economia de baixo carbono: oportunidades...

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ECONOMIA DE BAIXO CARBONO: OPORTUNIDADES EM GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS E USO DA TERRA Ieda Kanashiro Makiya (FCA-UNICAMP) [email protected] Fernanda Cancian Grigolon (FCA_UNIMP) [email protected] O objetivo deste presente artigo é a análise da Nova Economia de Baixo Carbono, com foco nas oportunidades na gestão da cadeia de suprimentos, envolvendo Carbon Disclosure Project, como estratégia na sensibilização, capacitação e engajamento dos fornecedores, e consequentemente na identificação de oportunidade de melhorias para evolução no tratamento das questões climáticas. E outra oportunidade considerada no Uso da Terra, cujas projeções são as maiores em emissões de gases de efeito estufa no Brasil, representando 44% do total de emissões até 2020, segundo dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM (2010) . Palavras-chaves: economia de baixo carbono, sustentabilidade, cadeia de suprimentos XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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Page 1: ECONOMIA DE BAIXO CARBONO: OPORTUNIDADES …abepro.org.br/biblioteca/enegep2013_TN_STO_187_060_22033.pdfFigura 4: Economia de baixo carbono até 2050, objetivos em relação aos níveis

ECONOMIA DE BAIXO CARBONO:

OPORTUNIDADES EM GESTÃO DA

CADEIA DE SUPRIMENTOS E USO DA

TERRA

Ieda Kanashiro Makiya (FCA-UNICAMP)

[email protected]

Fernanda Cancian Grigolon (FCA_UNIMP)

[email protected]

O objetivo deste presente artigo é a análise da Nova Economia de

Baixo Carbono, com foco nas oportunidades na gestão da cadeia de

suprimentos, envolvendo Carbon Disclosure Project, como estratégia

na sensibilização, capacitação e engajamento dos fornecedores, e

consequentemente na identificação de oportunidade de melhorias para

evolução no tratamento das questões climáticas. E outra oportunidade

considerada no Uso da Terra, cujas projeções são as maiores em

emissões de gases de efeito estufa no Brasil, representando 44% do

total de emissões até 2020, segundo dados do Instituto de Pesquisa

Ambiental da Amazônia - IPAM (2010) .

Palavras-chaves: economia de baixo carbono, sustentabilidade, cadeia

de suprimentos

XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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1. Introdução

Desde o século XX, diversos fatores contribuíam para ocorrência de problemas ambientais,

com interferências diretas na vida da sociedade, na economia e no governo do país. Assim,

fatores como crescimento das indústrias, desmatamento, queimadas, êxodo rural, concentração

nos centros urbanos, consumo exagerado, desencadeamento dos processos de poluição, entre

outros, fizeram com que parte da população e órgãos defensores do meio ambiente

procurassem medidas sustentáveis para tentar diminuir os problemas causados pelos efeitos

antrópicos sobre o ambiente em questão.

Especificamente, um dos efeitos diretos é a emissão dos gases de efeito estufa (GEE), os quais

causam o aquecimento global que afeta o clima e as condições ambientais, e por consequência,

a vida humana. Desta forma, no século XXI, foi criado um meio de reduzir a emissão dos

GEE, especifamente o dióxido de carbono na atmosfera; e esta solução para que haja a redução

está centrada numa nova e transitória Economia de Baixo Carbono. Esta tem como objetivo

buscar novas tecnologias que consigam métodos alternativos para a geração da energia, dando

preferência para os recursos renováveis e analisando meios sustentáveis para a diminuição do

carbono.

A Economia de Baixo Carbono, segundo Delay (2007), oferece significantes oportunidades,

que em recente estudo estimou que negócios verdes (green business) injetaram £530bn na

economia global, e requerem soluções inovativas, incluindo novas tecnologias e novas fontes

de energia. Investimentos em tecnologias limpas tem apresentado crescimentos de 30% ao ano

no mercado europeu, com grandes perspectivas de ampliação de projetos com suporte

governamental.

