crise e represen taÇÃo empresarial

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123 RESUMO Rev. Sociol. Polít. , Curitiba, 16, p. 123-142, jun. 2001 CRISE E REPRESENTAÇÃO EMPRESARIAL: O SURGIMENTO DO PENSAMENTO NACIONAL DAS BASES EMPRESARIAIS O objetivo do trabalho é elucidar as origens da crise da representação empresarial na década de 80 e o surgimento do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) nesse contexto. Criado em meados de 1987 e institucionalizado em 1990, o PNBE nasceu de uma profunda insatisfação com as respostas à crise que vinham sendo articuladas pela estrutura tradicional de representação do empresariado. Apresentando um projeto que visava a superar o caráter econômico-corporativo das propostas até então colocadas na mesa pelo empresariado, a entidade apresentava uma nova alternativa de caráter hegemônico como saída para a crise. Tal projeto, contudo, nunca assumiu contornos muito definidos. Foi mais uma profissão de fé do que um programa. PALAVRAS-CHAVE: empresariado; representação empresarial; Pensamento Nacional das Bases Empresariais. Alvaro Bianchi Universidade Metodista de São Paulo ARTIGO I. INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é discutir as origens da crise de representação do empresariado na década de 1980 e o surgimento, nesse contexto, do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE). É de bom tom, portanto, repassar, mesmo que brevemente, a trajetória dessa representação. As relações existentes entre as classes e entre estas e a forma estatal da classe dominante devem fornecer os materiais sobre os quais a análise se debruçará. Para facilitar o trabalho, serão demarcadas quatro grandes fases, assinalando, assim, de maneira esquemática, os diferentes momentos da ação empresarial, bem como as distintas articulações das classes entre si e entre elas e o Estado. II. BREVE HISTÓRICO DA REPRESENTAÇÃO EMPRESARIAL A primeira fase compreende o período de 1930 a 1945 e é marcada pela emergência de um processo de industrialização e urbanização no Brasil 1 . Segundo Boris Fausto, a indústria brasileira tinha como características, durante esse período, a dependência do setor agrário exportador, a insignificância da indústria de base, a baixa capitalização e o grau incipiente de concentração (FAUSTO, 1970, p. 19). À época da Revolução de 1930, a burguesia industrial era um setor social com um peso na economia muito inferior ao setor agro-exportador. Já possuía, entretanto, uma dimensão que lhe possibilitava expressar seus interesses na esfera governamental. A relação de forças objetiva, aquela que se estabelece no nível das forças produtivas e sobre a qual se erguem os grupos sociais, permitia ao empresariado industrial fazer ouvir sua voz 2 . A fundação das federações regionais da indústria no final da década de 1920 e a afirmação de uma 1 A escolha do marco inicial não é arbitrária. Muito embora o Centro Industrial do Brasil tivesse sido criado em 1904, representando os industriais do Rio de Janeiro, São Paulo, Juiz de Fora e Rio Grande do Sul, é apenas com a formação de entidades regionais como o Centro das Indústrias de Juiz de Fora (1926), o Centro das Indústrias de São Paulo (1928) e o Centro das Indústrias Fabris do Rio Grande do Sul (1930) que se consolidará uma estrutura de representação de interesses do empresariado. Por outro lado, a adaptação dessas entidades à legislação varguista deu origem a formas de organização duradouras, que marcarão até os dias de hoje a representação empresarial. Ver, para tanto, Leopoldi (2000), em especial a seção I. 2 Sobre as relações de forças, ver Gramsci (1977, p. 1583- 1586).

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA Nº 16: 123-142 JUN. 2001

RESUMO

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, 16, p. 123-142, jun. 2001

CRISE E REPRESENTAÇÃO EMPRESARIAL:O SURGIMENTO DO PENSAMENTO

NACIONAL DAS BASES EMPRESARIAIS

O objetivo do trabalho é elucidar as origens da crise da representação empresarial na década de 80 e osurgimento do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) nesse contexto. Criado em meados de1987 e institucionalizado em 1990, o PNBE nasceu de uma profunda insatisfação com as respostas à criseque vinham sendo articuladas pela estrutura tradicional de representação do empresariado. Apresentandoum projeto que visava a superar o caráter econômico-corporativo das propostas até então colocadas namesa pelo empresariado, a entidade apresentava uma nova alternativa de caráter hegemônico como saídapara a crise. Tal projeto, contudo, nunca assumiu contornos muito definidos. Foi mais uma profissão de fé doque um programa.

PALAVRAS-CHAVE: empresariado; representação empresarial; Pensamento Nacional das BasesEmpresariais.

Alvaro BianchiUniversidade Metodista de São Paulo

ARTIGO

I. INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é discutir as origensda crise de representação do empresariado nadécada de 1980 e o surgimento, nesse contexto,do Pensamento Nacional das Bases Empresariais(PNBE). É de bom tom, portanto, repassar,mesmo que brevemente, a trajetória dessarepresentação. As relações existentes entre asclasses e entre estas e a forma estatal da classedominante devem fornecer os materiais sobre osquais a análise se debruçará. Para facilitar otrabalho, serão demarcadas quatro grandes fases,assinalando, assim, de maneira esquemática, osdiferentes momentos da ação empresarial, bemcomo as distintas articulações das classes entre sie entre elas e o Estado.

II. BREVE HISTÓRICO DA REPRESENTAÇÃOEMPRESARIAL

A primeira fase compreende o período de 1930a 1945 e é marcada pela emergência de umprocesso de industrialização e urbanização noBrasil1. Segundo Boris Fausto, a indústria brasileira

tinha como características, durante esse período,a dependência do setor agrário exportador, ainsignificância da indústria de base, a baixacapitalização e o grau incipiente de concentração(FAUSTO, 1970, p. 19).

À época da Revolução de 1930, a burguesiaindustrial era um setor social com um peso naeconomia muito inferior ao setor agro-exportador.Já possuía, entretanto, uma dimensão que lhepossibilitava expressar seus interesses na esferagovernamental. A relação de forças objetiva, aquelaque se estabelece no nível das forças produtivas esobre a qual se erguem os grupos sociais, permitiaao empresariado industrial fazer ouvir sua voz2 .A fundação das federações regionais da indústriano final da década de 1920 e a afirmação de uma

1 A escolha do marco inicial não é arbitrária. Muito emborao Centro Industrial do Brasil tivesse sido criado em 1904,representando os industriais do Rio de Janeiro, São Paulo,Juiz de Fora e Rio Grande do Sul, é apenas com a formação

de entidades regionais como o Centro das Indústrias de Juizde Fora (1926), o Centro das Indústrias de São Paulo (1928)e o Centro das Indústrias Fabris do Rio Grande do Sul (1930)que se consolidará uma estrutura de representação deinteresses do empresariado. Por outro lado, a adaptação dessasentidades à legislação varguista deu origem a formas deorganização duradouras, que marcarão até os dias de hoje arepresentação empresarial. Ver, para tanto, Leopoldi (2000),em especial a seção I.

2 Sobre as relações de forças, ver Gramsci (1977, p. 1583-1586).

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liderança empresarial, cujas figuras mais destaca-das eram Roberto Simonsen, em São Paulo, eEuvaldo Lodi e Vicente Galliez, no Rio de Janeiro,são indícios de que, além de ser uma força queobjetivamente marcava sua presença na realidadenacional, o empresariado adquiria consciência deseus interesses e procurava organizá-los (LEO-POLDI, 2000, p. 71-81).

A relação entre a burguesia industrial e o Estadonão era, entretanto, o idílio descrito pelos autoresque viam no Estado pós-1930 o representante dosinteresses da burguesia industrial. O governo deGetúlio Vargas foi, inicialmente, aparentementehostil aos industriais. Chegou até mesmo a investircontra as empresas de capital estrangeiro, criandoum imposto de 8% sobre os lucros remetidos,além de ameaçar taxar lucros, produção e imóveis,elevar as tarifas de importação de matérias-primase promover uma rígida inspeção sobre instalaçõese produtos industriais.

A ausência de um projeto desenvolvimentistae a aparente hostilidade para com os empresáriosnos primeiros anos do governo provisório nãoimpediram, entretanto, que, durante a década de1930, Vargas tenha atendido várias das reivindi-cações dos industriais. Mas o atendimento de taisdemandas não obedecia, como muitos queremacreditar, a um plano racional de fomento daindústria. Esta se beneficiou, pelo contrário, deum processo espontâneo de substituição de impor-tações motivado pelos altos preços dos produtosimportados, devido à desvalorização da moeda, eda inexistência dos recursos necessários paramanter o fluxo de compras no exterior (COHN,1985, p. 297).

Embora seja impossível generalizar a influênciado empresariado a partir de alguns exemplos, épossível perceber que existiam, em setores daburguesia industrial, já na década de 1930, projetosque, embora pontuais, demonstravam umadisposição de interferir na definição de políticasgovernamentais3 . É necessário ressaltar que sãoprojetos pontuais. Segundo Gabriel Cohn, as reivin-dicações empresariais durante esse período “sereferem de preferência a produtos específicos,exprimem interesses de áreas particulares e nãode toda uma classe” (idem, p. 292). Embora paraCohn essas reivindicações não forneçam pistasseguras para localizar a emergência de uma classe

empresarial coesa no Brasil, elas sinalizam a exis-tência de uma consciência econômico-corporativa,importante momento da constituição de umaconsciência empresarial propriamente dita. Nessemomento econômico-corporativo, os empresários“sentem a unidade homogênea e o dever de organi-zá-la, a unidade do grupo profissional, mas nãoainda a do grupo social mais amplo” (GRAMSCI,1977, p. 1 583; tradução do autor).

Um segundo momento da ação empresarial sedesenvolverá de 1945 a 1964 e será marcado pelaemergência do setor industrial como o maisdinâmico da economia brasileira, muito embora aagricultura ainda fosse o setor predominante, epela implantação do projeto desenvolvimentista.Esse projeto procurava responder ao esgotamentodo processo espontâneo de substituição de impor-tações e às pressões sociais exercidas seja peloproletariado fabril, seja pelas “classes médias”.

