos Dimas Martins Ribeiro

Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

Mestre e Doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da

Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), RJ.

Professor Adjunto do Departamento de Planejamento em Saúde do Instituto de

Saúde da Comunidade da Universidade Federal Fluminense (UFF).

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Flávia Mori Sarti

Docente do Bacharelado em Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes,

Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP).

Graduada em Economia e Nutrição pela USP.

Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana Aplicada

(PRONUT) da USP.

Líder do Grupo Interdisciplinar de Física da Informação e Economia (GRIFE)

e Vice-Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Modelagem de

Sistemas Complexos (USP).

Francine Saillant

Professora Titular do Departamento de Antropologia da Université Laval,

França.

Diretora da Revista Anthropologie et Sociétés.

Coorganizadora de Seminários sobre Humanidades, Direitos Humanos e De-

ficiências da Universidade Federal da Bahia (UFBA) (novembro de 2005) e

Handicap International de Lyon – França (março de 2006).

Professora-Pesquisadora Convidada do Centro de Etnologia Francesa (CNRS)

– Paris, do Museu Emilio Goeldi, da Universidade de Aix-en-Provence, da

Universidade de Bucareste e da Universidade de Paris-Nanterre.

Gislene Aparecida dos Santos

Professora-Associada do Bacharelado em Gestão de Políticas Públicas da Escola

de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo

(USP).

Professora do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da Faculdade

de Direito da USP.

Mestre em Filosofia pela USP.

Doutora em Psicologia pela USP.

Especialista em Epistemologia da Psicologia e Psicanálise pela Universidade

Estadual de Campinas (UNICAMP), SP.

Page 10: Ética e Política Pública

Marisa Palácios da Cunha e Melo de Almeida RegoGraduada em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Ja-neiro (UFRJ).

Membro da Sociedade de Bioética do Rio de Janeiro – Regional da Sociedade Bra-sileira de Bioética (SBB) e da Diretoria da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB).

Professora Adjunta da UFRJ.

Palloma Valle MenezesPesquisadora Voluntária do Centro de Pesquisa e Documentação de História

Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas, atuando paralela-mente no URBANDATA.

Graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Bolsista CNPQ no Mestrado em Sociologia no Instituto Universitário de Pesqui-sas do Rio de Janeiro.

Patrícia Ellie PerkinsProfessora-Associada da Faculdade de Estudos Ambientais da York University, Ca-

nadá.Diretora do projeto “Bacias Irmãs – Construindo Capacidade na Sociedade Civil

para o Gerenciamento de Bacias Hidrográficas em São Paulo, Brasil”.

Doutora em Economia pela Universidade de Toronto, Canadá.

Docente da Universidade Politécnica Ryerson, St. Mary’s College de Maryland e Universidade Eduardo Mondlane em Maputo (Moçambique).

Paulo Roberto MartinsPesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Polí-

tica de São Paulo.Mestre em Desenvolvimento Agrícola pela Universidade Federal Rural do Rio

de Janeiro (UFRRJ).Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),

SP. Coordenador de Rede de Pesquisa em Nanotecnologia, Sociedade e Meio

Ambiente (RENANOSOMA) e do Projeto “Engajamento Público em Nano-tecnologia”.

Page 11: Ética e Política Pública

Renata Maria Coimbra LibórioProfessora-Assistente Doutora da Universidade Estadual Paulista Julio de Mes-

quita Filho.Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universida-

de de São Paulo (USP).

Pós-Doutorado em Sociologia da Infância pelo Instituto de Estudos da Criança (IEC) – Universidade do Minho.

Coordenadora do Projeto “Crianças e adolescentes em situação de risco: di-mensões do trabalho infantil nos municípios de Presidente Prudente, Belo Horizonte e Porto Alegre”.

Rodrigo Siqueira-Batista

Médico e filósofo.

Mestre em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio).

Doutorado em Ciências pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), RJ.

Pós-Doutorado em Física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), RJ.

Professor Titular e Coordenador do Curso de Graduação em Medicina do Cen-tro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO), Teresópolis.

Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ).

Sandra Costa Fonseca

Graduada em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Residência Médica em Pediatria pelo Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ.

Mestre em Saúde Coletiva pela UERJ.

Doutora em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), RJ.

Professora Adjunta do Departamento de Epidemiologia e Bioestatística (Área de Atuação: Epidemiologia da Saúde Materno-Infantil) da Universidade Fe-deral Fluminense (UFF).

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Sergio Tavares de Almeida RegoGraduado em Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

(UFRJ).Mestrado e Doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio

de Janeiro (UERJ)

Pesquisador Titular da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fun-dação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), RJ.

Editor da Revista Brasileira de Educação Médica, Vice-Presidente da Sociedade de Bioética do Estado do Rio de Janeiro e Membro da Comissão de Bioética do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro e Comissão de Ensino e Educação da Sociedade Brasileira de Bioética.

Thomas Heyd

Docente em Filosofia e Estudos Ambientais na Universidade de Victoria, Cana-dá. Professor Visitante e Palestrante na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal de Minas Gerais.

Thomaz Rafael GollopDiretor do Serviço de Cirurgia Minimamente Invasiva do Hospital Pérola Bying-

ton, SP. Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Mestre e Doutor em Biologia Genética pela Universidade de São Paulo (USP).

Livre-Docente pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

Ginecologista e Obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein, SP.

Vivian Grace Fernandes Davila UrquidiDocente nas Áreas de Comunicação Pública, Sociedade Civil e Multiculturalis-

mo do Curso de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP).

Professora Adjunta no Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP.

Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Mestre em Ciências da Comunicação e Doutora em Sociologia pela USP.

