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O uso dos atributos, como vimos anteriormente, prendia-se com a necessidade de
identificar as personagens religiosas perante um público, na sua maioria, analfabeto.
Inicialmente, podem ser encontrados os nomes dos respetivos santos inscritos na
auréola ou numa filactera (espécie de legenda explicativa, na base da figura). Todavia,
o uso de sinais ou símbolos, tal como era tradição nas religiões pagãs, provou-se
muito mais eficaz, tendo sido com o tempo, mais aceite.
O Santo era, então, individualizado pelo aspeto físico, pelas roupagens, armas,
animais ou outros símbolos que se relacionassem com a sua história.
Podemos distinguir a figura santa por dois aspetos:
- as suas características – aspeto físico e indumentária;
- os seus atributos – elementos de vários tipos que se relacionam geralmente com a
sua condição, profissão, história de vida ou de martírio.
Na generalidade dos casos, o aspeto físico é mais ou menos estandardizado e com
poucas variações:
- as feições tendem a ser equilibradas, de silhuetas esguias e aspeto algo frágil, como
forma de sugerir a vida de ascetismo (com algumas exceções, como São Cristóvão,
representado como um homem de aspeto mais atlético);
- a maioria das imagens apresenta-se sã, mas muitas representações demonstram os
santos a sofrer as mutilações dos seus martírios;
- são representados na plenitude da idade, exceto aqueles que morreram em jovens
ou que habitualmente são visto como idosos (como São José e São Jerónimo);
- predominam os tipos físicos europeus, em particular os mediterrânicos;
- as barbas são curtas nos mais jovens e longas nas personagens patriarcais (de notar
que há uma santa que apresenta barba, Santa Wilgeforte, a única exceção à
suavidade caracterizadora dos rostos femininos);
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Imagem 1. Santa Wilgefort crucificada. Escultura em madeira (século XVI, Igreja de Saint
Etiénne em Beauvais – França).
- é raro encontrar santas representadas com cabelos longos visíveis (um dos
exemplos é Santa Madalena);
- é, igualmente, raro encontrar inferioridades físicas e desfigurações (mas,
encontramos São Roque com as úlceras da lepra e Santa Noémia com o pé
deformado em pata de ganso, como exceções à regra).
A indumentária revela-nos algo mais sobre a identidade da imagem, ajudando a definir
alguns aspetos da sua vivência, condição e país de origem do santo em questão, bem
como a posição hierárquica que ocupa dentro da Igreja, se a tiver.
Podemos delinear alguns aspetos gerais:
- aqueles santos dos primeiros séculos do Cristianismo, vestiam-se de modo
convencional, com túnica branca cingida, manto e sandálias;
- os Apóstolos apresentam-se do mesmo modo, mas descalços (segundo motivos
religiosos, induzidos no Novo Testamento);
- um santo que tenha tido actividade militar era representado com as suas armas e
couraças (por vezes, criando anacronismos);
-
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- Anjos e Arcanjos das Milícias Celestes podem surgir representados com armas e
couraças, embora, geralmente, surjam com túnicas brancas;
- a indumentária reflete a condição social, diferenciando um camponês (por exemplo,
Santo Isidro), de um pastor (Santo Vendelin) ou de um rei (São Luís de França);
Imagem 2. São Luís de França oferece a sua coroa e bastão real à Virgem Maria. Vitral do
Coro da Igreja de Santa Eutropia, em Clermont-Ferrand – França.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cl-Fd_Saint-Eutrope-Louis-XIII.jpg?uselang=pt
- os romeiros apresentam-se com o chapeirão, bordão ou cajado (por vezes com
cabaça), uma capa curta (a romeira) e, por vezes, uma concha (da romagem a
Santiago);
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Imagem 3. Menino Jesus Romeiro de Santiago (óleo sobre tela, autor desconhecido,
segunda metade do século XVII; Museu de Aveiro - Portugal).
