especial - instituto jones dos santos neves · 2016. 8. 5. · especial Águasdo espíritosanto...

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ESPECIAL Águas do Espírito Santo 13 DE JULHO DE 2016 ÁGUA: QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA A A v va an nç ç a ar r n no o d de eb ba at t e e s s o ob br r e e a a g ge e s s t t ã ão o d do os s r r e e c c u ur r s s o os s h hí í d dr r i i c co os s e e o o u us s o o c co on ns s c c i i e e n nt t e e , , s s o ob br r e e t t u ud do o d di i a an nt t e e d da a e e s s t t i i a ag ge e m m q qu ue e c c a as s t t i i g ga a o o E Es s t t a ad do o, , s s ã ão o f f u un nd da am me e n nt t a ai i s s p pa ar r a a n nã ão o f f i i c c a ar r m mo os s s s e e m m á ág gu ua a

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  • ESPECIALÁguas do

    Espírito Santo13 DE JULHO DE 2016

    ÁGUA: QUESTÃODE SOBREVIVÊNCIA

    AAAvvvaaannnçççaaarrr nnnooo dddeeebbbaaattteee sssooobbbrrreee aaa gggeeessstttãããooo dddooosss rrreeecccuuurrrsssooossshhhííídddrrriiicccooosss eee ooo uuusssooo cccooonnnsssccciiieeennnttteee,,, sssooobbbrrreeetttuuudddooo dddiiiaaannnttteeedddaaa eeessstttiiiaaagggeeemmm qqquuueee cccaaassstttiiigggaaa ooo EEEssstttaaadddooo,,, sssãããooofffuuunnndddaaammmeeennntttaaaiiisss pppaaarrraaa nnnãããooo fffiiicccaaarrrmmmooosss ssseeemmm ááággguuuaaa

  • 2 Águas do Espírito Santo ESPECIAL 13 DE JULHO DE 2016

    De mãos dadaspor um bem comum

    1º ENCONTRO ESTADUAL DOS COMITÊS DE BACIAS DO ESPÍRITO SANTO REUNIU ESPECIALISTAS E

    AMIGOS DO MEIO AMBIENTE PARA DEBATER A GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NO ESTADO

    ISMAEL INOCH

    REPRESENTANTES dos comitês estiveram reunidos no último dia 30 no auditório da Rede Gazeta

    s torneiras, naplantação agrícolaou na geração deenergia, a água

    exerceomesmopapel desdeque omundo existe: assegu-rar a vidanaTerra. A relaçãoque as pessoas têm com esterecurso, no entanto, já mu-dou diversas vezes. Por isso,avançar no debate sobre agestãodos recursoshídricos,sobretudo diante da estia-gem que castiga o Estado háquasedoisanos,éumaques-tão de sobrevivência.Representantes dos 13 comitês de ba-

    cias hidrográficas do Estado se reuniramno 1º Encontro Estadual dos Comitês deBacias do Espírito Santo, no último dia30.OeventodácontinuidadeàsaçõesdaDécada Estadual da Água 2015-2025,queteve inícionoanopassado,comapu-blicação da Lei nº 10.454/15.Duranteoencontro, realizadonoaudi-

    tório daRedeGazeta, foi redigido umdo-cumento chamado Carta de Vitória, comdiretrizes e ações integradas que devemser desenvolvidas nos próximos anos.“ARedeGazeta traz noDNAa ideia de

    que precisa ampliar o debate, além doque é levado para a casa das pessoas dia-riamente por meio do noticiário. A rea-lização de eventos como este é funda-mental para tratar da gestão de recursoshídricos no Estado”, ressalta Letícia Lin-denberg, diretora de DesenvolvimentoInstitucional da Rede Gazeta.Entre os temas debatidos está a co-

    brançapelousodaágua, prevista parater início em 2017; o estímulo à cria-ção de novas legislações, entre outrasiniciativas.

    “O Espírito Santo é umdos Estados brasileiros quemais utiliza água na irriga-ção e um dos mais cobertospor comitêsdebaciashidro-gráficas”, enfatiza Elio deCastro, presidente do Fó-rum Capixaba de Comitêsde Bacias Hidrográficas.Para ele é preciso investir

    em planejamento e políticaspúblicas voltadas para a pre-servação dos recursos natu-rais e, assim, garantir o abas-tecimento no futuro.

    PAPELDOSCOMITÊSOs comitês de bacia hidrográfica zelam

    Que a gentepossa

    responder àaltura das exigências da

    sociedade e tenha sempreágua para beber, irrigar e

    viver”

    Elio de CastroPresidente do Fórum Capixaba

    de Comitês de Bacias Hidrográficas

    pelo bem mais precioso na natureza: aágua.Eseoobjetivoéomesmo,osdesafiostambémseassemelham.A forteestiagem,quecomprometeoabastecimento;ospro-cessos erosivos; a contaminação dos ma-nanciais; o uso desordenado do solo; e afalta de estrutura nos próprios comitês es-tão entre os problemasmais comuns.Os comitês têm autoridade para me-

    diar conflitos, elaboraroPlanodeRecur-sosHídricos da bacia, estabelecer osme-canismos de cobrança pelos recursos hí-dricos e critérios para o rateio de custodas obras de interesse coletivo.O Comitê da Bacia Hidrográfica de

    Itaúnas, omais antigo do Estado, é umaprova da força desse tipo de organiza-ção. Ele atua em uma região semiárida

    do Brasil e área com intensa produçãoagrícola, onde a água émotivo de cons-tantes conflitos. Para amenizar a situa-ção, no ano passado, coordenou o pri-meiro acordo de cooperação comunitá-ria do país.“Reunimos todos os interessadospara

    acordar os dias e os horários de irrigaçãoe outros usos da água. Foi um acordo deconvivência para garantir o abasteci-mento da cidade”, explica Simone AlvesFernandes, presidente do comitê.Hoje, cooperação é a palavra de or-

    dem nos municípios de Pinheiros, BoaEsperança, Conceição da Barra, Monta-nha, Pedro Canário e Ponto Belo.

    PLANOSDEBACIADos13 comitêsdebacias, sete estão

    com Planos de Recursos Hídricosprontos. O objetivo é definir o uso dabacia, a melhor forma de atender osmoradores e as empresas que atuamna região e definir os valores que pas-sarão a ser cobrados pela água, medi-da considerada inevitável no EspíritoSanto a partir do próximo ano. Cabe aessas entidades, ainda, avaliar a qua-lidade da água e estimular políticaspúblicasquepermitammanteroabas-tecimento a longo prazo.Além dos planos para cada bacia, a

    Carta deVitória prevê ainda a criação doPlano Estadual de Recursos Hídricos,Plano Estadual de Educação Ambientalna Gestão das Águas, Plano Estadual deCombate à Desertificação, Plano Esta-dual de Irrigação, entre outras propos-tas. Confira os principais tópi-cos da carta ao lado.