Espera-se reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa no Brasil, em pelo menos

80% até 2050 (em comparação com 1990); de acordo com estudos de Gallard (2013), e criar

as condições para que as empresas e a sociedade civil possam cumprir o seu papel neste

domínio. O governo e as empresas têm trabalhado para desenvolver projetos voltados para a

sustentabilidade, investindo em tecnologias limpas e em medidas que controlem as alterações

climáticas e não prejudiquem a sociedade e o ambiente em que vive. Organizações privadas

como Ambev, Ford, Vale, de acordo com o Instituto Ressoar (2013), procuram alternativas

para reduzir o consumo energético e realizam estratégias que diminuam ou compensem a

emissão dos gases poluentes. Um exemplo interessante reside na mineradora Vale, a qual está

desenvolvendo um projeto para calcular a pegada de carbono de clientes; seus diretores

acreditam que a busca por uma Economia de Baixo Carbono não depende somente das ações

das empresas, mas, também, do governo e sociedade.

2. Objetivos

O objetivo deste presente artigo é a análise da Nova Economia de Baixo Carbono, observando

seus riscos e oportunidades e quais são os passos necessários para a realização deste projeto

que está em transição no país.

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3. Metodologia

Essa pesquisa, quanto à sua natureza classifica-se como qualitativa, que conforme Martins

(2010), considera que há uma relação dinâmica, particular, contextual e temporal entre o

pesquisador e o objeto de estudo. Por isso, necessita de uma interpretação dos fenômenos à luz

do contexto, do tempo e dos fatos, ou seja, o pesquisador participa, compreende e interpreta

tanto os dados, quanto as informações coletadas para o desenvolvimento e uma melhor

conclusão do estudo.

No que tange aos objetivos, a pesquisa caracteriza-se como descritiva. Gonsalves (2007)

explica que esta tem como propósito escrever as características de um objeto em estudo.

Quanto aos procedimentos técnicos trata-se de um estudo de caso. De acordo com Martins

(2010) o estudo de caso é um meio para se coletar dados preservando o caráter unitário do

objeto a ser estudado. Como plano de coleta dos dados, utilizou-se inicialmente uma pesquisa

bibliográfica que, para Vergara (2004), é um estudo sistematizado desenvolvido com base em

materiais já publicados.

Este artigo foi escrito baseado em pesquisas sobre o conceito da economia de baixo carbono,

seus impactos nos diversos setores econômicos, sociais, políticos; envolvendo uma questão

ambiental que poderá ser amenizada trazendo benefícios para a população e o ambiente.

Através da leitura de estudos e informações, analisam se os quatro tipos de oportunidades e

riscos; os quais devem ser observados para conseguir identificar o melhor a ser feito nesta

economia transitória.

4. Problemas devido a emissões dos GEE e aquecimento global

Segundo Pretelli (2010), o problema do efeito estufa começa quando a atmosfera retém mais

calor e, como conseqüência aumenta a temperatura da Terra além do normal – é o famoso

aquecimento global. Isso acontece por causa da emissão de gases em excesso, através de

indústrias, carros, por exemplo. Os gases responsáveis pelo efeito estufa são liberados

naturalmente através de vulcões e incêndios florestais. As atividades humanas caracterizam-se

pela emissão de gás carbônico (dióxido de carbono) em grandes quantidades – o gás carbônico

é responsável por 57% do efeito estufa. O mesmo, por sua vez, produz 12% do aquecimento

global, mas também é 25% mais ativo que o dióxido de carbono. Isso significa que uma

molécula de metano segura o calor 25 vezes mais que uma molécula de gás carbônico. A

natureza produz um terço dessa substância, enquanto a atividade humana produz dois terços.

A alteração da concentração dos GEE poderá desencadear um aumento da temperatura media

no planeta entre 1,4 e 5,8ºC nos próximos 100 anos (IPCC, 2001a). Esse aumento de

temperatura irá ocorrer devido ao bloqueio da saída da radiação solar que estes gases causam

(Figura 1) Rezende et al. (2001) apud Rocha (2003)

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Figura 1: Efeito Estufa. Fonte: Rezende et al. (2001) apud Rocha (2003)

Segundo o IPCC(2001b), os impactos econômicos, sociais e ambientais decorrentes do

aquecimento global afetarão todos os países, porém, serão sentidos de maneira diferenciada.

