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Destino Fortaleza Daniel Silva

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  • Destino

    Fortaleza

    Daniel Silva

  • DANIEL SILVA

    Destino

    Fortaleza

    1 Edio

    So Lus (MA)

    Edio do Autor

    2012

  • Ttulo

    Destino Fortaleza

    Autor

    Daniel Silva

    Reviso

    Luiz Fernando Matos / Donato Silva / Ivo Silva

    Capa e montagem final

    Daniel Silva

    Contato

    Silva, Daniel.

    Destino Fortaleza 1 ed. Maranho: Edio do

    Autor, 2012.

    105p.; e-Book (14x21cm)

    ISBN 978-85-914319-0-8

    1. Fico Cientfica 2. Ufologia I. Ttulo

    xx-xxxxx CDD-B869.3

  • "Toda a histria da cincia tem sido a

    realizao gradual de que eventos no

    ocorrem de forma arbitrria, mas de

    que eles refletem uma certa ordem

    fundamental, que pode ou no ser

    divinamente inspirada.

    Stephen Hawking

  • Destino Fortaleza

    Sumrio

    Prefcio ........................................................................................... 8

    Destino Fortaleza ......................................................................... 10

    1. P na estrada ............................................................................ 12

    2. O calor da noite ........................................................................ 16

    3. O contato .................................................................................. 20

    4. O pedido de ajuda .................................................................... 24

    5. A comunicao mental ............................................................. 30

    6. Planetas irmos ........................................................................ 32

    7. A comunicao mental plena ................................................... 34

    8. Respirando outros ares ............................................................ 36

    9. O sistema solar ......................................................................... 38

    10. O mecnico espacial ............................................................... 40

    11. A viagem no tempo ................................................................. 44

    12. A viagem espacial ................................................................... 50

    13. O homem do passado ............................................................. 54

    14. A misso .................................................................................. 58

    15. Uma cultura superior ............................................................. 62

  • Destino Fortaleza

    16. O futuro da Terra ................................................................... 64

    17. A poluio ambiental .............................................................. 68

    18. A renovao contnua ............................................................. 70

    19. Concluindo a ordem de servio .............................................. 74

    20. O segundo contato da noite .................................................... 78

    21. O dia seguinte ......................................................................... 80

    22. De volta para casa .................................................................. 84

    23. O encontro nas nuvens ........................................................... 86

    24. O exame mdico...................................................................... 90

    25. Duras noites ............................................................................ 94

    26. Um novo encontro .................................................................. 96

    27. Sonho ou realidade ............................................................... 100

    28. Para a posteridade ................................................................ 104

  • 8

    Destino Fortaleza

    Prefcio

    Basta uma rpida pesquisa pela internet para verificar que a

    nossa cincia estima, em bilhes, o nmero de estrelas s na Via

    Lctea. Apesar da tecnologia de deteco ainda ser primitiva,

    plausvel conceber que a maioria dessas estrelas possui planetas

    girando ao seu redor. Comparando com o nosso sistema solar, no

    difcil imaginar, que entre esses planetas devem existir milhares que

    sejam minimamente parecidos com o nosso. Os cientistas j

    confirmaram a presena de vida nos lugares mais inspitos da Terra

    vivendo base de elementos distintos do carbono. Se no fere os

    nossos sentidos, isso necessariamente no quer dizer que algo no

    exista. O que existe alm do espectro visvel da luz? Como seria a

    nossa vida se nos fosse permitido enxergar a radiao ultravioleta ou

    as ondas de rdio? Seria um mundo totalmente diferente! um

    desperdcio de inteligncia, menosprezar a fora divina que move o

    universo acreditar que a vida esteja restrita a um pequeno ponto azul

    na infinitude do universo.

  • 9

    Destino Fortaleza

  • 10

    Destino Fortaleza

    Destino Fortaleza

    Passamos grande parte de nossas vidas acreditando que certos

    eventos nunca ocorrero conosco. Gostamos de pensar que so fatos

    para pessoas com muita sorte ou com muito azar. Destino Fortaleza

    uma dessas situaes que voc sempre sonhou em viver, mas nunca

    acreditou que pudesse ocorrer. Muitos j desejaram estar com uma

    inteligncia superior. Fantasiaram situaes, pensaram em como agir,

    no que perguntar. Imaginaram ser a resposta para todos os seus mais

    ntimos questionamentos. Mas quando se pego de surpresa todos os

    planos vo por gua a baixo. No final de tudo, se que existe final

    para um encontro dessa magnitude, a nica pergunta que se consegue

    fazer : Por que eu?.

  • 11

    Destino Fortaleza

  • 12

    Destino Fortaleza

    1. P na estrada

    Passava um pouco mais das dezoito horas quando cheguei em

    Teresina. Tinha pela frente mais seiscentos quilmetros de estrada e

    precisava chegar a tempo para a reunio em Fortaleza. Era uma noite

    quente e calma. Cortei a cidade procurando um lugar para jantar e

    descansar. Planejava comer alguma coisa leve, dormir e pegar a

    estrada novamente l pelas quatro horas da manh.

    Prximo sada da cidade parei em um posto de gasolina e

    pedi para encher o tanque. Enquanto o frentista fazia o seu trabalho

    fiquei admirando o cu. Era uma noite de lua quase cheia. Era

    possvel deslumbrar sua magnitude, mas seu brilho ainda no era

    total. Com a pouca luminosidade daquela parte da cidade, era

    possvel visualizar centenas de estrelas. Sem o ofuscamento dos

    faris eu podia ver quilmetros de estrada a minha frente.

    Aps abastecer, rodei por mais alguns quilmetros e parei em

    um restaurante de beira de estrada. Pedi um prato feito e enquanto

    comia reparei novamente no cu. As condies de visibilidade da

    rodovia eram muito boas. De repente me deu vontade de continuar.

  • 13

    Destino Fortaleza

    Pensei que poderia parar para descansar somente na Serra de

    Tiangu. Seriam mais trezentos quilmetros. Meu relgio marcava

    dezenove horas e quarenta minutos. Eu chegaria a Tiangu por volta

    da meia noite, descansaria, sairia s seis da manh e chegaria a

    Fortaleza a tempo de participar da reunio. Realmente era uma boa

    ideia! Dei uma boa alongada no esqueleto, entrei no carro e parti em

    direo a serra.

    Olhei para o relgio do carro. J estava rodando h quase trs

    horas. Ao longe, l no alto, j era possvel observar as luzes da

    cidade de Tiangu. Parei num posto de gasolina. Enquanto abastecia,

    perguntei ao frentista onde poderia conseguir um quarto para passar a

    noite. Ele me deu algumas indicaes e comeamos a falar sobre a

    descida da serra, sobre as atraes tursticas e ficamos quase trinta

    minutos jogando conversa fora. Agradeci a presteza e fui para a

    estrada encontrar uma das indicaes fornecida por ele para passar a

    noite.

    A estrada, o cu, tudo continuava tranquilo e calmo. Quando

    me dei conta, estava saindo da cidade e descendo a serra. Parei num

    ponto seguro do acostamento, verifiquei o celular e percebi que ainda

    tinha sinal. Enviei uma mensagem para minha esposa informando

  • 14

    Destino Fortaleza

    que estava tudo bem. E tambm uma para um colega de trabalho

    informando-o que estava perto de Fortaleza e que iria chegar a tempo

    para a reunio. Pensei em voltar para procurar o hotel informado,

    mas de repente me veio quela voz na cabea dane-se!. Decidi

    continuar e chegar logo em Fortaleza. Seriam mais quatro ou cinco

    horas de estrada. Eu iria chegar l pelas seis horas, faria o check-in

    no hotel e dormiria at o horrio da reunio. Foi mais uma brilhante

    sacada da minha parte.

    Desci a serra; o trnsito era quase inexistente. Na BR1 um ou

    outro veculo cruzava o meu caminho. Depois de uma hora de

    estrada cheguei cidade de Sobral. Parei num posto de gasolina e

    indaguei ao frentista sobre as condies da estrada. Na semana

    passada, um amigo que havia feito o mesmo trajeto, me falou que a

    rodovia aps a cidade de Sobral estava intransitvel. O frentista

    confirmou a informao e disse que era melhor eu transitar pelas

    estaduais, pois apesar da distncia ser maior, o tempo final seria o

    mesmo, j que elas estavam em melhores condies. Aceitei o

    conselho, cruzei a cidade e continuei a viagem evitando as rodovias

    federais.

    1 Prefixo de identificao de rodovias federais no Brasil.

  • 15

    Destino Fortaleza

    Tudo indicava que seria uma noite tranquila e montona,

    principalmente porque era domingo. A estrada estava realmente em

    boas condies e eu conhecia bem o trajeto, ento era possvel curtir

    a viagem sem muitas preocupaes. Passei por vrios povoados e

    cidadezinhas beira da estrada. Dificilmente avistava-se alguma

    alma viva nas ruas. No se via nem mesmo animais na estrada.

    Pouqussimos veculos cruzavam o meu caminho. Era uma calmaria

    estranha como se anunciasse algo por vir.

  • 16

    Destino Fortaleza

    2. O calor da noite

    Sobral j estava h uma hora para trs. A noite continuava

    calma e o cu mais limpo que antes. A lua ainda clareava a estrada.

    Havia copiado para o MP32 do meu carro mais de duas mil msicas,

    dos mais variados ritmos. Essa variedade de gneros musicais me

    ajudava a manter a ateno na estrada. Num momento estava

    curtindo o Rei Roberto, no outro a Volta de Leidiane3.

    A noite continuava quente, olhei para a margem da estrada,

    para o lado do passageiro e vi aquele mormao sobre a copa das

    rvores. Era mais uma noite quente como outra qualquer! Continuei

    dirigindo e pensei: minha frente, a infinita highway. Foi uma

    coincidncia interessante, pois nesse exato momento comeava a

    tocar Engenheiros do Hawaii. Olhei para a lateral da estrada e l

    estava aquele mormao novamente. Era possvel ver as estrelas

    danando sob as ondas de calor. Naquele momento rezava para o ar

    condicionado do carro no quebrar novamente.

    2 Padro de compresso de udio. 3 Musica do gnero musical Brega interpretada pelo cantor Jlio Nascimento.

  • 17

    Destino Fortaleza

    De repente me veio memria as aulas de fsica do meu curso

    tcnico de uns oito anos atrs. Comecei a lembrar das minhas

    viagens anteriores e alguma coisa me incomodava. O mormao

    geralmente s visvel quando voc olha para uma fonte de calor. Na

    estrada isso ocorre quando voc olha para o asfalto quente. Mas na

    copa das rvores, o que estaria acontecendo? Poderia ser um

    incndio, mas onde estavam a fumaa e o claro das chamas?