    O EspíritoSanto tem umdever de casa

    grande, que é partirpara uma compreensãonova sobre a gestão de

    recursos hídricos”

    Anselmo ToziDiretor Estadual de

    infraestrutura hídrica

    A Fortlevconhece deperto a tristerealidade de quem lutapara ter um pouco de

    água e investe nodesenvolvimento de

    ações sociais”

    Rodrigo Torres Rosida Fortlev

    Que oscomitês

    sejamintegrados e planejemadequar os planos de

    bacia da melhor formapossível”

    Gilse Olinda MoreiraRepresentante da CBHSanta Maria do Doce

    A

  • 13 DE JULHO DE 2016 ESPECIAL 3Águas do Espírito Santo

    CARTA DE VITÓRIA:A crise de escassez hídrica e a gestão dos recursos hídricos no Espírito Santo

    Em umacrise

    hídrica, oprimeiro prejudicado é

    o produtor rural.Ninguém tem

    reservatório próprio”

    Celeste Martins StocoPresidente do CBH Pontões

    e Lagoas do Rio Doce

    O Plano deBacia vai

    permitirconhecer o rio e saber oque se espera dele. O

    nosso levou quatro anospara ser desenvolvido”

    Roberto Dias RibeiroPresidente do CBH

    Santa Maria da Vitória

    A irrigaçãotem deavançar,claro, mas é preciso

    melhorar o consumo ereduzir o desperdício nomeio urbano também”

    Murilo PedroniTécnico de meio ambiente da

    Federação de Agricultura e Pecuária

    A Gazetaquer

    colaborar coma ampliação do debate

    sobre ouso de recursos

    hídricos”

    Letícia Lindenbergdiretora de DesenvolvimentoInstitucional da Rede Gazeta

    Os Comitês de Bacias Hidrográficas do Estado do Espírito Santo, reunidos emAssembleia Geral realizada durante o I Encontro Estadual de Comitês de BaciasHidrográficas (ENECOB/ES), convocado e organizado pelos Comitês do Estadoreunidos no âmbito do Fórum Capixaba de Comitês de Bacias Hidrográficas, apósdiscussões, decidiram pela aprovação desta CARTA DE VITÓRIA, que se constitui nodocumento base de diretrizes e ações integradas dos Comitês, enquanto entes doSistema Estadual de recursos hídricos.

    O Encontro Estadual de Comitês de Bacias Hidrográficas se realiza nomomentoem que o Espírito Santo enfrenta o auge de uma severa crise hídrica cujos maisrecentes expoentes foram, em 2013, uma das piores enchentes registradas em suahistória, que provocou inúmeras perdas materiais e de vidas humanas, e de 2014em diante a força do fenômeno oposto: o longo período de escassez de chuvas,que tem comprometido não só a produção agropecuária e industrial, mas tambémo abastecimento humano, sendo uso prioritário em época de crise hídrica, além decolocar em risco os ecossistemas associados às bacias hidrográficas e aossistemas estuarinos e as atividades econômicas a estes vinculadas, como oturismo e a pesca.

    A crise hídrica tem, em algumas regiões, provocado interrupções nofornecimento de água à população. Em cidades litorâneas, a baixa vazão dos riostem feito com que a água salgada consiga vencer a água doce e atingir os pontosde captação dos serviços de abastecimento, comprometendo a qualidade da águadistribuída e aumentando os custos do serviço. Também, com a queda de vazãodos rios, a predominância da força domar tem levado ao fechamento das barras,dificultando ou até impedindo o acesso aomar para os pescadores, que tem seusustento comprometido. Na agricultura, os irrigantes têm sofrido com a falta deágua necessária para molhar as plantações, que já registram perdas consideráveis.

    Para completar o quadro em novembro de 2015 o rio Doce, que é o demaiorvazão do Espírito Santo, sofreu omais grave desastre hídrico da história brasileira,com o derramamento da lama tóxica vinda das barragens damineradora Samarcosituadas na cidade deMariana, emMinas Gerais, que causou amorte de 19pessoas, a destruição da vida em cerca de 600 km de rio e que além disso impedeque as águas do Doce possam ser usadas para a irrigação das lavouras e levou acontaminação dos pescadores, gerando prejuízos econômicos, sociais e risco àsaúde da população.

    Como estes fenômenos das enchentes e da escassez de chuvas tem umaregularidade imprevisível e, ao mesmo tempo, encontram-se fora da esferade ação das sociedades humanas, cabe-nos atentar para outras causas,estas sim, situadas no alcance das responsabilidades do governo e dasociedade.

    De um modo geral, as bacias hidrográficas capixabas apresentam doisgraves problemas de ordem física: o assoreamento dos cursos de água e asua contaminação por efluentes domésticos e industriais. Essa situaçãoalém de colocar em risco o abastecimento humano e a dessedentaçãoanimal, condiciona fortemente a capacidade do Estado de se desenvolvereconômica e socialmente.

    Com isto, os Comitês de Bacias Hidrográficas reunidos neste Encontro queremsinalizar para o Espírito Santo que a responsabilidade pelos problemas de origemhídrica, ambiental e sanitária que se abatem sobre nossas cidades e no campo nãodeve ser atribuída somente à episódica falta de chuva atual. A não observância dosprincípios mais elementares de respeito à dignidade das águas e a preocupanteausência de aplicação dos instrumentos de gestão presentes, há quase 20 (vinte)anos, na legislação estadual de recursos hídricos, devem ser apontadas muito maiscomo causas da crise ora vivida, que a, propriamente dita, escassez de chuvas.

    Assim, caracterizado o cenário de crise hídrica e ambiental e suas causas,econômicas e sociais, os Comitês de Bacias Hidrográficas do Espírito Santo, no usode suas atribuições, apresentam à população e às autoridades do Estado, apresente CARTA DE VITÓRIA, um documento em defesa da Gestão Integrada eparticipativa na Gestão dos Recursos Hídricos na plenitude das determinações daLei n° 10.179/2014, que criou a Política Estadual de Recursos Hídricos e a Lei N°9.433, de 8 de Janeiro de 1997 que criou a Política Nacional de Recursos Hídricos,com os seguintes encaminhamentos:

    1. Buscar apoio administrativo e logístico às Secretaria Executivas dosComitês de Bacias Hidrográficas e do Fórum Capixaba de Comitês de BaciasHidrográficas;

    2. Acelerar o processo de contratação dos Planos de Recursos Hídricos e deEnquadramento de corpus de água em todas as bacias hidrográficas atédezembro de 2016;

