conto redondo 1º ciclo agrupamento sá de miranda
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Alunos das Escolas do 1º Ciclo do
Agrupamento de Escolas Sá de Miranda
Conto Redondo
Ano Letivo 2014 - 2015
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Índice
Escola Brácara Augusta
Escola do Coucinheiro
Escola de Crespos
Escola de Dume
Escola da Eira Velha
Escola da Ortigueira
Escola de Pousada
Escola da Presa
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Esperança no olhar
EB/JI Brácara Augusta
Estávamos no verão; o sol era quente e luminoso. A mãe
preparava um delicioso farnel para fazermos um piquenique ao
parque da cidade. O pai lia um livro sobre as coisas difíceis do
mundo, eu e Rita divertíamos a fazer recortes de revistas velhas
que estavam na secretária da mãe. O telefone tocou. O pai
fechou o livro um pouco aborrecido por lhe terem interrompido
a sua interessante leitura. Pegou no telefone e atendeu:
- Está, quem fala? - do outro lado responderam:
- Olá João, sou a tua prima Amélia - a prima Amélia era uma
jornalista famosa da actualidade - Estou a chegar de uma
reportagem que fiz num pais da África. Hoje à tarde passo aí em
casa para matar as saudades.
- Está bem, cá te esperamos - respondeu o meu pai todo
entusiasmado adivinhando as fabulosas aventuras que a prima
tinha para contar.
Às 18 horas bateram à porta. Ansiosos corremos para a
porta e abrimo-la e assim, surgiu a nossa prima Amélia, alegre e
com um sorriso do tamanho do mundo mas, não vinha sozinha a
seu lado estava um rapaz que aparentava sete anos, com uns
olhos negros distantes, pele negra e um cabelo de carapinha.
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Olhamos aquele quadro e perguntamos em uníssono:
- Quem é este menino?
A prima Amélia riu-se e respondeu:
- Este é o Azize. Os pais morreram na guerra e eu trouxe-o
comigo para Portugal.
A mãe convidou a Amélia e o Azize para passarem uns dias
em nossa casa.
- Amélia, queres passar uns dias aqui, connosco?!
Aproveitas e fazes praia.
- Sim, boa ideia! - Amélia aceitou. E ainda bem, ela teria a
oportunidade para nos contar as suas fabulosas aventuras. Azize
olhava-nos, timidamente.
Subimos para o quarto. Amélia atirou uma mala para cima
da cama e abriu-a. Havia vestidos muito coloridos, as capulanas.
Num saco trazia colares e anéis de pau preto e adornos de
marfim.
Azize ajudava a arrumar os chapéus e os lenços, ora punha
na cabeça um chapéu de palhinha, ora entrançava uma pequena
capulana a volta da carapinha. Espreitava pelo espelho, reparava
que nós estávamos a olhar para ele e ria-se … até que era
engraçado!
Passado algum tempo, a mãe chamou-nos para jantar.
Fiquei sentado entre a Rita e Azize. Que chatice, era bem melhor
continuar a vislumbrar o vasto guarda-roupa da Amélia! Mas, de
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repente, comecei a sentir o doce a aroma do frango assado e
logo fiquei com fome. Quando ia a espetar o garfo numa
batatinha, senti um leve puxão nas minhas calças, era a nossa
gata Boneca que também não resistia aos petiscos da mãe.
Por baixo da mesa e sem que ninguém visse, deixei a Boneca
subir para o meu colo. Dei-lhe uma pequena lasca do meu frango
que ela comeu num ápice. Saltou de seguida para o colo do
Azize, ronronou de satisfação, enrolou-se e ali se deixou ficar.
De repente fez-se silêncio, um silêncio total, quase que
parecia combinado. Todos tínhamos parado de comer e todos
olhávamos para Azize. Aquele menino tímido, com olhos negros
distantes chorava! E não foram necessárias as palavras para
sabermos a razão da sua dor. Veio-lhe à memoria o cenário
horrível no qual tinha visto os seus pais morrerem numa
explosão da guerra maldita que o tinha deixado completamente
só, encontrado no meio dos escombros da sua casa destruída.