http://artalongtheages.blogspot.pt/2011/08/aveiro-museu-de-aveiro-parte-2.html
- o halo ou nimbo é usado como símbolo de santidade, dignidade e honra, servindo
para distinguir o santo. Embora geralmente sejam um círculo de luz sobre a cabeça
das figuras de santos, distinguem-se outros: o halo em triângulo (para a Primeira
Pessoa da Santíssima Trindade), o halo cruciforme (para Jesus), o halo dourado (para
as pessoas divinas, como os Anjos, a Virgem Maria e os Santos de primeira ordem) e
o halo branco (para todas as figuras restantes). Por vezes, o nimbo da Virgem Maria é
representado com estrelas (como na pintura seguinte).
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Imagem 4. Jerónimo Ezquerra – A Trindade na Terra (óleo sobre tela, c. 1737, Museu
Carmen Thyssen, Málaga - Espanha)
O pintor faz representar, simultaneamente a Trindade Celeste (Deus Pai, Filho e
Espírito Santo) e a Trindade Terreste (Jesus, Maria e José). É de notar a que o pintor
usou uma variedade de halos, que distinguem as personagens.
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A maioria dos Santos e Santas dedicou-se à vida religiosa e, por isso, aparecem
retratados com as suas vestes eclesiásticas.
Antes de começarmos a explorar as diferentes peças da indumentária religiosa,
convém distinguir clero secular e clero regular.
O clero secular é aquele que é constituído por todos os indivíduos que se dedicam a
actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do
latim «saeculum», que significa «mundo»), na celebração das cerimónias litúrgicas, na
administração dos sacramentos, etc., vivendo entre esta. São sacerdotes que fazem
parte da hierarquia da Igreja. Falamos, por exemplo, de Padres, Diáconos e Bispos.
O clero regular, ou religioso, é aquele que segue uma determinada regra (em latim
«regula»), imposta por uma ordem religiosa. Dentro desta, obedecem a uma
hierarquia e têm títulos próprios e, ao contrário do clero secular, não vivem entre os
leigos, mas em espaços próprios, como os mosteiros, conventos e abadias.
Este movimento do clero regular foi iniciado, pelo ano IV, por Santo Antão e outros
eremitas, que favoreciam uma nova abordagem à vida religiosa. Esta promovia o
ascetismo e a renúncia ao mundano. Assim, de um lado, temos eremitas que se
isolam no deserto e se sujeitam a duras penitências e jejuns; do outro, e sobretudo
pelo território europeu, vemos criarem-se também comunidades de indivíduos
dedicados à religião, que fazem votos de pobreza, obediência e castidade. Surgiram,
assim, os primeiros monges e monjas.
Dentro das ordens religiosas, podemos encontrar quatro tipos:
- monásticas – monges e monjas que vivem em clausura, nos mosteiros (ex.:
Beneditinos, Cartuxos, Clarissas, Cistercienses);
- mendicantes – frades e freiras vivem em conventos e mantêm o apostolado mais
activo junto dos leigos, através de obras de caridade, sobrevivendo de esmolas e
comprometendo-se a viver da pobreza (ex.: Agostinianos, Carmelitas, Dominicanos,
Franciscanos);
- regrantes – formadas exclusivamente por cónegos regrantes (como a Ordem dos
Cónegos Regrantes de Santo Agostinho e a Ordem Premonstratense);
- clérigos regulares – não vivem tão enclausurados como os monges e frades,
mostrando-se mais orientados para a vida comunitária entre os leigos. Participam,
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muitas vezes, das atividades do clero secular, como a liturgia, a educação e a
administração dos sacramentos (ex.: Crúzios, Jesuítas, Teatinos).
a) Vestes do Clero Secular
Podemos afirmar que, nas vestes do Clero prevalece a influência romana, visto que foi
a partir desta sociedade que a Igreja moldou os seus costumes, podendo existir, no
entanto, algumas variantes locais características. Por exemplo, vemos os Apóstolos e
outros Santos vestidos como judeus da época, com uma simples túnica, típica da sua
condição e hábitos locais.