O que caracteriza esse projeto desenvolvimen-tista é a transferência da iniciativa industrializantepara o Estado: este passa a “fabricar o fabricante”,na conhecida expressão de Gramsci (1975, p.2018). Essa iniciativa começou a ganhar impulsocom a criação da Companhia Siderúrgica Nacionale tomou corpo com a fundação da Petrobrás e doBanco Nacional de Desenvolvimento Econômico(BNDE), em 1953. Foi, entretanto, entre 1955 e1960 que se deu o salto qualitativo da indústriabrasileira e ocorreu uma “intensa expansão e dife-renciação industrial, articulada diretamente peloEstado e pelo seu primeiro plano de ação global: oPlano de Metas do governo Juscelino Kubitschek”(FIORI, 1993, p. 9).

O empresariado participará ativamente daformulação desse projeto através de suas entidadesrepresentativas. Na segunda metade dos anos1940, o empresário Roberto Simonsen criou umDepartamento de Economia na ConfederaçãoNacional da Indústria (CNI) e nomeou Rómulode Almeida seu chefe. A CNI e a Federação dasIndústrias do Estado de São Paulo (FIESP),influenciadas por Simonsen, opunham-se aoliberalismo extremado da Confederação Nacionaldo Comércio e da Associação Comercial de SãoPaulo e preconizavam um processo de indus-trialização que não alijava o Estado do processoprodutivo, desde que a iniciativa privada tivessepreservado o seu espaço (DINIZ & BOSCHI,1987, p. 7; BIELCHOVSKY, 1991, p. 160-163).

O próprio Simonsen participou ativamente dos3 Ver a esse respeito Diniz (1978) e Leopoldi (2000).

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debates que ocorreram no interior do governoVargas sobre a condução econômica do país. Em1943, como relator do Conselho de Política Indus-trial e Comercial, órgão do Ministério do Trabalho,Industria e Comércio, apresentou um relatório noqual suas teses seria desenvolvidas.

As idéias apresentadas por Simonsen norelatório, amparadas nos economistas ligados àCNI, representavam uma opção por um modo deorganização da economia baseado, segundoLourdes Sola, nos seguintes pontos: 1) industria-lização acelerada como mola propulsora docrescimento da renda nacional; 2) o mercadointerno como motor do desenvolvimento econô-mico; 3) preocupação com as dimensões sociaisdo desenvolvimento capitalista, e 4) o Estado comoagente do planejamento econômico necessário parao desenvolvimento (SOLA, 1998, p. 70).

Apesar do pleno funcionamento de umCongresso Nacional e de uma estrutura partidáriadurante esse período, a relação do empresariadocom o Estado continuou a ser levada a caboatravés do Executivo e dos órgãos de assessoriapor ele instituídos. Esse parece ser o caso dos“grupos executivos” criados pelo governoJuscelino Kubitschek com representantes do setorprivado e estatal para definir e acompanhar aimplementação dos objetivos setoriais do Plano deMetas (FIORI, 1993, p. 9).

É nesse contexto que irão surgir associaçõesindustriais paralelas. Aproveitando-se da per-missão, contida na Consolidação das Leis doTrabalho, para fundar entidades privadas, osempresários criaram organizações setoriaiscapazes de articular com maior eficácia, junto aogoverno federal, os interesses econômico-corporativos de cada ramo de atividade. Foramfundadas, assim, a Associação da Indústria deAutopeças (1951), a Associação Brasileira daIndústria de Base (1955) e a Associação Brasileirada Indústria Elétrica e Eletrônica (1963), dentreoutras (LEOPOLDI, 2000, p. 88-89). Ao mesmotempo, ocorreu um fortalecimento das entidadesdo empresariado industrial e uma afirmação daFIESP como a principal representação do setorindustrial, suplantando a própria CNI (ibidem).

A participação das associações empresariais nasdiscussões sobre a política econômica dão contado novo vigor que elas haviam adquirido. Bastalembrar as divergências de setores do empre-sariado com o Plano de Metas de Kubitschek e a

forte oposição destes ao Plano de EstabilizaçãoMonetária de 1958-1959, bem como a realizaçãode uma primeira campanha contra a estatização.

O final desse período foi marcado por umcrescimento das mobilizações operárias e popula-res, pelo fortalecimento dos sindicatos e o surgi-mento do Comando Geral dos Trabalhadores(CGT), bem como pela radicalização das lutas nocampo, com o nascimento e expansão das LigasCamponesas. A crise pela qual atravessou o paísnos primeiros anos da década de 1960 e que iriadesembocar na contra-revolução de 1964 acentuouo tom claramente conservador do discurso empre-sarial, contrapondo-se às demandas do movi-mento trabalhista.

A contra-revolução de 1964 contou com oapoio decidido do empresariado e inaugurou umterceiro momento na organização e representaçãode seus interesses. A participação do empresariadona preparação do golpe através do complexoInstituto de Pesquisas e Estudos Sociais/InstitutoBrasileiro de Ação Democrática (IPES/IBAD), foiintensa, conforme detalhadamente demonstradopor René Dreifuss (1981).

Pesquisa realizada por Leigh Payne, confirmaa extensão do apoio dado pelos empresários. Emuma amostra de 132 industriais paulistas, selecio-nados devido à sua intensa participação políticaente as décadas de 1960 e 1980, Payne registrouque 82,3% daqueles que haviam iniciado seusnegócios antes de 1964 apoiaram o golpe (PAYNE,1994, p. 25). Rapidamente os empresárioscolheram os frutos desse apoio. Industriais e ban-queiros passaram a ocupar importantes postosgovernamentais, influindo decisivamente, duranteo governo Castello Branco, nas diretrizes econômi-cas e na reformulação do sistema financeiro.

A idéia, muito difundida, da escassa participaçãopolítica do empresariado perde muito de sua forçacom a análise de seu papel nos processos políticosque tiveram lugar nos anos 1960. Tal participaçãonão retirou o papel de protagonista do Estado, ébom que se diga. Este continuou a dirigir oprocesso de industrialização, seja através doinvestimento direto, seja através do financiamentoà iniciativa privada ou do controle sobre asimportações e a política cambial.

Afastado o fantasma da mobilização nas cidadese no campo pela ação repressiva do Estado ereformado o arcabouço institucional, um novociclo de desenvolvimento industrial teve lugar. Teve

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início, assim, uma situação na qual ocorreu umaperfeiçoamento do sistema de representaçãoempresarial com a consolidação de uma rede deorganizações paralelas à tradicional estruturacorporativa, provocando o fracionamento darepresentação empresarial (SCHNEIDER, 1997-1998; WEYLAND, 1998).

Essa estrutura paralela adaptava a representaçãoempresarial à complexa rede de instituições estataiscriada pelo regime militar para a definição dediretrizes econômicas. Permitiu, assim, principal-mente no período 1964-1974, uma participaçãodireta dos empresários, associados a um corpotécnico, no aparelho estatal. É o caso da constantepresença da representação empresarial no ConselhoMonetário Nacional (CODATO, 1997). Osinteresses representados pelo empresariado,através dessas instituições, mantiveram, ainda, ascaracterísticas anteriores. São interesses parce-lares que não superam o patamar econômico-corporativo. Sua participação nessas instituiçõesrestringia-se à definição de políticas localizadasrelacionadas aos interesses mais imediatos dossetores representados e era realizada sob ainiciativa e o comando do Estado.

A participação direta do empresariado nadefinição de políticas setoriais não encontrouparalelo na definição das linhas mais gerais dapolítica econômica. A estrutura autoritária montadapelo regime militar afastou as entidadesempresariais das esferas mais altas de decisão e,principalmente, do Conselho de DesenvolvimentoEconômico, organismo que, a partir de sua criaçãoem 1974, passou a coordenar a política econômicado governo definida pelo II Plano Nacional deDesenvolvimento (idem, p. 234-256).

O fim do “milagre econômico” provocou aemergência de conflitos entre o empresariado e ogoverno, bem como a reivindicação de maiorparticipação nessas esferas. Desde meados de1974, a economia brasileira havia entrado em umafase crítica cujos principais sintomas eram odeclínio da taxa de acumulação e a aceleração dainflação. Essa crise, gerada pela incompatibilidadeentre as taxas de acumulação e de crescimento dademanda efetiva de bens duráveis de consumo(MELLO & BELLUZO, 1977), combinou-se coma crise da economia mundial que se processavadesde o início da década e que atingiu seu pontomais dramático durante o chamado “choque dopetróleo” em 1974.

A crise econômica colocou o empresariado

dos setores que mais haviam se beneficiado doperíodo anterior frente à perspectiva de queda dasaltas taxas de lucro. “O desequilíbrio entre expecta-tivas e ganhos reais, gerando insatisfação, provo-cou os primeiros indícios de uma atitude de protes-to que, posteriormente, viria a irradiar-se paraoutros segmentos do meio empresarial” (DINIZ,1984, p. 19).

A campanha contra a estatização marcou areação de setores do empresariado ao desgaste domodelo desenvolvimentista sustentado até entãopelo regime militar. A campanha criticava oaumento do Estado e os excessos da intervençãoestatal, principalmente nos setores de transportes,mineração, comunicações e siderurgia. Além deatacar a centralização da atividade econômica peloEstado, os empresários questionavam a centraliza-ção excessiva de poder e a autonomia decisóriaque os tecnocratas responsáveis pela definição dapolítica econômica haviam adquirido. Essademanda política tornar-se-ia a principal preocu-pação do empresariado ao longo da campanha anti-estatização.

A mobilização empresarial não pode, entretanto,ser interpretada como uma reação direta à criseeconômica. Velasco e Cruz ressalta que a adoçãode um projeto liberalizante até mesmo antecedeuos primeiros sinais da crise (CRUZ, 1995). Épreciso perceber que a campanha é um momentono qual os empresários afirmam que não aceitarãomais o papel subalterno ao qual suas entidadeshaviam sido até então relegadas. A relação entreessa nova atitude e a crise precisa ser mediatizada.Crises econômicas não geram, automaticamente,crises políticas, muito embora elas criem “umterreno mais favorável para a difusão de certosmodos de pensar, de formular e de resolver asquestões que afetam todo o desenvolvimentoposterior da vida estatal” (GRAMSCI, 1975, p.1 587). A campanha antiestatista anunciava, atra-vés de seu conteúdo generalizante, um novo modode “pensar, formular e resolver as questões”, oinício de uma superação do patamar econômico-corporativo ao qual haviam se limitado, até então,as reivindicações empresariais.