    3. Implantar a cobrança pelo uso dos recursos hídricos em todas as bacias

    do Estado que já possuem Comitê formado;

    4. Criar e operar o cadastro de usuários de recursos hídricos em cada baciahidrográfica do Espírito Santo;

    5. Acelerar o processo de implantação do Plano Estadual de Recursos Hídricos;

    6. Estimular a elaboração do Plano Estadual de Educação Ambiental nagestão das águas;

    7. Estimular a elaboração do Plano Estadual de Combate à Desertificação;

    8. Estimular a criação de legislação especifica para normatizar, controlar emonitorar a perfuração de poços escavados, profundos e rasos nas baciashidrográficas do Estado;

    9. Estimular a implantação de Plano Estadual de Irrigação;

    10. Estimular ações de recuperação e preservação de nascentes e áreas derecarga nas bacias hidrográficas capixabas;

    11. Implantar programas de saneamento rural e urbano de modo a impedirque os cursos de água sejam poluídos;

    12. Estimular a realização de expedições científicas nas bacias hidrográficas doEstado;

    13. Realizar o Encontro Estadual de Comitês de Bacias Hidrográficas e osEncontros Regionais de Comitês;

    14. Participar dos Encontros Nacionais de Comitês de Bacias Hidrográficas(ENCOB).

    15. Solicitar que os grandes usuários de água das diversas bacias do Espíritosanto apresentem cronograma de elaboração e execução de projetos dereutilização de seus efluentes com o objetivo de minimizar os impactossobre os rios.

    16. Estimular o uso planejado, integrado e sustentável do solo nas atividadesagropecuárias e silvicultura para a melhoria das condições de infiltração eretenção de água no solo, evitando o processo de erosão.

    17. Apoiar a gestão e proteção das unidades de conservação em áreas deAPPs nas bacias hidrográficas.

    18. Solicitar informações sobre o programa do Espírito Santo sem Lixão.

    19. Articular a criação do Comitê dos afluentes capixabas da baciahidrográfica do rio Itabapoana.

    20. Estimular a participação das plenárias dos comitês na elaboração dascondicionantes de projetos implantados nas bacias hidrográficas.

    21. Estimular a elaboração e implantação dos planos municipais desaneamento básico.

    22. Estimular os programas de pagamentos por serviços ambientais.

    23. Fomentar e apoiar a implantação dos planos de bacias e enquadramentos.

    24. Recomendar a utilização dos planos de bacias e documentosorientativos dos comitês, como diretrizes dos planos estaduais e municipaisde desenvolvimento.

    25. Cobrar, fomentar e apoiar a imediata implantação do CAR (CadastroAmbiental rural) e PRA (Plano de Recuperação Ambiental)

    26. Acompanhar a efetividade da execução das propostas da carta, de formaarticulada com o poder público, usuários e sociedade civil.

    Vitória/ES, 30 de junho de 2016

    Subscrevem este documento, conjuntamente com o Fórum Capixaba deComitês de Bacias Hidrográficas, os seguintes Comitês:

    COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS ITAÚNAS;COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS SÃO MATEUS,

    COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS BARRA SECA E FOZ DO RIO DOCE,COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS SANTA MARIA DO DOCE,

    COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS PONTÕES E LAGOAS DO RIO DOCE,COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS GUANDU,

    COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS LITORAL CENTRO NORTE,COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS SANTA MARIA DA VITÓRIA,

    COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS JUCU,COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS BENEVENTE,COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS RIO NOVO;

    COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS DO RIO ITAPEMIRIM;COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS ÁGUAS DO SANTA JOANA.

  • 4 Águas do Espírito Santo ESPECIAL 13 DE JULHO DE 2016

  • 13 DE JULHO DE 2016 ESPECIAL 5Águas do Espírito Santo

  • 6 Águas do Espírito Santo ESPECIAL 13 DE JULHO DE 2016

    CCCooonnntttaaagggeeemmm rrreeegggrrreeessssssiiivvvaaapppeeelllaaa cccooobbbrrraaannnçççaaaA PARTIR DE 2017, PRODUTORES, INDÚSTRIAS E CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇOS

    PÚBLICOS PASSARÃO A PAGAR PELO USO DO RECURSO HÍDRICO EM BACIAS ESTADUAIS,

    A EXEMPLO DO QUE OCORRE EM OUTROS ESTADOS

    PIXABAY/DIVULGAÇÃO

    uando se fala em preserva-ção de recursos hídricos, umcaminho é considerado ine-vitável: a cobrança pelo usoda água. A medida, adotada

    em todos os outros Estados da regiãoSudeste, deve começar no EspíritoSanto a partir do próximo ano.Atualmente, a população paga pelo

    serviço de abastecimento e tratamen-todaáguaquechegaàs torneiras.Masempresas, agricultores e até conces-sionárias de serviços públicos lançammão do recurso natural, sem custo,nas áreas de domínio estadual. A dis-cussão sobre valores está em anda-mento, e deve vai variar de acordocom cada bacia hidrográfica.EliodeCastro, presidentedoFórum

    CapixabadeComitês deBaciasHidro-gráficas, ressalta que no Jucu o valorcobrado por metro cúbico de capta-

    ção será de 3,5 centavos de real.“A cobrança da água, a outorga e os

    planos de bacia fazem parte dos ins-trumentos de gestão. A água tem va-lor econômico, portanto, nada maisnatural do que instituir a cobrança.Além disso, a medida estimula o usoracional, porque as pessoas passam aeconomizar, e cria um montante fi-

    nanceiro capaz de ser investido na ba-cia de origem, conforme a orientaçãodos comitês”, complementa PauloPaim, presidente daAgência Estadualde Recursos Hídricos (Agerh).Entre as bacias de domínio estadual a

    expectativa é que comece pelo Jucu, eainda em2017, cheguenos SantaMariadaVitória, Benevente,Guandu, Pontõese Lagoa Doce São José e SantaMaria doDoce. Em todas essas regiões os planosde bacia estão prontos, e a discussão so-bre valores continua. A cobrança éanual, calculada com base na vazão dorio e nos tipos de uso que nele ocorrem.O valor pode variar ainda em períodosde estiagem.Segundo Paim, os comitês têm auto-

    nomia para definir a aplicação do recur-so e podem reservar até 7,5% para ma-nutenção do sistema e funcionamentodas atividades da entidade.

