antonio castelnou - fundamentos da arquitetura

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UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE FFEEDDEERRAALL DDOO PPAARRAANNÁÁ AARRQQUUIITTEETTUURRAA EE UURRBBAANNIISSMMOO

FFUUNNDDAAMMEENNTTOOSS DDAA

AARRQQUUIITTEETTUURRAA

AANNTTOONNIIOO CCAASSTTEELLNNOOUU CCUURRIITTIIBBAA 22001144

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SSUUMMÁÁRRIIOO

01 Conceitos Preliminares 05 02 Formação Acadêmica 1103 Exercício Profissional 1704 Evolução Histórica 2305 Urbanismo 2906 Arquitetura Vernácula 3307 Fenômeno Kitsch 3708 Saber Ver a Arquitetura 4109 Análise Arquitetônica 4510 Espaço Arquitetônico 4911 Teoria do Projeto 5512 Dimensão Funcional 6113 Dimensão Técnica 6714 Dimensão Estética 7115 Percepção Ambiental 7516 Metodologia de Projeto 7917 Desenho Industrial 8318 Interiorismo 8719 Paisagismo 9120 Patrimônio 95Referências Bibliográficas 98

EEMMEENNTTAASS: Estudo do fenômeno arquitetônico do ponto devista teórico: conceitos fundamentais,elementos intervenientes e componentes doespaço arquitetônico. Formação acadêmica,exercício profissional e campos de atuação doarquiteto e urbanista. Direitos humanosaplicados à arquitetura. Arquitetura vernácula.Introdução à teoria da arquitetura:pressupostos teóricos do fazer arquitetônico;fatores funcionais, técnicos e estéticos. Modosde interpretar o espaço arquitetônico:percepção espacial. Partido arquitetônico ebases para o processo projetual.

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11 CCOONNCCEEIITTOOSS PPRREELLIIMMIINNAARREESS

De modo geral, ARQUITETURAconsistena arte de criar espaços, cuja finalidade éa de abrigar as atividades do homem,obedecendo imperativos de ordemfuncional, técnica e estética. Pode-seconsiderar como um ESPAÇOARQUITETÔNICO qualquer intervençãono meio ambiente, que possua umaintenção artística, seja qual for a suaescala, tanto em nível interior comoexterior, de uso individual ou coletivo;privado ou público.

Etimologicamente, o termoarquitetura surgiu a partir da junção dosvocábulos gregos arché (αρχή ), quesignifica o que veio antes, primeiro esuperior; e tékton (τέχνη ), relacionado àconstrução; resultando no conceitofundamental de que seja a ordenação

primordial do mundo (Deus =Supremo Arquiteto).

Alemão ArchitekturCatalão ArquitecturaCroata ArhitekturaDinamarquês ArkitekturEslovaco Architektúra

Espanhol ArquitecturaFinlandês ArkkitehtuuriFrancês ArchitectureHolandês ArchitectuurInglês ArchitectureItaliano ArchitetturaLituano Architektūra Norueguês ArkitekturPolonês ArchitekturaPortuguês ArquiteturaRomeno Arhitectură Sueco ArkitekturTcheco Architektura

A ATIVIDADE ARQUITETÔNICA é todaaquela que equivale à organização e/ouconfiguração do entorno físico do homem,visando sua utilização prática e suasignificação plástica, sendo, portanto, uma

das manifestações mais antigas dahumanidade (LEMOS, 1994).

O arquiteto é um ARTISTA SOCIAL, uma vezque, de modo mais restrito que na pintura e naescultura, mantém uma interdependência dasquestões sociais, políticas e econômicas, alémdos imperativos tecnológicos e dos valoresculturais da sociedade onde atua.

Sua função básica é criar todo PROJETO de modificação da realidade espacial como objetivo de permitir o desempenho dealguma função conexa à vida coletiva,sendo uma das atividades mais antigas,mais característica e mais representativasdos homens agrupados em sociedade .

A ARQUITETURA permite aos sereshumanos, com ajuda dos meios técnicoscriados e aperfeiçoados por eles, realizar a

construção de todos os abrigos que lhes sãonecessários para sua vida coletiva ou emfamília. Neste aspecto, ela é pura produçãomaterial, ou seja, um bem-de-consumo.Entretanto, a obra arquitetônica não ocupasomente essa função utilitária primordial. Como auxílio das formas que estas necessidadesprovocam e que os meios técnicos permitemrealizar, ela atinge uma das mais altasexpressões da ARTE pela utilização estéticados seus espaços e de seu invólucro, o queconfigura sua finalidade (COLIN, 2000).

De acordo com um de seusprimeiros teóricos, o arquiteto romanoMarcus Vitruvius Pollio (Século I a. C.),as componentes fundamentais daarquitetura são:

VENUSTASDimensão Estética (BELEZA)

UTILITAS FIRMITAS Dimensão DimensãoFuncional Técnica(USO) (MATÉRIA)

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A palavra FUNÇÃO deriva do latimfunctio/functionis, o que corresponde aocumprimento de um encargo ou trabalho.

A funcionalidade (utilitas) na arquiteturarelaciona-se ao conjunto de qualidades quegarantem a finalidade do espaço arquitetônico,o que reflete os hábitos sociais, as aspiraçõesindividuais e os aspectos da vida coletiva. Nãoexiste arquitetura sem função.

O primeiro passo para a criação deuma obra arquitetônica é a elaboraçãodo PROGRAMA DE NECESSIDADES – uma lista básica de atividades/funções – que corresponde ao conjunto deespecificações as quais explicitam a

funcionalidade de quaisquer espaçoarquitetônico.

Este é elaborado pelo arquiteto a partirdo estudo e interpretação de dadoscoletados em contato com o usuário,através da pesquisa em campo ( in loco)e também da pesquisa bibliográfica.

TÉCNICA consiste no conjunto de regrasou procedimentos para se fazer algo comdeterminada finalidade. Sua origemencontra-se no grego teknné (Τεχννε´) ,que significa “arte ou maneira de agir” e

que, na arquitetura, está no ofício deedificar (CHING & ECKLER, 2013).

Na arquitetura, a tecnologia corresponde aoselementos – meios físicos, materiais etecnológicos – que garantem a execução(concretização) de uma obra qualquer e,consequentemente, a definição de sua formatridimensional. Arquitetura é sempre umaconstrução no espaço.

A componente firmitas refere-se àFORMA que a edificação resulta, ouseja, em sua configuração espacial, reale concreta, relacionando-se, ao mesmotempo, à construção e à plástica.

ESTÉTICA provém da palavra gregaaisthesis (Αισθητική) , que significa“percepção sensorial”, mas cuja definiçãopode ser ampliada como a da ciência das

aparências perceptíveis pelos sentidos, dasua percepção pelos homens e da suaimportância para estes como parte dosistema sociocultural.

Toda obra arquitetônica é compostapor elementos visuais (volumes, planos,linhas, cores, tons, texturas, etc.), quesão portadores de MENSAGENSESTÉTICAS e, portanto, carregados designificado, pois estimulam ecomunicam ao mesmo tempo.

A partir de princípios compositivos,estes são organizados conforme osobjetivos de cada arquiteto e de acordocom seus critérios de projetação. Paraisso, são empregadas várias técnicas,cujas categorias ou opções controlamos resultados na obra de arquitetura(SNYDER& C ATANESE, 1984).

Nas artes em geral e na arquitetura, existembasicamente 02 (dois) níveis estéticos:

ESTÉTICA DO OBJETO: Refere-se à

descrição dos sinais e característicasdos objetos (obras artísticas e/ouarquitetônicas), através da expressãoobjetiva sobre os mesmos. Nas artesvisuais, relacionar-se-ia à plástica.

ESTÉTICA DO VALOR: Corresponde àimportância dada pelo espectador aosobjetos em relação aos conceitossubjetivos de valores e de acordo com osistema de normas socioculturais.Refere-se à idéia que se tem de beleza .

Na ESTÉTICA GENERATIVAou do objeto ,cabe definir e apontar os pontos de vistaperceptíveis dos produtos artísticos, isto é, ascaracterísticas materiais dos mesmos (cor,textura, material, etc.) – elementos plásticos – que se conformam como mensagensestéticas. Tais características, por sua vez,expressam os aspectos parciais da percepçãofeita pelo espectador ou usuário, avaliada pelaESTÉTICA INFORMATIVAou do valor .

Historicamente, denominam-seartes plásticas ou BELAS-ARTES as

formações expressivas que se utilizamda manipulação de materiais paracriarem formas e imagens que revelamuma concepção estética do mundo.

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Empregando os meios de expressão ,tais como linhas, superfícies (texturas),volumes, luz e cores; e utilizando-se dosprincípios artísticos (harmonia, simetria,

unidade, continuidade, ritmo, contraste,ênfase, etc.), todas as ARTESPLÁSTICAS manipulam materiais(naturais e/ou artificiais) e configuramformas visando promover umaCOMUNICAÇÃO ESTÉTICA.

Além da arquitetura, considerada pormuito tempo a principal das Belas-Artes,são consideradas como artes plásticas as atividades gerais de escultura,pintura, gravura, desenho, colagem,fotografia, talha, mosaico, cerâmica,tecelagem, ourivesaria, vidraria emetaloplastia.

PLÁSTICA significa a configuração ouconformação de algo que, no caso da artee arquitetura, corresponde à Estética doObjeto que, por sua vez, pode seranalisada em 02 (dois) aspectos inter-relacionados:

PLÁSTICA PRIMÁRIA ou BÁSICA:Corresponde à descrição do conjuntoque é composto por linhas, planos evolumes, o qual pode ser simples oucomplexo, quando caracterizado pela justaposição, pela articulação ou pelainterpenetração volumétrica.

PLÁSTICA SECUNDÁRIA ouCOMPLEMENTAR: Relaciona-se aoselementos que são aplicados sobre aplástica primária (decoração), visandoconferir-lhebeleza , como cores, texturase ornatos (molduras, frisos, cornijas eapliques). Para Vitrúvio, equivaleria ao

Decorum, associado à dignidade daarquitetura e ao respeito dastradições/ordens arquitetônicas.

De modo geral, pode-se dizer que aBELEZA é uma experiência, ou seja, umprocesso cognitivo ou mental – ou ainda,espiritual – relacionada à percepçãosensorial de elementos que agradam deforma singular aquele que a experimenta(estética agradável ).

As formas belas são inúmeras; e aciência ainda tenta dar uma explicaçãopara o processo de sua obtenção. Nacultura greco-romana, a BELEZAUNIVERSAL era baseada em conceitosnuméricos, que envolviam a proporçãoáurea. Tal idéia foi depois retomadapelos renascentistas e passou a definiras práticas artísticas, que deveriamestar fundamentadas nos aspectos de

harmonia, simetria e equilíbrio.O ideal clássico de beleza baseia-se emconceitos científicos e platônicos(perfeição), supondo a existência de umbelo absoluto, derivado de umuniversalismo asséptico e puro, nãocontaminado pela eventualidade.Contudo, há a BELEZA SINGULAR,regida pelo valor particular, diferente eanticlássico (ARNHEIM, 1998).

Um dos elementos fundamentais daarquitetura consiste na ESCALA, a qual serelaciona às suas dimensões, geralmentecomparadas ao ser humano. Quando o padrãodeixa de ser apenas o homem e passa a sertambém a cidade, surge a escala urbana .

Denomina-se URBANISMO – palavraque deriva do termo urbe; cidade – oconjunto de medidas arquitetônicas(funcionais, técnicas e estéticas),econômicas, sociais, políticas e

administrativas que visam o estudo, aregulação e o desenvolvimento racional ehumano das cidades.

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Como disciplina, o URBANISMO nasceuno século XIX, após a RevoluçãoIndustrial (1750-1830), passando a servisto como um conjunto de atividades ou

idéias que visam o planejamento dascidades contemporâneas. Contudo, suaprática é tão antiga quanto a arquitetura,tendo surgido junto aos espaços urbanos.

Em termos gerais, tem por finalidademelhorar as funções e relações entre oshabitantes dos centros urbanos, atravésda adequação das vias de tráfego;iluminação, abastecimento, saneamentoe limpeza; criação e conservação deespaços verdes; sinalização epreservação do patrimônio histórico.

O arquiteto e urbanis ta é o profissional queplaneja, projeta e coordena a construção ereforma de quaisquer edificações, envolvendodesde parques, praças e jardins até bairros ecidades inteiras, abrangendo o projeto dehabitações; edifícios residenciais, comerciais eindustriais; monumentos, etc.

De acordo com o estilo de vida, asintenções plásticas e as necessidades dacomunidade, é o profissional que resolveproblemas de circulação, lazer, trabalho,

saneamento e comunicação visual.Elabora ainda o desenho de objetos,equipamentos, cenários e ambientes(FEDERAÇÃON ACIONAL DE ARQUITETOS

– FNA, 1998a).

Uma das conceituações de arquiteturamais aceita hoje em dia é a definição doarquiteto brasileiro LÚCIO COSTA (1902-98), segundo o qual:

Arquitetura é antes de mais nada construção, mas,construção concebida com o propósito primordialde ordenar e organizar o espaço para determinadafinalidade e visando a determinada intenção. Enesse processo fundamental de ordenar eexpressar-se ela se revela igualmente arte plástica, porquanto nos inumeráveis problemas com que se

defronta o arquiteto, desde a germinação do projeto, até a conclusão efetiva da obra, hásempre, para cada caso específico, certa margemfinal de opção entre os limites – máximo e mínimo – determinados pelo cálculo, preconizados pelatécnica, condicionados pelo meio, reclamados pelafunção ou impostos pelo programa, – cabendoentão ao sentimento individual do arquiteto, no queele tem de artista, portanto, escolher na escala dosvalores contidos entre dois valores extremos, aforma plástica apropriada a cada pormenor emfunção da unidade última da obra idealizada. A intenção plástica que semelhante escolhasubentende é precisamente o que distingue aarquitetura da simples construção (COSTA, 2002).

TERRITORIAL

Áreas, zonas e territórios

URBANA E REGIONAL

Cidades, bairros e quadras

Habitação, lazer e trabalho

EDIFICAÇÕES

Conforto, uso e decoração

INTERIORES

Objetos, sistemas e sinais

DESIGN INDUSTRIAL

ARQUITETURAE URBANISMO

PLANIFICAÇÃO

CAMPOS AFINS

PatrimônioCenografia

PublicidadeEstilismoEnsino

PesquisaOutras

MICROESCALA

MACROESCALA

PROJETO

PAISAGEM

Ruas, parques e praças

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Anteriormente regulamentada pela LeiFederal n. 5.194, de 24 de dezembro de1966, que também dispunha sobre osengenheiros e agrônomos, a profissão dearquiteto e urbanista no Brasil passou aser regulamentada pela LEI FEDERAL n.12.378, de 31 de dezembro de 2010, aqual também criou o CONSELHO DEARQUITETURA EURBANISMO DOBRASIL – CAU/BR (http://www.caubr.gov.br/), desvinculando-se finalmente do SistemaCONFEA/CREA.

Segundo o Art. 5º dessa lei, para oexercício das atividades profissionaisprivativas correspondentes ao título, é

obrigatório o REGISTRO no CAU doEstado ou do Distrito Federal, para oqual é requisito, além da capacidadecivil, o diploma de Faculdade ouInstituição de Ensino Superior (IES)oficialmente reconhecida pelo Estado.

Aos estrangeiros ou brasileirosformados no exterior, o diploma deveser revalidado e registrado no Brasil(CAU, 2010).

Uma profissão é REGULAMENTADA paragarantir à sociedade que somente cidadãos

qualificados irão exercer as atividadesprevistas na lei. Aqueles que praticamatividades reservadas aos profissionais, sem adevida formação e o registro adequado, sãoprocessados por exerc íci o ileg al d apr of is são. Além disso, uma profissãooficialmente regulamentada no país garantedireitos (atribuições e remunerações fixadaspor lei), mas impõe deveres (respeito acódigos e pagamento de taxas e contribuiçõesfiscais).

Por meio da Resolução n. 8, de 15de dezembro de 2011, o CAU/BRinstituiu o DIA NACIONAL DOARQUITETO E URBANISTA, a sercomemorado no dia 15 de dezembro,em homenagem ao arquiteto OscarRibeiro de Almeida de Niemeyer Soares(1907/2012), que tem nesse dia suadata natalícia.

No Brasil, nossas atribuições profissionaisforam definidas pela Resolução n. 21, de05 de abril de 2012, pelo CAU/BR, sendoas seguintes as principais áreas deatuação do arquiteto e urbanista em todoo mundo:

PLANIFICAÇÃO REGIONAL ETERRITORIAL: Equivale às açõessubordinadas a leis e ordens ditadas peloMunicípio e pelo Estado, visando osinteresses públicos e resultando em planose projetos em grande escala, queinfluenciam todo o meio ambiente.

PLANEJAMENTO E DESENHO URBANO:Envolvem respectivamente a organizaçãofuncional (circulação, manutenção,infraestrutura, saneamento, etc.) e espacial(projeto de ruas, quadras, bairros, etc.) dascidades, além da elaboração de planosdiretores que orientam seu crescimento.

PAISAGISMO: Consiste no conjunto dasatividades de planificação da paisagem, istoé, organização dos espaços exterioresvoltados ao uso social ou recreativo, comoparques, praças e jardins, o que abrange adefinição de serviços, circulação,comunicação visual e arborização.

PROJETO DE EDIFICAÇÕES: Equivale àcriação, construção e acompanhamento deobras civis e religiosas, incluindoprogramas habitacionais, comerciais,industriais e de serviços, dividindo assimcom a Engenharia Civil a responsabilidadepela produção do espaço humano.

PATRIMÔNIO HISTÓRICO: Consiste nasérie de atividades de preservação,restauração e conservação de bensconstruídos, tombados ou não, revitalizadose/ou reciclados, que representem amemória e a cultura.

ARQUITETURA DE INTERIORES:Corresponde à organização dos espaçosinternos das edificações, através doplanejamento do conforto térmico eacústico, da iluminação, da decoração e daprogramação visual dos ambientes, alémdo projeto e detalhamento de mobiliário,instalações e acabamentos gerais.

DESIGN INDUSTRIAL E AFINS: Constituina configuração de produtos de fabricaçãoindustrial a partir das necessidades físicase psíquicas dos usuários, além da criaçãode meios de comunicação e identidadevisual (marcas, logotipos, programaçãovisual, etc.). A partir das suas habilidades, oarquiteto também pode atuar em outrasáreas que envolvem as atividades decriação artística e projeto, como cenografia,estilismo e publicidade; além do ensino eda pesquisa científico-tecnológica.

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RREESSOOLLUUÇÇÃÃOO NN.. 2211 DDEE 0055 DDEE AABBRRIILL DDEE 22001122

Art. 1° Os arquitetos e urbanistasconstituem categoria uniprofissional, deformação generalista, sujeitos a registro noConselho de Arquitetura e Urbanismo daUnidade da Federação (CAU/UF) do local doseu domicílio, cujas atividades, atribuições ecampos de atuação previstos na Lei n° 12.378,de 2010, são disciplinados pela presenteResolução.

Art. 2° As atribuições profissionais doarquiteto e urbanista a que se refere o artigoanterior são as seguintes:

1. supervisão, coordenação, gestão eorientação técnica;

2. coleta de dados, estudo, planejamento, projeto e especificação;

3. estudo de viabilidade técnica eambiental;

4. assistência técnica, assessoria econsultoria;

5. direção de obras e de serviço técnico;6. vistoria, perícia, avaliação,

monitoramento, laudo, parecer técnico,auditoria e arbitragem;

7. desempenho de cargo e funçãotécnica;8. treinamento, ensino, pesquisa e

extensão universitária;9. desenvolvimento, análise,

experimentação, ensaio, padronização,mensuração e controle de qualidade;

10. elaboração de orçamento;11. produção e divulgação técnica

especializada; e12. execução, fiscalização e condução de

obra, instalação e serviço técnico.

Parágrafo único. As atribuições deque trata este artigo aplicam-se aos seguintescampos de atuação:

I. de Arquitetura e Urbanismo,concepção e execução de projetos;

II. de Arquitetura de Interiores,concepção e execução de projetos;

III. de Arquitetura Paisagística, concepçãoe execução de projetos para espaçosexternos, livres e abertos, privados oupúblicos, como parques e praças,considerados isoladamente ou emsistemas, dentro de várias escalas,inclusive a territorial;

IV. do Patrimônio Histórico Cultural e Artístico, arquitetônico, urbanístico,paisagístico, monumentos, restauro,práticas de projeto e soluçõestecnológicas para reutilização,reabilitação, reconstrução,preservação, conservação, restauro evalorização de edificações, conjuntose cidades;

V. do Planejamento Urbano e Regional,planejamento físico-territorial, planosde intervenção no espaço urbano,metropolitano e regionalfundamentados nos sistemas deinfraestrutura, saneamento básico eambiental, sistema viário, sinalização,tráfego e trânsito urbano e rural,acessibilidade, gestão territorial eambiental, parcelamento do solo,loteamento, desmembramento,remembramento, arruamento,planejamento urbano, plano diretor,traçado de cidades, desenho urbano,inventário urbano e regional,assentamentos humanos erequalificação em áreas urbanas erurais;

VI. de Topografia, elaboração einterpretação de levantamentostopográficos cadastrais para arealização de projetos de arquitetura,de urbanismo e de paisagismo,fotointerpretação, leitura, interpretaçãoe análise de dados e informaçõestopográficas e sensoriamento remoto;

VII. da Tecnologia e resistência dosmateriais, dos elementos e produtosde construção, patologias erecuperações;

VIII. dos sistemas construtivos eestruturais, estruturas,desenvolvimento de estruturas eaplicação tecnológica de estruturas;

IX. de instalações e equipamentosreferentes à Arquitetura e Urbanismo;

X. do Conforto Ambiental, técnicasreferentes ao estabelecimento decondições climáticas, acústicas,lumínicas e ergonômicas, para aconcepção, organização e construçãodos espaços;

XI. do Meio Ambiente, estudo e avaliaçãodos impactos ambientais,licenciamento ambiental, utilizaçãoracional dos recursos disponíveis e

desenvolvimento sustentável.

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22 FFOORRMMAAÇÇÃÃOO AACCAADDÊÊMMIICCAA

No Brasil, as diretrizes curriculares docurso de Arquitetura e Urbanismo foramatualizadas pela Resolução n. 2, de 17 de junho de 2010, do CONSELHON ACIONAL DEEDUCAÇÃO – CNE, pertencente ao Ministério da Educação (MEC). Segundoseu Art. 6º, o conteúdo mínimo deve serdividido em três partes interdependentes:

a) Núcleo de Conhecimentos deFu n dam en tação , que trata doembasamento teórico necessário aofuturo profissional, constituindo-se de:Estética e História das Artes; Estudos

Ambientais, Sociais e Econômicos;Desenho e Meios de Representação eExpressão;

b) Núcleo de ConhecimentosProfissionais , que é composto porcampos de saber destinados àcaracterização da identidade profissionaldo egresso, constituindo-se por:

Teoria e História da Arquitetura, doUrbanismo e do Paisagismo;

Projeto de Arquitetura, de Urbanismoe de Paisagismo;

Planejamento Urbano e Regional. Tecnologia da Construção, SistemasEstruturais e Conforto Ambiental;

Técnicas Retrospectivas; Informática Aplicada à Arquitetura eUrbanismo;

Topografia;c) Trab alh o F in al d e Gradu ação , que

consiste no desenvolvimento, no últimoano do curso, de um trabalho individual,com orientação particular de umdocente escolhido pelo estudante, cujotema é de livre escolha dentro dasatribuições profissionais. Deverá estarcentrado em determinada área teórico-prática ou de formação profissional,como atividade de síntese e integraçãode conhecimento e consolidação dastécnicas de pesquisa. Pode sersubmetido à avaliação por uma bancacom participação externa à Instituição.

A Resolução CNS/CES n. 2/2007 estabeleceque a carga horária do curso não deverá sermenor que 3.600 horas , exclusivamentedestinadas ao desenvolvimento do conteúdofixado no Currículo Mínimo, devendo serintegralizada no prazo de 05 (cinco) anos, noperíodo integral; ou 06 (seis) anos, no períodonoturno.

Exige-se também a utilização deespaços e de equipamentosespecializados, tais como salas deprojeto (ateliers ou ateliês1), laboratóriose maquetaria.

O acervo bibliográfico atualizadodeverá constar de, no mínimo, 3.000títulos de obras de arquitetura eurbanismo e de referência às matériasdo curso, além de periódicos, revistas(nacionais e estrangeiras) e legislação(ABEA, 2009).

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO em Arquitetura e Urbanismo tem como objetivoprincipal levar os estudantes uma vivênciaprofissional, colaborando de maneira a estarentrosado e integrado ao esquema de trabalho(mercado), participando e conhecendo melhora dinâmica de um escritório.

O estágio visa o aprimoramentodos conhecimentos recebidos pelosestudantes na escola, através docontato com diferentes profissionais daárea, trazendo, deste modo, umaprofundamento prático na suaformação acadêmica (ABEA, 2009)

1 O termo francês ateliê designa mais um método deeducação do que propriamente um tipo de espaço,surgido em meados do século XVII. Consiste basicamenteem um estúdio artístico que funcione como um local detrabalho de pessoas criativas, capaz de oferecer ascondições de simulação do exercício profissional, com amanipulação de materiais e a confecção de desenhos emaquetes (N.A.).

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Além de ter habilidade para cálculos(raciocínio e lógica), o estudante dearquitetura deve ser meticuloso, criativoe interessado pelas ARTES PLÁSTICAS

de modo geral, sabendo levar emconsideração os aspectos humanos,sociais e psicológicos. Trabalhar comarquitetura é uma profissão que tambémexige desenvoltura nas relações sociais,consciência política e bom senso estético.

O curso no Brasil tem duração média de 05anos, sendo que a pós-graduação pode durarde 01 a 02 anos ( latu senso ou especialização)ou de 02 a 04 anos ( strictu senso oumestrado/doutorado).

Tendo-se em vista que o arquiteto eurbanista, na essência de sua profissão,possui tanto compromissos com aestrutura socioeconômica de produçãocomo com o processo político e culturaldo país, o curso tem como basefilosófica a proposta de uma formaçãovoltada às exigências do momentohistórico.

Não se visa somente a formação de umprofissional apto ao mercado, mas

também de um indivíduo igualmentecapaz de agir criticamente. Suaformação deve ser essencialmenteGENERALISTA (CREA, 2005).

Basicamente, o curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo envolve 04(quatro) áreas de conhecimento:

ÁÁRREEAA DDEE TTEEOORRIIAA EE HHIISSTTÓÓRRIIAA DDAA AARRQQUUIITTEETTUURRAA

Esta área equivale ao conjunto dematérias que constituem o lastro cultural ea base de conhecimentos autônomoscapazes de favorecer o desenvolvimentoda reflexão teórica e do pensamentocrítico do arquiteto. Tem os seguintesobjetivos:

Fundamentar a atividade projetual e deplanejamento através do conhecimentoteórico e crítico, tratando-o como

importante instrumental para a prática e oaprofundamento das questões levantadasnas demais áreas;

Fornecer a base teórica necessária àcompreensão da arquitetura, apresentandoconceitos básicos da Teoria da Arte, daEstética e do Restauro , assim como suasrelações com a forma, o uso e a produçãoartística e arquitetônica;

Apresentar e discutir a produção teórica eprática da Arquitetura internacional,nacional, regional e local, identificando aspeculiaridades face a processos históricosglobais, de ontem e de hoje.

ÁÁRREEAA DDEE DDEESSEENNHHOO EE PPRROOJJ EETTOO AARRQQUUIITTEETTÔÔNNIICCOO

Esta área reúne todas as disciplinasrelacionadas à teoria e prática naelaboração de projetos de arquitetura,bem como o estudo de matériascomplementares para tal capacitação.Constituem seus objetivos básicos:

Fornecer a instrumentação necessária,tanto a nível prospectivo comometodológico, para o projeto arquitetônico,por meio da fragmentação de suas etapase condicionantes;

Interagir com as condicionantes derivadasdos sistemas complementares, estruturais,construtivos e de intenção plástica noprojeto de espaços;

Exercitar a interação dessescondicionantes de projeto através deexercícios práticos, aprofundandogradativamente as soluções de concepçãoespacial.

A área de Projeto envolve todas as disciplinas

de desenho artístico e técnico e artístico(meios de expressão e representação), alémdas matérias de projeto, design e interiores.

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ÁÁRREEAA DDEE DDEESSEENNHHOO EE PPLLAANNEEJJ AAMMEENNTTOO UURRBBAANNOO

Esta área engloba todas as disciplinasque tratam, em escala progressiva, darua, bairro, cidade e território,fundamentando assim estudos rurais eurbanos e de planejamento territorial.Reúne tanto matérias teóricas comopráticas, cujas metas fundamentais são:

Fornecer o instrumental teórico e práticonecessário para a análise e compreensãode processos de urbanização e deocupação territorial;

Desenvolver a capacidade de avaliação dosaspectos paisagísticos, introduzindoconhecimentos básicos do tratamento doselementos naturais e de jardins, suatipologia, necessidades e tratos culturais;

Discutir a problemática urbana, suasmetodologias e conteúdos, enfocando asnoções de Planejamento Urbano eRegional, sempre em paralelo com oprojeto voltado à edificação.

ÁÁRREEAA DDEE TTEECCNNOOLLOOGGIIAA

DDAASS CCOONNSSTTRRUUÇÇÕÕEESS Esta área consiste no ramo quecompreende o estudo e aprendizagemdos materiais, equipamentos, técnicas eprocedimentos empregados naelaboração, execução e acompanhamentode projetos arquitetônicos e urbanísticos.Equivale, portanto, à complementaçãodas áreas anteriores, voltadaessencialmente aos conhecimentos

científicos, tecnológicos e de confortoambiental, visando:

Habilitar o arquiteto para a condição deresponsável técnico e gerenciador deobras, capacitando-o às tarefas deplanejamento e controle da produçãoarquitetônica, tanto a nível de projeto comode execução;

Desenvolver o estudo de estruturasarquitetônicas, enfatizando a relação entreconcepção espacial e estrutural, além decapacitar ao cálculo de estruturas simplesde concreto armado, madeira e aço;

Fornecer subsídios à análise de alternativasno uso de materiais e sua compatibilizaçãofísico-química, econômica e estética,introduzindo a prática da normalização e daindustrialização;

ENGENHARIA – termo que provém latimingeniu; faculdade inventiva, talento – constitui-se no conjunto de conhecimentos referentes àconcepção, operação e aplicação deprocedimentos e dispositivos técnicos adeterminados domínios.

A engenharia civil pode ser definidacomo a ciência das construções civis emterra ou no mar, cujas atividadesfundamentam-se na edificação de obras,tais como pontes, estradas, represas,usinas e edifícios de modo geral,incluindo construções residenciais,comerciais e industriais.

Todo engenheiro, seja civil, mecânico,elétrico, genético, etc., aplica osconhecimentos científicos na resoluçãode problemas práticos, ou seja,transform a ciência em tecnolo gia ,desenvolvendo novos produtos eprocessos a serem usados pelo homem.Seu perfil moderno surgiu em meadosdo século XVIII, quando passou a tercomo principal preocupação buscar umasolução tecnológica ótima, a qual atendaaos requisitos de segurança, economia epreservação/conservação ambiental.

SEGURANÇA(ELIMINAÇÃO DE RISCOS)

ECONOMIA RESPEITO AO (EFICIÊNCIA) MEIO AMB IENTE

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CCAAUUUUFFPPRR

A UNIVERSIDADEFEDERAL DO PARANÁ – UFPR nasceu em 1912 como umainstituição particular, começando afuncionar efetivamente em 1913 com oscursos de Ciências Jurídicas e Sociais,Comércio, Engenharia, Odontologia,Medicina e Cirurgia, Farmácia eObstetrícia. Seu prédio foi construído naPraça Santos Andrade e é atualmenteconsiderado o símbolo de Curitiba.

Com a recessão econômica doprimeiro pós-guerra, uma lei federal de1920 determinou o fechamento dasuniversidades no país. Procurando criaralternativas para evitar isto, a UFPR foidesmembrada em Faculdades, o queperdurou por cerca de 30 anos, quandono início da década de 1950 foinovamente unificada e restaurada.