Especialista em Estudos Latino-americanos pela Universidad Nacional Autono-ma de Mexico.

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Em torno da discussão de questões que envolvem a Ética na pesquisa e nas políticas públicas, os artigos aqui reunidos nos colocam diante de uma coleção de novos atores, temas e problemas, no mais das vezes surgidos nesse recente início de século.

Já em si a variedade de objetos, tanto de pesquisa, como de po-líticas públicas, nos permite entrever quão amplas têm-se tornado as demandas por uma ação coletiva, articulada pelo Estado.

Em contrapartida, exatamente porque os artigos têm como eixo comum a discussão da Ética – em dimensões diversas –, o leitor pode se relacionar com os mais variados campos de pesquisa e/ou de polí-tica pública, descobrindo a possibilidade de diálogos, em geral pouco percebida e concretizada. Assim, perguntas colocadas por um campo encontram ressonância ou resposta em outro.

Autores como Saillant, Urquidi e Martins revelam os dilemas que se colocam ao pesquisador frente ao sujeito pesquisado, questionando os aportes teóricos hoje prevalentes. Soares da Silva, Perkins e Moraes mostram, por sua vez, a importância da participação de novos atores na conformação da “agenda”, da pauta de prioridades no campo das políticas públicas. Já Santos, Freire-Medeiros e Menezes discutem a questão do conhecimento emancipatório e da construção de identida-des sociais, contribuindo para o debate de políticas existentes ou pos-

Prefácio

Page 14: Ética e Política Pública

síveis. Alguns capítulos, como os de autoria de Libório, Castro e Heyd, se apresentam como contribuições à formulação de novas políticas. Mori, Gollop, Ribeiro e Fonseca narram, finalmente, as consequências de determinadas políticas no plano da implementação, os dilemas que se apresentam e as oportunidades de institucionalização de procedi-mentos éticos. E ainda no que concerne à bioética, Siqueira-Batista, Gomes, Almeida Rego e Cunha e Melo de Almeida Rego abordam a temática do fim da vida na esfera da saúde pública.

Os diferentes graus de amadurecimento na reflexão sobre cada um dos temas não impedem o leitor de obter uma visão de conjunto extre-mamente contemporânea e instigante.

As provocações expostas pelos autores, parcialmente estimuladas por seus alunos, contribuem, sem dúvida, para organizar o debate inte-lectual, ético e político deste, até aqui, enigmático século XXI.

Evelyn Levy Especialista Sênior em Gestão Pública do Banco Mundial

Page 15: Ética e Política Pública

Um dos desafios enfrentados pelos gestores públicos na atualidade diz respeito a como elaborar e implementar políticas públicas que sejam eficientes do ponto de vista da administração e, ao mesmo tempo, res-peitem a diversidade das demandas originárias da sociedade. Colocar-se face a face com tal temática exige do gestor conhecimento técnico e sabedoria política, que, muitas vezes, nos faz lembrar o que foi pro-posto por Platão, quando o filósofo considerou que o político deveria ter o domínio da ciência da urdidura.

De que é feita a Cidade? De pessoas cujos caracteres ou tempe-

ramentos são diferentes (sangüíneos, coléricos, fleumáticos e me-

lancólicos, como diz a medicina). A urdidura consistirá em educar

cada um desses caracteres para que adquiram a virtude que lhes

é própria: aos sangüíneos, a virtude da prontidão; aos coléricos, a

virtude da energia ou coragem; aos fleumáticos, a virtude da mo-

deração; aos melancólicos, a virtude do conhecimento. Graças às

artes e ciências auxiliares, o político educa os cidadãos, urdindo

os fios da Cidade (torce a natureza de cada um para que alcance a

virtude que lhe é própria). Educados ou urdidos os cidadãos, o po-

lítico tecerá o tecido da Cidade, enlaçando os fios, isto é, criando

laços de amor, amizade, matrimônio, companheirismo, solidarie-

dade entre os caracteres opostos. (...) O político é um artesão que

fia e tece as almas para que realizem sua areté e a da Cidade.

Apresentação

Page 16: Ética e Política Pública

Qual é, pois, a ciência do político e que define sua essência? A

ciência dos laços humanos, das almas humanas. Com ela, realiza

“o mais magnífico e excelente de todos os tecidos...”

(...) Ao escolher o paradigma da tecelagem para definir o políti-

co, Platão realiza duas operações. Primeiro, faz-se compreender

por seus contemporâneos, colocando o político sob uma arte da

Métis. Segundo, destrói a imagem que seus contemporâneos pos

suíam do político, pois não lhe dá a arte de tecer e sim a ciência

dos laços, isto é, transfere-o de Métis para os braços de Atena. Faz

do político, filósofo. (...) Desta maneira, seguindo um caminho diver-

so do que percorrera na República, apresenta o que lhe faltava para

a construção da Cidade justa ou perfeita: o sujeito político.1

A citação recupera o essencial da definição do sujeito político feita por Platão. Contudo, hoje, acostumou-se a outra forma de conceituar a ação política.

Muitos consideram que, desde Maquiavel, a política tenha sido se-parada da ética. O político agiria em acordo com o que foi definido por Weber como ética da responsabilidade. Limitando a responsabilidade do político à gestão da res publica e à manutenção do governo e do poder, espera-se que o político focalize mais resultados do que meios utilizados para alcançá-los ou princípios nos quais foram alicerçados. Ele deve-se pautar por uma ética da ação que vise a resultados satisfatórios, não por uma ética de princípios que seria a que rege a vida privada.

