artigo completo - revista máxima portugal - 2014

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100 // JULHO 2014 Quando surgiu o Clube de Inteligência Emocional na Escola? Em 2005, na Escola EB2/3 de S. João da Madeira, com cerca de 35 alunos de várias tur- mas do 5.º e 6.º anos. No ano letivo seguinte, um estudo realizado no âmbito de um mestrado de- monstrou que o treino de competências de Inte- ligência Emocional foi considerado eficaz no incremento dos níveis de inteligência emocional, promovendo o sucesso escolar e a diminuição de comportamentos de agressividade e de indisci- plina. Nos três anos seguintes, travei uma luta contra um cancro, descoberto num exame de rotina. Durante os tratamentos de quimiotera- pia utilizei os meus conheci- mentos de inteligência emocio- nal para gerir os sentimentos de medo, angústia e desespero. No meio de tanto sofrimento con- segui encontrar paz, tranquili- dade, bem-estar e felicidade. Esta experiência aliou-se à re- cordação dos alunos dizerem, recorrentemente, que deveria existir um clube de inteligência emocional em todas as escolas do país, pois aí aprendia-se a ser feliz. Assim, durante o ano letivo de 2009/2010, dediquei-me à elaboração de um projeto para o alargamento do programa a ou- tras escolas. Quais são os objetivos? O principal objetivo é promover a inteligência emocional na es- cola através da educação e de- senvolvimento de competências emocionais que proporcionem mais felicidade e bem-estar, de forma a contribuir para o su- cesso escolar e para a diminui- ção de comportamentos de risco e atitudes de indisciplina, agressividade e de desmotiva- ção. Através do desenvolvi- mento das habilidades da inteligência emocional e das habilidades de bem-estar, pretende-se que o aluno consiga: > Aprender a ser mais feliz. > Gostar de si e ter mais confiança em si próprio. > Aprender a superar os medos. > Diminuir a agressividade, a indisciplina e os comportamentos de risco. > Respeitar os outros e melhorar o relaciona- mento interpessoal. > Estar mais atento nas aulas. > Estar mais calmo nos testes. > Melhorar as notas escolares. Como é que trabalham nesse sentido? Este programa é direcionado para a autorregulação emocio- nal que é o elemento essencial da educação da inteligência emocional. Pretende-se ensi- nar ao aluno novas formas para enfrentar os seus estados de ânimo negativos, recorrendo mais a atividades distrativas, como forma de interromper a atenção focalizada nos proble- mas que são a causa do seu mal-estar. Cada sessão está di- vidida em três partes: a inicial, em que se promove o relaxa- mento (através da entoação de mantras, mas também de exer- cícios de respiração e concen- tração nos cinco sentidos); a fundamental, que é também a mais longa, em que identificam as emoções e as suas causas, aprendendo a interpretá-las; e a parte final, em que se trabalha o riso, o humor e as emoções positivas. A sessão contempla ainda um relaxamento dinâ- mico e um exercício de gratidão e pensamento positivo. Qual é a metodologia utilizada? Sessões semanais de 90 minu- tos (ou 45, para os mais pequeninos), orientadas por psicólogos e professores (par pedagógico). Que resultados é possível aferir? As crianças revelam: > Maior atenção e concentração nas aulas. > Mais calma e tranquilidade nos testes. > Mais sucesso escolar. > Diminuição dos comportamentos de indisci- plina e agressividade. > Mais facilidade em enfrentar e ultrapassar os medos. > Maior autoestima e autoconfiança. > Melhor interação com os colegas. > Qualidade do sono. > Mais felicidade. Os adultos referem melhorias na: > Gestão de conflitos a nível laboral. > Relação familiar. > Autoestima. > Capacidade para se acalmarem e relaxarem. > Diminuição da ansiedade e do stress. > Regulação emocional. > Felicidade e bem-estar. A felicidade aprende-se? Sonja Lyubomirsky, professora do Departa- mento de Psicologia da Universidade da Califór- nia, no livro Como ser feliz, apresenta estratégias que podem ser usadas para aumentar a felici- dade. É realmente possível sermos mais felizes, desde que a pessoa o queira e se empenhe dia- riamente, de forma organizada, nas atividades propostas pela investigadora, no livro citado. A atenção é uma parte fundamental? A atenção é uma parte fundamental pois, em- bora a gestão emocional seja a peça-chave da in- teligência emocional, ela começa com a atenção e perceção das nossas emoções. Trata-se da competência emocional para identificar as emo- ções com precisão e, posteriormente, ser capaz de lhes atribuir um nome e de encontrar uma forma adequada de as exprimir. O enfoque está na precisão da perceção emocional e é funda- mental apurar essa perceção. Assim, para conse- guir desenvolver a inteligência emocional é necessário estar tranquilo, atento e focalizado sem distrações. Aprender a ser feliz É na infância que desenvolvemos muitas das competências de resiliência e autoestima que farão a diferença na idade adulta. Dito isto, fica ainda mais fácil compreender a importância do Clube de Inteligência Emocional na Escola – Aprender a Ser Feliz. Manuela Queirós, a mentora do projeto que já se estende a 20 escolas públicas nacionais, abarcando um universo de 300 alunos com idades a partir dos três anos, explicou à Máxima os métodos e objetivos do programa. A AUTORA DO PROJETO Manuela Queirós é doutorada em Investigação em Didáticas Especiais, com acreditação do grau de Doutor Europeu, pela Universidade de Vigo, em 2004. Na Universidade de Aveiro concluiu o mestrado em Ativação do Desenvolvimento Psicológico, em 2000, e a Pós-Graduação em Ciências da Educação, em 1994. É licenciada em Educação Física pela Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto, em 1989. Há 41 anos que é professora de Educação Física do quadro do Agrupamento de Escolas João da Silva Correia em S. João da Madeira. É autora do Programa MQ - Aprender a Ser Feliz, criou o Projeto CIEE - Clube de Inteligência Emocional na Escola do qual é coordenadora nacional.