Atualmente a UFPR oferece 66 opções decursos de ensino superior; 39 de residênciamédica; 44 de especialização; 71 de mestrado(acadêmico e profissional) e 42 de doutorado;funcionando em 06 campi de Curitiba PR(Juvevê, Batel, Jardim Botânico, Jardim das

Américas, Centro e Rebouças), além dossituados em Palotina PR e Matinhos PR(Litoral). Conta ainda com a Escola Técnica, oHospital de Clínicas, o Centro de Visão e oCentro de Estudos do Mar, este localizado emPontal do Paraná PR) ( http://www.ufpr.br/).

O curso de ARQUITETURA EURBANISMO da UFPR foi criado em1962 em um contexto histórico deconsagração da arquitetura modernabrasileira, com a construção de Brasília(1955/60); e da afirmação econômico esocial do Estado do Paraná e sua capital. Até então, havia pouquíssimos arquitetosno Estado, além de engenheiros edesenhistas projetarem a maioria dasedificações paranaenses (C HIESA, 2001).

Suas atividades começaram a partirda gestão de uma comissão especial deprofessores da ESCOLA DE ENGENHARIADO PARANÁ – EEP, entre os quaisRubens Meister (1922-), junto a uma

dupla de arquitetos da UFMG – JoséMarcos Loureiro Prado e Armando deOliveira Strambi – , que foi responsávelpela estrutura e organização curricular.

As aulas da primeira turma começaram em1963, com um total de 20 estudantes, cujaformação seguiu as vertentes básicas daarquitetura moderna brasileira, conforme aslinhas carioca e paulista. Em abril de 1965, aEscola de Engenharia, à qual ainda estavasubmetido o curso – através do Departamentode Técnicas Construtivas – , constituiuformalmente os Departamentos deComposição e de Teoria e História da

Arquitetura, contratando arquitetos paracumprir as funções docentes e administrativasreferentes a estas áreas.

Na conjuntura do pós-golpe de 64, aREFORMA UNIVERSITÁRIA de 1969definiu a criação do Setor de Tecnologia

da UFPR, além da transformação daantiga EEP no Curso de Engenharia,com várias especialidades organizadasem Departamentos. O Curso deArquitetura e Urbanismo – CAU ficousubmetido à direção do Setor, tendo seuDepartamento (DARQ) constituído em5/10/1973, a partir da fusão dos doisanteriores.

A década de 1970 foi decisiva na históriada arquitetura paranaense, quando daampliação do seu mercado de trabalho,

assim como diversas premiações obtidasem concursos por arquitetos do Paraná,inclusive professores do CAUUFPR.

Nessa época, houve também a bem-sucedida e continuada administração deJaime Lerner (1937-) na Prefeitura deCuritiba e a institucionalização doprocesso de planejamento na cidade.Ocorreu a criação do curso daPONTIFÍCIAUNIVERSIDADECATÓLICA DOPARANÁ – PUCPR, em 1975, além dos02 cursos de Londrina, no norte do

Estado: UNIVERSIDADE ESTADUAL DELONDRINA – UEL e CESULON ou atualCENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA – UNIFIL.

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O estabelecimento de um novo CurrículoMínimo para a área de Arquitetura eUrbanismo pela Portaria n. 1770/94 doMEC, promoveu a possibilidade daprimeira reformulação curricular doCAUUFPR, cuja necessidade já vinhasendo sentida desde seu aniversário de20 anos, em 1982. Elaborado entre 1994e 1995, o novo Currículo foi implantado noano letivo de 1996.

Após uma década de aplicaçãodesse Currículo e diversas alterações noquadro educacional brasileiro, fez-senecessária uma reformulação em 2009e, finalmente, a partir da sua avaliaçãoapós cinco anos, na implantação doatual Currículo no ano letivo de 2014.Funcionando em sistema integral esemestralizado, a carga horária totalpassou a ser de 3.960 horas, assimdistribuídas:

Disciplinas obrigatórias – 3.600 h Disciplinas optativas – 180 h Atividades complementares – 180 h

Da carga horária obrigatória (3.600 h),estabelece-se 180 horas destinadas aoESTÁGIO SUPERVISIONADO – o quecorresponde à carga curricular mínima, a qualdeve ser cumprida obrigatoriamente durante o3º e 4º anos do curso, excluindo estágiosextra-curriculares – e 180 horas para oTRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO. Porsua vez, as ATIVIDADES FORMATIVASCOMPLEMENTARES podem ser cumpridasno decorrer de todo o curso, respeitando-se oseguinte limite validável de horas, previsto noProjeto Pedagógico em vigência:

ATIVIDADES LIMITE Atividades de extensão 60 h

Atividades de monitoria 120 hDisciplinas eletivas ofertadas por

outros cursos da UFPR60 h

Participação em iniciaçãocientífica e/ou em extensão

120 h

Participação em congressos,seminários, exposições e afins

30 h

Participação no ProgramaEspecial de Treinamento (PET)

120 h

Visitas técnicas 10 hEstágios supervisionados

não-obrigatórios120 h

Representação acadêmica 30 hParticipação/Premiação emconcursos nacionais e

internacionais de estudantes30/60 h

Semestralmente, o D EPARTAMENTO DE ARQUITETURA EURBANISMO – DAUUFPRoferece DISCIPLINAS OPTATIVAS, alémdas obrigatórias pertencentes ao Currículo

Pleno do curso, as quais variam conformea disponibilidade de horário e docentes. Oatual Projeto Pedagógico prevê asseguintes disciplinas: Arquitetura de Madeira Arquitetura Latino-Americana Arquitetura Paranaense Arquitetura Portuguesa Contemporânea Arte no Brasil Ateliê Vertical Desenho de Observação Detalhes Construtivos Dinâmicas Urbanas e Impactos Socioambientais Elementos Arquitetônicos Espaços Públicos na Metrópole Contemporânea Geoprocessamento para o Planejamento Urbano História da Habitação e Mobiliário Intercâmbio Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) Mercado Imobiliário e Estruturação da Cidade Metodologia Científica Metodologia de Projeto Perspectiva Planejamento da Paisagem Produção da Cidade e da Moradia no Brasil Técnicas de Representação na Arquitetura Técnicas de Representações Digitais Tópicos Especiais em Arquitetura e Urbanismo

Atualmente, o Departamento de Arquitetura eUrbanismo da UFPR conta com cerca de 30professores efetivos, sendo 1/3 contratado emregime de Dedicação Exclusiva – DE. Mais de30% do corpo docente são doutores, sendo orestante constituído por mestres eespecialistas. Há ainda professores substitutos(temporários) e visitantes.

O DAUUFPR é administrado por um

Chefe de Departamento eleito dentreos professores efetivos integrantes domesmo e com gestão de 02 anos. Já asquestões acadêmicas são dirimidas peloColegiado do CAUUFPR, composto portodos os docentes que ministram aulasno curso de graduação – sendorenovado anualmente – e dirigido peloCoordenador de Curso , eleito dentreos professores efetivos e com gestãotambém de 02 anos.

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Fundamentosda Arquitetura 2

Teoria e Hist. daArquitetura 2

Teoria e Hist. daArquitetura 1

DesenhoArquitetônico 2

DISCIPLINASOPTATIVAS

E DEMAIS ATIVIDADESCOMPLEMENTARES

ESTÁGIOSUPERVISIONADO

4 º P E R

3 º P E R

1 0 º P E R

8 º P E R

5 º P E R

2 º P E R

6 º P E R

7 º P E R

1 º P E R

9 º P E R

Informática naArquitetura

DesenhoArquitetônico 1

ExpressãoGráfica 1

Fundamentosda Arquitetura 1

Estudos daForma 2

ExpressãoGráfica 2

Estudos daForma 1

ModelagemComputacional

Fundamentosdo Paisagismo

Materiais deConstrução 2

Resistência dosMateriais

Materiais deConstrução 1

Estática

Teoria e Hist. daArquitetura 3

História daArte 1

História da

Arte 2

Teoria e Hist. daArquitetura 4

Paisagismo 1Arquitetura 1

Cidade e MeioAmbiente 1

Cidade e MeioAmbiente 2

Ateliê de Arq. ePaisagismo 2

AmbienteConstruído 2

AmbienteConstruído 1

ConstruçãoCivil 1

ConstruçãoCivil 2

SistemasEstruturais 2

SistemasEstruturais 1

ArquiteturaBrasileira 1

História daCidade 1

História daCidade 2

ArquiteturaBrasileira 2

Arquitetura 2 Paisagismo 2

Ateliê de Arq. ePaisagismo 1

Est. Urbanos eRegionais 1

Est. Urbanos eRegionais 2

Topografia 1

Topografia 2

SaneamentoUrbano 1 Estruturas deMadeira

AmbienteConstruído 3

AmbienteConstruído 4

InstalaçõesPrediais 1

DesenhoUrbano 1

InstalaçõesPrediais 2

1 º P E R

Estruturas deConcr. Armado

Patr. e TécnicasRetrospectiv. 1

Patr. e TécnicasRetrospectiv. 2

Arquitetura 3

Arquitetura 4Arquitetura deInteriores

DesenhoUrbano 2

SaneamentoUrbano 2

Planej. Urbanoe Regional 1

Planej. Urbanoe Regional 2

DesenhoUrbano 3

DesenhoUrbano 4

Orientação de Pesquisa

Arquitetura 5

Trabalho Final de Graduação (TFG)Áreas de Conhecimento: Carga Horária do Curso:

Teoria e História da Arquitetura Planejamento Urbano Disciplinas Obrigatórias 3420 h/aEstágio Supervisionado 180 h/a

Ativ. Complementares 360 h/aProjeto Arquitetônico Tecnologia das ConstruçõesTotal: 3960 h/a

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33 EEXXEERRCCÍÍCCIIOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALL

Sendo uma profissão regulamentada porlei, todo indivíduo formado em arquiteturae urbanismo no Brasil está submetido àsdeterminações do CONSELHO DEARQUITETURA EURBANISMO DOBRASIL – CAU/BR, o qual se desmembrou doSistema CONFEA/CREA a partir de 2011,com a Lei Federal n. 12.378, de 31 dedezembro de 2010.

Os profissionais brasileiros defendema manutenção da regulamentaçãoprofissional , tanto como forma degarantir o controle do exercício ilegalcomo também como valorização dotrabalho qualificado e o controle daatuação de estrangeiros, além docompromisso da responsabilidadetécnica e social da profissão.

Além do Diploma emitido por umaInstituição de Ensino Superior (IES)reconhecida pela MEC, para atuar nomercado de trabalho, o arquitetonecessita possuir o REGISTROprofissional, emitido pelo CAU estadual aque está vinculado – ou obter um visto,em caso de outro Estado – , o qual éatualmente conferido a todos aquelesdiplomados em escolas reconhecidas.

Ao exercer a profissão, pode estarempregado em uma firma ou prestarserviços através de uma das alternativas

legais atualmente existentes no país:como autônomo, em uma empresa, emcooperativa ou em uma organizaçãonão-governamental (ONG).

Cada forma de atuação como arquiteto eurbanista no Brasil tem as suasexigências, seus pontos positivos enegativos; e está mais adequada adeterminado perfil profissional.

Para trabalhar como AUTÔNOMO, oprofissional, depois de obter a carteirade habilitação profissional e o Registrono CAU (provisório ou definitivo), devese inscrever no Cadastro EconômicoMunicipal da Prefeitura para a obtençãodo Registro da Atividade Econômica de

Arquiteto Autônomo.

Assim, obtém-se o Alvará deFuncionamento de sua atividade epassará a contribuir com o ImpostoSobre Serviços (ISS). Também se faz ocadastro como autônomo em um postodo INSTITUTO NACIONAL DO SEGUROSOCIAL – INSS, passando a contribuirmensalmente com a Previdência.

O ESCRITÓRIO DE ARQUITETURA ébasicamente uma firma de prestação deserviços técnico-profissionais que, deacordo com a legislação brasileira, podese organizar de diversas formas, sendo asmais comuns como: Firma Individual,Sociedade Civil Limitada ou Sociedade Anônima. Existem algumas alternativaspara organizar a produção e o trabalho deum escritório de arquitetura, através doestabelecimento de cargos:

Arquiteto supervisor Mais de 10 anos

Arquiteto coordenador De 7 a 10 anos

Arquiteto sênior De 5 a 7 anos

Arquiteto pleno De 3 a 5 anos

Arquiteto júnior Menos de 3 anosArquiteto trainée Recém-formado

Quanto à REMUNERAÇÃOPROFISSIONAL, a Resolução doCAU/BR n. 38, de 9 de novembro de2012, dispõe sobre a fiscalização dopagamento do Salário MínimoProfissional (SMP) a todos os arquitetose urbanistas brasileiros, empregados deempresas públicas e privadas. Estedeverá ser calculado conforme a

jornada de trabalho do profissional, queé fixada no contrato de trabalho oudeterminação legal vigente.

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Respeitando o Art. 7º, Inciso V, daConstituição Federal de 1998, que prevê aexistência de um piso salarial proporcionalà complexidade do trabalho, a Resoluçãodo CAU/BR garante a aplicabilidade doSMP e estabelece em seu Art. 5º, parauma jornada de trabalho de 6 horas/dia, ovalor de 6 (seis) vezes o salário-mínimo(SM) em vigor no país.

Quando a jornada de trabalho forinferior a 6 horas/dia, o valor do SMPcontinuará sendo de 6 salários-mínimos,independente do contrato de trabalho.Se for superior a 6 horas/dia, segundo o

Art. 6º, deverá ser acrescido de 25%para cada hora excedente. Assim, o

calculo se dá da seguinte forma:SMP = [6 + N h x 1,25] x SM

, sendo N h o número de horasexcedentes a 6 h/dia

Por exemplo: para uma jornada de 8horas/dia (das 8 às 12h e das 14 às18h), ou seja, com 2 horas excedentes à

jornada-padrão, o SMP será de 8,5vezes o salário-mínimo em vigor.

O SALÁRIO-HORA dos arquitetos segue amesma regra estabelecida para o cálculo dosalário-hora dos demais trabalhadores, ouseja, o valor do salário mensal dividido por 30dias dividido pelo número de horas/dia.

Como empregado em umdeterminado estabelecimento, oarquiteto e urbanista tem direito a todasas normas coletivas da categoria queintegra como empregado. ACONSOLIDAÇÃO DASLEIS TRABALHISTAS – CLT assegura todos os reajustessalariais, horas-extras, vantagens econdições de trabalho estabelecidoslegalmente.

Quando o arquiteto não trabalha comoempregado, mas sim como autônomo,segundo a ASBEA (2000), a remuneraçãodos seus serviços como profissional ouescritório corresponderá a um percentualdo custo da obra, que varia de 3 a 7%,conforme a quantidade de CUB’s (valorvigente do Custo Unitário Básico para om2 de construção divulgado mensalmentepelos Sindicatos da Indústria deConstrução Civil – SINDUSCON).

PPEERRFFIILL DDOOSS AARRQQUUIITTEETTOOSS Em pesquisa divulgada em 2013 pelaFUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS – FGV,

existem no país pouco mais de 83.700arquitetos regularmente registrados nopaís, o que equivale a cerca de 1 arquitetopara cada 25.000 brasileiros 2. Desse total:

39% homens e 61% mulheres, sendoque, dos homens, 48% ganham acimade 8 (oito) salários-minimos, enquantoentre as mulheres, somente 29%possuem tal renda, o que demonstradesigualdade de gênero;

54% estão na Região Sudeste; 23% naRegião Sul; 12% na Região Nordeste;8% na Região Centro-Oeste; e apenas3% na Região Norte. Isto aponta grandedesigualdade em distribuição territorial.No Paraná, atualmente, há cerca de5.700 arquitetos registrados no Estado;

35% trabalham com projeto dearquitetura e urbanismo; 16% emconstrução; 15% em interiores; 9% empatrimônio histórico; 5% nofuncionalismo público; 4% emplanejamento urbano e regional; 3% emarquitetura paisagística; 3% em ensino

e, o restante (10%), em múltiplas áreasou afins;

49% são autônomos e empregadores;23,2% empregados regulares; 8,6%empregados sem carteira assinada;6,2% funcionários públicos; 8,5%aposentados e 4,5% desempregados;

41,3% migraram do Município de origeme 19,7% migraram do Estado de origem;

88,9% são brancos; 71,6% católicos;64,8% contribuem com a PrevidênciaSocial; 62,9% vivem em grandesmetrópoles; 57,2% são casados e 44%consideram-se chefes de família.

No ranking das carreiras no Brasil, a dearquiteto e urbanista está em 21º lugar emremuneração, 25º lugar em empregabilidade e45º lugar em carga de trabalho semanal.

2 Em nível de comparação, nos EUA, há 1 arquiteto paracada 1.300 americanos e, na Europa, 1 para cada 1.200habitantes. A distribuição nos países europeus é desigual,pois há 1 arquiteto para cada 2.000 britânicos, 1.700holandeses, 1.100 franceses ou espanhóis, 800 alemães,600 portugueses e 400 italianos. Enquanto isso, na Ásia,se há 1 arquiteto para cada 2.300 turcos, há 1 arquitetopara cada 40.000 chineses (2013).

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Como profissional regulamentado, oarquiteto e urbanista possui as seguintesRESPONSABILIDADES e respectivaspenalidades (FNA, 1998b):

a) RESPONSABILIDADE ÉTICA:Obrigação de seguir a boa conduta moralno desenvolvimento da atividadeprofissional, que é estabelecida peloCódigo de Ética (Resolução n. 52, de 6 desetembro de 2013, do CAU/BR),considerando os compromissos e relaçõesestabelecidas entre o profissional, o poderpúblico e a sociedade.

Penalidades : São aplicadas peloCAU/BR em processo onde cabe adefesa do profissional. Incluemadvertência reservada; censura pública;multa; suspensão temporária doexercício profissional; e cancelamentodo registro profissional.

b) RESPONSABILIDADE CIVIL:Obrigação de ressarcir prejuízos causadosà vítima, conforme o Código Civil , de quemcausar dano, independentemente de terhavido dolo (intenção) ou culpa (risco)pelos fatos danosos, mesmo quando nãohouve participação direta ou indireta doresponsável nos danos causados.

Penalidades : São definidas nosprocessos judiciais, na forma que reza alei, inclusive o disposto no Código deDefesa do Consumidor (Lei Federal n.8.078/90), que tornou os processos depequenas causas muito mais ágeis. Osbens do responsável são garantias depagamento das sentenças judiciais.

c) RESPONSABILIDADE PENAL ouCRIMINAL:Obrigação de responder legalmente pelaprática de uma infração consideradacontravenção (infração leve) ou crime(infração grave). O desabamento de umaedificação, por exemplo, pode serconsiderado crime se houver perigo à vidaou à propriedade.

Penalidades : De acordo com agravidade, o profissional pode sofrerpenas como reclusão, detenção ouprisão simples; multas (penas denatureza pecuniária) e interdições(restrição do direito ao exercício de umaatividade);

d) RESPONSABILIDADE FISCAL:Obrigação dos arquitetos e suas pessoas

jurídicas, se existirem, de se submeteremaos códigos tributário e fiscal. No exercíciode suas atividades, o profissional devemanter em dia o pagamento de seusimpostos (Imposto sobre Serviços – ISS,Imposto de Renda, etc.).

Penalidades : Os débitos fiscais podemser cobrados em juízo e a inadimplênciaimpede a participação do profissional oude sua pessoa jurídica em licitaçõespúblicas e em muitos contratosprivados.

e) RESPONSABILID. ADMINISTRATIVA:

Obrigação de respeitar os códigosadministrativos e as legislações urbanísticae ambiental, quando, por exemplo, seprojeta uma edificação.

Penalidades : O arquiteto quedesrespeita, por exemplo, posturasmunicipais, pode ser impedido de atuarnaquela circunscrição.

f) RESPONSABILIDADE TRABALHISTA:Obrigação de atentar para as relaçõescontratuais ou legais assumidas comempregados em escritório, obra ou serviço,estendendo-se também às obrigaçõesacidentárias e previdenciárias, conformedetermina a CONSOLIDAÇÃO DAS LEISTRABALHISTAS – CLT e demais legislações.

Penalidades : Penhora de bens doresponsável, pessoa física ou jurídica,para pagamento do empregado (13ºsalário, FGTS, INSS e outros impostos).

g) RESPONSABILIDADE TÉCNICA:Obrigação de garantir a qualidade, asegurança e o bom desempenho dosserviços previstos na Lei n. 5.194/66,considerando as normas técnicasreconhecidas (ABNT). Inclui ainda aresponsabilidade por orçamentos e pelaespecificação e qualidade de materiaisutilizados nos serviços.

Penalidades : O profissional que faltarcom sua responsabilidade técnicapoderá estar cometendo infrações aoCódigo de Ética, ao Código Civil e aoCódigo Penal , cabendo ser enquadrado

nas penalidades previstas nestesregulamentos;

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Conforme a Resolução n. 9, de 16 de janeiro de 2012, do CAU/BR – depoiscomplementada pelas Resoluções ns. 17(02/03/2012), 24 (06/06/2012), 31(02/08/2012) e 46 (08/03/2013) – , todocontrato, escrito ou verbal, para aexecução de obras ou prestação dequaisquer serviços profissionaisreferentes à arquitetura e urbanismo, ficasujeito ao REGISTRO DERESPONSABILIDADE TÉCNICA (RRT).

O RRT consiste em uminstrumento formal, que funciona comouma espécie de súmula do contratoestabelecido, sendo preenchido emformulário fornecido pelo CAU/UF e

recolhido na jurisdição onde oprofissional mantém seu registro,domicílio ou visto. Trata-se de umdocumento que, mediante o seupagamento, consiste no registro docontrato profissional perante o ConselhoRegional e possibilita:

Identificar o responsável técnico pelaobra e/ou serviço anotado;

Fiscalizar obras e serviços contratados; Manter cadastro atualizado dos

profissionais e empresas em suasespecialidades (CERTIFICADO DE ACERVOTÉCNICO – CAT);

Efetuar arrecadação através dopagamento de taxas, viabilizando afiscalização profissional.

Garantir a autoria do trabalho, emboranão possua detalhes de permitamdistinguir a obra com clareza.

O Certificado de Acervo Técnico (CAT) doarquiteto e urbanista é o documento quecomprova o conjunto das obras e serviçosprofissionais por ele realizados, que sejamcompatíveis com suas atividades, atribuições e

campos de atuação; e que tenham sidoregistrados no CAU/UF por meio de Registrosde Responsabilidade Técnica (RRT), nostermos das normas em vigor.

A Resolução n. 67, de 5 de dezembro de2013, do CAU/BR, dispõe sobre osDIREITOS AUTORAIS em arquitetura eurbanismo, estabelecendo normas e

condições para o registro de obrasintelectuais. Isto pode ser feito, segundo o Art. 7º, por meio de requerimentoespecífico, ao qual deverá ser anexadacópia do projeto, com descrição de suascaracterísticas essenciais. O valor da taxaé correspondente a duas vezes a RRT.

O Art. 16 desta Resolução afirmaque alterações em trabalho de autoriade arquiteto e urbanista, tanto emprojeto como em obra dele resultante,somente poderão ser feitas mediante

comprovação do consentimento porescrito do autor original ou, se existirem,de todos os coautores originais.

A proteção dos direitos de que trata alegislação independe de registro. Contudo,para segurança, o autor da obra intelectualpoderá registrá-la, conforme a sua natureza,na Biblioteca Nacional e no Conselho Regionalde Arquitetura e Urbanismo (ASBEA, 2000).

O PLÁGIO ou IMITAÇÃO em arquiteturae urbanismo configura-se quando umanova construção reproduz a concepçãotécnica ou artística original de obraexistente. Isto conduzirá ao pagamento deuma multa ou indenização3. Além doplágio, outra violação ao direito autoral doarquiteto, mais comum, é a REPETIÇÃO,sem consulta prévia, de seu trabalho emoutros projetos, o que causa danospatrimoniais e morais.

Segundo o Art. 21 desta Resolução,considerar-se-á como plágio areprodução de pelo menos dois dosseguintes atributos do projeto ou obradele resultante: (I) Partido topológico eestrutural; (II) Distribuição funcional; e(III) Forma volumétrica ou espacial,interna ou externa.

3 Nos casos comprovados de plágio, caberá oressarcimento dos direitos de autor, cuja indenização serádefinida pelo Poder Judiciário. Quando houver a violaçãodo direito moral do autor de ter seu nome, pseudônimo ousinal convencional indicado ou anunciado na utilização desua obra ou em anúncios publicitários, o Art. 23 daResolução n. 67 estabelece que deve ensejar opagamento de multa de 5 a 10% do valor dos honoráriosprofissionais referentes à elaboração da obra intelectual,calculados com base nas tabelas oficiais do CAU/BR.

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h) RESPONSABILIDADE FINANCEIRA:Obrigação de cumprir o pagamento decontribuições previstas em lei, estando oprofissional sujeito a multas ou a sançõesde inadimplência. Os principais tributos sãoos seguintes:

Anuidade do CAU/UF : É obrigatória eprevista pela Lei Federal n. 12.378/2010,sendo que o profissional poderá ter seuregistro cancelado se não pagar aanuidade por dois anos 4;

Co nt rib ui ção Sin di cal : É obrigatória eprevista no artigo 579 da CLT, devidapor todos os arquitetos em favor dosindicato de seu Estado. Cobradaanualmente, sempre em fevereiro, seuvalor corresponde à remuneração de umdia de trabalho ou outro valor menordefinido pelos sindicatos. Do total dopagamento da contribuição, de acordocom a lei, 60% ficam para o Sindicato,15% para a Federação, 5% para aConfederação, e 20% para o Ministériodo Trabalho;

Co nt ri bu ição Soc ial : É aquela devidapor livre adesão a uma ou mais de umaentidade associativa de arquitetos ou deum conjunto de profissionais outrabalhadores. Neste caso estão os

sindicatos e as associações dearquitetos, entre outras. Ao se filiar auma destas entidades o arquiteto pagauma contribuição financeira visando ofortalecimento da categoria e da classetrabalhadora.

As empresas ou instituições particularesou públicas, quando pretendem contrataros serviços de um ESCRITÓRIO DEARQUITETURA, podem fazê-lo de váriasmaneiras, a saber:

4 Os valores das anuidades são reajustados de acordocom a variação integral do Índice Nacional de Preços aoConsumidor (INPC), calculado pela Fundação InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, sendo a datade vencimento, as regras de parcelamento e o descontopara pagamento à vista estabelecidos pelo CAU/BR. Osprofissionais formados há menos de 2 (dois) anos e acimade 30 (trinta) anos de formados, pagam metade do valorda anuidade; e após 40 (quarenta) anos de contribuiçãoda pessoa natural, a anuidade deixa de ser devida.

1) Convite Direto : Quando o profissionalé contratado diretamente, ou medianteindicação, para a elaboração de umserviço, o que pode ser feito por umcliente particular ou mesmo público,por notória especialização.

2) Seleção Restrita : Quando o clienteparticular ou governamental pré-seleciona, em função da experiênciado profissional/escritório, um númeropequeno e restrito de nomes,procedendo entrevistas e visitas paraaquilatar porte e trabalhos executados.

3) Concursos : Envolvendo uma ou maisfases, podem ser públicos , quandoabertos a todos legalmentehabilitados, de abrangência regional,nacional ou internacional; ouprivados , quando fechados,normalmente organizados pelaspróprias empresas ou entidadesinteressadas. Os concursos sãonormalmente realizados em dois níveisbásicos de abordagem de projeto emquestão: concurso de idéias econcurso de anteprojetos .

4) Licitações : Previstas pela Lei n.8.666/93, consistem em formas decontratação pelo Setor Público, cujasmodalidades podem ser:

Co nc or rênc ia : Feita comparticipação aberta a todosinteressados para grandesserviços;

Tom ada d e Preços : Feita entreinteressados cadastrados comantecedência, usada para serviçosde porte médio;

Convite : Feito entre convidados doramos, no mínimo 03 (três),utilizado para contratos comvalores menores.

Hoje em dia, INFORMAÇÃO é essencial.Em arquitetura e urbanismo, ela se tornafundamental, pois é fonte de consulta,instrumento de trabalho e meio dedivulgação e propaganda. Existem váriasPUBLICAÇÕES PROFISSIONAIS quedevem fazer parte do acervo de todoarquiteto/escritório, podendo as mesmasestarem à mostra como parte domarketing profissional.

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a) Livros e manuais : Consistem em fontesde consulta permanente, tanto nacionaiscomo internacionais, conforme apreferência e o campo de trabalho;

b)Revistas e jornais

: Consistem ematualizações necessárias para o mercado,tanto através de publicações técnicas(Projeto, AU e Finestra) como aquelasvoltadas ao mercado consumidor(Arquitetura & Construção, Casa Jardim,etc.);

c) Catálo go s e m os tru ário s : Consistem emfonte de dados e especificações,geralmente fornecidos por fabricantes ouatravés de serviços de informação aoconsumidor (mala postal/encarte emrevistas especializadas);

d) No rm as e leg is lação es pec ífi ca :Consistem em dados imprescindíveis paraos projetos e serviços, envolvendo desdeas normas da Associação Brasileira deNormas Técnicas – ABNT até posturasmunicipais (Plano Diretor, Lei deZoneamento, Código de Obras , etc.)

Estas são as principais entidades eassociações de arquitetos e urbanistas noBrasil e no mundo:

a) UIA – União Intern acion al dos A rqu itetos :Organização não- governamental fundada em1948 em Lausanne (Suíça) para unir osarquitetos de todo mundo, contando atualmentecom 124 Seções Nacionais, sendo reconhecidapela UNESCO, reunindo mais de 1 milhão etrezentos arquitetos e com sede em Paris.

http://www.uia-architectes.org

b) FPAA – Federacións Panamericana deAsociaciones de Arquitectos : Instituiçãofundada em 1920, composta por 32 SeçõesNacionais, que possui um conceito deintegração através do conhecimento recíproco eda ajuda mútua. Engloba cinco regiõesgeográficas: Região Norte, Região Centro- América, Região Caribe, Região Andina eRegião Cone-Sul.

http://www.fpaa-arquitectos.org

c) FNA – Feder ação Nac ion al de A rq uit etos eUrbanistas : Entidade nacional criada em maiode 1979, que congrega 16 sindicatos eassociações profissionais estaduais, cujo papelé articular os sindicatos e representar osarquitetos e urbanistas nacionalmente. Possuisedes em Brasília e Rio de Janeiro.

http://www.fna.org.br

d) FENEA – Fed eração Nac io na l d eEstudantes de Arqu itetura : Organizaçãonacional composta por cinco regionais (Sul,São Paulo, Rio, Centro e Norte/Nordeste), que

organiza encontros nacionais (ENEA’s) desde1971 e, entre estes, congressos nacionais eregionais (CONEA’s e COREA’s).

http://www.fenea.org

f) ABEA –

As so ciação Br asil eira de En sin o deArqui te tura : Entidade de livre associação dedocentes, discentes, cursos e faculdades,criada em 1973 e que atualmente participa doColégio das Entidades Nacionais do Conselhode Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CEAU-CAU).

http://www.abea-arq.org.br

g) ASBEA – As so ciação Br asil eira deEscri tórios de Arquitetura : Fundada em 1973e sediada em São Paulo, visa a contínuaevolução no campo profissional, para avalorização da sua importância nodesenvolvimento urbano e melhoria qualitativada construção civil do país.

http://www.asbea.org.br

h) ABAP – As so ciação Br asilei ra de Arq uit eto sPaisagistas : Fundada em 1976, possui sedeem São Paulo e núcelos nas cidades de Rio deJaneiro, Campinas, Recife e Belo Horizonte,filiando-se à federação internacional (IFAP).

http://www.abap.org.br

e) IAB – Insti tuto de Arquitetos do Brasil : Associação civil de caráter cultural, criada nadécada de 1920, no Rio de Janeiro, cujapreocupação fundamental volta-se para aprodução arquitetônica, sendo organizada em26 departamentos estaduais.

http://www.iab.org.br

Departamento Paraná: Avenida Batel, 1750 – Sala 306 (Batel)80.420-090 – Curitiba PRTel.: (0xx41) 3243-6464

http://www.iabpr.org.br

i) SindArq/PR – Sindicato de Arquitetos doEstado do Paraná : Entidade que vêm, desdeos anos 1970, alterando seu perfil de atuação. Acompanhando as transformações da categoriae das relações de trabalho, busca e defende osdireitos do trabalhador.

Rua Marechal Deodoro, 314 – Sala 70580.010-010 – Curitiba PRTel.: (0xx41) 3014-0601

http://www.sindarqpr.org.br/f

j) CAU-PR – Conselho Regional de Arquiteturae Urbanismo do Paraná : Entidade criada em2011, após seu desmembramento do SistemaCONFEA/CREA, visa orientar, disciplinar efiscalizar o exercício da profissão.