    A viso minha frente estava limpa. Olhei ao meu redor e

    aquelas ondas de calor estavam apenas em uma rea minha direita,

    sobre a copa das rvores. Para meu espanto, o mormao parecia que

    estava se movimentando junto com o carro a poucos metros de

    distncia da estrada.

    Reduzi a velocidade e aquela imagem fantasmagrica, sem

    forma definida, continuava a se movimentar e a se distanciar do

    veculo como se nada estivesse ocorrido. Acelerei e me mantive um

    pouco atrs do mormao.

    No sei como definir meus sentimentos naquele momento. Era

    um misto de curiosidade e medo. A apreenso era enorme. Era um

    olho na estrada e outro naquela imagem para no perder seu

  • 18

    Destino Fortaleza

    paradeiro. Nas curvas da rodovia era possvel perceber que o

    mormao traava uma linha reta, pois ele se afastava e se aproximava

    na mesma proporo em que se sucediam as curvas.

    Num piscar de olhos no consegui mais visualizar aquela

    anomalia. Imediatamente parei o carro, desci e fiquei vasculhando o

    cu sua procura. Depois de alguns minutos de olhar atento, tive a

    certeza que o mormao, ou seja l o que fosse aquilo, estava parado

    sobre a copa das rvores, um pouco frente da posio em que eu me

    encontrava.

    Neste momento, no me restou qualquer dvida, que eu

    presenciava a ocorrncia de um fenmeno que no correspondia a

    qualquer lei natural conhecida. Vrias ideias passavam pela minha

    cabea, mas eu no conseguia determinar o que estaria produzindo

    aquela situao misteriosa. Olhei nos dois sentidos da estrada

    esperando que viesse algum veculo, algum que pudesse me ajudar a

    compreender o que estaria acontecendo. Ao longe vi faris, pareciam

    ser de um utilitrio. Fiz sinal, mas o veculo no parou. A luz alta

    ofuscou a minha vista e o carro passou to rpido que nem consegui

    identificar o modelo.

  • 19

    Destino Fortaleza

    Procurei me acalmar. Esqueci a estrada e voltei toda a minha

    ateno para a copa das rvores. No era possvel determinar a forma

    nem as dimenses, mas tive a certeza, naquele momento, que se

    tratava de algo de grandes dimenses.

    Pensei em voltar para o carro e deixar aquele local o mais

    rpido possvel, mas alguma coisa me incomodava e no me deixava

    partir. Conclu que estava ocorrendo algo de muita importncia que

    certamente iria mudar a minha vida para sempre.

  • 20

    Destino Fortaleza

    3. O contato

    Fiquei ali, parado, olhando e esperando por algo que eu nem

    imaginava o que poderia ser. Em um determinado momento, a

    anomalia ficou opaca e escura. Naquela noite clara, era como se

    algum tivesse pendurado um quadro negro no cu. A mancha negra

    desceu lentamente e foi possvel perceber que ela estava descendo

    por detrs das rvores. Quando a metade da mancha j se encontrava

    oculta, um claro azul esverdeado iluminou a mata.

    Nesse momento me dei conta que a mancha, na verdade,

    tratava-se de um objeto slido, aparentemente preto. Ele continuou

    descendo at desaparecer totalmente em meio mata quando o claro

    cessou.

    Fiquei mais algum tempo parado tentando entender o que tinha

    acontecido. Pensei em ir embora, mas a curiosidade falou mais alto.

    Entrei no carro, liguei o farol e percebi uma rea descampada fora do

    acostamento, um pouco mais frente. Parei o carro naquele local,

    abri o porta-luvas e peguei uma lanterna de LED4, igual quelas

    4 Iluminao a base de Light Emitting Diode (Diodo Emissor de Luz).

  • 21

    Destino Fortaleza

    utilizadas pela polcia. Desci do veculo, tranquei as portas e segui

    caminhando na direo do local onde o objeto supostamente havia

    descido.

    Depois de algum tempo sentindo, nos braos, os arranhes

    produzidos por espinhos, galhos resvalando no rosto e tocos de

    madeira a me ferir a canela, cheguei borda de uma clareira onde

    percebi que o objeto havia aterrissado.

    minha frente era possvel perceber aquela luz azul

    esverdeada, que embora visvel, era bem fraca. Apaguei a lanterna,

    caminhei mais um pouco e me deparei com o objeto a alguns metros

    de distncia. Era uma espcie de nave. Apresentava uma estrutura

    metlica brilhante. Sua cor lembrava alumnio polido, s que numa

    tonalidade bem mais escura.

    O aparelho era sustentado por estruturas com articulaes que

    lembravam trens de pouso, mas sem as rodas. A luz azul esverdeada

    emanava da sua parte inferior e de uma fina faixa na altura do centro.

    Aparentemente era redonda e lembrava pratos sobrepostos com uma

    pequena cpula na parte de cima. Comparando suas dimenses eu

  • 22

    Destino Fortaleza

    diria que ela tinha o mesmo tamanho de um desses nibus

    interestaduais de dois andares.

    Na parte inferior existia uma porta aberta da qual saa uma

    escada sem corrimo que descia at o cho. Parecia ser feita de uma

    nica pea de metal, do mesmo material da nave. No era possvel

    identificar nenhuma janela ou escotilha. No possua inscries ou

    qualquer tipo de desenho que pudessem fornecer alguma pista a

    respeito da sua origem. Tambm no consegui identificar, em sua

    estrutura, a existncia de algum tipo de dispositivo propulsor que

    justificasse sua capacidade de voar. E apesar de aparentemente estar

    ligada, no emitia nenhum som audvel.

    Inicialmente pensei que aquele aparelho era algum tipo de

    equipamento destinado a fins militares. Diversas vezes tentei resistir

    a curiosidade. Tudo indicava que aquela poderia ser uma situao

    muito perigosa, mas algo dentro de mim dizia para continuar.

    De dentro da nave vinha uma luz branca azulada bem fraca.

    No era possvel identificar sua fonte. Comecei a caminhar em

    direo quela luz como se estivesse hipnotizado por ela. O ar em

    volta da nave tinha um aspecto incomum. Ela parecia estar envolta

  • 23

    Destino Fortaleza

    por uma fina e transparente nvoa. Enquanto caminhava em direo

    ao objeto, sentia todos os pelos do meu corpo oscilarem como se o

    ambiente estivesse magnetizado.

    Ao me aproximar mais um pouco da nave percebi, devido a sua

    conformao, que certamente no era de origem terrestre. No

    possua nenhuma caracterstica aerodinmica que indicasse que

    pudesse sair do cho. E acima de tudo tinha a capacidade de se tornar

    praticamente invisvel.

  • 24

    Destino Fortaleza

    4. O pedido de ajuda

    No sabia bem o que iria fazer quando de repente olhei para

    baixo e vi, a alguns metros de mim, uma pessoa deitada ao cho.

    Estava prximo escada da nave, apoiada em um tronco apodrecido.

    Imaginei que estivesse com alguma dificuldade e necessitava de

    algum que pudesse lhe fornecer ajuda.

    Continuei caminhando em direo a ela, quando ento a pessoa

    levantou a cabea e olhou em minha direo. Instintivamente eu

    parei. Estava congelado com a viso. Vi que no se tratava de uma

    pessoa. Era algo muito semelhante a um ser humano, mas

    nitidamente no era um membro da raa humana.

    O Ser era de baixa estatura, magro, de cabea grande,

    desproporcional ao corpo, para os padres humanos normais. Tinha

    olhos escuros e grandes. Boca e nariz pequenos. Mos com apenas

    quatro dedos.

    Trajava uma roupa cinza claro, bem justa ao corpo. Num dos

    braos existia, como se fizesse parte da vestimenta, um dispositivo

  • 25

    Destino Fortaleza

    retangular com tela escura, que lembrava, primeira vista, as telas de

    LCD5, na qual apareciam smbolos vermelhos se alternando.

    Na altura do pescoo saiam tubos da roupa, dos dois lados, que

    se ajustavam ao contorno do rosto e terminavam um pouco abaixo do

    que parecia ser o nariz daquela criatura.

    Ficamos parados, um olhando nos olhos do outro. O Ser, ento,

    colocou a mo sobre o dispositivo como se fosse comandar alguma

    coisa. Permaneci parado, abri lentamente as mos, mostrei as palmas

    e disse a ele que s queria ajudar. O Ser continuou parado, me

    olhando e com uma das mos sobre o dispositivo que continuava

    alternando smbolos vermelhos.

    Falei para ele que se no precisasse de ajuda, bastaria sinalizar

    de alguma forma que eu iria embora sem causar qualquer tipo de

    problema. Ele retirou a mo do dispositivo e apoiou melhor o corpo

    sobre o tronco de madeira demostrando sinais de forte cansao, mas

    no falou nada. Virei-me lentamente e comecei a caminhar de volta

    para a mata. Comeava a achar que no era uma boa ideia ficar ali e

    deveria voltar para a estrada o mais rpido possvel.

    5 Tela a base de Liquid Crystal Display (Display de Cristal Lquido).

  • 26

    Destino Fortaleza

    Mesmo estando de costas para aquele Ser, pude ouvir

    claramente: No v, eu preciso da sua ajuda. Um calafrio

    mortal perpassou todo o meu corpo.

    Sabe quando voc escuta algum som? Geralmente se tem a

    noo de onde ele vem! Mas aquelas palavras, eu tinha certeza, no

    provinham de lugar algum. Elas simplesmente surgiram dentro da

    minha cabea. Sabe aquela situao em que voc pensa alto? Foi

    uma sensao estranha como se existisse algum falando dentro da

    minha cabea.

    Fiquei parado, congelado, sem saber o que fazer. Deu vontade

    de correr, mas minhas pernas no respondiam. Novamente escutei:

    Por favor, volte. Eu preciso da sua ajuda. Eu no irei lhe fazer

    nenhum mal.

    Parei, respirei fundo e me virei lentamente. O Ser continuava

    deitado no cho. Tomei coragem e comecei a caminhar em sua

    direo. Ele me olhou nos olhos e mesmo sem nenhum movimento

    de sua boca as palavras comearam a surgir dentro da minha cabea.

  • 27

    Destino Fortaleza

    Disse que sua nave havia apresentado uma pane que

    comprometeu o sistema interno de sustentao de vida e que por esse

    motivo teve que fazer uma aterrissagem de emergncia naquele local.

    Comentou tambm que necessitava da minha ajuda para

    reparar a nave e voltar ao espao, pois no estaria em condies de

    corrigir o problema sozinho por estar seriamente debilitado.

    Parecia que as coisas estavam ocorrendo em cmera lenta. Eu

    me via dentro de um filme de fico, porm, sem ter a mnima ideia

    do enredo e se teria um final feliz ou no. Essa situao estava me

    deixando muito confuso.