Entre o século I e o século IX, a própria dinâmica hierárquica da Igreja influenciou a
pluralidade das vestimentas dos clérigos. Começando por ser constituída apenas por
padres e diáconos, a hierarquia da igreja rapidamente aumenta, criando as posições
de bispo (no século II), cónego, sub-diácono e arcebispo (século III e IV), Papa
(século V) e, finalmente, cardeal (século IX).
Distinguem-se, entre si, os membros da Igreja e distinguem-se, também, as cores dos
diferentes momentos do ano litúrgico.
No final do século XII, o papa Inocêncio III estabeleceu regras quanto às cores
usadas:
- branco – dias de festa, consagrações, coroações e acontecimentos importantes;
- vermelho – significando sangue, seria usado para a Paixão de Cristo e martírios dos
Apóstolos e outros Santos;
- verde – momentos definidos antes da Quaresma e depois da Santíssima Trindade;
- brocado de ouro – substituía o branco, o vermelho ou o verde;
- violeta e preto – significavam luto, sendo o preto para funerais e missa de defunto e
o violeta para penitência (hoje em dia, o violeta substituíu totalmente o preto).
O cor-de-rosa e o amarelo caíram em desuso e o azul-celeste é usado, sob
autorização da Santa Sé, em Portugal nas Festas da Imaculada Conceição (a 8 de
Dezembro), tido que é a padroeira deste país.
No quadro seguinte, distinguem-se aquelas que são as peças (e respetivas cores,
quando pertinente a diferenciação) usadas pelas diferentes figuras dentro da
hierarquia do clero secular.
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Quadro-síntese: Vestes usadas pelo Clero Católico
Padre Bispo Arcebispo Cardeal Papa Cónego Diácono
Subdiácono (hoje já não
existem)
Sotaina Preta
Vermelha ou preta debruada a púrpura
Vermelha ou preta debruada a púrpura
Vermelha ou preta debruada
a vermelho
Branca Preta Preta Preta
Barrete (hoje em desuso)
Preto Púrpura Púrpura Vermelho Branco Preto Preto Preto
Tiara (Processi
onal)
Sobrepeliz (hoje em desuso)
● ● ● ● ● ● ● ●
Pluvial ● ● ● ● ●
Murça Púrpura Púrpura Vermelha
(Orla de arminho)
veludo vermelho
Amicto (hoje em desuso)
● ● ● ● ● ● ● ●
Alva ● ● ● ● ● ● ● ● Cinto ● Púrpura Púrpura Vermelho Branco ● ● ●
Manípulo (hoje em desuso)
● ● ● ● ● ● ● ●
Estola ● ● ● ● ● ● ●
Tunicela ● ● ● ●
Dalmática ● ● ● ● ●
Casula ● ● ● ● ● ●
Sandálias ou Sapatos com fivela (hoje sem
obrigatoriedade) ● ● ● ●
Meias ● ● ● ●
Luvas (hoje em desuso)
● ● ● ●
Mitra Branca Branca Branca Litúrgica
Pálio Branco Branco
Cruz Peitoral ● ● ● ●
Anel Pontifical ● ● ● ●
Báculo ● ● ●
Capa Magna ● ● ● ● ●
Racional Alguns bispos apenas
Solidéu Preto Púrpura Púrpura Vermelho Branco Preto c/ borla de
cor
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(retirado de TAVARES, Jorge Campos – Dicionário de Santos. Porto: Lello Editores, 2004, pp168-
169.)
Estas peças têm origens diferentes, algumas romana (como a alva ou o pálio), outras
grega (como a mitra e a dalmática), absorvendo uma ou outra influência dos povos
invasores (bárbaros). No entanto, no geral, as vestes eclesiásticas derivam, na sua
essência, do traje romano clássico, começando por ser um traje civil comum, embora
de uso mais formal, tendência que persistirá, guardando-se as roupas mais «finas»
para aparecer com aprumo perante Deus.
