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IBSN: 978-85-7282-778-2 Página 1 CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DAS FÁCIES SEDIMENTARES NAS FALÉSIAS DO LITORAL LESTE DO CEARÁ Rhaiane Rodrigues da Silva (a) , Eduardo Lacerda Barros (b) , Isaias Farias da Camara (c) , Kevin Samuel Felix Lima (d) , Antônio Rodrigues Ximenes Neto (e) , Lidriana de Souza Pinheiro (f) (a) Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR, Universidade Federal do Ceará, [email protected] (b) Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR, Universidade Federal do Ceará, [email protected] (c) Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR, Universidade Federal do Ceará, [email protected] (d) Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR, Universidade Federal do Ceará, [email protected] (e) Programa de Pós-Graduação em geografia - PROPGEO, Universidade Estadual do Ceará, [email protected] (f) Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR, Universidade Federal do Ceará, [email protected] Eixo: Zonas Costeiras: processos, vulnerabilidade e gestão. Resumo Os sistemas deposicionais envolvem a interação entre processos sedimentares que atuam em diversas escalas de tempo e espaço. A compreensão da distribuição das fácies deposicionais é importante para a interpretação das condições reinantes durante a formação do depósito e entendimento do comportamento erosivo. Com isso, o objetivo do trabalho foi identificar e caracterizar morfologicamente as fácies sedimentares das falésias do litoral leste do Ceará. Utilizando como metodologia de Santos et. al. (2005) para caracterização das fácies. Com isto, foram identificadas 18 fácies sedimentares, sendo 8 em Morro Branco (Beberibe), 5 em Canoa Quebrada (Aracati) e 5 em Redonda/Peroba (Icapuí), que variam sua granulometria e textura de argilo-

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CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DAS FÁCIES

SEDIMENTARES NAS FALÉSIAS DO LITORAL LESTE DO CEARÁ

Rhaiane Rodrigues da Silva (a), Eduardo Lacerda Barros(b), Isaias Farias da Camara (c),

Kevin Samuel Felix Lima(d), Antônio Rodrigues Ximenes Neto(e), Lidriana de Souza

Pinheiro(f)

(a) Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR, Universidade Federal do Ceará,

[email protected]

(b) Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR, Universidade Federal do Ceará,

[email protected]

(c) Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR, Universidade Federal do Ceará,

[email protected]

(d) Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR, Universidade Federal do Ceará,

[email protected]

(e) Programa de Pós-Graduação em geografia - PROPGEO, Universidade Estadual do Ceará,

[email protected]

(f) Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR, Universidade Federal do Ceará, [email protected]

Eixo: Zonas Costeiras: processos, vulnerabilidade e gestão.

Resumo

Os sistemas deposicionais envolvem a interação entre processos sedimentares que atuam em diversas

escalas de tempo e espaço. A compreensão da distribuição das fácies deposicionais é importante para a

interpretação das condições reinantes durante a formação do depósito e entendimento do comportamento

erosivo. Com isso, o objetivo do trabalho foi identificar e caracterizar morfologicamente as fácies sedimentares

das falésias do litoral leste do Ceará. Utilizando como metodologia de Santos et. al. (2005) para caracterização

das fácies. Com isto, foram identificadas 18 fácies sedimentares, sendo 8 em Morro Branco (Beberibe), 5 em

Canoa Quebrada (Aracati) e 5 em Redonda/Peroba (Icapuí), que variam sua granulometria e textura de argilo-

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lamoso a arenoso/conglomerado com forte cimentação. As fácies foram encontradas na região do estirâncio, na

parte basal, na escarpa e no topo das falésias. A diferença de fácies caracteriza condições ambientais

deposicionais distintas que ocorreram entre o Mioceno e o Pleistoceno, o que sugere preliminarmente que se

tratam não apenas de depósitos associados a Formação Barreiras. Esta deve ser relacionada apenas aos depósitos

de idade miocênica e com níveis de laterização.

Palavras chave: Fácies sedimentares; Granulometria; Textura; Barreiras.

1. Introdução

O conceito de sistemas deposicionais é aplicado quando as rochas sedimentares

passam a ser consideradas como um corpo tridimensional, descritas sob o ponto de vista de

suas fácies, características ambientais, processos deposicionais e são designadas por um termo

genérico (BRANCO, 1996). As fácies sedimentares são consideradas como um produto do

ambiente sedimentar deposicional, que por sua vez sofre efeitos diretos dos processos físicos,

químicos e biológicos atuantes no ecossistema.