    O som parou, as palavras desapareceram, levei algum tempo

    para digerir a mensagem. Ento, olhando para aquela criatura deitada

    minha frente respondi: T bom! Eu posso te ajudar, mas antes

    eu quero saber como possvel te escutar mesmo sem voc mexer

    qualquer msculo?. Completei dizendo que s o ajudaria se

    soubesse quem ele era, de onde vinha e o que estava fazendo ali. Ele

    me respondeu afirmando que no tnhamos muito tempo, pois a nave

    estava programada, por questes de segurana, para se autodestruir

  • 28

    Destino Fortaleza

    numa pequena exploso nuclear caso ele morresse, porm disps-se a

    satisfazer a minha curiosidade.

    Ele me contou que vinha de um planeta muito distante, da

    mesma classe do nosso, o qual estaria localizado numa regio do

    espao que ns humanos conhecamos como Constelao de rion.

    Sua presena seria ofuscada pelo brilho de um sistema binrio de

    estrelas no sendo detectvel da Terra. Pelo menos com a atual

    tecnologia terrestre.

    Sua tarefa era observar e enviar, para o seu planeta de origem,

    informaes peridicas sobre os acontecimentos sociais, avanos

    tecnolgicos e condies gerais da Terra.

    Ele seria responsvel, mais precisamente, pela regio do

    planeta conhecida como Amrica do Sul. Disse que sua lngua natal

    era incompreensvel para a nossa raa e que eu poderia lhe chamar de

    Barladell, pois esse seria o som mais prximo do seu nome no meu

    idioma.

  • 29

    Destino Fortaleza

    Olhei fixamente para o cu, tentando compreender toda aquela

    situao e balancei a cabea como se dissesse que estava entendendo.

    Eu no sabia nem onde estava o Cruzeiro do Sul.

  • 30

    Destino Fortaleza

    5. A comunicao mental

    Depois de ouvir suas explicaes perguntei: Mas se sua

    lngua incompreensvel como estamos conseguindo nos

    comunicar?. Ele respondeu: Nossos crebros so muito

    parecidos, ambos funcionam atravs de impulsos eltricos e possuem

    a capacidade de emitir e receber informaes atravs de ondas

    especiais .... E colocando a mo sobre o aparelho em seu brao

    concluiu: ... este dispositivo armazena mais de dois mil idiomas

    falados na Terra. Eu penso, ele traduz e emite ondas que podem ser

    captadas pelo seu crebro. Da mesma forma, quando voc fala, ele

    identifica o idioma, traduz e transforma em ondas que so captadas

    por mim.

    Conforme Barladell, esse tipo de comunicao permitiria um

    entendimento mais amplo de todas as coisas no universo, pois atravs

    da comunicao mental a barreira das palavras seria totalmente

    eliminada. Seria possvel a transmisso no somente de palavras, mas

    de ideias e sentimentos completos de uma forma que a raa humana

    ainda no compreendia.

  • 31

    Destino Fortaleza

    Disse que, se perguntasse, eu no saberia explicar o que

    exatamente estaria sentindo naquele exato momento, mas se eu

    tivesse a habilidade da comunicao mental eu simplesmente lhe

    transmitiria minhas percepes sobre tudo aquilo e o entendimento

    entre ambos seria mtuo e completo.

  • 32

    Destino Fortaleza

    6. Planetas irmos

    Continuou explicando que seu planeta de origem possua

    tempo de rotao, nvel de gravidade, temperatura mdia,

    conformao de superfcie e outros fatores muito parecidos com os

    apresentados na Terra. A principal diferena era a atmosfera que

    possua alguns elementos em propores diferentes. Se algum de

    nossa raa fosse ao seu planeta ele sofreria de dor de cabea, nusea,

    tontura, dificuldade respiratria e fraqueza. O desconforto fsico iria

    piorar gradativamente at lev-lo morte. Os mesmos problemas

    aconteceriam com Barladell na atmosfera da Terra.

    Perguntei ento como ele sobrevivia no nosso planeta. O Ser

    me disse que a sobrevivncia era o motivo da sua aterrisagem. A

    nave possua um sistema que captava a atmosfera do nosso planeta e

    a reestruturava, elemento por elemento, conforme a atmosfera do seu

    planeta. O sistema armazenava a nova atmosfera em recipientes de

    grande presso, ao ponto da atmosfera modificada se liquefazer. Por

    algum motivo, que ele desconhecia, o sistema havia parado de

    funcionar.

  • 33

    Destino Fortaleza

    Quando percebeu a pane ele j estava sentindo os efeitos da

    atmosfera terrestre e mal teve tempo para procurar um local

    apropriado a fim de poder realizar o pouso da nave com segurana.

    Assim que aterrissou, tentou verificar o que poderia ter ocorrido,

    desceu da nave, mas acabou sucumbindo de fraqueza. Foi nesse

    instante que eu apareci.

    Ele estaria sobrevivendo graas a um sistema de emergncia

    que injetava uma determinada composio gasosa diretamente em

    suas narinas que amenizavam os efeitos da atmosfera da Terra e

    permitia que ele sobrevivesse por mais algum tempo.

    Nesse momento lembrei que ele havia falado que a nave estava

    programada para se autodestruir caso ele morresse e perguntei:

    Ento se esse sistema falhar a nave explode e eu vou junto tambm,

    isso mesmo?. Ele respondeu que sim e que eu deveria lhe ajudar a

    corrigir o sistema para que pudesse voltar ao espao e continuar o

    seu trabalho.

  • 34

    Destino Fortaleza

    7. A comunicao mental plena

    Disse a ele que no tinha como ajudar. Eu mal conhecia a

    tecnologia terrestre, como poderia ajudar no caso de tecnologias de

    outros mundos? De repente comecei a ver vultos minha frente.

    Parecia uma pessoa conhecida frente de algumas rvores. Barladell

    me disse para ficar calmo. A imagem ficou mais definida e percebi

    que eu estava vendo a minha prpria imagem.

    Era uma viso estranha como se existisse uma pelcula na

    frente dos meus olhos. Como se eu estivesse deitado ao cho me

    vendo de longe. Levei a mo ao queixo e a imagem repetiu o mesmo

    gesto. Comecei a girar a cabea lentamente para ver o que existia

    atrs de mim. Olhei e reconheci a minha imagem, tendo, s minhas

    costas, as rvores. A me dei conta que esta era a perspectiva de

    observao de Barladell.

    Aquela estranha imagem em minha mente, num instante,

    desapareceu. Voltei a olhar para frente e me aproximei. Barladell

    acrescentou que da mesma forma que os sons eram transmitidos, ele

    tambm poderia transmitir imagens para o meu crebro. Na verdade

  • 35

    Destino Fortaleza

    ele poderia agir em qualquer um dos meus sentidos. Ele poderia tanto

    enviar como receber informaes, ou seja, ele poderia ver o que eu

    via e escutar o que eu escutava. Assim ele me guiaria e orientaria em

    todas as etapas do reparo dos equipamentos da sua nave.

    Perguntei se isso no seria uma forma de controle mental. Ele

    afirmou que no. Seria apenas uma forma mais avanada de

    comunicao a qual a nossa raa aprenderia a utilizar algum dia. E

    quando isso ocorresse, os habitantes do nosso planeta entenderiam o

    quanto so limitadas as palavras. Por isso sua linguagem seria

    incompreensvel para a nossa raa. Porque eles se comunicavam com

    toda a plenitude dos sentidos, expressando ideias e sentimentos

    simultaneamente.

    Disse que essa forma de comunicao j estava presente entre

    ns, mas de forma muito primitiva. Ela se manifestaria

    principalmente entre me e filho naquelas situaes em que a me

    sente o que estaria acontecendo com o filho, mesmo este estando

    longe. Ou entre irmos gmeos, naqueles casos em que mesmo

    separados, eles continuavam em sintonia e conseguiam sentir um ao

    outro.

  • 36

    Destino Fortaleza

    8. Respirando outros ares

    Barladell me pediu que eu entrasse na nave e me movimentasse

    rpido para alcanar o comando principal, pois a nave estaria com a

    atmosfera interna alterada o que fatalmente iria dificultar a minha

    tarefa. Caminhei at a nave e comecei a subir as escadas. Assim que

    coloquei o p dentro da nave senti uma sensao estranha, parecia

    que ele estava mais pesado. Continue em frente, no pare, disse

    Barladell.

    Entrei totalmente na nave. Senti dificuldades de respirar, o

    corpo estava pesado, a vista embaou. Siga para o elevador sua

    frente.

    Comecei a caminhar, mas o esforo era enorme. Cheguei a uma

    porta e ela se abriu automaticamente, deslizando para o lado. Entrei e

    a porta fechou. Era um cubculo pequeno sem nenhum comando

    visvel. De repente a porta abre-se novamente. Eu estava na cpula

    superior da nave que parecia ser de vidro. V para o painel de

    comando.

  • 37

    Destino Fortaleza

    Caminhei at o centro da cpula. At uma espcie de poltrona

    de comando com telas frente num arco de 180 graus. Comecei a

    visualizar uma sequncia de smbolos que pareciam flutuar no ar.

    Procure no lado esquerdo do painel os smbolos que estou lhe

    enviando e toque-os na mesma sequncia.

    Naquele momento j estava me sentindo completamente fraco

    e achava que iria desmaiar, mas consegui fazer o que ele me havia

    solicitado. A nave comeou a vibrar, senti uma brisa suave passando

    por mim. Ento meu corpo ficou leve novamente. Minha viso

    voltou ao normal. No sentia mais dificuldades para respirar.

    Voc experimentou a atmosfera do meu planeta. Ela j foi totalmente

    eliminada da nave agora. Sente-se e descanse um pouco.

    Sentei na poltrona de comando e comecei a admirar o local.

    Era uma sala em forma de cpula, totalmente transparente. Eu tinha

    uma viso de 360 graus do local onde a nave havia pousado. Lembrei

    que do lado de fora no era possvel visualizar o interior da nave.

  • 38

    Destino Fortaleza

    9. O sistema solar

    O painel era formado por uma tela nica de 180 graus que

    exibia diversos smbolos e imagens que pareciam grficos. Do lado

    direito havia uma imagem da Terra, em movimento, com vrias

    linhas coloridas que lembravam um mapa. A imagem era

    extremamente bem definida a tal ponto de dar a impresso que a

    Terra flutuava dentro da tela num efeito 3D que eu nunca havia visto

    antes.

    Ao surgir a imagem do Brasil, foi possvel ver um ponto

    diferenciado piscando exatamente na mesma regio em que

    estvamos. Acho que era a nossa posio. Coloquei a mo sobre o

    globo e a imagem foi se distanciando lentamente. Apareceu a Lua, o

    planeta vermelho, o Sol, a faixa de asteroides, um planeta grande

    com anis contnuos (acho que era Saturno) e um menor com anis

    segmentados.