O questionamento dos empresários não oscolocou claramente no campo da oposição. Osvínculos com o esquema situacionista foram, emlarga medida, preservados (DINIZ, 1984, p. 23)e, como alertou Cardoso, rapidamente os empre-sários voltaram a apoiar, de maneira decidida, oregime militar (CARDOSO, 1983). Tudo isso é

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verdade, mas também o é afirmar que um passoimportante para a formulação de um novo projetodo empresariado havia sido dado.

Esse novo modo de agir empresarial tornou-se ainda mais evidente durante as greves do ABC,em 1978. Reivindicando um aumento salarial emtorno de 20%, dois mil trabalhadores metalúrgicosda Saab-Scania promoveram, em 12 de maiodaquele ano, o início de uma grave que iria marcarépoca. Foram acompanhados por 14 mil metalúr-gicos da Mercedes-Benz e 11 mil da Ford. Tam-bém houve paralisações na Cofap, Phillips, Otis eMotores Perkins, entre outras. Ao longo daqueleano, cerca de meio milhão de trabalhadores realiza-ram greves e no ano seguinte a cifra atingiu 3 241500 trabalhadores (ANTUNES, 1995, p. 12)4.

As greves que tiveram lugar no ABC paulistano final da década de 70 marcam o início de umamplo movimento contra a superexploração dotrabalho e a legislação política repressiva, queatrelava o movimento sindical ao Estado e cerceavaas formas de representação política dos trabalha-dores. Esse movimento alteraria profundamente arelação de forças entre as classes, colocando emprimeiro plano a chamada “questão sindical”.

As reações do empresariado a esse movimentonão demoraram a manifestar-se. No dia 26 de junhode 1978, poucos dias depois, portanto, do iníciodas greves, oito líderes empresariais divulgavamum documento político intitulado Primeiro docu-mento dos empresários. Os signatários do docu-mento haviam sido eleitos em consulta a 5 milempresários de todo o país, realizada pelo jornalGazeta Mercantil. Faziam parte do chamado“grupo dos oito”: Cláudio Bardella, ex-Presidenteda ABDIB e Diretor-Presidente do grupo Bardella;Severo Gomes, ex-Ministro da Indústria e Comér-cio e Diretor-Presidente do grupo Parayba; JoséMindlin, Diretor da FIESP e Diretor-Presidenteda Metal Leve; Antônio Ermírio de Morais, Diretor-Presidente do grupo Votorantin; Paulo Villares, ex-Presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia eDiretor do grupo Villares; Paulo Velinho, Diretorda Associação Brasileira da Indústria de AparelhosElétricos e Eletrônicos (ABINEE), vice-Presidenteda CNI e Diretor do grupo Springer-Admiral;Laerte Setúbal Filho, Diretor-Presidente do Grupo

Duratex, e Jorge Gerdau Johanpeter, Diretor dogrupo Gerdau. Apenas Augusto Trajano de Aze-vedo Antunes e Amador Aguiar, do Bradesco, es-tavam entre os eleitos e não assinaram o docu-mento (DINIZ, 1984, p. 42; MOTTA, 1979).

O documento marcava uma importante inflexãono tratamento por parte dos empresários de temasdelicados como a questão sindical. Afirmavamseus signatários que “Qualquer política socialconseqüente deve estar baseada numa políticasalarial justa, que leve em conta, de fato, o poderaquisitivo dos salários e os ganhos de produtividademédios da economia. A partir deste patamar, poder-se-ia, então, atender às diferenças setoriais, abrindoespaço para a legítima negociação entre empre-sários e trabalhadores, o que exige liberdade sindi-cal, tanto patronal quanto trabalhista, dentro deum quadro de legalidade e de modernização daestrutura sindical” (apud MOTTA, 1978, p. 126).

Fazendo um paralelo, clássico no pensamentoliberal, entre a iniciativa privada e o regime demo-crático, os empresários deixaram claro que consi-deravam esse regime o mais conveniente para“absorver tensões sem transformá-las em umindesejável conflito de classes” (idem, p. 127).

As inesperadas afirmações desses empresáriosprovocaram reações de vários tipos em seu meio.Surpreendentemente não faltaram aqueles que con-sideraram o documento “conservador”, como Car-los Reynaldo Mendes Ribeiro, presidente do Insti-tuto de Desenvolvimento Empresarial do Rio Gran-de do Sul (O DOCUMENTO DOS OITO, 1978).Ao longo do ano, porém, com a expansão do movi-mento grevista, as vozes empresariais foram assu-mindo um tom cada vez mais moderado5 . A mo-deração pode ser claramente percebida no docu-mento divulgado pelos empresários eleitos peloFórum Gazeta Mercantil do ano de 1978. Seguin-do o exemplo dos líderes do ano anterior, essesempresários publicaram um documento mas, destavez, “um tom abaixo”, como ressaltou reporta-gem da revista Veja (UM TOM ABAIXO, 1978)6 .

4 Uma análise mais detalhada desse movimento pode serencontrada em Antunes (1992).

5 Em setembro de 1978 a revista Veja contabilizava osgrevistas daquele ano na indústria em 274 708, representando6 054 horas paradas. Em média, as greves conquistaramreposições salariais de 13% e antecipações de 12% (EFEI-TOS DA NEGOCIAÇÃO, 1978).

6 A lista dos líderes de 1978 tem poucas alterações secomparada com a de 1977, o que ressalta que na verdadetrata-se de uma mudança de posição.

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O “tom moderado” era na verdade um clarorecuo. Os empresários pareciam adotar a máximado peronismo dos anos 1950: “desencillar hastaque aclare”. Ao invés de sinalizar um projetoabrangente de redefinição da ação empresarial, oslíderes de 1978 lavaram as mãos e afirmaram:“desincumbir-se com humildade da grave respon-sabilidade de traduzir as aspirações do empre-sariado nacional com relação à melhor maneira deconstituir neste país uma sociedade desenvolvidae justa” (ibidem).

Pouco moderada foi, entretanto, a atitude daFIESP e de alguns empresários durante as grevesdo segundo semestre. É bom lembrar que, já emjunho, líderes da FIESP conclamavam “a forçarepressiva do governo” (apud CRUZ, 1997, p.341). Tal afirmação despertou muitas críticas nomeio empresarial. Criticas semelhantes, porém,não recebeu a circular da FIESP orientando asempresas para o enfrentamento das greves. Acircular aconselhava as empresas a não fazeremacordos diretos com os empregados; a fecharemos portões, para evitarem a greve no interior dafábrica, e a suspenderem os grevistas ou, atémesmo, “dispensar certo número de pessoas porjusta causa” (idem, p. 348.)

A súbita adesão à democracia expressa pelo“documento dos oito”, deve ser, portanto,considerada de maneira cautelosa. O ano de 1978foi todo ocupado pelas articulações para a sucessãodo General Ernesto Geisel e as incertezas dapolítica de “abertura”, por um lado, e, por outro,pela súbita retomada do movimento grevista. Aação empresarial acompanhará o vai-vem daconjuntura, ora avançando, ora recuando; oravendo no movimento sindical um potencial aliado,ou, ao menos, um interlocutor necessário; ora,ainda, denunciando o caos e a desordem.

O que permanece desse vai-vem e o que unificaos empresários? Permanece uma exigênciacontínua e unitária de materialização, nas açõesgovernamentais, dos anseios do empresariado.Demanda que é claramente visível no documento“dos oito” e seu clamor por um sistema políticoque permita “a participação de todos” (apudMOTTA, 1979, p. 126), mas que é, também, umareivindicação presente nas afirmações do Presi-dente da FIESP, Theobaldo De Nigris, publicadasna imprensa no mês de setembro: “a busca deuma participação efetiva por parte do empresariadonas discussões de problemas nacionais é uma meta

antiga, ainda não atingida. A entidade, portanto,reivindica uma participação oficial na discussãodos principais assuntos econômicos do país” (apudCODATO, 1997, p. 297).

As posições defendidas pelo “grupo dos oito”logo se manifestaram no interior da FIESP. Umadura batalha travou-se no interior da Federaçãopaulista pelo seu comando. De um lado Luís Eulá-lio de Bueno Vidigal, representando uma propostade transformação da ação empresarial. Do outro,Theobaldo De Nigris, buscando mais um mandato.A contenda acabou quando De Nigris retirou suacandidatura, evitando aquela que seria a primeiraeleição disputada para a Presidência da FIESP.

O ano de 1979 terminou, assim, com a incor-poração do “grupo dos oito” ao comando daFIESP. Os empresários que constituíam esse gru-po, representantes, em sua maioria, do setor maisdinâmico da indústria na década de 1970 – a indús-tria metal-mecânica e a eletro-eletrônica –, assu-miram a entidade com um programa que visava ainstaurar um padrão mais autônomo no relacio-namento com o governo, rompendo a dependênciacaracterística do período anterior. No programadesses empresários encontrava-se a busca de umacolaboração mais intensa com o Executivo, procu-rando uma solução negociada para a crise econô-mica e política.

Mais do que uma mudança de atitude em rela-ção ao regime militar, eles procuravam reforçar opoder de barganha frente ao governo federal. Aatitude desses empresários não representava umaruptura decisiva do empresariado com o regime;também não traduzia uma nova hegemonia burgue-sa, como chegou a interpretar Bresser Pereira(1978). A inexistência de uma ruptura decisiva doempresariado com o regime autoritário pode serilustrada pela sua atitude frente à questão operária,atitude essa que mantinha a linha de atuação defi-nida durante a década anterior (DINIZ, 1985).

III. EM BUSCA DE ALTERNATIVAS À CRISEDE REPRESENTAÇÃO

Direção política e ideológica implicam formasinstitucionalizadas e eficazes de representação. Omonopólio da representação não é necessário,embora um certo grau de homogeneidade sejarequerido. O critério fundamental, entretanto, é oda direção efetiva, ou seja, os “representados”devem identificar-se, em grande medida, com os“representantes”.

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Torna-se, assim, evidente que o exercício dahegemonia é incompatível com uma crise darepresentação. Ou seja, aquilo que geralmente édenominado crise de representação, ou crise deautoridade, é, na terminologia aqui utilizada, crisede hegemonia. A crise de representação doempresariado brasileiro manifestou-se com todasua força na década de 1980. Seu sinal maisevidente foi a multiplicação de entidades empresa-riais e as crises internas permanentes ocorridasno interior das antigas federações e confederações.