A paisagem costeira natural do Brasil, entre as regiões norte e sudeste, caracteriza-se

pela presença de falésias costeiras sedimentares do Grupo Barreiras, constituídas por

sedimentos areno-argilosos de topo aplainados e vertentes escarpadas formadas durante o

Plio-Pleistoceno que podem variar de poucos metros a mais de 70 m (SUGUIO, 2003). Várias

pesquisas foram desenvolvidas nesses depósitos sedimentares (ROSSETTI et al. 1990;

SOUZA, 2002; BRANCO, 2003; BEZERRA, 2009; SILVA, 2017; ALVES et. al. 2019).

As falésias sedimentares do Grupo Barreiras são bastante representativas no litoral

leste do Ceará, devido a deposição sedimentar da Bacia Potiguar, se estendendo pelo litoral

setentrional do Rio Grande do Norte (LIMA, 2011), e é estudada em diferentes aspectos,

principalmente por sua alta erodibilidade (SILVA, 2008; PINHEIRO et. al., 2009; SILVA,

2014; SILVA, 2017) e seu grande potencial turístico e econômico.

A deposição desses pacotes sedimentares é divergente segundo alguns autores. A

classificação e mapeamento realizado pela Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais

(CPRM) no Ceará aponta que o Grupo Barreiras é composto por três Formações geológicas:

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Camocim, Faceira e Indiviso (CAVALCANTE et al., 2003). A Formação Barreiras se

assemelha a Formação Camocim, e está disposta por quase toda a costa brasileira. É composta

por sedimentos avermelhados, de granulometria variando de sedimentos finos a

conglomerados, depositados por forçante fluvial datada no período do Mioceno, entre 21 e 43

Ma (LIMA, 2008). A Formação Faceira está associada a sedimentos localizados mais adentro

do continente na bacia hidrográfica do rio Jaguaribe. A Formação Barreiras Indiviso é a

predominante nas falésias do litoral leste do Ceará, porém a denominação Indiviso significa

que não apresenta qualquer divisão, e autores como Rossetti et al. (2001),Tatumi et al. (2008),

e Rossetti et al., (2013), encontraram divisões e chamam sedimentos desta Formação como

Depósitos Pós-Barreiras.

O estudo dos pacotes e fácies sedimentares é importante para conhecer e entender os

ambientes pretéritos em que foram depositados, as condições climáticas e oceanográficas que

regiam, e conhecer os aspectos geológicos, geomorfológicos e estruturais atuais no qual estão

inseridos os maiores potenciais turísticos do Ceará. Com isso, o objetivo do trabalho é

identificar e caracterizar morfologicamente as fácies sedimentares das falésias nas praias de

Morro Branco (Beberibe), Canoa Quebrada (Aracati) e Redonda e Peroba (Icapuí), litoral

leste do Ceará.

1.1. Localização da área de estudo

A praia de Morro Branco está localizada no município de Beberibe, a 90 km ao leste

da capital Fortaleza, se destaca como forte atrativo turístico e base para as atividades

econômicas do local (Figura 1). As falésias de Morro Branco são consideradas uma Área de

Proteção Ambiental, da categoria Monumento Natural das Falésias de Beberibe, uma Unidade

de Conservação de proteção integral, criada por meio do Decreto Nº 27.461, de 04 de junho

de 2004, abrange uma área de 31,29 hectares (SEMACE, 2019). Essa proteção ambiental é

fundamental para minimização de impactos de origem antrópica e controle da especulação

imobiliária. As áreas inseridas nesta UC abrangem falésias vivas e mortas e dunas móveis,

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além de dunas em processo de fixação localizadas nas adjacências do Monumento.

Geologicamente, a área caracteriza-se em sua maioria, pelos sedimentos terciários

pertencentes a Formação Barreiras, que acompanha a linha da costa e aflora na linha de praia,

formando falésias vivas, com porte mais expressivo no setor oeste (SEMACE, 2019).

A praia de Canoa Quebrada está localizada no município de Aracati, na porção

noroeste do Estado do Ceará, a uma distância de 122 km em linha reta a capital e a 12 km do

centro de Aracati (Figura 1). A área de estudo está inserida em uma Unidade de Conservação

da Categoria APA (Área de Proteção Ambiental) de uso sustentável que pretende regular a

exploração e ocupação da região, e sua extensão vai de Porto Canoa à foz do Rio Jaguaribe

(SEMACE, 2019). Devido à categoria desta UC, as falésias da praia apresentam as maiores

características de erosão e descaracterização entre as praias estudadas, além de obter também

a maior ocupação no topo das falésias e das dunas fixas. As feições dispostas na praia de

Canoa estão associadas também às do Grupo Barreiras, e com idade geológica

predominantemente Tércio-Quaternária, apresentando também afloramentos do Pré-

Cambriano e do Cretáceo em alguns dos seus trechos (MORAIS et al. 2006).

A praia de Redonda no município de Icapuí está localizada a 212 km a leste da capital

do Estado, Fortaleza, próximo da fronteira com o estado do Rio Grande do Norte (Figura 1).