Podem consultar a descrição e função de cada peça no nosso Glossário.
b) Vestes do Clero Regular
Os hábitos da maioria das Ordens refletem os seus votos, mostrando-nos um figurino
modesto, mas digno, que imita os humildes do seu tempo. Assim, as vestes do clero
regular é um traje de grande simplicidade, variando em corte e formas, de acordo com
a Ordem a que pertence, e consistindo somente num escapulário e um capuz.
Os Abades e as Abadessas recebiam, com a bênção do bispo um anel e uma cruz
peitoral, significando o seu cargo. Aos Abades era, ainda, atribuído um báculo.
Vamos, então, analisar brevemente os hábitos das principais ordens religiosas:
- Beneditinos – chamados de «monges negros», porque vestiam um hábito de lã
preta, por tingir; o hábito tinha mangas e capeirote com capuz e calçavam sapatos e
meias;
- Ordem de Cister – o hábito era igual ao dos Beneditinos, inicialmente em castanho,
depois passou a branco ou cinzento com escapulário castanho e evoluiu para um
hábito branco com escapulário preto;
- Cartuxos – inicialmente usavam hábitos grosseiros e uma camisa de esparto (um
arbusto que servia para fazer cordas e esteiras), mas hoje vestem-se com sarja
branca;
- Agostinhos – os Frades Eremitas Agostinhos vestiam cinzento; os Cónegos
Regulares de Santo Agostinho usavam roqueta sobre sotaina preta e uma capa preta
com capuz; os Cónegos Regulares (ordem fundada por São Norberto) usavam branco;
os Gilbertinos (fundados por São Gilberto) usavam um hábito preto com capa branca;
os Cónegos Regulares de Santo Antão usavam um hábito preto com uma cruz branca
em forma de tau (Τ ou τ); e, finalmente, os Cónegos Regulares da Santíssima
Trindade ou frades trinitários tinham um hábito branco, com cruz azul e vermelha e
capeirote e chapeirão negros;
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- Ordens dos Frades Menores (Franciscanos) – o hábito era cinzento, agora é
castanho, com capuz e cinto de corda com três nós (símbolo dos três votos: pobreza,
castidade e obediência), e geralmente, descalços ou com sandálias;
- Ordem dos Pregadores (Dominicanos) - vestindo apenas lã, os seus hábitos são
brancos, com capa e capuz brancos ou capa e capeirão em preto; até ao século XIII
usavam roqueta, mas esta foi substituída pelo escapulário (em preto);
- Frades Menores Capuchinhos (Franciscanos Reformados) – vestem-se como os
Franciscanos, embora o capuz seja mais longo, andam descalços ou quase descalços
e usam barba;
- Irmãos de Nossa Senhora do Monte Carmelo (Carmelitas) – é uma ordem
mendicante cujo hábito é variante: originalmente, usavam túnica cintada, escapulário e
capuz pretos, castanhos ou cinza; a capa tinha listas verticais pretas e brancas; hoje
usam o hábito castanho com capa branca;
- Sociedade de Jesus (Jesuítas) – sem hábito próprio definido, começaram por usar
a sotaina preta e barrete ou chapéu, tal como os padres seculares de Espanha da sua
época; a única imposição era reflectir na sua indumentária o voto de pobreza e os
usos locais.
c) Ordens Militares
Em continuidade do espírito das Cruzadas, surgiram, ainda, as Ordens Militares –
freires guerreiros que defendiam a sua religião através da participação activa na
Guerra Santa.