Tal compreensão da ciência do político e de sua ação conduziu diferentes autores a atribuírem à função política um caráter técnico e pragmático que, muitas vezes, pode gerar a crença de que a política não só tenha sido separada da ética, mas também da sabedoria, da so-phia e da importância de se conhecer os desejos e as necessidades dos

1 Chauí M. Introdução à História da Filosofia. Dos Pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Bra-

siliense, 1997. p.229-30.

Page 17: Ética e Política Pública

cidadãos para administração de uma cidade harmoniosa, ou, na lingua-

gem dos modernos, na qual não haja a luta de todos contra todos.

Também deve ser esta a conduta dos gestores públicos? Ocupa-rem-se mais com resultados e técnicas a serem utilizadas do que com princípios e implicações das políticas a serem implementadas por este ou aquele governo? Quando são mencionadas implicações, deve-se implementar uma análise aprofundada dos sentidos desta ou daquela política para as gerações presentes e futuras, bem como para a socie-dade, os seres humanos e todas as formas de vida.

Entretanto, um estudo rigoroso do sentido da ética da responsabili-dade, ou do bom governo, indica que o político não foi desobrigado de princípios éticos. Se, por um lado, a política moderna passou a considerar que o bom governo não deve ser avaliado em função das virtudes do go-vernante – mas a partir da qualidade de suas instituições –, por outro, isso não significa que o político estaria desobrigado de princípios éticos.

Ao contrário do que muitos querem fazer crer, a política moderna não autoriza o político a agir de forma amoral (já que, na política, tudo poderia ser válido), ou a agir em acordo com seus interesses pessoais. Em nome da preservação das instituições públicas e suas virtudes, que são o bem comum, o político deve se ocupar com o resultado de suas ações tanto quanto se obrigar a obedecer às leis e seguir valores e normas vigentes na sociedade para todos os cidadãos. Ele não está acima das leis e não é isento de segui-las. Ele não pode agir de maneira contrária àquilo que propõe aos outros. A ação política tem enorme conteúdo ético na medida em que torna o político (e quem age poli-ticamente) responsável pela preservação ou deterioração do bem co-mum, daquilo que é de todos por não pertencer a ninguém. O político, mais do que qualquer outro, deve assumir a responsabilidade pelas ações que realizou e seus resultados.

Tais questões são centrais para ética e política. Em consequência, os autores do livro debruçaram-se sobre o tema Ética, Pesquisa e Polí-ticas Públicas, cada um a partir de sua área de especialização, tentando oferecer aos leitores interessados na temática das políticas publicas – e

Page 18: Ética e Política Pública

aos estudantes que iniciam sua formação na área – elementos para uma reflexão sobre diferentes possibilidades de entrelaçamento entre os três temas, com a finalidade de demonstrar que a gestão pública não pode ser pensada separadamente das questões éticas e políticas tradicionais.

Este livro divide-se em quatro partes.

Na primeira parte, Ética, Pesquisa e Reconhecimento, são discutidas questões antropológicas e filosóficas associadas ao trabalho do pesqui-sador que busca investigar a ação política como locus da diversidade. Como considerar a diversidade de povos e culturas, a relação entre pes-soas e o meio ambiente? De que forma tais saberes podem propiciar ao gestor público um olhar mais atento à temática da diferença? Quem de-fine o que é o conhecimento? Quem estabelece quais saberes e de que forma devem ser valorizados? O respeito aos saberes e conhecimentos construídos pelos movimentos sociais na definição da forma como que-rem ser identificados e reconhecidos, no uso de seus potenciais para sus-tentação e sustentabilidade, são discutidos pelos autores que vinculam suas análises ao estudo das relações de poder que se fazem presentes quando é indicada a maneira pela qual “o diverso” será construído ou apropriado pelos pesquisadores das ciências humanas e sociais.

A segunda parte, Ética, Direito e Políticas Públicas, apresenta resulta-dos de pesquisas e proposições de políticas públicas diretamente ligados aos direitos dos pobres, das mulheres e dos jovens. Podemos conside-rar a transformação de favelas em atrações turísticas como uma política pública aceitável do ponto de vista da valorização dos cidadãos que ali residem? Discutindo gênero: como avaliar a participação de mulheres e mulheres pobres na gestão dos recursos hídricos? É um fator que deve ou não deve ser considerado pelos gestores que investigam e atuam na área? Quais fatores de risco devem ser considerados na proposição de políticas públicas que visam aos jovens? Os autores chamam a atenção dos leitores para aspectos transversais à proposição de quaisquer políti-cas públicas que tenham como objetivo envolver a participação popular ou despertar o interesse de adolescentes, seja no que diz respeito à pre-venção contra o uso de drogas, às DST ou à gravidez precoce.

Page 19: Ética e Política Pública

Em Ética, Pesquisa e Saúde, terceira parte do livro, são abordados im-passes frequentes entre pesquisadores e agentes da área da saúde, que, diante dos avanços da tecnologia, veem-se perante o dilema moral sobre os limites entre tecnologia e humanidade, como também sobre o valor da vida e o que pode ser considerado vida humana na atualidade. A dis-cussão sobre a constituição dos comitês de ética e sua ação na avaliação de projetos e investigações na área da saúde é contemplada ao mesmo tempo em que outros autores questionam a própria focalização e temati-zação de alguns aspectos da medicina fetal que, de algum modo, obede-ceriam a uma estratificação social. Os conhecimentos oferecidos pela ge-nética beneficiariam, de maneira similar, a ricos e a pobres? Como definir os direitos reprodutivos no País de modo a possibilitar a implementação de políticas públicas nesta área? Como estabelecer limites e parâmetros para o consentimento informado no que diz respeito a procedimentos na área da saúde humana? Nenhum gestor que deseje se especializar na área da saúde pode se furtar a discutir estes aspectos.