As praias de Icapuí possuem um baixo índice de ocupação e atividades turísticas. Nesta praia

é possível observar falésias com patamares escalonados, no qual o pacote sedimentar inferior

é composto pela Formação Barreiras, com falésias ativas e inativas, de idade Miocênica , e o

superior composta pela Formação Barreiras Indiviso. Essa diferença ocorre devido à erosão

diferencial dos pacotes, sendo o superior mais friável do que o inferior (MEIRELES, 2014) e

possivelmente por razões tectônicas da região.

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Figura 1 – Localização da área de estudo,as praias de Morro Branco, Canoa Quebrada e Peroba/Redonda

(Icapuí), no litoral leste do Ceará (Nordeste do Brasil).

2. Materiais e Métodos

Para a caracterização morfológica das fácies sedimentares nas falésias, foi seguido à

metodologia de Santos et. al. (2005), que detalha e descreve o estudo das características

morfológicas dos horizontes do solo. Para este trabalho foi analisado as características das

fácies sedimentares encontradas nas falésias (escarpas) e na região praial (antepraia, estirâncio

e pós-praia).

A metodologia consiste em observar e analisar as seguintes informações: local, data,

coordenadas, nível, situação, declive, cobertura vegetal, litologia, formação geológica, cor de

fundo ou matriz, textura (proporção relativa das frações granulométricas), estrutura (padrão de

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arranjo das partículas primárias do solo em unidades estruturais compostas chamadas

agregados, separadas entre si pelas superfícies de fraqueza, ou apenas superpostas e sem

conformação definida, ou pode ser classificada em laminar, prismática, blocos ou granular,

porosidade (volume do solo ocupado por água e pelo ar e será descrita quanto ao tamanho e à

quantidade dos poros), consistência (designa as manifestações das forças físicas de coesão

entre partículas do solo e de adesão entre as partículas e outros materiais, conforme variação

dos graus de umidade), teor de umidade e grau de cimentação (consistência quebradiça e dura

do material do solo).

O estudo ocorreu nas praias de Morro Branco, Canoa Quebrada e Redonda,

localizadas no litoral leste do Ceará. A observação em campo sucedeu nos dias 24 e 25 de

setembro de 2018, durante a baixamar na maré de sizígia de 0.3m (DHN, 2019). Na praia de

Morro Branco foi observado 2,2 km de linha de costa, em Canoa Quebrada por 2,5 km de

litoral e em Icapuí foram 2km juntando as praias de Peroba e Redonda. Foram utilizados

Receptor GPS, trena métrica, lupa, câmera fotográfica e ficha de campo para anotação das

características.

3. Resultados e discussões

As fácies sedimentares identificadas e observadas foram 18, oito na praia de Morro

Branco, cinco na praia de Canoa Quebrada e cinco nas praias de Peroba e Redonda no

município de Icapuí. As variações foram de argilas, arenosas e rochosas, localizadas na região

do estirâncio (Plataforma de abrasão), na parte basal, escarpa e topo das falésias. As cores

variaram de branco, amarelo, laranja, avermelhado, marrom azulado e preto.

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3.1 Fácies sedimentares nas falésias de Morro Branco

De acordo com Branco (2003), o sistema deposicional da praia de Morro Branco é do

tipo leque e fluvial, em um perfil litológico realizado na praia a autora descreveu 4 fácies, que

no presente trabalho é descrito como MB2, MB3, MB4 e MB5. Sendo a MB5 da Formação

Tibau e as outras fácies da Formação Barreiras. A fácies MB6 encontrada no estudo não foi

descrita por Branco (2003), e as fácies MB7 e MB8 não foram descritas anteriormente, de

composição lamosa e coloração escura. Essas se distingue das Formações Tibau e Barreiras

encontradas nesta região.

Fácies sedimentar MB 1 – Esta fácies está localizada em nível basal formando uma

plataforma de abrasão com topo aplainado e vertente escarpada, com erosão marinha atuante,

presença de cracas e braquidontes incrustados, por estar na região entre marés. O MB 1 ocorre

em duas camadas com o mesmo material: uma no estirâncio inferior, basal com poucos

centímetros de altura, coberta por algas de coloração preta-cinzenta; e a segunda está

localizada na região do estirâncio superior com aproximadamente um metro de altura sem

cobertura vegetal, com estilo de ruínas, possuindo alguns pontos com fissuras no meio da

formação, solapamentos e poços de água. A litologia apresenta coloração acinzentada com

presença de mosqueados laminado branco abundante no topo da feição, provavelmente

bioturbação preenchida com argila, de tamanho grande e contraste de cores proeminente.