Avenida N. S. da Luz, 2.530 (Jd. Social)80.045-360 – Curitiba PRTel.: (0xx41) 3218-0200

http://www.caupr.gov.br/

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44 EEVVOOLLUUÇÇÃÃOO HHIISSTTÓÓRRIICCAA

Na PRÉ-HISTÓRIA, o ser humano nãopassava de um coletor e caçador nômade ,em constante mudança à procura dealimentos, abrigando-se em cavernasnaturais ou à sombra de árvores. Anecessidade de construir habitaçõesainda não era grande quando passou acuidar de rebanhos, mas, assim quecomeçou a cultivar alimentos, a suasedentarização tornou-se primordial.

Há mais de 10.000 anos atrás, nomesolítico (entre os períodos paleolíticoe neolítico), a população do mundo nãopassava de 5 a 8 milhões de habitantes.O homem vivia em bandos formadospor não mais que 50 indivíduos, que seabrigavam em cavernas ou construçõesprovisórias. Com o surgimento daagricultura (Revolução Agrícola), houvea necessidade do homem fixar-se em

um lugar e ter um abrigo maispermanente contra o clima, os animaisselvagens e os inimigos humanos.Nascia assim a arquitetura.

A REVOLUÇÃO AGRÍCOLA teve inícioaproximadamente em 8000 a.C., na Faseda Pedra Polida ou Barbárie (Neolítico),caracterizando-se pelo surgimento docultivo de grãos e pela domesticação deanimais, processos que conduziram àsedentarização humana e, finalmente, ao

aparecimento das primeiras ALDEIAS, ouseja, um aglomerado uniforme dehabitações, sem distinção de classessociais ou propriedade privada.

Supõe-se que as primeiras aldeiasagrícolas permanentes tenham surgidonas regiões do Próximo Oriente e doNordeste africano, tendo se destacadoos estabelecimentos urbanos primitivosde: Jericó (Oriente Médio, 8000 a.C.),Çatal-Hüyük (Turquia, 7000 a.C.), Jarmo (Iraque, 7000 a.C.) e Khirokitia (Chipre,6000 a.C.). Ombos (Egito, 4000 a.C.) égeralmente considerada a primeiracidade na história (BRAUNFELS, 1987).

Os povos primitivos demonstraram predileçãopela curva na construção e disposição de suasmoradias (choças ), resultando em aldeiasgeralmente circulares, tanto por questõespráticas (proteção da comunidade por cercasou paliçadas) como religiosas (fases cíclicasda natureza, o movimento circular derenovação da vida e a localização central dosrituais sagrados) (GUIMARÃES, 2004).

A configuração formal das primeiras aldeiasrevela as relações de parentesco ( clãs); fatordeterminante na localização das moradias,assim como as interrelações igualitárias dogrupo, baseadas na propriedade comunal.

Com a incompatibilidade, na mesmaárea, entre as atividades agrícolas e de

pastoreio, ocorreu a primeira divisãosocial do trabalho entre agricultor epastor, seguidas do aparecimento denovas funções sociais. A necessidadede postos de trocas fizeram aparecer ascidades (Revolução Urbana), nas quaispassaram a existir também artesãos,soldados e sacerdotes (C HILDE, 1981).

A REVOLUÇÃO URBANA, ou seja, atransformação das aldeias em cidadesprimitivas, ocorrida entre 4000 e 3500a.C., não se deu por crescimento, massim pelo estabelecimento de um localaparelhado, mais diferenciado eprivilegiado; sede da autoridade de umgrupo que passou a ser dominante emrelação a outro. Cidades são lugares ondehá uma divisão social do trabalho pormeio de atividades especializadas, cujasbases são econômicas (agricultura,extração de minerais, comércio, prestaçãode serviços ou símbolos do podertemporal e/ou religioso). Isto leva a uma

diferenciação espacial, a qual serámarcada pela arquitetura de templos epalácios.

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A maior parte das cidades primitivasdesenvolveram-se originadas de aldeias

ao leste das montanhas sumerianas,entre os rios Tigres e Eufrates(Mesopotâmia), no Oriente Médio. Látambém surgiram: Nippur , Isin,Churupak , Uruk e Ur , ao sul do atualIraque. Além de Ombos, são igualmenteantigas: Menfis e Tebas (Egito),Mohenjo-Daro e Harapá (Índia); Tiro eJerusalém (Israel); Damasco (Síria);Sanaa (Iêmen); Biblos, a 50 km deBeirute (Líbano); e Pequim (China).

Essas cidades desenvolveram-se em

vales de rios, o que garantia a fertilidadedo solo, a facilidade de irrigação e apossibilidade de transporte, tornando-secentros simbólicos e locais para ocomércio e fabricação de artefatos, alémda prestação de serviços religiosos emilitares (FERRARI, 1991).

UR

Nas cidades primitivas – que apareceram junto à escrita e deram início ao processoda HISTÓRIA – , nasceram as fábricas eos serviços, que não eram maisexecutados pelas pessoas que cultivavama terra ou criavam animais, mas poroutras, que passaram a ser mantidaspelas primeiras com o excedenteacumulado do produto total.

Naquele momento, surgiram tambémclasses ligadas ao poder religioso e/outemporal, que se tornaram os líderesespirituais (sacerdotes) e os nobres (reise faraós), os quais estabeleceram asprimeiras leis e regras urbanas.

A principal função da cidade é sempreconverter o poder em forma, a energia emcultura, a matéria inanimada em símbolosvivos de arte, e a reprodução biológica emcriatividade social – LEWIS MUMFORD, em Theculture of cities (1938).

As primeiras cidades eram geralmenteunidades políticas independentes(cidades-estado ), baseadas em uma

organização familiar. Seus integrantesformavam associações de caráter restrito,moldadas em estruturas deconsangüinidade; e dominavam extensasterras à sua volta e administravam seusnegócios como nações independentes.

Isto marcou o início daCIVILIZAÇÃO (civitas = ‘cidade’ emlatim), o que representou oaparecimento de novos valores deidentidade àqueles indivíduos quepassaram a ser denominados cidadãos (ou civis). A partir de então, osaglomerados urbanos passaram a sercaracterizados por sua maior densidadede ocupação e sua diferenciaçãoespacial, além da forte dependênciacom o entorno próximo ou longínquo.

Deste modo, o estudo da evolução doperfil do ARQUITETO toma como base aHistória da Humanidade desde então,sendo portanto dividido em 04 fases:

Idade An tiga 4000a.C.- 476 d.C.

Idade Média 476 -1453 Idade Moderna 1453 -1789 Idade Con tempo rânea 1789 em diante

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IIDDAADDEE AANNTTIIGGAA

Após o período neolítico (Idade da PedraPolida) e início da era calcolítica (Idade doCobre), ocorreu o desenvolvimento dasprimeiras civilizações, o que cobriu operíodo da Idade do Bronze (de 3300 a1200 a.C.) e da Idade do Ferro (1200 a500 a.C.), até seu apogeu, o períodoclássico, entre os séculos V a.C. e aQueda do Império Romano do Ocidente,em 476 d.C. Essa época foi marcada pelaevolução gradual e lento de estilosparticulares e isolados (KOCH, 1982).

A Antiguidade teve grandes

manifestações arquitetônicas, como asdo antigo Egito (arq. egípcia),Mesopotâmia (arq. assíria e persa), Índia(arq. hindu), China (arq. budista) e América Pré-Colombiana (arq. maia,asteca e inca, entre outras), além daGrécia e Roma antigas (arq. greco-romana ou clássica).

Durante a maior parte da ERA ANTIGA, aatividade arquitetônica foi uma práticaessencialmente anônima, realizada porgrupos de servos ou por escravos.Entretanto, considera-se como o primeiroarquiteto conhecido pelo nome o egípcioIMHOPET (Séc. XVII a.C.), tambémconsiderado engenheiro, o qual construiuuma das primeiras pirâmides: a de Djoser(Sakkara, 2630 a.C.). Nessa época, osdesenhos eram elaborados com pena de junco sobre papiros ou couros,representando palácios, templos ecâmaras mortuárias.

O arquiteto antigo era, ao mesmotempo, criador e executor da obraarquitetônica, a qual era marcadapor sua pesadez, aspecto maciço emonumentalidade. Os materiaispredominantemente empregadoseram os naturais, como a pedra, aargila (adobe 5, tijolo e cerâmica) e amadeira. Havia, por fim, uma granderelação entre arquitetura e PODERPOLÍTICO: as grandes obras eramdestinadas aos mais poderosos.

5 Adobe (do árabe at-tob) são tijolos de terra crua, água epalha e algumas vezes outras fibras naturais, moldadosem fôrmas por processo artesanal ou semi-industrial.

IIDDAADDEE MMÉÉDDIIAA

O período medieval iniciou-se a partir dasinvasões bárbaras, que aceleraram odeclínio romano, o esfacelamento e aruralização da sociedade européia(Feudalismo). Foi uma época marcadapela afirmação do cristianismo, peloacontecimento das cruzadas e pelodesaparecimento das cidades, quesomente puderam renascer e prosperar apartir do comércio, do desenvolvimentocientífico e artístico (Humanismo)modernos. Geralmente divide-se em: AltaIdade Média, do século V ao X; e BaixaIdade Média, do século X ao XV d.C.

A arquitetura medieval foi marcadapor grandes obras religiosas (mosteiros,abadias, conventos, igrejas e catedrais),desenvolvidas especialmente na Europa,através das manifestações paleocristãs,bizantinas, românicas e góticas.Surgiram também grandes castelos efortificações, além da eclosão edisseminação da civilização islâmicaproveniente do Oriente, a partir doséculo VII d.C. (arq. muçulmana,mourisca, mudéjar e moçárabe).

A prática arquitetônica na ERAMEDIEVALmanteve-se anônima, já queas obras eram realizadas por corporaçõesde ofício (associações queregulamentavam a produção industrial). Ainda criador e executor ao mesmotempo, o arquiteto não passava de umartesão, podendo tornar-se mestre deofícios, dirigindo o trabalho em grupo.

De forte relação com o PODERRELIGIOSO, a arquitetura medievalera monumental e austera, quando

passou a disseminar o uso decúpulas, arcobotantes e ogivais,além de mosaicos, vitrais e azulejos.

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IIDDAADDEE MMOODDEERRNNAA

Até a Renascença, as manifestaçõesarquitetônicas na América, na África e naOceania eram praticamente primitivase/ou desconhecidas. A partir da Era dasNavegações , durante o século XV, osideais estéticos europeus foramtransmitidos para todo o mundo.

A ERA MODERNA nasceu comQueda do Império Romano do Oriente,em 1453; e a difusão dos ideaishumanistas, os quais promoveram oavanço das ciências e das artes. Passoua haver, cada vez mais, uma integraçãoentre mercados, culturas e estilos.

De inspiração clássica, a arquiteturarenascentista (sécs. XV e XVI) fez o resgatede formas greco-romanas, além do empregode simetria, das regras matemáticas e doseixos perspécticos. Foi sucedida peloManeirismo e arquitetura barroca (sécs. XVII eXVIII), marcados pela maior liberdade emrelação aos modelos clássicos, através doideal curvilíneo, adotando formas elípticas eespiraladas, além de uma decoraçãoesfuziante, com a disseminação do Rococó (Contra-Reforma e Absolutismo).

Foi no Renascimento que o arquitetocomeçou a trabalhar como profissionalautônomo, geralmente protegido efinanciado pelo clero, pela nobreza oupela crescente burguesia ( Mecenato).Esta foi a primeira grande transformaçãodo perfil do arquiteto desde a Antiguidade. Considera-se o italiano FILIPPO BRUNELLESCHI (1377-1446),autor da Cúpula da Igreja de Santa Mariadel Fiore (1418/34), Catedral de

Florença, o primeiro arquiteto moderno.

A arquitetura da ERA MODERNA foimarcada pelo desenvolvimento deregras canônicas (invenção daperspectiva), pelo resgate dos elementosclássicos (colunas, frontões, arcos,cúpulas, etc.) e pelo grande requinte esuntuosidade na construção de paláciosnobres e palacetes burgueses. Haviaforte relação entre arquitetura e PODERECONÔMICO,com o predomínio do usode materiais naturais manipulados(estuques, vernizes, incrustações,marchetarias, etc.).

Na Renascença, houve o surgimento doENSINO FORMAL de arquitetura, assimcomo o aparecimento dos grandes

tratados e dos primeiros mestres, taiscomo: Leon Battista Alberti (1404-72),Leonardo Da Vinci (1452-1519),Michelangelo Buonarotti (1475-1554) e Andrea Palladio (1508-80), entre outros.

A palavra ACADEMIA6 começou aser empregada em meados do séculoXV, na Itália; e no início do século XVI,na França, para designar as reuniões desábios e intelectuais humanistasrealizadas com regularidade. Aospoucos, instaurou-se uma política oficial

de orientação e acompanhamento dasdisciplinas intelectuais e as academiasse espalharam pela Europa.

Até o século XVII, a transmissão dosconhecimentos dava-se somente por meio darelação entre mestres e aprendizes ( ensinoinformal ), ou ainda pela experiência práticadireta. Não havia o ensino formal epraticamente o arquiteto era visto como umartista exclusivo, de cujas habilidades tambémfaziam parte a pintura e a escultura.

Com as academias, isto tudo mudou. Em1671, era fundada a Acad ém ied’Architecture de Paris , a primeiraescola superior de arquitetura, baseadana tradição clássica e responsável pelaformação de arquitetos autônomos. Comela, instalou-se o sistema de ensino emateliês ou ateliers (paralelismo entreensino teórico e prático).

6 Originalmente, a palavra “academia” deriva do grego Akademeia, que designava a escola que o filósofo Platão(428-347 a.C.) fundou em 387 a.C., junto a um jardim anoroeste de Atenas, em terreno dedicado à deusa Palas Athena, protetora da civilização, da sabedoria e dahabilidade, entre outras coisas; e que segundo a tradiçãopertencera a um personagem mitológico, Academos.

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No século XVIII, o desenvolvimentoda investigação científica aplicada àconstrução, levou à criação dasprimeiras escolas francesas deengenharia – Éco le des Po nts etCh auss ées de Pari s (1747) e ÉcoleRoyal e D u Génie d e Mézi ères (1748) –o que conduziu à formação daspolitécnicas europeias, iniciando-se coma École Polytech niqu e de Paris (1794), seguida por outros países. Istomarcou uma segunda transformação noperfil profissional do arquiteto, quedeixou de ser o único responsável pelacriação e execução das edificações.

Ainda durante a Era Moderna, com a difusãoda ARQUITETURA COLONIAL, passou a seintensificar a transferência de padrõeseuropeus para o resto do mundo, inclusive oBrasil (importação de modelos), iniciando umprocesso de grande intercâmbio demanifestações estéticas crescente até hoje.

No estudo da ARQUITETURA BRASILEIRA,segundo REIS FILHO (2004), embora se prefiraa periodização por regimes políticos, suaevolução sempre esteve ligada aos cicloseconômicos, tanto regionais (Couro, Borracha,Mate) quanto nacionais (Açúcar, Ouro, Café):

Ciclo do Pau-Brasil (Século XVI): Criaçãode fortes e fortificações como pontosestratégicos de defesa do território;

Cic lo do A çúcar (Séculos XVI e XVII):Ocupação espontânea do litoral através dasprimeiras vilas, engenhos e senzalas.Houve a adaptação de modelos lusos aolitoral da Colônia, além da criação decolégios, seminários, conventos, mosteirose igrejas por ordens religiosas (jesuítas,franciscanos, beneditinos, etc.).

Ciclo do Ouro (Século XVII e XVIII):

Incentivo à interiorização e expansãoterritorial, com o desenvolvimento dearraiais e cidades. Difusão da arquiteturabandeirista e apogeu do barroco mineiro.

Ciclo do Café (Século XIX e XX):Ocupação do interior do sul e sudeste, apartir do incremento trazido pela riquezaacumulada e desenvolvimento das vias detransporte. Ocorre a europeização dacultura nacional, com a importação demodelos clássicos e do ecletismo.

Cic lo d a Ind us tr ial ização (Século XX em

diante): Aceleração do desenvolvimentourbano, além da modernização daarquitetura, regulamentação profissional eampliação do mercado.

IIDDAADDEE CCOONNTTEEMMPPOORRÂÂNNEEAA

Iniciada em 1789, este período marca-sepelas transformações decorrentes dadisseminação dos ideais do Iluminismo eda Revolução Burguesa (1789/99), alémda REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1750-1830), que influenciou enormemente aprofissão do arquiteto, em especial devidoao desenvolvimento de novos materiais etécnicas de construção.

A Revolução Industrial foi uma daspassagens fundamentais da história,que consistiu no conjunto detransformações sociais, políticas,econômicas, culturais e tecnológicasque se processaram desde fins doséculo XVIII e culminaram na primeirametade do século XIX.

Constituiu-se basicamente na invenção damáquina e de sua aplicação da produçãoindustrial, o que levou a muitas modificaçõesna sociedade, como: a proletarização deartesãos; a redistribuição da população noterritório; o crescimento acelerado – edesordenado – das cidades, inicialmenteLondres e Paris; e o desenvolvimento

tecnológico ilimitado.Entre os principais progressos ocorridoscom a INDUSTRIALIZAÇÃO, estavam:a) Desenvolvimento das vias de transporte

aquático e terrestre, a partir da aplicação dageometria, do cálculo numérico e de métodostecnológicos de fundação mais avançados;

b) Racionalização e padronização do uso demateriais tradicionais, como pedra, cerâmica emadeira, devido à melhoria da qualidade deprodução, além do barateamento de transportepela ampliação da rede de canais e estradas;

c) Sistematização do emprego de materiais novos,como o ferro, o vidro e o concreto,principalmente nas estruturas de sustentação,fechamentos e detalhamentos, em especial nosmercados cobertos e estações ferroviárias;

d) Difusão da máquina e melhoria doaparelhamento dos canteiros de obras e datecnologia construtiva de edifícios, com odesenvolvimento do aço e do concreto armado.

Muitas modificações no ensino formal foramprovocadas com o industrialismo, em especialpelo desmembramento (ruptura) da atividadearquitetônica, através da criação da carreira deengenharia, além da adoção do sistemamétrico e regras prospectivas (GYMPEL, 1996).

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Em 1806, ocorreu a supressão daacademia de arquitetura, cujo ensino foiincorporado à Éco le des Beau x-Ar ts deParis , juntamente com o de pintura eescultura. Assim, o arquiteto divorciou-seda construção e isolou-se em uma buscaestéril por soluções meramenteestilísticas, recaindo no chamadoHISTORICISMO, isto é, a cópia deestilos e modelos do passado.

A partir da dissociação entre engenharia earquitetura, ocorreram alterações noensino e prática da atividade construtiva,inclusive a discrepância de enfoques, orateórico e estético (arquiteto), ora técnico epragmático (engenheiro).

Toda a arquitetura do século XIX foimarcada pela revivalismo, inicialmentede inspiração antiga (neoclássico) edepois medieval (neogótico), parafinalmente recair na mistura de fontesestilísticas, a qual se denominaECLETISMO.

Nos EUA, os ensinos de arquitetura eengenharia permaneceram dependentes daEuropa até a primeira metade do século XIX, apartir de quando as iniciativas locais passaram

a se destacar, ocorrendo a fundação daAmerican Society o f Civi l Engineers (1852)e do American Inst i tute of Technology (1857). O primeiro curso norte-americano dearquitetura foi introduzindo somente em 1866,no Massachuset ts Inst i tute of Technolog y – MIT, em Cambridge MA, próximo a Boston.

No início do século XX, houve atransformação dos antigos Inst i tutosTécnicos ou Escolas de Belas Artes em Faculdades , Escolas Superiores e UNIVERSIDADES. Foi quando ocorreu oreconhecimento da importância dosfatores técnicos na sociedade e anecessidade de uma participação maiseficaz num sentido social de todas asatividades humanas na criação de umacultura verdadeiramente moderna.

O MOVIMENTO MODERNO (1915/45) consistiu em uma série de transformaçõesno modo de pensar e fazer arquitetura,tendo sido constituído por várias correntesvanguardistas que buscavam a expressão

de uma arquitetura definitiva para asociedade industrial, baseada nafuncionalidade, na pureza geométrica e naindustrialização dos materiais e métodos.

A transformação decisiva aconteceudepois da Primeira Guerra Mundial (1914/18), com a fundação daSTATLICHES BAUHAUS (1919/33),uma escola de artes criada em Weimar,

Alemanha, pelo arquiteto Walter Gropius (1883-1969), que tinha o intuito de serum centro de reunião e discussão detodas as correntes artísticas da Europa.

O ensino da BAUHAUS caracterizou-se pelocontínuo contato com a realidade de trabalho eo paralelismo entre ensino teórico e prático,sendo considerado o berço do DESIGNINDUSTRIAL e do modernismo arquitetônico,cujos maiores mestres, além de Gropius,foram: o franco-suíço Le Corbusier (1887-1965) e o alemão Mies van der Rohe (1886-1965), entre outros, destacando-se o norte-americano Frank Lloyd Wright (1869-1959).

No Brasil, após a Independência (1822), acelerou-se o processo deeuropeização, o que culminou com afundação da Academia Imperial deBelas Artes do Rio de Janeiro (1826), naqual o arquiteto francês Auguste HenriVictor Grandjean de Montigny (1776-1850) instalou, pela primeira vez nopaís, o ensino formal de arquitetura,associado às artes plásticas.

Em 1835, foi formada a Escola Militar daCorte , responsável pelo ensino civil e militarde engenharia que foi desmembrado em 1874.Em 1882, formou-se o Liceu de Artes eOf íc io s de São Pau lo e, em 1893, a EscolaPo li técn ic a . No Rio, a Politécnica somenteestabeleceu-se em 1896 (B RUAND, 2002).

Foi principalmente a partir do governo deGetúlio Vargas, na década de 1930, que omodernismo desenvolveu-se na arquiteturabrasileira. Embora suas raízes não tenham

sido todas nacionais, apresentou aspectos quedestacaram-no em nível internacional, tantodevido ao contexto sociopolítico como apersonalidades de destaque, como LúcioCosta (1902-98), Oscar Niemeyer (1907-) eJoão Vilanova Artigas (1915-85), entre outros.

A partir da segunda metade do séculopassado, muitas transformaçõessocioeconômicas, culturais e tecnológicasfizeram com que um novo panorama mundialse desdobrasse. Surgiram várias correntes dedesignações parciais, que tentam reunir sobum mesmo título as produções paralelas dealguns arquitetos internacionalmenterenomados. Ao conjunto destas tendênciascostumou-se chamar de PÓS-MODERNISMO.

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55 UURRBBAANNIISSMMOO

Enquanto a prática profissional dourbanista é bastante antiga, pois surgiucom a própria cidade – que é consideradaum dos marcos do nascimento dacivilização – , a teoria sobre esta práticaainda está em formação. Somente depoisde meados do século XIX, com asmudanças trazidas pela REVOLUÇÃOINDUSTRIAL (1750-1830), foi que opensamento urbanístico passou adesenvolver-se, tornando-se reflexivo ecrítico. A partir de então surgiraminvestigações sobre o espaço urbano e,consequentemente, teorias científicas.

Desde a Antiguidade, o homem viu oESPAÇO URBANO como campo deintervenção, projetando cidades novasou ainda fazendo modificações nostraçados das cidades antigas. A rotinaprojetual concentrava-se também nacriação de planos de expansãoterritorial, conjuntos habitacionais eremanejamentos de áreas urbanaspreexistentes, o que pode serconstatado pelos trabalhos deHipódamo de Mileto7.

Entretanto, todas estas experiências eramfundamentadas somente em questõestécnicas e/ou estéticas, sem terem uma visãosocial, política e econômica ao se abordar oespaço urbano (LEWIS, 2001).

7 O arquiteto grego Hipódamo ou Hippodamus (498-408a.C.) é considerado o primeiro urbanista por conceber aestrutura urbana a partir de um ponto de vista queprivilegiava a funcionalidade, introduzindo a planificaçãobaseada em ruas reticuladas (tabuleiro-de-xadrez),defendendo a lógica, clareza e simplicidade por influênciados filósofos clássicos. Foi quem projetou o porto dePireu, em Atenas, além das colônias gregas de Mileto, naTurquia (479 a.C.); e de Turi, na Itália (443 a.C.).

Até o século XIX, o URBANISMO eravisto como um conjunto de normas decomposição arquitetônica, baseado emcritérios funcionais, técnicos e estéticos

(tríade vitruviana); estes definidos emparte na Era Antiga, como a plantaortogonal e zoneamento funcional,introduzidos por Hipódamo de Mileto; ouno Renascimento, como a aplicação deeixos perspectivos (GOITIA, 1996).

Esses critérios não tinham apreocupação de explicar a CIDADE enquanto fenômeno socioespacial epolítico-econômico, já que esta aindaera concebida como um artefatoartístico, de caráter estático, o que se

submetia às mesmas regras decomposição estética, embora produzidocoletivamente.

A partir do século XVIII, o processo crescentede URBANIZAÇÃO ocasionado pelasociedade industrial levou a problemas deequilíbrio da sua própria ordem social, o queoriginou e promoveu o estudo científico doespaço urbano. Inicialmente, contudo, esteestudo comprometeu-se com as classesdominantes na manutenção e perpetuação deseu poder.

As bases da REGULAÇÃO URBANÍSTICA MODERNA nasceramem meados do século XIX na Inglaterrae na França, principalmente a partir deações ligadas às questões sanitárias, dehabitação e de circulação, com aocorrência de grandes reformas urbanasnas principais capitais europeias.

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Aos poucos, a CIDADE passou a serentendida como o ponto crítico de relaçõessociais, econômicas e políticas , que seexpressam a partir de sua espacialização,sendo etapa de um processo históricoirreversível e dinâmico (CORREA, 1993).

A série de reformas promovidas peloBarão de Haussmann (1809-91) nafisionomia de Paris, entre 1850 e 1870,foi um exemplo da ação urbanísticautilizada como instrumento detransformação e também controlesocial. Além de promover uma drásticamudança na paisagem da capitalfrancesa, a qual se tornou um modelointernacional, tal experiência pioneirapossibilitou a experiência de novos

quesitos urbanos (saneamento,iluminação, arborização, transporte, etc.)

Como a arquitetura é a principalresponsável pelas questões físico-espaciais dentro da cidade, passou a seraplicada, no decorrer do século XX, naorganização do espaço urbano, mas deuma maneira distinta que do espaçoedificado, já que a cidade seria umORGANISMO VIVO, em permanentedinamismo.

Com o surgimento do planejamentourbano , a reflexão urbana – e nãosomente sua investigação e pesquisa – nasceu, promovendo o aparecimento denovas metodologias de ação no espaço.

PLANEJAMENTO URBANO ou UrbanPlanning consiste no conjunto deprocedimentos racionais, que visam a tomadade decisões para conduzir os processosurbanos segundo metas e objetivos pré-estabelecidos (F ERRARI, 1991).

Trata-se de uma ciência socialaplicada, de caráter interdisciplinar ,inserida no contexto de uma sociedadeem processo de constante crescimentodemográfico e urbanístico. Com aintenção de possuir uma visão global dofenômeno urbano, o planning determinaum contato direto com a realidade,através de estudos teóricos, daobservação dos processos in loco e dasconsequentes ações na prática. Tal

atitude permitiu uma avaliação maisprecisa da cidade industrial e odesenvolvimento de uma metodologiade investigação da questão urbanafundamentada em várias disciplinas.

Assim, o PLANEJAMENTO URBANO tornou acidade objeto de conhecimentos históricos,geográficos, sociológicos, econômicos,políticos, tecnológicos e físico-espaciais(multidisciplinaridade).

A associação do urban planning ao

PODER PÚBLICO na definição dosproblemas da cidade e na proposição desoluções para estes dá-se justamentedevido ao intuito da sua aplicabilidade eviabilidade através da intervenção diretana realidade.

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Pode-se dizer que o PLANEJAMENTOURBANO MODERNO nasceu nasprimeiras décadas do século passado.Com a realização do primeiro CongrèsInternational d’Architecture Moderne

– CIAM, em 1928, na cidade suíça de LaSarraz (Suíça), iniciou-se uma série deencontros, os quais durariam até 1959 edefiniriam o perfil do planning moderno.

No quarto CIAM, ocorrido em umcruzeiro Marselha-Atenas-Marselha, em1933, foi formulada em 15 dias aCARTA DE ATENAS; um documentoque reuniu 95 conclusões tiradas a partirda análise de 33 cidades e que trouxeprincípios e soluções para os problemas

urbanos acumulados até então.Publicado somente em 1941 por LeCorbusier, este importante documentoda urbanística moderna apresentavaentre suas principais conclusões que:

A cidade e o campo dependiam umdo outro e seriam elementosinseparáveis de uma mesma unidaderegional, a qual deve ser tratada peloplanejamento urbano;

O desenvolvimento urbano de cadacidade dependia das suascaracterísticas geográficas, das suaspotencialidades econômicas e da suasituação política e social; e

As chaves do urbanismo modernoencontravam-se em 04 (quatro)funções urbanas a serem tratadasde modo específico: a habitação, otrabalho, o lazer e o transporte.

Segundo a Carta de Atenas , a CIRCULAÇÃO seria o grande dinamizador do organismourbano, em cuja fisiologia preponderam asfunções de habitação, de trabalho e de lazer.Da forma como se desenvolvem asintercomunicações urbanas e os intercâmbioseconômicos e culturais depende a situação deprosperidade ou não de uma cidade, assimcomo a convivência harmônica de todos seushabitantes.

Até a primeira metade do séculopassado, a ênfase da análise urbana apartir de bases multidisciplinaresconduziu muitos arquitetos a migrarempara a área de planejamento somenteem nível socioeconômico, sem retornoao seu campo inicial, isto é, o de

conformação de espaços físicos(desenho e projeto).Isso levou a um comprometimento daprópria concepção da cidade, tornando-os impotentes no trato das proposiçõesao nível de desenho, o que gerouinúmeras críticas pós-modernas e feznascer uma nova especialização emnível do urbanismo.

Principalmente a partir da década de1960, surgiu a necessidade de coexistirambos conceitos: o da cidade comoestrutura de forças sociais, econômicas epolíticas, que determinam suas condiçõese características de desenvolvimento(conceito abstrato); e o da cidade comoespaço físico em que se habita, vivifica etransforma (conceito concreto). Foi assimque nasceu o DESENHO URBANO comoatividade arquitetônica propriamente dita.

Denomina-se DESENHO URBANO ouUrban Design o conjunto de atividadesde interpretação, descrição erepresentação, através da linguagemarquitetônica, de um espaço urbanoespecífico, visando tanto objetivosestético-formais como sociofuncionais, econsiderando comportamentos e hábitos,a manter ou modificar segundo metaspolíticas, sociais e culturais.

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Em sua essência, o desenhista urbano atuacomo planejador , no sentido do profissionalque trabalha nos limites do campo de outrasáreas de estudo perfeitamente definidas,tentando ajustar sua integração; e comoarquiteto, ao passo que procura dar forma aoespaço urbano. Utiliza-se de todas asdisciplinas que se interessam pela melhoria davida das pessoas nas cidades e no campo,como a Psicologia, a Sociologia, o Direito, oPaisagismo, etc. (KOHLSDORF, 1996).

Nos anos 1980, devido às críticas aomodernismo, surgiu o NEWURBANISM, também chamado deUrbanismo Pós-moderno ouNeotradicionalista; corrente que defendea revalorização de áreas urbanas

através do resgate de formastradicionais, reafirmando conceitoscomo os de comunidade, lugar, usomisto e qualidade ambiental. Seusmaiores defensores, os arquitetos norte-americanos Andrés M. Duany (1949-) eElizabeth Plater-Zyberk (1953-),propuseram comunidades ideais, comoSeaside FL (1981).

POLÍTICA URBANA constitui-se na política dedesenvolvimento que visa ordenar as funçõessociais da cidade e garantir o bem estar deseus habitantes. No Brasil, é deresponsabilidade dos Municípios, respeitadasas diretrizes da Constituição Federal de 1988 edas legislações estaduais. Com base nessesparâmetros, todos Municípios incluem artigosreferentes à política urbana em suas leisorgânicas (aquelas que regem e organizamas instituições de Direito Público e Privado).

A Constituição Federal Brasileira, no Artigo 28, obriga os Municípios apromoverem a proteção do patrimôniohistórico e cultural; e no Artigo 182,

define PLANO DIRETOR comoinstrumento básico da Política Urbana,sendo obrigatório para cidades commais de 20.000 habitantes.