Agora … estava ali … com a Boneca no colo, no sossego de
uma refeição farta e em família. Estava a ser tanto o calor
humano que ali sentia que … talvez ainda fosse possível voltar a
ser feliz!
- Não te preocupes, tu ainda tens amigos.Nós somos a tua
família! - sussurrei-lhe ao ouvido.
Azize tinha finalmente percebido que tinha entre si uma
família. Levantou a cabeça com um sorriso e continuou a comer.
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No fim de jantar, Azize lembrou-se da conversa que tivemos
à entrada e perguntou-me:
- O que é a praia?
- É um lugar lindo onde o mar toca na areia e onde as
pessoas se deitam nas toalhas a apanhar o calor do sol! –
respondi-lhe.
No dia seguinte, bem de manhãzinha, eu, o Azize e a Rita
fomos para a praia e o Azize logo disse espantado:
- Tinhas razão, isto é lindo!
Todos desfrutaram daquele dia de praia.
Os dias foram passando e, aos poucos, os olhos de Azize
começavam a ter um brilho diferente.
No mundo existem pessoas que dão Esperança a quem nada
lhe resta.
Nunca desistas há sempre alguém que te ajuda a viver e a
encarar o mundo com outro olhar.
Partilha com o outro o amor que invade a tua alma e o
mundo será mais justo e feliz.
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EB/JI Brácara Augusta – Palmeira
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O gatinho surpresa
EB1 de Coucinheiro
Naquele dia a Rita acordou cedo e cheia de vontade de ir
brincar para o jardim mas, mal pôs um pé fora da cama, disse:
- Brr, que frio!… e encolheu-se novamente no edredão.
Nesse momento a avó Matilde entrou no quarto com o
tabuleiro do pequeno-almoço…
- Bom dia, minha querida. Aqui está uma surpresa!
- Obrigada, avó! Tens sempre ideias maravilhosas! Como
adivinhas os meus desejos?
A avó riu, acrescentando:
- Já vivi muito… e conheço bem a minha netinha!
Deliciada com aquele chocolate quente, torradinhas, doce
e sumo de laranja, saltou da cama rapidamente, vestiu-se foi à
janela. A Rita nem queria crer no que via! Tudo estava diferente:
o telhado do vizinho, as couves do quintal, as árvores…tudo, mas
tudo, estava “pintado de branco”! A menina estava
espantadíssima, pois em Braga raramente nevava. Aquela mudança
radical na paisagem fez-lhe despertar um turbilhão de ideias:
- Que fazer?! Quanta indecisão… podia saltar na neve,
fazer um boneco, uma pirâmide, ficar a observar…As hipóteses
eram muitas…
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Porém, de repente, os seus olhos fixaram algo preto
naquele manto branco e o estranho é que a pequena mancha
negra ora mexia, ora parava e abanava…
- Avó, avó, há algo estranho no jardim! Anda ver!
A avó Matilde aproximou-se, olhou de relance, mas como
estava ocupada com os seus afazeres, respondeu:
- Certamente são folhas!
- Mas, avó, as folhas não são pretas! – disse a menina. E
correu para o jardim, alegremente, sem ao menos se lembrar de
vestir um agasalho.
- Ui, que frio… - disse ela batendo os dentes. E correu
novamente para dentro de casa à procura de um casaco bem
quentinho.
- Chega, Rita , estás a desarrumar e eu acabei de pôr tudo
no sítio. – disse a avó zangada.
- Chau, avó, vou brincar para o jardim. – disse a Rita
sempre a correr.
Mas para seu espanto, quando chegou ao jardim, a
pequena mancha já não estava lá. Ficou muito desiludida e
resolveu ir procurá-la. Procurou entre os arbustos, no meio das
flores, por baixo das ervas, atrás das árvores e até no lago dos
peixes foi procurar, mas em vão. De repente, olhou para a janela
do seu quarto, a qual estava aberta e teve uma ideia:
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- E se a mancha preta se escapou para dentro do meu
quarto? - pensou a Rita assustada. E correu novamente para o
quarto, procurando por todo o lado alguma coisa estranha.