De acordo com os estudos de Rocha (2003), as diversas regiões do mundo sofrem por

prováveis impactos como: a diminuição da produção agrícola, a diminuição da disponibilidade

de água, o aumento dos vetores de diversas doenças, a extinção de animais e plantas, aumento

da produção agrícola em alguns locais, aumento do nível do mar causando o deslocamento de

milhões de pessoas e outras conseqüências específicas de cada área.

De acordo com dados do Fapesp (2007), todos esses fenômenos que ocorrem no planeta

demoram anos e décadas para responderem às medidas preventivas, assim, por mais que não

possa ver o resultado, deve se lutar pela qualidade de vida no Planeta Terra, longe de todas as

catástrofes e tragédias que poderão acontecer no futuro. Sendo assim, é importante que a

sociedade, os governos e as empresas comecem a agir pelo bem comum.

As principais medidas são:

Redução da emissão de gases poluentes pelas indústrias;

Redução da queima de combustíveis fósseis através do transporte;

Redução do desmatamento;

Desenvolvimento de novas tecnologias energéticas;

Desenvolvimento de motores elétricos;

Desenvolvimento de matrizes energéticas de origem vegetal;

Aprimoramento de motores à combustão;

Coleta seletiva e reciclagem de lixo (confira dicas e informações sobre lixo reciclável);

Uso de técnicas avançadas e modernas na agricultura;

Recuperação do gás metano nos aterros sanitários.

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5. Transição para a Economia de Baixo Carbono.

A transição para uma economia de baixo carbono é um desafio que exigirá mudanças

profundas nos modelos atuais de produção, gestão, usos da energia/insumos e consumo.

Entretanto, o processo de transição cria oportunidades para investimentos em inovação

tecnológica, desenvolvimento de novos processos produtivos mais eficientes e criação de

novos produtos. As principais formas de atuação dos diferentes setores em uma economia de

baixo carbono, segundo o estudo Mudanças Climáticas: Oportunidades e desafios para um

Novo Desenvolvimento são apresentadas no Quadro 1, Quadro 2 e Quadro 3 (CNI, 2011).

Figura 2: As principais formas de atuação dos diferentes setores em uma economia de baixo carbon. Fonte:

CNI (2011)

TRANSIÇÃO PARA UMA NOVA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO

QUADRO 1- ATUAÇÃO DO SETOR GOVERNAMENTAL.

Governo – incentivos fiscais, políticas de compras sustentáveis, políticas de apoio a

negócios sustentáveis pelas instituições financeiras públicas, execução eficaz da política

de comando e controle na legislação ambiental, incorporação transversal da

sustentabilidade nas políticas de governo; orientação das empresas estatais para

investimentos em energias renováveis, eficiência energética, diminuição da geração de

resíduos, aproveitamento de resíduos como subprodutos para a indústria, uso racional da

água e compras sustentáveis.

QUADRO 2- ATUAÇÕES DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS PRIVADAS.

Instituições financeiras privadas – políticas de sustentabilidade que premiem projetos

com bons indicadores de responsabilidade socioambiental com reduções no custo dos

empréstimos e ampliação dos prazos de amortização; linhas socioambientais de estímulo

a investimentos limpos; preferência por fornecedores que atendem a padrões de

excelência socioambiental; criação de indicadores climáticos para as operações

financeiras; apoio ao mercado de carbono; criação de produtos financeiros que valorizem

negócios sustentáveis em suas carteiras; integração com seguradoras para o desenho de

cenários climáticos e suas implicações na economia.

QUADRO 3- ATUAÇÃO DO SETOR PRODUTIVO.