    Contei seis grandes corpos antes da faixa de asteroides, seis

    depois e vrios pontos minsculos espalhados pelo mapa com

    legendas incompreensveis. Assim como na imagem da Terra,

  • 39

    Destino Fortaleza

    apareciam linhas coloridas interligando planetas e regies do espao.

    As imagens eram incrivelmente ntidas e pareciam estar sendo

    captadas ao vivo.

    O Sol aparecia numa tonalidade amarelada bem fraca, mas era

    possvel visualizar suas labaredas, exploses e arcos magnticos.

    Quando mais a imagem se afastava, mais era possvel ver outros

    planetas, constelaes completas e vrias linhas interligando pontos e

    planetas distantes.

    Naquele momento fiquei deslumbrado com o espetculo

    propiciado por aquela tecnologia aliengena. Assim que tirei a mo

    do painel, a imagem voltou para a posio anterior. Aquilo parecia

    um Tablet gigante. Mas voltei a mim quando a voz de Barladell soou

    forte na minha cabea: Chega de diverso, volte sem demora,

    para a entrada da nave.

  • 40

    Destino Fortaleza

    10. O mecnico espacial

    Retornei para o primeiro andar da nave. Um smbolo apareceu

    na minha frente como se estivesse flutuando no ar. Procurei ao redor

    e o localizei em uma estrutura metlica que parecia ser uma pequena

    porta. Foi s me aproximar que ela se abriu sozinha, deslizando para

    o lado. Correu uma brisa suave. No interior havia uma tela

    fluorescente que emitia uma luz azulada, parecida com luz negra.

    Barladell me orientou a no tocar na tela em hiptese alguma

    ou eu poderia sofrer srios ferimentos. Disse que este era o

    dispositivo que captava e decompunha a atmosfera da Terra. Do lado

    direito, na parte interna do compartimento havia uma tela negra. Ele

    me orientou a toc-la e a pressionar alguns smbolos em sequncia. O

    sistema mostrou diversos smbolos aleatoriamente at parar. Ele

    solicitou que eu olhasse para a tela para que pudesse identificar o

    problema.

    Como eu imaginava. O sistema no est conseguindo

    monitorar o ambiente da nave nem as condies do mdulo de

    correo de atmosfera. A nave j havia apresentado esse problema

  • 41

    Destino Fortaleza

    anteriormente. O elemento de decomposio deve estar saturado

    ento temos que retir-lo para uma limpeza.

    Toquei mais algumas sequncias na tela e a estrutura

    fluorescente inclinou-se para fora do compartimento. Na parte

    superior existiam alas pretas. Eu a puxei para fora e foi possvel

    olhar o interior do compartimento. Uma parte da parede interna era

    transparente. Assim como a cpula de comando. Era possvel ver

    Barladell deitado no cho, fora da nave. Uma brisa suave entrava na

    nave como se a parede no existisse.

    Parei por alguns instantes e fiquei observando o interior da

    nave. No era uma tecnologia to distinta da nossa. Na verdade eu s

    conseguia ver o corredor que parecia rodear a estrutura central do

    objeto. Ele era ladeado, at meia altura, por estruturas tubulares de

    vrios dimetros e cabos que brilhavam em vrias cores como se

    existisse luz passando em seus interiores da mesma forma que ocorre

    com a fibra tica.

    O piso possua ressaltos antiderrapantes e era nitidamente

    encaixado sobre uma primeira estrutura. O teto era liso e tinha no

    mximo dois metros, pois era possvel toc-lo. Uma linha pontilhada

  • 42

    Destino Fortaleza

    de luz seguia ao longo do teto como se fosse parte integrante do

    mesmo no sendo possvel notar qualquer encaixe.

    Acima dos tubos e cabos existiam painis pequenos idnticos

    aos da cabine de comando. Uns com smbolos piscando e outros

    totalmente apagados. Com exceo da porta de acesso ao elevador,

    que levava ao comando principal, no consegui identificar mais

    nenhuma passagem para outras reas da nave.

    O que tambm me causou grande surpresa foi o fato de eu no

    ter conseguido identificar, pelo menos visualmente, a existncia de

    elementos de fixao. No consegui perceber porcas, parafusos,

    rebites, soldas ou quaisquer outros artifcios que justificasse a coeso

    das estruturas.

    Conforme as orientaes recebidas, levei a pea para fora e

    depositei-a no cho. Olhei para a nave e no conseguia ver a abertura

    por onde entrava o ar. Barladell me disse que deveramos esperar at

    a tela perder o campo eletro-inico. S poderamos efetuar a limpeza

    quando a fluorescncia cessasse totalmente.

  • 43

    Destino Fortaleza

    Voltei a olhar novamente para a nave a procura da abertura de

    ventilao. Acho que imaginando o que eu estava pensado

    completou: uma liga especial. um elemento metlico com

    estrutura molecular parecida com a do vidro. De um lado ele

    transparente e do outro, opaco. Dependendo do campo magntico

    que atue sobre ele, pode tornar-se permevel tambm.

  • 44

    Destino Fortaleza

    11. A viagem no tempo

    Barladell, com muito esforo, se levantou um pouco e ficou

    sentado, encostado no tronco de madeira. Eu me sentei ao seu lado e

    indaguei se poderia lhe fazer algumas perguntas enquanto

    espervamos. Ele disse que sim. Perguntei se ele no se incomodaria

    com o questionamento e ele respondeu: No! Afinal quem vai

    acreditar em voc, no mesmo?.

    Minha cabea fervilhava com dezenas de perguntas, mas eu

    no conseguia me fixar em nenhuma. No sei o porqu, mas comecei

    a lembrar dos filmes De Volta Para o Futuro e O Exterminador do

    Futuro e perguntei: possvel viajar no tempo? O seu povo viaja

    no tempo? e ele respondeu que sim e no.

    Continuou dizendo que sim, era possvel, mas no da forma

    como eu imaginava, no da forma como mostravam nos nossos

    filmes. O tempo seria um componente csmico relativo formado pelo

    passado, presente e futuro.

  • 45

    Destino Fortaleza

    Ele afirmou que o passado seria uma linha imutvel que ficava

    registrada no tecido csmico. No poderia ser alterado, mas poderia

    ser acessado e visualizado como se fosse um filme gravado. Ao se

    voltar ao passado no seria possvel saber tudo o que ocorreu naquele

    tempo, pois o retorno estaria condicionado tambm ao espao. Voc

    s conseguiria visualizar aquele espao-tempo especfico.

    A volta no tempo requereria muita energia. Com toda a energia

    produzida na Terra, Barladell afirmou que s conseguiramos voltar

    alguns milhares de anos no passado. Disse tambm que mesmo

    voltando no espao-tempo o presente continuaria andando. Ento

    para visualizar dez anos no passado perderamos dez anos do

    presente.

    O retorno tambm deveria ser cuidadosamente calculado, pois

    se estaria retornando no tecido csmico e no na histria de um

    determinado planeta ou de um determinado local. Se voltssemos um

    dia no passado no iramos visualizar a posio presente em que

    estvamos na Terra, mas na posio que estvamos no tecido

    csmico, ou seja, ns visualizaramos o espao, outro planeta, ou at

    mesmo o interior de algum corpo celeste qualquer.

  • 46

    Destino Fortaleza

    A movimentao no espao pertencente ao passado era

    possvel, mas requereria mais energia ainda. As civilizaes que

    possuam capacidade energtica para retornar ao passado, no

    enviavam seres, mas sondas com sistemas de gravao que seriam

    recuperadas no futuro.

    Seria possvel, tambm, retornar ao passado atravs da conexo

    frequncia dos seres que existiram em pocas passadas. Cada ser

    vibra em uma determinada frequncia e sua existncia tambm

    ficaria gravada no tecido csmico por um longo perodo. Essa forma

    de retorno tambm seria limitada pelo espao-tempo, pois s seria

    possvel voltar ao espao-tempo ocupado pelo ser em questo.

    Essa forma de retorno no requereria muita energia, mas s

    ocorre quanto o ser do presente possui frequncia muito prxima ao

    do ser do passado. Os seres que conseguem essa conexo, mesmo

    que involuntria, so conhecidos na Terra como reencarnados.

    O futuro seria um emaranhado de linhas de possibilidades. Ele

    estaria aberto, frente do passado, como um leque de realidades

    possveis. Quanto maior o ngulo de abertura, menor a possibilidade

    de concretizao. As linhas de possibilidades se quebrariam, se

  • 47

    Destino Fortaleza

    ramificariam, surgiriam e desapareceriam pelas decises e interaes

    entre os seres.

    Quando um ser toma uma deciso, ele cria milhares de linhas

    de possibilidades no seu futuro. Essas linhas se cruzariam com as

    linhas de outros seres e formariam uma teia csmica de

    possibilidades futuras. As linhas de possibilidades no teriam

    comprimento infinito. O final de uma linha, naquela realidade,

    determinaria a final da existncia do ser.

    A teia csmica de possibilidades futuras seria altamente

    mutvel e mudaria a cada instante, mas uma tendncia central sempre

    estaria presente e poderia ser visualizada. A teia no seria infinita,

    pois s existiriam as possibilidades possveis atravs de alguma

    deciso ou interao. Barladell afirmou que no momento em que eu

    tomei a deciso de entrar na mata para verificar o que tinha ocorrido

    milhares de possibilidades surgiram e milhares deixaram de existir.

    Afirmou ainda que essa teia de possibilidades futuras definida

    pelos nossos cientistas como universos paralelos.

    Diversos meios de se visualizar as linhas de possibilidades

    futuras poderiam ser utilizados. Conforme Barladell, na nossa raa,

  • 48

    Destino Fortaleza

    existiriam diversos indivduos capazes de visualizar mentalmente as

    linhas de possibilidades de outros semelhantes, mas com deficincia,

    pois ainda no havamos desenvolvido a capacidade de determinar

    qual a possibilidade de concretizao de linha e qual as decises ou

    interaes que precisavam ocorrer para que aquela realidade se

    concretizasse.

    No seu futuro, disse ele, existe uma realidade em que voc

    escreve um livro sobre o nosso encontro, mas para que isso ocorra,

    necessrio que voc tome certas decises. E so esses pontos, essas

    decises que os seus videntes no conseguem perceber.

    J o presente seria o ponto retificador. O funil que transforma a

    teia csmica de possibilidades futuras em uma linha imutvel, que

    o passado, e a registra no tecido csmico. O presente so as decises

    e interaes entre os seres. Entendeu?. Concluiu Barladell.