Estava a procurar debaixo da cama quando ouviu um barulhinho
dentro do cesto dos brinquedos. De repente o cesto começou a
mexer e a abanar, parava e abanava outra vez.
Então a menina, cheia de medo, foi chamar a avó Matilde
para a ir ajudar a ver o que estava dentro do cesto dos
brinquedos. Com muito cuidado a avó tombou-o no chão e do
meio daqueles brinquedos todos saiu uma pequena coisa preta
que parecia uma bolinha de pelo.
- Oh! Mas é um gatinho bebé! Onde estará a sua mamã?
– exclamou a Rita preocupada.
- Talvez tenha sido abandonado… - respondeu a avó.
- Coitadinho, podemos ficar com ele? – perguntou a
menina ansiosa.
- Podemos, mas tens de me prometer que cuidas dele
muito bem. Eu posso sempre dar-te uma ajuda…
Rita abraçou-se à avó, muito feliz, encheu-a de beijos e
disse:
- Está prometido!
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EB1 de Coucinheiro
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Crescendo com os valores
EB1 de Crespos
Certo dia, pediram-me para fazer uma história sobre os
valores e eu pensei “- Como é que eu vou fazer isso?”.
Então, tive uma ideia e resolvi perguntar aos meus amigos
se me sabiam explicar o que era isso dos valores.
Fui à beira do Hugo, da Joana, do Ricardo e do João e
expliquei-lhes a minha dúvida.
O Hugo, então, lembrou-me daquela vez que ajudamos a
Joana quando ela ficou doente e lhe levamos os trabalhos de
casa para ela não se atrasar na escola. A isso chamamos
solidariedade, dizia ele.
A seguir, a Joana disse que também se recordava do dia em
que se tinha esquecido do lanche e todos eles lhe deram um
bocadinho do seu. A isso chamamos partilha, dizia ela.
O Ricardo relembrou o dia em que a sua avó estava doente
e eles tinham de fazer um trabalho de grupo que teve de ser
feito muito baixinho para não incomodar a avó. A isso, dizia ele,
chamamos respeito.
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O João, que até ali estava calado, lembrou-me do valor da
honestidade quando disse que nunca devemos mentir porque é
muito importante sermos verdadeiros.
Entretanto, a Joana quis incluir nessa “lista” a importância
da simplicidade e da humildade pois lembrou-se daquela
situação que tínhamos vivido quando os alunos da turma ao lado
disseram que eram melhores do que nós, o que nos deixou
muito magoados.
O Hugo também quis falar da amizade que nos unia quase
desde o tempo em andávamos de fralda. Nessa altura, todos
demos uma grande gargalhada.
Quando ia pelo caminho fui a pensar em todos aqueles
exemplos e ainda me lembrei de muitos outros como a
tolerância, a responsabilidade, o perdão e até a paciência e
cheguei à conclusão que, afinal, tenho crescido um bocadinho
com todos aqueles valores e que quando chegasse à casa ia ser
muito fácil fazer a minha história que iria começar assim “De
valor em valor eu cresço!”
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Conto redondo elaborado pelas turmas H1 e H2 da EB1/JI
Crespos
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Pequenos gestos fazem a diferença
EB1 de Dume
Era uma vez, um menino chamado Diogo.
Um dia, estava a dormir e acordou porque sentia muito
calor… Reparou, de repente, que estava preso no seu quarto por
uma chama de fogo e não se sentia livre para fugir…
O Diogo, aflito, lembrou-se de chamar alguém para o
socorrer. Correu, então, para a janela do quarto e gritou:
- Socorro! Socorro! Alguém me ajuda? Estou preso!
Será que o tinham ouvido? A janela estava perra e não
abria!
O Diogo ouviu um barulho… Era um herói que vinha para o
salvar!
Com estrondo, a janela abriu-se e
entrou uma pessoa com um capuz azul e
um arco. O herói atirava setas de gelo
para tentar apagar o fogo, mas não
conseguia! Era demasiado intenso!
