LOGÍSTICA REVERSA NUMA EMPRESA
QUE FAZ A LAMINAÇÃO,
COMERCIALIZAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
DE VIDROS: UM ESTUDO DE CASO
Joaquim Carlos Lourenco (UFCG/PPRN )
Marx Prestes Barbosa (UFCG/CTRN )
Geizibel Lopes Rodrigues (UFRPE/UAST )
Marcelo Jose de Oliveira Silva (IFCE/CRATO )
O presente estudo teve como objetivo apresentar as práticas de
logística reversa implementadas numa empresa que faz a laminação,
comercialização e distribuição de vidros, localizada no município de
Serra Talhada-PE. Para tanto, utilizou-se do estudo de caso. A partir
da análise dos dados coletados, foi possível identificar que, as
principais práticas de logística reversa implementadas são:
reutilização das sobras (aparas) dos vidros utilizados nos processos de
beneficiamento; reutilização da água utilizada nos processos de
beneficiamento; reutilização da madeira utilizada para transportar as
placas de vidro, e do barbante. Já o ferro usado para amarra as
caixas, o plástico e o papel utilizado na empresa são vendidos. Essas
práticas sustentáveis geram principalmente a redução dos custos e,
consequentemente, o preço final do produto para os clientes. Por fim,
vale ressaltar que a logística reversa melhora a imagem corporativa,
aumenta a satisfação do cliente e a competitividade da empresa.
Palavras-chaves: Vidros, Remanufatura, Logística Reversa.
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1. Introdução
Nos últimos anos, tem crescido a preocupação com o meio ambiente, assim como a busca
constante para reduzir as agressões à natureza. Nesse contexto, segundo Barros et al. (2013)
as empresas têm recorrido à logística reversa para minimizar estes impactos e atender à
legislação ambiental, conquistando a confiança dos consumidores que valorizam empresas
que têm responsabilidade social e ambiental.
Para Pokharel e Mutha (2009) a logística reversa (RL) tem recebido considerável atenção
devido a potenciais de recuperação de valor dos produtos utilizados. Além disso, as
legislações e diretrizes, a conscientização do consumidor e responsabilidades sociais para com
o ambiente também são os drivers para RL.
Dias (2006) afirma que existe uma clara tendência de que a legislação ambiental evolua para
tornar as empresas cada vez mais responsáveis pelo descarte de seus produtos após o fim de
sua utilidade ao cliente. Atualmente, os clientes e os governos exigem que os fabricantes
devem reduzir as quantidades de resíduos gerados por seus produtos. A pressão do cliente é
desencadeada por preocupações ambientais e, mais especificamente, pelos custos de
eliminação do produto crescentes (ZHOU e WANG, 2008).
Neste contexto, os produtores e os fornecedores, conforme González-Torrea et al. (2004)
estão hoje assumindo cada vez mais responsabilidade no que de respeita à colocação de seus
produtos no mercado; motivada, principalmente, pela forte pressão que eles estão sujeitos
como resultado de expectativas dos clientes.
Vale destacar que, as empresas que investem em projetos de logística reversa obtêm redução
de custos, melhoria de processos, eliminação do desperdício, redução da poluição e melhoria
da imagem da corporativa, por consequência de suas práticas. Neste contexto, é que se insere
o presente estudo, apresentando as práticas de logística reversa implementadas numa empresa
que faz a laminação, comercialização e distribuição de vidros, localizada no município de
Serra Talhada-PE.
2. Logística reversa
Os padrões de produção e consumo atual, caracterizados pelo uso excessivo dos recursos
naturais (matéria-prima, água e energia) e pela rápida descartabilidade dos produtos e/ou
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resíduos gerados, tem recebido considerável atenção devido a seus impactos ambientais e,
mais especificamente, pelos potenciais de recuperação de valor. O conceito de logística
reversa surgiu como uma tentativa de reduzir a extração de matérias-primas e reduzir a
deposição de resíduos em aterros (GONZÁLEZ-TORRE et al., 2004).
Leite (2009) ressalta que, logística reversa é uma área da logística empresarial que cuida do
planejamento, operação e controle de informações correspondentes, do retorno dos bens de
pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais
de distribuição reversos, acrescentando-lhes valores econômicos, benefícios políticos, legais,
entre outros.
Dowlatshahi (2005) define a logística reversa como um processo sistemático que gerencia o
fluxo de produtos / peças do ponto de consumo até o ponto de fabricação para uma possível
reciclagem, remanufatura ou descarte. Para Lourenço e Lira (2013) os produtos, em geral,
retornam ao fluxo reverso devido a uma necessidade de reparo, reciclagem, descarte ou sim-
plesmente porque os clientes os devolveram por não gostar. O processo reverso adotado pode
envolver a reciclagem, o reuso e/ou desmanche.