As mais representativas em território nacional são as seguintes:
- Templários (Milícia de Jesus Cristo ou Irmãos Soldados Pobres de Jesus) –
herdam o nome da primeira localização da ordem, que terá sido junto ao Templo de
Salomão, daí serem conhecidos como a Ordem do Templo. O seu hábito foi fixado em
1228, no Concílio de Troyes: hábito branco com duas cruzes vermelhas (uma sobre o
peito, outra no manto, do lado esquerdo).
- Hospitalários (Ordem de São João de Jerusalém) - também conhecidos por
Ordem do Hospital, mais tarde: Ordem de Rodes e Ordem de Malta; usavam manto
negro com cruz branca. Substituiram, em 1248, o manto por um capote (que não
interferia com os movimentos em combate), e passaram a poder usar um pelote negro,
com cruz branca sob as armaduras. Uma década depois, o pelote passou a vermelho
e a cruz assimiu as formas hoje conhecidas da Cruz de Malta (oito pontas).
- Ordem de Alcântara (ou Calatrava) – era uma ordem espanhola e vestiam-se como
os Cistercienses, de hábito branco, e com armas negras.
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- Ordem de Sant’Iago da Espada – hábito branco com cruz floretada em vermelho (o
ramo inferior da cruz assemelhava-se, geralmente, a uma espada, mas a da Ordem
portuguesa tinha as quatro pontas floretadas).
- Ordem de São Bento de Avis – foi fundada por D. Afonso Henriques e usavam
hábito branco com escapulário negro e com capelo. Eventualmente, o capelo foi
substituído por uma cruz verde floretada.
- Ordem de Cristo – consistia o ramo português dos Templários, que D. Dinis
converteu quando da perseguição aos mesmos. Mudaram a cruz: pateada com uma
cruz branca sobreposta, hoje conhecida como símbolo nacional português.
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3. .
Ao longo deste capítulo, vamos explorar os atributos e simbologia associados a alguns
dos Santos e Santas mais representados.
Como mencionado antes, uma forma de reconhecer os Santos é através das suas
vestimentas, aparência geral e símbolos por que estão rodeados. Assim, na imagem 1
(abaixo), podemos identificar os elementos seguintes:
- hábito religioso,
- figura do Jesus Menino no seu regaço (identificado pelo globo na mão),
- e açucena, (símbolo de pureza).
Poderemos, então, concluir que se trata de Santo António porque sabemos de
antemão serem estes os seus atributos e características (era franciscano, logo usava
hábito religioso).
Imagem 1. Santo António. Relevo na torre sineira da Igreja de Santo António, em Lviv.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Church_of_Saint_Anthony,_Lviv_(relief_on_bell_tower).j
pg
É de notar que, por vezes, as imagens são ambíguas, não permitindo uma leitura tão
breve e facilitada, seja porque são de origem mais obscura, porque os atributos estão
em falta, ou porque foram mal representados, até. É aqui que ressalta a importância
das fontes gráficas e escritas (a par com o conhecimento de alguns dados do historial
da peça ou local onde se encontrava).
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Por exemplo, neste caso, o hábito não nos aponta diretamente para pensar que se
trata de uma figura pertencente à Ordem Franciscana, por exemplo. No entanto, por
outro lado, a Criança e a açucena pertencem ao conjunto de atributos que
conhecemos ligados a este Santo, permitindo-nos concluir que se trata realmente de
Santo António.
Antes de vermos com mais atenção, alguns exemplares dos Santos mais relevantes e
as suas representações comuns, vamos, contudo, abordar a representação dos
Quatro Evangelistas.
Estes assumem uma iconografia particularmente rica e diferenciada, pela sua
participação na produção da Bíblia. Assim, ao longo do tempo, podem ser
representados como indivíduos ou como um conjunto, num formato muito interessante.
Observemos a imagem seguinte.