Decidiu então pedir ajuda a outros
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heróis! Correu para o computador do Diogo a uma velocidade
supersónica e, através do Facebook, enviou um pedido de
socorro aos Gormitis da Água…
Nesse mesmo dia, um batalhão de Gormitis – vindo do
Oceano Atlântico – invadiu as ruas da cidade, fazendo tremer a
terra à sua passagem!
- VAMOS SALVAR O DIOGO!... VAMOS SALVAR O DIOGO
DAQUELA PRISÃO! – diziam a uma só voz e cheios de confiança!
As pessoas, curiosas e intrigadas, seguiram-nos. Este
rebuliço chamou a atenção das estações de televisão que, de
imediato, enviaram equipas de jornalistas para as reportagens
em direto.
O Diogo não percebia o que se passava ali. Mas…Porque é
que estavam dezenas de pessoas debaixo da sua janela? Porque
olhavam todas em direções opostas?
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Espera! O Diogo nem
queria acreditar! Os seus
heróis, aqueles com quem
ele brincava todos os dias
depois da escola, estavam
todos unidos em direção à
sua janela para o salvar…
- Diogo! – o Diogo conhecia aquela voz… Quem seria? –
Diogo, estás a ouvir-me?
Era Iano, o chefe dos Gormitis da Água! Tinham finalmente
chegado para o libertar daquela prisão de fogo!
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Para a operação de salvamento, os
heróis treparam pela parede do prédio…
Entraram no quarto pela varanda e, com
os seus poderes da Água, apagaram o
inferno das chamas.
O Diogo estava LIVRE!!!
O sossego regressara ao quarto… E que espantado ficou o rapaz
ao abrir os olhos… Tudo não tinha passado de um assustador
sonho!
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O Diogo tinha os Gormitis
espalhados pelo chão…
Mas então de onde vinha o cheiro a queimado? Afinal, a
mãe tinha-se distraído com os gritos de socorro do filho, e
esquecera-se do bolo no forno!
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Texto elaborado pelos alunos dos 2º, 3º e 4º anos da EB 1 de Dume.
Ilustrações do texto pelos alunos do 1º ano da EB 1 de Dume.
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De valor em valor eu cresço!
EB1 da Eira Velha
Era uma vez um jovem que andava a passear num jardim.
Estava um dia soalheiro e quentinho, mas corria um ventinho
que convidava a segui-lo para explorar os recantos daquele
jardim.
Sem mais pensar o Pedro começou a distanciar-se do
lugar onde estava com uns amigos, depressa percorreu os
caminhos principais e descobriu uma cabana escondida entre
arbustos e folhagem. Sentiu medo e curiosidade, mas a vontade
de explorar aquela “casinha” foi mais forte.
Pé ante pé, com o coração a bater forte avançou, ainda
pensou nas recomendações dos pais. “Não faltar às aulas. Não
andar sozinho. Não se afastar do grupo de amigos. Não
frequentar sítios desconhecidos e escondidos…” O silêncio
começou a assustá-lo, de repente ouviu um rugido, agachou-se e
o ruído aumentou, eram os seus pés a pisar as folhas secas, que
estalavam.
Quando se recompôs do susto deu uma corrida para
alcançar a porta da cabana. Como não tinha janelas não pôde
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espreitar. Bateu à porta. Ninguém respondeu. Abriu-a
devagarinho e espreitou. Estava escuro. Não via nada.
Decidiu abrir totalmente a porta para ter alguma luz.
Começou a ouvir vozes e ficou atento. Percebeu que chamavam
por si. Eram os colegas que andavam à sua procura. Contente foi
ter com eles.
Os amigos estavam preocupados e zangados. Disseram-
lhe que não tinha sido responsável, nem amigo ao afastar-se
sem dizer nada. Mas, o Pedro contou-lhes que tinha descoberto
uma cabana. Esqueceram tudo e correram até lá.
Entraram um de cada vez, cheirava a mofo e pouco se via,
mas como estavam juntos não tinham medo. A porta bateu com
o vento, eles deram as mãos pois ficaram receosos e, foi então
que, ouviram alguém gemer. Foram ao encontro dos gemidos,
descobriram um homem doente, com frio, que lhes pediu ajuda,
lhes contou que não tinha casa e que dormia naquela cabana. O
Pedro, que tinha telemóvel, ligou para o 112, que veio socorrê-lo
e o levou para o hospital.