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A Revista Máxima, na sua edição do mês de julho 2014, dedicou um dossier à felicidade em que, no texto de capa, salienta que "A felicidade não é só uma moda New Age: é mesmo o sentido da vida." Integrado no referido dossier, na página 100, encontra-se uma entrevista à mentora do Projeto CIEE- Clube de Inteligência Emocional na Escola®, no qual se pode ler:“É na infância que desenvolvemos muitas das competências de resiliência e autoestima que farão a diferença na idade adulta. Dito isto, fica ainda mais fácil compreender a importância do Clube de Inteligência Emocional na Escola – Aprender a Ser Feliz. Manuela Queirós, a mentora do projeto que já se estende a 20 escolas públicas nacionais, abarcando um universo de 300 alunos com idades a partir dos três anos, explicou à Máxima os métodos e objetivos do programa”.

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100 // JULHO 2014

Quando surgiu o Clube de Inteligência Emocional naEscola? Em 2005, na Escola EB2/3 de S. João daMadeira, com cerca de 35 alunos de várias tur-mas do 5.º e 6.º anos. No ano letivo seguinte, umestudo realizado no âmbito de um mestrado de-monstrou que o treino de competências de Inte-ligência Emocional foi considerado eficaz noincremento dos níveis de inteligência emocional,promovendo o sucesso escolar e a diminuição decomportamentos de agressividade e de indisci-plina. Nos três anos seguintes, travei uma lutacontra um cancro, descobertonum exame de rotina. Duranteos tratamentos de quimiotera-pia utilizei os meus conheci-mentos de inteligência emo cio-nal para gerir os sentimentos demedo, angústia e desespero. Nomeio de tanto sofrimento con-segui encontrar paz, tranquili-dade, bem-estar e felicidade.Esta experiência aliou-se à re-cordação dos alunos dizerem,recorrentemente, que deveriaexistir um clube de inteligênciaemocional em todas as escolasdo país, pois aí aprendia-se a serfeliz. Assim, durante o ano letivode 2009/2010, dediquei-me àelaboração de um projeto para oalargamento do programa a ou-tras escolas. Quais são os objetivos?O principal objetivo é promovera inteligência emocional na es-cola através da educação e de-senvolvimento de competênciasemocionais que proporcionemmais felicidade e bem-estar, deforma a contribuir para o su-cesso escolar e para a diminui-ção de comportamentos derisco e atitudes de indisciplina,agressividade e de desmotiva-ção. Através do desenvolvi-

mento das habilidades da inteligência emocionale das habilidades de bem-estar, pretende-se queo aluno consiga:> Aprender a ser mais feliz.> Gostar de si e ter mais confiança em si próprio.> Aprender a superar os medos.> Diminuir a agressividade, a indisciplina e oscomportamentos de risco.> Respeitar os outros e melhorar o relaciona-mento interpessoal.> Estar mais atento nas aulas.> Estar mais calmo nos testes.