Durante os anos 1960 e 1970 ocorreu, comojá foi visto, um aperfeiçoamento do sistema derepresentação empresarial, com a consolidação deentidades civis criadas com o objetivo de articularos interesses setoriais do empresariado. Essasassociações civis, entretanto, não se chocavamcom as tradicionais federações e confederaçõespatronais. Antes de mais nada, a estrutura paralelavisava a adaptar a representação empresarial àcomplexa rede de instituições estatais criada pelogoverno federal para a definição de diretrizeseconômicas. Essa rede de instituições permitiuuma participação direta dos empresários noaparelho estatal. A participação nessas instituiçõesgovernamentais ou para-governamentais restrin-gia-se, entretanto, à definição de políticas locali-zadas, relacionadas aos interesses mais imediatosdos setores representados. A estrutura paralela derepresentação não concorria, portanto, com aestrutura tradicional, mas a completava.

O surgimento de um grande número deentidades empresariais na década de 1980 rompeuesse padrão de representação e fragmentou aindamais a representação de interesses patronais.Certamente a estrutura corporativa da represen-tação empresarial e a possibilidade de acesso diretoàs altas esferas decisórias contribuíram para afragmentação associativa, conforme analisado porSchneider (1997-1998) e Weyland (1998). Mas,para além das raízes estruturais, é preciso percebero contexto no qual essas novas associaçõessurgiram: ele definiu-se por uma crise da repre-sentação empresarial alimentada pela combinaçãoda crise econômica com a crise política quemarcara os anos 1980.

As novas entidades surgem apresentando asrespostas mais variadas a esse contexto, expres-sando a ausência de um consenso empresarial.Ao contrário das federações e confederações, elastêm vocação mais abrangente. Organizam empre-

sários de diversos ramos. Articulam interessesmais amplos. Apresentam-se como uma alternativaà estrutura tradicional de representação patronal.Dentre essas entidades, têm-se destacado oInstituto Liberal, o Instituto de Estudos para oDesenvolvimento Industrial (IEDI) e o PensamentoNacional das Bases Empresariais (PNBE),associação que, como já anunciado, é objeto dopresente trabalho.

Criado em 1983, o Instituto Liberal tem porobjetivo a difusão da concepção de mundo liberale seus valores: em primeiro lugar a primazia dasleis de mercado sobre a ação estatal, mas também,e daí decorrentes, a liberdade como fundamentodo Estado de Direito, a defesa da iniciativa privadae a igualdade de todos perante a lei7 .

O Instituto Liberal não está preocupado, pois,com a representação de setores do empresariado,nem com a formulação de uma política industriale sim com a difusão de uma ideologia. Para marcaressa diferença, o Instituto Liberal não se apresentacomo uma associação de empresários e sim comouma associação civil, muito embora sejamempresários a maior parte de seus membros edaqueles que contribuem financeiramente.

Dentre as empresas que contribuemfinanceiramente com a entidade estão alguns dosmais poderosos grupos econômicos do país. Como Instituto Liberal de São Paulo, por exemplo,contribuem nove grandes empresas estrangeirasem operação no Brasil e quinze dos maiores gruposeconômicos nacionais8 .

Com vistas a difundir seu ideário, o InstitutoLiberal tem recorrido a um conjunto de iniciativasvariadas. No Rio de Janeiro, a entidade concentrouseus esforços no acompanhamento de políticas

7 Escreve-se Instituto Liberal, no singular, por uma questãode economia de esforço. Na verdade existem institutosestaduais coordenados por um Conselho Nacional deInstitutos Liberais. Além de citado em um númeroconsiderável de estudos sobre o empresariado, há, sobre oInstituto Liberal, a pesquisa em andamento de DeniseBarbosa Gros. Resultados preliminares dessa pesquisa podemser encontrados em Gros (1993).

8 Os grupos transnacionais são: Alcoa Alumínio, Carrefour,Ciba-Geigy, Citibank, Dow Química, Gessy Lever, Hoechst,Nestlé, e Rhodia. Dentre as empresas nacionais vale destacarBradesco, Banco Itaú, Banco de Crédito Nacional, IndústriasVillares, Paranapanema Mineração, Varig e Votorantim(GROS, 1993, p. 142).

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públicas e na avaliação de projetos de lei atravésde publicação mensal específica: Notas. Avaliaçãode Projetos de Lei. Levantamento feito por DeniseBarbosa Gros registrou, até agosto de 1996, 65números publicados, abordando desde o direitode greve até o orçamento da União. Já em SãoPaulo, a ênfase recai na atividade educacional, sejaatravés de convênios com universidades, seja naformação de jornalistas e de professores do ensinobásico.

O Instituto de Estudos para o DesenvolvimentoIndustrial (IEDI) tem propósitos e formas deatuação diferentes dos do Instituto Liberal. Criadoem 23 de maio de 1989, ele representa um conjuntode interesses restritos à indústria e à políticaindustrial9 . Em documentos da entidade, suamissão é assim resumida: “Participar em parceriacom o Estado e Entidades com interesse naIndústria, da formulação e implementação dePolítica de Desenvolvimento Industrial que, comoparte de um Projeto Nacional, tenha comoobjetivos: participação crescente da Indústriabrasileira na produção mundial da indústria;aumento da produção de bens com maior valoragregado e conteúdo tecnológico; crescimentocontinuado da riqueza nacional. Agir para que ocrescimento econômico resultante propicie melho-ria das condições de vida da sociedade brasileira,tornando-a mais justa e igualitária” (IEDI, s/d, p.2; grifos no original).

Participaram da fundação da entidade e têmmantido nela destacada atuação importantesindustriais, representando empresas e grupos dediversos ramos, principalmente paulistas, mas nãosó. Entre elas merecem destaque, por sua impor-tância, Aracruz Celulose, Cofap, Coldex Frigor,Gradiente Eletrônica, Metalúrgica Gerdau, Indús-trias Votorantim e Grupo Monteiro Aranha.

Entre os sócios-fundadores e integrantes doConselho Administrativo, nove apareceram naslistas de empresários destacados anualmente pelaGazeta Mercantil durante a década de 1980.Também dá mostras da influência dos membrosdo IEDI a participação destes à frente de entidades

como a Associação Brasileira da Indústria deMáquinas e Equipamentos (ABIMAQ), aAssociação Brasileira da Indústria Eletro-Eletrônica(ABINEE) e a Associação Brasileira para o Desen-volvimento da Indústria de Base (ABDIB) (DINIZ,1993, p. 124).

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, oatual presidente da entidade, Eugênio Staub, daGradiente, resumiu assim as “crenças fundamen-tais” da entidade: “A primeira é que o desenvol-vimento econômico e social está intimamenteligado ao desenvolvimento da indústria, e a segundaé que nós empresários, como membros da elite,temos a responsabilidade de desenhar e construiro futuro do país” (ENTIDADE QUER MAISINVESTIMENTO, 1997).

Comportando-se como verdadeiros “intelec-tuais condensados”, formuladores de políticas emega-empresários, os associados do IEDI estãoengajados na criação de estratégias de desenvolvi-mento, tendo como pressuposto que há uma criseestrutural decorrente do esgotamento do “antigomodelo de industrialização por substituição deimportações” inaugurado na década de 1940 e daausência de um projeto alternativo para a décadade 1990 (IEDI, s/d, p. 10). Desde o governoCollor, eles vêm insistindo na necessidade de umapolítica industrial que permita uma inserção nãopassiva no mercado mundial. Em 1996, o entãoPresidente do grupo Ultra e do IEDI, Paulo Cunha,afirmava que a globalização era “um processo degrande intensidade, uma tempestade, e o Brasilabriu seu mercado de forma hesitante, incompletae mal planejada. Tudo caracterizando, portanto,muito mais um vôo de borboleta do que o salto deum tigre” (EMPRESÁRIO ATACA, 1996). Cunhadefendia a necessidade de uma política afirmativaelaborada a “quatro mãos”, entre o setor produtivoe o governo.

Empenhado em elaborar essa alternativa, oIEDI tem sido encarado por empresários e pelaimprensa como um “‘think tank’ de política indus-trial” (SEMLER, 1996), um grupo de grosso cali-bre, “seja pelo volume de negócios, seja pela massaencefálica” (ROSSI, 1994). Não se trata, portanto,de um grupo que almeja representar o empresaria-do ou uma parcela dele, mas de uma entidade volta-da para a elaboração de uma política empresarial:“o objetivo da criação do IEDI era ambicioso:promover estudos visando [a] revelar as novasquestões relevantes para a economia e a indústria

9 Embora citado em artigos de Eli Diniz, Renato Boschi,Sebastião Velasco e Cruz, Schneider, Weyland e DeniseBarbosa Gros que iluminam um ou outro aspecto da entidade,não existe, ainda, estudo exaustivo sobre o Instituto deEstudos para o Desenvolvimento Industrial. O único artigodedicado exclusivamente ao IEDI é o de Kingston (1998).

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do país e, transcendendo o diagnóstico, agir paradar-lhes resposta adequada” (IEDI, s/d, p. 11).

O que aqui cabe ressaltar, entretanto, é quenem o propósito explícito de não competir comas organizações tradicionais na representação doempresariado, nem o volume dos negócios ou da“massa encefálica”, garantiram o espaço do grupono interior da estrutura tradicional de representaçãodo empresariado. Segundo um empresário entre-vistado por Eli Diniz e Renato Boschi, “o caso doIEDI é clássico. Inicialmente, o grupo de empresá-rios que fundou o IEDI, [...] todos nós tentávamosoperar esse projeto do IEDI dentro da FIESP, den-tro da CNI e encontramos dificuldades operacio-nais imensas. Então, pareceu mais eficaz constituiruma organização especificamente voltada para essaatividade, para essa finalidade a que nos propuse-mos” (DINIZ & BOSCHI, 1993, p. 111).

O PNBE difere profundamente das entidadesacima mencionadas. Em primeiro lugar, porqueele almeja representar um setor do empresariado.Em segundo lugar, porque não é uma entidadevoltada explicitamente para a elaboração depropostas ou para a difusão de uma ideologia, masuma associação de empresários com vistas à ação.