Os amigos voltaram para a escola e procuraram a diretora
para lhe contar o que tinham descoberto e o que pensavam
fazer. A diretora não estava satisfeita, repreendeu-os por terem
saído da escola e faltado às aulas e relembrou-lhes a importância
de serem responsáveis e cumpridores dos seus deveres,
enquanto alunos. Mas, ouviu a sua história e interessou-se pelo
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espírito de ajuda e solidariedade que os jovens alunos
revelaram.
Ligou para o hospital e conseguiu saber o nome da pessoa
sem-abrigo que os jovens tinham socorrido. Pediu para falar com
a assistente social que ia seguir aquele caso e comunicou-lhe
que a escola tinha o projeto “Sá Solidário” e que também tinha
participado no concurso: “ É preciso ter lata” e onde ganhou o
prémio da escultura com o maior número de latas de alimentos.
Pelo que, por sugestão dos alunos que tinham socorrido o
senhor, pretendiam oferecer-lhe uma parte desses alimentos.
Este grupo foi distinguido com o prémio de o mais
solidário. Eles perceberam que os valores da solidariedade, do
respeito, da amizade, da responsabilidade nos fazem crescer e
nos transformam em pessoas melhores.
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EB1 Eira Velha, 13 de março de 2015
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Tanto por tão pouco...
EB1 da Ortigueira
“O essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração.”
Antoine de Saint-Exupéry
Era uma vez uma padeira que vivia numa casa, numa aldeia
muito isolada, tendo como únicos vizinhos, os pardais, o verde
da vegetação e o ar fresco saudável da mãe Natureza. Até o mais
idoso das populações próximas não se lembrava de um tempo
em que ela não estivesse lá a fazer o seu pão, dia após dia.
Onde quer que o sol aquecesse a terra, dizia-se que ela fazia
o pão mais saboroso e fofo que alguma vez se tinha provado.
Algumas pessoas diziam que as suas mãos eram
extraordinárias. Outras murmuravam que os seus dedos eram
dádivas do povo das fadas. E outras diziam ainda que o pão tinha
caído de anjos que por ali passavam.
Muitos eram os que rumavam à aldeia perdida, carregados
de dinheiro, na esperança de comprar uma daquelas
maravilhosas especialidades. Mas a padeira não as vendia.
— Dou os meus pães aos que são pobres e não têm que
comer! — dizia a todos os que lhe batiam à porta. — Não são
para os ricos!
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Nas noites mais frias e escuras, a padeira deslocava-se até à
cidade, percorria as ruas calcetadas até encontrar alguém
faminto, triste, só, a dormir ao relento cheio de frio. Então,
tirava do saco um pão quentinho acabado de fazer e entregava-o
nas mãos trémulas e geladas de quem mais precisava e afastava-
se depois em bicos de pés.
No dia seguinte, depois de beber uma chávena fumegante
de chá de frutos vermelhos, voltava à sua rotina diária com a
intenção de fazer sempre o mais delicioso e cheiroso pão que
tantos cobiçavam.
A fama deste pão era tal que se espalhou pelos quatro
cantos do mundo, chegando, também aos ouvidos da princesa
Valentina, conhecidíssima pela sua gula e aspeto obeso, que logo
quis comer essa iguaria.
O rei, seu pai, habituado a satisfazer todos os desejos da sua
querida filha, vendo-a num estado de tristeza e melancolia tais,
logo a quis contentar. O Rei deu ordens aos seus soldados para
procurarem pelo reino a tão famosa padeira para desta forma
conseguir o desejado pão.
Quando chegaram a casa dela, esta limitou-se a rir, quando
estes lhe disseram que o pão se destinava à princesa Valentina.
— O meu pão é para os pobres e necessitados, e vê-se
facilmente que a princesa não é nem uma coisa nem outra.
A mulher pensou por um momento e propôs:
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— Ofereço um pão à princesa por cada casa que o Rei dê
aos sem abrigo de toda a cidade!