    Ele parou de falar por alguns instantes, como se estivesse

    recuperando o flego e continuou: O futuro reserva diversas

    possibilidades e saber quais so no garante que se possa escolher a

    melhor delas. Somente o bom conhecimento pode determinar o

    caminho mais rpido e seguro para o futuro. A ganncia, o dio, a

  • 49

    Destino Fortaleza

    inveja, a ignorncia desviam os seres de um futuro sublime e os

    condenam a uma existncia medocre. Mesmo sabendo que vivem em

    um planeta com recursos finitos os que se designam lderes da Terra

    ainda relutam em admitir o futuro negro que os esperam caso o

    rumo da vossa histria no seja drasticamente alterado.

  • 50

    Destino Fortaleza

    12. A viagem espacial

    Olhei para a tela no cho. Ela ainda brilhava, apesar de estar

    com uma intensidade menor. Olhei novamente para o cu e

    perguntei: Voc me disse que veio da Constelao de rion, eu

    no fao ideia da distncia, s sei que muito longe. Como vocs

    conseguem chegar at a Terra?.

    Gravidade e magnetismo so manifestaes de uma nica

    fora csmica que seus cientistas dividiram em duas. No tenho

    como nomin-la, pois nos seus mais variados idiomas no existe

    nenhuma palavra ou expresso que possa design-la, respondeu

    Barladell. A viagem espacial seria possvel atravs da manipulao

    dessa fora csmica. Variaes em sua intensidade e frequncia

    poderiam impulsionar objetos a grandes distncias, em altas

    velocidades. Direcionando seu fluxo seria possvel tambm curvar o

    contnuo espao-tempo. Existiriam duas formas de viagem csmica:

    uma baseada no deslocamento a velocidades prximas da luz e

    outra baseada no salto sobre dobra espacial.

  • 51

    Destino Fortaleza

    Na primeira forma de viagem csmica, a nave seria envolta por

    um envelope energtico que a deixaria imune a influncia de foras

    externas. Dentro desse envelope, a nave no sentiria os efeitos da

    gravidade da Terra, por exemplo. Existiriam dois sistemas na nave:

    uma que criaria o envelope energtico e um segundo que criaria uma

    gravidade artificial dentro do envelope. Esse ltimo foi um dos que

    Barladell me fez desligar quando entrei na nave.

    O deslocamento da nave se daria atravs da interao entre o

    envelope energtico e a fora csmica de outros corpos celestes. Essa

    forma de viagem seria utilizada apenas para pequenas distncias,

    alguns anos luz nos padres da Terra.

    A segunda forma de viagem csmica seria o salto sobre dobra

    espacial. Barladell afirmou que se a fora fosse concentrada em uma

    direo, como um laser que concentra a luz, ela poderia curvar

    temporariamente o contnuo espao-tempo a sua frente. Dessa forma

    seria possvel saltar de uma borda a outra da dobra criada, utilizando-

    se da tcnica do envelope energtico. Essa tcnica seria utilizada para

    vencer grandes distncias, milhares de anos luz nos padres da Terra.

  • 52

    Destino Fortaleza

    A viagem baseada no salto sobre dobra espacial seria muito

    perigosa, pois a nave deveria saltar no momento exato, nos poucos

    segundos de estabilidade da dobra, ou seria desintegrada no processo

    de planificao do continuo espao-tempo.

    O vrtice energtico criado pela passagem da nave tambm

    poderia causar anomalias csmicas, como buracos negros

    temporrios ou desestabilizao energtica de corpos celestes o que

    poderia lev-los ao colapso instantneo. Ento o salto sobre dobra s

    seria efetuado em posies csmicas de vazio total. A viagem de

    uma regio csmica para outra seria efetuado utilizando-se das duas

    tcnicas.

    Para vir do seu planeta at a Terra, ele viajaria para uma rea

    segura na vizinhana da Constelao de rion, utilizando a tcnica

    do envelope energtico, aps isso saltaria para uma rea segura perto

    do nosso sistema solar e viajaria para a Terra utilizando novamente o

    envelope. Perguntei a ele quando tempo levaria e ele respondeu:

    Pelos padres de tempo da Terra, alguns meses de viagem!.

    Indaguei a ele o que queria dizer quando falava no tempo

    pelos padres da Terra. Respondeu afirmando que o tempo era

  • 53

    Destino Fortaleza

    apenas uma questo de percepo. Essa percepo se expandiria ou

    se contrairia de acordo com cada regio csmica. Devido a essa

    relatividade, os seres mais evoludos no o mediam com base em

    movimentos astrais, mas com base no movimento do prprio tecido

    csmico formado pelo continuo espao-tempo.

  • 54

    Destino Fortaleza

    13. O homem do passado

    Concluiu a questo da viagem espacial dizendo que existiam

    outras formas de se viajar pelo espao, mas que essa seria a mais

    utilizada pelos seres do universo. Continuou afirmando que a

    manipulao da fora era relativamente simples e assim que a

    redescobrssemos, as coisas iriam mudar drasticamente na Terra.

    Redescobrssemos? Como assim?, indaguei a ele.

    A sua raa mais antiga do que contam os seus livros. Seu

    planeta j passou por diversos cataclismos e os sobreviventes foram

    perdendo conhecimento durante a trajetria. As evidncias esto

    todas a, mas vocs relutam em acreditar. Vrios conhecimentos

    perdidos foram reaprendidos ou redescobertos, mas ainda falta

    muito a recuperar. Barladell continuou afirmando que somos

    descendentes de uma raa que surgiu muito alm da Constelao de

    rion, em uma regio do espao que ainda no conseguimos mapear.

    Nossos ancestrais chegaram a Terra h milhares de anos

    procura de um novo lar para se instalar. O objetivo era compartilhar

    o planeta com os habitantes originais, que eram geneticamente

  • 55

    Destino Fortaleza

    compatveis, ajudando-os a se desenvolver. Mas a simbiose, por

    motivos desconhecidos, no deu certo. Os humanos originais foram

    subjugados, absorvidos e extintos. Por esse motivo, os cientistas da

    Terra no conseguiam identificar o famoso elo perdido que ligasse

    o antigo habitante da Terra, o humano original, ao habitante atual, o

    descendente das estrelas.

    Com o tempo seus antepassados descobriram que a Terra

    passava por um evento csmico cclico que levava a inverso do seu

    magnetismo e consequentemente provocava alteraes gravitacionais

    e inverso de sua rotao o que gerava episdios cataclsmicos na

    superfcie do planeta. Os que tiveram oportunidade h muito tempo

    haviam abandonado a Terra. Os que ficaram foram perdendo

    recursos e conhecimento, aps cada evento.

    Perguntei a Barladell por que eles nunca voltaram para nos

    resgatar. Ele afirmou que eles foram impedidos pelo Conselho

    Intergalctico.

    Disse que h centenas de ciclos csmicos, milhares de anos

    terrestres, uma determinada raa, ainda primitiva, teve acesso a

    tecnologias avanadas e ganhou o espao. Esse povo no possua

  • 56

    Destino Fortaleza

    conscincia csmica e o inevitvel aconteceu. Uma guerra

    intergalctica tomou conta de diversos planetas. Bilhes de seres

    pereceram. Batalhas ocorreram at nos cus da Terra, onde

    dispositivos atmicos haviam sido deflagrados. Ento seres de vrias

    outras raas, dos mais longnquos locais do universo, uniram-se para

    combater e eliminar a ameaa. Foi quando o Conselho nasceu.

    Aps a paz voltar ao universo, o Conselho instituiu diversas

    leis para garantir a harmonia entre os povos. Uma dessas leis

    determinava, como proibido, o contato oficial ou a transferncia de

    tecnologia a raas primitivas que no possussem conscincia

    csmica. Seria permitido o acompanhamento, o estudo at o contato

    eventual, mas nada, alm disso, at que um grau desenvolvimento

    compatvel com as ideias universais de fraternidade fosse atingido

    por esforos prprios.

    Como os remanescentes na Terra estavam se desenvolvendo de

    forma totalmente independente, inclusive sem ter vnculos com seu

    planeta de origem, o contato posterior direto foi proibido, pois o

    conhecimento tecnolgico e a conscincia csmica j haviam se

    perdido h tempos. Mas isso no deixou a Terra totalmente isolada,

    pois ela continuou a ser visitada por vrias raas que influenciaram,

  • 57

    Destino Fortaleza

    mesmo que indiretamente, o seu desenvolvimento tecnolgico e

    social.

    Essa situao causou um retrocesso na evoluo csmica da

    Terra e Barladell alertou que deveramos retornar novamente ao

    caminho do conhecimento o mais breve possvel.

  • 58

    Destino Fortaleza

    14. A misso

    A essa altura minha cabea pesava com tanta informao. Num

    momento eu era algum, num outro apenas um rfo estelar. O

    silncio reinou. Fixei meu olhar na tela ao cho e ela ainda emitia um

    brilho fraco, quase apagado. Comecei a relembrar tudo o que

    Barladell havia me falado at aquele momento. Fechava os olhos

    lentamente esperando acordar quando os abrisse, mas ao abrir, l

    estava tudo, no mesmo lugar: a nave, a tela e aquele ser ali no cho.

    Perguntei a ele qual a verdadeira razo de estar no nosso

    planeta e aquela voz voltou a ecoar na minha cabea. Estou aqui

    para observar e proteger. Mesmo com todo o conhecimento

    acumulado pelas raas do universo, o mecanismo de evoluo dos

    seres ainda no totalmente compreendido. Existem raas que

    nascem e se extinguem sem nem mesmo cogitar que possa existir

    outras inteligncias. J acompanhei o desenvolvimento de povos que

    se lanaram em direo ao espao e se autodestruram por buscar,

    no universo, o poder e no o conhecimento.

  • 59

    Destino Fortaleza

    A misso de Barladell, assim como seres de outras raas que

    nos visitavam, ou at mesmo, moravam no nosso planeta, era

    acompanhar o desenvolvimento da humanidade aprendendo com

    nossas experincias sem jamais interferir diretamente na nossa

    evoluo. Contatos diretos s seriam permitidos e aceitos em

    situaes muito especiais, como a que estava ocorrendo naquele

    momento.

    Contou tambm que diversas raas, com caractersticas fsicas

    semelhantes a nossa, viviam entre ns como forma de expiao de

    erros cometidos visando, como objetivo final, a expanso da

    conscincia csmica pessoal.

    Ele teria tambm a funo de proteger o planeta contra raas

    hostis e acompanhar a atividade de outros seres em nosso planeta.

    Tudo o que fosse observado deveria ser reportado para ao seu planeta

    natal que repassaria as informaes ao Conselho Intergalctico.

    Perguntei a Barladell por que a Amrica do Sul, por que essa

    parte especfica do planeta? Respondeu dizendo que era apenas uma

    questo funcional. A Terra possua uma diversidade muito grande de

  • 60

    Destino Fortaleza

    culturas, por isso, ela ento havia sido dividida em oito zonas que

    eram acompanhadas periodicamente por um responsvel especfico.