ÁÁRREEAASS DDEE AATTUUAAÇÇÃÃOO DDOO UURRBBAANNIISSTTAA

PLANEJAMENTO TERRITORIAL: Delimitaterritórios, zonas e estados, considerando o

país como um sistema de áreas integradas – do ponto de vista físico e cultural – ; ouainda dividido conforme grupos deinteresses, tais como zonasgeoeducacionais, regiões hidro-fisiográficase acidentes topográficos.

PLANEJAMENTO REGIONAL: Defineregiões a serem preservadas, revitalizadasou desenvolvidas, a partir de programasespecialmente previstos (zonas litorâneas,áreas florestais, turismo rural, reservasecológicas).

PLANEJAMENTO URBANO: Estuda odesenvolvimento e caracterização de áreasmetropolitanas e periféricas, em termos desua configuração natural e/ou artificial, oque abrange a estruturação de espaçospara habitação, comércio, indústria e lazer,além de sistemas de circulação esaneamento urbano.

DESENHO URBANO: Preocupa-se com aqualidade de vida nas cidades, avaliando epropondo intervenções na construção deconjuntos habitacionais, criação de praças,bosques e parques públicos, reurbanizaçãode favelas e a melhoria de infraestruturaurbana (iluminação, transporte, poluição,etc.).

DESENHO AMBIENTAL: Visa umprograma de identidade e legibilidade daspartes da cidade, com base na estruturados movimentos, das atividades e dosambientes, voltando-se para o projeto demarcos, nós e limites, além de ruas, bairrose áreas de lazer, equipamentoscomunitários e sistemas de comunicaçãourbana.

DESENHO DE MOBILIÁRIO EEQUIPAMENTO URBANO: Trata doprojeto de elementos de uso público assimcomo de serviços comunitários (postospoliciais e de saúde; creches; etc. ).

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66 AARRQQUUIITTEETTUURRAA VVEERRNNÁÁCCUULLAA

Na História da Arquitetura, pode-se dizerque a maioria do que se construiu não foiprojetada por profissionais, mas foi antesuma expressão da tradição popular , que,entretanto, possui o mesmo impulsoestético que aquela feita por arquitetos,porém realizada por pessoas comuns.

Todos esses ambientes foram (e

são) projetados no sentido de queenglobassem as decisões e as escolhashumanas à sua maneira específica defazer as coisas, conforme ascircunstâncias e os recursos disponíveisem dado momento e local.

Essa arquitetura que é exercida por pessoasque constroem sem o fardo da solenidadeoficial recebe o nome de ARQUITETURA VERNACULAR ou VERNÁCULA; uma“arquitetura sem arquitetos”, cujo resultadopossui valor estético, embora não tenha sidoregida pelos cânones dito civilizados ouacadêmicos, isto é, sem ter havido umavontade de fazer arte propriamente dita(ROHDE, 1983).

Etimologicamente, a palavraVERNÁCULO provém do latimvernaculum, que deriva de vernae;termo que, na Roma antiga,correspondia a tudo que se relacionavaaos “servos nascidos em casa ou dosescravos que se faziam nas guerras”.

Assim, por exemplo, vernácula era alíngua vulgar que se contrapunha àlíngua culta ou poética (língua litúrgica).Com o tempo, a palavra passou a serempregada para designar aquilo que épróprio de um lugar ou país denascimento, sem estrangeirismos. Ouseja, corresponderia a tudo que é nativo

– e original – , especialmente quando serefere à linguagem.

Assim, a arquitetura vernácula trata-sede uma arquitetura “caseira”, não -heróica,

que é facilmente taxada de arcaica eexcluída do universo de atuação presente.

Entretanto, ela corresponderia àrepresentação factual de uma técnicaconstrutiva e uma ideologia global dedeterminada cultura nata. Refere-sesempre à tradição local e à sabedoriapopular, ligando-se, de certo modo, aoFOLCLORE (folk ; povo + lore; cultura).

O interesse por essa arquitetura – dita “produto da arte popular” – érelativamente recente, aparecendo emmeados do século XIX, quando gravuras

japonesas e esculturas africanascomeçaram a despertar a atenção doscríticos europeus. Isto inclusiveinfluenciou a arte moderna, comoocorreu nos trabalhos de Pablo Picasso(1881-1973).

Na segunda metade do século passado,com o Pós-Modernismo, a defesa dabusca pela identidade cultural, pelacontextualização histórica e pelaeconomia energética, conduziu ao maiore crescente estudo da arquiteturavernacular pela academia.

O contraposto do vernáculo é aARQUITETURA OFICIAL ou ERUDITA; aquela que obedece as normas e padrões

estabelecidos nas Escolas de Belas-Artesou de Arquitetura, onde participa oarquiteto profissional, ou ainda, outrapessoa ligada ao sistema construtivo.Trata-se da arquitetura solene , emanadapelo poder (autoridade legal) e praticadapor arquitetos e engenheiros diplomados.

A historiografia arquitetônica sempreprivilegiou obras colossais, gigantescas ousingulares (templos, catedrais, palácios, etc.),considerando boa somente a arquiteturaerudita, contrapondo-a à vernacular, esta

raramente registrada, inclusive tornando-asmutuamente exclusivas.

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Entretanto, é importante ressaltarque esses dois modos de operação paraa produção arquitetônica sãoantagônicos, mas não são excludentes.Percebe-se que não há uma arquiteturavernácula ou oficial pura, mas sim casosextremos em que o distanciamento é talque um modo de produção daarquitetura predomina quase totalmentesobre o outro.

Deve-se observar que a expressãoARQUITETURA VERNACULAR nãoconsegue abarcar, em seu significado,todas as proposições referentes a essetipo de produção, dada a complexidadedos fenômenos por ela desencadeados.

Diferentes segmentos sociais – emdiversos espaços bioclimáticos,políticos, econômicos, sociais ehistóricos – são classificados de modo anão permitir a identificação de algogeral; válido independentemente delocal, tempo e sistema construtivo.

Assim, em nível didático, consideram-secomo sinônimos de arquiteturavernacular as seguintes derivações:

a) ARQUITETURA PRIMITIVA

É aquela geralmente derivada deintelectos (mentes) considerados“rudimentares”, como os de indígenasou tribos selvagens, consistindo emtrabalhos executados por umacomunidade e consumidos por elamesma, segundo a somatória deconhecimentos disponíveis e a partirde recursos que o próprio meiooferece (gelo, palha, pele animal,ossos e galhos de árvores, etc.).Nestas comunidades, não existe adivisão social de trabalho: a mesmapessoa que vai morar é quem constróisua moradia. Alguns exemplos:

Iglu ou igloo (Do esquimó idglo = casa):

Habitação polar dos esquimós ou inuits em forma de cúpula, construída comblocos de neve compacta, encaixadosem espiral, e vidros de gelo;

Tipi ou teepee (Do siouxthípi = habitar):Tenda cônica dos índios norte-americanos das grandes planícies, comhábitos nômades, que é feita de galhoscruzados que são recobertos com pelede bisão e decorados;

Yurt ou ger : Casa cilíndrica da Ásiacentral, utilizada pelos mongóis e feitade feltro (pano que não é fiado, masfabricado com lã de carneiro e pêlo decamelo amassado com os pés), fixadoem treliçado de madeira e preso porcorreias de couro ou de crina de cavalo;

Tuareg ou tuaregue (Do árabe tuareg =abandonado por deus): Habitação emforma de tenda dos berberes(tuaregues ) nômades do deserto, quevivem no Saara, Mali ou Níger (África).

Oca (Do Tupi-guarani oka = casa ):Cabana ou choça de índios brasileiros,feita geralmente de palha ou folhas depalmeira presas em trama ou ainda debarro cru assentado com a mão ( taipa).Não possuem divisões internas ou

janelas, apenas uma ou poucas portas,

e servem de habitação coletiva paravárias famílias. Palafita : Habitação pré-histórica

elevada, geralmente lacustre ou fluvial,sustentada por estacas (evita-se que acasa seja arrastada pela correnteza) eencontrada em regiões quentes, comonas ilhas da Oceania e na regiãoamazônica.

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b) ARQUITETURA REGIONAL:Também denominada de iletrada, éaquela que tem suas raízes na própriaterra, lugar ou “sítio”; produto natural

das necessidades e conveniências domeio físico e social de umadeterminada região ou comunidade.Geralmente construída pelos seuspróprios usuários, apresenta maiorcomplexidade de agenciamentos quea arquitetura primitiva.

Adapta-se às constantes físicas do meiogeográfico (relevo, materiais e clima), sendouma expressão cosmo-antropológica nata edesenvolvendo-se com tecnologia a um tempoincipiente e apurado. Seu conhecimentogeralmente dá-se de modo informal, passandode geração para geração. Exemplos:

Casas de adobe (Do árabe at-tob):Primeiras habitações históricas, típicasdas diversas regiões do Egito, Palestina,Oriente Médio e Mesopotâmia,construídas em terra crua;

Casas de pedra : Habitações antigas,realizadas até a era industrial, feitas decalcário, granito, arenito ou ardósia, porartesãos em diversas partes da Europacentral e sul, além de outros lugares;

Casas de tijolos (Do espanhol tejuelo =pequeno caco de telha): Construçõesmodestas que, até a industrialização,caracterizavam-se por tijolos feitos àmão, que diferiam na cor e no formatoconforme a região em que eramproduzidos (França, Espanha, etc.);

Cabana (Em inglês: hut ): Habitaçãosimples, que evoluiu no uso de toras até

tábuas de madeira dura (carvalho,cerejeira, peroba) ou macia (pinho,cedro, bambu), em diversos sistemasconstrutivos espalhados pelo mundo;

Chalé (Em francês: chalet ): Habitaçãode montanha, baixa e larga, com amplosbeirais e telhado íngreme, geralmentefeita em madeira, com base em pedra,típica das regiões alpinas da Suíça,França e Alemanha;

Trullo (Do grego τρούλος; cúpula; plural= trulli ): Casa cilíndrica, com tetos ecúpulas cônicas, feita de calcário local esem argamassa, típica de Alberobello(Província de Bari), no Sul da Itália;

Casa cíclade : Habitação prismática ebranca, geralmente esculpida na rocha,típica das ilhas Cíclades, na Grécia;

Tapiri: Habitação dos seringueirosamazônicos, feita de paxiúba (palmeirada família das arecáceas), sem paredese coberta de palha tratada e bem seca.

c) ARQUITETURA COLONIAL:Também denominada de anônima,surge a partir do primeiro contatoentre povos primitivos e colonizadorescivilizados, em especial nos locais quetiveram seu desenvolvimentoretardado devido à momentânea faltade atrativos econômicos.

Podendo ou não serem realizadas pelos seuspróprios moradores, as obras nestassociedades são construídas com o materialdisponível no local, porém procurando copiarmodelos alheios à sua cultura ou fazendoadaptações e/ou transformações, muitasvezes produzindo novas soluções técnicas ouestéticas. Alguns exemplos:

Casas coloniais do litoral brasileiro :Sobrados de pedra e cal que imitavam apaisagem medievo-renascentistaportuguesa, agregados em fita e comcobertura cerâmica;

Casas bandeiristas : Habitações detaipa de pilão com telhado de barro eantialpendre, típicas do interior de SãoPaulo no século XVII;

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Tejupape , tejupar ou tijupá : Abrigorudimentar, resultantes do contato entreindígenas e homens brancos,constituído de muros de pedra oumadeira e cobertos por palha ou lona;

Palhoça, choupana ou caluje : Casapobre, coberta de palha ou sapé, quepossui algumas aberturas e divisõesinternas;

Missão ou redução : Aldeamentoindígena organizado e administrado porpadres jesuítas visando a catequização,geralmente formados por uma igreja,colégio e habitações em taipa ou tijolo.

d) ARQUITETURA ESPONTÂNEA:É aquela que nasce organicamente,utilizando-se do material fornecido pelo

entorno mais próximo (natural ouartificial) e de acordo com as técnicasconhecidas ou experimentadasempiricamente. Trata-se de uma formade apropriação do meio, apresentandodiferenças quando este é rural ouurbano, sendo geralmentedesenvolvida em grupo. Exemplos:

Favela ou musseque (Em portuguêseuropeu: bairro-de-lata): Núcleo dehabitações rústicas e improvisadas naperiferia urbana, sem infraestrutura;

Cortiço ou cabeça-de-porco 8: Aglomerado de casas que serve dehabitação coletiva ou apropriação deimóveis e/ou vazios desocupados. É oequivalente em português para ghetto;

Mocambo, mucambo ou quilombo :Casebre construído em terrenos baldios,áreas pantanosas ou matas comorefúgio de escravos fugidios;

Assentamento rural: Conjunto detendas ou barracos para uso temporário

de posseiros de terras ou afins. 8 “Cabeça-de-porco” refere -se ao nome de um famosocortiço carioca que foi demolido em 1893, a mando doentão prefeito Cândido Barata Ribeiro (1843-1910).

e) ARQUITETURA POPULAR:É aquela que expressa a condiçãosociocultural, o padrão econômico e asaspirações de uma população, guiadapor um ideal estético que domina ou julga dominar. Inspira-se em modeloseruditos, porém exprimindo um estilode vida mais simples, uma falta decultura ou um status pretensiosamentesuperior. Exemplos:

Kitsch : Pseudoarquitetura, marcadapelo exagero, pela presunção e peladescontextualização, em geral inspiradano erudito, o que seduz pelo seu ladoirônico e até bizarro;

Pop (Do inglês: popular ): Arquiteturacomercial, autoconstruída, que éproduto da massificação e do mercado;

Camp (Do inglês: encampment ;acampamento): Construção comum,sem regras ou conteúdo, de formassimples e básicas.

Country : Arquitetura de inspiração navida no campo, caipira ou sertaneja;

A ARQUITETURA OFICIAL muitas vezesignora os materiais, a energia, o seucontexto e sua própria sociedade. É frutoda divisão do trabalho e de escolas comdoutrinas explícitas. Nasce de mudançasbruscas e individualistas, comprometendoa coerência forma-contexto. Nestestermos, é puramente inventiva.

Já a VERNÁCULO segue o caminhoárduo de tentativas e erros, de mudançaslentas e um processo autoadaptativo quenão compromete o sistema forma-contexto; é fundamentada na tradição.

Sendo assim, na fase em que estámadura e não-esgotada, o vernacularfornece formas ideais , ajustadas aocontexto, clima, energia e condiçõesecológicas, que podem serreaproveitadas (ROHDE, 1983).

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77 FFEENNÔÔMMEENNOO KKIITTSSCCHH

O termo SOCIEDADE DE MASSA corresponde a um fenômeno ocorrido nospaíses industrializados, a partir dasegunda metade do século XX,caracterizado pela mudança sensível doscostumes e valores em toda a sociedade,marcada pelos seguintes aspectos:.

Massificação : Processo através do quala sociedade torna-se cada vez maisdominada pelo “grande número”,ocorrendo um “nivelamento por baixo”, oque acarreta a decadência das elites ede seus valores, como bom gosto,distinção e altas virtudes. Ocorre adisseminação de falsos ideais atravésdos mass media (meios decomunicação de massa).

Manipulação : Mecanismo de manobrasque determinam os destinos da massa,realizados por vários agentes, como os

trustes, os tecnocratas, os publicitários,as “personalidades públicas” e outros.Envolve desde as ações de moldar asnecessidades do indivíduo e compeli-loa consumir objetos inúteis até apadronização do gosto.

Alienação : Condição do homem imersonessa sociedade, massificada epadronizada, na qual ele não encontramais seu lugar, sendo posto à margeme completamente alienado. O serhumano passa a ser uma peça anônimadesta “máquina social”. A liberdade, a

espontaneidade e a criatividadedesaparecem, exprimindo as neuroses,as psicopatias e as delinquências.

Decorrente dessa sociedade de massa,ocorre outro fenômeno, o da SOCIEDADEDE CONSUMO, a partir do momento emque o consumo torna-se obrigatório, istoé, há a necessidade permanente de seexpandir a produção (mercadoconsumidor). Os lucros obtidos pelavenda de mercadorias transformam-se em

capital, que tem de ser investido naprodução para gerar novos lucros, demodo contínuo e incessante.

Por INDÚSTRIA CULTURAL entende-seo conjunto de produtos culturais,informações e entretenimento veiculadosatravés de revistas, jornais, rádio,

televisão ou qualquer outro meio decomunicação que atinge a grande massa. Sua principal característica é que a

CULTURA – feita em série,industrialmente; e para o grande público

– passa a ser vista não comoinstrumento de crítica e deconhecimento, mas como produtorentável, que deve ser consumido comoqualquer outra coisa. Tal produto deve ser feito de acordocom as normas gerais em vigor –

padronizado – , para atendernecessidades e gostos médios dopúblico, que não tem tempo dequestionar o que consome.

Essa indústria contemporânea força aunião dos domínios, separados háséculos, da arte superior e da artepopular, com prejuízos de ambos. Explorao estado de inconsciência dos seusconsumidores, que são considerados nãoo sujeito dessa indústria, mas seu objeto.

Assim, seria possível distinguirtrês níveis culturais diferentes:

A cultura superior ou erudita, que éaquela canonizada pela crítica,baseada e justificada pelos valoresacadêmicos;

A cultura média ou midcult , quepossui a pretensão de apresentarprodutos de qualidade superior, masque não passam de formasabastadas da arte oficial,equivalentes ao Kitsch;

A cultura inferior, de massa oumasscult , que se contenta emfornecer produtos sem qualquerpretensão ou álibi cultural.

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Denomina-se KITSCH o fenômenocultural contemporâneo que se caracterizapelo mascaramento da informaçãoestética, por meio da falsificação dos

objetivos artísticos e simplificação deobras de arte originais, seja qual for suacategoria, visando torná-las acessíveis aogrande público.

Embora faça parte do nossocotidiano, o Kitsch tem sua definiçãocomplexa: pode ser considerado comouma “tradução” de um código maisamplo para um mais reduzido e parauma camada social maior, visando suamassificação (MOLES, 2001).

Pode-se conceituar a ATITUDE KITSCH como uma redução da linguagem oficial(formas eruditas de seu repertório vigentenas camadas superiores da cultura) parase fazer contato com um público maisamplo, manipulado e alienado, o que éconseguido através de 02 (dois) meios:

Adaptando-se o produto original aopobre repertório dessa população evendendo-o como a “grande arte”;

fazendo-se referências vagas à culturaoficial, envaidecendo esse consumidoransioso por ser culto.

As origens do termo KITSCH datam porvolta de 1870, em Munique, Alemanha,quando se utilizavam os vocábuloskitschen (atravancar; amontoar detritos) everkitschen (trapacear; algo como “vendergato por lebre”, isto é, mercadorias debaixa qualidade ao invés de boa) 9. A partirde então, foi mudando de sentido e, apósa Primeira Guerra Mundial (1914/18), já

designava toda produção industrial queprocurava reproduzir ou imitar os objetosexclusivos do artista individual.

9 Outras palavras alemãs com a mesma terminação tsch comumente se referem a coisas vulgares, ingênuas,sentimentais ou infantis. Há autores, porém, queapontam sua origem do termo russo kitchit'sya, quesignifica "ser desdenhoso e orgulhoso"; ou aindatrocadilho do termo francês chic ; chique.

Diferenciando-se da verdadeira ARTE,que é uma forma de conhecer a realidade,desvendando-a, a atitude kitsch disfarça-a. Enquanto o artista comunica

mensagens (musicais, literárias ouvisuais) mediante um processo criativo,que enriquece a informação sobre o real,oferecendo a cada espectador apossibilidade de interpretar à sua maneira,participando e criticando, o Kitsch nãoestimula ideias, ficando a meio caminhoda novidade e não promovendo aindagação do real.

Baseado na filosofia do “meio -termo”, o Kitsch reduz os significados dainformação estética, voltando-se para a“arte” das massas e opondo -se àsvanguardas artísticas. Seu “sentidogastronômico” ou de “doce vício” torna -ouma “arte” digestiva e consumível portodos. Logo, o Kitsch é uma trapaça naforma; e não no conteúdo.

KITSCH também não é a mesma coisa que“mau gosto” (em linguagem chula, “brega”),que é um conceito estritamente subjetivo,relacionado com a moda, o status e a classesocial de quem julga. Os aspectos que sãoidentificados como kitsch são consideradosuniversais, pois se associam as ideias dedistorção, deturpação e exagero.

Atualmente, o KITSCH consiste em umentretenimento fantasiado de arte,;umdeleite despretensioso que consiste emuma forma de simplificar a realidade etorná-la mais fácil de digerir, porinteresses econômicos (venda e lucro),políticos (manutenção do poder) e sociais(diferenciação de classes), ou ainda, pordesinformação cultural (falta de acesso àeducação).

Dizer que algo é kitsch não significaatribuir-lhe um estilo, mas sim detectarcertas intenções e recursos na suaprodução, nem sempre conscientes.

Aparentemente inofensivo, podeconduzir ao equívoco, à ignorância e àapatia. Historicamente, é fruto danecessidade urgente da burguesiaadquirir a tradição cultural daaristocracia, principalmente a partir do

industrialismo . Daí sua característicamais marcante: o exagero e a opulênciagratuitos; não-funcionais.

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Como principais propriedades do Kitsch,podem ser citadas as seguintes:

Sentimentalismo : atitude de super-valorização das emoções em detrimento da

razão (como o exagero decorativo); Sensacionalismo : atitude de exaltação da

resposta emocional diante de fatos reais(como através de morfologia confusa ecomplicada; emaranhado visual);

Hedonismo : atitude de busca do máximo deprazer imediato com o mínimo de esforço(como acumulação de funções);

Alienação : atitude mental de desvio e/ounegação de questões fundamentais oupertinentes ao indivíduo (como associaçõesmedíocres e banais);

Ascetismo : atitude de desprezo do corpo edas sensações corporais ou, mais ainda, darealidade (como flores e frutos artificiais);

Presunção : atitude de aspiração ouconvencimento em relação ao poderaquisitivo ou pessoal (através da cópia deimagens e de símbolos eruditos).

A universalidade kitsch é explicável emdecorrência de suas característicasestarem ao alcance do homem comum,fato que não é verificável na arte erudita,

que, sendo acadêmica, é impermeável atodas as pessoas. Como um fenômenoprotótipo do consumo, o Kitsch possuiuma série de características e atitudes:

a) PRINCÍPIO DA INADEQUAÇÃO: Refere-se ao deslocamento ou à inadequação daforma, da função/uso, do estilo ou docontexto de algo. Há o desvio em relaçãoà finalidade e ao tamanho (abridores degarrafa gigantes) ou a falsificação demateriais (flores de plástico), além dadescontextualização (anjos barrocos degesso para estantes). Ocorre também ainexistência de uma relação do tema coma estrutura geral da obra, quando porexemplo se associa duas ou mais coisasque não têm relação direta entre si

Exemplos: saca-rolhas com acabeça do presidente, relógio comobra-de-arte consagrada, clássicomusical remixado em ritmodance , etc.

b) PRINCÍPIO DA MEDIOCRIDADE: Ocorrequando se faz alusões óbvias, produzindo emoções rápidas e prazerfácil, a partir de associações oureferências diretas. Trata-se de umavulgarização das coisas, por meio deartifícios que seduzem e facilitam aabsorção do consumidor. Por exemplo: afiguração em objetos utilitários (pêra decristal como bombonière), uma construçãoem forma de cachorro-quente, etc.

geladeira fr io polo sul pinguim

chinelo conforto maciez coelho

jar d im veg et ação flo res ta an ões

c) PRINCÍPIO DA ACUMULAÇÃO:Relaciona-se ao exagero pelo acúmulodesmedido de coisas, visando expressarostentação e luxo, o que inclusiveprejudica a funcionalidade. É oempilhamento de objetos diversos comvalor emocional e sem uma unidade deadequação. Por exemplo: decoraçãoabarrotada com mistura de estilos,

exagero em uma composição de cores outexturas, vestuário carregado associado aum grande número de acessórios, etc.

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Outros exemplos: excesso deporta-retratos, quadros, enfeites degeladeiras, bibelôs, souveniers,brincos, pulseiras, encharpes, etc.

d) PRINCÍPIO DO CONFORTO: Ocorrequando se expressa a ideia de bem-estare alegria de viver sem esforço, do “estar àmão” e ser agradável aos olhos e ao tato.Funções secundárias que acabamsuplantando a função principal (celulares,canetas, etc.). Por exemplo: trabalhar comsobreposição de forrações em exagero,colocar mais pontos de iluminação do queo necessário em um ambiente, disporalmofadas e tapetes em demasia, etc.;

e) PRINCÍPIO DA SINESTESIA: Ocorrequando se apela, através de estímulosvariados, para todos os sentidos de umasó vez (cartões perfumados), ou ainda,quando se associa várias funçõesdesnecessárias ao mesmo objeto. Porexemplo: um álbum de fotografias quetoca música e exala perfume; um enfeitede mesa que é porta-canetas, calendário,termômetro e cinzeiro; etc.

O Funcionalismo consiste no maior inimigodo Kitsch, pois ele combate todo objeto que

não concilia a estética com padrões funcionais.Do mesmo modo, a Pop Art desmascara oKitsch, conferindo-lhe um novo papel: o dadenúncia social, que inclusive eleva-o àcondição de arte maior.

Atualmente, o KITSCH sobrevivepela brecha criada pelo industrialismo,através da chamada “embriaguês doconsumo”: surgem vários objetosvendidos como utilidades, mas que sãocompletamente inúteis (gadgets =objetos sem função ou com função alémda que precisam ter), tais comosecadores-de-unha, relógios e celularesde várias funções, as inúmeras“inutilidades” domésticas.

O kitsch está em todas classes sociais,cidades e regiões; é um elemento denivelação social e histórico consumidoindiscriminadamente por todos.

Independente das diferentes possibilidades destatus que um objeto kitsch possa suscitar,podem-se distinguir algumas categorias: oreligioso/místico (duendes, terços saturadosde imagens), o sexual (canetas com mulheresnuas), o exótico (paisagens havaianas), oromântico (almofadas em forma de coração),o funesto (cobras, esqueletos de plásticofluorescentes), o político (insígnia de partidosem chaveiros), o esportivo (fanatismo geral) etambém as combinações entre estas.

Na arquitetura, o KITSCH pode serconsiderado como uma das formas deconexão entre a arquitetura oficial e avernácula. A especulação imobiliária e aarquitetura comercial muitas vezes nãolevam em consideração os pressupostosda academia, embora possam seapoderar de seus elementos (simbólicos,estéticos ou técnicos), colocando-sedentro de um repertório próprio, intelectuale economicamente acessível.

Nas áreas urbana e suburbana, háum complexo de sinais em busca destatus social, o que favorece o kitsch,mais reservado no ambiente rural.Surgem “falsos estilos”, que nada maissão do que resultado da visão parcial demodelos e de ideologias estéticas(GUIMARAENS& C AVALCANTI, 1982).

Deturpando conceitos e teorias arquitetônicas,a ARQUITETURA KITSCH vem em sintoniacom a ideia de afirmação individual e social. Aarquitetura oficial transforma-se em umproduto pronto, oferecido no mercadoimobiliário para a escolha de “novos -ricos”, taiscomo os pseudoestilos “mediterrâneo”,“colonial” e “pós -moderno”.

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SSAABBEERR VVEERR AA AARRQQUUIITTEETTUURRAA

No decorrer da história da humanidade,nem todos os espaços arquitetônicos eurbanísticos mereceram a atenção doscríticos e estudiosos, mas somenteaqueles que possuíam algum valorartístico e que foram reconhecidos comopatrimônio histórico e cultural.

Uma edificação, seja qual for, éconsiderada OBRA DE ARTE quandosobrevive graças às suas qualidadesestético-formais, independente da suafunção, da sua técnica construtiva oumesmo da sua importância social. É

justamente a intenção plástica quediferencia a arquitetura da meraconstrução (GRAEFF, 1986).

Assim, o principal problema da arquitetura estána conciliação entre as questões práticas, taiscomo a funcionalidade, a economia e aviabilidade legal e técnica (valores

quantitativos), com as questões estéticas eespirituais (valores qualitativos).

Conforme ZEVI (2000), pode-se identificar04 (quatro) formas de interpretação daarquitetura, embora nenhuma ocorraisoladamente. Estes “modos de ver” são

agrupados em categorias, sendo que,destas, considera-se a mais completa aINTERPRETAÇÃO ESPACIAL, uma vezque englobaria as outras diversasinterpretações (sociais, políticas, técnicas,psicológicas e geométricas).

Inter pr etar o es paço significa incluirtodas as realidades de um edifício. Oespaço arquitetônico sugere ummovimento e seu valor é influenciadopelas dimensões, luz, cor, usos, formase inclusive expectativas do usuário.Interpretar só um aspecto seria limitar oespaço, fixando um setor de atenção eexcluindo da crítica todo o conteúdosocial da arquitetura.

IINNTTEERRPPRREETTAAÇÇÕÕEESS CCOONNTTEEUUDDIISSTTAASS

São aquelas que buscam explicar aarquitetura a partir de seu CONTEÚDO,ou seja, das razões de sua existência,sejam elas políticas, econômicas, sociais,científico-tecnológicas ou filosófico-religiosas.

Envolvem igualmente análisespositivistas, as quais buscam encontrarum determinismo entre a formaarquitetônica e as condiçõesgeográficas, os elementos naturais ouas características étnicas (relaçãocausa-e-efeito).

a) INTERPRETAÇÃO POLÍTICA: Estabelece uma estreita dependência daarquitetura com os eventos políticos dasdiferentes épocas, colocando asrelações de poder como causas dascorrentes estilísticas. Como exemplos: Absolutismo Arquitetura BarrocaRevol. Burguesa Arq. NeoclássicaNazismo Arq. da Celebração

b) INTERPRETAÇÃO ECONÔMICO-SOCIAL: Afirma a derivação das formasarquitetônicas dos fenômenoseconômicos, considerando a arquiteturacomo autobiografia do sistemaeconômico e das estruturas sociais.Como exemplos:

Feudalismo = Arq. MedievalMercantilismo = Arq. RenascentistaLiberalismo = Arq. Eclética

c) INTERPRETAÇÃO FILOSÓFICO-RELIGIOSA:Coloca a arquitetura comoexpressão de uma direção filosófica ouum pensamento religioso, investigandoa contemporaneidade das concepçõesde transcendência e do Homem com osconceitos espaciais. Como exemplos:

Humanismo Arq. RenascentistaIluminismo Arq. NeoclássicaPositivismo Arq. Racionalista

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d) INTERPRETAÇÃO CIENTÍFICA: Inter-relaciona a arquitetura e odesenvolvimento científico, insistindo nasimultaneidade das descobertasmatemático-geométricas e daconcepção arquitetônica, como foi aaplicação da geometria euclidiana; odesenvolvimento das regras daperspectiva; a descoberta da quartadimensão no modernismo, etc.

e) INTERPRETAÇÃO TÉCNICA: Associaa história da arquitetura à daconstrução, preocupando-se com atécnica executiva e a questão utilitáriada obra, analisando a utilização demateriais naturais (madeira, pedra ebarro) ou artificiais (concreto, aço evidro), nas mais variadas épocas esituações.

f) INTERPRETAÇÕES MATERIALISTAS: Esforçam-se em encontrar umdeterminismo entre a formaarquitetônica e condições materiais, queligam, por exemplo, a arquitetura acondições geográficas (InterpretaçãoGeográfica); a características étnicas esociológicas (Interpretação Racial ) ou aelementos naturais ( Interpretação

Mimética).

INTERPRETAÇÃORACIAL ESOCIOLÓGICA(IRVINGK. POND)

IINNTTEERRPPRREETTAAÇÇÕÕEESS FFIISSIIOOPPSSIICCOOLLÓÓGGIICCAASS

São aquelas que se relacionam comquestões psicológicas, associando asformas arquitetônicas a reações físicas epsíquicas dos usuários, destacando oCARÁTER ou o SIGNIFICADO que umaobra arquitetônica pode assumir.