Setor produtivo (indústria, comércio e serviços) – incorporação do conceito de ciclo de

vida dos produtos e serviços nas estratégias de sustentabilidade corporativa; indução dos

fornecedores a práticas sustentáveis; implementação de políticas de eficiência energética

e ampliação do suprimento de energias renováveis; uso racional da água; gestão

sustentável dos resíduos; investimento em P&D para o desenvolvimento de tecnologias

limpas; gestão climática (inventário de emissões, políticas de corte nas emissões, projetos

de créditos de carbono, programas de adaptação).

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5.2. Implantação de uma economia de baixo carbono

No dia 9 de dezembro de 2010, o Brasil deu um importante passo em direção à implantação de

uma economia de baixo carbono. Isso porque o presidente Lula assinou, ainda durante a COP

16, no México, o Decreto Nº 7.390, que regulamenta a Política Nacional de Mudança do

Clima, que foi aprovada em dezembro de 2009. A Política Nacional de Mudança do Clima já

havia indicado uma meta de corte de emissões entre 36,1% e 38,9%, com base numa projeção

para o ano de 2020. Segundo esse documento, as emissões totais projetadas para 2020 no

Brasil serão de 3.236 milhões de toneladas de CO2eq, compostas pelos seguintes setores:I -

Mudança de Uso da Terra: 1.404 milhões de t de CO2eq;II - Energia: 868 milhões de t de

CO2eq;III - Agropecuária: 730 milhões de t de CO2eq; eIV - Processos Industriais e Tratamento

de Resíduos: 234 milhões de t de CO2eq.(IPAM, 2010)

Figura 3: Projeção das Emissões Brasileiras por Setor em 2020. Fonte: IPAM(2010)

De acordo com os dados do Parlamento Europeu (2013), à medida que as reservas de

combustíveis fósseis vão se esgotando e tendo em vista a redução das emissões com efeitos de

estufa, a União Européia está a delinear um roteiro de transição para uma economia de baixo

carbono em 2050. No dia 7 de fevereiro de 2012, os membros da comissão parlamentar do

Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar apelaram a uma melhoria

do sistema de comércio de emissões que permita reduzir, em pelo menos 80%, as emissões de

dióxido de carbono até 2050.

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Figura 4: Economia de baixo carbono até 2050, objetivos em relação aos níveis de 1990. Fonte: Comissão

Européia (2013)

5.3. Inserção e etapas para a Economia de Baixo Carbono.

Figura 5: Os Pilares da Inserção do Carbono no Planejamento Estratégico. Fonte: CNI (2011)

Segundo dados do CNI (2011), a inserção do carbono no planejamento estratégico começa pelo

diagnóstico que tem o passo 1: quantificar as emissões de GEE, definir uma linha de base e

desenvolver um inventário de emissões de GEE; o passo 2 consiste em perceber e avaliar os

riscos (financeiros, físicos e computacionais); já o passo 3 é para identificar as oportunidades e

o possível ganho de imagem, acesso a mecanismos de financiamento diferenciados e acesso ao

mercado de crédito de carbono. Depois desses três primeiros passos, há a implementação, a

Diagnóstico: Medir as

emissões de GEE, avaliar

riscos e oportunidades

para a empresa.

Implementação:

Implantar políticas e

programas, definir

metas e reduzir as

emissões de GEE.

Divulgação e

Engajamento:

Divulgas as ações

implementadas e

engajar acionistas.

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qual é composta pelo passo 4: desenvolver a gestão estratégica do carbono, definir políticas e

procedimentos para reduzir os riscos e maximizar as oportunidades, estabelecer metas de

emissões de reduções a prazo; e também, tem o passo 5: reduzir as emissões, alternativa de

mitigação em função de potencial de reduções de emissões, facilidade de implementação,

análise economico-financiera, risco e probabilidade. Para finalizar, a última etapa é a

divulgação e engajamento, na qual está inserido o passo 6: divulgar ações e resultados, índices

financeiros, relatório de benchmarking, relatórios de sustentabilidade, prêmios nacionais e

internacionais; e também, há o passo 7: engajar acionistas, avaliar os feedbacks positivos,

incentivar ações proativas e valorizar os funcionários.