    SEM PREJUÍZOEmbora ainda muito questionada, a

    cobrança não deve causar prejuízo eco-nômico nem mesmo para os pequenosprodutores rurais. E não é preciso ir lon-ge para perceber que a atividade não se-rá impactada.NoRioDoce,degestão fe-deral, ela já é realidade.“No Rio Doce tem produtor que paga

    R$ 12 por ano, o equivalente a R$ 1 pormês. O que onera os custos da alimenta-çãonãoéacobrança,masafalta-d’água”,defendeopresidentedoComitêdeBaciaHidrográfica de Pontões e Lagoas do RioDoce, CelesteMartins Stoco.OpresidentedoComitêdaBaciaHi-

    drográfica Rio Doce, Leonardo Dep-tulski, também ressalta os pontos po-sitivosda iniciativa. “AexperiênciadoDoce ajuda a fomentar a discussão. Acobrança permite aos comitês teremcondições de se organizar e atuar”.

    Águas do Espírito Santo

    ESPECIAL DE EDITORA DE CADERNOS ESPECIAIS: Marcelle Secchin ([email protected]); TEXTO E EDIÇÃO: Carla Nascimento ([email protected]); FOTO DE CAPA:Mosaico Imagem; INFOGRAFIA: Marcelo Franco; DIAGRAMAÇÃO: Adriana Rios; DIRETOR EXECUTIVO DE JORNAIS E RÁDIO: Marcello Moraes; DIRETOR DE JORNALISMO: AbdoChequer; EDITOR-CHEFE: André Hees; DIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE: Márcio Chagas; GERENTE COMERCIAL: Julita Colombo; GERENTE DE MARKETING: Milena Ribeiro.CORRESPONDÊNCIAS: Jornal A Gazeta, Rua Chafic Murad, 902, Monte Belo, Vitória, ES, CEP: 29053-315.

    3,5centavosÉ o valor em real que serácobrado pelo metro cú-bico captado no Rio Jucu

  • 13 DE JULHO DE 2016 ESPECIAL 7Águas do Espírito Santo

    A água temvalor

    econômico,portanto,nada mais

    natural do queinstituir acobrança”

    Paulo PaimPresidente da Agência Estadual de

    Recursos Hídricos (Agerh)

    Para Gilse Olinda Moreira, do Co-mitê de Bacia Hidrográfica SantaMa-ria do Doce, não há dúvidas sobre anecessidade da cobrança, mas falarsobreo temaaindaéumdesafio. “Temprodutor rural preocupado com o va-lor,mas há casos de produtores que fi-cariam até dois anos para receber umboleto de R$ 60”, argumenta.Já a presidente do comitê do Guan-

    du,AnaPaulaBissoli, reforçaqueaco-brança não vai ser suficiente para via-bilizar as ações necessárias para a re-cuperação de um rio, mas tem impor-tante papel educativo.

    A cobrançaé importante,mas nãoserá

    suficientepara todasas ações”Ana Paula Bissoli

    Presidente doComitê de Guandu

    ISMAEL INOCH / A GAZETA

    O PRESIDENTE da Agerh, Paulo Paim, esclarece os motivos para a cobrança pelo uso da água no Estado

  • 8 Águas do Espírito Santo ESPECIAL 13 DE JULHO DE 2016

    Meio ambienteem harmonia

    ENTRE AS AÇÕES DESENVOLVIDAS NO ESPÍRITO SANTO ESTÃO O PLANTIO

    DE MUDAS PARA REFLORESTAMENTO E A CONSTRUÇÃO DE NOVAS BARRAGENS

    SECOM/ DIVULGAÇÃO

    AO TODO, 4.117 produtores estão cadastrados para contribuir para a preservação de florestas no Estado

    stão entre as principais açõespara amenizar os efeitos da es-tiagem prolongada no EspíritoSantomedidascomo:distribui-

    çãodeáguapormeiodecarros-pipa, res-triçõesquantoaousodeáguaderiosparairrigação, projetos de construção de bar-ragens e reflorestamentoE para cuidar dos recursos hídricos, é

    preciso proteger a natureza comoum to-do.Éconsensoentreespecialistasquepa-ra melhorar a qualidade e a quantidadede água não basta agir nas bacias hidro-gráficas. É precisomelhorar o uso do so-lo, diminuir o desmatamento e cobrir aterra de verde novamente.Com este objetivo, desde 2008, o Es-

    píritoSantoadotouumapolíticadereflo-restamento que remunera os produtoresrurais que contribuemcomesta tarefa.Oprograma Reflorestar tem umameta au-daciosa: plantar 20 mil hectares até opróximo ano e mobilizar 3,2 mil produ-tores. Entre 2015 e 2016 foram benefi-ciadas 1,6mil pessoas em73 dos 78mu-nicípios capixabas, um investimento deR$ 28 milhões. Atualmente, existem4.117 cadastrados, com interesse emparticipar do programa.“Vamos selecionar produtores de

    aproximadamente 15 bacias hidro-gráficas para participar do programa.Dessa forma, a cobertura florestal au-menta a qualidade da água e diminuios custos com tratamento. Estamosiniciando estudos para saber o quantoas florestas cresceram e o monitora-mento daMata Atlântica. As ações sãorealizadas com recursos do Fundo Es-tadual de Recursos Hídricos do Espíri-to Santo (Fundágua)”, esclarece o se-cretário de Estado do Meio Ambiente,Aladim Cerqueira.

    METAS INTERNACIONAISA expectativa é que o plantio ajude a

    amenizarosefeitosdasmudanças climá-ticas àmedida emque as árvores retiramo CO2 da atmosfera.OprogramaReflorestarcontribuipara

    asmetasdaCOP21,eventointernacionalque culminou comoAcordo de Paris. Naocasião, o Brasil se comprometeu a res-taurar 12milhões de hectares até 2030.OEspírito Santo também foi o primei-

    ro estado brasileiro a participar doDesa-fio 20X20, proposto por países da Amé-rica Latina e Caribe de recuperar 20 mi-lhõesdehectares até2020.Comocontri-buição, o Estado irá seguir a meta de 80mil hectares, proposta no PlanejamentoEstratégico 2015/2018.

    Restriçõesde uso em20 cidadesPara lidar com a crise hídrica queatinge o Espírito Santo, o gover-no do Estado tomou umamedidadrástica no ano passado: criouresoluções que restringem o usoda água. Desde então, localida-des com estiagem mais severanão podem perfurar poços pro-fundos e a água deve ser destina-da apenas ao uso humano e de-cantação animal.Atualmente, esta situação pode

    ser observada em 20 municípios:Ecoporanga, Boa Esperança, Bar-ra de São Francisco, São Mateus,Mantenópolis, Alto Rio Novo,ÁguiaBranca,Pancas,SãoDomin-gos do Norte, Vila Valério, Gover-nador Lindenberg, Rio Bananal,Sooretama, Linhares, Aracruz,Ibiraçu, Itaguaçu, Itarana, Fun-dão e Serra.