Na quarta parte, Ética, Tecnologia e Comunicação, são pondera-dos dois temas de extrema importância para as políticas públicas na atualidade. Pensar a nanotecnologia e seus limites éticos é debruçar-se sobre o direcionamento que governos, em suas agendas, darão às questões da tecnologia de ponta. Pensar a comunicação é considerar a forma como todas as informações são veiculadas e construídas. Os ca-pítulos desta parte oferecem um desfecho essencial às discussões que permeiam todo o volume e que concernem ao lugar que a informação e o conhecimento devem ocupar na agenda dos gestores públicos e dos políticos de modo geral.

Não podemos deixar de mencionar que a inspiração para edi-tar este livro surgiu de diferentes fontes. Em um primeiro momento, a elaboração do programa da disciplina Ciências, Valores e Políticas Públicas, do curso de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP), possibilitou que as reflexões comumente realizadas pelos pesquisa-dores da área da filosofia fossem associadas à temática das políticas

Page 20: Ética e Política Pública

públicas e aos impasses passíveis de serem vivenciados pelos gestores públicos diante da expectativa de que seus conhecimentos “técnicos” sejam suficientes para preencher lacunas relativas a questões éticas e políticas extremamente complexas. A elaboração do conteúdo progra-mático e as discussões com colegas do Brasil e do exterior salientaram a importância da produção de um material que pudesse organizar as nossas reflexões e que, ao mesmo tempo, se tornasse fonte de pesqui-sa para alunos dos cursos de políticas públicas.

Em paralelo, um grupo de estudantes, também do curso de Gestão de Políticas Públicas, realizava um trabalho de campo sobre a responsi-vidade por parte de diferentes candidatos a cargos do executivo e legis-lativo às questões enunciadas por seus eleitores. Tais estudantes, jovens ainda cursando o segundo ano da graduação, também questionavam os limites da ética na condução de pesquisas em políticas públicas.

A partir de então, diversos outros questionamentos surgiram e foram somando-se aos já existentes. Quais as necessidades e dúvidas com as quais os pesquisadores de políticas públicas podem se defrontar? Ha-veria bibliografia suficiente sobre a qual apoiar a condução de estudos especificamente direcionados à área? Devemos nos reportar à literatura elaborada para investigações em outras áreas do conhecimento ou a te-mática das políticas públicas mereceria um aporte especial?

As questões e o diálogo entre professores e estudantes findaram por aproximar pessoas que tinham como objetivo em comum organizar um material sobre o assunto. Mais que oferecer respostas, espera-se que este livro constitua um incentivo à enunciação de perguntas que conduzam a novas investigações sobre o campo das políticas públicas.

Finalmente, é importante destacar um agradecimento especial à Coor- denação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES), pelo apoio ao projeto que permitiu o intercâmbio com professores cana-denses cuja elaboração foi inestimável para o sucesso deste livro.

Gislene Aparecida dos Santos

Page 21: Ética e Política Pública

PARTE I – ÉTICA, PESQUISA E RECONHECIMENTO

Capítulo 1

Saber, ética e pós-colonialismo: Crônicas da pesquisa costumeira em um país do sul ................................... 3

Francine Saillant

Capítulo 2

Contribuições dos movimentos sociais para a desprivatização da ética na perspectiva da psicologia política ................. 37

Alessandro Soares da Silva

Capítulo 3

Identidade e conhecimento nas sociedades multiculturais: Pressupostos teóricos para a discussão sobre a identidade negra no Brasil ................................................................................................ 59

Gislene Aparecida dos Santos

Capítulo 4

Sustentabilidade, cultura e ética: Modelos da América Latina .................. 85

Thomas Heyd

Sumário

Page 22: Ética e Política Pública

PARTE II – ÉTICA, DIREITOS E POLÍTICAS PÚBLICAS

Capítulo 5

Mulher, igualdade e gestão participativa da água no Brasil .................... 107

Patrícia Ellie PerkinsAndrea Ferreira Jacques de Moraes

Capítulo 6

Da promoção da favela como destino turístico: Impasses éticos e práticos ........................................................................... 123

Bianca Freire-MedeirosPalloma Valle Menezes

Capítulo 7

Pesquisando adolescência, juventude e sexualidade: Observações para o desenvolvimento de ações na área da educação afetivo-sexual em prol da resiliência .................................... 155

Renata Maria Coimbra LibórioBernardo Monteiro de Castro

PARTE III – ÉTICA, PESQUISA E SAÚDE

Capítulo 8

Ética na pesquisa em saúde pública: Histórico e papel dos comitês de ética em pesquisa no Brasil ..................................................... 199

Flávia Mori Sarti

Capítulo 9

Ética, saúde pública e o início da vida ........................................................ 235

Carlos Dimas Martins RibeiroSandra Costa Fonseca

Page 23: Ética e Política Pública

Capítulo 10

Ética e assessoramento em medicina fetal ................................................ 267

Thomaz Rafael Gollop

Capítulo 11

Bioética, saúde pública e o fim da vida ...................................................... 289

Rodrigo Siqueira-BatistaAndréia Patrícia GomesMarisa Palácios da Cunha e Melo de Almeida RegoSergio Tavares de Almeida Rego

PARTE IV – ÉTICA, TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO

Capítulo 12

Pesquisa em comunicação e limitações éticas .......................................... 329

