contos pulga pt
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Kalandraka. 7 Léguas. Portugués.TRANSCRIPT
PRÉMIOLAZARILLO
de criação literária2006
Título original: Cuentos como pulgas
Coleção SETELÉGUAS
© do texto: Beatriz Osés, 2013
© das ilustrações: Miguel Ángel Díez Navarro, 2013
© da tradução: Elisabete Ramos, 2013
© desta edição: Kalandraka Editora Portugal Lda., 2013
Rua Alfredo Cunha, n.º 37, Sala 34 4450-023 Matosinhos. PortugalTelefone: (00351) 22 [email protected]://www.kalandraka.com/pt/
Desenho dos logotipos da coleção: Óscar Villán
Impresso em Gráficas Anduriña, Poio, EspanhaPrimeira edição: junho, 2013ISBN: 978-989-749-003-3DL: 357862/13Reservados todos os direitos(Esta tradução foi feita ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.)
Beatriz Osés
Miguel Ángel Díez
C O N T O S D E Á G U A
Aproximou-se dos juncos com lentidão de hexágonos. Dali
conseguia ver a última linha de ondas. Olhou para a sua
esquerda, olhou para a sua direita. Durante uns segundos
corou de verde, mas decidiu abrir o fecho da carapaça. A tar-
taruga atravessou a praia nudista a correr. Alguns até a ouvi-
ram gritar de liberdade. Antes de mergulhar na água já tinha
tomado banhos de sol.
Sem medo
O som hipnótico da água aberta sobre a superfície da ba-
nheira desperta os animais dos canos. Enquanto tomas
banho, assoma a barbatana do tubarão que traça reviravoltas
vertiginosas no ralo, a baleia bafejando nuvens de bolhinhas
esbranquiçadas, a raia que sobrevoa os teus pés e te deixa um
rasto de cócegas, o urso-polar que te sopra frio no pescoço e
descobre onde te coçam as costas. Enquanto tomas banho o
mar desperta. O patinho de borracha sabe-o e, às vezes, isso
inquieta-o.
O que esconde a tua banheira
Ao espelho
Quando estava muito frio e João Lua se levantava descalço
pela manhã e se aproximava da casa de banho e bocejava
deixando ver todos os seus dentes e a seguir abria a tornei-
ra e se inclinava sobre o lavatório e molhava a cara com a
água gelada… o urso-polar que o observava com atenção do
outro lado do espelho imitava todos os seus gestos.
11
Galos coloridos
De manhã cedo João Lua costumava cantar no duche. Às
vezes o seu canto era tão estridente que os vizinhos protes-
tavam, então a casa de banho enchia-se de galos coloridos.
Os Contos-pulga devem ser lidos
num lugar e num tempo à parte,
sem relógios, nem campainhas, nem horários,
nem ecrãs controladores,
nem atividades didáticas,
nem notas, nem deveres.
Estes contos devem ser ouvidos na penumbra
e de olhos fechados.
Pois um bom conto, estes contos,
são como «O velho mocho»,
em cujos olhos cabem todas as estrelas.
E cada estrela esconde os sonhos de milhares de meninos.
Por isso, o velho mocho conhece todos os segredos.
Mas não diz nem pio.
Benito Estrella