Segundo Pokharel e Mutha (2009) a natureza dos produtos retornados podem ser estocásticos
em termos de qualidade e quantidade. Os itens devolvidos poderiam ser recolhidos em centros
designados ou nos revendedores e inspecionados pela sua qualidade. Os produtos podem ser
consolidados para a eliminação, processamento (pré-processamento para remanufatura) ou
remanufatura.
Atualmente, com a redução do tempo de ciclo de vida dos produtos, o foco de atuação da
logística reversa envolve a reintrodução dos bens ou materiais à cadeia de valor e, portanto,
um produto só é descartado em último caso. Isto porque o processo logístico reverso pode
prolongar o reuso dos bens e materiais descartados e/ou seus componentes, principalmente,
reintroduzindo-os nos processos produtivos em forma de matéria-prima ou novos produtos
remanufaturados (LOURENÇO, 2013).
A logística reversa pode ser aplicada a diversos tipos de produtos, processos, equipamentos e
resíduos. O vidro, por exemplo, pode ser reciclado infinitas vezes, por ser uma substância
inorgânica que não absorve cheiros nem material agregantes. Essas características corroboram
para instigar as empresa a fazerem a logística reversa dos resíduos vítreos.
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3. Logística reversa de vidros
O vidro é obtido pela fusão de sílica pura ou de componentes como areia: barrilha calcário; e
feldpato a altas temperaturas (1.550 ºC) e resfriamento rápido da massa resultante até um
estado rígido. Segundo González-Torre e Adenso-Díaz (2006) como resultado das
características físicas do vidro e sua utilização em larga escala, o setor produtivo de vidro
representa um dos mais importantes em termos de volume quando implementado práticas de
logística reversa.
O vidro é 100% reciclável. No entanto, apenas 47% de aproximadamente 900 mil toneladas
de resíduos de vidro gerados por ano no Brasil são reciclados (ABIVIDRO, 2009). Magalhães
(2010) aponta que para cada tonelada de caco de vidro limpo obtêm-se uma tonelada de vidro
novo com a reciclagem. Uma de suas grandes vantagens é que o vidro pode ser reciclado
infinitas vezes, mas em compensação é necessário ter o cuidado de separar por cores.
De acordo com Gonçalves e Marins (2006), para implantar um processo de logística reversa
do vidro, inicialmente, deve-se fazer um mapeamento dos principais macros processos da
empresa para posteriormente definir as atividades que farão parte do processo de logística
reversa.
Lourenço (2013) ressalta que o mapeamento é necessário para cintilar um melhor
entendimento do processo produtivo, e, por conseguinte, dos gargalos existentes em cada
etapa da cadeia de suprimentos. Além disto, essa pré-análise pode minimizar as dificuldades
que aparecem na implementação do processo de reuso e/ou reciclagem de resíduos vítreos em
virtude das alterações necessárias no sistema produtivo.
González-Torre e Adenso-Díaz (2006) pontuam que as modificações podem também ser
necessárias no processo fabrico dos produtores e fornecedores para incorporar de forma
eficiente as atividades de reprocessamento. Isto porque várias áreas funcionais, tais como
marketing, produção, logística, distribuição e transporte, são afetadas pelas atividades de
logística reversa.
Nessa perspectiva, a implantação de um processo de logística reversa de resíduos do vidro
demanda investimentos considerável, sobretudo, para a construção de instalações físicas e
compra de equipamentos (OLIVEIRA NETO et al., 2011); bem como a adaptação dos
sistemas de produção tradicionais para as novas atividades de reciclagem e reaproveitamento
de materiais descartados e produtos.
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Como resultado, a logística reversa com suas ferramentas e métodos aplicados corretamente,
pode proporcionar economia de escala; otimização do processo produtivo pela reutilização de
embalagens do produto; redução de custo na cadeia produtiva; ganho de know-how sobre o
sistema logístico completo; redução do consumo de matéria-prima virgem, custo do produto
acabado e dos impactos ambientais.
Devido a esses aspectos, segundo González-Torre e Adenso-Díaz (2006) o vidro tornou-se um
dos materiais que apresenta as maiores taxas de recuperação, com uma tendência a aumentar
continuamente no número de toneladas recolhida. Isso se deve porque produtores e os clientes
estão exigindo mais atenção das empresas às questões ambientais.