Envolvem desde a análise dospossíveis “estados da alma” que podemser evocados pelos estilos no decorrerda história, até as relações que possamexistir entre a forma arquitetônica e apersonalidade de seu autor, passandopelo simbolismo da arquitetura.

a) INTERPRETAÇÃO PSICOLÓGICA: Recorre a evocações literárias de“estados da alma” produzidos pelosestilos arquitetônicos, decorrentes dasdiferentes épocas históricas:

Idade do Medo Arquitetura egípciaIdade da Graça Arquitetura gregaIdade da Força Arq. romanaIdade da Aspiração Arq. gótica

b) INTERPRETAÇÃO PSICANALÍTICA: Individualiza um fenômeno dosubconsciente e procura as relaçõesentre o conceito de espaço sensível e apsicologia abismal. Procura encontrarexplicações para a arquitetura tanto napersonalidade dos arquitetos como nasreações dos usuários;

c) INTERPRETAÇÃO SIMBOLISTA: Humaniza e anima as formasarquitetônicas numa casuística deelementos geométricos através de umasimpatia simbolista, por exemplo:

Linha horizontal Sentido de imanência(repouso)Linha vertical Sentido de ascendência(infinito)Linha reta Decisão, rigidez e forçaLinha curva Hesitação, flexibilidade evalores decorativos

Círculo Sensação de equilíbrioTriângulo Conflito, tensão e dinamismoEsfera Símbolo da perfeiçãoCubo Integridade, certeza e segurança

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IINNTTEERRPPRREETTAAÇÇÕÕEESS FFOORRMMAALLIISSTTAASS

São aquelas que se atêm à análise daFORMA da arquitetura, enumerando umasérie de leis, qualidades, regras eprincípios a que deve corresponder aHARMONIA de uma composiçãoarquitetônica.

Baseiam-se na avaliação de valorescomo escala, proporção, equilíbrio,simetria, ritmo, unidade, contraste,propriedade e expressão; interessando-se mais a aspectos compositivos do quepropriamente justificativos e/ouexplicativos.

Por HARMONIAentende-se o conjunto deprincípios e normas que visa a concordânciaou disposição bem ordenada entre as partesde um todo. Na arte e na arquitetura, pode serconseguida de várias maneiras, quase sempreatravés da adoção de padrões pré-estabelecidos em algumas relações.

a) EQUILÍBRIO: Referência visual maisforte e constante do homem, que servede base, consciente ou não, para aformulação de juízos visuais.

Seu conceito relaciona-se à noçãode estabilidade, necessidade físico-biológica, na qual se assenta apercepção humana, que, comoestratégia compositiva consiste nadeterminação de um centro degravidade a meio caminho entre doispesos (DONDIS, 2002).

O método mais rápido e preciso para adeterminação do equilíbrio de uma composição é aaplicação do EIXO-SENTIDO, que é uma constanteinconsciente, mas dominadora, que se impõe sobreas coisas vistas, de modo a intuir a sensação deestabilidade.

Compõe-se conceitualmente de umeixo vertical com outro referentesecundário horizontal, entre os quais seestabelecem os fatores estruturais quemedem o equilíbrio intuitivamente emrelação ao mundo exterior

b) SIMETRIA: Equilíbrio segundo o qualcada unidade situada a um lado de umalinha central da composiçãocorresponde exatamente outra igual nooutro lado, ou seja, é o rebatimento doselementos visuais segundo um eixoaxial ou radial .

Trata-se da concepção clássica deharmonia, fundamental para o conceitocriador da forma ocidental, quecomeçou a ser questionado a partir dasvanguardas modernas do início doséculo XX. Isto porque o equilíbrio e aharmonia também podem ser obtidos demodo assimétrico, onde o que importa ésaber equilibrar pesos distintosmudando a sua posição em relação aoeixo.

c) RITMO: É a cadência ou compasso emuma composição artística, o quecorresponde à identificação de umaperiodicidade de algum elemento visual.

Analogamente à música, é como sefosse a sucessão de tempos fortes efracos em intervalos regulares, que sealternam em uma frase musical, em umverso ou numa fachada arquitetônica.

Uma disposição sequencial ousequencialidade do desenho baseia-sena resposta compositiva a um plano deapresentação, que se dispõe de formalógica: uma série de coisas dispostassegundo um esquema rítmico (MUNARI,2001).

d) UNIDADE: Princípio de composiçãoartística, segundo o qual deve haveruma totalidade visualmente perceptívelna qual todas as partes devem seentrosar tão perfeitamente, que se

perceba e se considere como objetoúnico. É a expressão unitária doconjunto ou a síntese dos elementos.

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A unidade compositiva pode serobtida pela coerência e continuidade visual. E pode ser perdida através da fragmentação, ou seja, a decomposiçãodos elementos em peças separadas,que se relacionam entre si, masmantêm seu caráter individual.

e) CONTRASTE: Oposição entre duascoisas, através da diferenciação deforma, de cor ou de material.

Elemento essencial das artes,influencia todas as sensaçõesvisuais, pois permite intensificar umamensagem visual. Além disso, ocontraste pode provocar ilusõesperceptivas (ARNHEIM, 1998).

f) ÊNFASE ou ACENTUAÇÃO: Nacomposição, consiste em realçarintensamente uma só coisa contra umfundo uniforme, criando uma tensão emrelação a um ponto focal ou centro deinteresse visual.

g) ESCALA: Relação dimensional oucomparação de tamanho entre umelemento e um padrão , que pode ser ohomem, outro elemento ou o todo.

h) PROPORÇÃO ( proportio = relação porporção): Caso especial da escala, ouseja, relação harmoniosa das partesentre si e com o conjunto do edifício.

i) VERDADE: Diz-se da sinceridadearquitetônica, quando um edifícioexpressa o que realmente é.

j) PROPRIEDADE: Verdade técnica , ou

seja, uso de recursos necessários esuficientes para que haja o edifício.

k) EXPRESSÃO ou CARÁTER: Nobreza,requinte, civismo, vulgaridade,dignidade, sobriedade, ostentação,força, opressão, etc.

IINNTTEERRPPRREETTAAÇÇÕÕEESS EESSPPAACCIIAAIISS

São aquelas que não se limitam aosefeitos visíveis abordados pela análiseformalista ou às questões mais abstratas,que são abordadas pelas interpretaçõesconteudistas e fisiopsicológicas, mas simvalorizam o ESPAÇO, considerado comoobjetivo e fim da arquitetura.

Aqui, o espaço arquitetônico évisto como materialização deconteúdos sociais, efeitospsicológicos, valores formais equestões utilitárias (funcionalidade).Considera-se o valor próprio e originalda arquitetura o do espaço interior :todos os outros elementos – volumétricos, plásticos e decorativos – valem para a apreciação do edifícioem função, segundo o modo comoacompanham, acentuam ou ofuscam ovalor espacial (ZEVI, 2000).

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99 AANNÁÁLLIISSEE AARRQQUUIITTEETTÔÔNNIICCAA

Ao mesmo tempo, ciência e arte;produção material e expressão espiritual,a ARQUITETURA representa, dentro desua complexidade, um dos reflexos maiscaracterísticos, em um dado momentohistórico, da sociedade que lhe deu suarazão de ser, através de seu programa,sua tecnologia e, enfim, sua ideologia .

Por IDEOLOGIA entende-se asíntese de todas as ideias morais,filosóficas e artísticas que sãoresultantes dos princípios sociais deuma comunidade; e que dão àarquitetura seu significado. Trata-seassim do ideário composto porpensamentos, doutrinas e visões domundo de um indivíduo ou grupo social. Logo, as condições de produçãoparticulares à cada sociedade, comoseu sistema político e sua estruturaeconômica, agem paralelamente aosfatores utilitários, técnicos, artísticos eideológicos, resultando na construçãode uma edificação.

FORMA (Firmitas) e FUNÇÃO (Utilitas) são,por conseguinte, regidos pelas condiçõesparticulares de determinado momento, por umlado; e pela ideologia existente na sociedade,por outro lado, a qual lhe confere seuCARÁTER(Venustas ) (COLIN, 2000).

Qualquer análise teórica da práticaarquitetônica equivale a um modo deinterpretá-la, ou melhor, de identificá-la,descrevê-la e compreendê-la.

A fim de que essa interpretaçãotenha sentido, deve iluminar pelo menosum aspecto permanente da arquitetura,ou seja, deve demonstrar a sua eficáciana explicação de todas as demaisobras. A ANÁLISE DA ARQUITETURA é essencial, uma vez que permite aidentificação de metas no processoprojetual, além da compreensão doscondicionantes em operação dentro dasociedade.

Segundo S NYDER e C ATANESE (1984), há03 (três) tipos de análise arquitetônica,que correspondem a modos de entendera arquitetura:

AN ÁLISE HISTÓRICA : Trata dasteorias, dos eventos e dos métodos deprojeto e de construção no decorrer dotempo. Pretende estabelecer umasequência cronológica de fatos dopassado, que mantém uma relaçãodireta ou não com o presente,permitindo projetá-la para o futuro(História da arquitetura).

ANÁLISE CONCEITUAL: Trata daconceituação da arquitetura – o que é,por que é assim produzida e comodeveria fazê-lo. Busca princípios queconceituem o pensamento que aproduziu, identificando-o e explicando-o,de modo a aplicá-lo futuramente (Teoriada arquitetura).

ANÁL ISE C RÍTICA : Trata do processoe registro das respostas ao meioambiente construído, sendo estasverbais ou não. Pretende estabeleceruma valoração da arquitetura, baseadana história e na teoria da mesma ( Críticada Arquitetura).

Ao se estudar a HISTÓRIA, faz-se oreconhecimento de uma evolução e oenriquecimento da realidade dentro desua unidade ao longo do tempo . Suaverdadeira razão de ser encontra-se naapreensão e na compreensão dosproblemas presentes e, como tal,constitui-se em um instrumento capaz deengendrar transformações na atualidade.

Sendo a arquitetura uma áreaespecífica do conhecimento e das

atividades humanas, quando se falaem HISTÓRIA DA ARQUITETURA,faz-se uma esquematização darealidade que une toda suaexperiência enquanto arte.

Já a TEORIA DA ARQUITETURA consiste noconjunto de ideias, princípios e atitudes quefundamentam o projeto arquitetônico, sendoproveniente de conceitos, experiências evisões de mundo. Baseada em um método deestudo histórico, em termos gerais, eladepende do repertório individual de cada um;

do ambiente socioeconômico em que se estáinserido; das referências culturais que se teme do senso estético que se adquire.

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No decorrer da história, na tentativa deanalisar conceitualmente a arquitetura, namaioria das vezes os teóricos procuramanalogias , as quais fornecem um modo

de organizar projetos em ordemhierárquica, na qual é possível identificaro que o arquiteto pensou prioritariamentee o que deixou para um estágio posteriorno processo de projeto (BONTA, 1975).

Toda ANALOGIA, seja arquitetônicaou não, é a comparação entre doiscasos paralelos, podendo ser positiva – quando baseada em similitudesexistentes – ou negativa – mais baseadanas diferenças entre os objetos ou nainversão de uma forma ou método

estabelecido. O processo analógico em arquitetura éusado tanto para se analisar algodesconhecido como para criar o novo apartir do existente, possuindo deste modo02 (dois) propósitos:

Empregar o conhecimento existentecomo ponto de partida para aconceituação do projeto.

Conferir um significado preciso a umaobra através do estabelecimento de

relações formais ou funcionais entre onovo e o existente.

De acordo com SNYDER e C ATANASE (1984), são os seguintes os principaisconceitos de arquitetura, baseados emanalogias recorrentes empregadas pelosteóricos para explicar o fazerarquitetônico:

a) CONCEITO MATEMÁTICO: Estabelecea base de tomada de decisõesarquitetônicas na matemática e na

geometria, priorizando relaçõesnuméricas; conceitos de equilíbrio,proporção e simetria; e princípios comoos de pureza e perfeição.

Como exemplos: a aplicação daseção áurea; a utilização de formaspuras e o emprego de eixosreguladores, métodos presentes noclassicismo greco-romano, naarquitetura renascentista e noracionalismo arquitetônico defendido porLe Corbusier (1887-1965).

b) CONCEITO MECÂNICO: Considera osedifícios como máquinas e que,portanto, devem expressar apenas oque são e para que servem, priorizandoarticulações, mecanismos e tecnologia.O funcionalismo torna-se o requisitoprimordial, assim como as questões deeconomia, eficiência e rapidezconstrutiva e executiva.

Como melhores exemplos estão aarquitetura tecnicista (Slick-Tech) eultratecnicista (High-Tech) do séculopassado, enquadradas notardomodernismo arquitetônico.

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c) CONCEITO BIOLÓGICO: Compara ofazer arquitetônico a um processobiológico, o que resulta basicamente em02 (dois) enfoques distintos:

Biológico-orgânico : que focalizaas relações entre partes daconstrução ou entre a construção eseu ambiente através das noçõesde crescimento espontâneo enatural, como, por exemplo, oorganicismo wrightiano, em seusconceitos de desenvolvimento dedentro para fora e de totalintegração com a natureza;

Biológico-formal ou biomórfico :que prioriza o processo dinâmico,no qual a arquitetura cresce ealtera-se através da expansão,multiplicação ou regeneração,exemplificado pela tecnotopia arquitetônica das propostas do ARCHIGRAM ou dos japoneses dometabolismo da década de 1960.

d) CONCEITO ROMÂNTICO: Associa-se auma arquitetura evocativa, que provocae expressa uma resposta emocional doobservador, o que é conseguido de 02(duas) maneiras: evocando associaçõessimbólicas e referências à natureza; oufazendo uso de formas não-familiares,de estimulação excessiva e aleatória.

Exemplifica-se através da arquiteturagótica, do ecletismo e do Art Nouveau;ou ainda do informalismo arquitetônico.

e) CONCEITO DRAMATÚRGICO: Vê aarquitetura como palco (espaçocenográfico), onde as pessoasrepresentam papéis; assim osambientes tornam-se cenários, quesuportam o espetáculo da vida. Seustermos mais comuns são: ambiente decomportamento, bastidores, papéis,panos-de-fundo, planos de visão, etc.

A principal preocupação é forneceraos usuários suportes e cenários paradesempenharem papéis ou dirigirem aação, como propõem os arquitetos pós-modernos formalistas.

f) CONCEITO MUSICAL: Considera aarquitetura como música petrificada,arte do espaço e do tempo,preocupando-se com os conceitos deescala, ritmo e harmonia. Compara ouniverso da arquitetura com o da músicaem termos de composição, execução eapreciação.

Embora verificável em quase todosos momentos da história da arquitetura,teve destaque no período do Barroco eda arquitetura neoexpressionista deOscar Niemeyer (1907-2012) e outros.

g) CONCEITO SISTÊMICO: Considera asnecessidades ambientais comoproblemas que podem ser resolvidosatravés de uma análise cuidadosa e deprocedimentos deliberados. Aarquitetura seria um conjunto desistemas , cuja resolução deve serracional, lógica e paramétrica; e aspreocupações podem se centralizar emquestões físicas e técnicas ouestruturais e funcionais.

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Os melhores exemplos referem-se àarquitetura tardomoderna doneopurismo, estruturalismo e brutalismo.

h) CONCEITO TIPOLÓGICO: Considera oprojeto arquitetônico como a tarefa deidentificar modelos padronizados denecessidades e tipos-padrão de locaispara satisfazer essas necessidades.Conceituar a arquitetura como tipo é omesmo que identificar um sistemaorganizacional que subsiste ao tempo, oqual pode ser adaptado às diferentescondicionantes temporais e espaciais.

Presume ainda que as relações decomportamento ambiental podem servistas em termos de unidades que oprojetista vai acrescentando paracompor um edifício ou conjunto urbano(contextualismo pós-moderno).

i) CONCEITO LINGUÍSTICO: Compara aarquitetura com a linguagem, de modoque esta forneça informações tantodenotativas (uso e função), comoconotativas (simbólicas), que podem serinterpretadas sintaticamente, através deregras (códigos ou gramáticas) comosemanticamente.

Bastante abrangente, esta forma deconceituação encontra referências emtoda a historiografia, quando aarquitetura é vista como veículo deexpressão de atitudes do arquitetodiante do projeto e da sociedade. Comoexemplos, o essencialismo e odesconstrutivismo, entre outros.

j) CONCEITO EXISTENCIAL ou A D- HOCISTA: Considera a arquitetura

como uma resposta a uma necessidadeimediata (ad-hoc = com isto), usandomateriais disponíveis e elementosexistentes, sem se referir a um ideal ouinventando algo, como na arquiteturavernacular (arquitetura primitiva,anônima, espontânea, etc.).

Trata-se da “arquitetura semarquitetos” , ou seja, aquela não-oficial,que não segue regras e cânonesacadêmicos, vindo somente a atenderas condições básicas de existência.

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1100 EESSPPAAÇÇOO AARRQQUUIITTEETTÔÔNNIICCOO

Basicamente, considera-se o ESPAÇO como a dimensão geral da existênciahumana. O homem tem necessidade deestabelecer relações vitais com o meioambiente em que vive, de modo a aportarsentido e ordem ao mundo de ações eacontecimentos. Como a maior parte dassuas ações encerram aspectos espaciais(aberto/fechado, longe/perto, separado/unido, etc.), o homem precisa estabelecere compreender relações espaciais,unificando-as em um conceito.

Enquanto para os animais, só existeo espaço pragmático, sentido por meiode seu instinto inato, para o homem, eleexpressa sua posição no mundo e lhe dásua orientação de ação.

Para o filósofo grego Platão (427-347 a.C.), oespaço era mãe e receptáculo de todas ascoisas criadas e visíveis; e, por uma formaqualquer, sensíveis. Sendo a NATUREZAUNIVERSAL que recebe todos os corpos – que nunca se afasta da própria natureza enunca assume uma forma idêntica à dequalquer coisa que nela entre – , tratava-se dorecipiente natural de todas as impressões,sendo agitada e informada por elas, acabandopor revelar-se diferente de tempos em temposem razão delas.

No conceito platônico, oESPAÇO eraum nada que existia como uma entidade

no mundo exterior, tal como os objetosque podia conter. Na ausência deles, oespaço continuaria a existir, como umrecipiente vazio e sem limites.

Para Aristóteles (384-322 a.C.), oespaço consistia na soma de todos oslugares; um campo dinâmico comdireções e propriedades qualitativas.Desde então, todas as teoriasposteriores passaram a conceituar oespaço com base na GEOMETRIA – uma construção da mente humana, que

dá uma aproximação do espaço físico – ,estabelecendo-o como infinito ehomogêneo; uma das dimensõesbásicas do mundo.

A partir do século XVII,ESPAÇO passoua ser entendido como um sistema decoordenadas cartesianas ou ortogonais(Eixos x-y-z), surgidas a partir de René

Descartes (1595-1650); e o antigoconceito de espaço, natural e unificado,acabou sendo dividido em múltiplos outrosespaços: os espaços físicos concretos eos espaços matemáticos abstratos ,inventados para descrever e simular osanteriores.

Finalmente, em princípios do séculopassado, a TEORIA DARELATIVIDADE, proposta por AlbertEinstein (1879-1955), substituiu a idéiade “pedaços” de matéria situados emum campo tridimensional por uma sériede “acontecimentos” em um espaço -tempo de 04 dimensões.

O ESPAÇO ARQUITETÔNICO pode serentendido como resultado da organizaçãodo espaço e do tempo, a partir da análisedas relações entre seus elementos e asregras subjacentes a estas relações. Talorganização depende de valores enormas de diferentes grupos, pois hádiversas formas de compreender eclassificar o meio ambiente, o queinfluencia nas expectativas, noscomportamentos e nos significados.

Ele deve ser compreendido comouma “concretização” de esquemasambientais ou imagens que são umaparte necessária da orientação geraldo homem ou de seu “estar no mundo”(NORBERG-SCHULZ, 2000).Contrapondo-se ao meio ambiente ouespaço natural , o espaçoarquitetônico envolve: o espaço

edificado (fechado e privado, que serefere à arquitetura) e o espaçourbano (aberto e público, que serefere ao urbanismo).

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De modo diverso que na matemática, oESPAÇO ARQUITETÔNICO não é umconceito absoluto, senão relativo, poisvaria conforme a dimensão e a posição do

usuário, modificando-se de acordo com omovimento do observador. Assim, épossível se definir 02 (duas) categorias:

Es paço es táti co : determinado pelassuperfícies e suas qualidades plásticas(forma, dimensões, textura, luz, cor,fechamentos e aberturas, etc.);

Esp aço d in âm ic o : determinado pelomovimento, ou seja, a variação naposição no tempo, o que depende doselementos de percepção ambiental.

Segundo CHING (1999), os principaiselementos do espaço arquitetônico são:

a) Linhas : consistem em um elementoinvisível que influi em todos os sereshumanos, mesmo aqueles indiferentes àcor, conforme seu sentido e direção.Basicamente, pode ocupar 04 posiçõesfundamentais: vertical (sinal de alerta,força e dignidade); horizontal (sensaçãode repouso, quietude e amplidão);oblíqua (linha de fuga, vitalidade emovimento) e curva (alegria, animaçãoe frivolidade).

b) Planos : correspondem à abstraçãogeométrica da superfície e constituem-se no elemento de delimitação, sejavertical como horizontal, controlando acontinuidade visual e espacial; filtrandoos fluxos de ar, luz e som; eproporcionando a sensação defechamento (paredes e muros).

c) Superfícies : relacionam-se à textura (qualidade das sensações tácteis) eestão diretamente ligadas aos materiaisque se utilizam no espaço, pois,conforme a sua natureza, podemproduzir sensações diferentes (polida /rugosa, dura / macia, opaca /transparente, etc.). Sua escolha ecombinação promovem impressões delimpeza, frieza, frescor, opulência, etc.

d) Volumes : elementos que conferemtridimensionalidade à arquitetura,estabelecendo suas dimensõesespaciais, escala e proporção; podendo

ser contínuos ou não, simples oucompostos, por justaposição, porarticulação e por interpenetração.

e) Aberturas ou Vazios : promovemacessos e ligações espaciais, além devistas e entradas de ar, luz e som. Sãelementos que podem ser isolados, emgrupo ou contínuos; laterais, em arestasou superiores (zenitais); verticais,horizontais ou oblíquos.

f) Cores : consistem em um elemento defundamental importância na composiçãode espaços arquitetônicos, pois écarregado de significados e pode criarilusões de tamanho e profundidade(F ARINA, 1990).Entre os efeitos que as cores provocam,podem ser citados os físicos (p. ex.,absorção de calor), os fisiológicos (influência no funcionamento do corpohumano), os sinestésicos (relação comoutras percepções sensoriais) e os

psicológicos (associações comexperiências, conteúdos e significadosespecíficos) (Ver QUADRO).

Toda atividade arquitetônica tem comoobjetivo ordenar e organizar o espaço para o ser humano , selecionando os maisadequados meios de edificação einterpretando as necessidades individuaise sociais. A ordenação refere-se aosvalores psicológicos do homem e aorganização aos aspectos físicos emecânicos das atividades.

A ação arquitetônica fundamenta-sesempre na premissa inicial de que existeuma atividade humana para a qual umESPAÇO precisa ser criado a fim depossibilitar aquela atividade. Surge aíum vasto número de formas possíveissugeridas pela atividade, passando aexistir a necessidade de consideraroutras dimensões da arquitetura para aescolha, como a psicológica ou acultural (TUAN, 1983).

Existem 02 (duas) fases oucomponentes do processo de produçãodo espaço arquitetônico:

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ANÁLISE:Fase preliminar que consiste nadefinição do problema a partir do estudoda informação relativa a quatroimperativos do projeto – necessidadesfuncionais, herança cultural,características climáticas e do sítio, erecursos materiais disponíveis. Baseia-se em uma atitude analítica objetiva;

SÍNTESE:Fase de projeto propriamente dita, naqual há a interpretação do problema apartir da organização e hierarquizaçãodos aspectos envolvidos, o que dependeda personalidade, da experiência e dabagagem cultural do arquiteto. Baseia-se em uma atitude de seletividadesubjetiva.

A ANÁLISE (do grego anayusis = decomposição)consiste numa operação do espírito que seconstitui em decompor mentalmente um conceito, juízo ou raciocínio. Seu oposto é a SÍNTESE, queconsiste em compor ou recompor um todo a partirdos respectivos elementos. Logo, uma atende ànecessidade de clareza em detalhes e a outra à derealidade total (SILVA, 1998).

Essas duas fases – a de definição (análise) e a de interpretação (síntese)do problema – relacionam-se com aaplicação de CATALISADORES (fatoresmodificadores), tais como aspirações,sonhos e experiências próprias doarquiteto; ou ainda, em necessidades,interesses ou potencialidades do cliente.

O primeiro momento de síntese durante oprocesso projetual é o da definição doPARTIDO ARQUITETÔNICO, que fixa aconcepção básica da obra , uma “tomada

de posição”, daí sua forte componentesubjetiva, não qualificável nemtransmissível. Ele é, segundo LEMOS (1979), a consequência formal derivadade uma série de condicionantes oudeterminantes, como:

Clima (temperatura, umidade, índicepluviométrico, etc.), condições físicas (orientação, iluminação, ventilação, etc.)e topográficas do local ;

Tecnologia construtiva e recursoslocais , tanto humanos como materiais(disponibilidade, transporte, viabilidadeeconômica, etc.);

Legislação regulamentadora enormas técnicas e sociais , o que incluiíndices de aproveitamento, recuosobrigatórios, códigos de obra e regrasde funcionalidade;

Programa de necessidades , queenvolve a lista de funções, usos ecostumes particulares ou conveniênciasdo empreendedor;

Linguagem estética , a qualcorresponde ao estilo artístico adotadoe/ou às intenções plásticas do arquiteto,muitas vezes por influência do cliente.

ELEMENTOS DEANÁLISEARQUITETÔNICA

Fatores antropológicosrelacionados c/o homem:- Fatores biológicos: mundos

perceptivos (universos sensoriais),territorialidade (sensação de

posse) e permanência temporal noespaço.

- Fatores sociais: ordens vividas(realidade objetiva e estrutura

social) e concebidas (graus deparentesco, costumes, concepções

religiosas e situação política).

- Fatores culturais: influênciasculturais, simbologia e estilo de

vida.

Fatores antropológicosrelacionados c/o espaço:

- Fatores climáticos : insolação(orientação e controle), ventilação

(direcionamento e controle),precipitações e umidade

(atmosférica e do terreno).

- Fatores topográficos : terreno(forma, dimensões, vistas,

desníveis, constituição, capacidadede carga, drenagem).

- Fatores paisagísticos :vegetação natural, entorno,

patrimônio, etc.

Fatores de interrelação entrehomem e espaço:

- Fatores proxêmicos : relaçõesentre distâncias e comportamentohumano (condutas e sensações).

- Fatores ergonômicos : aspectosde desempenho das atividades

humanas com conforto eeficiência.

- Fatores tecnológicos : materiais,métodos e técnicas construtivas,influências econômicas (verba,recursos, mão-de-obra, etc.) e

legislação aplicada.

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Em termos gerais, o PARTIDO constitui a essência do projeto e nelese encontram quase todos os aspectosimportantes do processo de criação,exceto a sua materialização, pois lhefalta ainda a articulação e odetalhamento (LEMOS, 1979).

Nele estão presentes os imperativosdo projeto arquitetônico, interpretados ehierarquizados, representando os 02(dois) valores fundamentais semprepresentes na teoria e prática do projeto:

TRADIÇÃO:Valor responsável pela continuidadede conexões culturais e expressopela existência de um conjunto deconhecimentos transmissíveis,formado pela história e pelaexperiência.

INVENÇÃO:Valor responsável pela intensidade evitalidade da arquitetura, já quepossibilita uma relativização epersonalização do objetoarquitetônico, referente a um modode utilização do repertóriorepresentado pela história.

Entende-se por TRADIÇÃO o conjunto deprecedentes conhecidos e de usoconsagrado – parcialmente repetidos ou

modificados – , os quais o arquiteto utilizaquando projeta. Trata-se da soma dasregras, costumes e transformaçõesrecolhidas ao longo do tempo etransmitida de geração para geração;produto da combinação de muitasexperiências que deram certo.

O uso da tradição tem o efeito deestabelecer conexões culturais, mas éatravés da invenção que os valorescontingentes são absorvidos em umprojeto. Enquanto a essência da

tradição é sua dimensão mítica eatemporal, a essência da invenção ésua preocupação com aqui e agora(M AFHUZ, 1984; 1987; 1995).

Denomina-se INVENÇÃO toda inovaçãoou idéia que é original por ser a primeira.Em arquitetura e urbanismo, tem osentido de modificação ou adequação do

material advindo da tradição às situaçõestemporais, espaciais e culturaisespecíficas (S TROETER, 1986).

A principal aptidão necessária parase realizar um projeto é aCRIATIVIDADE, que é uma forma desolucionar problemas, envolvendo saltosintuitos ou uma combinação de idéias decampos largamente separados doconhecimento (C AGNÉ apud KNELLER,1978).

A criatividade é a aptidão particular do espíritono sentido de rearranjar os elementos doCAMPO DE CONSCIÊNCIA (repertório decada um, isto é, signos que nos vêm dacultura, dos conhecimentos fornecidos peladocumentação, dos conceitos abstratos e dosfragmentos de imagens; tudo o que propõe apercepção consciente), em um modo original esuscetível de permitir operações em um“campo fenomenal” qualquer ( MOLES apud OSTROWER, 2004).

A CRIATIVIDADE está sempre alicerçadano repertório de conhecimentos técnico-científicos do projetista, sendo que seuprocesso de exploração dar-se-á tantoconsciente como inconscientemente. AINSPIRAÇÃO nada mais é que areformulação inconsciente, mas criativa,do material que já existe como tradição.

O processo de criação ema arquiteturaestá sujeito a 02 (duas) categoriasprincipais de fatores morfogênicos:

CONDICIONANTES CONTEXTUAIS:decorrentes de fatores objetivos e dascircunstâncias pré-existentes, como acategorização do sítio, exigênciasprogramáticas específicas, legislaçãoaplicável, imperativos de ordem sócio-cultural, etc.

CRITÉRIOS DE PROJETAÇÃO: quetraduzem a concepção do projetistadiante o problema a ser solucionado.São de cunho subjetivo, pois refletem opensamento do arquiteto e suaconcepção particular do tema-objeto.

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Segundo S ILVA (1998), existem 04(quatro) modos básicos de PRODUÇAÕDO ESPAÇO ARQUITETÔNICO,conforme o desenvolvimento históricoquanto às estruturas sócio-econômicas decada coletividade, que resultam dediferentes tipos de sociedade:

a) SOCIEDADE PRIMITIVA: É aquela naqual a construção do abrigo é atribuída aopróprio usuário, o que acontece tanto nassociedades antigas ( culturas primitivas)como nas periféricas atuais ( subculturasmarginais).

Não há necessidade do projeto, poiso abrigo segue um modelo ou éresultado do acoplamento rudimentar departes, além de se desconhecer aarquitetura como disciplina intelectual oucategoria de conhecimento formalizado.

b) SOCIEDADE INTERMEDIÁRIA: É aquelaum pouco mais desenvolvida, onde oprocesso de produção de bens possibilitaou mesmo determina uma novaestruturação da sociedade ( divisão socialdo trabalho). Alguns membros dasociedade conseguem eximir-se dealgumas funções e outros se especializamem tarefas mais ou menos exclusivas.

Ainda não há necessidade doprojeto, pois perdura a tradição e osmeios de edificação em um limitadoelenco de alternativas construtivas eestéticas.

c) SOCIEDADE ORGANIZADA: É aquela emque o grau de hierarquização é maisnítido, assim como a divisão social dotrabalho e a especialização profissional. Além de excluir a participação direta dousuário, admite e requer a participação deintermediários.

As necessidades dos usuários sãointerpretadas por um intermediário queas registra e elabora um documento(projeto ), que possibilita outrointermediário a compreensão dasatividades e aspirações do usuário. Aqui, o projeto é necessário, pois ele éum meio de registro e comunicação,protocolo a definir uma linguagem maisou menos comum.

d) SOCIEDADE COMPLEXA: É aquela naqual o grau de hierarquização é maior,além das responsabilidades seremcompartilhadas. A construção exige oestabelecimento de explícitas convençõesdelimitadoras de atribuições eresponsabilidades.

Há o emprego de váriosprofissionais de diferentesmodalidades e o projeto é umelemento de registro e comunicação das características da obra, o quetambém significa o desempenho deuma função jurídica ou documental,além de estritamente técnica.

Nas últimas décadas, a globalização e oavanço tecnológico vêm transformandorapidamente o mercado de trabalho do

arquiteto e urbanista, no Brasil e no mundo,que tem se diversificado e exigindo cada vezmais profissionais especializados que contudodevem compreender os processos globais deprodução da arquitetura.

As várias e diversas atribuiçõesprofissionais do arquiteto levam-no ater vantagens nesse cenário, poisconta com a formação generalista e osconhecimentos das áreas tecnológica,social e cultural. No atual mercado detrabalho, observa-se indivíduosrealizando uma ampla gama deatividades, adaptando-se à realidadelocal e às oportunidades que surgemcom as transformações da sociedade.