    Conforme ele, cada responsvel no permaneceria o tempo

    todo no planeta. Cada um chegava, inspecionava, enviava as

    informaes e retornava para seu planeta natal. Geralmente esses

    ciclos de visitas se repetiam a cada seis meses terrestres.

    O conhecimento do passado sempre foi questo fundamental

    para um bom planejamento do futuro, afirmou Barladell. Apesar da

    avanada condio social e tecnolgica de diversas civilizaes e

    mesmo com a capacidade de visualizao do passado ainda existia

    questionamentos universais no plenamente respondidos. Da mesma

    forma que muitos, na Terra, se questionavam: quem so, de onde

    vieram e para onde vo.

    Acompanhar e estudar o desenvolvimento de raas anlogas

    em estgios evolucionrios inferiores seria uma forma de entender os

    intricados mecanismos da evoluo csmica. Como as sociedades

    nascem e se desenvolvem? Como surgem as crenas, os conceitos do

    bem e do mal, a ideia do etreo? O que leva algumas raas a saltar

  • 61

    Destino Fortaleza

    estgios evolutivos significativos enquanto outras estagnam por

    longos perodos? Com nascem as guerras, a conscincia csmica?

    A busca por novas tecnologias tambm era um dos objetivos

    das visitas. Conforme Barladell nenhuma forma de inteligncia

    deveria ser menosprezada. Mesmo sendo tecnologicamente inferior

    sempre existiria algo que pudesse ser aplicado em outros lugares.

    Concluiu dizendo que eu poderia no acreditar, mas ns ramos uma

    das engrenagens da evoluo csmica, pois diversas raas espalhadas

    pelo universo utilizavam tecnologias originalmente desenvolvidas

    pelos habitantes da Terra.

  • 62

    Destino Fortaleza

    15. Uma cultura superior

    Como a vida no seu planeta? A ideia que eu tinha de um

    ser do outro mundo era de criaturas invencveis, altamente

    sofisticadas, mas olhando para voc agora, s vejo a imagem de uma

    criatura frgil, perguntei olhando profundamente naqueles grandes

    olhos escuros.

    No somos invulnerveis nem imortais. Temos as mesmas

    necessidades bsicas que voc. Necessitamos de energia, de

    alimento, de um local seguro para viver, de companhia. Apenas

    utilizamos nossos recursos de uma forma mais consciente e eficaz.

    Nossa sociedade, assim como outras espalhadas pelo universo, vive

    em prol do conhecimento e no do crescimento. Nossa medicina

    evoluiu ao ponto de no nos preocuparmos mais com falhas internas

    em nossos corpos, mas ainda somos suscetveis a agentes externos.

    Nossa tecnologia aprendeu a utilizar com segurana os benefcios

    das foras csmicas o que nos permitiu acesso a fontes de energia

    praticamente infindveis. Nesse momento senti que Barladell havia

    se empolgado e continuou a falar.

  • 63

    Destino Fortaleza

    Nossas cidades, em diferentes planetas, so estruturadas

    para a simplicidade, para a funcionalidade. As cidades da Terra so

    mais grandiosas que as nossas. No fazemos uso indiscriminado de

    recursos nem incentivamos o consumo desenfreado. Toda a pesquisa

    tecnolgica desenvolvida visando o futuro, o bem comum. Em

    nossas cidades todos possuem direito a um espao, ao acesso a

    tecnologia e so livres para escolher de que forma podem contribuir

    para a evoluo da sociedade.

  • 64

    Destino Fortaleza

    16. O futuro da Terra

    Barladell afirmou que acompanhava o nosso planeta h muito

    tempo. Contou que no processo natural, as raas se desenvolvem e

    crescem at o limite da capacidade de regenerao planetria. Antes

    desse ponto crtico deveriam trabalhar na expanso do conhecimento

    csmico, ganhar o espao e se espalhar por outros mundos, para

    perpetuao de sua espcie.

    No universo existiriam comunidades de uma mesma raa

    vivendo em diversos planetas. Em alguns casos, dividindo a morada

    com outras raas diferentes. A regenerao planetria seria a

    capacidade que todo o planeta, que suporta algum tipo de vida, teria

    de repor recursos vitais, no nosso caso: gua, atmosfera, plantas,

    minerais e vida animal, nas mais variadas formas.

    Essa capacidade seria limitada pelo nmero de habitantes

    vivendo no planeta. Se ultrapassado, o planeta comearia a perder

    rapidamente as condies de sustentao da vida at sucumbir

    totalmente. A raa com conscincia csmica teria a capacidade de

    identificar esse limite e concentrar esforos na busca do

  • 65

    Destino Fortaleza

    estabelecimento de novos lares para garantir sua perpetuao e

    manter a sustentabilidade de seu planeta natal para aqueles que ali

    permanecessem.

    Para Barladell, a Terra j estaria chegando ao limite da

    regenerao. J estaramos com dificuldades para obteno de gua

    potvel, com poluio atmosfrica excessiva, recursos minerais

    chegando ao fim, mares em processo de deteriorao, grande

    quantidade de plantas e animais j extintos ou em risco de extino.

    A condio especial de inverso magntica renovaria sua capacidade

    de regenerao, mas a Terra, desta vez, estaria correndo o risco de

    sucumbir antes da prxima inverso, pois o ritmo de consumo dos

    recursos naturais seria proporcionalmente muito maior do que em

    pocas precedentes.

    Perguntei quando isso poderia acontecer, ele respondeu

    dizendo que a nossa raa no estava preparada para saber certas

    coisas, pois se fosse anunciado que a Terra sucumbiria daqui a trinta

    dias, ela sucumbiria em dez pela a arrogncia de seus habitantes.

    A nossa raa, apesar do grau de desenvolvimento civilizatrio

    que julga ter atingido, tanto em funo das conquistas de natureza

  • 66

    Destino Fortaleza

    tecnolgica ou de bem estar material, quanto em funo do tempo

    dispendido para atingir um patamar acanhado de evoluo, ainda

    assim, estaria refm do individualismo acerbado da maioria dos

    povos, os quais no perceberiam a importncia do bem universal na

    vida de todos. Conforme Barladell, a nossa sociedade no se

    mantinha coesa pelo senso do bem comum ou pelo senso do justo,

    mas pelo medo das consequncias dos atos amorais que viessem a

    cometer.

    Nossas leis no seriam respeitadas por acharmos que elas so

    importantes para os seres envolvidos, mas pelo medo das sanes

    que poderiam ser impostas aos transgressores. Afirmou que no

    momento em que soubermos que no haver mais tempo para que

    sanes sejam impostas ou que as consequncias no possam mais

    ser medidas, a nossa sociedade se desintegraria rapidamente.

    Afirmou que ainda ramos seres orientados pela guerra, pela

    conquista constante e desenfreada, pelo crescimento material a todo

    custo. Lembrou que quase todo o nosso conhecimento tecnolgico

    havia nascido de algum conflito, da busca por alguma vantagem

    diante dos inimigos e no da busca do conhecimento como fonte de

    evoluo natural.

  • 67

    Destino Fortaleza

    Essa uma postura que deveria ser repensada com urgncia. A

    Terra deveria focar seus esforos na unificao global, no consumo

    sustentvel, na difuso do conhecimento, na universalizao da

    cultura, em fim, na valorizao da vida acima de tudo. Deveria traar

    novos objetivos, olhar fora da caixa, buscar um novo futuro. E o

    nico futuro que a Terra dispe para fugir do ciclo constante de

    destruio est nas estrelas. Na crena de pertencer a uma irmandade

    universal.

  • 68

    Destino Fortaleza

    17. A poluio ambiental

    A tela no cho j no brilhava mais. Barladell disse que eu j

    poderia toc-la. Passei a mo sobre ela e mostrei-a para ele. Minha

    mo ficou suja, impregnada com um material negro parecido com

    fuligem. Ele confirmou minha suspeita dizendo que havia passado

    algum tempo observando a grande floresta. No indaguei, mas com

    certeza falava da Amaznia. Disse que havia se aproximado muito

    das queimadas at chegou a pousar em alguns locais para coletar

    amostras. Afirmou que no lembrava que a nave estava com

    problemas e certamente foi nesse perodo que o sistema ficou

    comprometido.

    Barladell disse que antes de pousar havia rastreado um

    pequeno rio mata dentro. Eu deveria levar a tela at l e lav-la, at

    ter a certeza da eliminao total da fuligem. Antes que eu sasse, ele

    tocou nos smbolos do dispositivo que estava em seu brao e um

    pequeno mdulo quadrado foi ejetado. Ele disse que a distncia era

    muito grande e eu deveria manter aquele mdulo junto ao corpo para

    que pudssemos nos comunicar.

  • 69

    Destino Fortaleza

    Olhei em sua direo, recebi e coloquei o pequeno objeto no

    bolso da camisa. Fechei o boto para que no casse. Peguei minha

    lanterna e olhei fixamente para a direo indicada. Acho que deixei

    transparecer algum receio para entrar novamente naquela mata

    escura. Depois de alguns segundos parado, Barladell me tocou e

    disse que eu no deveria ficar com medo, pois os sensores da nave

    indicavam que no existia nenhuma ameaa na mata.

    Comecei a caminhar novamente entre galhos, troncos cados e

    espinhos. No silncio ensurdecedor apenas as instrues de Barladell

    ecoavam na minha cabea. Pensei comigo mesmo: O que a

    curiosidade? Agora a pouco, quando entrei na mata para saber o

    que estava acontecendo eu no estava com tanto medo assim!.

  • 70

    Destino Fortaleza

    18. A renovao contnua

    Cheguei ao rio, que na verdade era um pequeno crrego de no

    mximo uns dois metros de largura que serpenteava por entre as

    rvores, quando, ento iniciei a lavagem da tela seguindo as

    instrues de Barladell para que ela no fosse danificada. Era

    necessrio que fosse limpa de forma lenta e cuidadosa.

    Durante a limpeza um pensamento me veio cabea e indaguei

    a ele: Voc me disse que a Terra passa por ciclos contnuos de

    inverso magntica, o que realmente essa inverso?.