Além disso, apresenta linhas e manchas marrons-amareladas. A granulometria é fina e possui

presença de cascalho espaçado. A Formação geológica é classificada como Tibau, de textura

areia, com pouca presença de cascalho, estrutura granular, sem poros visíveis, quando não

apresentar poros visíveis, mesmo com lupa de aumento de 10x. Algumas perfurações

milimétricas feitas por organismos. A consistência é extremamente dura, extremamente

resistente à pressão, não pode ser quebrado com as mãos, teor de umidade é úmido, água não

é visível, mas é sensível ao tato e o grau de cimentação é extremamente cimentado, a massa

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cimentada é quebradiça, não enfraquece sob prolongado umedecimento e é tão duro que, para

quebrá-la, é necessário um golpe vigoroso com o martelo.

Fácies sedimentar MB 2 – Esta fácies possui nível basal presente em todas as falésias,

em alguns pontos está fortemente solapada, indicando ação marinha atuante, formando

pequenas cavernas de aproximadamente dois metros. Não possui vegetação, sua escarpa é lisa

e úmida, aflorando em alguns pontos fontes de água doce na parte superior da feição. Vale

ressaltar que a praia de Morro Branco é a única que apresenta fontes d’água e exutórios na

escarpa da falésia, isso se dá devido a barragem do escoamento pela Formação Tibau e

inclinação de drenagem indo em direção à praia. A litologia apresenta cor acinzentada, com

presença de manchas avermelhadas e cinza escuro, mosqueado avermelhado, alaranjado,

cinza escuro, em menos que 2% da área total. Granulometria fina com presença de buracos na

feição, preenchidos provavelmente por caulinita. A Formação geológica é classificada como

Tibau, de textura areia fina, estrutura granular, sem poros visíveis. A consistência é

extremamente dura, extremamente resistente à pressão, não pode ser quebrado com as mãos,

teor de umidade é molhado, água está visível, e grau de cimentação é extremamente

cimentado, a massa cimentada é quebradiça, não enfraquece sob prolongado umedecimento e

é tão duro que, para quebrá-la, é necessário um golpe vigoroso com o martelo.

Fácies sedimentar MB 3 – Esta fácies possui nível intermediário localizado na escarpa

das falésias acima da fácies sedimentares MB 2, de perfil escarpado sem cobertura vegetal,

presença de intemperismo eólico em alguns locais, dando a aparência de ruínas. apresenta

litologia de cor vermelha escuro, alta presença de ferro, mosqueados preto e alaranjado, e

sedimentos com granulometria fina. É classificado como Formação Barreiras Indiviso

(Cavalcante et al., 2003), de textura areia e estrutura granular, porosidade muito pequeno,

com poros inferiores a 1 mm de diâmetro. A consistência é ligeiramente dura, fracamente

resistente à pressão; facilmente quebrável entre o polegar e o indicador, teor de umidade é

úmido, água não é visível, mas é sensível ao tato e o grau de cimentação é fracamente

cimentada, a massa cimentada é quebradiça, tenaz ou dura, mas pode ser quebrada nas mãos.

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Fácies sedimentar MB 4 – possui nível intermediário localizado na escarpa das

falésias acima da Fácies MB 3, ocorre em toda a linha de falésias da praia, em uma fina

camada com vegetação muitas vezes ocorrendo na parte inferior desta fácies, e apresenta

perfil escarpado. A litologia é composta por sedimento de coloração esbranquiçada,

sedimentologia médio-fina, textura é de areia, estrutura granular, porosidade muito pequenos

de 1 a 2 mm de diâmetro. A consistência é ligeiramente dura, fracamente resistente à pressão;

facilmente quebrável entre o polegar e o indicador, o teor de umidade é seco, água não é

visível nem sensível ao tato, e o grau de cimentação é fracamente cimentado, a massa

cimentada é quebradiça, tenaz ou dura, mas pode ser quebrada nas mãos. Assim como a fácies

MB 3, se classifica como Formação Barreiras Indiviso, de acordo com a CPRM

(CAVALCANTE et al., 2003).

Fácies sedimentar MB 5 – está localizado na parte superior das falésias com topo

aplainado e perfil escarpado, sem cobertura vegetal, com presença de voçorocas e ravinas bem

desenvolvidas. A litologia apresenta coloração alaranjada, sedimentos finos e presença de

óxido de ferro revestido os grãos, mosqueado no topo de coloração preta em 20% da feição. A

Formação geológica é classificada como Barreiras Indiviso (CAVALCANTE et al., 2003).