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AMARELO Cor quente e estimulanteElevado índice de reflexão (lumin.)Monotonia e cansa o (em excesso)

Vivacidade; jovialidade (Sol)Riqueza; ouroIntelectualidade; saber

CCOORR CCAARRAACCTTEERRÍÍSSTTIICCAASS / / EEFFEEIITTOOSS AASSSSOOCCIIAAÇÇÕÕEESS SSIIMMBBÓÓLLIICCAASS

AZULCLARO

AZULESCURO

BRANCO

CINZA

LARANJA

MARROM

PRETO

PÚRPURA

ROSA

VERDECLARO

VERDEESCURO

VERMELHO

VIOLETA

Cor fria e calmantePrimeira cor em preferênciaSensação de tranqüilidade/

Fragilidade; delicadeza (Vênus)Pureza; paz (céu limpo)Umidade (água)

Cor fria e deprimenteSensação de ansiedade/ angústia

Cor neutraLuminosidade/ reflexão extremaSensação de leveza/ amplidão

Frialdade; superficialidadeFormalismo; convencionalismoTradição (inverno)

Neutralidade; pazPureza; limpeza (saúde)Sinceridade; lealdade

Dúvida; incerteza (Lua)Impureza; sujeira (doença)Frivolidade; prata

Cor neutraSensação de ambigüidade/ dúvida

Seriedade; sensatez (Saturno)Cooperação; tenacidadeVigor; solidez (terra)

Alegria; jovialidade (Verão)Entusiasmo; força (Estímulo)Ambição; iniciativa

Perda; lutoExatidão; firmeza (Razão)Sobriedade; responsabilidade

Cor quente e alegreGrande visibilidade/ focalizaçãoEstimulação d o apetite

Cor quente e calmanteVariações do castanhoImpressão de estabilidade/ firmeza

Cor neutraObscuridade/ absorção máximaSensação de pesadez/

Cor quente e tristeVariações do carmimCalmante, se usada

Cor quente e repousanteSensação de fragilidade/complacência

Nobreza; pompa (Júpiter)Luxúria; opulênciaEsbanjamento; desperdício

Amabilidade; feminilidadeSentimentalismo (Emoção)Delicadeza; sutileza

Cor fria e repousanteSegunda cor em preferênciaImpressão de frescor/ liberdade

Adaptabilidade; variedadeNatureza; lazer (vegetação)Esperança; sociabilidade

Cor fria e deprimenteSensação de comodismo/ respeitoInibi ão do apetite

Bolor; mofo (podridão)Lentidão; vagarosidadePregui a; conformismo

Dinamismo; ação (Marte)Paixão; pecado (fogo)Ira; coragem; violência (sangue)

Cor quente e excitanteTerceira cor em preferênciaImpressão de entusiasmo/ força

Melancolia; depressãoMorbidez; doençaOrgulho; grandeza (poder)

Cor quente e deprimenteVariações do roxo

QQUUAADDRROO DDAA RREELLAAÇÇÃÃOO EENNTTRREE CCOORREESS EE EEFFEEIITTOOSS SSIIMMBBÓÓLLIICCOO--PPSSIICCOOLLÓÓGGIICCOOSS

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1111 TTEEOORRIIAA DDOO PPRROOJJ EETTOO

Por PROJETO ARQUITETÔNICO entende-se a concepção da arquiteturabaseada em um programa denecessidades (enunciado de funções,aspirações e expectativas espaciais) e emdeterminados meios de edificação (equipamentos, materiais, técnicasconstrutivas e meio ambiente).

O aparecimento do projeto não éapenas resultado do processo deracionalização ou aperfeiçoamento dasatividades humanas, mas também umaconsequência da instituição da divisãosocial do trabalho e dos mecanismosde atribuição e distribuição deresponsabilidades dentro da sociedade;um fenômeno inseparável da evoluçãoda civilização humana.

O PROJETO ARQUITETÔNICO é um

instrumento adotado para evitar surpresas,antecipando a configuração que uma obraassumirá. Não é uma etapa indispensável nemapenas um esforço no sentido deracionalização das atividades construtivas,mas também decorrência do desaparecimentode modelos e estereótipos; do surgimento dadivisão social do trabalho e da necessidade devisualizar a obra antes de edificá-la.

Etimologicamente, a palavraPROJETO deriva do latim, da junção de

pro (= em frente de; a favor de) e jactare (= lançar; arremessar), o que resulta nosignificado de projectio como a ação delançar para frente; premeditar, prever.Projetar corresponde, em espanhol, a

proyectar ou diseñar (desenho = dibujo);e, em inglês, a to project ou to design (desenho = drawing ).

Qualquer PROJETO trata-se de uma propostaou hipótese de solução para um problemaespecífico (situação insatisfatória ou dedeficiência) de organização do entornohumano, através de uma determinada forma

construtível , bem como a descrição destaforma (desenho ) e as prescrições para suaexecução (memorial ).

O projeto arquitetônico é uma representaçãopossível de um ente ainda imaginário – oespaço arquitetônico, seja qual for suanatureza e/ou escala –, colocando-se assim naposição de meio e não de fim. Seus principaisobjetivos são:

Permitir a interpretação e a posterioravaliação da proposta concebida peloarquiteto;

Possibilitar a pressuposição dos encargosexigidos para a materialização da obra,além da aprovação junto aos órgãos daburocracia oficial e tarefas análogas;

Contribuir para o entendimento, por partedos executores, da imagem mentalelaborada pelo arquiteto, da qual é umarepresentação.

Todo projeto possui dois níveisfundamentais: o da proposta propriamentedita (conteúdo), que é a sua essência eenvolve a categoria da criatividade ou“solucionática”; e o da comunicação(forma), que se refere aos aspectos derepresentação da proposta.

A eventual excelência dos meios decomunicação gráfica não é garantia daqualidade de concepção arquitetônica,

já que a qualidade do projeto decorrede seu presumível potencial comoproposta viável.

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Considerado como uma progressão , oprocesso projetual parte de um ponto – contexto considerado problemático – eevolui em direção a uma proposta desolução. Sua velocidade e ritmo variamconforme cada pessoa, pois se trata deum fenômeno de natureza psicológica.

Na prática, os procedimentosapresentam semelhanças quanto auma configuração geral. Geralmente, atarefa projetual compreende 02 (dois)tipos de atividades nem sempredistintamente hierarquizadas ousequenciais, onde a intuiçãofrequentemente intervém:

Atividades criativas : busca ouproposição de aspectos formaisque possam satisfazer osrequisitos programáticos (procurade determinadas associações deconceitos pré-existentes para secriar algo novo);

Atividades racionais : seleção econexão dos aspectos formaisconsiderados mais convenientes àsolução completa e eficiente doproblema, através de uma formaunitária, integrada e coerente

(integração de alternativas apartir da adoção de critérios).

No desenvolvimento de um PROJETOARQUITETÔNICO, existem algumasetapas, que se distinguem pelo grau dedefinição alcançado:

a) LEVANTAMENTO E ANÁLISE DEDADOS: Trata-se da coleta deinformações e dados, objetivandocaracterizar perfeitamente o objeto,inclusive se fazendo a análiseprogramática . Deve-se avaliar aadaptação e utilização do terreno(consulta às posturas municipais); alegislação pertinente; e os problemasde proteção, comunicação, controleclimático, iluminação, acústica,equipamento e serviços.

ANÁLISE PROGRAMÁTICAconstitui-se no estágio inicial doprocesso projetual, no qual há oreconhecimento, a interpretação e aorganização dos elementos do contextoe/ou do programa de necessidades ,visando sua efetiva aplicação nodesenvolvimento do projetoarquitetônico. A partir da elaboração doprograma – e segundo a suacomplexidade –, faz-se a montagem doorganograma* e dos fluxogramas**necessários.

COMPONENTESGRÁFICAS (Comunicação e expressão)

COMPONENTESPROJETUAIS (Criatividade e técnica)

Desenho artísticoDesenho técnicoProgramação visual

Representação volumétricaMemorial

Fatores funcionaisFatores técnicos ( sistemas )Fatores sócio-econômicosFatores político-ideológicosFatores estéticos

PROJETO ARQUITETÔNICO

ANÁLISE DE

QUALIDADEDO PROJETO

NecessidadeResolubilidadeOtimizaçãoViabilidadeGrau de definiçãoComunicação ( clareza,exatid ão e co m pletiv idad e )

MEMORIAL Descrição metodológica do

partido, espaços funcionais easpectos locacionais, alémda justificativa das soluçõesadotadas e especificações deordem técnica e estética

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b) PARTIDO ARQUITETÔNICO: Consisteno resultado plástico obtido a partir dolevantamento e análise dos fatorescondicionantes do projeto, tais como

clima, terreno, programa denecessidades, legislação, intençõesestéticas e recursos disponíveis.

Todo partido arquitetônico tem comoobjetivo ordenar e organizar o espaçopara o homem, selecionando os maisadequados meios de edificação einterpretando as necessidadesindividuais, coletivas e sociais. Suaordenação refere-se aos valorespsicológicos e à organização aosaspectos físicos e mecânicos das

atividades (LEMOS, 1979). c) ESTUDOS PRELIMINARES: Estágio

preliminar do processo de projeto, ondese analisa o problema, para adeterminação da viabilidade de umprograma de necessidades e do partidoarquitetônico adotado.

Nesta fase, não há ainda muitaspreocupações com a escala, sendodesenvolvidos geralmente em nível de

esboços ou croquis.

d) ANTEPROJETO: Solução geral doproblema, com a definição de partidoadotado, da concepção estrutural e dasinstalações, possibilitando a clara

compreensão da obra a ser executada. Nesta etapa, faltam ainda

informações pormenorizadas, mas já épossível definir dimensões, áreas ealgumas especificações dos ambientes.

e) PROJETO EXECUTIVO ou DEFINITIVO: Proposta conclusiva,composta de forma clara, exata e

completa, constituída de desenhos(plantas, cortes, elevações, detalhes,etc.) e elementos textuais (memoriais,especificações, tabelas, etc.).

Consiste em um sistema deinstruções específicas que informa deque maneira deve ser construída aedificação, sendo fundamental aredundância (repetição do mesmoconteúdo por necessidade de clareza doprocesso comunicativo do projeto)(SILVA, 1998).

PRÉ-CONCEPÇÃO

Levantamentode dadosAnáliseprogramática

ESTUDOSPRELIMINARES

PartidoarquitetônicoCritérios deprojetação

ANTEPROJETOPormenorizaçãodo desenhoDefinição dedimensõesAprovação legal

PROJETOEXECUTIVO

DetalhamentoEspecificaçõestécnicasExecução final

PROCESSO DE PROJETAÇÃO (PROGRESSÃO)

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Os ESTUDOS PRELIMINARES explicitama tendência formal da concepção plástica,traduzida na configuração geométrica ena disposição e articulação dos espaços.Não consistem apenas nodesenvolvimento do partido arquitetônico,mas sim em um estágio de seuamadurecimento.

Seu objetivo principal é demonstrar a

viabilidade de um programa, face àscaracterísticas do terreno e demaiscondicionantes. Por isto, não implicamnecessariamente na elaboração dedesenhos em escala exata e com todo origor das convenções técnicas.

De acordo com a ASBEA (2000), oANTEPROJETO completo será aqueleque contiver informações abrangendo osseguintes aspectos:

Definição volumétrica e geometria dosespaços;

Zoneamento das funções (ou atividades)e enquadramento no terreno;

Tipologia construtiva-estrutural,

configuração das aberturas e soluçãoplástica; Tratamento do espaço externo e acessos,

além do relacionamento com o entorno; Indicação de equipamentos (mobiliário)

e esboço de especificações; Elementos adicionais (perspectivas,

maquetes, memorial explicativo e justificativo, etc.)

Durante sua progressiva elaboração, arepresentação gráfica do projeto ocorrepor meio de 02 (dois) tipos de desenho:

Desenho artístico ou expressivo :refere-se à expressão subjetiva doobjeto, o que depende de aptidões epoéticas visuais próprias. Geralmente,relaciona-se mais com o usuário que oexecutor, inclusive contribuindo para adivulgação e venda da obra projetada.Existe uma infinidade de técnicas emeios de expressão visual, incluindoaqui a própria computação gráfica.

Desenho técnico ou projetivo :corresponde à configuração do produtode tal forma que o executor possatransformar economicamente asmatérias-primas em obras tais comoprojetadas. Para tanto, fundamenta-seem normatização técnica e cujaconfecção foi bastante facilitada com oadvento da computação.

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COMO ELABORAR UM MEMORIAL?

Todo MEMORIAL DE PROJETO devedescrever a proposta (caráter descritivo),caracterizando-a: dizer o que é, qual eonde ela acontece. Além disso, deve justificar as soluções adotadas (caráter justificativo), explicando-a: dizer por que,como e quando acontece.

Deve apresentar: a localizaçãourbana, o partido arquitetônico, aorganização espacial e a resolubilidadetécnica. Um roteiro básico pode seradotado seguindo-se a seqüência:

I. LOCALIZAÇÃO URBANA: Iniciar pela localização na cidade eindicar o zoneamento local;

Caracterizar o terreno: área,dimensões, vias de acesso etopografia;

Indicar a acessibilidade do projeto,definindo os acessos principais e deserviços;

Apontar as formas previstas detransporte e os estacionamentos de

veículos propostos: de maior emenor permanência, administrativo,carga e descarga, etc.;

Descrever as vistas e demaisrelações com o entorno (natural econstruído);

Incluir planta de situação urbana(mapa da cidade com indicação doterreno).

II. PARTIDO ARQUITETÔNICO: Caracterizar basicamente ageometria do projeto (linhas eplanos);

Descrever a volumetria (massas evolumes) da proposta;

Indicar as intenções plásticas naconcepção geral do partido;

Apontar os referenciais estéticos:linguagens específicas, poéticasvisuais, etc.;

Salientar posturas em relação àcirculação, cobertura e a aberturas(cheios / vazios);

Incluir croquis, esboços e esquemasque caracterizem a proposta comoum todo.

III. ORGANIZAÇÃO ESPACIAL: Caracterizar os usuários: quantidade,frequência, tempo de permanência,etc.;

Definir sequencialmente osambientes do projeto (espaçosfuncionais);

Indicar as circulações e ligaçõesentre os espaços (escadas,elevadores, rampas, corredores,etc.);

Enfatizar as intenções projetuais, taiscomo: relação com visuais,privacidade, praticidade, teatralidade,segurança, tensão, integração com anatureza, etc.;

Explicar as formas adotadas decontrole e manutenção do projeto;

De modo opcional, incluirorganograma, fluxograma e quadrode áreas do projeto.

IV. RESOLUBILIDADE TÉCNICA: Definir o sistema estrutural econstrutivo do projeto: fundações,estruturas, vedações, coberturas,etc.;

Descrever os revestimentos eacabamentos internos e externospropostos: pisos, paredes, tetos eforros;

Indicar as instalações elétricas,hidráulico-sanitárias ecomplementares: caixa d’água,

cisterna, sistema de captação deáguas pluviais, sistema de arcondicionado, sistema de segurança,etc.;

Apontar as instalações eequipamentos especiais: tubulaçõesde gases, sistemas de comunicação,programação visual e sinalização,etc.

Explicar o tratamento paisagístico:intenções plásticas, plano de massase forrações, lista de plantas;

Incluir quadro de esquadrias,detalhes e recomendações (projetoexecutivo).

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1122 DDIIMMEENNSSÃÃOO FFUUNNCCIIOONNAALL

O PROJETO ARQUITETÔNICO é umacomposição artística e técnica ao mesmotempo, que jamais substituirá a edificaçãopropriamente dita, em termos decomprovação da correspondência àsexigências, necessidades e aspiraçõesdos usuários (S ILVA, 1998).

A avaliação de um edifício é semprerealizada sobre o próprio objetotridimensional, através da experiênciaconcreta, sensorial e epidérmica.Entretanto o projeto, por utilizar umalinguagem própria e por assumir sempreuma configuração peculiar, materializasua realidade específica. É invólucro deum potencial resolutivo , que pode seranalisado através de instrumentosconceituais específicos.

No contexto do ensino, o trabalho projetual éuma modalidade de simulação, que visafacilitar o aprendizado de conhecimentos,técnicas e habilidades, bem como odesenvolvimento de aptidões específicas. Éum treinamento; um exercício didático.

O PROJETO ARQUITETÔNICO tem umaessência preponderantemente prática,uma vez que se constitui de um processo,porém também é um fenômeno cultural ,compatível com a abordagem teórica e,portanto, passível de ser estudado.

Além de suas componentes gráficas,de representação e comunicação,possui 03 (três) dimensões que compõea sua essência como arquitetura:

Dimensão Funcional (Utilitas) Dimensão Técnica (Firmitas) Dimensão estética (Venustas )

A FUNCIONALIDADE de um espaçoarquitetônico corresponde à organizaçãodas funções ou atividades que aliacontecerão. Por sua vez, cada atividade

pode variar conforme as formas derealizá-la, o tipo de atividades adicionais esua função simbólica.

Da conjunção de tudo isso é que seorigina a forma específica dosassentamentos físicos, assim como suaimportância relativa e a quantidade detempo empregado. Considera-sefuncional aquela arquitetura em que háuma perfeita adequação de dadanecessidade humana à respectivasolução arquitetônica, atendendo àpraticidade, comodidade ehabitabilidade do espaço.

Por FUNCIONALISMO entende-se a doutrinasegundo a qual a forma deve ser sempre aexpressão de uma função ou necessidade. Emborafreqüentemente associado à arquitetura moderna – o lema form fo l lows funct ion nasceu em Chicago,com Louis Sullivan (1856-1924) –, existemexemplos de sua aplicação na arquitetura militarmedieval ou no protorracionalismo do século XIX.

PROGRAMA DE NECESSIDADES corresponde ao conteúdo programático de um espaço arquitetônico, ou seja, aoconjunto de funções e recomendaçõespara a sua configuração, a partir do qualse elabora um projeto. A análiseprogramática no início do processoprojetual deve ser realizada através damontagem e estudo do programa, do

organograma e do fluxograma. ORGANOGRAMA é o gráfico dos dadosprogramáticos que tem a finalidade deapresentar os diversos elementos juntamentecom as variadas formas de relação entre eles.É um esquema que não representa adisposição em planta de uma obraarquitetônica, mas sim a relação espacial entreas diversas funções programáticas.

FLUXOGRAMA consiste no gráfico dos fluxosfuncionais da obra arquitetônica, que visa

identificar pontos de conflito e sobreposiçõesde circulação. Normalmente, é montado sobreo organograma. Ex.: Administração / Hotel.

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A FUNCIONALIDADE de uma edificaçãodepende da adequação dos espaços nelecontidos para as diversas atividades àsquais se destinam. Esta adequação éconseqüência de 03 (três) fatores básicos:dimensionamento, zoneamento ecirculação.

DDIIMMEENNSSIIOONNAAMMEENNTTOO

Inicialmente, é necessário se definir as

atividades, o tipo e o número de usuárioscorrespondentes à finalidade da obra.Tais conhecimentos permitem a avaliaçãodas necessidades de espaço, poratividade ou setor.

Há uma variação considerávelquanto a estas necessidades especiais,em função de vários fatores, tais como:

a) Ergonomia: cada tipo de atividade requerum espaço mínimo e adequado para a suaperfeita execução, de modo que se garantaeficiência e conforto;

b) Psicologia: as dimensões e proporções deum espaço influenciam aspectospsicológicos e simbólicos, como, porexemplo, espaços menores e mais baixospassam a sensação de aconchegoenquanto dimensões maiores expressammais solenidade;

c) Costumes e hábitos culturais: existemsituações históricas, que recaem em hábitose tradições, que influem sobre a avaliaçãodas dimensões do espaço, contradizendo osenfoques de estrito funcionalismo físico. Porexemplo: os europeus utilizam dimensõesmais reduzidas em serviços coletivos; osamericanos preferem mais isolamento, etc.

d) Questões econômicas e sociais : odimensionamento de um espaço dependeem grande parte de uma situação financeirae social, o que influencia nos aspectosfuncionais. Exemplificando: o tamanho dasdependências de empregado; a existênciaou não de determinados cômodos, etc.;

e) Questões compositivas: a forma que oarquiteto escolhe nasce de muitoselementos, além do uso, mas parasatisfazer suas intenções plásticas, taiscomo: proporção dos espaços, posição dasaberturas, disposição do mobiliário, etc.

Por exemplo: na Casa Farnsworth (1945/51,Chicago, Illinois EUA), projeto do arquiteto alemãoMies van der Rohe (1886-1969), os móveis não seaproximam do plano de vidro que envolve aresidência e lhe dá continuidade, o que significaque há um espaço livre, sem uso, em toda aperiferia.

O estudo das dimensões de um espaçoarquitetônico indica somente os valores mínimos apartir dos quais se atende a função. O Optimum nasce de uma consideração que inclua tambémaspectos ergonômicos, psicológicos, culturais e

sociais, além de resolver os valores estético-formais.

Lobby

Secretaria(espera)

Recepção(caixas)

FinanceiroRH

Foyer

Elevadoressociais

Vendas /Reservas

Gerência

Compras

Manutenção(serviços)

Elevadoresservi os

Circulação de hóspedesCirculação de funcionários

Circulação de público externoAuditório(eventos)

Protocolo Controle

ACESSOSERVI OS

ACESSOSOCIAL

LoungeRestaurante

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ZZOONNEEAAMMEENNTTOO

Ao se analisar as atividades relativas aum tipo de edifício, observa-se que,enquanto algumas são mais ou menosafins, outras não podem se desenvolverno mesmo espaço, exigindo separação.

Denomina-se por ZONEAMENTOFUNCIONAL a organização dasatividades de forma correta segundosua função, o que envolve 03 (três)etapas:

a) Diferenciação: consiste na separaçãodas atividades em grupos afins, como,por exemplo, conforme o grau deprivacidade exigido. Em uma habitação,pode-se distinguir as zonas: social,íntima e de serviços;

b) Coordenação: refere-se ao inter-relacionamento das funções, pois zonasdiferenciadas não podem ser usadassem uma coordenação que as conectede modo apropriado. Neste caso, oORGANOGRAMA facilita a percepçãodas necessidades de proximidade entredeterminados espaços, como a cozinhae a sala de jantar, por exemplo;

c) Concentração: visa a maior eficiênciafuncional, reduzindo percursos,economizando tempo e facilitando asinstalações, o que promove umamelhoria de funcionalidade.Exemplificando, uma cozinha industrialcom as áreas de preparo, cocção,distribuição, lavagem e armazenamento.

CCIIRRCCUULLAAÇÇÃÃOO

Assim como no zoneamento funcional,também é possível diferenciar fluxos decirculação afins, os quais podem coexistire provocar conflitos, exigindo que sejamseparados. O FLUXOGRAMA permiteidentificar esses pontos.

O estudo da circulação em umprojeto envolve 03 (três) aspectos: adiferenciação de fluxo de atividadese/ou usuários; a coordenação emtrefluxos de circulação (fluxograma); e aconcentração visando a redução decaminhadas e racionalidade projetual.

EERRGGOONNOOMMIIAA

Consiste no conjunto de conhecimentosque se tem a respeito do desempenho dohomem em atividade, a fim de aplicá-los àconcepção de tarefas; de instrumentos emáquinas; de sistemas de produção e deespaços arquitetônicos.

Etimologicamente, a palavra vem da junção dos vocábulos ergos (= trabalho)e nomos (= leis, medidas), equivalendoassim ao conjunto das leis que regemo trabalho humano , ou ainda, dasnormas que se referem à adaptaçãotecnológica do homem (tanto no binômio

homem / máquina como homem /ambiente). A ergonomia é uma ciência bastanterecente, apresentada pela primeira vezem 1949, pelo psicólogo britânico KenethF. Hywell Murrell (1908-84), ao criar aErgonomic Research Society , formada porpsicólogos, médicos fisiologistas eengenheiros interessados nos problemasda adaptação no trabalho. Atualmente, éresultado da colaboração de muitasciências e especialidades, que buscam ahumanização do trabalho e maior eficácia(CIDADE, 2004).

O principal objetivo da ergonomia étornar a relação entre homem emáquina/ambiente uma unidadeeficiente de produção, devendo seraplicada ao estudo da funcionalidadeespacial.

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A ERGONOMIA ARQUITETÔNICA consiste noestudo científico da relação entre o homem e seuambiente de trabalho, sendo que este abrange nãoapenas o meio propriamente dito em que atua, mastambém os equipamentos, os métodos e aorganização desse trabalho.

No estudo ergonômico deambientes, devem ser consideradas asdiferenças individuais e as variabilidadesemocionais dos seres humanos,preocupando-se com as questões deconforto; as conseqüências sanitárias epsicológicas dos espaços; e aracionalidade dos serviços, aplicando-sedados sistemáticos e métodoscientíficos.

Segundo D ANIELLOU (2004), a ergonomiaatua desde o objeto até o ambiente,podendo ser classificada em:

Ergonomia de concepção: Introduz osconhecimentos ergonômicos sobre ohomem desde o projeto do posto, doinstrumento ou equipamento; ou do sistemade produção. Por exemplo; cozinhas,escritórios, consultórios, etc.

Ergonomia de correção : Procura melhoraras condições de trabalho existentes ouproporcionar acessibilidade universal. Porexemplo: criação de equipamentos deproteção, adaptação aos portadores denecessidades especiais, etc.

Considerada como um conjunto deconhecimentos interdisciplinares, aERGONOMIA ARQUITETÔNICA objetiva oestudo das trocas regulamentadoras entre oambiente e os usuários, o que pode seraplicado em vários campos:

a) Ergonomia dos meios de produção :Interessa-se em conceber máquinas,componentes ou ferramentas do trabalhodentro das limitações de fabricação, estandoassim bastante relacionada ao design industrial;

b) Ergonomia do produto : Trata de conceberos objetos industrializados considerandodados ergonômicos correspondentes aonúmero e tipo de usuários, a partir delimitações técnicas, econômicas ecomerciais;

c) Ergonomia do transporte : Subordina-seao conforto, o que influi nos problemas dedimensionamento espacial; de vibração e deaceleração; e de climatização esonorização, para depois abordar osaspectos de coleta e interpretação deinformações;

d) Ergonomia do trabalho doméstico :Implica na previsão e adequação dasatividades cotidianas, que são repetidas emuitas vezes se agregam a um trabalhoprofissional. Os problemas abordados são adimensão dos espaços e locais dearrumações; a organização desses espaçosem função dos deslocamentos e doisolamento dos diferentes cômodos entre si;e o peso das cargas que devem sertransportadas ou erguidas;

e) Ergonomia do trabalho profissional :Trata da concepção e realização de

construções industriais, comerciais eadministrativas, onde se procura adaptar aconstrução à atividades humanas que aíserão exercidas. O dimensionamento dosambientes internos, a distribuição defunções, sua implantação e materiais sãoavaliados, assim como os efeitos sobre ostrabalhadores.

FISIOLOGIAEstuda o funcionamento do

corpo humano e seusprocessos biológicos

ANATOMIAEstuda a estrutura do corpo

humano, as formas e asdimensões que o constituem

Antropometr ia (dimensões do corpo)

Biomecânica(aplicação de forças)

Fisiologia do trabalho (gasto de energia)

Fisiologia do meio(efeitos do meio físico)

COMPONENTES DAERGONOMIA

PSICOLOGIAEstuda o comportamento do

homem e suas respostaspara o meio ambiente

Psic olo gia h ábil(percepção e ações)

Psicologia ocup acional(treinamento e esforços)

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PSICOLOGIA

Além das funções físicas e fisiológicas, oespaço arquitetônico deve atender asfunções psicológicas, que se relacionamao conforto mental e espiritual.

No entanto, o espaço psicológico não se define em função – ou por meio

de modulação baseada unicamente nasproporções do corpo humano. Ele édeterminado pela sensibilidade doarquiteto que, através de váriosprocessos, deverá atingir seus objetivosnão só por meio do espaço-dimensão,como também pelo espaço-plástico,concretizado pela luz, cor, textura,volumetria, aroma, etc.

Além de haver uma correlação entre os espaços eas funções humanas que neles se desenvolvem(espaço justo e exato), deve haver algo que atendaà condição do homem como ser dotado defaculdades superiores, capacidade intelectual esentido místico-religioso (espaço imaterial).

Em termos gerais, são estas asnecessidades psicológicas do homem,as quais definem esse “espaço” sensívele inexato:

a) Proteção: além da proteção física e social(refúgio e abrigo em relação às intempériese riscos pessoais), o indivíduo necessita deuma proteção psicológica que reafirme seuespírito, dando sentido de segurança. Isto

pode ser conseguido através de texturas emateriais que expressam solidez, uso degrades e muros, vegetação cerrada, etc.;

b) Tranquilidade : de modo a evitarperturbações internas e externas em relaçãoa ruídos, odores, etc., é necessário trabalharcom zoneamento criterioso, revestimentos eisolantes, filtros especiais (cortinas,venezianas, treliçados, etc.);

c) Privacidade / Sociabilidade: apesar dohomem necessitar constantemente decontato social, também precisa deisolamento individual e recolhimentoespiritual (criação de pátios, elementostransitórios, controle de iluminação, etc.);

d) Estímulo / Motivação: tanto em programasresidenciais como comerciais e industriais, a

arquitetura contribui para a estimulação (aorelaxamento, ao trabalho, ao consumo, àdiversão, etc.). Para tanto, é fundamentaltrabalhar com cores, aromas e sons, alémdo aproveitamento de vistas e iluminação.

Entre os estímulos de caráter psicológico quese transmitem ao organismo humano por meiodos sentidos, são de considerável importânciaaqueles que se referem à visão. Por isto, tantoa ILUMINAÇÃO natural como a artificial têmimportância não somente física, como tambémpsicológica e mística.Em um projeto, deve-se atentar para aquantidade de luz natural, sua falta ouexcesso, observando suas formas deobtenção (dimensões e posições dasaberturas) e controle (uso de vidros, vazados,pérgolas e cortinas). Em relação à iluminaçãoartificial, deve-se observar se é direta ouindireta, seus critérios de distribuição, tipologiae controle.

Denomina-se PROXÊMICA o conjunto dasobservações e teorias referentes ao uso que ohomem faz do espaço enquanto produtocultural específico. Cunhado em 1963 peloantropólogo norte-americano Edward T. Hall(1914-2009), o termo descreve as distânciasmensuráveis entre as pessoas, conforme elasinteragem; distâncias e posturas que não sãointencionais, mas sim resultado do processode aculturação (H ALL, 1977).

Hall indicou que diferentes culturasmantêm diferentes padrões de espaçopessoal, o qual varia segundo situaçãosocial, gênero e preferênciasindividuais. É um exemplo deproxêmica quando um indivíduo queencontra um banco de praça jáocupado por outra pessoa em umadas extremidades, tende a sentar-sena extremidade oposta, preservando

um espaço entre os dois indivíduos.Como toda obra ocupa um lugar no espaço urbano – que é coletivo e público em sua essência –, elatambém é de interesse da sociedade. Logo, acoletividade manifesta-se através de exigênciaslegais que afetam a análise programática, taiscomo códigos e regulamentos que controlam aconstrução civil (Lei de Zoneamento, Código deObras, Normas Especiais, etc.).