5.4. Créditos de Carbono

Um meio para que a Economia de Baixo Carbono consiga se desenvolver seria a obtenção de

créditos de carbono, a qual é constituída por 5 etapas. A primeira etapa desse processo é a

realização do gerenciamento estratégico de carbono na empresa, que considera a análise

holística, sistemática e estratégica do impacto das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs)

nos processos da empresa. A segunda etapa do processo é o desenvolvimento de uma nova

metodologia de linha de base e monitoramento, se não houver uma que seja aplicável ao

projeto, e do Documento de Concepção de Projeto (DCP), chamado de Project Design

Document (PDD), em inglês. No Brasil, a terceira etapa é a validação por uma entidade

independente (a Entidade Operacional Designada (EOD). Após a validação do PDD pela EOD,

o documento deverá ser submetido para a aprovação pela autoridade governamental brasileira –

Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima (CIMGC), constituindo-se a quarta

etapa. No Brasil, o projeto é avaliado quanto ao alinhamento das suas iniciativas de redução de

emissões com as políticas adotadas no País. A etapa seguinte, que ocorre após a implantação do

projeto, caracteriza-se pela verificação da correspondência entre o PDD apresentado e

aprovado, e a operação da atividade do PDD. Para isso, as emissões são monitoradas e uma

nova certificação é conduzida, no sentido de quantificar os créditos de carbono associados à

efetiva redução de emissões.(ICF, 2010)

Figura 6: Processo de Obtenção de Créditos de Carbono. Fonte: ICF (2010)

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5.5. Estratégias para Economia de Baixo Carbono: oportunidades e riscos

Dando ênfase na questão de riscos e oportunidades analisa se diretamente a mudança do clima.

O Brasil, um país subdesenvolvido, sofre conseqüências geradas pelas emissões de GEE nos

setores econômicos, ambiental e social. As chances de dar certo são grandes e devem ser

observadas para poder trabalhar analisando-as e também, existem os riscos que podem

atrapalhar em algum aspecto nessa nova economia. Assim, as oportunidades e os riscos estão

divididos em quatro áreas: financeiras, regulatórias, competitivas e físicas.

De acordo com CNI (2011), as oportunidades financeiras são: maior eficiência operacional e

logística, maior eficiência no uso de energia e insumos produtivos, desenvolvimento de novos

mercados, participação nos mercados internacionais do carbono, aumento do valor das ações,

acesso a mercados financeiros internacionais; já as regulatórias definem se pela antecipação

das regulamentações, influência no processo de criação das novas leis, subsídios

governamentais. Nas competitivas estão o aumento da credibilidade da marca, novos

investidores e parceiros, satisfação/recrutamento/retenção dos funcionários, rotulagem

ambiental, melhor gestão de RH, responsabilidade socioambiental, ampliação de parcerias. Por

sua vez, as físicas caracterizam se pela inovação tecnológica na produção de novos produtos e

serviços para a adaptação aos impactos das Mudanças Climáticas, desenvolvimento de

processos e tecnologias mais eficientes aumentando a produtividade e diminuindo a

dependência por recursos naturais.

Entretanto, os riscos financeiros são: aumento do preço de commodities, aumento nos valores

de seguros, custo do carbono, perda de mercado, restrição a linhas de crédito. Os regulatórios

se identificam pelo estabelecimento das regulamentações mandatórias (Ex: metas de redução e

taxas sobre produtos e serviços), responsabilidade no cumprimento das legislações. Os

competitivos são a perda de credibilidade da marca, acusação de propaganda falsa, utilizada

para mascarar um desempenho ambiental fraco e ludibriar os consumidores, insatisfação dos

empregados, pressão e conscientização dos consumidores, investidores e dos acionistas,

imagem negativa com a mídia e o público em geral. Finalizando, nos físicos estão o aumento

no preço dos insumos, alta do valor da terra, diminuição da disponibilidade dos insumos.

6. Exemplos de empresas que investem na economia de baixo carbono.

Algumas organizações privadas participam do Carbon Disclosure Project (CDP), que é a

principal iniciativa do setor financeiro em relação à mitigação das mudanças climáticas.