Os soldados apressaram-se de imediato a comunicar o
sucedido ao rei.
— Construir uma casa?! — gritou o rei. — Eu não dou, eu
recebo!
E, dito isto, deu ordem aos soldados para se apoderarem
do cobiçado pão. Mas, quando regressados a casa da padeira,
esta lançou os pães pela janela e os seus amigos pardais
encarregaram-se de o distribuir por quem mais necessitava.
O rei ficou muito zangado, tendo ele próprio se dirigido à
padeira. O rei pediu-lhe novamente o pão, que uma vez mais ela
recusou.
Já no seu palácio o rei não se conformando com a situação e
vendo a sua filha cada vez mais infeliz, mandou chamar os mais
ilustres padeiros das redondezas, pagando-lhe a preço de ouro.
Os padeiros trabalhavam dia e noite para aprimorar o sabor do
pão. Após meses a fio a princesa continuava a definhar e desejar
não os originais, saborosos e requintados pães feitos no palácio,
mas sim o mais simples pão da padeira.
O Rei pensou durante tanto tempo, que as semanas se
sucederam umas às outras e não aguentando mais o sofrimento
da sua amada filha dirigiu-se mais uma vez à padeira:
— Desisto! — gritou o rei.
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Então mandou construir uma casa que atribuiu a um dos
mendigos, habitante do seu reino. O mendigo sorriu tão
carinhosamente que contagiou o coração do Rei com sua
humildade.
Nesse mesmo momento, um pardal pousou no peitoril da
janela do quarto da princesa, trazendo no bico o tão desejado
pão… e a princesa sorriu, finalmente. O Rei, ao ver a felicidade
no rosto da sua filha, ordenou que se construíssem mais e mais
casas para que todos os habitantes do reino vivessem de forma
digna.
Assim sendo, todos os dias ao nascer o primeiro raio de
sol,um pardalito se encarregava de satisfazer o desejo da
princesa. E era este pão singelo, com qualidades quase
milagrosas que, como por magia espalhou pelo reino a alegria e
a felicidade.
O rei olhava à sua volta e via não só o contentamento que
os seus presentes tinham trazido a todo o reino, mas
principalmente à sua filha. O rei agora sorria e até soltava
gargalhadas.
— Como é isto possível? — exclamou. — Como é possível
eu sentir-me tão feliz!!...
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EB1 da Ortigueira
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A importância da amizade
EB1 de Pousada
Era uma vez uma família que vivia numa aldeia tão interior,
muito pobre e desabitada, onde as casas eram frias, pequenas e
desconfortáveis. Certo dia essa família decidiu mudar a sua vida
e partiu à procura de melhores condições para proporcionar a
todo o seu agregado uma vida mais feliz e mais confortável.
Encontraram então, uma vila muito agradável e acolhedora
para recomeçar a sua nova vida. Sem conhecer ninguém
arranjaram casa, trabalho e escola para os filhos. Não
imaginaram que seria tudo tão fácil e que fosse possível
acontecer algo assim tão acelerado.
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Com o passar do tempo foram fazendo amizades
maravilhosas, simpáticas e sobretudo de confiança.
Uma noite, foram dar um passeio pela vila para se
distraírem e caminhar um pouco e cruzaram-se no caminho com
uma família que já conheciam, no entanto jamais tinham trocado
palavras.
Era uma família que só se interessava por bens materiais e
acima de tudo muito arrogante e de pouca solidez e confiança. O
tempo foi passando e ficaram cada vez mais próximos destes
novos amigos.
Combinavam passeios, piqueniques e excursões durante
os fins de semana e tempos livres. Passava cada vez mais tempo
juntos e camuflados com esta amizade.
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De vez em quando iam tendo algumas discussões sobre
temas que discordavam pois a maneira de pensar de cada um
era diferente e já se refletia em pequenas coisas. Alguns amigos,
os verdadeiros, iam avisando que os recentes amigos não eram
de confiança mas mesmo assim não desistiam desta amizade.