4. Estudo de caso
4.1 Procedimentos metodológicos
O presente trabalho foi desenvolvido na Casas Bandeirantes, localizada na Av. João Gomes
de Lucena, nº 4511, São Cristóvão, Serra Talhada/PE, empresa que atua no ramo de
laminação, comercialização e distribuição de vidros. A logística reversa é aplicada pela
empresa para tratar parte dos resíduos vítreos gerados no processo de laminação da peças e
outros resíduos. O método utilizado na coleta de dados, foi o estudo de caso.
Para Yin (2005) o estudo de caso é um método de pesquisa de natureza empírica que investiga
um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os
limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.
Quanto aos seus objetivos, a pesquisa pode ser classificada em pesquisa exploratória e
descritiva. Segundo Gil (2007) a pesquisa exploratória tem a finalidade de ampliar o
conhecimento a respeito de um determinado fenômeno, especialmente quando o tema
escolhido é pouco explorado. Já a pesquisa descritiva, para Vergara (2007) expõe
características de determinada população ou de determinado fenômeno. Pode também
estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza.
Quanto à forma de abordar o problema, a abordagem é quantitativa (LAKATOS e
MARCONI, 2006). Os instrumentos de coleta de dados adotados neste estudo foram à
entrevista e a observação direta (MARTINS, 2008). A entrevista foi realizada com o gerente
de produção da empresa Casas Bandeirantes, Vagnaldo. De acordo com Lakatos e Marconi
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(2006) a entrevista é um procedimento utilizado na investigação social para coleta de dados
ou para ajudar no diagnóstico ou tratamento de uma problemática.
A entrevista foi do tipo estruturada, ou seja, com o auxílio de um questionário com perguntas
pré-estabelecidas e de caráter qualitativo, a fim de ter uma visão mais realista de como a
empresa aplica a logística reversa em seus processos de beneficiamento. A entrevista foi
realizada no dia 19 de março de 2013, gravada e depois transcrita. Os dados obtidos neste
trabalho foram ordenados e tratados através da técnica de análise de conteúdo.
4.2 Caracterização da empresa
A Casas Bandeirantes Ltda. localiza-se no Sertão do Pajeú do estado de Pernambuco, na
cidade de Serra Talhada-PE. Foi fundada em 25 de agosto de 1983, sua primeira loja em Serra
Talhada atuava nos ramos de atacado, varejista e distribuição de vidros planos e madeira.
Após sete anos foi aberta uma segunda loja na cidade, também no ramo de comércio e
representação de material de construção e hidráulico.
Em 15 de dezembro de 2000, inaugurou-se uma nova filial na Av. João Gomes de Lucena,
4511, Bairro São Cristóvão com as atividades de comércio atacadista, varejista, representação
e distribuição de vidros, espelhos, molduras e material de construção. Para expandir ainda
mais seus negócios abriu também outra filial em Recife no ano de 2003.
A Casas Bandeirantes é uma empresa franqueada Blindex, que por sua vez é umas das
maiores empresas distribuidoras de vidro temperado do Brasil, que segundo o site da Casas
Bandeirantes vendo nessa empresa um grande potencial para o estabelecimento de uma nova
parceria transferiu-lhe através do sistema de franquia os processos produtivos e a tecnologia
para a têmpera do vidro.
O mercado de atuação das Casas Bandeirantes é composto principalmente por pequenas e
médias empresas varejistas (vidraceiros), empresas da construção civil e o consumidor final,
que pode adquirir o produto na própria empresa. Contudo, a empresa tem no seu portfólio a
Esmaltec, empresa de fabricação de fogões. A empresa atende as regiões Norte e Nordeste,
com grandes clientes nos estados do Tocantins e Pará.
A Casas Bandeirantes hoje empregam mais de 400 pessoas e sua área de produção é de 2 mil
metros quadrados. Atualmente segundo o entrevistado, uma nova fábrica está sendo
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construída com cerca de 10 mil metros quadrados, o que pode gerar mais empregos e
possibilitar maior crescimento a organização.
A empresa é certificada com o selo de qualidade ISO 9000, que atualmente é um dos
requisitos básicos de qualidade para uma empresa que deseja implementar em seus processos
produtivos ou prestação de serviço uma garantia de qualidade, e busca pela melhoria contínua.
Nos seus processos de beneficiamento do vidro é aplicado práticas sustentáveis e políticas de
qualidade, o que permite a empresa fazer a laminação, a comercialização e distribuição de
vidros a preços competitivos.