Vivian Grace Fernandes Davila Urquidi

Capítulo 13

Contribuição da Renanosoma ao debate sobre ética e nanotecnologia no Brasil ............................................................................. 355

Paulo Roberto Martins

Índice Remissivo ........................................................................................... 371

Page 24: Ética e Política Pública

Ética, Pesquisa e Políticas Públicas

Page 25: Ética e Política Pública

Ética, Pesquisa e

Reconhecimento

Parte I

Page 26: Ética e Política Pública

3

sabeR, Ética e Pós-colonialismo

Francine Saillant1

1

Introdução

Este texto pretende ser um relato pessoal de diversas experiências

de pesquisas realizadas no Brasil desde 1998, e não propriamente um

artigo que apresenta resultados de pesquisas. Adquirindo caráter es-

pecialmente biográfico, seu conteúdo nos leva a reflexões de ordem

teórica e ética. O texto reúne dados obtidos em diversos terrenos, co-

letados em diferentes cidades, em períodos diferentes, com grupos

diferentes, em torno de objetos de pesquisa também diferentes. Além

*Traduzido por Marcia de Almeida, com revisão técnica de Neli Aparecida Melo.

1 Gostaria de agradecer os comentários dos seguintes pesquisadores brasileiros: Jacques

D’Adesky (Universidade Cândido Mendes), Alain Pascal Kaly (Universidade de Campinas),

Jacqueline Ferreira (Universidade Federal Fluminense e Fiocruz), Ana Lucia Araújo (Univer-

sidade Laval).

Crônicas da pesquisa costumeira em um país do Sul*

Page 27: Ética e Política Pública

ÉtICA, PESQuISA E rEConHECIMEnto

4

SAbEr, ÉtICA E PóS-ColonIAlISMo

disso, traz uma análise a posteriori, construída ao longo do tempo, de

elementos comuns ligados a essas experiências em associação com os

temas dos saberes, da ética e do pós-colonialismo. As realidades apre-

sentadas neste texto não são necessariamente transponíveis a todos

os contextos, mas podem revelar situações comuns vividas por outros

pesquisadores.

Desejo evidenciar o trabalho de formulação de questões éticas ad-

vindas do campo no contexto dos países chamados “do Sul” (e não

pelas normas que fazem cada vez mais da ética uma rotina próxima

da engenharia social), e os constantes entrelaçamentos entre essas

questões e aquelas que emergem de maneira mais teórica – a ética e

a teoria dialogando mutuamente. Também tentarei demonstrar que a

posição crítica que todo pesquisador pode ter em uma situação “em

campo” no que concerne à relação Norte-Sul não é necessária e uni-

camente produto de um pensamento crítico esclarecido vindo do Nor-

te: ela pode surgir igualmente dos “sujeitos das pesquisas”; tudo

depende da concepção que se tenha do saber, do engajamento e da

ideia de crítica.

Dois aspectos vão chamar nossa atenção: o status dos saberes e

seu reconhecimento enquanto saber, e o status das populações que

os detêm. Essa questão do saber é inteiramente ligada às teorias

que nós produzimos a respeito das “populações do Sul” (Laplantine

& Saillant, 2005), uma vez que, explicitamente ou não, postulamos sa-

ber mais do que aquilo que eles já sabem sobre si próprios. O saber

local não será reduzido, neste texto, a uma estrutura cognitivo-sim-

bólica, de modo que englobará em um mesmo conjunto os aspectos

afetivos, subjetivos, culturais e políticos da experiência que todo su-

jeito ou toda coletividade fazem de um mundo situado e localizado.

Enfim, essas experiências nos conduzirão, em conclusão, a algumas

propostas que reúnem as reflexões de autores da corrente dos estu-

dos pós-coloniais (Bhabba, 1994; Said, 1994; Spivak, 1999; e Mignolo;

2001).

Page 28: Ética e Política Pública

Ética, Direitos e

Políticas Públicas

Parte II

Page 29: Ética e Política Pública

107

MUlHer, iGUalDaDe e GestÃo ParticiPatiVa Da ÁGUa

No brasil

Patrícia Ellie PerkinsAndrea Ferreira Jacques de Moraes

5

Lata d’água na cabeçaLá vai Maria, lá vai Maria

Sobe o morro e não se cansaPela mão leva a criança

Lá vai MariaMaria lava a roupa lá no alto

Lutando pelo pão de cada diaSonhando com a vida do asfalto

Que acaba onde o morro principia.(Luís Antonio e J. Júnior, Lata d’água1)

Introdução

O samba cuja letra serve de epígrafe a este capítulo é muito popular no

Brasil desde seu lançamento, em 1952, e tornou-se parte da memória

1 Pode-se ter acesso à música pela Internet via: http://www.revistadosamba.com.br/LatadAgua.

WM (Acesso em: agosto de 2007).

Page 30: Ética e Política Pública

ÉtIca, dIreItos e PolítIcas PúblIcas

108

MulHer, IGualdade e Gestão PartIcIPatIVa da ÁGua no brasIl

coletiva nacional dos grandes sambas de Carnaval. Descreve a cena de

uma lavadeira, Maria, carregando em cima da cabeça uma lata de água

ao subir o morro da favela onde vive, segurando a mão de sua criança.

A letra da música deixa implícito que a água que ela carrega morro

acima é usada para lavar a roupa de pessoas que moram na cidade

pavimentada (asfalto), porque esta é a maneira pela qual ela ganha seu

sustento. Também deixa claro que ela não tem no morro acesso a água

para cozinhar, lavar, tomar banho ou beber; ela tem que subir com a

água. A cena da mulher subindo o morro com a água era comum na

década de 1950 e, mesmo hoje, ainda é evidente em muitas partes do

Norte e Nordeste do Brasil, onde o acesso a água é particularmente

limitado.