    A sociedadetem demudar aforma de

    usar o solo”Aladim Cerqueira

    Secretário estadual de Meio

    Ambiente

    FRED LOUREIRO/ SECOM

    PROGRAMA Reflorestar deve ser responsável pelo plantio de 20 mil hectares até o próximo ano

    E

  • 13 DE JULHO DE 2016 ESPECIAL 9Águas do Espírito Santo

    Cadagota

    tem seuvalor

    OBRAS DE SANEAMENTO BÁSICO E NOVOS

    RESERVATÓRIOS DEVEM MELHORAR A QUALIDADE

    DE VIDA DA POPULAÇÃO

    PIXABAY/DIVULGAÇÃO

    preservaçãodosrecursoshídri-cos passa, necessariamente,pelo saneamento básico e pelacriação de reservatórios capa-

    zesde suprir anecessidadedapopulaçãomesmo diante da seca.O diretor-presidente da Cesan, Pablo

    Andreão,ressaltaqueoEspíritoSantoin-veste em todas as frentes e estão sendodesenvolvidasaçõesacurto,médioelon-goprazos.Oobjetivonãoéapenasvencera escassez de água atual, mas criar me-canismos para preservar o recurso parafuturas gerações.A curto prazo podem ser incluídas

    ações comodistribuição de água em car-ro-pipaeperfuraçãodepoçosprofundos,por exemplo.OSistemaReisMagos, na Serra, tinha

    conclusãoprevistapara2022,masfoian-tecipado para entrar em operação em2017. Com isso, a captação do Rio SantaMaria da Vitória deve ser reduzida.Também foi iniciado um estudo de seis

    novasbarragensemparceriaentreaCesane a Secretaria de Estado da Agricultura,Abastecimento, Aquicultura e Pesca(Seag). Serão beneficiadosAltoRioNovo,Vila Pavão, Pedro Canário, Ecoporanga,BarradeSãoFranciscoeSãoRoquedoCa-naã, municípios que estão entre os mais

    afetadas pela crise hídrica.Outra iniciativa é a criação da represa

    do Rio Jucu, que deve favorecer mais deummilhão de habitantes na Região Me-tropolitana da Grande Vitória. O estudofoi autorizado, e o investimento é de R$400 mil. Atualmente, quando chove, oaumento do volume de água no rio nãofica armazenado, e vai direto para omar.A represa terá a capacidade para arma-zenar 20bilhões de litros de água, repre-senta 10 vezes a de Duas Bocas.

    ÁGUASEPAISAGENSFinanciado pelo Banco Internacio-

    nal para Reconstrução e Desenvolvi-

    mento (Bird), oprogramaÁguas ePai-sagens é considerado o maior projetoambiental do Espírito Santo. O obje-tivo é a gestão integrada dos recursoshídricos, do solo e do desenvolvimen-to sustentável do Estado. O investi-mento previsto é na ordem de R$ 1,2bilhão, em cinco anos.Nos próximos dias deve ser lançado

    umpacotãodeobrasparaa implantação,melhoria e ampliação de sistemas de co-leta e tratamento de esgoto na região doCaparaó, nas sedes dos municípios deIbatiba, Dores do Rio Preto, Irupi e Iúna.“Vamosplantar a água. Cuidar desde suanascente para que tenha quantidade equalidade”, afirma Pablo Andreão.

    CONSUMOAlémdosgrandes investimentos, uma

    dasapostaséoconsumoconsciente.Odi-retor-presidente da Cesan está otimista.“Observamos que as pessoas mudaramseushábitosepermanecemeconomizan-do água”, afirma.Foram economizados no Estado 720

    milhões de litros de água de janeiro amaio deste ano em comparação com omesmo período de 2015. A quantidadenoanopassado jáeramenordoqueaob-servada no ano anterior.

    ECONOMIZE ÁGUA

    LAVANDO AS MÃOS: ao usar o sabonete, fechea torneira e só abra quando for enxaguar.

    LAVANDO ROUPAS E LOUÇAS: quando estiverensaboando roupas e louças, feche a torneira evolte a abrí-la na hora de enxaguar.

    USANDO O SANITÁRIO: dê menos descargas,afinal os vasos representam 25% do consumodoméstico. Também regule periodicamente aválvula ou caixa de descarga e nunca jogue olixo dentro do vaso.

    TOMANDO BANHO: os banhos consomem 35%da água de uso doméstico. Por isso, evitebanhos demorados e use o sabonete com ochuveiro fechado.

    ESCOVANDO OS DENTES: quando estiverescovando os dentes, deixe a torneirafechada, só abrindo a mesma na hora deenxaguar a boca.

    ENCONTRANDO VAZAMENTOS:confira se não há vazamentos na sua casa,verifique todos os pontos de água, torneiras,boias, de caixa, registros, etc. Nessespontos, os vazamentos representam 15% doconsumo diário da água.

    Fonte: Cesan

    400mil

    É o valor em real para oestudo de uma represa doRio Jucu, que vai beneficiarum milhão de pessoas.

  • 10 Águas do Espírito Santo ESPECIAL 13 DE JULHO DE 2016

    A semente dapreservação

    BOAS TÉCNICAS AGRÍCOLAS E O INVESTIMENTO EM BARRAGENS NA ZONA RURAL

    CONTRIBUEM PARA MANTER A QUALIDADE DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS

    NO ESPÍRITO SANTO SEM AGREDIR O MEIO AMBIENTE

    PIXABAY

    falta de água chega primeironocampo.Nãoéporacasoqueos produtores rurais, que de-pendem dos recursos hídricos

    paraopróprio consumo,dos animais e airrigação, estejam entre os comprome-tidos com a gestão deste bem. Vale lem-brar, que a agricultura representa 25%doProduto Interno Bruto (PIB) no Esta-do e aparece entre as principais ativida-des desenvolvidas ao redor de pratica-mente todas as bacias hidrográficas.Muitos já se conscientizaram sobre a

    importância de investir em métodos deirrigação que contribuem para a preser-vação do ambiente e outras formas deeconomia de água, mas ainda é precisoavançar nesta discussão.

    Duranteo1ºEncontroEstadualdosCo-mitês de Bacias do Espírito Santo, foi res-saltadoo surgimentode conflitos pelo usoindiscriminadoda água e a ausência de ir-rigação eficiente emdiversas localidades.De acordo com o técnico demeio am-

    biente da Federação de Agricultura e Pe-cuária,MuriloPedroni,noEstadosãouti-lizados três tipos de irrigação: pivor cen-tral, que atinge uma área circular; mi-croaspersão, que joga a água a uma dis-tância menor e o gotejamento, tambémchamado de irrigação localizada, que émais pontual.A localizada, em geral, consome me-

    nos água e é mais eficiente, mas depen-dendo do produto cultivado pode repre-sentar um customaior. “A irrigação ideal

    dependedotipodeculturaesolo.Muitasvezes, falta capacitaçãoe informaçãopa-raoprodutor fazeraescolhacorreta”, es-clareceMurilo.