Sua textura é de areia médio-fina, estrutura granular, porosidade muito pequeno, poros

inferiores a 1 mm de diâmetro, consistência é macia, a massa do solo é fracamente coerente e

frágil; quebra-se em material pulverizado ou grãos individuais sob pressão muito leve. O teor

de umidade é seco, água não é visível nem sensível ao tato e o grau de cimentação é

fracamente cimentado, a massa cimentada é quebradiça, tenaz ou dura, mas pode ser quebrada

nas mãos. Esta fácies pode ser comparada as fácies CQ 3 e ICP 4 (estas serão apontadas

abaixo) em todos os ítens analisados, indicando que foram depositadas no mesmo período, e

devido sua característica friável é relacionada ao Quaternário.

Fácies sedimentar MB 6 – Esta fácies se localiza na base de um ponto da falésia fora

da zona de recreação, com aproximadamente um metro de altura e se estende para uma

plataforma de abrasão de nível rasteiro na região do estirâncio da praia. Não possui cobertura

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vegetal, e sua litologia se distingue da fácies MB 1 (Formação Tibau) devido às tonalidades

de cinza azulado (possível gleização), argiloso de sedimentologia fina, mosqueado azulado

em mais de 20% da feição, indo da base da falésia a plataforma de abrasão. A Formação

geológica indica ser pertencente a Tibau, de textura silte e argila, estrutura em blocos,

granular. Não apresenta poros visíveis, de consistência muito dura, muito resistente à pressão.

Somente com dificuldade pode ser quebrado nas mãos, não quebrável entre o indicador e o

polegar, teor de umidade úmido, água não é visível, mas é sensível ao tato, devido à sua

localização, e o grau de cimentação é fracamente cimentada, a massa cimentada é quebradiça,

tenaz ou dura, mas pode ser quebrada nas mãos.

Fácies sedimentar MB7 - Se encontra próxima a fácies MB 6 a nível inferior, com

poucos centímetros de altura, na região basal da falésia associada a Formação Tibau e se

estende para a região da pós-praia, esta se diferencia por apresentar uma litologia distinta da

possível Formação geológica de origem, e não possui cobertura vegetal (Figura 2-B). Sua

coloração é negra, lamosa, com textura de silte e argila, apresenta algumas raízes por dentro e

exala um odor forte de matéria orgânica. A estrutura não possui conformação definida, sem

poros visíveis, mesmo com lupa de aumento de 10x. A consistência é macia, pois a massa do

solo é fracamente coerente e frágil, quebra-se sob pressão muito leve. O teor de umidade é

úmido, água não é visível mas é sensível ao tato, e o grau de cimentação é fracamente

cimentado, quando a massa cimentada é quebradiça, tenaz ou dura, mas pode ser quebrada nas

mãos. Essa facies é distinta da Formação Tibau e Formação Barreiras, não descrita

anteriormente e pode está associada a sedimentos continentais estuarinos devido a sua

coloração e granulometria.

Fácies sedimentar MB8 - A última fácies encontrada na praia de Morro Branco está

localizada próxima as fácies MB6 e MB7 na região basal a aproximadamente um metro de

altura e uma pequena caverna formada por ações marinhas na Formação Tibau (Figura 2-B).

A litologia apresenta uma coloração mais clara, em tons creme, lamosa sem cobertura vegetal.

A Formação Geológica pode estar associada à Formação Tibau, estrutura sem conformação

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definida, sem poros visíveis, consistência macia, teor de umidade é úmido pois a água não é

visível, mas é sensível ao tato e o grau de cimentação é fracamente cimentado, a massa

cimentada é quebradiça, tenaz ou dura, mas pode ser quebrada nas mãos.

Figura 2 – A) Localização das oito fácies sedimentares dispostas na linha de costa da praia de Morro Branco

(município de Beberibe); B) Perfil topográfico sem escala, indicando a localização vertical de cada facie e fotos

das fácies sedimentares MB 1 a MB 8.

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3.2 Fácies sedimentares nas falésias de Canoa Quebrada

Na praia de Canoa Quebrada foram encontradas cinco fácies sedimentares que variam

sua textura de areia a argila. As fácies sedimentares CQ 3 encontrada na praia de Canoa

Quebrada possui semelhança com a fácies MB 5 encontrada na praia de Morro Branco, pois

as duas são provenientes da Formação Barreiras Indiviso e estão sendo erodidas pelas mesmas

forçantes naturais. A diferença de cor alaranjado-avermelhado das fácies é devido à

concentração de ferro presente nos grãos de quartzo (CLAUDINO-SALES, 2002).

Trabalhos anteriores descreveram duas fácies sedimentares na praia de Canoa

Quebrada (Branco, 2003), estas fácies foram nomeadas, neste estudo, como CQ1 e CQ3.

Porém, outras três fácies não foram identificadas previamente, sendo descritas como CQ2,

CQ4 e CQ5. Possivelmente a não identificação por outros autores destas três fácies é devido a

dinâmica morfosedimentar da praia, no qual no período seco (primeiro semestre do ano) a

praia perde sedimentos e expõe fácies sedimentares e no período chuvoso deposita sedimento,

podendo rencobrir algumas dessas fácies.