Inspirado pela filosofia ecofeminista (Warren, 2000) e pelo conceito

brasileiro de “liderança feminista transformadora” (Viezzer, 2001), este

capítulo pretende chamar a atenção e problematizar a falta de parti-

cipação da mulher, especialmente da mulher pobre e de cor, no novo

sistema nacional de gestão da água no Brasil. Hoje, no Brasil, assim

como no passado e em muitos outros países, problemas relacionados

com a água afetam mais seriamente as pessoas pobres (que são em

sua maioria mulheres e homens de cor). Problemas de água tomam

formas diferentes: primeiro, as pessoas que moram em assentamen-

tos informais e irregulares muitas vezes ainda não têm acesso a água

limpa e serviços de esgoto. Segundo, enchentes e deslizamentos de

terra causados pela água da chuva podem fazer com que residentes

de assentamentos informais percam suas casas e seus pertences (e às

vezes suas vidas). Terceiro, é a saúde das pessoas pobres a mais afetada

pela poluição de rios e córregos, já que moram perto e precisam usar

essas águas. Enquanto o trabalho regido pelo gênero e pelas respon-

sabilidades familiares faz dela a principal prestadora de serviços do lar,

tais como limpar e cuidar da família, e da sociedade, a mulher pobre

é a mais afetada e mais preocupada com estas questões relacionadas

com água.

Page 31: Ética e Política Pública

da ProMoção da FaVEla coMo dEstIno turístIco

141

Figura 6.1 Mapa do Museu do Morro da Providência

Plano de intervenções do Favela-Bairro

e primeira etapa do museu–2003

Vila Olímpica eCidade do Samba

Anfiteatro

Mirante 3

MiranteCaixa d’Água

Congelamentos

Mirante 1

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Livramento

Mirante 2

Capela doCruzeiro

Cenário

Reservatóriode lembranças

Igreja N. S.da Penha

Praça deesportes

Praça deacesso

Escadaria

Morro do

Livramento

Page 32: Ética e Política Pública

PesQuIsando adolescÊncIa, JuVentude e seXualIdade

169

Tabela 7.1 Idade da primeira relação sexual entre os jovens participantes

da pesquisa de Presidente Prudente (n = 407) e Belo Horizonte (n = 373)

(Brasil, 2006)

IdadePresidente Prudente Belo Horizonte

N % Válida (%) N % Válida (%)

2 0 0,0 0,0 1 0,1 0,3

7 1 0,1 0,2 2 0,2 0,5

8 0 0,0 0,0 1 0,1 0,3

9 1 0,1 0,2 2 0,2 0,5

10 6 0,6 1,5 4 0,5 1,1

11 2 0,2 0,5 9 1,0 2,4

12 26 2,6 6,4 10 1,1 2,7

13 56 5,6 13,8 46 5,2 12,3

14 83 8,3 20,4 74 8,4 19,8

15 110 11,0 27,0 89 10,1 23,9

16 74 7,4 18,2 61 6,9 16,4

17 34 3,4 8,4 36 4,1 9,7

18 8 0,8 2,0 23 2,6 6,2

19 4 0,4 1,0 7 0,8 1,9

20 1 0,1 0,2 3 0,3 0,8

21 0 0,0 0,0 2 0,2 0,5

22 0 0,0 0,0 2 0,2 0,5

23 1 0,1 0,2 0 0,0 0,0

24 0 0,0 0,0 1 0,1 0,3

Total 407 40,7 100,0 373 42,4 100,0

Não respondeu 593 59,3 507 57,6

total 1.000 100,0 880 100,0

Page 33: Ética e Política Pública

Ética, Pesquisa e

saúde

Parte III

Page 34: Ética e Política Pública

199

Ética Na Pesquisa eM saúde PúBLica

Flávia Mori Sarti

8

Introdução

O objetivo do presente capítulo é abordar a evolução histórica e os aspectos técnicos que permeiam a ética em pesquisas na área de saú-de. Estudos sobre políticas públicas em saúde via construção de uma base de dados primária cujo foco principal de análise recaia sobre o indivíduo, seja como paciente do sistema de saúde, seja no papel de beneficiário de um programa, devem obrigatoriamente deparar-se com um sistema rígido de avaliação dos protocolos e metodologias de pesquisa.

A consolidação do marco regulatório da ética na pesquisa em saú-de é relativamente recente no Brasil, tendo em vista que a aprovação da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde atualmente remonta a uma década. Entretanto, a instituição dos comitês de ética em pesquisa e a adoção dos procedimentos protoco-

Histórico e papel dos comitês de ética em pesquisa no Brasil

Page 35: Ética e Política Pública

ÉtIca, PESQuISa E SaÚdE

200

ÉtIca na PESQuISa EM SaÚdE PÚBLIca

lares constituíram exigências formais assimiladas com relativa rapidez

no meio acadêmico da área de saúde após o início da vigência da atual

regulamentação, uma vez que o desenvolvimento das diretrizes regu-

lamentadoras apresentadas na Resolução 196/96 firma-se após prolon-

gada discussão de aspectos éticos ligados à pesquisa em saúde.

Em tal contexto, busca-se apresentar as raízes históricas da pro-

blematização ética no contexto das pesquisas na área de saúde, em

âmbito nacional e internacional, de modo a promover a compreensão

da natureza das exigências estabelecidas no âmbito da denominada

bioética.