    DÍVIDASInvestir em técnicas adequadas é im-

    portante para evitar o desperdício deágua,mas tambémépreciso ter recursospara isso.Uma estimativa feita pela Secretaria

    de Estado da Agricultura, Abastecimen-to,AquiculturaePesca(Seag)eoIncaperindica perdas superiores a R$ 1,5 bilhãocom a seca.O Estado também tenta interceder

    juntoaogoverno federalparaqueospro-dutores possam renegociar dívidas. Em

    maio deste ano, foi decretada SituaçãodeEmergênciaemtodooterritóriodoEs-pírito Santo, em virtude da grave estia-gem. Existem R$ 8 bilhões aplicados nacarteira de crédito agrícola capixaba,sendo que R$ 1,7 bilhão vence este ano.

    BARRAGENSEmbora possam fazer sua parte para

    contribuir com a preservação, os produ-tores precisam de apoio para manter aatividade agrícola. O ProgramadeCons-truçãodeBarragens, por exemplo, prevêinvestimentos de R$ 60 milhões na im-plantaçãodemais de60 reservatórios deágua no interior do Estado até 2018.Serão 34 reservatórios de usos múlti-

    plos de médio porte no interior e outras

  • 13 DE JULHO DE 2016 ESPECIAL 11Águas do Espírito Santo

    Produtores dão exemplode respeito à natureza

    ISMAEL INOCH

    O PRODUTOR RURAL Joselino Menegueti faz parte do programa Reflorestar e já ganhou prêmios

    Cada vezmais, opreço daterra é

    definido pelacapacidadede irrigação”

    Octaciano Netosecretário de Estado

    da Agricultura

    26 barragens de uso coletivo em assen-tamentosdetrabalhadoresruraiscapixa-bas no Norte do Estado.Os municípios beneficiados com as

    barragens de usos múltiplos de médioportesão:BaixoGuandu,Colatina, Ita-

    rana, Jaguaré, LaranjadaTerra, Linha-res,Marilândia,Montanha, Pancas, Pi-nheiros, Santa Teresa, São Roque doCanaã e Sooretama. Cinco entraramem licitação: BarragemSanta Júlia, nalocalidade de Agrovila, em São Roquedo Canaã; a Barragem de Floresta, lo-calizada em Lajinha de Pancas, muni-cípiodePancas; aBarragemGraçaAra-nha, emColatina; aBarragemLiberda-de, localizada no município de Mari-lândia; e a Barragem de Cupido, na ci-dade de Sooretama.As outras 26 barragens em assenta-

    mentosde trabalhadores rurais estãoemfase de licitação. Elas terão a capacidadedearmazenamentode1,5bilhãodelitrosde água e representam um investimentode aproximadamente R$ 14milhões.Outra novidade é a conclusão das

    obras da barragemdePinheiros-Boa Es-perança, considerada amaior do Espíri-to Santo, emum investimento deR$6,1milhões. Os trabalhos estão paralisadoshá 12 anos, e a represa nunca chegou afuncionar.DeacordocomosecretáriodeEstado da Agricultura, Octaciano Neto,está em licitação a contratação dos pro-jetosdeengenharia,easobrasdevemre-começar em 2017.Com270hectares de área alagada, em

    uma extensão de aproximadamente 10quilômetros, a barragem tem capacidadedearmazenamentode17bilhõesde litrosde água, o suficiente para abastecer umapopulação de 310 mil habitantes por umperíodo de um ano. Serão reflorestadosaproximadamente100hectaresnoentor-no da barragem, cumprindo a exigêncialegal de manter como Área de Preserva-çãoAmbiental (APP)umafaixade30me-tros a partir damargemda represa.

    OprodutorruralJoselinoMeneguetié umexemplo para quemquer fazer aspazes com o meio ambiente. Há 20anos, ele produz café especial em Bre-jetuba e desde 2007 tem ainda maispreocupação com a ocupação do solo.“Manejo a lavoura só roçando, por-

    quemantém amatéria orgânica”, res-saltaJoselino.Alémdisso,oscuidadoscom as nascentes da propriedade sãosuficientes para garantir o abasteci-mento de mais duas residências. “Te-nho 10 hectares de mata nativa, queevitam a erosão”, detalha.Eleestá inseridonoprogramaReflo-

    restarejáganhouconcursosagrícolasepassou a vender café até para fora doEstado.Porano,produzcercade30sa-case jávendeuparaRiodeJaneiro,Mi-nas Gerais, São Paulo e teve o café re-conhecidoforadopaís,pormeiodeum

    concursodebaristanaAustrália.“Àsve-zes,receboturistasdosEstadosUnidos,México e outros países”, ressalta.Outro que também é exemplo de

    boas práticas é Noely Edir de Paula,também morador de Brejetuba. Eletambémproduzcafé, alémdeeucalip-to. “EstounanascenteabaciadoDoce.Tem muita floresta, mata e Áreas dePreservação Permanente (APPs). Cer-ca de 50% da propriedade é de matanativa, com nascentes”, explica.Ele defende o uso responsável da

    terra. “Estamos acostumados a traba-lharempoucaárea.Nãouso irrigação,porque a região é fresca e não há ne-cessidade”, ensina.Outra semelhança com Joselino é

    queasboaspráticasatraemvisitantesdoexterior. “Tem gente da Colômbia quevem conhecer a propriedade”, relata.

    Quem usa bem a água,agora recebe certificadoNeste mês, foi emitido o primeiro

    Certificado de SustentabilidadeQuan-to ao uso da Água no Espírito Santo. Odocumento, voltado para produtoresrurais, substitui provisoriamente, peloperíododeumano, a outorga para uti-lizaçãodesistemasde irrigaçãoquese-jam sustentáveis nas lavouras.“Ocertificadopermitequeoprodu-

    tor se regularize quanto ao uso daágua, contribui para a tomada de fi-nanciamentos e, emalguns casos, aju-da a seguir protocolos para a exporta-ção de produtos agrícolas”, explica osecretário de Estado da Agricultura,Octaciano Neto.Octaciano esclarece que o certifi-

    cado só é entregue ao produtor quedesenvolve boas práticas agrícolasou se compromete a rever os proces-sos de produção.