> Melhorar as notas escolares.Como é que trabalham nessesentido? Este programa é direcionadopara a autorregulação emocio-nal que é o elemento essencialda educação da inteligênciaemocional. Pretende-se ensi-nar ao aluno novas formas paraenfrentar os seus estados deânimo negativos, recorrendomais a atividades distrativas,como forma de interromper aatenção focalizada nos proble-mas que são a causa do seumal-estar. Cada sessão está di-vidida em três partes: a inicial,em que se promove o relaxa-mento (através da entoação demantras, mas também de exer-cícios de respiração e concen-tração nos cinco sentidos); afundamental, que é também amais longa, em que identificamas emoções e as suas causas,aprendendo a interpretá-las; ea parte final, em que se trabalhao riso, o humor e as emoçõespositivas. A sessão contemplaainda um relaxamento dinâ-mico e um exercício de gratidãoe pensamento positivo.Qual é a metodologia utilizada?Sessões semanais de 90 minu-

tos (ou 45, para os mais pequeninos), orientadaspor psicólogos e professores (par pedagógico).Que resultados é possível aferir?As crianças revelam:> Maior atenção e concentração nas aulas.> Mais calma e tranquilidade nos testes.> Mais sucesso escolar.> Diminuição dos comportamentos de indisci-plina e agressividade.> Mais facilidade em enfrentar e ultrapassar osmedos.> Maior autoestima e autoconfiança. > Melhor interação com os colegas. > Qualidade do sono. > Mais felicidade.Os adultos referem melhorias na:> Gestão de conflitos a nível laboral.> Relação familiar.> Autoestima.> Capacidade para se acalmarem e relaxarem.> Diminuição da ansiedade e do stress.> Regulação emocional.> Felicidade e bem-estar.A felicidade aprende-se?Sonja Lyubomirsky, professora do Departa-mento de Psicologia da Universidade da Califór-nia, no livro Como ser feliz, apresenta estratégiasque podem ser usadas para aumentar a felici-dade. É realmente possível sermos mais felizes,desde que a pessoa o queira e se empenhe dia-riamente, de forma organizada, nas atividadespropostas pela investigadora, no livro citado.A atenção é uma parte fundamental?A atenção é uma parte fundamental pois, em-bora a gestão emocional seja a peça-chave da in-teligência emocional, ela começa com a atençãoe perceção das nossas emoções. Trata-se dacompetência emocional para identificar as emo-ções com precisão e, posteriormente, ser capazde lhes atribuir um nome e de encontrar umaforma adequada de as exprimir. O enfoque estána precisão da perceção emocional e é funda-mental apurar essa perceção. Assim, para conse-guir desenvolver a inteligência emocional énecessário estar tranquilo, atento e focalizadosem distrações.

Aprender a ser felizÉ na infância que desenvolvemos muitas das competências de resiliência e autoestima que farãoa diferença na idade adulta. Dito isto, fica ainda mais fácil compreender a importância do Clubede Inteligência Emocional na Escola – Aprender a Ser Feliz. Manuela Queirós, a mentora doprojeto que já se estende a 20 escolas públicas nacionais, abarcando um universo de 300 alunoscom idades a partir dos três anos, explicou à Máxima os métodos e objetivos do programa.

A AUTORA DO PROJETOManuela Queirós édoutorada em Investigaçãoem Didáticas Especiais,com acreditação do graude Doutor Europeu, pelaUniversidade de Vigo, em 2004. Na Universidade de Aveiro concluiu omestrado em Ativação do DesenvolvimentoPsicológico, em 2000, e a Pós-Graduação emCiências da Educação, em 1994. É licenciada emEducação Física pela Faculdade de Ciênciasdo Desporto e de EducaçãoFísica da Universidade do Porto, em 1989. Há 41anos que é professora de Educação Física doquadro do Agrupamento de Escolas João da SilvaCorreia em S. João daMadeira. É autora doPrograma MQ - Aprendera Ser Feliz, criou o ProjetoCIEE - Clube de InteligênciaEmocional na Escola do qual é coordenadoranacional.