Até que um dia, viram essa família a falar mal deles pelas
costas e foi aí que perceberam que as coisas não iam correr bem
entre eles. Perceberam então que aquela não era uma amizade
verdadeira e autêntica. Afinal não eram pessoas simples e não se
interessavam só pela amizade.
Para não apagarem esta amizade, foram falar com eles,
resolveram este enigma e por fim compreenderam que teria de
haver respeito de ambos os lados e perceberam-se dos erros que
cometeram e passaram a observar melhor certas regras de
convivência e experimentaram mudar para melhor.
Chegaram à conclusão que o valor da amizade e da
confiança entre todos é o mais imprescindível e valorizado de
todos.
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EB1 de Pousada
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De valor em valor eu cresço
EB1 da Presa
Encontram esta carta dentro de uma garrafa, numa praia
de Copacabana (Rio de Janeiro- Brasil) em 2115… 100 anos depois
de ela ter sido escrita.
Praia de Ofir (Esposende- Portugal) 11-03-2015
Cara pessoa do futuro,
Tenho visto na televisão algumas pessoas a dizerem que o
mundo está cada vez pior, que o futuro vai ser negro, que a
sociedade está a perder valores e a tornar-se mais corrupta e
menos digna.
Perguntei aos meus pais o que significava a palavra valor, e
eles não me souberam explicar, apenas me puderam dar
exemplos de valores que fui aprendendo. Gostava de saber se os
valores que aprendi serão os mesmos que aprendeste ou se os
meus valores são melhores que os teus ou os teus melhores que
os meus…
Chamo-me Rita, tenho oito anos e vivo em Adaúfe, uma
freguesia perto da cidade Braga (Portugal). É uma aldeia muito
grande, ainda com alguma agricultura, com muitas casas e onde
toda a gente se conhece.
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A minha casa, apesar de pequena, é muito confortável e
amiga do ambiente: tem janelas de vidros duplos, as paredes
estão bem isoladas para evitar perdas de calor e no telhado
temos painéis solares para aquecer a água e a casa. Usamos
lâmpadas ecológicas, pilhas recarregáveis e a nossa horta é
adubada com produtos biológicos, sem quaisquer pesticidas.
Vivo com os meus pais e um irmão mais velho. Temos um
cão, o Glutão, que adotamos no canil da cidade, e que como o
nome indica, é um comilão de primeira. Apesar dos meus pais
terem um carro, optam sempre por ir trabalhar de autocarro, que
é um transporte público menos poluente que um carro, uma vez
que consegue transportar muitas pessoas ao mesmo tempo.
Desta forma, poupa-se dinheiro na gasolina, em parques de
estacionamento e protege-se o ambiente.
Gostamos muito dos nossos passeios ao fim-de-semana de
carro. Apesar de já ser uma menina crescida, tenho uma cadeira
especial. Até não há muito tempo, essas cadeiras não eram
obrigatórias, aliás nem sequer era obrigatório usar cinto de
segurança, mas estas novas medidas de segurança têm salvo
muitas vidas. Sim, às vezes é desconfortável estar presa no
acento, quando eu poderia dançar no carro com as músicas que
passam na rádio, mas os meus pais disseram-me que é para me
proteger caso tenhamos algum acidente.
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Perto da minha casa, existe o rio Cávado, que é dos rios mais
importantes no distrito de Braga.
No Verão, gosto de ir nadar no rio com os meus primos e os
meus amigos, mas os meus pais dizem sempre para ter cuidado
com o caudal da água que pode ser traiçoeiro e com a qualidade
da água porque muitas vezes se encontra com um aspeto muito
salubre. Às vezes, o areal da praia fluvial da minha freguesia está
bastante sujo porque as pessoas fazem piqueniques e não têm o
cuidado de deitar o lixo nos contentores adequados. A minha
professora disse-me que um saco de plástico demora cerca de
300 anos a desfazer-se completamente. Custa-me pensar nas
toneladas de lixo que todos os anos ficam à deriva nos nossos
rios, principalmente porque todos esses resíduos vão destruir a
fauna e a flora das áreas circundantes.