Fácies sedimentar CQ 1 – localizado abaixo de uma duna móvel, exposta a nível basal

da falésia sem cobertura vegetal, perfil escarpado que varia de 50 cm a um metro, apresenta

solapamentos com indícios de erosão eólica na escarpa (Figura 3). Está adjacente a uma

feição rochosa de aproximadamente 1,5 m de altura conhecida como beachrocks, localizada

no estirâncio da praia. A litologia apresenta sedimentos finos de coloração laranja claro e

brancos de textura e estrutura granular com grãos finos, sem poros visíveis, de consistência

muito duro, muito resistente à pressão, somente com dificuldade pode ser quebrado nas mãos,

não quebrável entre o indicador e o polegar. Possui teor de umidade úmido, água não é

visível, mas é sensível ao tato, devido ao caráter ativo desta falésia, e grau de cimentação

fortemente cimentado, a massa cimentada é quebradiça e mais dura do que possa ser

quebrada nas mãos, porém pode ser quebrada facilmente com o martelo pedológico. Essa

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fácies é classificada geologicamente como Formação Barreiras Indiviso (Cavalcante et al.,

2003), com deposição mais recente no período do Quaternário.

Fácies sedimentar CQ 2 - Cimentação de uma possível nova plataforma de abrasão no

início dessa fácies, que evolui para uma plataforma de abrasão mais concisa e cimentada

(Figura 3). Possui nível basal a poucos centímetros de altura, situada na porção basal do

estirâncio entre a linha de beachrock e a base das falésias. A litologia se apresenta como

sedimento de granulometria fina, coloração branca com tons avermelhados, que se dissolve

quando desagregado. Não possui formação geológica definida, de textura lamosa, estrutura

granular, com poros muito pequeno inferiores a 1 mm de diâmetro, consistência solta não

coerente entre o polegar e indicador. O teor de umidade e molhado, no qual a água salgada

influencia diretamente, grau de cimentação fracamente cimentado, a massa cimentada é

quebradiça, tenaz ou dura, mas pode ser quebrada nas mãos.

Fácies sedimentar CQ 3 – Esta fácies é a mais representativa das falésias de Canoa

Quebrada, seu pacote sedimentar varia entre 6 a 23 metros de altura, por uma linha de costa

contínua de 2.3 km (Figura 3). Está localizada em todos os níveis da escarpa das falésias, com

baixa cobertura vegetal tanto no topo como na escarpa, apresenta berma em grande parte na

região do estirâncio e pós-praia em alguns pontos, protegendo a base da falésia de ações

erosivas marinhas. A litologia apresenta sedimento médio e fino, de coloração alaranjada e

amarelada, presença de óxido de ferro cobrindo os grãos de quartzo, estrutura granular,

porosidade pequena, com poros de 1 a 2 milímetros de diâmetro. A consistência é

ligeiramente duro, fracamente resistente à pressão, facilmente quebrável entre o polegar e o

indicador. O teor de umidade é seco, água não é visível nem sensível ao tato, e o grau de

cimentação é fracamente cimentado, a massa cimentada é quebradiça, tenaz ou dura, mas

pode ser quebrada nas mãos. A Formação geológica está classificada pela CPRM como

Barreiras Indiviso, dentro do Grupo Barreiras (CAVALCANTE et al., 2003).

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Fácies sedimentar CQ4 – está localizada no nível basal da falésia próximo a barraca

de praia e restaurante Chega Mais Beach (porção oeste da praia de Canoa), com altura de

aproximadamente 50 centímetros, recoberta por dunas frontais, e não possui cobertura vegetal

(Figura 3). Litologia: Sedimento lamoso, silte-argiloso, mosqueado, de cor principal cinza e

com alta presença de óxido de ferro. Formação geológica: Barreiras Indiviso. Textura: Silte e

argila. Estrutura: Blocos. Porosidade: sem poros visíveis. Consistência: Ligeiramente duro.

Teor de umidade: Úmido. Grau de cimentação fracamente cimentado, a massa cimentada é

quebradiça, tenaz ou dura, mas pode ser quebrada nas mãos. Essa fácies que se difere da

fácies superior mais arenosa, pode ter sua composição associada a mudanças na geoquímica

dos sedimentos, que em contato com água salgada pode mudar sua forma.