A concepção de ética abrange o modo de focalizar problemas e

condutas da sociedade, sendo necessário “... construir a capacidade

de considerar criticamente as circunstâncias em que os sujeitos estão

inseridos” (Lima, 2004). O exercício da ética possibilita a definição de

normas morais e legais, em face a situações de consenso ou considera-

ção de condutas passíveis de aceitação ou estímulo no grupo social.

As normas éticas exigem responsabilidade na relação intersubjeti-

va, mas não coerção. Não se deve confundir norma ética com lei,

pois esta última necessita da aprovação formal dos órgãos legisla-

tivos e cria obrigações externas mediante, muitas vezes, coerção

física, além de apresentar um grau menor de universalidade, pois

obriga as pessoas a cumprirem o ordenamento jurídico do país.

No entanto, podem ocorrer comportamentos não condenáveis

penalmente, mas reprováveis do ponto de vista ético. Diante dis-

so, o importante é manter a preocupação com a criação de uma

cultura da bioética que prime pela confluência dos saberes e das

práticas, integrando a pesquisa acadêmica com as demandas so-

ciais. (Lima, 2004)

O conceito de bioética foi inicialmente cunhado pelo bioquímico

norte-americano Van Rensselaer Potter, na década de 1970, que busca-

va induzir à reflexão sobre o descompasso entre a evolução do conhe-

Page 36: Ética e Política Pública

ÉtIca na PESQuISa EM SaÚdE PÚBLIca

219

Fig

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8.1

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Page 37: Ética e Política Pública

BIoÉtIca, saúde PúBLIca e o FIM da VIda

321

Figura 11.7. Crânio com cigarro aceso, 1885/1886; Antuérpia. Vincent Van Gogh. Rijksmuseum

Vincent Van Gogh

Figura 11.8. Pietà (segundo Delacroix), 1889; Amsterdam. Vincent Van Gogh. Rijksmuseum Vin-

cent Van Gogh

Page 38: Ética e Política Pública

ÉtIca, PesquIsa e saúde

322

BIoÉtIca, saúde PúBLIca e o FIM da VIda

Figura 11.9. Velho a sofrer (no limiar da eternidade), 1890; Saint-Rémy. Vincent Van Gogh. Otter-

lo, Rijksmuseum Kröller-Müller

concLusão

Nascer e morrer são considerados pontos extremos na existência hu-mana, reconhecendo-se, no âmbito da cultura, um grandioso esforço para torná-los possuidores de sentido, seja através da religião, da filo-sofia, da ciência ou de outras manifestações do Espírito. Essas tenta-tivas incluem ações capazes de trazer significativos problemas éticos – como no caso da eutanásia –, os quais deverão ser apreciados pelo profissional de saúde, sujeito que habitualmente precisará tomar (as melhores) decisões, sobre a vida e a morte de outrem.

Page 39: Ética e Política Pública

Ética, tecnologia e

comunicação

Parte IV

Page 40: Ética e Política Pública

329

PeSQuiSa em comunicação e limitaçÕeS ÉticaS

Vivian Grace Fernandes Davila Urquidi

12

Introdução

A comunicação social como campo de conhecimento é uma ciência nova. Surge nas sociedades de massa dos EUA e da Europa nas pri-meiras décadas do século XX, impulsionada pela expansão das redes de fluxo de informação e pela ideologia do progresso. Pela primeira vez, a ciência e o setor público precisam considerar a administração da informação como parte do desenvolvimento industrial ou do desem-penho do mercado, e como elemento de gestão das multidões que se deslocam para as cidades ou que migram em direção ao mundo desenvolvido.

Nesse contexto, desde a sua origem as principais reflexões teóricas e metodológicas no campo das ciências da comunicação têm se con-centrado em estabelecer qual é o lugar da comunicação midiática na sociedade. É também desse ponto de partida que analisaremos, neste

Page 41: Ética e Política Pública

ÉtIca, tecnologIa e comunIcação

330

PeSQuISa em comunIcação e lImItaçÕeS ÉtIcaS

capítulo, os aspectos éticos envolvidos no desenvolvimento técnico da comunicação e das reflexões epistemológicas do novo campo das ciên- cias sociais.

Sabe-se que o progresso dos meios de comunicação foi incenti-vado por duas forças complementares. Por um lado, o liberalismo do século XVIII, aliado à necessidade de expandir as energias produtivas e o potencial criativo humano, justificou a ampliação dos meios de trans-porte e de comunicação de massa para facilitar a circulação de produ-tos e de opiniões. Em um segundo momento, já no século XX, o desen-volvimento das técnicas e pesquisas em comunicação foi incentivado pela expansão do nazismo e do poderio soviético, que favoreceram o clima para que ocorressem as duas guerras mundiais. Do desenvolvi-mento técnico-científico e do temor da disseminação de regimes to-talitários, surgem então os primeiros trabalhos de pesquisa na área, a mass communication research, tendo como objetivo central descobrir os efeitos dos mass media na sociedade de massa e sua funcionalidade para consolidar o sistema democrático ocidental.

Data das primeiras décadas do século XX, também, o incremento da migração para os países europeus e para os EUA de populações da Ásia, da América Latina e da África. Os migrantes levavam consigo suas tradições e seus costumes, nem sempre dispostos a abandoná-los em prol de novos modelos de organização social, de culturas políticas de-mocráticas ou de modos individuais de relação jurídica e de mercado.