    Apesar do que muitos pensam, na Terra, esse no um

    processo mstico. um evento natural e simples. A frgil

    estabilidade do universo se d atravs das interaes de fora e

    movimentos dos corpos celestes. O seu planeta funciona como um

    im gigante vagando pelo espao. Assim como a agulha de uma

    bssola, ele tende a se alinhar com o campo magntico mais forte

    que existir por perto. A Terra gira em torno do Sol, o seu Sol gira em

    torno do conglomerado de Sagitrios, que alguns pensam ser um

    buraco negro. E Sagitrios, e toda a sua galxia, gira em torno de

  • 71

    Destino Fortaleza

    uma estrela, que muitos denominam de Alcione. Ela o corpo celeste

    de maior fora magntica nessa regio do espao. Alcione interage

    no somente com a Terra, mas com milhares de outros corpos que

    possuem campo magntico ativo, assim como o seu Sol. O percurso

    csmico da Terra em torno de Alcione elptico. Os momentos

    crticos se do nos pontos em que a Terra est mais prxima de

    Alcione. Ao se aproximar desses pontos, o campo magntico da

    Terra comea a se alinhar com o da estrela, at que, ao passar pelo

    ponto crtico, se inverte totalmente. No restante do percurso, a

    influncia de Alcione mnima, quase imperceptvel. Os efeitos para

    a estrutura fsica da Terra so mnimos, mas para a vida que nela

    habita so catastrficos.

    Como eu j havia lhe falado, magnetismo e gravidade so

    manifestaes de uma mesma fora. Essa inverso magntica

    tambm causa perturbaes gravitacionais em vrios pontos da

    Terra. No incio da inverso poucos eventos so percebidos, mas

    quando o alinhamento est completo e o campo comea a se

    movimentar no sentido contrrio, a rotao do Planeta lentamente

    comea a parar e a se inverter. Esse o momento crtico. De um

    lado os mares avanam sobre a terra, do outro recuam at sumir

    totalmente. Junto com as guas, a atmosfera tambm se descontrola

  • 72

    Destino Fortaleza

    e os resultados so imprevisveis. Tempestades violentas se formam

    em vrios lugares. A crosta terrestre comea a ser tensionada e

    terremotos surgem em todo o Planeta. Vulces entram em erupo,

    faixas de terra desaparecem e outras surgem. Todo esse caos

    continua at que a Terra comece a girar em sentido contrrio. Nesse

    momento tudo volta a se acomodar e os efeitos devastadores vo

    diminuindo at cessarem completamente.

    Durante a transio, o seu Sol tambm passa por um

    processo similar de inverso magntica e de rotao. Esse processo

    causa variaes bruscas de temperatura na Terra devido s fortes

    tempestades solares. No ser o fim da vida na Terra, mas muitos

    perecero. Ao final da transio a Terra estar completamente

    mudada. Os locais mais seguros no planeta so as reas planas

    distantes dos mares e prximas do centro das suas placas tectnicas.

    Toda a tecnologia que no estiver protegida contra as emanaes

    csmicas sucumbir e a nica forma de faz-lo atravs do envelope

    energtico, o mesmo que protege e impulsiona as naves espaciais.

    Barladell ainda afirmou que o conhecimento terrestre em

    relao aos processos tecnolgicos que poderiam minimizar os

    impactos negativos da transio ainda era muito bsico. Em algumas

  • 73

    Destino Fortaleza

    reas chegava a ser totalmente inexistente. Para piorar a situao

    vrios cientistas da Terra, apesar de no terem total certeza, j

    pressupem os acontecimentos futuros, mas permanecem calados ou

    ignoram o assunto para no serem ridicularizados.

  • 74

    Destino Fortaleza

    19. Concluindo a ordem de servio

    Perguntei quando tudo iria acontecer novamente e ele no me

    respondeu. Indaguei se durante o meu tempo de vida eu iria

    presenciar os eventos relatados por ele e tambm no obtive resposta

    alguma. Notei que no se sentia confortvel com o rumo daquelas

    perguntas. Resolvi no insistir, pois percebi que no acrescentaria

    nada mais a esse assunto.

    A limpeza da tela j estava finalizada. Agora era possvel ver a

    estrutura da pea. Era formada por arames, ou tubos entrelaados,

    bem prximo uns dos outros, aparentemente, de cor branca e do

    dimetro dos canudinhos plsticos para refrigerante. Possuam uma

    textura porosa como se fossem feitos de algum material sinterizado6.

    Mesmo aps a lavagem com gua fria, a tela apresentava uma

    temperatura elevada ao toque. Dava a impresso que existia alguma

    fonte de calor no interior dos tubos.

    6 Processo de fabricao que consiste na compactao de gros metlicos que posteriormente recebem tratamento trmico para ativar a ligao atmica entre as superfcies dos gros visando a obteno de peas slidas coerentes.

  • 75

    Destino Fortaleza

    Levei-a de volta para a nave e remontei o sistema. Barladell,

    novamente me enviou cpula da nave. Pela segunda vez fui ao

    painel de comando e comecei a deslizar minha mo sobre a

    sequncia de smbolos que surgiam a minha frente.

    A nave comeou a vibrar e pude perceber que o ar da cabine

    estava sendo sugado para algum lugar. Novamente eu estava com

    dificuldades para respirar e com aquela sensao estranha, de corpo

    pesado, que senti quando entrei pela primeira vez na nave. Barladell

    me alertou para deixar o local rapidamente.

    Sa da nave e fiquei ao lado de Barladell enquanto ela emitia

    um zumbido estranho. De repente o silncio era total. A luz azul

    esverdeada emitida pela nave ficou mais forte e comeou a pulsar.

    Barladell me pediu que lhe ajudasse a subir a escada e o deixasse na

    entrada da nave. Fiz o que ele pediu. Ento, ordenou que me

    afastasse do veculo, para minha prpria segurana.

    Desci a escada e fiquei do outro lado da clareira observando o

    que estava acontecendo. Aps algum tempo sentado na entrada da

    nave, ele se levantou, respirou profundamente e deu sinais que estava

  • 76

    Destino Fortaleza

    se sentindo bem melhor. Nesse momento foi possvel perceber sua

    pequena estatura e constituio fsica sob aquele traje apertado.

    De longe, ele me agradeceu. Perguntei se ia ficar bem e se

    retornaria para o seu planeta para consertar a nave. Respondeu

    dizendo que aquele era apenas um veculo de pesquisa e no era

    preparada para longas viagens. Ele teria que esperar a prxima nave

    de manuteno e suprimentos, que era mais equipada e que eu no

    deveria me preocupar, pois ficaria bem at a sua chegada.

    Ele fez um rpido aceno e entrou. A escada foi recolhida

    rapidamente e a porta fechou. Aps isso parecia que a estrutura da

    nave havia sido selada, pois no era mais possvel identificar as

    posies de sada da escada ou de abertura da porta.

    A luz pulsante azul esverdeada que emanava de sua parte

    inferior tomou conta de toda a nave e ela flutuou. Nesse momento

    senti todos os pelos do meu corpo oscilarem, mas de uma forma mais

    intensa do que da primeira vez.

    As estruturas, que serviam como trens de pouso, trs ao todo,

    foram lentamente recolhidas. Aps o fechamento de suas escotilhas

  • 77

    Destino Fortaleza

    tambm no foi mais possvel identificar suas posies na estrutura

    do veculo. A nave comeou a subir verticalmente passando da altura

    da copa das rvores. Num dado instante a fluorescncia comeou a se

    transformar no mormao. A nave ficou praticamente invisvel, mas

    ainda era possvel identificar o seu perfil. Ela continuou subindo at

    se confundir com as estrelas e desapareceu totalmente.

  • 78

    Destino Fortaleza

    20. O segundo contato da noite

    A noite j no estava mais to clara como antes. Fui at o

    tronco onde Barladell estava e fiquei sentado olhando o cu atnito e

    pensando no que havia acontecido. No sei quanto tempo havia se

    passado nem quanto tempo fiquei ali sentado. No horizonte j era

    possvel visualizar os primeiros raios do sol e quando olhei para a

    mata, na direo da estrada, notei luzes vermelhas e azuis piscando,

    pensei: Ser que ele voltou?.

    Entrei novamente na mata, indo na direo em que eu havia

    deixado o carro. Caminhei novamente entre espinhos e galhos na

    esperana de reencontrar Barladell. Queria continuar nossa conversa,

    pedir que me levasse com ele antes que o pior acontecesse na Terra.

    medida que eu caminhava as luzes ficavam mais fortes. Era

    possvel ouvir vozes ao longe e quando sa da mata, l estavam eles,

    parados, me olhando. Eram dois seres uniformizados e com coletes.

    Um deles, que possua uma arma na mo, apontou-a para mim e

  • 79

    Destino Fortaleza

    gritou: Policia Federal! Fica paradinho a!. As luzes vinham de

    uma viatura preta da PF7 que estava parada ao lado do meu carro.

    Os agentes me revistaram e um terceiro policial veio em nossa

    direo dizendo que estava tudo em ordem. Perguntaram se o carro

    era meu e o que eu estava fazendo parado ali. Fiquei inicialmente

    sem ao, no adiantava contar o que havia ocorrido que eles no

    acreditariam. Resolvi contar que estava indo para Fortaleza e tinha

    comido alguma coisa na estrada que me fez passar mal. Ento tive

    que parar urgente e correr para me aliviar no mato, mas que j estava

    tudo bem agora.

    Eles me disseram que tambm iam para Fortaleza quando

    viram o carro parado na beira da estrada e resolveram averiguar a

    situao. Um deles, que usava o celular insistentemente, disse que

    estava tudo certo com o carro e com os meus documentos e disse que

    eu podia seguir em frente. Entrei no carro, voltei para a estrada e

    continuei a viagem at Fortaleza.

    7 Policia Federal.

  • 80

    Destino Fortaleza

    21. O dia seguinte

    Cheguei a Fortaleza por volta das dez e trinta da manh. Assim

    que entrei na cidade esqueci completamente o que havia se passado

    na madrugada anterior. Procurei um hotelzinho barato, dei entrada e

    fui dormir. A reunio seria s dezessete horas, mas quando acordei j

    passava das vinte. No meu celular, haviam vrias ligaes no

    atendidas.

    Naquele momento, me dei conta que havia perdido uma boa

    oportunidade de negcio, mas no estava preocupado. Fui ao frigobar

    peguei uma latinha de cerveja e um pacote de batatas. Liguei a TV e

    enquanto assistia ao jornal local no conseguia deixar de pensar

    naquele sonho maluco. Eu olhava para a televiso e no entendia

    nada do que os reprteres estavam falando. Terminei a cerveja e fui

    ao banheiro relaxar o corpo debaixo do chuveiro. Tirei a camisa, a

    cala e a cueca. Eu havia dormido de roupa e tudo e no tinha tirado

    nem os sapatos, e fui jogando tudo sobre a pia do banheiro.

    Apesar de aquele sonho ter deixado imagens vvidas na minha

    cabea, consegui, por instantes, esquecer o assunto e me concentrar

  • 81

    Destino Fortaleza

    apenas na gua morna que caa e descia relaxante pelas minhas

    costas. Passei uns vinte minutos curtindo o banho, sem pensar em

    mais nada.