A entidade nasceu com pompa e circunstância.No início do mês de junho de 1987, cerca de2600 empresários compareceram ao Anhembi, emSão Paulo, para participar de uma audiência públicacom o então Ministro da Fazenda Luiz CarlosBresser Pereira (PNBE, s/d; 1998). A reunião foiconvocada com objetivo de debater as propostasa serem apresentadas pelos empresários à Assem-bléia Constituinte. Manifestação como essa nomeio empresarial nunca tinha sido vista, ainda maisque a reunião havia sido convocada por algumasjovens lideranças, cujos nomes só eram até entãoconhecidos por aqueles que acompanhavam o dia-a-dia dos sindicatos patronais.

A reunião, ato de nascimento do PNBE, nãodeixou texto ou documento conhecido. Ocupou,apenas, algumas colunas dos jornais (CRÍTICAS,SUGESTÕES, RISOS, 1987; ‘VOU AUMENTAROS IMPOSTOS’, 1987; O SIGNIFICADOPOLÍTICO, 1987; BRESSER DIZ, 1987;MINISTRO RECEBE APOIO, 1987). E, naverdade, poucos de seus participantes lembram-se hoje do conteúdo real do debate. Lembram-se,entretanto, de maneira muito viva, do impacto queela causou no interior da estrutura de representaçãoempresarial.

A oposição da Federação das Indústrias doEstado de São Paulo (FIESP) à organização dessesempresários foi forte. O então presidente daFederação, Mário Amato, havia sido convidado aliderar o evento. Mas não aceitou a proposta. Pelocontrário: interpretou a reunião como uma disputa“pelo poder” na entidade e organizou um boicoteativo. Enviou um documento confidencial aospresidentes dos sindicatos da indústria paulista,orientando-os a marcarem reuniões no horário doevento (PNBE ASSUSTA, 1987).

Emerson Kapaz, que participou ativamente daorganização do ato, narrou assim a reação deAmato: “ele se recusou a estar presente, tivemosuma reunião até dura na FIESP, que eu me lembrobem, e ele não queria de jeito nenhum estar presen-te. Deixou que o CIESP [Centro das Indústriasdo Estado de São Paulo] ajudasse a mobilizar oempresariado” (KAPAZ, 1996).

Essa reação da cúpula da FIESP provocou umconfronto entre esses empresários e a entidade.As animosidades atingiram seu ápice quando MárioAmato destituiu, da diretoria da FIESP, PauloButori, Diretor-Adjunto do Departamento de Esta-tística; Oded Grajew, Diretor-Adjunto do Departa-mento de Expansão Social; e Bruno Nardini, vice-Presidente do BNDES e Diretor-Adjunto doDepartamento de Cooperação Sindical, todos elesmembros ativos do PNBE (PNBE FORA, 1988).

A ausência de um espaço dentro da FIESP levouo movimento a optar pela institucionalização,criando formalmente o PNBE em 1990. Para umdos entrevistados, “as pessoas que compuseramo PNBE sentiam o espaço na FIESP muito limitadopara a ampliação desta discussão de sociedade,do papel das pessoas, essas questões estruturaistodas que a gente tem que resolver” (ANÔNIMO,23.jan.1996).

Como explicar o surgimento do PNBE e ofracionamento cada vez maior da representaçãoempresarial? Como elucidar essa verdadeira“rebelião das bases”? Quais suas reais motivações?

Classificando as novas formas de organizaçãodo empresariado, Sebastião Velasco e Cruz apontaque o surgimento do PNBE está intimamentevinculado ao “surgimento de propostasmobilizadoras endereçadas aos empresários, comopessoas físicas, com o duplo propósito de veicularjunto à opinião pública e às autoridades pontos devistas sub-representados nas estruturas organiza-

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tivas institucionalizadas e de maximizar a influênciade seus promotores no interior destas” (CRUZ,1997a, p. 136).

Nas reclamações sobre o “espaço limitado” enas reivindicações de uma reformulação doprocesso de tomada de decisões no interior daFIESP e da “consulta às bases” é possível ler,sem muito esforço, um clamor por uma representa-tividade maior. Trata-se de uma tentativa desuperação do abismo que separa “representantes”e “representados”, portanto, uma tentativa de supe-rar a crise de representatividade.

IV. PEQUENOS NEGÓCIOS E GRANDESINFLUÊNCIAS

Do grupo original que convocou a manifes-tação do Anhembi, em 1987, nem todos aderiramao projeto de construção do PNBE. Paulo Butori eLuís Carlos Delben Leite continuaram a exerceruma atividade de liderança nos marcos da FIESP,dos sindicatos e das associações setoriais. JosephCouri, por sua vez, embora continue associadoao PNBE, tornou-se, com o passar dos tempos,uma ativa liderança dos pequenos e micro-empre-sários, participando da fundação do Sindicato daMicro e Pequena Indústria (SIMPI), em 1987.

Emerson Kapaz e Oded Grajew foram, daquelegrupo original, os que abraçaram de maneira maisdecidida o projeto de construção de uma novaentidade empresarial. Não ficaram, entretanto, sós.Com o passar dos anos somaram-se ao projeto deconstrução do PNBE alguns importantes industriaispaulistas. Dentre eles merecem destaque: daindústria metalúrgica, Sérgio Mindlin, então Diretorda Metal Leve; Mário Bernardini, da empresametalúrgica MGM e da Associação Brasileira daIndústria de Máquinas e Equipamentos(ABIMAQ); Adauto Ponte, da Associação Brasilei-ra da Indústria de Fundição (ABIFA), e HélioMattar, ex-Diretor da Dako Fogões e, posterior-mente, Secretário do Ministério do Desenvol-vimento10 . Da construção civil: Eduardo Capo-bianco, posteriormente Presidente do Sindicato daConstrução do Estado de São Paulo (SINDUS-CON); Hugo Marques da Rosa, da MétodoEngenharia; e Cláudio Fortes, da João FortesEngenharia S/A. Salo Seibel, do Grupo Madelânia,

e Guilherme Peirão Leal, da Natura, tambémmerecem destaque11 .

Posteriormente, outros pequenos e médiosempresários, principalmente do setor de serviços,iriam se somar ao projeto. São empresários docomércio, como Alberto MacDowell de Figuei-redo, ex-Diretor da BRTR Comércio Exterior eatual Diretor de Recursos Humanos da Nossa CaixaNosso Banco, e Jack Strauss, da Sofá & Compa-nhia; advogados, como Percival Maricatto, quetambém tem empreendimentos em bares e restau-rantes, e, principalmente, consultores, como MárioErnesto Humberg, diretor da CL-A Comuni-cações; Jorge Hori, da Planasa; Betty Abra-mowicz, da Ecoplan; Clarice Pechman, do Bureaude Estatísticas e Estratégias; Dilermando AllanFilho, da Dyal Engenharia Consultores, e ElaineSaad, da Saad Fellipelli Recursos Humanos.

O setor financeiro encontra-se sub-repre-sentado, o que não é de se estranhar, devido àsrecorrentes críticas que a entidade dirige à “espe-culação” e aos “rentistas”. Identificou-se, ao longoda pesquisa, apenas seis banqueiros, entre os quaisJosé Baía Sobrinho, Presidente do Banco Pontual,e Marco Antônio de Queiroz, do Banco Antôniode Queiroz. Mas tais empresários nunca ocuparamposições importantes na entidade.

Por fim três outros empresários merecem des-taque, seja pela dimensão de sua atividade em-presarial, seja pela liderança exercida na entidade:Ricardo Young, Presidente do Yázigi International;

10 Mário Bernardini e Adauto Pontes romperam em 1992com o PNBE e integraram a chapa de Moreira Ferreira àseleições do CIESP/FIESP daquele ano.

11 O currículo de Salo Seibel, 1º Coordenador-Geral daentidade na gestão 1994-1995, dá uma amostra da intensaatividade desses industriais na estrutura de representação doempresariado. Quando da sua candidatura à Coordenaçãodo PNBE, Seibel apresentou o seguinte currículo: vice-Presidente da ABDIB (indústrias de base); Diretor doSINDSUPER (tratamento de superfícies); membro doConselho Diretor da Ação Comunitária do Brasil e daABRASCA (companhias abertas); do Conselho de Admi-nistração da Bovespa; vice-Presidente da ABRIPLA (lamina-dos) e diretor da ABIMA (painéis de madeira); titular doConselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional;Diretor-Geral da holding do Grupo Madelânia (que controlaa Formica e Leo Madeiras, entre outras); Diretor-Presidenteda Satpel e da Madeplac; Presidente do Conselho de Admi-nistração e Diretor da Brasimet; Diretor vice-Presidente daFormiline; membro do Conselho de Administração da NovaGasômetro, empresa controladora do São Paulo Market Center;Presidente da Comissão de Assuntos Parlamentares doCIESP-Zona Sul.

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Pedro de Camargo Neto, ex-Presidente da Socieda-de Rural Brasileira, e Paulo Anthero Barbosa,pequeno empresário da indústria cinematográfica.Camargo Neto e Young já ocuparam a posição dePrimeiro Coordenador-Geral da entidade e Barbosadisputou em 1994 a eleição para tal posto, perdendoa indicação para Salo Seibel.

Um rápido levantamento dos empresários vin-culados ao PNBE permite identificar que, duranteseus primeiros anos, a presença de industriais eramuito forte. Nascido no interior do complexoFIESP/CIESP, o PNBE naturalmente vinculou suaorigem à indústria, aparecendo como um setor deoposição à Federação. Segundo um entrevistado,“como o PNBE nasceu de um grupo de industriaisque atuavam na política dentro da FIESP ele foi

taxado inicialmente de um grupo dissidente daFIESP, de oposição à FIESP. Na verdade não é,ele não tinha esse propósito, tinha o propósito decriar alguma coisa diferente de fazer uma formadiferente de ação. Ao longo dos anos isso foificando cada vez mais claro quando o PNBEaumentou muito a participação de em-presáriosde outros setores que não da indústria e se ocupoude questões mais amplas no cenário nacional,como a questão de reformas políticas e a questãode educação” (ANÔNIMO, 26.jun.1996).

O predomínio dos industriais transpareceu cla-ramente nos primeiros anos de institucionalizaçãoda entidade. Os oito primeiro coordenadores ini-ciais da entidade foram industriais, como pode servisto no quadro abaixo:

QUADRO 1 – Relação dos coordenadores gerais da entidade (1990/1997)

Fonte: PNBE (1998).

muito, até por uma mudança da realidadeeconômica mesmo. Serviços é [sic], hoje, na rea-lidade da economia mundial, um setor que crescemuito. Então a representação de qualquer empre-sariado tem que passar pela questão de serviçotambém” (KAPAZ, 1996).