Segundo Neale (2013), o objetivo é criar uma relação entre acionistas e empresas focada em

oportunidades de negócio decorrentes do aquecimento global. Trata-se de um requerimento

coletivo e um questionário, formulado por investidores institucionais e endereçado às

empresas listadas nas principais bolsas de valores do mundo, visando obter e divulgar

informações sobre as políticas de mudanças climáticas adotadas pelo setor. Em 2007, a

organização empresarial publicou os dados de emissões de 2.400 das maiores empresas

globais, responsáveis por 26% da emissão global de gases de efeito estufa. Atualmente, o CDP

representa investidores que, juntos, combinam US$ 57 trilhões sobre seu controle.

7. Estratégias de Desenvolvimento Sustentável

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Braskem

A estratégia de Desenvolvimento Sustentável da Braskem está suportada por sete macro

objetivos, dentre os quais o de Gases Efeito Estufa (GEE). Deste modo, existem diversas

iniciativas associadas que apoiam a evolução em operações mais sustentáveis, reduzindo a

intensidade das emissões GEE, e soluções mais sustentáveis para a sociedade. Para isto a

Braskem realiza, desde 2006, o inventário de emissões GEE, e a sua estratégia de evolução na

gestão dessas emissões requer um engajamento dos fornecedores, visto que as oportunidades

de mitigação dessas emissões, muitas vezes encontram-se na cadeia e não somente nos

processos da empresa. O CDP Supply Chain suporta a Braskem na sensibilização, capacitação

e engajamento dos fornecedores, e consequentemente na identificação de oportunidade de

melhorias para evolução no tratamento das questões climáticas. (INSTITUTO CARBONO

BRASIL, 2013)

Marfrig

O Grupo Marfrig, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, trabalha continuamente

para tornar seus processos e atividades cada vez mais sustentáveis. Para atingir esse objetivo,

estabeleceu seis dimensões estratégicas (ambiental, social, econômica, produto, tecnológica e

cadeia de suprimentos) para direcionar todos os seus negócios nos 17 países onde atua, com

148 unidades de produção. Segundo a Marfrig, “gerenciar os riscos e oportunidades criados

por nossos produtos, certamente inclui trabalhar e desenvolver um relacionamento próximo

aos nossos fornecedores, afinal mais de 95% das emissões de GEE de nossos produtos estão

ligadas à cadeia de suprimentos”. Em 2012, o Grupo Marfrig tornou-se empresa membro do

CDP Supply Chain e convidou 53 fornecedores a proverem informações acerca de sua gestão

de GEE e entendimento dos riscos climáticos a que estão expostos, além das oportunidades de

melhoria. (INSTITUTO CARBONO BRASIL, 2013)

Suzano Papel e Celulose.

A Suzano Papel e Celulose acredita que trabalhar a cadeia de valor é uma tendência nas

agendas corporativas e identificou no CDP Supply Chain uma forma inovadora de trazer para

seu dia-a-dia uma ferramenta que engajaria seus fornecedores nesta temática tão relevante.

Segundo a Suzano, “os três anos de participação na iniciativa foi um processo enriquecedor

para a empresa e temos relatos gratificantes de nossos fornecedores. Percebemos que eles

internalizaram o tema e hoje reconhecem a importância de trabalhar a gestão de emissões e

governança climática em suas empresas. Com o amadurecimento do mercado, outras empresas

passarão a incorporar essa discussão em suas estratégias e a transformarão em um fator

competitivo”. (INSTITUTO CARBONO BRASIL, 2013)

FIBRIA

A Fibria, primeira companhia florestal do mundo a aderir ao CDP Supply Chain, adota

práticas de gestão para as mudanças climáticas ao longo do ciclo produtivo da celulose de

eucalipto. O engajamento entre a companhia e seus fornecedores é fundamental para buscar o

desenvolvimento sustentável em toda a cadeia de suprimentos. Segundo a empresa, “o CDP

Supply Chain exerce um papel importante nesse sentido, uma vez que contribui para a

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eficiência de gestão da cadeia produtiva e incentiva fornecedores a identificar e divulgar suas

emissões de gases de efeito estufa”. Em 2012, 93% dos fornecedores convidados pela Fibria

responderam o questionário, o que mostra um aumento significativo na participação em

relação a 2010 (45%) e em 2011 (71%), comprovando entendimento da iniciativa e

engajamento. (INSTITUTO CARBONO BRASIL, 2013)

8. Considerações Finais

Observa-se nesse artigo que Economia de Baixo Carbono no Brasil apresenta grandes

oportunidades voltadas ao melhor gerenciamento das cadeias de suprimento e questões

relacionadas ao Uso da Terra.