    Ao terminar, puxei a toalha que estava sob a roupa suja na pia e

    sem querer deixei cair no cho a camisa usada na viagem. Quando a

    camisa tocou o piso ouvi um som metlico, bem baixinho, o qual

    tomou conta do banheiro como se fosse o sino de uma grande

    catedral badalando. Eu j sabia o que era, mas estava com medo de

    olhar. Peguei a camisa, apalpei o bolso e l estava ele: o

    comunicador.

    Ento no fora um sonho. A histria era real e eu tinha como

    provar. Sentei beira da cama e tentei me lembrar de tudo que havia

    acontecido. A TV ainda estava ligada. Minha cabea ficou muito

    confusa, no conseguia organizar meus pensamentos, imagens

    surgiam na minha mente, eu escutava sons estranhos, sentia o cheiro

    da mata.

    De repente senti que poderia estar enlouquecendo. Levantei e

    desliguei a TV, estava passando uma novela. O quarto ficou

    totalmente escuro, deitei na cama, coloquei a toalha molhada sobre a

  • 82

    Destino Fortaleza

    cabea e fechei os olhos por alguns segundos para relaxar quando

    ouvi algum batendo na porta do quarto.

    Nem me dei ao luxo de tirar a toalha do rosto e gritei: Quem

    ?, uma voz feminina responde do outro lado: Servio de

    quarto! O senhor quer que eu limpe o quarto agora?. Naquele

    horrio imprprio no pensei duas vezes e gritei novamente: Puxa

    vida! Isso so horas?, a voz novamente responde: Me desculpe

    senhor, que j so nove e trinta da manh! Eu passo no final da

    tarde ento!.

    Pulei da cama rapidamente como se estivesse deitado em cima

    de espinhos. Joguei a toalha longe, abri os olhos e a claridade

    ofuscou a minha vista. Olhei pela janela e parecia um dia como outro

    qualquer. Procurei o meu celular e confirmei a hora: nove e trinta e

    sete.

    De incio no acreditei naquela situao. Eu havia apagado por

    mais de doze horas, mas na minha cabea passaram-se apenas alguns

    segundos. Comecei a lembrar do sonho estranho da noite passada, at

    algo estalar dentro de mim. Corri desesperadamente para o banheiro

    e no achei. Fui at a cama e encontrei, sob os lenis, a camisa da

  • 83

    Destino Fortaleza

    viagem. Ela estava enrolada, mas ao peg-la foi possvel sentir o

    dispositivo.

    Voltei a sentir o mal estar da noite passada. Imagens estranhas

    dominavam os meus pensamentos. Nuns poucos segundos de

    flashback, revivi todo o encontro. Eu havia realmente estado com um

    ser de outro planeta e isso estava seriamente me afetando.

  • 84

    Destino Fortaleza

    22. De volta para casa

    Procurei me acalmar. Tomei novamente um banho, frio dessa

    vez, me arrumei e pensei no que fazer. Em primeiro lugar eu tinha

    que voltar para casa, em So Lus, pois no havia mais nada o que

    fazer na cidade.

    Fechei a conta do hotel, peguei o carro e sai em direo BR.

    Enquanto transitava pela cidade, vi uma cegonha estacionada num

    posto de gasolina. Lembrei que precisava abastecer. Parei o carro e

    enquanto abastecia vi o motorista daquele caminho indo em direo

    loja de convenincias do posto. O rosto me era familiar. Estacionei

    o carro e fui at a loja beber alguma coisa.

    O motorista me olhou e veio em minha direo: E a cara,

    h quanto tempo? T fazendo o que em Fortaleza?. Lembrei-me

    dele, j o conhecia de longa data. Fazia tempos que no ns vamos,

    mas simplesmente no conseguia lembrar o seu nome.

    No meio da conversa ele me disse que estava indo para So

    Lus, iria embarcar alguns veculos e lev-los para Goinia. Nesse

  • 85

    Destino Fortaleza

    momento comecei a lembrar da noite passada e fiquei com receio de

    pegar a estrada de volta para casa.

    Perguntei se seria possvel ele levar o meu carro at So Lus,

    se era necessrio algum documento e quanto seria o frete. Ele me

    disse que no seria incomodo nenhum. Que deixaria o carro em So

    Lus sem problema algum e que no me cobraria nada por isso.

    Eu continuava sem lembrar o nome dele, mas senti que podia

    confiar. Tirei a bagagem do carro e entreguei as chaves. Ele me disse

    que estaria em So Lus em vinte e quatro horas e me deu o endereo

    onde eu deveria pegar o carro. Depois perguntou como eu iria

    retornar para So Lus. Fiquei pensativo por alguns segundos e

    respondi: De avio! Eu vou voltar de avio!. Chamei um taxi e

    nos despedimos.

  • 86

    Destino Fortaleza

    23. O encontro nas nuvens

    No trajeto at o aeroporto comearam a aflorar, em meus

    pensamentos, lembranas claras dos acontecimentos vividos na noite

    passada. Peguei o comunicador na mo e o segurei como se

    esperasse algum novo contato. Por vezes tive a impresso que ele

    estava vibrando, mas quando parava para verific-lo nada ocorria.

    Cheguei ao aeroporto, me dirigi a um balco qualquer e por

    sorte havia um voo com sada prevista para as quinze e trinta.

    Comprei o ticket, fiz o check-in e despachei a bagagem. Fiquei

    apenas com o comunicador, que estava no bolso da camisa e a

    carteira com documentos e dinheiro. Sentei no saguo do aeroporto e

    fiquei ali, esperando o horrio de embarque.

    O pensamento estava longe quando escutei a ltima chamada

    para o voo. Fui at a sala de embarque e fiquei preocupado quando vi

    os outros passageiros passando pelo detector de metais. Fiquei um

    pouco nervoso, no pelo fato de estar com um dispositivo aliengena

    no bolso, afinal quem saberia do que se tratava? Mas pelo medo de

    perder a nica evidncia fsica daquele encontro.

  • 87

    Destino Fortaleza

    Chegou a minha vez, passei pelo detector e nada, nenhum

    sinal. Parei, voltei e passei novamente, o agente do aeroporto

    perguntou o que eu estava fazendo, respondi que achei que havia

    escutado o sinal da mquina e pensei que deveria voltar. Ele me disse

    que estava tudo bem e que eu deveria seguir para a sala de espera.

    Aquela pea era nitidamente de metal, mas mesmo assim

    passou pelo detector, por duas vezes, sem acusar nada. Embarquei na

    aeronave e me sentei prximo a uma janela. Coloquei a mo no bolso

    da camisa e senti que o comunicador ainda estava l. Resolvi relaxar,

    fechar os olhos e curtir o voo at So Lus.

    O avio j estava em altitude de cruzeiro quando tive a

    impresso de ouvir algum falando comigo. Abri os olhos e no vi

    ningum. A aeromoa j estava concluindo o servio de bordo. Eu

    estava sozinho na minha fila de assentos e nenhum dos passageiros

    minha volta pareciam se importar comigo.

    Comecei a ouvir vozes, era possvel distinguir duas ou trs

    diferentes foi quando me dei conta que no conseguia entender nada

    do que era dito. Elas novamente surgiam como se pessoas estivessem

    falando dentro da minha cabea. Perdi a lucidez por alguns segundos,

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    Destino Fortaleza

    pensei que fosse enlouquecer, ento fechei os olhos e tentei me

    acalmar. Uma aeromoa que passava naquele momento colocou a

    mo sobre o meu ombro e perguntou se estava tudo bem comigo.

    Olhei para ela, disse que estava tudo normal, que era apenas um mal

    estar passageiro e voltei minha ateno para a janela do avio.

    Passei a acompanhar as nuvens que passavam ao longe. As

    vozes continuavam na minha cabea, indo e vindo. Algumas vezes

    pareciam estar falando em ingls, em outras, francs. Alguns sons me

    fizeram lembrar a minha primeira comunho. Parecia que estavam

    falando em latim.

    De repente comecei a entender o que estava ocorrendo. Ao

    longe, por detrs das nuvens era possvel ver o mormao

    acompanhando a avio. Em alguns momentos dava para perceber a

    silhueta da nave que saa de foco rapidamente.

    Coloquei a mo no bolso e pude sentir o comunicador vibrando

    em alguns momentos. Tive a certeza que eu estava captando a

    conversa entre os seres daquela nave. No sei se eles sabiam disso.

    Acredito que no! A comunicao comeou a ficar mais fraca, ento

    o capito anunciou que em alguns minutos estaramos realizando os

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    Destino Fortaleza

    procedimentos necessrios para o pouso da aeronave no aeroporto de

    So Lus. Olhei novamente para fora do avio e no vi mais a nave.

    As vozes cessaram totalmente.

    Enquanto o avio aterrissava pela primeira vez parei para

    analisar o comunicador. Era uma pea aparentemente metlica um

    pouco maior que uma caixa de fsforos. Parecia ser feita de um bloco

    nico, pois no se conseguia ver ou sentir encaixes ou reentrncias

    de qualquer natureza. Em um dos lados era possvel notar pequenas

    inscries em baixo relevo. Eram idnticas aos smbolos dos painis

    de controle da nave. Nesse momento percebi que lembravam um

    pouco os hierglifos egpcios e maias. Os cantos eram levemente

    arredondados e as faces lisas e de aparncia opaca. Em alguns

    momentos era possvel sentir uma leve vibrao, como o vibracall de

    um celular. Aquele dispositivo era capaz de receber e transmitir

    informaes na forma de ondas cerebrais. No era percebido por

    detectores de metais e no existia nenhum indcio de como o mesmo

    havia sido fabricado.

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    Destino Fortaleza

    24. O exame mdico

    No dia seguinte acordei com um leve mal estar. Eu sentia uma

    forte dor de cabea e nusea. Fui ao banheiro e acabei vomitando.

    Apresentei tambm uma leve diarreia. Durante o dia no senti fome e

    em alguns momentos sentia o corao acelerado. Minha esposa ficou

    preocupada e me disse para procurar um mdico. No comentei nada

    com ela sobre o ocorrido. Assim que cheguei do aeroporto, me

    adiantei em esconder o comunicador num local seguro.

    No incio da noite meu amigo caminhoneiro ligou. Eu ainda

    no lembrava o nome dele. Disse que o carro estava sendo

    descarregado e eu poderia busc-lo mais tarde. Perguntei se poderia

    peg-lo no dia seguinte, pois no estava me sentindo muito bem. Ele

    disse que no tinha problema. Estava carregando a cegonha, iria

    partir para Goinia pela manh bem cedo, mas deixaria tudo

    esquematizado para liberao do veculo.

    No dia seguinte acordei melhor. Durante o banho notei uma

    queda de cabelo um pouco fora