No intuito de se manter sempre competitiva no mercado, a Casas Bandeirantes vem buscando
melhorar continuamente o sistema de gestão da qualidade, visando à satisfação dos clientes,
fornecedores, colaboradores e a preservação do meio ambiente. Nesse sentido, a empresa está
utilizando a logística reversa estrategicamente para se posicionar como empresa cidadã.
4.3 Descrição e análise dos resultados
4.3.1 Logística reversa implementadas na empresa
Para delinear as práticas de logística reversa implementadas na empresa Casas Bandeirantes,
inicialmente foi questionado se a empresa adota práticas sustentáveis na execução de suas
atividades, segundo o entrevistado, “a empresa reutiliza uma quantidade considerável das
sobras dos produtos utilizados nos processos de beneficiamento”. Como a empresa trabalha
com atividades de corte, acabamento, lapidação, furação e a têmpera do vidro, utiliza uma
grande quantidade de água.
Conforme o entrevistado, toda a água utilizada nesses processos é reaproveitada através de
um sistema de tratamento onde a água é conduzida a um recipiente (Figura 1), que a ela é
adicionada um produto denominado acecol, que tem como função separar os resíduos do
vidro da água, deixando-a limpa para a sua reutilização nos processos de beneficiamento.
Figura 1 – Estação de tratamento da água
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Fonte: Acervo dos autores (2013)
O pó, resíduo de menor espessura, gerado nos processos de corte, lapidação, acabamento e
furação do vidro é colocado em lugar especifico da empresa, já que não pode ser depositado
no meio ambiente. Não obstante, a empresa ainda não possui uma forma de reaproveitamento
desses resíduos; existe a preocupação de não descartá-los de forma irregular e a intenção de
reutilizá-los como material agregante na fabricação de blocos de tijolo no futuro.
Já os resíduos vítreos maiores, denominados de rebarbas ou aparas é reaproveitado. Os
resíduos são separados por cores (Figura 2). A empresa em questão trabalha com o vidro
incolor, verde, bronze, azul e fumê. Na separação as aparas são divididas em incolores e
verdes, que são os chamados vidros de primeira linha, e enviados para a UBV (União
Brasileira de Vidros) em São Paulo, onde são transformados em novas placas de vidro. O
vidro colorido, fumê, bronze e azul que não são considerados de segunda linha são enviados
para a CIV (Companhia Industrial de Vidro) em Recife, onde são transformados em garrafas
de refrigerante e frascos de perfume.
Figura 2 – Separação do vidro por cor
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Fonte: Acervo dos autores (2013)
Na empresa analisada também foi constatado que além dos resíduos vítreos, outros materiais
também são reaproveitados, como a madeira utilizada para transportar as placas de vidro, que
é transformada em caixotes para o armazenamento e entrega de produtos finais. O material de
ferro usado para amarra as caixas durante o transporte do vidro é amassado e vendido para
empresas regionais que trabalham com a reciclagem do ferro.
O plástico e o papel utilizado na empresa são vendidos a uma fábrica de reciclagem da cidade,
chamada Recicla Serra. Outro produto também reaproveitado é o barbante que é utilizado
para separação das placas de vidro para que não gerem atrito. Até pouco tempo, esses resíduos
eram descartadas pela empresa e seus clientes. No entanto, devido a crescente consciência
ecológica das pessoas, legislação ambiental especifica e possibilidade de ganho financeiro, a
empresa decidiu implementar essas práticas.
Todas essas práticas sustentáveis geram principalmente economia para a empresa, de acordo
com o entrevistado, ― “os custos nos processos de beneficiamento com água são em torno de
R$ 2500,00 (dois mil e quinhentos reais) por mês, isso, sendo a mesma reutilizada, se não
existisse essa prática os custos seriam ainda maiores”. Dias (2012) acrescenta que com a
adoção de práticas sustentáveis a empresa poderá ter um retorno muito maior que o que foi
investido em sua implementação.
Para Redivo et al. (2010) o gerenciamento do retorno dos bens e materiais dentro da cadeia é
fator decisivo para a otimização do ganho financeiro sobre esses produtos. Haja vista ser esse
um dos benefícios proporcionados pela logística reversa.
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4.4 Fatores que influenciaram a adoção da logística reversa
A empresa decidiu adotar práticas sustentáveis em seus processos ao perceber a evolução do
mercado, e as vantagens econômicas que a logística reversa pode proporcionar, como a
diminuição dos custos e as maiores possibilidades de conseguir bons negócios. Para o
entrevistado, no futuro as empresas terão mais facilidade em alcançar bons negócios se
possuírem práticas sustentáveis, pois cada vez mais os consumidores estão ficando mais
exigentes, e preferindo produtos e serviços de empresas que contribuem para a
sustentabilidade do planeta.