A transformação na composição social daentidade pode ser verificada na lista de empresáriosque aderiram ao PNBE entre 12 de agosto de 1993e 25 de fevereiro de 1994, período de grandeexpansão do número de associados na entidade(Pensamento empresarial, 1993; 1994). Dos 185

Entretanto, analisando as publicações daentidade e realizando entrevistas foi possívelperceber que, ao longo dos anos 1990, houve umclaro deslocamento da composição da entidade.Aos poucos o setor de serviços passava a pre-dominar. Em 1996, o Secretário-Executivo daentidade, Alfredo Sette, informou que a maioriados associados eram pequenos e médiosempresários do setor de serviços. Já EmersonKapaz, um dos organizadores do ato do Anhembi,afirmou que tal manifestação foi majoritariamenteindustrial, mas, atualmente o PNBE tem “umatendência muito forte de serviços. Serviços cresceu

Primeiro coordenador Segundo coordenador Data da eleição

Oded Grajew Emerson Kapaz Junho/1990

Emerson Kapaz Oded Grajew Dezembro/1990

Sérgio Mindlin Eduardo Capobianco Dezembro/1991

Eduardo Capobianco Hélio Mattar Julho/1992

Hélio Mattar Ricardo Vacaro Dezembro/1992

Emerson Kapaz Paulo Anthero Barbosa Julho/1993

Emerson Kapaz Paulo Anthero Barbosa Dezembro/1993

Emerson Kapaz Paulo Anthero Barbosa Julho/1994

Pedro de Camargo Neto Eduardo Schubert Dezembro/1994

Salo Seibel Jack Strauss Junho/1995

Salo Seibel Jack Strauss Janeiro/1996

Ricardo Young Mario Ernesto Humberg Junho/1996

Eduardo Capobianco Betty Abramowicz Abril/1997

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associados listados, apenas um exercia atividadeem empresa industrial de porte, Hugo Marques daRosa, da Método Engenharia12. A grande maioriados novos associados era do setor de serviços. Aeleição do ruralista Pedro de Camargo Neto para aprimeira Coordenação-Geral, em 1994, indicouque, aos poucos, a entidade estava se afastandode seu berço industrial. Mas foi a eleição de Ricar-do Young para o cargo que consolidou esse novoperfil, o que não escapou aos observadores maisatentos na época (OUTRAS BASES, 1996).

A lista de associados do PNBE publicada em1998 dá conta dessa predominância do setor deserviços. Nesse ano, mais de três quartos dos só-cios do PNBE estavam vinculados ao setor ter-ceário da economia. Dos 359 associados, 237 per-tenciam ao setor de serviços, 79 à indústria, 39 aocomércio e 9 ao setor agropecuário (PNBE, 1998).

Além de um deslocamento para o setor de ser-viços, é possível verificar, também, um predomíniode pequenos e médios empresários. Ao contrárioda tendência à tercearização da entidade, a baixapresença de grandes empresários é uma marca daentidade desde sua fundação. Os industriais quecriaram o PNBE destacavam-se, com notáveisexceções, mais pelo papel ativo nas associações esindicatos empresariais do que pelo volume de seusnegócios. Emerson Kapaz era proprietário da Elkae Oded Grajew da Grow, empresas de porte médioda indústria de brinquedos.

A liderança que ambos exerceram no PNBE eno meio empresarial supera em muito a dimensãode seus negócios. Em 1986, Kapaz foi eleito pre-sidente do Sindicato das Indústrias de Instru-mentos Musicais e de Brinquedos do Estado deSão Paulo e reeleito em 1989. Várias vezes coor-denador do PNBE, Kapaz participou ativamentedas gestões por um entendimento nacional duranteo governo Collor, quando adquiriu projeção nosmeios de comunicação. Em 1991, seu nome apa-recia pela primeira vez na lista de líderes empre-sariais elaborada anualmente pela Gazeta Mercantilatravés de consulta a homens de negócios de todoo país. Ocupava aí a quinta posição. No ano se-guinte, já era o segundo da lista, passando a ocupar

a posição de mais votado nos anos de 1993 e 1994.

Paradoxalmente, o Balanço anual da GazetaMercantil 1994/1995, que o indicou como líderempresarial do ano, não registra sua empresa, aElka Plásticos. Naquele ano a imprensa noticiavaque o faturamento da Elka havia sido de US$ 20milhões e que a empresa possuía 580 funcionários(ELEIÇÃO NA FIESP, 1992). Foi, pois, na condi-ção de dirigente empresarial e não na de homemde negócios que Kapaz lançou sua candidatura àpresidência da FIESP, em 1992.

Grajew, por sua vez, ocupou a primeira coor-denação do PNBE na fundação da entidade, bemcomo a presidência da Associação Nacional daIndústria de Brinquedos (ABRINQ). Foi, também,coordenador do Movimento pela Ética na Políticae criou e lidera a Associação de Empresários pelaCidadania (Cives), que reúne empresários vincu-lados ao Partido dos Trabalhadores. Nos últimosanos, seu nome ganhou repercussão devido à sualiderança na Fundação Abrinq pelos Direitos daCriança (O CHATO QUE FUNCIONA, 1997).Quanto aos negócios... bem, aí a história pareceser outra. A empresa que ajudou a fundar, a GrowJogos e Brinquedos, apresentou, em 1997, umareceita líquida de R$ 39 milhões e um patrimôniolíquido de R$ 1 milhão. Mas a empresa há muitonão contava com Grajew à sua frente. Em 1988,ele deixou as funções executivas de sua empresade brinquedos: “queria mais tempo para mim”,explicou. E, em 1994, retirou-se definitivamentedo negócio, vendendo sua participação para osócio Valdir Rovai (ibidem).

Nesse mundo de pequenos e médios empre-sários e grandes influências, Sérgio Mindlin e SaloSeibel parecem ser as exceções. Sucessor do lendá-rio José Mindlin no comando da Metal Leve, Sérgioficou à frente da empresa até 1996, quando foivendida ao grupo alemão Mahle. No ano posteriorà sua venda, a Metal Leve fechou o ano com umpatrimônio líquido de R$120 milhões e um fatura-mento anual de R$229 milhões, quarto melhor re-sultado do setor de componentes e motores, se-gundo o Balanço anual Gazeta Mercantil. Mindlin,o filho, já ocupou a primeira coordenação do PNBEe atualmente é membro do Conselho Diretor daFundação ABRINQ pelos Direitos da Criança. Nalista dos associados já citada, Sérgio Mindlin figuraagora como prestador de serviços de consultoriade gestão e de comunicação.

Salo Seibel, por sua vez, tem um extenso

12 Segundo o Balanço anual da Gazeta Mercantil 1998, aMétodo Engenharia é líder do segmento de edificações comer-ciais, com uma receita líquida de R$ 125 milhões (GAZETAMERCANTIL, 1998, p. 296).

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currículo de atividades empresariais, como já foimostrado, e esteve à frente do PNBE nos anos-chave de 1994 e 1995, além de ser, atualmente,conselheiro do IEDI. A principal empresa doGrupo Madelânia, do qual é Diretor Geral, a LeoMadeiras, liderava o setor de material elétrico e deconstrução do Balanço anual Gazeta Mercantil,no ano de 1998, com uma receita líquida de R$111 milhões e um patrimônio líquido de R$ 43milhões.

No pequeno grupo de grandes empresários doPNBE é preciso acrescentar, mais pelo porte desuas empresas do que pela participação na entidade,os nomes de Guilherme Peirão Leal e Antônio Luizda Cunha Seabra, da Natura. Ambos viram suaempresa quadruplicar o faturamento nos seisprimeiros anos da década de 90, tornando-se aquarta maior empresa brasileira do setor de higienee limpeza, com 3 mil funcionários, 180 milvendedores e um faturamento anual de US$ 580milhões (ATÉ ONDE A NATURA, 1997, p. 118).Merecem destaque, também, Celso Varga, daFreios Varga S/A; Sérgio Coimbra, da Cia. Caciquede Café Solúvel; e um surpreendente José RobertoMarinho, do Sistema Globo de Rádio.

O predomínio dos pequenos e médios empre-sários do setor de serviços pode indicar que aentidade serviu para organizar setores que até entãonão viam suas demandas de representação serematendidas pelos sindicatos, federações e confedera-ções patronais. É o que dá a entender EmersonKapaz, por exemplo. Questionado sobre o predo-mínio dos pequenos e médios empresários noPNBE, Kapaz respondeu: “É porque no fundo nóssurgimos com essa forte preocupação com umaquestão chamada democracia, porque se vocêrepresenta o empresariado de uma forma democrá-tica mesmo, a tendência é que você tenha um gran-de peso de pequena e média empresa, 95% dasempresas do Brasil são micro, pequenas e médias.Só 5% são grandes. Então você tem 3 milhões e500 mil empresas desse porte no Brasil. Se vocêquer representar democraticamente o empresariadocomo um todo, você vai ter 95% de pequenas emédias empresas” (KAPAZ, 1996).

V. EM BUSCA DE UM PROJETO EMPRESA-RIAL ALTERNATIVO

O fato de que o PNBE tenha nascido comoum movimento preocupado em elaborar aspropostas dos empresários para a Assembléia

Constituinte é bastante significativo. Historica-mente, esse momento coincidia com a falência doPlano Cruzado e a escalada inflacionária; coincidiatambém com um incremento da mobilizaçãosindical que procurava, através das greves, recu-perar as perdas salariais.

Vários entrevistados ressaltaram que o fracassodo Plano Cruzado está na origem do movimento.A crítica não era dirigida tanto às medidas em si,mas à forma como elas foram implementadas,principalmente após as eleições de 1986, quandoo governo procedeu à liberação dos preços.Segundo Oded Grajew, um dos fundadores doPNBE, “o plano causou muita euforia mas nãodeu em nada, porque foi feito de cima para baixo”(PNBE, 1993c).

Concebido a portas fechadas e divulgado soba forma de Decreto-Lei, o Plano Cruzado repro-duziu o estilo tecnocrático de gestão próprio dosgovernos anteriores. Todas as afirmações a favorda união nacional e ao pacto social realizadas porTancredo Neves antes da posse não se materia-lizaram em políticas concretas. Tanto a equipeeconômica, liderada por Francisco Dornelles, decaris ortodoxo, como os heterodoxos, chefiadospor Dílson Funaro, procederam da mesma forma,recusando toda interferência externa e a negociaçãona elaboração das políticas econômicas.