Dessa forma, retratando os exemplos, é possível perceber a ampliação da sustentabilidade nas

dimensões: ambiental, social, econômica, produto, tecnológica e cadeia de suprimentos, ou

seja, busca da integração crescente entre os diferentes elos da cadeia produtiva, como uma

tendência a adoção do CDP Supply Chain, ou seja, integração e multiplicação das práticas

voltadas ao tratamento das questões climáticas. Esse fato reforça, a contribuição dos canais de

distribuição como indutores dos riscos climáticos e seu papel fundamental, como oportunidade

de minimização dos mesmos impactos.

Com relação ao Uso da Terra, segundo Macieira (2013) no Brasil, o principal foco do Plano

Nacional de Mudança Climática, documento que prevê a redução da emissão dos gases até

2020, não são as políticas de tributação ou créditos de carbono, mas o desmatamento, visto

como o principal responsável pela emissão de gases de efeito estufa no país. A política com

foco no desmatamento tem caráter mais fiscalizador e de controle e as políticas econômicas de

redução são viáveis e a eficiência energética é promissora. Se o empresariado brasileiro for

corretamente incentivado a investir em melhoria da eficiência energética e a desenvolver

tecnologias mais limpas, nossos filhos e netos poderão usufruir de um planeta melhor.

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9. Referências

CNI.Confederação Nacional da Indústria. Estratégias Corporativas de Baixo Carbono:

Gestão de Riscos e Oportunidades/ Confederação Nacional da Indústria. – Brasília,

2011.56 p.:il.

Disponívelem:http://arquivos.portaldaindustria.com.br/app/conteudo_24/2012/09/04/208

/20121123180802251358u.pdf. Acesso em: 17 de março de 2013.

DELAY, T. Low-Carbon Economy: what are the opportunities?. The EIC Guide to the

UK Environmental Industry 2007. Disponível em http://www.eic-

guide.co.uk/docs/lcarbon.pdf. Acesso em 10 de abril de 2013

GVces. Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas .Como

Avançar no Financiamento da Economia de Baixo Carbono no Brasil - análise dos entraves e

oportunidades na alocação de recursos financeiros para os setores de agropecuária e energia.

Disponível em: http://www.gvces.com.br/arquivos/57/METODOLOGIA_FINAL_13-04.pdf.

Acesso em: 17 de março de 2013.

GALLARD, J. Economia de Baixo Carbono, 2013. Disponível em:

http://economico.sapo.pt/noticias/economia-de-baixo-carbono_165377.html. Acesso em: 22 de

março de 2013.

GONSALVES, E. P. Conversas sobre iniciação à pesquisa científica. 4. ed. São Paulo: Alínea,

2007.

INSTITUTO CARBONO BRASIL. Grandes empresas estimulam fornecedores a estudar mudanças climáticas, 2013.Disponível em: http://www.institutocarbonobrasil.org.br/noticias2/noticia=733536. Acesso em: 12 de abril de 2013.

INSTITUTO FAPESP. Solução para reduzir efeito estufa e estabilizar aquecimento global está nas florestas, 2007. Disponível em: http://360graus.terra.com.br/ecologia/default.asp?did=23130&action=reportagem. Acesso em: 18 de abril de 2013.

INSTITUTO RESSOAR. Empresas em rumo à Economia de Baixo Carbono. Disponível em:

http://www.ressoar.org.br/dicas_sustentabilidade_economia_baixo_carbono.asp. Acesso em: 22

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