Segundo GRAEFF (1986), asedificações podem ser classificadasconforme sua funcionalidade em 04(quatro) grandes categorias, dentrodas quais existem várias subdivisões:

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EDIFÍCIOS PARA SOBREVIVÊNCIA:

HABITAÇÃO: casas urbanas ou rurais;casas geminadas ou em fita; apartamentos;hotéis, motéis, pousadas, albergues oupensões; asilos para idosos ou paracrianças; palácios, palacetes, mansões ouvilas; casas de campo ou ranchos, etc.;

ALIMENTAÇÃO: restaurantes,churrascarias, confeitarias, padarias,docerias, açougues, sorveterias, bares,cafés, casas de chá, refeitórios, etc.;

SAÚDE: hospitais gerais e especializados,sanatórios, ambulatórios, maternidades,spas ou termas, casas de repouso, pronto-socorros, postos de saúde, clínicas,farmácias, etc.;

EDIFÍCIOS PARA PRODUÇÃO:

ATIVIDADES INDUSTRIAIS (TRABALHO):fábricas, oficinas, laboratórios, frigoríficos,etc.;

ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS: sítios,fazendas ou chácaras; plantações, granjas,postos agropecuários, estâncias, quintas,estações experimentais, etc.;

ATIVIDADES ISOLADAS: escritórios deprofissionais liberais, de representantescomerciais, etc.; consultórios, oficinasartesanais, estúdios, ateliês, etc.;

DISTRIBUIÇÃO (DEPÓSITO): armazéns,galpões, silos, tendas, etc.;

EXPOSIÇÃO: pavilhões ou “stands” deexposição; vitrines, feiras ou mostras;exposições agropecuárias ou industriais;etc.;

VENDA (COMËRCIO): bancas, lojas, lojasde departamentos, locadoras, mercados,hipermercados, feiras, shopping centers,cooperativas de consumo, etc.;

TRANSPORTE: estações ferroviárias ourodoviárias; aeroportos e heliportos; portosmarítimos, fluviais e lacustres; terminais depassageiros; etc.;

CRÉDITO: agências bancárias, bolsas,caixas econômicas, cooperativas de crédito,etc.;

COMUNICAÇÃO: agências postais etelegráficas, agências telefônicas,teleportos, etc.;

EDIFÍCIOS PARA ORGANIZAÇÃO:

PODER EXECUTIVO (ADMINISTRAÇÃO):palácios governamentais, ministérios,secretariais de estado, prefeituras, arquivospúblicos, sedes de autarquias, etc.;

PODER LEGISLATIVO: palácios da ONU,da nação, do congresso ou legislativos, etc.;senados, câmaras de vereadores oumunicipais, assembléias, etc.;

PODER JUDICIÁRIO: palácios de justiça,tribunais, fóruns, etc.;

ASSOCIAÇÕES: sedes de sindicatosoperários e patronais; associaçõescomerciais, políticas, estudantis, etc.;

SEGURANÇA: quartéis, bases aéreas ounavais, chefaturas de polícia, delegacias epostos policiais, postos de bombeiros,fortalezas, cadeias, presídios epenitenciárias, etc.;

EDIFÍCIOS PARA O DESENVOLVIMENTO:

ATIVIDADES CULTURAIS: bibliotecas,teatros, cinemas, auditórios, óperas,museus, oficinas e galerias de arte, estúdiosde rádio-difusão e televisão, etc.;

ATIVIDADES RELIGIOSAS: capelas,igrejas, conventos, mosteiros, casas deretiro espiritual; templos budistas;sinagogas, mesquitas, centros espíritas,centros ecumênicos, salões, etc.;

ATIVIDADES EDUCACIONAIS: creches e jardins de infância; escolas maternais,primárias, secundárias e superiores;faculdades e universidades; seminários;centros ou cidades universitárias; centros depesquisa; escolas especiais; etc.;

ATIVIDADES COMEMORATIVAS:obeliscos, monumentos, arcos de triunfo,altares, túmulos, mausoléus, panteões,santuários, torres, mastros e marcos, etc.;

ATIVIDADES ESPORTIVAS: vilasolímpicas, estádios, ginásios epoliesportivos; hipódromos, autódromos,aeroclubes, clubes de caça e pesca, clubesesportivos, hípicas, parques infantis, etc.;

ATIVIDADES RECREATIVAS: termas eclubes recreativos, cassinos, casas de bailee boates, danceterias, parques de

diversões, praças e jardins, fundos de vale, jardins zoológico e botânico, etc.

CCLLAASSSSIIFFIICCAAÇÇÃÃOO DDAASS EEDDIIFFIICCAAÇÇÕÕEESS CCOONNFFOORRMMEE OOSS CCOONNTTEEÚÚDDOOSS PPRROOGGRRAAMMÁÁTTIICCOOSS

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1133 DDIIMMEENNSSÃÃOO TTÉÉCCNNIICCAA

CIÊNCIA (do latim scientia = saber,conhecimento; arte, habilidade) trata-sedo conjunto organizado de conhecimentosrelativos a determinada área do saber,caracterizado por uma metodologiaespecífica. Envolve tanto osconhecimentos teóricos como práticospara serem usados para dada finalidade.

As ciências são classificadas em:humanas , que objetivam estudar ohomem e seus comportamentos(Psicologia, Antropologia);sociais , queestudam as sociedades humanas, suacultura e evolução (Sociologia, História),naturais , cujo objeto de estudo é anatureza (Biologia, Geografia); eobjetivas ou exatas , cujas teorias sãoconfirmadas pela experiência direta eexata (Matemática, Física).

A palavra TECNOLOGIAtem origem grega,sendo resultado da junção dos termos tekhno (=mestria ou arte) e logos (=conhecimento ouciência), significando, deste modo, a ciênciaaplicada às artes e ofícios, o “saber fazer”(Know-how ; Savoir faire).

Assim, refere-se ao conjunto deconhecimentos aplicados (técnicas) para a sefazer algo, o que depende de teorias edescobertas científicas.

Até meados do século XVII, cadaprofissão era cercada de mistérios, nos

quais apenas a experiência individualera capaz de penetrar, devido àinexistência de informações e muitomisticismo. Com o Iluminismo eprincipalmente a partir daINDUSTRIALIZAÇÃO, a ciência ganhoutamanho desenvolvimento, que semultiplicaram as informações científicasadquiridas em tempos cada vezmenores (BENEVOLO, 1998).O crescimento é tal que hoje se tornadifícil estabelecer limites entre a ciênciae a tecnologia, devido ao pequenoespaço de tempo entre a descoberta dofato científico e sua aplicação na prática.

INVENÇÃO DESCOBERTA APLICAÇÃOFotografia(112 anos)

1727 1839

Telefone(56 anos)

1820 1876

Rádio(35 anos) 1867 1902Radar

(15 anos)1925 1940

Televisão(12 anos)

1922 1934

Bomba(6 anos)

1939 1945

Transistor(5 anos)

1948 1953

Raio Laser(3 anos)

1958 1961

CompactDisc (1 ano)

1989 1990

Os ramos da TECNOLOGIA estãoatualmente subdivididos levando-se emconsideração seus elementos integrantese os problemas inerentes a cada umdeles, bem como as semelhanças quepossam existir entre si, assim como aaplicação técnica das ciências a elepertinentes, sejam elas humanas, sociais,naturais ou objetivas.

Nestes termos, pode-se falar de umatec no lo gi a agr ária (Agronomia,Zootecnia), da saúde (Medicina,Odontologia), da cons tr ução (Engenharia Civil, Eletrotécnica) e does p aço (Arquitetura, Urbanismo).

Envolvendo o estudo das ferramentas, dosprocessos e dos materiais criados e/ouutilizados pelas ciências, atualmente, aTECNOLOGIA é essencial principalmentepara a sobrevivência e, em segundo plano,para o bem-estar humano. Isto se deve ao fato

da adaptação humana ser mais tecnológica doque biológica.

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Através da invenção (criação eprodução de novas soluções para osproblemas, naturais ou não) e dainstrução (informação e transmissão deconhecimentos para os demaisindivíduos), o Homo sapiens conseguiuconquistar alimentos, territórios e novos“nichos ecológicos” (função exercidapelos indivíduos dentro de umecossistema).

Entretanto, o avanço tecnológico deve serplanificado de maneira que somente seintroduza inovações quando estas foremnecessárias, para que o homem adapte-se gradativamente à evolução do meio.Há uma preocupação adicional efreqüentemente excessiva com o conforto(Tecnologia do Comodismo ), queraramente é inofensiva, pois provocaprejuízos fisiológicos, psíquicos e sociais;além de resultar em problemasambientais, já que pode atingir o equilíbrioecológico do planeta.

Com o avanço do conhecimento,tornou-se impossível o ARQUITETO solucionar sozinho todos os problemastécnicos inerentes ao projeto e àexecução de espaços voltados àsatividades humanas. A partir do século

XVIII, houve uma necessidadecrescente de especialização, o que fezsurgir a carreira do engenheiro e todasas suas derivações posteriores.

Isso fez crescer ainda mais a importânciado trabalho em equipe, colocando a figurado arquiteto como a de um coordenador ,que dirige todos os serviços.

Da mesma forma que um maestronão necessita saber tocar todos osinstrumentos de uma orquestra, oarquiteto não precisa dominar todos oscampos específicos da tecnologia dasconstruções.

Contudo, sua formação deve sergeneralista , ou seja, precisa conhecerum pouco de todas as áreascomplementares à sua profissão. Istofaz com que o curso possua tantoconhecimentos das áreas das ciênciashumanas, sociais e exatas.

Por isso, a formação do arquitetocomporta um elenco de disciplinas queobjetivam fundamentar o profissional nasdiversas áreas tecnológicas e quecontribuem para sua formaçãogeneralista. Tais áreas dividem-se em:

a) CIÊNCIA DAS ESTRUTURAS: Abrangetodos os conhecimentos fundamentados

na Matemática e na Física queinfluenciam na atividade de edificaçãode espaços arquitetônicos, no que serefere à Resistência dos Materiais, àEstabilidade das Construções e aosSistemas Estruturais;

b) TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO:Corresponde a todos os conhecimentose procedimentos necessários para aexecução de obras civis, o que reúnedesde o estudo da Mecânica dos Solose fundações até o conhecimento demateriais e acabamentos construtivos;

c) CONFORTO AMBIENTAL: Reúne todosos conhecimentos necessários para ahabitabilidade dos espaçosarquitetônicos, o que envolve questõestérmicas, acústicas e lumínicas, além dasua aplicabilidade através dasinstalações prediais complementares.

CCIIÊÊNNCCIIAA DDAASS EESSTTRRUUTTUURRAASS

Entende-se ESTRUTURA (do latimstructura = arranjo, disposição) como umsistema destinado a proporcionar oequilíbrio de um conjunto de forças, noqual as partes estão organizadas deacordo com a sua coerência efuncionalidade, visando sua imobilidade,equilíbrio de forças e limitação deesforços.

A Morfologia das Estruturas compreende o estudo das estruturasresistentes sob o ponto de vista de sua

forma, ou seja, dos elementos que irãocondicionar seu aspecto (fatoresfuncionais, técnicos e estéticos).

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A ESTRUTURA é uma necessidade vitalda arquitetura, pois sem ela não poderiaexistir. Ela vem solucionar o conflitodirecional básico (gravidade / vertical x

homem / horizontal), fazendo as forçasmudarem sua direção, de modo que oespaço para o movimento humanopermaneça desobstruído ao máximo.

PROJETO ESTRUTURAL refere-seao planejamento intelectual eestratégico do sistema dinâmico depeças (vigas, pilares, lajes, cascas,treliças, arcos, etc.), cuja finalidade élutar com uma multiplicidade de forçaspara garantir a manutenção dosesforços abaixo de limites

Existem vários sistemas estruturais empregados naarquitetura, sendo o mais convencional aquelechamado de massa-ativa (esqueleto de vigas epilares), mas há também os de forma-ativa (cabose arcos), vetor-ativo (treliças) e superfície-ativa (cascas) (E NGEL, 2001).

TTÉÉCCNNIICCAASS DDAA CCOONNSSTTRRUUÇÇÃÃOO

Com a separação entre concepção eexecução, os construtores acabaramtornando-se meros instrumentosacionados e dirigidos pelo projetoarquitetônico. A partir de então, oarquiteto passou a coordenar e fiscalizar otrabalho construtivo. Deste modo, tornou-se necessário possuir conhecimentostécnicos, os quais também são básicospara a criação e projeto, visandoviabilidade, a saber:

a) Conhecimentos geológicos e topográficos,

visando a sondagem de terrenos, suamovimentação (cortes e aterros), realizaçãode taludes e de compactação e execução defundações (estacas, sapatas e tubulões);

b) Normas de limpeza e fechamento deterrenos, implantação de canteiro de obras(ligações provisórias), demarcação da obra(gabaritos) e execução da estrutura (formas,armaduras, lançamento e adensamento,cura e descimbramento);

c) Procedimentos de execução de coberturas,tanto em nível de estrutura portante(madeiramento) como de telhamento,isolamento e ventilação;

d) Normas de execução de vedos emalvenaria, relacionadas a assentamento, devãos (esquadrias) e pavimentações (pisos);

e) Normas de execução de revestimentos deparedes, impermeabilização e pintura;

f) Normas de execução das instalaçõescomplementares à edificação, tais comoelétricas, telefônicas, hidráulicas, sanitárias,de gás, contra incêndio, etc..

Além do projeto arquitetônico propriamentedito, há também os PROJETOSCOMPLEMENTARES, que têm a função deauxiliar na concretização da obra, através daaplicação de conhecimentos científicos etecnológicos específicos, como os deinstalação elétrica, hidráulico-sanitária,incêndio, telecomunicações, condicionamentode ar e especiais (gás, oxigênio, etc.).

É fundamental o arquiteto conhecer osprincipais projetos complementares, assim

como seus sistemas de execução eacompanhamento. O bom projeto dearquitetura é aquele que procura otimizartodos os complementares. Hoje, tornou-seobrigatório o conhecimento dos materiais deconstrução e acabamentos, o que consisteno estudo da matéria-prima da arquitetura,em que se procura avaliar suas qualidades eespecificidades, disponíveis in natura oupadronizados industrialmente.

Denomina-se por INSTALAÇÃOPREDIAL o conjunto de elementostecnológicos que proporcionam meios e

condições de funcionamento a umaedificação, em seu estado de usonormal. Sua qualidade está intimamenterelacionada com: Fatores patológicos, relacionados aomau funcionamento dos elementosconstituintes;

Ausência de acompanhamento daexecução da obra, levando à falta decompatibilidade com os demaisprojetos, especialmente oarquitetônico e o estrutural;

Ausência de controle e manutenção daobra, devido à realização deinterferências leigas e/ou descuido.

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CCOONNFFOORRTTOO AAMMBBIIEENNTTAALL

Visando a habitabilidade das construções,assim como a criação e melhoria do bem-estar humano, o arquiteto necessitaconhecer e reconhecer os fatores queinfluenciam noCONFORTO AMBIENTAL,relacionado aos sentidos (especialmentea visão, a audição e o tato).

Para tanto, desenvolve disciplinasespecíficas que analisam fenômenoscomo as trocas térmicas, ventilação,insolação, iluminação artificial eisolamento acústico. Tais disciplinasreferem-se aos conhecimentos físicos(Ótica, Acústica, Termodinâmica, etc.)aplicados ao espaço construído quesão necessários para o arquiteto nomomento do projeto, objetivando ocontrole do ambiente a ser utilizado.

Atualmente, concebe-se a tecnologia deconforto ambiental em 03 (três) níveis:

a) CONFORTO TÉRMICO: Criação decondições de habitabilidade térmica aosindivíduos nos espaços construídos, ouseja, a manutenção em níveissatisfatórios e agradáveis da

sensibilidade que concerne à percepçãode variações de temperatura dorevestimento cutâneo do ser humano.

Envolve também o estudo das variabilidadesclimáticas, a produção de trocas térmicas, atransmissão de calor, insolação eventilação, tanto como fenômenos naturaiscomo artificiais.

b) CONFORTO VISUAL: Criação decondições ao indivíduo de exercer suastarefas visuais no espaço com o menoresforço e com o máximo de acuidade.Isso se traduz por um conjunto deparâmetros a serem atendidos, taiscomo iluminância necessária, o controledo ofuscamento causado pelas fontesde luz, a existência ou não de sombras,etc. O estudo desses parâmetroscompreende a luminotécnica;

c) CONFORTO ACÚSTICO: Criação decondições adequadas para atransmissão e/ou isolamento de ondassonoras, através do estudo docomportamento oscilatório e sua relaçãocom materiais e acabamentos. Busca-se a manutenção de níveis de som,assim como o projeto e adequação deauditórios, teatros e espaços paraespetáculos.

PPRRIINNCCIIPPAAIISS NNOORRMMAASS DDAA AABBNNTT NBR 05.410 – Instalações elétricas de baixa tensão(09/2004)NBR 05.413 – Iluminância de interiores (04/1992)

NBR 05.626 – Instalação predial de água fria(09/1998)NBR 06.023 – Informação e documentação:referências – elaboração (08/2002)NBR 06.122 – Projeto e execução de fundações(04/1996)NBR 06.123 – Forças devidas aos ventos emedificações (06/1988)NBR 06.137 – Pisos para revestimentos depavimentos (11/1980)NBR 06.401 – Instalações centrais de ar-condicionado para conforto (12/1980)NBR 06.492 – Representação de projetos dearquitetura (04/1994)NBR 07.198 – Projeto e execução de instalaçõesprediais de água quente (09/1993)NBR 07.199 – Projeto, execução e aplicação devidros na construção civil (11/1989)NBR 08.039 – Projeto e execução de telhados comtelhas cerâmicas tipo francesa (06/1983)NBR 08.160 – Sistemas prediais de esgotosanitário: projeto e execução (09/1999)NBR 08.800 – Projeto e execução de estruturas deaço em edifícios (04/1986)NBR 09.050 – Acessibilidade (05/2004)

NBR 09.077 – Saídas de emergência em edifícios(12/2001)NBR 09.818 – Projeto de execução de piscina:tanque e área circundante (05/1987)NBR 10.520 – Informação e documentação:citações em documentos – apresentação (08/2002)NBR 10.719 – Apresentação de relatórios técnico-científicos (08/1989)NBR 10.844 – Instalações prediais de águaspluviais (12/1989)NBR 11.682 – Estabilidade de taludes (09/1991)NBR 12.267 – Normas para elaboração de PlanoDiretor (04/1992)NBR 12.269 – Execução de instalações desistemas de energia solar (04/1992)NBR 13.133 – Execução de levantamentotopográfico (05/1994)NBR 13.531 – Elaboração de projetos deedificações – atividades técnicas (11/1995)NBR 13.532 – Elaboração de projetos deedificações – arquitetura (11/1995)NBR 14.679 – Sistemas de condicionamento de are ventilação (04/2001)NBR 14.724 – Informação e documentação:trabalhos acadêmicos – apresentação (08/2002)NBR 14.880 – Saídas de emergência em edifícios(08/2002)NBR 14.931 – Execução de estruturas de concreto:procedimento (04/2004)

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1144 DDIIMMEENNSSÃÃOO EESSTTÉÉTTIICCAA

No processo de projeto, cabe ao arquitetoa definição de funções estéticas esimbólicas aos objetos e obrasarquitetônicas. Como em todo processode produção de arte, tanto em nível dedesenho (relação artista / produto) comode uso (relação produto / espectador),ocorre uma comunicação estética , isto

é, um processo dinâmico de troca demensagens e estímulos subjetivos.

COMUNICAÇÃO ESTÉTICA correspondeao processo através do qual o artista, sejaele arquiteto ou não, emite mensagensperceptíveis sensorialmente, a partir deum objeto ou produto artístico, no qual oespectador ou usuário é receptor passivoe, ao mesmo tempo, ativo, pois emiterespostas, através de sua ação ou uso(MOLES, 1978)

Denomina-se ESTÍMULO ocomplexo de acontecimentos sensóriosque provocam uma determinadaresposta em um organismo, podendoser esta imediata ou não. Tal processopassa a ser COMUNICAÇÃO quandodeixa de ser uma simples relação entreestímulo e resposta para se tornar umprocedimento intelectivo, ou seja, hajauma troca de informações significativa.

Como exemplo, um barulho consiste em umestímulo sonoro, mas caso passe a apresentaruma frequência inteligível, pode ser entendidocomo música. Do mesmo modo, a corvermelha é um estímulo visual, mas quandoaparece em um semáforo, comunica umamensagem.

COMUNICAÇÃO vem do latimcommunicatio, que significa interação outroca de informações. Serve para que aspessoas se relacionem entre si,influenciando-se mutuamente e arealidade que as rodeia. Através dela,as pessoas compartilham tanto idéias,conhecimentos e informações, comoemoções, sentimentos e experiências.

Deve-se observar que a comunicação nãoinclui apenas as mensagens verbais. Otom das palavras faladas, os movimentosdo corpo, a roupa que se veste, osolhares e até mesmo o silêncio podemcomunicar. A cidade pode serconsiderada um conjunto de emissores demensagens. Os elementos básicos doprocesso comunicação:

A realidade ou situação ondese realiza a comunicação;

Os interlocutores que delaparticipam: o emissor e oreceptor das mensagens;

Os conteúdos ou mensagensque eles compartilham,através de signos;

Os meios que empregam paratransmiti-los, e os filtros quepossuem para decifrarem asinformações.

EMISSOR

Filtros sensoriaisFiltros operativosFiltros culturais

resposta

RECEPTOR

EESSQQUUEEMMAA DDOO PPRROOCCEESSSSOO CCOOMMUUNNIICCAATTIIVVOO

ruído

mensagens

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No processo comunicativo, mesmo que asMENSAGENS (verbais, visuais, táteis,etc.) cheguem ao receptor sem seremprejudicadas pelo meio (ruído), dentro

dele encontram novos obstáculos. Narealidade, cada receptor possui filtrosdiferentes, os quais agem de mododiverso e reciprocamente, a saber:

Filtros sensoriais : Consistem nahabilidade dos sentidos físico-biológicos, isto é, na capacidadeperceptiva do receptor;

Filtros operativos : Consistem nograu de maturidade do receptor e,portanto, relaciona-se a suasexperiências e expectativas;

Filtros culturais : Consistem norepertório cultural de cada um, o quevaria de acordo com a tradição, oaprendizado e as aspirações de cadaindivíduo e/ou sociedade.

Após a mensagem atravessar o meio e osfiltros do receptor, ela precisa provocar umaresposta para que a comunicação sejaconsiderada completa. Esta resposta acontecea dois níveis: internamente, através doPENSAMENTO, e externamente, através daAÇÃOou USO (MUNARI, 2001).

Toda forma de comunicação processa-seatravés de signos, ou seja, através depalavras (escritas ou faladas), imagens(desenhos, pinturas, fotografias, etc.) ougestos. SIGNO é algo que representaalguma coisa para alguém e, portanto,está no lugar desta coisa para sercompreendido ou interpretado.

Denomina-se SEMIOLOGIA (dogrego semeion, sinal + logos, estudo) a

ciência que estuda todos os fenômenosculturais como se fossem formas decomunicação, ou seja, como sistemasde signos, inclusive a arquitetura, sendotambém chamada de SEMIÓTICA, maispreocupada com os modos deprodução, funcionamento e recepção designos visuais (ECO, 1991)

A Semiótica ocupa-se do estudo do processode significação ou representação, na naturezae na cultura, do conceito ou da ideia. Maisabrangente que a Linguística, que se restringeao estudo dos signos linguísticos, ou seja, dosistema sígnico da linguagem verbal, tem porobjeto qualquer sistema sígnico.

A possibilidade de comunicaçãoarquitetônica processa-se a partir daconstatação da existência de um CÓDIGOou LINGUAGEM, que corresponderia ao

conjunto das leis de articulação doselementos significantes (signos) utilizadose de cujo conhecimento depende acompreensão das mensagens que estãosendo transmitidas.

A LINGUAGEM ARQUITETÔNICA, assimcomo a falada e a escrita, utiliza unidadessignificantes conhecidas, que poderiamser chamadas de “palavras”. Estas ,entretanto, são mais elásticas epoliformes, baseando-se muito mais emseu contexto e no repertório doespectador para lograr um sentidoespecífico.

As “palavras” arquitetônicas são, nasua maioria, signos simbólicos , isto é,dependem de significados obtidos porsua utilização convencional (necessitamde aprendizado), diferenciando-se dossignos icônicos , que são aqueles cujosignificante (forma) tem aspectos emcomum com o significado (conteúdo).

Além disso, possuem 02 (dois) níveis designificado: DENOTATA ou denotativo : que

corresponde ao significado exata econvencionalmente expresso através dosigno (técnica, forma e função).

CONOTATA ou conotativo : que se

refere aos conteúdos simbólicos,ideológicos e históricos embutidos nosigno (estilo ou linguagem estética).

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Os SIGNOS não denotam apenas sua formaou função, pois também remetem a certasconcepções culturais, ou seja, conotam umaideologia global que presidiu à operaçãocomunicativa. E as conotações “simbólicas”dos objetos reais não são menos importantesdo que suas denotações “funcionais”, uma vezque traduzem idéias e conceitos.

Exemplificando, uma casa denota afunção de abrigo ou moradia, mastambém conota a idéia de segurança ounúcleo familiar; um trono denota o atode sentar como também, ao mesmotempo, conota o poder da realeza, etc.

De acordo com MUNARI (2001), é possívelreconhecer na arte um papel simbólico,pois todas as ações e objetos artísticos“significam” algo. Entretanto, o decifrardos signos artísticos difere em muito dadecodificação automática e instantâneado discurso falado ou escrito, pois todaoperação artística tem uma intençãoanterior, da mesma maneira que umapalavra é escolhida conforme a ocasião.

Além disso, o valor simbólico da arteencontra-se não só no objeto e nasrelações deste com os outros objetos,mas também na relação entre o objeto equem o usufrui. É a partir deassociações por combinação ouseleção, por contiguidade e similaridade,no nível da memória, que o indivíduo“entende” a arte, baseando -se nas suasexperiências passadas, seus pontos dereferência e seu sistema de valores.

A forma artística nasce no ato criativo, é umaintenção a priori ; já o significado da forma érevelado a posteriori , podendo ser inclusive serdiverso para o artista que a elaborou e paraquem a observa ou usa, ou ainda para o críticoque a registra na história. O artista tem ocontrole da forma da obra no momento dacriação, mas a consciência apenas parcialsobre os significados das formas que define.

De modo geral, conforme STROETER (1986), existem 04 (quatro) instâncias noconjunto de significados que uma obra dearte – e de arquitetura – pode ter:

Significados conhecidos, queconscientemente o artista dá à obra,inclusive os seus, pessoais;

Significados do Espírito da Época, que sãoinconscientemente incorporados pelo artistaà obra;

Significados do Espírito da Época, que oartista não se dá conta e não transfere àobra, por falta de perspectiva histórica, sejaao examinar o passado ou ao fazer umaprospecção no futuro;

Significados desconhecidos à época, quesomente o tempo e a evolução dos fatosincorporarão na obra de arte.

É importante não confundir os códigos deconstrução do objeto artístico (sintaxe ) e oscódigos de leitura da arte (semântica ): osprimeiros referem-se ao processo compositivoda obra, que geralmente baseia-se em outrasáreas do conhecimento (o sistema geométricona pintura; o sistema construtivo naarquitetura), enquanto os segundos estãoligados à compreensão sígnica.

CÓDIGO SINTÁTICO: Corresponde aoconjunto de regras para combinar osdiversos elementos significantes,independente dos significados que lhespodem ser atribuídos. Trata-se de umagramática, que dirige a lógica dearticulação dos signos de modo queestes denotem formas e funções;

CÓDIGO SEMÂNTICO: Corresponde àsleis de articulação dos signos a que já éconvencionalmente atribuído um ououtro significado conotativo. Trata-se doestudo e análise da significação dasformas e funções sintaticamenteexpressas, através da identificação deum estilo ou de uma poética visual .

A categorização dos signos sintáticos dalinguagem arquitetônica baseia-se noselementos-matrizes de um espaço, cada

qual portador de mensagens estéticas ecarregado de significados denotativos econotativos, conforme o caso:

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a) Signos de determinação planimétrica :são aqueles que dão o limite horizontalinferior ao volume arquitetônico (pisos,varandas, sacadas, terraços, pátios,mezaninos);

b) Signos de contenção lateral : sãoaqueles autossustentadores, fixos ounão, ou ainda sustentados, queconformam o espaço arquitetônico(paredes, paineis, divisórias);

c) Signos autônomos de suporte : sãoaqueles responsáveis pela estrutura daedificação, podendo ser horizontais,verticais ou inclinados (vigas, pilares,colunas, lajes, arcos);

d) Signos de união : são aqueles quecorrespondem à ligação entre os signos

de determinação planimétrica, contínuosou não (degraus, rampas, corredores,galerias);

e) Signos de comunicação : são aquelesque correspondem à ligação entresignos de contenção lateral (janelas,portas, traves, vazados, pérgolas, etc.);

f) Signos de cobertura : são aqueles quefazem o fechamento superior daestrutura, podendo ser auto-sustentadores ou sustentados (lajes,cascas, abóbadas, cúpulas);

g) Signos de acentuação qualitativa : sãoaqueles elementos independentes quepossuem essencialmente valor estéticoou de referência (cimalhas, frisos,molduras, cores).

Denomina-se ESTILO o conjunto deelementos sígnicos, que expressam asperspectivas ideológicas de determinadaépoca. É a concretização estética dotemperamento, espírito ou cultura de um povoem um dado momento histórico. Trata-se deum código coletivo, síntese de todas as forçase fatores (elementos, princípios e técnicas),que refletem o gosto predominante,constituindo na unificação ou integração denumerosas decisões estéticas.

A definição de um estilo visual éuma tentativa dos críticosestabelecerem uma unidadeaparentemente onde esta não existe, ouseja, busca-se uma coerência artísticadas obras envolvidas maior do que adivergência entre elas. Assim, indica aocorrência, com certo grau deprobabilidade, de determinadas “chavesestilísticas” em várias poéticas visuais .

Por POÉTICA VISUAL entende-se alinguagem artística compreendida como formade expressão individual e intransferível de umartista, a qual deriva de várias condicionantes:a sua concepção de mundo (ou ideologia); osagentes promotores (ou sociedade) da arte; odesenvolvimento técnico e o senso estético.

Toda poética consiste em umconjunto de regras que definemdeterminado padrão de gosto(experiência), que é convertido empadrão de arte (P AREYSON, 2005).

Uma MODA seria o estilo que cadageração reconhece como sendo seu, nãopassando de algo efêmero, muitas vezesconsiderado como uma deturpação dapoética de um artista, quando esta écristalizada e repetida como uma receita;ou ainda pelo resgate e/ou deturpação deum estilo histórico no momento atual(STROETER, 1986).

Exemplificando, se se considera oestilo um código, é como se ele fosseuma língua, enquanto a poética seriapalavras e expressões individuais e amoda a gíria de um grupo ou geração.

ESTILOColetivo

InvariávelDefinitivo

POÉTICAIndividualVariável

Evolutivo

MODACircunstancial

RepetitivoEfêmero

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1155 PPEERRCCEEPPÇÇÃÃOO AAMMBBIIEENNTTAALL

Denomina-se MEIO AMBIENTE qualquercondição ou influência situada fora de umorganismo, grupo ou outro sistema que seanalise, consistindo basicamente em umsistema ecológico formado porcomponentes físicas, químicas, biológicase sociais. Pode-se considerar a arquiteturacomo um meio ambiente artificial , o qual é

definido por valores antrópicos e culturais. De acordo com ZEVI (2000), o

ESPAÇO ARQUITETÔNICO “experiencia-se” como uma extensãotridimensional do mundo que nosrodeia, formado por intervalos,relações e distâncias entre pessoas;entre pessoas e coisas; e entre coisas.Ele está no coração do meio ambienteconstruído ou artificial , no qual aorganização espacial é aspecto maisimportante do que propriamente asformas, materiais ou técnicas.

PERCEPÇÃO AMBIENTAL consiste noconjunto de atitudes, motivações e valores queinfluem nos distintos grupos sociais nomomento de definir o meio ambiente

percebido, o qual não somente afeta o seuconhecimento como também seucomportamento dentro deste.

Já que a percepção é umapropriedade mental, o MEIO AMBIENTEPERCEBIDO (MAP) é a ideia geral quese tem sobre o meio, ou seja, asuperfície total a partir da qual asdecisões vão se definindo e que incluielementos naturais e artificiais; reais eirreais; geográficos, políticos,econômicos e sociais. Logo, um únicoprocesso de percepção pode conduzir aprodutos diferentes, ou melhor, a MAP’sdistintos (R APOPORT, 1980).

Existem 03 (três) níveis de percepçãoambiental, os quais são as fasesconsecutivas de um mesmo processo:

CAPTAÇÃO SENSORIAL DO MEIO:

Percepção física através dos sentidos,que é mais ou menos idêntica entre aspessoas e é necessária para asobrevivência do gênero humano,embora existam evidências de umavariabilidade cultural que influencia emtermos de nível de discriminação entreestímulos (processo mais objetivo epouco variável). Dá-se através dosseguintes sentidos:

Visão : Sentido dominante, quepermite perceber o espaço, por meiode distância, luz, cor, forma, etc.

Audição : Sentido transitório muitomais fluído e passivo que a visão.

Cinestesia : Sensações de mudançade posição e deslocamento, tais comovariações bruscas de forma, escala,sentido, direção, movimento, etc.)

Tato : Sentido através do qual sepercebe textura (irregularidade,umidade, dureza, maciez, etc. )

Olfato / Paladar : Sentidos imediatos,emotivos e primitivos.