    DOCUMENTOOs produtores rurais podem solici-

    tar o Certificado de Sustentabilidadenos postos do Instituto Capixaba deAssistência Técnica, Pesquisa e Exten-são Rural (Incaper). Ao pedir o docu-mento, o produtor também se com-promete a dar entrada no pedido deoutorga que, diferente do certificado,concede o uso da água de forma defi-nitiva, podendoser revogado, apenas,em casos de forte estiagem.O presidente da Agência Estadual

    de Recursos Hídricos (Agerh), PauloPaim, explica queaoutorga énecessá-ria, mas a liberação depende de umprocesso, muitas vezes, lento. Paraconceder a outorga, é preciso conhe-cer a disponibilidadede água emcadabaciahidrográficaeterumcadastrodeusuários completo.“A outorga é um instrumento de

    gestão ede justiça social.Osmembrosdoscomitêsdebacia,querepresentamtambém a sociedade, decidem o quecada um pode usar”, afirma.

    ARQUIVO/AG

    1,5bilhão

    É o valor em reais deperdas estimadas coma seca que castigao Espírito Santo.

  • 12 Águas do Espírito Santo ESPECIAL 13 DE JULHO DE 2016

    Todos osolhares parao Rio Doce

    BACIA FOI FORTEMENTE

    IMPACTADA POR DESASTRE

    AMBIENTAL NO FINAL DO ANO

    PASSADO E, DESDE ENTÃO,

    É ALVO DE AÇÕES PARA

    RECUPERAÇÃO DA NATUREZA

    ARQUIVO/AG

    AS ÁGUAS do Rio Doce em diversos trechos perderam a coloração alaranjada observada nos primeiros dias após o desastre ambiental que contaminou a bacia

    s ações para amenizar os da-nos à Bacia do Rio Doce con-tinuam, oito meses após orompimento da barragem de

    Fundão, em Mariana, Minas Gerais.Até o final do ano devem ser concluí-das as obras para viabilizar a captaçãoalternativa de água na Lagoa Nova,para abastecer Linhares; Rio SantaMaria do Doce e Rio Pancas, que de-vem atender Colatina; e a ampliaçãodo sistema no Rio Guandu, que já setornou vital para osmoradores domu-nicípio de Baixo Guandu.Opresidente doComitê daBaciaHi-

    drográfica do Rio Doce, LeonardoDeptulski, esclarece que o objetivodos trabalhos é reduzir a dependênciado Rio Doce, que é de domínio federale ainda é a principal fonte de abaste-cimento emColatina. “São obras com-plementares capazes de ajudar noabastecimento das cidades, caso sejanecessário novamente. Não tínhamosisso quando aconteceu o desastre, noano passado”, enfatiza Deptulski.Hoje, na regiãodoBaixoDoce, a tur-

    bidez da água está com níveis seme-lhantes aos encontrados antes de abarragem se romper. Segundo Dep-tulski, a qualidade está dentro dos pa-drões legais permitidos, embora acontaminação tenha afetado a quan-tidade ideal de algumas substâncias,

    40milÉ a área, em hectares,

    que teve a vegetação de-vastada ao redor da baciahidrográfica do Rio Doce,após o desastre ambiental

    do ano passado.

    Estão retirandoa lama,fazendo a

    dragagem dolado da usina”

    Leonardo Deptulskipresidente do Comitê do Rio Doce

  • 13 DE JULHO DE 2016 ESPECIAL 13Águas do Espírito Santo

    50milhões

    É a quantidade, em me-tros cúbicos, de lama quedesceu pelo Rio Doce.

    como ferro emanganês. “Isso se resol-ve como tratamento de água”, afirma.Quem visita a região percebe que aágua perdeu a coloração alaranjadaque havia ganhado com a chegada dalama de rejeitos da Samarco. Entre-tanto, a medida em que se sobe o rio,ainda hoje, a turbidez aumenta.

    RISCOApesar damelhoria daqualidadeda

    água em alguns trechos, a tragédiaque atingiu o Rio Doce no ano passa-do, não tem data para acabar. O pre-sidente do Comitê da Bacia Hidrográ-fica Rio Doce, Leonardo Deptulski es-clarece que há muitos sedimentos notrecho entre a Usina Hidrelétrica(UHE) Risoleta Neves - também cha-mada Candonga - e a cidade deMaria-na, ambas em Minas Gerais.“Estão retirando a lama, fazendo a

    dragagemdo lado da usina, construin-dodiquespara tentar conter os rejeitospara quenãodesçamemcaso de chuvaforte”, afirma.Ele explica que apesar domonitora-

    mento constante, o risco ainda existe.A corrida é para realizar as interven-ções antes da chegadadoperíodo chu-voso. Em alguns trechos, a lama dá lu-gar à grama, na tentativa de conter acontaminação.Avegetaçãoaoredordabaciahidro-

    gráfica foi destruída pelos rejeitos.Em toda a extensão do rio, entre osdois Estados, foi mapeada uma áreade30milhectaresqueprecisará ser re-

    generada, ou seja, com o mínimo deintervenção possível para que a natu-reza se recupere e outros 10 mil hec-tares que precisarão de plantio pararever suas características.

    TRAGÉDIAO desastre ambiental ocorreu em no-

    vembrodoanopassado.EmboratenhatidoinícionoEstadovizinho,mudouarealidadedosmoradoresdeBaixoGuandu,ColatinaeLinhares, por ondepassaoRioDocenoEs-píritoSanto.Aotodo,50milhõesdemetroscúbicos de lama desceram pelo Doce e in-terferiramna rotina e na economia local.Apesca segueproibidana fozdoRio

    Doce, produtores rurais tiveram a ati-vidade comprometida diante da difi-culdade para irrigação emuitosmora-dores ainda desconfiam da qualidadeda água que chega às torneiras. Esti-mativas apontam que mais de 10 miltrabalhadores tiveram a renda afeta-da pela tragédia.

    ARQUIVO/AG

    COM A GRANDE quantidade de rejeitos no Doce, mais de 10 mil trabalhadores tiveram a renda afetada

  • 14 Águas do Espírito Santo ESPECIAL 13 DE JULHO DE 2016

    Bons exemplos deNorte a Sul do país

    NO BRASIL EXISTEM CERCA DE 200 COMITÊS DE BACIAS HIDROGRÁFICAS. DO TOTAL,

    22% IMPLEMENTARAM A COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA NOS ESTADOS DO RIO DE

    JANEIRO, CEARÁ, SÃO PAULO, MINAS GERAIS E PARANÁ

    PIXABAY/DIVULGAÇÃO

    O RIO SÃO FRANCISCO tem o volume de água monitorado, e alguns reservatórios da bacia chegam a ter a vazão reduzida sempre que necessário

    preocupação com o uso daágua não pode ser restrita àsdivisas territoriais, visto queuma única bacia hidrográfi-

    ca, muitas vezes, abastece cidades devários Estados. Ainda assim, o Brasilapresenta diferentes estágios de dis-cussões emtornodagestãode recursoshídricos e bons exemplos a serem se-guidos.O Espírito Santo segue o que prevê a