Desse modo, o crescimento de doutrinas contrárias ao liberalismo ocidental e à necessidade de induzir valores democráticos e de mer-cado nas populações migrantes, que consolidassem em larga escala o projeto civilizatório ocidental no resto do mundo, está na base das primeiras justificativas de estudo da comunicação de massa.

comunIcação de maSSa

Foram diversas as vertentes de pensamento que fundamentaram as primeiras reflexões sobre a comunicação tendo em vista as socieda-

Page 42: Ética e Política Pública

ÉtIca, tecnologIa e comunIcação

352

PeSQuISa em comunIcação e lImItaçÕeS ÉtIcaS

que já está concluído... nunca um ponto de partida, isto é, também de produção de sentido” (Martin-Barbero, 1995). A crítica pode ser esten-dida a outros estudos ancorados apenas na análise dos sentidos da mensagem.

Um aspecto também importante levantado por Martin Barbero diz respeito ao profundo moralismo que permeia tanto a teoria funcionalis-ta como a crítica, a concepção de que o receptor é vítima, manipulado, condenado ao que a mídia ou o poder quer em fazer com ele. Em sen-tido contrário, a ação política da militância de esquerda tem buscado neutralizar o efeito nocivo da mídia de massa, por meio de educação para os meios e programas de capacitação técnica para o uso das tec-nologias de comunicação na expectativa de se corrigir o desequilíbrio informativo, com a emissão paralela de outro tipo de mensagens. Para-doxalmente, a alternativa repete a visão instrumental da mídia.

É nesse sentido que se pode evidenciar a difícil superação das in-terpretações instrumentais da comunicação de massa, e sua visão coi-sificadora da relação entre os sujeitos do processo.

A continuar com essa expectativa, as pesquisas e reflexões teóricas no âmbito da mass media ainda teimarão em se debruçar perante a falsa onipotência das novas tecnologias ou frente à magia e ao espetá-culo midiático, ignorando ainda o que se passa no local da recepção.

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PeSQuISa em comunIcação e lImItaçÕeS ÉtIcaS

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Page 44: Ética e Política Pública

Índice Remissivo

AAdolescência, juventude e sexualidade,

pesquisando, 155-196- a pesquisa, apresentação

dos resultados, 163- aspectos teóricos, 157- dimensão ética da pesquisa, 161- implicações para ações na área

da sexualidade, 187Água, gestão participativa da, mulher,

igualdade e, no Brasil, 107-122- a água como problema, 109- o sistema brasileiro de gestão

da água e a participação da mulher, 113

AIDS, método de preservação da, crenças, práticas sobre, 184

- por gênero, 185, 186Amazônica dos esquecidos, 5Ambulância improvisada, 320Arte, atividades que envolvam,

e bioética, 315Associação sexual, direito à livre, 189Atenção ao pré-natal, ao parto

e ao puerpério, 249

Atividades que envolvam arte e bioética, 315

Autonomia, 297- comunidade, resistência e, 92- respeito à, 297- sexual, direito à, integridade

sexual e segurança dos órgãos genitais, 189

BBahia, os com direitos e os

sem direitos, 14Bioética, 314- abordagem da, para segurança

em medicina fetal, 273- atividades que envolvam arte e, 315- filmes sugeridos para as atividades

didáticas dirigidas à, 316- métodos de ensino da ética e da, 314- saúde pública e o fim da vida, 289-329- - debate bioético sobre o

fim da vida, 300- - - distanásia, 309- - - mistanásia, 309- - - o conceito de morte, 300

Page 45: Ética e Política Pública

ÉticA, tecnologiA e comunicAção

372

- - - ortotanásia, 309- - - questões éticas em torno do

suicídio assistido, 308- - introdução, 289- - princípios morais, 296- - - da sacralidade da vida, 296- - - do respeito à autonomia, 297- - sínteses, 312- - - a formação do profissional

de saúde e os cuidados ao fim da vida, 312

cCadáver de Sarpédon, 318Casos, discussão de, 314Centros de reprodução assistida, 279Clube de debates e competições,

315Comissão Nacional de Ética em

pesquisa, estrutura da, 214Comitês de Ética, histórico e papel dos,

em pesquisa no Brasil, 199-234- abordagem ética na pesquisa em

políticas públicas de saúde, 207- casos ilustrativos em ética no

campo da saúde pública, 223- - estudos, 226- - - sobre febre amarela de

Quemados, Cuba, 224- - - sobre hexametônio, EUA, 227- - - sobre limites de velocidade,

Israel, 226- - - sobre sífilis de Tuskegee, 224- - - sobre transmissão de

malária, Brasil, 228- estrutura da Comissão Nacional

de Ética em pesquisa, 214- histórico, 202- introdução, 199

- procedimentos para submissão de projetos de pesquisa aos Comitês de Ética, 217

Competições, clube de debates e, 315Comunicação, ética, tecnologia

e, 327-330- contribuição da renanosoma

ao debate sobre ética e nanotecnologia no Brasil, 355-370

- - ética e tecnologia, 359- - introdução, 355- - nanotecnologia, discussão da

ética no seminanosoma, 356- pesquisa em comunicação e

limitações éticas, 329-353- - a escola de Frankfurt e a

indústria cultural, 341- - comunicação de massa, 330- - introdução, 329- - mídia e comunicação na

América Latina, 338- - teoria dos efeitos da comunicação

e influência da mídia, 333- - teoria estrutural-funcionalista

da comunicação, 335Comunidade, resistência e

autonomia, 92Conhecimento científico, direito a

informação baseada no, 189Consciência política, elemento

de formação da, 45Crânio com cigarro aceso, 321Crenças, práticas sobre métodos de

preservação da AIDS, 184Cultura, sustentabilidade e

ética, modelos da América Latina, 85-104

- comunidade, resistência e autonomia, 92