Daí a contradição: muito embora o Plano nãoprescindisse do apoio ativo, conclamando àmobilização e à sua defesa, este só tinha a oferecercomo atrativo seus fins e não os meios. O apoioempresarial estava, em grande medida, vinculadoàs expectativas de contenção da inflação e ao apoiopopular que o Plano havia despertado em seusprimeiros momentos. Mas essa era uma base frágilpara um maior comprometimento com o futuroda política econômica governamental.

Não é lugar, aqui, de analisar as razões dofracasso do Plano Cruzado. Basta apontar que talfracasso deve-se não só a razões econômicas comotambém à incapacidade de o governo federal com-prometer empresários e trabalhadores com suasmetas. Não só os empresários realizaram uma per-manente guerra de guerrilhas contra o congela-mento de preços, recorrendo a inúmeros artifíciospara burlá-lo ou pressionando ininterruptamenteo governo para sepultá-lo, como os trabalhadoresutilizaram a expansão do consumo e o aqueci-mento da atividade econômica para reivindicar e

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conquistar aumentos salariais.13.

Embora tenha sido escolhido pelo PNBE comoo momento-símbolo para o despertar da consciên-cia empresarial, o fracasso do Plano Cruzadocoincide cronologicamente com a consolidação doregime democrático no país, através da convo-cação de uma Assembléia Nacional Constituinte.É, portanto, mais um elo numa cadeia de profun-das transformações, não só políticas, como tam-bém econômicas e sociais, pelas quais passou asociedade brasileira na década de 1980.

Um dos entrevistados manifestou assim essastransformações e seu impacto: “Depois do fim doregime militar, diretas já, aquele movimento todo,o próprio surgimento do movimento sindical em1983, a CUT em São Bernardo, você começa ater um engajamento maior, uma participação maior,ou uma busca de uma participação maior dasociedade neste processo. E o Cruzado foi a gotad’água nesse processo, porque ele mostrou quese a gente ficasse dentro dos muros, das empresas,as pessoas que compõem o governo continuariammanipulando o Estado segundo seus próprios inte-resses, como foi feito no Cruzado” (ANÔNIMO,23.jan.1996).

A necessidade de organizar o empresariado paragarantir a influência deste na Assembléia NacionalConstituinte aparece em outra entrevista: “oempresariado estava desmobilizado para fazer umaarticulação consistente e influir nas decisões daAssembléia Constituinte que estava acontecendo,começando a ser discutida em Brasília” (ANÔ-NIMO, 27.jun.1996).

Dois eram os problemas destacados pelosempresários: a ausência de uma plataforma empre-sarial que desse conta de todas as questões abor-dadas na Constituinte e a fraca capacidade derepresentação das federações e confederações.

A ausência de uma plataforma abrangente podeser verificada no discurso de Luís Eulálio de BuenoVidigal, então Presidente da FIESP, na Federaçãodas Indústrias do Estado de Minas Gerais. Napalestra, Vidigal expôs o programa do empresa-riado para a Constituinte, salientando que os temas

referentes à iniciativa privada e às entidadespatronais diziam respeito à chamada Constituição“econômica”. Os temas destacados por Vidigalforam “a definição do papel do Estado no domínioeconômico, a forma ou o tipo de economia, oexercício do poder na economia, os direitos egarantias econômicas e o próprio conceito degoverno na economia” (VIDIGAL, 1986, p. 94).

No que diz respeito à ordem econômica o obje-tivo das propostas do empresariado foi a proteçãoà iniciativa privada, que, para Vidigal, era “ma-nifestação da liberdade humana e condição daliberdade política” (idem, p. 95). A economiadeveria organizar-se segundo as leis do mercado,cabendo à iniciativa privada a exploração das ativi-dades econômicas. Para o então Presidente daFIESP, o Estado não poderia criar uma empresaque disputasse com a empresa privada. A ele cabe-ria planejar o desenvolvimento econômico nacionale regional “por meio do entendimento entre o tra-balho e o capital”, proposta que ganhou progressi-vamente destaque no discurso empresarial a partirda segunda metade da década passada (ibidem).

A proposta do empresariado também abrangiaos direitos dos trabalhadores, entre os quais o degreve. Esse direito deveria ser reconhecido, masestariam proibidas as greves “nos serviços públicose atividades essenciais; as greves políticas e desolidariedade; e as desencadeadas depois deassinados acordos ou convenções coletivas, apósa homologação do laudo arbitral ou após decisãoda Justiça do Trabalho proferida em dissídio cole-tivo, ressalvada a greve pelo não pagamento dossalários dentro dos prazos legais” (idem, p. 98).

Apesar de bastante detalhada, principalmenteno que se refere à restrição do direito de greve, aproposta do empresário não menciona os demaistemas que seriam debatidos na Constituinte. Temasda dimensão da reforma agrária ou do sistema degoverno sequer são citados, caracterizando a au-sência de um projeto abrangente do empresariado.A ausência de tal projeto não deixou de ser notadapelos empresários do PNBE e foi motivo decríticas em mais de uma oportunidade. Grajew,por exemplo, afirmou que “a discussão da dívidaexterna, que é básica, nem é levantada na FIESP”(GRAJEW, 1989).

Os estreitos limites da proposta para a Consti-tuinte apresentada por Vidigal em nome do em-presariado contrastam com a abrangência de inte-

13 Ao longo do ano, houve 1 267 greves e um total de 8,3milhões de grevistas – 4,5 milhões dos quais no setor privado(CUT, 1994).

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resses que aparece nas declarações de empresáriosvinculados ao PNBE. De fato, para essa entidadetratava-se de superar os limites impostos à açãoempresarial pela estrutura tradicional de represen-tação de interesses, extrapolando o nível dosinteresses econômico-corporativos: “O PNBErealmente não teve uma idéia de se contrapor àFIESP no que diz respeito à ação corporativa daFIESP em prol da indústria e tal. As pessoas quecompuseram o PNBE sentiam o espaço na FIESPmuito limitado para outro tipo, para a ampliação eamplificação desta discussão de sociedade, dopapel das pessoas. Essas questões estruturais todasque a gente tem que resolver. Então era muito nalinha ‘tá bom para mim, tudo bem’ e a gente estavaextremamente insatisfeito com isso. Achávamosque a gente tinha que participar do processo políti-co efetivamente, além da dimensão corporativa”(ANÔNIMO, 23.jan.1996).

A crise orgânica, que caracterizava a situaçãovivida – articulação de uma crise econômica agudacom uma crise de representação – não escapou àpercepção do empresariado. Emerson Kapazanalisou-a explicitamente em artigo publicado nojornal Gazeta Mercantil, no ano de 1989, justa-mente aquele que marcou os momentos maisagudos da crise. O artigo intitulou-se, emblemati-camente, Uma crise de utopias se faz presente naAmérica Latina. Nele, Kapaz articula três níveisda crise, o político, o social e o econômico: “Nopolítico, a crise se agudiza quer pela ineficáciadas instituições políticas representativas frente àação das elites com poder financeiro, quer pelainternacionalização crescente das decisões políti-cas e pela falta de controle que a cidadania temsobre as burocracias públicas. Contribuem, tam-bém, a configuração de um universo político ca-rente de fundamento ético e a falta de uma ‘cultura’democrática arraigada nas sociedades latino-americanas. No social, a crescente fragmentaçãode identidades sócio-culturais, a falta de integraçãoe comunicação entre movimentos sociais, a cres-cente exclusão social e política e o empobreci-mento das grandes massas têm levado ao des-controle dos conflitos no seio das sociedades, im-possibilitando respostas construtivas a tais confli-tos. No econômico, o sistema de dominação sofreatualmente mudanças profundas, onde incidem demaneira substancial a mundialização da economia,o auge do capital financeiro, com seu enormepoder concentrador, e os múltiplos efeitos dassucessivas golfadas tecnológicas nos padrões de

consumo” (KAPAZ, 1989).

E em um tom carbonário, Kapaz concluía, en-tão, com a denúncia do “‘garrote’ da dívida exter-na”, que, com a cumplicidade “dos governantes edas classes dominantes”, impunha enormes sa-crifícios aos países em desenvolvimento. É fácilsaber quem são os governantes. Mas e as tais“classes dominantes”? Qual o lugar dos empresá-rios nelas? Kapaz se auto-exclui, evidentemente,do universo dessas classes, dando a entender queapenas um pequeno grupo de empresários estariaincluído nelas. Grupo que é objeto, recorrentemen-te, da crítica do PNBE: “as grandes empreiteiras ebancos, os que desfrutam o poder em Brasília ealgumas oligarquias regionais nos estados menosdesenvolvidos”, nas palavras de um coordenadordo PNBE (HUMBERG, 1993); em outras oca-siões, a lista recebeu a adesão dos “monopólios eoligopólios” (CAPOBIANCO, 1997).

Os três níveis de desenvolvimento da crisedesembocam, para Kapaz, em uma crise de utopias(crise orgânica?). Mas o que é, exatamente, essacrise? Ela é, fundamentalmente, a ausência derespostas alternativas ao autoritarismo, ao populis-mo e ao neoliberalismo que têm marcado a reali-dade latino-americana nas últimas décadas. Aausência de tais alternativas fez que as respostasa essa realidade assumissem a forma de “progra-mas imediatistas ou se reduzem a reivindicaçõesde recuperação dos ‘níveis históricos’” (KAPAZ,1989).

Nas críticas aos “governantes” e às “classesdominantes”, nas reclamações contra a ausênciade um projeto alternativo, na afirmação de uma“crise de utopias”, é possível ler uma profundainsatisfação com as respostas à crise que vinhamsendo articuladas pela estrutura tradicional derepresentação do empresariado. A articulação dosníveis social, econômico e político da crise indicaa vontade expressa de superar o caráter econô-mico-corporativo das propostas até então colo-cadas na mesa pelo empresariado e apresentar umnovo programa de caráter hegemônico, global,portanto, como saída para a crise.