    Agência Nacional de Águas (ANA) e emalguns aspectos traça caminhos seme-lhantesaosdeoutrosEstados,comoousoprioritário dos recursos hídricos para oconsumo humano e a dessedentação deanimais em casos de escassez de água.Asdiscussõesemtornodacobrançape-

    la água também não ocorre apenas entreoscomitêsdebaciashidrográficascapixa-bas. Em todo país, existem cerca de 200comitêse22%instituíramacobrançapelousodaáguanosEstadosdoRiodeJaneiro,Ceará, São Paulo, Minas Gerais e Paraná.Ao todo, 62% possuem planos de baciaaprovados e em implementação.“Há dois caminhos para estabelecer a

    cobrança: o Estado estabelecer um valormínimo para cobrança em todas as loca-lidades ou ouvir a análise de todos os co-mitês.Oúltimo caminho émais demora-do”, defende Ney Murtha, especialistaem recursos hídricos da Agência Nacio-nal de Águas (ANA).Ele esteve no Estado para participar do

    1º Encontro Estadual dos Comitês de Ba-cias do Espírito Santo, no último dia 30,promovido pela Rede Gazeta. E fez uma

    análise da situação hídrica local. “O Espí-rito Santo precisa construir uma visão es-tratégica sobre o uso da água. É preciso seestruturar para isso”, afirma.Murtha ressalta que há experiências

    positivas no Brasil, que merecem servirde inspiração. “NoNortedoEspíritoSan-to há registros de precipitação abaixo de500mm,mais próximo do que ocorre noNordeste do que na região Sudeste”, res-saltaMurtha.As ações para preservação do Rio São

    Francisco são citadas como exemplo. Os

    volumes acumulados nos reservatóriossãomonitorados e, quandonecessário, avazão é reduzida.A gestão de recursos hídricos do Ceará

    também merece destaque, sobretudodiante da seca observada na região. Esteano, a quantidade de chuvas ficou 45%abaixo damédia histórica, afetando os re-servatóriosdeágua.Entreasmedidasado-tadas estão a redução no abastecimento euma tarifa de contingência para estimulara economia no consumode água.JáemSãoPaulo, foicriadoumportalde

    Estamosdesenhandoa contratação

    de umsistema deinformaçõeshídricas”Aladim Cerqueira

    Secretário de Meio Ambiente

    informações que contribui para omonito-ramento e para a elaboração de políticaspúblicas. A tecnologia foi apresentada du-rante o XVIII Encontro Nacional de Comi-têsdeBacia(Encob),emSalvador,Bahia.OEspírito Santo deve adotar modelo seme-lhante,deacordocomosecretáriodeMeioAmbiente,AladimCerqueira.“Estamosde-senhando a contratação de um sistema deinformações hídricas, que deve ser dispo-nibilizado em rede para os comitês de ba-cias. A nossameta é entregar o sistema noprimeiro semestre de 2018”, adianta.

  • 13 DE JULHO DE 2016 ESPECIAL 15Águas do Espírito Santo

    Brasilterá PlanoNacionalTambém está em fase de ela-

    boração o Plano Nacional de Se-gurança Hídrica, com diretrizespara garantir a oferta de águapara o abastecimento humano eagropecuária, além de reduziros riscos em casos de eventos na-turais considerados críticos, co-mo secas e inundações.Aelaboração do plano recebe

    contribuições de todo o país. Aprevisão é que emoutubro, Cea-rá, Rio Grande do Norte, Paraí-ba e Pernambuco entreguemum estudo sobre obras necessá-rias na região. Até o final do anoa região Sul também deve en-tregar um plano sobre a neces-sidade e as potencialidades dereservação.Para o próximo ano, Bahia,

    Sergipe, Alagoas, Piauí e Mara-nhão apresentam um estudo in-tegrado sobre aproveitamentoshídricos da Bacia do Rio SãoFrancisco. Os Estados da regiãoSudeste, incluindo o EspíritoSanto, apresentarão suas con-tribuições até julho de 2017.

    O EspíritoSanto precisaconstruir uma

    visãoestratégicasobre o usoda água.

    É preciso seestruturarpara isso”

    Ney MurthaEspecialista em recursos

    hídricos da ANA

    ISMAEL INOCH

    NEY MURTHA, representante da ANA, esteve no Espírito Santo para falar da gestão de recursos hídricos

    12.978rios

    É a quantidadecadastrada no país peloSistema de InformaçõesHidrológicas da ANA.

  • 16 Águas do Espírito Santo ESPECIAL 13 DE JULHO DE 2016

    Seca mais perto do fimINCAPER PREVÊ UM NOVO PERÍODO CHUVOSO PARA O ESTADO A PARTIR

    DE OUTUBRO E ESCLARECE OS MOTIVOS PARA A ESTIAGEM

    ARQUIVO/AG

    PARA O INCAPER, a falta de chuva foi causada por um sistema de alta pressão mais intenso

    Abastecimentohumano com-prometido, restrição para ouso de água na irrigação emvárias localidades e redução

    da produção agrícola são alguns dosefeitos causados pela seca observadano Espírito Santo nos últimos doisanos. Todo esse transtorno parece terdata para acabar. A previsão do Insti-tuto Capixaba de Pesquisa, Assistên-cia Técnica e Extensão Rural (Inca-per) é que um novo período chuvosocomece a partir de outubro.Segundo análise da meteorologis-

    ta Thabata Brito, do Incaper, uma dasprováveis causas para a falta de chuvageneralizada no Estado pode ter sidoa presença de um sistemade alta pres-são - chamado Alta Subtropical doAtlântico Sul. O fenômeno estevemais intenso e numa posição que des-favoreceu a passagem dos sistemasque poderiam provocar chuva volu-mosa e homogênea.De acordo comaanálise do Incaper,

    no período de julho a setembro é con-siderado inverno no HemisférioSul. No Espírito Santo, esses são osmeses mais secos e frios do ano. É apartirdopróximomêsdeoutubroeatédezembro que a estação seca deve darlugar ao período chuvoso.A expectativa é que a estação chu-

    vosa comece com pancadas de chuvano final da tarde ou à noite. “A médiaacumulada de precipitação para a es-tação fica acima dos 600 mm na Re-gião do Caparaó capixaba e RegiãoSerrana, entre 500 e 600 mm no Sul eentre 400 e 500 mm nas demais re-giões”, afirma o órgão.As medições são feitas por meio de

    estações meteorológicas do Incaperem diversos municípios do EspíritoSanto, estações do Instituto Nacionalde Meteorologia (INMET) e dados depluviômetros do Centro Nacional deMonitoramento e Alertas de Desas-tres Naturais (Cemaden), que estãodisponíveis para consulta on-line.

    AJ24905_água