Fácies sedimentar CQ5 – a última fácies sedimentares das falésias de Canoa Quebrada

possui características similares a fácies sedimentares 4, porém possui nível basal (plataforma

de abrasão) na região do estirâncio, adjacente à falésia, possui poucos centímetros de altura

em uma área pequena de aproximadamente 50 metros, e não possui cobertura vegetal (Figura

3). Litologia: Sedimento silte-argiloso, de coloração acinzentada. Diferentes concentrações de

óxido de ferro na amostra. Não possui uma Formação geológica definida. Textura: silte e

argila. Estrutura em blocos, sem poros visíveis. Consistência: Macia. Teor de umidade:

Molhado, água está visível. Grau de cimentação: Fracamente cimentado, a massa cimentada é

quebradiça, tenaz ou dura, mas pode ser quebrada nas mãos. Uma possível justificativa de

existir esta fácies lamosa na praia de Canoa Quebrada se dá devido à proximidade que a praia

tem da desembocadura do rio Jaguaribe, que está a 13 quilômetros a oeste da praia

(paleodrenagem nesta área pode ter influenciado esta deposição).

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Figura 3 – A) Localização das oito fácies sedimentares dispostas na linha de costa/falésias da praia de Canoa

Quebrada (Município de Aracati); B) Perfil topográfico sem escala, indicando a localização vertical de cada

facie e fotos das fácies sedimentares CQ 1 a CQ 5.

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3.3 Fácies sedimentares nas falésias de Icapuí

Foram observadas cinco fácies sedimentares nas falésias nas praias de Peroba e

Redonda, litoral de Icapuí, distantes 200km da capital Fortaleza. Foram analisada as fácies

sedimentares ao longo de dois quilômetros de linha de costa somando as duas praias, entre

falésias ativas, inativas e plataforma de abrasão, na região do estirâncio. Nesta região as

falésias possuem as maiores altitudes, alcançando 44 metros, e diversidades tectônicas como

falhamentos e dobramentos. Varia também sua coloração e granulometria.

Fácies sedimentar ICP 1 - Está localizado no setor do estirâncio, formando uma

Plataforma de abrasão lamosa um pouco consolidada, com poucos centímetros de altura, e

está adjacente a um pontal que separa a praia de Peroba da praia de Picos, distante 500m da

praia de Redonda (Figura 4). Sua litologia é composta por sedimentos siltosos muito

pobremente selecionados, com baixo revestimento dos grãos em óxido de ferro de coloração

variando entre amarelada, acinzentada e avermelhado. A Formação Geológica é pertencente a

Formação Barreiras, de textura silte-argila, estrutura laminar (uma camada de sedimentos

finos e outra conglomerática), sem poros visíveis, consistência ligeiramente dura, fracamente

resistente à pressão, facilmente quebrável entre o polegar e o indicador, com teor de umidade

molhado, água está visível, fracamente cimentado, ou seja, a massa cimentada é quebradiça,

tenaz ou dura, mas pode ser quebrada nas mãos.

Fácies sedimentar ICP 2 - esta fácies se localiza em toda a escarpa de uma falésia

inativa de aproximadamente 44 m de altura e distância média para a linha de costa de 70

metros. Acima desta fácies ocorre um patamar escalonado representado pelas Facies

sedimentares ICP 4 e ICP 5 (Figura 4). A facie sedimentar ICP2 é classificada como

Formação Barreiras que é a denominação comum dessa Formação presente no litoral

nordestino brasileiro. Sua litologia é composta por areias, de textura que variam de seixos a

silte e possuem composição quartzosas, muito pobremente selecionados de coloração

avermelhada e amarronzada bastante revestimento de óxido de ferro em seus grãos de

quartzo, sem porosidade visível, consistência dura e superfície laterizada. A estrutura não

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possui conformação definida e de acordo com Lima (2008) são ricos em pisólitos,

constituídos por goethitas e apresentam uma textura botrioidal, com bandas de crescimento

que variam de milímetros a centímetros e as análises petrográficas indicam que esses grãos

são constituídos de goethitas com inclusão de quartzo, cerianita, xenotímio, zircão e argilas. O

teor de umidade seco, água não é visível nem sensível ao tato e fortemente cimentado, a

massa cimentada é quebradiça e mais dura do que possa ser quebrada nas mãos, porém pode

ser quebrada facilmente com o martelo pedológico.

Fácies sedimentar ICP 3 - esta fácies possui nível superior e intermediário sem

cobertura vegetal, possui semelhanças geológicas com a fácie ICP 2 porém a vertente

escarpada da falésia ativa alterou a litoestratigrafia (Figura 4). Representante da Formação

Barreiras. Sua litologia é composta por grãos finos, siltes e argilas de coloração avermelhada

e amarronzada com a estrutura da escarpa não regular, formando blocos de plataforma de

abrasão dispostos na região da pós-praia e estirâncio, resultante de desmoronamentos

anteriores. Possui estrutura sem conformação definida, sem poros visíveis, de consistência

extremamente dura, resistente à pressão, não pode ser quebrado com as mãos. O teor de

umidade é seco, água não é visível nem sensível ao tato e grau de cimentação extremamente

cimentado, a massa cimentada é quebradiça, não enfraquece sob prolongado umedecimento e

é tão duro que, para quebrá-la, é necessário um golpe vigoroso com o martelo. Devido às

variações de nível do mar, as falésias ativas apresentam em sua escarpa feições como notches,

que se formam devido sua litologia ser extremamente resistente.