Imagem 2. Tapeçaria de Pieter van Aelst (séc. XVI) – Deus Pai com o os Quatro
Apóstolos (Tetramorphos) (no Museu Nacional das Artes Decorativas, Madrid –
Espanha).http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pieter_van_Aelst_-
_God_the_Father_with_the_symbols_of_the_fourth_apostles_(tetramorphos),_know_as_%22T
he_Trinity%22_-_Google_Art_Project.jpg
Tendo por base os dados que vimos anteriormente, podemos identificar, em primeiro
lugar, Deus na Primeira Pessoa, ao centro, distinguindo o seu nimbo triangular (aponta
para a Santíssima Trindade). Sob essa figura, temos três animais e enfrentando-O, um
anjo. Conhecendo o Novo Evangelho, podemos perceber que Deus Pai está rodeado
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pelos Quatro Apóstolos Evangelistas. Estes, com frequência, surgem representados
não apenas como pessoas ostentando determinados objetos como atributos, mas
como animais (e um Anjo, no caso de São Mateus), orientando-nos para a sua autoria
dos Evangelhos de Cristo.
Assim, esta figuração, a que chamamos Tetramorfo (tetra, do grego: quatro, e morfo,
de morpho, em grego: forma), substituirá a figuração tradicional destes Apóstolos,
salientando a sua importância como Evangelistas.
Imagem 3. Pantocrator Tetramorfo.
http://livroquadrado.blogspot.pt/2013/02/o-homem-merkabah-do-senhor.html
Como podemos observar das imagens 2 e 3, o Tetramorfo é composto por um Anjo,
um Leão, um Touro e uma Águia. Estas representações estão diretamente ligadas ao
Evangelho respetivo de cada Apóstolo.
Assim:
- o Anjo (ou um Homem) representa São Mateus, porque defender a humanidade
de Cristo ao longo do seu testemunho. São Mateus simboliza o Nascimento e deve ser
colocado à direita de Cristo;
- o Leão representa São Marcos, porque começa o seu Evangelho com a previsão
do Baptista («voz que clama do deserto»). Simboliza a Ressureição e fica igualmente
à direita de Cristo;
- o Touro representa São Lucas, que fala do sacrifício de Zacarias, pai de São João
Baptista (o animal escolhido para os sacrifícios era, geralmente, o touro). Além disto,
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fala alargadamente do sacrifício de Jesus na cruz, simbolizando, por isso, a Paixão.
Situa-se à esquerda de Cristo;
- a Águia representa São João, que começa o seu Evangelho no Céu, debruçando-
se sobre o espiritual. Segundo o bestiário, a águia será o único animal que pode olhar
de frente o Sol, que, neste caso, será simbólico da pessoa divina. A Águia é
representada à esquerda, acima do Touro.
Além do Tetramorfo, estes Apóstolos podem surgir simplesmente sentados, a escrever
o seu Evangelho, junto ao seu animal simbólico. Por vezes, o Anjo parece sussurrar
ao ouvido de São Mateus. São Marcos também é representado através de episódios
narrados na Legenda Dourada, como o traslado do seu corpo para Veneza ou o
milagre do escravo, e São Lucas como pintor (imagem 4), aludindo metaforicamente
ao facto de ter sido quem melhor retratou a Virgem nos seus escritos.
Imagem 4. São Lucas a pintar a Virgem Maria. Pintura a óleo de Luca Giordano (c.1650-55,
no Museu de Belas-Artes de Lyon – França).
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Saint_Lucas_painting_the_Virgin-Luca_Giordano-
MBA_Lyon_A55-IMG_0374.jpg
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MUELA, Juan Carmona – Iconografia cristiana. Guia básica para estudiantes. Madrid:
Istmo, 1998.
TAVARES, Jorge Campos – Dicionários de Santos. Porto: Lello Editores, 2014.
http://artalongtheages.blogspot.pt/2011/08/aveiro-museu-de-aveiro-parte-2.html
http://www.christianiconography.info/index.html
http://www.infopedia.pt/$ordens-religiosas-militares
http://www.rtp.pt/arquivo/?tm=38&headline=14&visual=5