Coerente com essa vontade, o PNBE criougrupos de trabalho para analisar questões consi-deradas relevantes e apresentar respostas. Dentreesses grupos, destacavam-se, em 1993, os seguin-tes: Democracia e cidadania; Meio ambiente; Rela-ções internacionais; Fórum Cidade de São Paulo;Fórum capital-trabalho; Articulação política; e

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Direito Econômico (PNBE, 1993c). Ao mesmotempo, as ações do PNBE passaram a abrangertemas até então ausentes da pauta das federaçõese confederações patronais, como as reformaspolítica e do Estado, a ética empresarial, o contratocoletivo de trabalho e, principalmente, aconstituição de um novo modelo de desenvolvi-mento nacional14 .

Detenhamo-nos um pouco nesse último item.No início dos anos 1990, era voz corrente no meioempresarial, na imprensa especializada e naAcademia, a noção de que o modelo de desenvol-vimento baseado na substituição de importações eamparado na ação tutelar do Estado havia esgotadosuas potencialidades. A crise brasileira era, assim,percebida, em grande parte, como crise de modelo.De fato, o discurso neoliberal tomava como pontode partida, em nosso país, tal constatação para, apartir dela, deduzir de maneira abrupta a necessáriaretirada do Estado das atividades econômicas.

Não é diferente o ponto de referência que oPNBE e suas lideranças tomam para construir seuprojeto, como deixa claro Emerson Kapaz em artigopublicado por ocasião de sua candidatura àseleições da FIESP (KAPAZ, 1992). Mas assemelhanças interrompem-se, pelo menos porenquanto, nesse ponto de partida. É o que eviden-cia a análise do documento programático Projetonacional: o Brasil que queremos. Aprovado na 1ªConvenção Nacional do PNBE, depois de umasérie de reuniões e debates preparatórios, o Projetonacional autodefine-se como um “anteprojeto deuma nação” (PNBE, 1994a).

É um anteprojeto ainda muito vago, é verdade,mas já é possível identificar nele uma vocação quesupera os limites estreitos e imediatistas caracte-rísticos da ação empresarial, ao mesmo tempo emque se distancia da proposta neoliberal. O Projetonacional fez sua opção pela economia de mercado,mas, afastando do discurso então dominante,afirmou a necessária permanência do Estado com“tanto maior intensidade quanto mais precáriasforem as condições sócio-econômicas que severifiquem em razão de diversidades e peculiari-dades regionais, setoriais e outras” (ibidem).

Para o PNBE, o Estado não se reduziria ao mí-nimo liberal. Ele deveria manter uma forte posiçãotanto na atividade econômica como na prestaçãode serviços. Assim, caberiam ao Estado, além dasatividades inerentes ao seu “núcleo duro”, comoo controle monetário, as relações exteriores e asegurança nacional, funções outras, como “auniversalidade da educação básica até o SegundoGrau. A assistência à infância, à velhice, aosdeficientes, aos desvalidos e aos desempregados;a criação, a construção e a manutenção da infra-estrutura e dos serviços básicos; combate àsendemias; o estímulo à produção e ao desenvolvi-mento tecnológico” (ibidem).

A essa lista seria necessário acrescentar agarantia de “uma renda mínima a todos os cidadãosque não consigam, temporária ou definitivamente,auferir renda própria” (ibidem). Como podemosconstatar, no centro da visão dessa associaçãoempresarial, ou pelo menos da maioria dos seusassociados, expressa através dos documentos daentidade, não está a suposta capacidade auto-reguladora do mercado.

O distanciamento do PNBE do modelo neoli-beral de Estado mínimo assumiu, por vezes, tonsbastante fortes. No Fórum Nacional sobre ContratoColetivo e Relações de Trabalho no Brasil, o repre-sentante do PNBE, Alberto Mac Dowell de Figuei-redo, definiu da seguinte maneira a posição doPNBE: “Há dois modelos de Estado. O primeiro éo modelo idiota, do Estado liberal que não temfunção, que não intervém onde tem que intervir.O segundo é o hipócrita, que não induz os atoressociais a amadurecerem porque os substitui”(MINISTÉRIO DO TRABALHO, 1994, p. 285).

Mas, além de ser uma nota dissonante em meioa um consenso neoliberal, o que a proposta doPNBE traz de inovador ao discurso empresarial éuma persistente afirmação da negociação e do en-tendimento nacional como chave para a saída dacrise econômica e política que caracterizou a dé-cada de 1980 e parte da década de 1990. É aquique o projeto da entidade adquire uma vocaçãoglobal, hegemônica, propondo não só um processode mobilização permanente da sociedade, comoum alargamento dos interesses representados noEstado e a incorporação de demandas da classetrabalhadora. Tal projeto resume-se como uma“profunda transformação cultural e ética” (PNBE,1994a).

A proposta do PNBE é, assim, uma proposta

14 Sobre a reforma política ver PNBE (1993a; 1994d);sobre a ética empresarial, PNBE (1994b); sobre o contratocoletivo, PNBE (1993b); para o Projeto nacional, ver PNBE(1994a; 1994c).

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de mobilização nacional, que, ultrapassando ohorizonte das relações entre empresários indivi-duais e o Estado, propõe uma rearticulação dasrelações existentes entre a sociedade e o poderpolítico. Cabe ressaltar que nessa rearticulação nãocaberia ao poder político o papel preponderante esim às relações capital-trabalho. Sustentando essavisão está uma proposta de relação capital-trabalhomuito distante daquela que caracterizou a FIESPna década de 1980 e uma crítica à estruturacorporativista tutelada pelo Estado15.

Em documentos da entidade, empresários etrabalhadores são apresentados como “os doislegítimos agentes e alvos do desenvolvimento dasociedade” (FIGUEIREDO, 1993). Constituindoum “sistema interdependente de soma zero”,capital e trabalho deveriam estabelecer uma relaçãocapaz de maximizar os ganhos para ambas aspartes. Segundo um dos líderes do PNBE, emartigo publicado no jornal Pensamento empresarial,a “apropriação por qualquer dos agentes de parcelamaior que a de sua competência, significa alterara margem de contribuição, harmonia e equilíbriodo sistema num processo em cadeia que levará àruptura” (idem).

O discurso do PNBE rejeita, entretanto, a afir-mação, muito em voga, da parceria capital-tra-balho: “trabalho e capital são co-responsáveis nosempreendimentos produtivos, embora tenhaminteresses conflitantes. Reconhecido o conflito deinteresses, não se pode falar em parceria entretrabalho e capital, o que pressuporia objetivoscomuns, o que não é claramente o caso” (PNBE,1994b).

Para Figueiredo, a “negação do conflito impedeque o jogo seja jogado, mas a única forma de sejogar este jogo com equilíbrio é reconhecer a legi-timidade dos interesses das partes” (MINISTÉRIODO TRABALHO, 1994, p. 37). O reconhecimentodo conflito não implica, entretanto, para essesempresários, que a solução deste passa pelanegação de uma das partes. Capital e trabalhopodem convergir em um processo de negociação,

no qual um acordo, que contente ambos, podeser alcançado. Para o PNBE, “negociações sériase maduras devem propor a convergência por trocaentre os agentes” (PNBE, 1992b).

Embora admitido, o conflito entre capital etrabalho é esvaziado de significado ao ser apre-sentado unicamente como um conflito distributivo.A esfera da produção, e, portanto, a própriareprodução de relações sociais contraditórias, édescartada. Eliminada a base do conflito, ele pode,não só, facilmente ser admitido, como tambémincorporado à análise.

O ponto de partida desse esvaziamento é aafirmação de que capital e trabalho são parte deum sistema interdependente, um jogo de somazero. Isso implica admitir o crescimento econô-mico capitalista e o lucro como pressupostos in-dispensáveis para o funcionamento do sistema,muito embora digam respeito a apenas um dospólos da relação. Aqui, o pólo mais poderoso doconflito impede que a racionalidade pré-existenteseja questionada, implicando que a ordem atualseja mantida e continuamente reafirmada e recons-truída. Demandas, estratégias e táticas incom-patíveis com esses pressupostos devem ser des-cartadas de antemão pelos participantes do jogosob pena de que todos percam.

É Figueiredo quem melhor expressa, dentroda entidade, esses condicionantes para o enten-dimento e a negociação. Respondendo a umapergunta sobre os objetivos da relação entre capitale trabalho, por ele mesmo formulada no Fórum jámencionado, Figueiredo afirma: “Primeiro, queexista a atividade econômica, que representa umresultado positivo para o conjunto da sociedade.[...] O segundo aspecto da questão é que a ativi-dade econômica pressupõe o lucro, a remuneraçãodo capital. É o lucro que viabiliza, moderniza eperpetua a atividade da empresa” (MINISTÉRIODO TRABALHO, 1994, p. 38).

Fiel à sua proposta, o PNBE defendeu, aolongo dos primeiros anos da década de 1990, todae qualquer iniciativa que pudesse criar as condiçõespara a institucionalização dessas negociações.Apoiou e foi peça chave do entendimento nacionalpromovido pelo governo Collor; defendeu ainstalação das câmaras setoriais e a extensão desuas atribuições (MINDLIN, 1991); propôs acriação de um Fórum Permanente de UniãoNacional, durante o governo Itamar Franco(PNBE, 1992a), dentre várias iniciativas.

15 Eli Diniz mostrou o grande apego do empresariado àherança corporativo-autoritária. Esse apego manifestou-setanto na intransigência com que esse empresariado enfrentouas greves metalúrgicas de meados da década passada com emsuas propostas de limitação do direito de greve (DINIZ,1985; 1997, p. 48-52).

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Mas tal projeto, entretanto, nunca assumiu con-tornos muito definidos. Foi muito mais uma profis-são de fé do que um programa. A vitória eleitoraldo PSDB, nas eleições de 1994, representaria umainflexão nessa trajetória do PNBE. Tendo impor-tantes lideranças ocupando postos destacados nasadministrações estaduais do partido do PresidenteFernando Henrique Cardoso, a entidade gradati-vamente foi alterando o foco de seu programa. Aênfase nas novas relações capital-trabalho e as

propostas de entendimento nacional foram ceden-do espaço à defesa das reformas liberalizantes.

Ironia da história, o projeto hegemônico ao qualo PNBE acabou aderindo não nasceu de umarevitalização das lideranças empresariais, nemespontaneamente da relação capital-trabalho.Nasceu, justamente, do Estado que a entidade tantoatacou.

Recebido para publicação em 23 de maio de 2001.

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