Os meus avós maternos vivem numa aldeia na serra do
Gerês, têm algum gado que costumam levar para o monte para
pastar. No entanto, os montes ricos em vegetação estão a
desaparecer gradualmente. Dizem eles que é por causa dos
incêndios que todos os anos destroem hectares e hectares de
florestas, destruindo árvores e matando muitos animais. Muitas
vezes aldeias inteiras são destruídas e pessoas ficam desalojadas.
Existem leis que proíbem as fogueiras nas florestas, mas mesmo
assim todos os anos, pelo Verão, os meios de comunicação falam
sempre em grandes incêndios.
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Quando vou ao hipermercado com a minha mãe, tento estar
o mais sossegada e o mais obediente possível. Muitas vezes, até
me apetecia que a minha mãe me oferecesse mais uma boneca,
mas sei que não posso ter tudo que quero. Sendo assim, fui
educada a não fazer birras ao contrário de muitos meninos que
vejo por aí.
A minha mãe procura sempre os produtos de preços mais
baixos, porque afinal não somos ricos e evita ao máximo trazer
sacos de plástico, porque além de caros, são muito poluentes. Na
fila para efectuar o pagamento, a minha mãe dá sempre
prioridade a grávidas, idosos ou pessoas portadoras de alguma
deficiência física, que respondem sempre com um sorriso. “Um
dia, podemos nós precisar de quem nos ajude”, diz a minha mãe
muitas vezes.
“Bom Dia”, “Por favor” e “Muito Obrigada”, segundo a minha
mãe, são as palavras mágicas que se devem usar em todas as
ocasiões
No primeiro dia de aulas, a professora estipulou algumas
regras de bom funcionamento: devemos manter a sala de aula
limpa e arrumada, devemos deitar o lixo nos contentores
adequados, manter o material escolar em boas condições, manter
o respeito pelos colegas e adultos.
Para evitar ruído desnecessário na sala de aula, quando
quisermos intervir na aula, devemos pôr o dedo no ar e esperar
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pela nossa vez. Também devemos entrar e sair da sala de aula em
fila indiana, evitando empurrões.
Na minha turma, há um menino chamado Marco cujos pais
estão desempregados. Sei que ele passa muitas dificuldades
económicas e muitas vezes ele não lancha no recreio porque não
trouxe merenda. Gosto de partilhar com ele um pouco do meu
lanche. A minha mãe, sempre que inspecciona o armário do meu
irmão, encontra roupa que já não lhe serve e entrega à família do
Marco. Sempre que pode, faz também um cabaz com produtos
alimentares para os ajudar.
Na minha turma, há uma menina de etnia cigana. No início
tínhamos medo dela por ela ser um bocado diferente. Mas aos
poucos e poucos começamos a gostar dela pois é uma grande
companheira de brincadeiras no recreio.
Em casa, na hora das refeições, temos uma regra: temos de
estar todos à mesa, com as mãos lavadas. O nosso jantar é
composto por verduras, carne ou peixe e uma peça de fruta como
sobremesa. Refrigerantes, só bebemos em ocasiões especiais por
causa da grande quantidade de açúcar que contém. Segundo
pesquisei na Internet, em 2010 cerca de 42 milhões de tudo
mundo, são obesas. A televisão nessa hora está sempre desligada,
porque o meu pai não gosta de distrações nesse momento em
família.
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Lá em casa, gostamos muito de ler. O meu pai gosta de livros
sobre guerras, a minha mãe gosta de romances e o meu irmão
adora ler livros sobre o universo. Eu cá gosto de ler livros infantis.
Outros valores, escrevi noutras cartas que foram enviadas
igualmente em garrafas. Pode ser que viagem para o mesmo
local.
Eu sou a Rita, tenho oito anos e desde pequena que aprendo
bons exemplos com os meus pais, com os meus amigos, com a
comunicação social, com a minha professora. Se dizem que o
mundo está cada vez pior, talvez a culpa não seja minha. De valor
em valor vou crescendo. E eu quero crescer com mais valores
dentro de mim.
E então, pessoa do futuro, quais são os teus valores?
Rita
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EB1 da Presa
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Colaboração da Biblioteca Escolar de Dume