A empresa trabalha com o ISO 9000, por ser uma franqueada Blindex, que é uma empresa
nacionalmente conhecida e exige esse certificado de qualidade. A esse respeito, o entrevistado
relata que, ― "como a empresa fornece não apenas para o consumidor final, mas também
para a indústria de construção civil, esses construtores que trabalham com certificados de
qualidade e práticas sustentáveis certamente irão preferir comprar de empresas que também
tenham essas práticas”.
Através da adoção da logística reversa a empresa se tornou mais competitiva, pois com as
práticas sustentáveis implementadas houve economia de custos, que segundo o entrevistado, é
repassada para o produto final. Observe-se que, antes dessa iniciativa, os custos eram maiores
e não havia a possibilidade de redução no preço dos produtos, mas com a adoção da logística
reversa isso foi possível.
O entrevistado relata ainda que, ― “toda prática de reaproveitamento gera menores custos
possibilitando a empresa oferecer melhores preços para os clientes”. Deste modo, pode-se
afirmar que a logística reversa aplicada na empresa tem proporcionado a competitividade e
reduz custos. Concernentemente, se a logística reversa for aplicada de forma efetiva pela
empresa, pode proporcionar resultados econômicos positivos, agregar valor a imagem
corporativa, redução de custos e, por conseguinte, vantagem competitiva.
Um aspecto importante que merece ser destacado é que os pequenos clientes da empresa não a
escolhe porque esta adota práticas sustentáveis, mas pelo melhores preços. Por outro lado,
conforme o entrevistado, o fato de a empresa possuir práticas sustentáveis tem influência com
relação aos grandes clientes da construção civil, que precisam adquirir produtos de empresas
que tenham selo de qualidade.
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Destaque-se, ainda, que contemporaneamente há uma preocupação crescente do consumidor
com o meio ambiente. Nessa perspectiva, os consumidores têm preferência por empresas que
adotam práticas sustentáveis. Todavia, esse comportamento não foi constatado nos clientes da
empresa analisada, segundo o entrevistado.
5. Considerações finais
A partir dos resultados, pôde-se constatar que a implementação das práticas de logística
reversa além de atender exigências normativas, como a ISO 9000, resulta numa redução de
custos e, consequentemente, na redução do preço final dos produtos para os clientes da
empresa, e do impacto ambiental com a destinação correta dos resíduos. Verificou-se,
também, que a logística reversa melhora a imagem corporativa, aumenta a satisfação do
cliente e a competitividade da empresa.
Uma grande vantagem encontrada na empresa, após a implementação das práticas de logística
reversa, foi o ganho de eficiência na gestão de seus resíduos. Outro aspecto positivo
constatado foi a preocupação da empresa de armazenar o pó do vidro gerado nos seus
processos de beneficiamento, e seu interesse de dá uma destinação adequada para esse
material. Nesse sentido, a empresa deveria recolher também os resíduos vítreos dos seus
clientes e dá uma destinação correta.
Note-se que, inicialmente, a logística reversa foi implementada na empresa analisada, não
apenas pela preocupação com o meio ambiente, mas pela possibilidade de obter ganhos
econômicos, melhoria na imagem corporativa e a satisfação dos clientes. No entanto, a
empresa logo percebeu que a logística reversa proporciona diversos benefícios.
Por fim, vale ressaltar que cada vez mais as empresas estão percebendo as vantagens que as
práticas de logística reversa pode proporcionar, e estão a implementando, não apenas por
exigências legais ou pela cobrança do mercado, mas pelos benefícios econômicos e melhorias
que esta pode trazer para seus processos. Não obstante, para a empresa obter bom êxito, é
imprescindível uma boa administração da logística reversa.
Na empresa em questão, a logística reversa implementada corretamente, pode proporcionar
muito mais benefícios, além dos já alcançados como redução de custos e melhoria da imagem.
Entretanto, para isto ocorrer, é necessário fazer um mapeamento e formalização dos processos
de beneficiamento da empresa, fazer adaptações nos processos e a sistematização dos fluxos
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de resíduos e o seu reaproveitamento, pois assim, será possível ter uma visão de todo o
processo, sanar as falhas e tornar os processos mais eficiente.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) pelo apoio financeiro concedido que subsidiou o desenvolvimento desse
trabalho, e à empresa Casas Bandeirantes Ltda.
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