Fácies sedimentares ICP 4 e ICP 5 - Essas fácies estão localizadas na porção superior

das fácies ICP 2 e ICP 3 formando um patamar escalonado com altura variando entre 20 e 40

metros, a uma distância de aproximadamente 40m da quebra do relevo da fácies ICP 3,

formada por uma falésia ativa (Figura 4). Perfil levemente escarpado sem cobertura vegetal na

vertente, porém apresenta vegetação no topo. A litologia é composta por grãos de quartzo

variando de areia muito fina, com presença de grânulos e seixos, textura granular com

porosidade muito pequena, de consistência macia e ligeiramente dura, teor de umidade seco e

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fracamente cimentado. A diferença entre as fácies é na coloração, no qual fácie superior ICP 4

é de tonalidade alaranjada e a fácie abaixo ICP 5 é esbranquiçada. Segundo Lima (2008) essa

mudança de cor é devido ao processo de lixiviação do sedimento. Durante o período em que a

solução do intemperismo permanece ácida e relativamente redutora, o Mn+² e o Fe+³

permanecem dissolvidos. Quando a solução é oxidada ou neutralizada, o ferro e o manganês

precipitam em forma de óxidos e hidróxidos supergênicos. A fácies ICP 4 pode-se comparar

com a fácie CQ 3 encontrada na praia de Canoa Quebrada e MB 5 encontrada na Praia de

Morro Branco, classificadas dentro do Grupo Barreiras como Indiviso, de idade deposicional

semelhante.

A diferença entre as fácies inferior (ICP 3) e superior (ICP 4 e 5) e a formação de um

patamar escalonado se dá devido a diferente sedimentação, litologia e posteriormente erosão.

De acordo com Meireles (2014) ocorre uma erosão pluvial diferenciada. Além disso, as

camadas se diferem por uma camada de vegetação, no qual a facie superior possui e a inferior

não, formando esse tipo de forma escalonada em alguns pontos da praia. Outra justificativa

desta feição ocorrer apenas nas praias de Peroba/Redonda, no litoral de Icapuí, é devido às

ações tectônicas na região (SOUSA, 2002; MAIA e BEZERRA, 2013; SOUSA et al, 2019).

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Figura 4- A) Localização das cinco fácies sedimentares dispostas na linha de costa/falésias da praia de

Peroba e Redonda (Icapuí); B) Perfil topográfico sem escala, indicando a localização vertical de cada facie e

fotos das fácies sedimentares ICP 1 a ICP 5.

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4. Considerações finais

Foram observadas 18 fácies sedimentares, e seis delas não foram descritas

anteriormente. As fácies sedimentares localizadas na região do estirâncio que possuem alto

grau de cimentação (Fácies MB1, ICP2 e ICP3) indicam provavelmente idades mais antigas

das falésias, devido a sua resistência às ações marinhas. As fácies sedimentares MB2 indicam

também uma tendência de recuo intermediária comparada as fácies sedimentares friáveis

(Fácies MB3, CQ1, CQ3, ICP4 e ICP5).

As observações das fácies MB6, CQ2 e CQ5 foi possível devido à exposição de todas

as feições geológicas e sedimentares das praias, nas condições de baixa-mar máxima em maré

de sizígia de 0.2 metros (DHN, 2019), somado ao período do ano em que ocorre uma

tendência erosiva na praia (MAGALHÃES e MAIA, 2003). Observações minuciosas na base

da falésia foram fundamentais para a identificalção de fácies lamosas (MB7, MB8, CQ4) não

descritas anteriormente, indicando uma deposição de pacotes sedimentares estuarinos na

região.

As fácies MB5, CQ3 e ICP4 apresentam exatamente as mesmas características,

indicando deposição sedimentar possivelmente contemporânea (estudo geocronológico é

importante para corroborar). Apesar da área de estudo ser pequena, as diversas fácies

identificadas foram bem distintas em coloração, granulometria, consistência e grau de

cimentação. Isso mostra a diversidade de fácies e de deposições em locais próximos que são

regidos pelo mesmo clima e padrão hidrográfico.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) por conceder bolsas de doutorado. Ao Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de iniciação científica. A

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Universidade Federal do Ceará pela bolsa PET Oceanografia. Os agradecimentos também vão

para o Laboratório de Geologia e Geomorfologia Costeira e Oceânica (LGCO/UECE) e para o

Laboratório de Oceanografia Geológica (LOG/UFC).

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