COGNIÇÃO AMBIENTAL: Relacionadaà compreensão e ao conhecimento,trata da descrição de como as pessoasestruturam, apreendem e conhecem seumeio, através de formas comoesquemas, noções, etc., às quais sãovariáveis com a cultura. Por exemplo,reconhece-se um local como bar pelanoção de bar ser um significado cultural

previamente existente (processo maisabstrato e variável). AVALIAÇÃO AMBIENTAL: Ligada às

preferências, baseia-se na definição devalores em relação ao ambiente, àsqualidades do meio, à seleção de meiosótimos e à imaginação “idealizada” domeio ambiente (processo muitosubjetivo e variável).

Cada grupo social tem sua imagem do que éum meio ambiente de qualidade . Porexemplo: preferências diversas de cor e deforma; privacidade e segurança;proximidade de determinadas áreas;ausência de indústrias ou outros riscos, etc.

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Todo MEIO AMBIENTE é constituídotanto por aspectos concretos comoabstratos, objetivos e subjetivos, sendoportanto formado por uma série derelações entre seus elementos e seusocupantes, de cujo relacionamento tem-seuma ordem, que se organiza emdiferentes graus. Como sistema, deve sercompreendido como um conjunto de 05(cinco) diferentes níveis:

O indivíduo. O nível físico, que é constituído pelos

fatores naturais, geográficos eclimáticos, além dos elementosartificiais, construídos pelo homem.

O nível pessoal , que inclui os indivíduosque são centros de referência para omodo de pensar e agir do indivíduo, taiscomo família, amigos, autoridades,grupos por afinidade, etc.

O nível suprapessoal , que são ascaracterísticas originadas pelascondições pessoais dos ocupantes porrazões de idade, sexo, crença, classesocial, estilo de vida e outras.

O nível social , que é formado peloconjunto de regras e normas dasociedade, além das instituições queregem o comportamento do indivíduo.

O MEIO AMBIENTE CONSTRUÍDO(MAC) consiste na organização doespaço, do tempo e dos significados(formas, materiais, cores) do território, aqual depende de valores e normas dosdiferentes grupos sociais. Como hádiversas formas de perceber,compreender e classificar o mundoexistente, são produzidas variações doMEIO AMBIENTE PERCEBIDO (MAP), oque influencia nas expectativas, noscomportamentos e nos significados dosindivíduos (OKAMOTO, 1997).

Segundo R APOPORT (1980), asATIVIDADES e os sistemas espaço-temporais são os fatores básicos para aorganização de espaços arquitetônicos.

Toda atividade envolve 04 (quatro)aspectos relacionados entre si:a) Aspectos da atividade em si:

comer, comprar, caminhar, etc.b) Aspectos do modo específico de

realizá-la: comer em umalanchonete, comprar em uma loja,sentar no chão, etc.

c) Aspectos secundários : conversarenquanto compra, observarenquanto passeia, etc.;

d) Aspectos simbólicos de cadaatividade : cozinhar como ritual,comprar como cerimônia, etc.

É possível criar um diagrama que explicao processo de produção do espaçoarquitetônico a partir da organizaçãoespacial das atividades humanas:

Elementos básicos de organização, que envolvemquatro instâncias e dependem de estilos de vida,regras de conduta, deslocamentos e esquemas.

Construção de esquemas ( imagens mentais ), queenvolve os valores e leva a determinadas eleiçõesespecíficas, proporcionando “modelos” deespaço.

Noção muito complexa de um grupo social que

compartilha uma visão de mundo, crenças evalores, os quais estabelecem um sistema denormas e hábitos de comportamento.

M A P

CULTURA

ATIVIDADES

M A C

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De modo geral, pode-se dizer que aspessoas analisam os estímulosambientais graças a esquemas cognitivos também variáveis, influenciados pelaexperiência prévia, pelos níveis deadaptabilidade conseguidos e pela cultura em que estão inseridas.

As pessoas reagem diante do meio, emprimeiro lugar, de maneira global eafetiva; e depois, analisam-no maisdetalhada e friamente. Qualquer espaçoarquitetônico proporciona, antes de maisnada, um fundo afetivo a partir do qual seselecionam imagens que se associarãocom ele. Assim, no caso de meios

ambientes urbanos, as imagens afetivastêm um papel importante nas decisões.

De forma ideal, as cidades deveriamser projetadas para se ajustar àspreferências do que se constituiria ummeio ambiente de qualidade. Se asimagens incorporam idealizações, aspessoas confrontam a realidade comestas imagens e avaliam assim aQUALIDADE AMBIENTAL a partirdaqueles ideais.Os meios ambientesurbanos devem, portanto, ajustar-se aoscritérios de qualidade ambiental e aonível imaginativo de seus possíveisusuários (R APOPORT, 1980).

Na avaliação da qualidade ambiental, osvalores simbólicos e latentes são maisimportantes que o uso e o aspectoconcreto do meio, uma vez que asexpectativas e atitudes são fatoresdeterminantes nas chamadasPREFERÊNCIAS AMBIENTAIS.

As preferências ambientais podem seranalisadas de muitas maneiras, comoatravés de:

Questionários, observação direta eestudos sobre migrações,

Análise de culturas (livros, canções,pinturas e anúncios), relacionando-ascom o meio em questão.

A partir de estudos recentes, foi possíveldefinir alguns componentes da

QUALIDADE AMBIENTAL, passíveis deserem analisados:

A) COMPONENTES FÍSICOS:1. Espaço aberto ou fechado (densidade,

espacialidade, existência ou não depátios, quintais e varandas, etc.)

2. Dimensão espacial (amplitude,facilidade de recreação, etc.)3. Caráter espacial (complexidade/

simplicidade, variedade/ monotonia,etc.)

4. Quantidade de zona verde (paisagem,tipo de vegetação, existência ou não deárvores, praças e parques, etc.)

5. Qualidade visual (orientação, coerência,aparência geral, beleza cênica, etc.)

6. Qualidade de ar e água (atmosfera,clima, poluição, etc.)

7. Personalização e atração (propriedade eidentidade das moradias, tipo e materialdas casas, privacidade, etc.)

8. Localização urbana (proximidade docentro / campo, periferização,acessibilidade, existência de edifíciosespecíficos, etc.)

9. Caráter urbano ou rural (artificialidade/naturalidade, ruído / silêncio, aspectotradicional, etc.)

10. Infraestrutura urbana (limpeza emanutenção, água, luz, esgoto, telefone)

B) COMPONENTES SOCIAIS:1. Atividades, funções e usos / Variedade e

qualidade de serviços e diversões(proximidade de escolas, hospitais,lojas, transportes, etc.)

2. Vizinhança (convivência, amabilidade,compatibilidade, estabilidade, etc.)

3. Segurança e proteção (índice decriminalidade, existência de polícia, etc.)

4. Status social (classe de pessoas,prestígio, valor das propriedades,homogeneidade / variedade, etc.)

5. Composição racial6. Simbolismo (imagem social, reputação

da área, caráter da vizinhança, etc.)7. Sentido de comunidade (relações de

amizade, fraternidade, sentimento deatividade comunal, etc.)

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Surgida a partir da aplicação da Teoria da Comunicação na percepção espacial, aLEITURA AMBIENTAL consiste noprocesso de identificação de diferenças eassociação das mesmas a significados.

Tais diferenças podem ser físicas,sociais ou temporais, sendo maisperceptíveis quando existirem indíciospertencentes às suas diversasdimensões.

De acordo com FERRARA (1991), são asseguintes as características do processode LEITURA AMBIENTAL:

a) É uma experiência sensitiva, direta eimediata, sobre o meio ambiente; e,ainda que afetada pela memória ecognição, prossegue independente. Éparticipativa, envolvente e concerne atodo o meio, não somente parte dele.

Além disto, envolve tanto quem percebecomo o meio ambiente que é percebido.

b) É afetada diante da natureza dosestímulos, pois possui um aspectointerativo entre o sensório, o cognitivo eo conativo (emoção e desejo de ação).É multissensorial, espontânea e sempreparcial, dependendo do envolvimento

que se tem com o objeto que épercebido.c) É ativa, já que o que se percebe

transforma os estímulos de potenciaisem efetivos, e as mensagens interagemcom o que se percebe, com suasmotivações, suas expectativas e comseus conhecimentos e hipóteses.

d) Engloba processos conscientes einconscientes (leitura subliminar ), sendotanto uma variável temporal comocultural. Pode-se deixar de “ver” alguma

coisa em função do repertório que setem, assim como pode-se “ver“ a maisdo que outras pessoas pelo mesmomotivo.

PPRROOCCEESSSSOO DDEE LLEEIITTUURRAA AAMMBBIIEENNTTAALL DIFERENÇAS FÍSICAS:

Vi são

Objetos: forma, peso, medidas, cores, materiais,texturas e detalhes, etc. Qualidade espacial: tamanho, barreiras, vínculos,

gradientes, etc. Luz e sombra: qualidade de iluminação,

mudanças com o tempo, etc. Zonas verdes: natural / artificial, tipo de

vegetação, etc. Novo / velho; ordenação / variedade; nível de

manutenção; estrutura viária. Topografia: natural / artificial; situação:

proeminente, sobre colinas, etc.; outros. Tato

Textura das paredes, abaixo dos pés, etc.; outros.

Audição Local ruidoso/ quieto; sons humanos/ naturais(tráfego, música, conversas, etc)

Mudanças temporais de som; outros. Olfato

Odores naturais / artificiais (plantas, mar,alimentos, estabelecimentos); outros.

Cinestesia Mudanças de níveis, de velocidades; curvas,

esquinas, cruzamentos, etc.; Diferenças de alturas, etc.; outros.

Movimento do Ar e Temperatura

DIFERENÇAS SOCIAIS:

Pessoas Vestuário, língua, conduta, tipos físicos, etc.;

Atividades Intensidade e classe; clubes, restaurantes, igrejas,

mercados etc.; Usos

Compra, residência, indústria, etc.; Uniformidade / mistura, animação quietude, etc.; Carros / pedestres, outros meios de transporte,

etc. Objetos

Signos, anúncios, alimentos, objetos usados,parques e jardins, decoração, etc.

Uso da cidade Uso ou abandono das ruas, fluxo de circulação,etc.;

Contrastes: distinção entre frente / fundos, privado/ público, etc.;

Relações com as barreiras culturais e normaspara o comportamento, etc.

Hierarquia e simbolism o Significado, signos de identidade social e status,

etc.

DIFERENÇAS TEMPORAIS:

A longo prazo Mudanças de estado, de pessoas, com a

manutenção, com os usos, etc. A curto prazo Dia e noite, intensidade ao longo do dia, ritmos e

costumes, etc.

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1166 MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA DDEE PPRROOJJ EETTOO

MÉTODO (do grego methodos = modo deagir) significa o procedimento ou caminhoracional para se atingir determinadoobjetivo. No caso da arquitetura eurbanismo, este depende do enfoque quese quer dar ao problema de criação doespaço arquitetônico e urbano, ou seja,da metodologia de projeto .

Segundo M AHFUZ (1984), a atividadede criação exercida pelos arquitetosbaseia-se em grande parte nainterpretação e adaptação deprecedentes, através do uso deANALOGIAS.

Assim, as formas arquitetônicas seriamgeradas basicamente de 04 (quatro)maneiras, sendo que o ponto comumentre elas é justamente o uso decomparações (positivas ou negativas)com algo pré-existente:

MÉTODO MIMÉTICO: Adapta ummodelo pré-existente tirado da tradição(90% tradição + 10% Invenção).

MÉTODO TIPOLÓGICO: Utiliza-se de“tipos” como ponto de partida noprojeto (60% tradição + 40%Invenção).

MÉTODO NORMATIVO: Baseia-se nacriação a partir de normas e regras(40% Tradição + 60% Invenção);

MÉTODO INOVATIVO: Trabalhaquase que exclusivamente nainvenção (10% Tradição + 90%Invenção).

Esses métodos de geração formal aparecem em combinações durante oprocesso de composição em arquitetura.Pelo menos dois ou três estão presentes,em geral sendo usados hierarquicamente:um para as partes principais do projeto eoutros para as demais (M AHFUZ, 1987).

Na verdade, os quatro métodos devemser vistos como complementares e nãocomo sistemas independentes oumutuamente exclusivos.

Como exemplo, pode ser citada aVilla Stein, obra de Le Corbusier (1887-1965), em Garches Fr., naqual é possível identificar os quatrométodos: o inovativo na inversão doesquema tradicional da casa decampo; o normativo no uso da formacúbica e da malha tridimensional daestrutura; o tipológico na disposiçãodos aposentos de maneira similar ados palacetes renascentistas (áreas

de estar no primeiro andar); emimético no emprego de uma sériede elementos usados em outrosprojetos seus (escadas semi-circulares, volumes curvos quedefinem espaços auxiliares, paredesonduladas que modelam acirculação externa, etc.).

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MMÉÉTTOODDOO MMIIMMÉÉTTIICCOO

É aquele pelo qual novos objetos eedificações são gerados com base naimitação de modelos anteriores. O métodoinicia-se com a escolha de um MODELO,de forma familiar, testada exaustivamentee de longa aceitação. A escolha destemodelo implica em um juízo de valor: oreconhecimento de que certa obra seria amelhor solução para determinadoproblema.

Esse método baseia-se no conceitogrego de mimesis (imitação),principalmente o de Aristóteles (384-322a.C.), onde há um sentido deinterpretação e adaptação. O fato deque modelos são transpostos no tempoe no espaço significa que há semprediferenças entre os contextos envolvidose isto por si só já invalida a cópiaperfeita.

Assim, uma característica deste métodode projeto é um razoável grau deinvenção, cuja finalidade é sempreadaptar o modelo às novascircunstâncias.

Aqui, a nova arquitetura é gerada com oauxílio de analogias visuais com a pré-existente, basicamente através de 03(três) maneiras:

Revivalismo : Consiste numa revificaçãoestilística, ou seja, a imitação de edifícios deoutro tempo e lugar, em sua aparência geralou nas partes principais. Caracteriza-se peloretorno ao estilo original, geralmenteidentificado pelo prefixoneo-. Por exemplo,a arquitetura neoclássica, neogótica,neobarroca, etc.

Ecletismo : Consiste na imitação não deedifícios inteiros, mas de partes oufragmentos de edifícios existentes.Caracteriza-se pela justaposição de partes,permutação compositiva ou miscelâneaestilística. A arquitetura da segunda metadedo século XIX ou o pós-modernismo formalexemplos.

Estilismo : Consiste na escolha de umnúmero reduzido de partes, tomadascuidadosamente de modelos, com o fim deconferir significados precisos a novosartefatos arquitetônicos. Não ocorre atransposição literal de um motivo de umcontexto para outro, mas sim sua“reinvenção”, de modo a criar uma novalinguagem, que não obstante aindareferencia o original.

MMÉÉTTOODDOO TTIIPPOOLLÓÓGGIICCOO

É aquele que se baseia no conceito deTIPO, isto é, a estrutura interior de umaforma ou princípio que contém apossibilidade de variação formal infinita, eaté de sua própria modificação estrutural.

O tipo é o princípio estrutural daarquitetura, não podendo ser confundidocom uma forma passível de descriçãodetalhada.

Segundo Antoine Ch. Quatremère deQuincy (1755-1849), citado por M AHFUZ (1984; 1987), TIPO é um princípio quepode reger a criação de vários objetostotalmente diferentes, o que se distingue

de MODELO, que é um objeto que deveser repetido como ele é. TIPO é um tema ou estrutura

arquitetônica atemporal que pode setransformar ao longo de distintasculturas. É através da aplicação doconceito de tipo – tanto ao estudoquanto à utilização da história comomaterial de projeto – que se utiliza atradição no processo projetual.

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Todo edifício pode ser reduzidoconceitualmente a um TIPO, ou seja, épossível se abstrair a composição de umaedificação até o ponto em que se vêem

apenas as relações existentes entre as partes,deixando de lado as partes propriamente ditas.

Projetar com este método é usartipos como parte do processo de criaçãode novos artefatos arquitetônicos. Oemprego de determinado tipo é

justificado pela existência de algumaafinidade estrutural ou, em outraspalavras, uma analogia entre umprecedente e o problema atual.

Os tipos podem ser usados de 02 (dois)modos distintos, a saber:

De maneira histórica : Quando se confereum significado a uma forma por meio deassociação mental com um objeto-edifício jáexistente e conhecido. Aqui, o tipo é tantoum ponto de partida para o projeto como uminstrumento de significação.

De maneira a-histórica : Quando o tipo éabsorvido no processo de composição e osignificado do objeto resultante não é aqueledo tipo utilizado, mas resulta da própriaoperação de composição e do novo uso aque o tipo está sujeito.

MMÉÉTTOODDOO NNOORRMMAATTIIVVOO

É o método onde as formas arquitetônicassão criadas com o auxílio de normasestéticas , ou seja, de princípiosreguladores. Tais regras são usadas pelodesejo de criar um senso de ordem entreas partes de uma edificação, o que podeser obtido com o estabelecimento de

relações de analogia entre as partes oupor sua subordinação a algum sistemaformal abrangente.

Além disto, as normas conferem aoarquiteto maior autoridade e segurançapara a tomada de decisões formais ebidimensionais. Um significadoespecífico pode ser atribuído a umaedificação composta com o auxílio deregras estéticas por associação com osignificado histórico inerente ao sistemaempregado ou através das relações

entre o sistema e sua violação dentro dopróprio objeto.

Embora existam muitas normas estéticasna arquitetura, há 03 (três) categorias quese destacam pelo uso na história:

Sistemas de Coordenadas : Consistemem linhas que se cruzam, com direçõese dimensões constantes, sendo o usual90o, em uma malha bidimensional (aplicada à planta, como elementolatente, que estabelece uma hierarquiaclara entre os espaços principais,secundários e circulação) etridimensional (aplicada ao esqueletoestrutural, coexistindo com os espaçosem um estado de superposição e, àsvezes, tensão).

Sistemas de Proporção : Usados paracriar um senso de ordem entre oselementos de uma composição,havendo também razões filosóficas oumetafísicas para seu uso. Por exemplo,a seção áurea, as ordens clássicas, oKen, o Modulor , etc.

Sistemas de Geometria : Fazem uso deformas geométricas elementares comoelementos de definição e controle daspartes principais de uma edificação. Porexemplo, esferas, cubos e prismas,além das figuras planas que geramestes volumes.

b a ___ = ___

a a+b

Seção Áurea

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A reunião de várias formas geométricasou orgânicas, iguais ou não, produzformas diferentes, com característicasdiversas, inclusive resultando emconfigurações mistas. Existem váriosmétodos de criação de novas formas,entre os quais:

Translação : Repetição da formasegundo uma reta ou curva;

Rotação : Giro da forma em torno deeixo localizado dentro ou fora de si;

Adição : Reunião por tangência devárias formas iguais ou não;

Subtração : Diminuição de uma formade outra, modificando seu contorno;

Decomposição : Fragmentação daforma em duas ou mais partes;

Deformação : Destruição da lógicaformal por uma ação externa ou não;

MMÉÉTTOODDOO IINNOOVVAATTIIVVOO

É o método pelo qual se tenta resolver umproblema sem precedentes ou umproblema comum de maneira diferente.Sua origem é antiga, datada de quandoos primeiros construtores, por tentativa-e-erro, experimentaram os materiaisdisponíveis até encontrarem uma maneirasatisfatória de garantir proteção e darforma espacial a determinada cultura.

Sua característica básica é que porele cria-se algo que não existiaanteriormente, pelo menos no campo daarquitetura e urbanismo. Como, nomundo, grande número de artefatos jáforam criados, tal método está ligadoprincipalmente à criação de detalhes, ouseja, de elementos que conferem umcaráter específico a uma edificação ouespaço urbano, tais como pórticos,transições, aberturas, colunas, etc.

Este método ajuda-nos a criar formas quediferem das existentes pelo uso deANALOGIAS, o que ocorre por meio deum cruzamento de contextos, isto é,

buscando soluções fora do campo daarquitetura, tais como (M AHFUZ, 1984):

Analogias visuais : Comparação com aaparência de formas humanas enaturais e/ou de artefatos não-arquitetônicos (frutas, barcos, objetos docotidiano, etc.);

Analogias estruturais : Comparaçãocom a organização de um programa ousistema (Funcionalismo) ou com ofuncionamento de elementos do mundonatural (colméia, teia, etc.);

Analogias filosóficas : Comparaçãocom os princípios de outras disciplinas,tais como correntes filosóficas(Humanismo, Iluminismo, Positivismo,Desconstrutivismo, etc, ), religiosas( Xintoísmo, Cristianismo, etc.) oucrenças ( Esoterismo, Feng Shui,etc.).

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1177 DDEESSEENNHHOO IINNDDUUSSTTRRIIAALL

DESENHO INDUSTRIAL ou IndustrialDesign refere-se ao projeto (design) deobjetos ou de sistemas de objetosindustrializados, através da combinaçãode conhecimentos funcionais, técnicos eestéticos, tudo isto dentro dos limites decusto e possibilidades de comercializaçãooferecidos pelo mercado.

Os designers procuram elaborarprodutos atrativos, eficazes e seguros,segundo diversos critérios, tais comoeconomia, durabilidade e criatividade.

As atividades do desenhista industrialabrangem tanto a concepção da formade objetos (projeto de produto) como oplanejamento de sistemas decomunicação ( programação visual ),sendo uma área profissional bastanterecente no país, cuja profissão éautorizada, mas não é regulamentada,como arquitetura e engenharia civil. Nalegislação nacional, as atribuições dodesigner competem ao arquiteto.

Antes, o artesão tinha completo domíniode sua produção, em etapas queabrangiam desde a criação do objeto atéa sua fabricação. O produto artesanal eraresultado do trabalho de uma só pessoa,especializada no ofício, que fabricavatudo, desde o funcionamento mecânicoaté detalhes estéticos (D ORFLES, 1990).

Com a divisão do trabalho e aprodução em série mecanizada, surgiua necessidade de um planejamentoprévio, antes do acionamento damáquina. Nascia o produto industrial ,feito em série e pelo trabalho degrande número de pessoas, cada umaresponsável por uma parte.

Deste modo, a MÁQUINA consiste no recursoinstrumental que transforma, acionada pela

mão-de-obra, a matéria-prima em objeto(produto), segundo um projeto (design),desenvolvido pelo desenhista (designer ).

Denomina-se FABRICAÇÃO EM SÉRIE aprodução contínua de um grande número deobjetos, aparelhos ou máquinas idênticas, paraqual se necessita de uma organização seqüencialde atividades. Já uma SÉRIE DE OBJETOSé uma

família de objetos de igual espécie, estrutura,função e aplicação, cujas dimensões e capacidadevão crescendo gradualmente nos termossucessivos, como acontece, por exemplo, na sériedos motores elétricos produzidos pelas fábricasbem organizadas.

Assim, a divisão do trabalho no interior deuma indústria acabou eliminando oespecialista (artesão ) de um artigo inteiro,para criar o especialista nas diferentespeças do produto. O designer passouentão a ser o responsável pela beleza,desempenho e resistência do artigo comoum todo, como um produto acabado.

Do ponto de vista do desenhoindustrial, a indústria é composta demáquinas que não são mais do quetecnologia (aplicação produtiva daciência). Em outras palavras, vê atecnologia como um aglomerado deconhecimentos técnicos necessários àmovimentação de determinadoprocesso produtivo e que tem comofinalidade a transformação da matéria-prima em produtos.

Em suma, DESENHO INDUSTRIAL é a

atividade projetual que consiste emdeterminar, através de planejamento,ordenação e racionalização, a produçãoem série dos objetos. Resulta do estudoprévio da forma dos objetos, que consisteem processos nos quais concorrem, emproporção variável nos diferentes casos,fatores antropométricos, tecnológicos,econômicos, psicológicos e sociais paraconciliar as exigências funcionais com aestética do produto e para levar emconsideração as relações entre o produto

em si e o homem, na sua condição decomprador ou usuário.

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Verifica-se que o design não se aplica aosprodutos artesanais, os quais podem serconsiderados, no máximo, como umantecessor e preparador experimental doseu descendente industrial, sob acondição de que a sua forma não soframodificações ao passar da fabricaçãomanual ou semi-manual do artesanato aoprocedimento da fabricação em massa.

São apontadas 02 (duas)razões que o desenho industrialnão se aplica ao artesanato:

Razão tec no lógic o-fo rm al: como aforma não é independente do material,nem do processo de fabricação,existem formas que não podem serrealizadas senão com um determinadoprocedimento, e existemprocedimentos que admitem arealização de uma certa categoria deformas e excluem todas as outras.

Por exemplo: as folhas de chapas de açocomum podem constituir superfíciespiramidais, cilíndricas ou cônicas, ouainda, por golpes de clava ou martelo,outras formas diversas, pelas mãos doartesão. Para a indústria, o custo de mão-obra para esse trabalho seriainevitavelmente alto: a estampagem domesmo material por matrizes e prensas sócompensaria se a produção fosse de umgrande número de peças idênticas.

Razão ec on ôm ic a: os preços dosprodutos em série tendem a sermenores, mesmo que se evidencie ocontrário – isto porque aqui osprocessos tendem a ser mistos e,ainda, pelo fato de que é pequena acapacidade do nosso mercado.

A FORMA deve ser decidida previamenteem relação aos fatores determinantes enão pode ser modificada durante afabricação dos sucessivos lotes ouexemplares, sem determinar novas eimportantes despesas ou alterar todo oprograma industrial pré-estabelecido.

O artesanato pode constituir umafase do desenho industrial, isto quandoo produto único constitua umaconstrução experimental realizada comvistas à fabricação repetida (mocape;

protótipo). Neste caso, trata-sesimplesmente de uma fase de estudo deproduto e o artífice que a realiza não émais que um colaborador do designer.

As reações do homem diante do objetoproduzido pelo desenho industrial são de03 (três) tipos diferentes entre si ereciprocamente influentes, tanto que nãoé possível levá-las em consideraçãoseparadamente:

HOMEM ESPECTADOR: é aquele que

afirma que raciocina em termos defuncionamento, de utilidade e deconveniência, mas se alguém lhe pedesua impressão responde com palavrasde sentido evidentemente estético. Faz juízo eminentemente emocional: “É feio,não me agrada” ou “É lindo, agrada-me”.

HOMEM USUÁRIO: é aquele que levaem consideração toda uma série defatores objetivos e funcionais, orendimento, a facilidade de manutençãoetc.

HOMEM COMPRADOR: é aquele que

leva antes de tudo em seu juízo osfatores econômicos imediatos oumediatos.

EmpresárioFABRICANTE

UsuárioCOMPRADORProduto IndustrialOBJETO DE DESENHODesenhista IndustrialPROJETISTA

PROCESSO DE DESENHOProjeto de produtos industriais com

funções(projeto de conduta)

PROCESSO DE USOExperimentação das funções do

produto(satisfação das necessidades mediante o uso)

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As bases do design modernoencontram-se na passagem do séculoXIX para o XX, mas têm na escolaalemã BAUHAUS, fundada em 1919por Walter Gropius (1883-1969), quevisava uma aproximação definitivaentre o mundo das artes e o daprodução, buscando formar artíficescriadores de novas formas.

O objetivo da Bauhaus era fundir arte e artesanato – e artesanato com indústria –, a fim de formarprojetistas aptos a orientar a indústria quanto àforma de seus produtos. Decretava o fim do artistaisolado, subjetivo; e incentivava o trabalho grupalde artistas e artífices, adaptados à sociedademoderna. Atingindo seu apogeu na década de1920, a bauhaus foi fechada em 1933 pelosnazistas, considerada “subversiva e decadente”. Amaior parte de seus integrantes imigrou para osEUA: em 1937, fundava-se a New Bauhaus emChicago, por László Moholy-Nagy (1895-1946).

O design atual está intimamenteligado aos princípios da Bauhaus :toma consciência da necessidade deatribuir uma qualificação estética àprodução industrial, aproveitandosempre os progressos tecnológicos.Porém, est a “boa aparência” devesempre se submeter aos critérios defuncionalidade e durabilidade.

Muitos acusam o designer como mero instrumentoa serviço das leis do mercado, que apenasembeleza embalagens para vendê-las em maiorquantidade, além de projetar artigos que se

deterioram depressa. Diante desta crise deidentidade, vem assumindo uma atitude crítica.

Atualmente, a idéia de design abrange até o planejamento, incluindo aprevisão e escolha do projeto. Assim,ele contesta o mercado – ávido deobjetos para rápido consumo – fornecendo apenas elementos úteis àsnecessidades do ser humano. É vistoprincipalmente como um processo deadaptação de produtos de consumo euso de fabricação industrial às

necessidades físicas e psíquicas dosusuários ou grupos de usuários.

Os produtos industriais podem serclassificados em 04 (quatro) categorias:

a) PRODUTOS DE CONSUMO: são aquelesque deixam de existir após o seu uso, comoos produtos alimentícios e os de limpeza

(pasta de dentes, sabonete, etc.). Apesar desua vida efêmera, muita atenção deve serdada para a sua forma ser atrativa, e assimganhar o favor do consumidor, como, porexemplo, formas de macarrão, bombons echocolates, e assim por diante;

b) PRODUTOS DE USO INDIVIDUAL: sãoaqueles usados exclusivamente por umapessoa determinada, o que resulta em umarelação estreita entre pessoa e objeto, comocanetas, isqueiros, óculos e outros. Sãoprodutos muito sujeitos à moda, como, porexemplo, relógios e sapatos;

c) PRODUTOS DE USO COLETIVO: sãoaqueles usados por pequenos grupos depessoas que se conhecem umas às outras,tais como televisões refrigeradores,mobiliário, etc. Em seu projeto, é precisoconsiderar as necessidades gerais dogrupo, de modo a encontrar um resultadoque “agrade” a vários usuários diferentes;

d) PRODUTOS DE USO GERAL: são aquelesprodutos que permanecem anônimos, masfazem parte do nosso complexo entorno,tais como transformadores, turbinas, partesda maquinaria, etc. Tais produtos possuemprincipalmente uma função prática, cujaconfiguração atende somente a sua oferta

no mercado e a pressão da competênciacomo argumento de venda.

Denomina-se PROCESSO DE DESENHO asrelações entre o designer e o objeto projetado(produto industrial). Neste processo, o ponto departida é o profissional que, submetendo-se a umprocesso criativo e intelectual, recorre a 04 (quatro)etapas distintas e se esforça em desenvolver umproduto dotado de um elevado número decaracterísticas de uso, inclusive procurando inovaro que já se encontra no mercado.

A pressão do mercado competitivo

obriga o designer a buscar sempreidéias originais, o que somente podeacontecer abordando-se multi-dimensionalmente o problema, ou seja,quanto mais aspectos sejam analisados,maior é a probabilidade de chegar asoluções novas (S CHULMANN, 1991).

Todo processo de desenho é ao mesmo tempo umprocesso criativo e um processo de solução deproblemas: descobre-se a existência de umproblema; reúne-se informações sobre esteproblema, analisando-as e relacionando-ascriativamente; desenvolve-se soluções para oproblema segundo critérios pré-estabelecidos; erealiza-se a solução mais adequada.

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O PROCESSO DE DESENHO pode desenvolver-sede forma extraordinariamente complexa(dependendo da magnitude do problema), o queresulta útil a sua divisão em fases para seu estudo.Estas 04 (quatro) fases nunca são exatamentedefinidas no transcurso real, pois se inter-relacionam umas com as outras em um avanço eretrocesso (BIGAL, 2001).

1. FASE DE PREPARAÇÃO: Processo de solução do problema (análise e

definição do problema; seu conhecimento eclassificação; avaliação científica e definiçãode objetivos)

Processo de desenho (análise do problemade desenho e desenvolvimento do produto)

Análise da necessidade Análise da relação social (homem-produto) e da relação do produto com oentorno (produto-contexto)

Análise do desenvolvimento histórico Análise do mercado/ análise do produto Análise da função (funções práticas) Análise estrutural (estrutura constitutiva) Análise da configuração (funçõesestéticas)

Análise de materiais e fabricação(patentes, prescrições e normas)

Análise de sistemas de produto (produto-produto)

Distribuição, montagem, serviço a

clientes, manutenção Fixação de avaliações e exigências parao novo produto

2. FASE DE INCUBAÇÃO Processo de solução do problema (eleição

de métodos para solucionar o problema eprodução de idéias)

Processo de desenho (desenvolvimento doproduto)

Soluções e conceito do desenho Soluções de princípio Esquema de idéias Maquetes ou modelos Avaliação das soluções de desenho

3. FASE DE ILUMINAÇÃO Processo de solução do problema (exame

de soluções, sua seleção e avaliação) Processo de desenho (desenvolvimento do

produto) Eleição da melhor solução

Ajuste com as condições no novoproduto

4. FASE DE VERIFICAÇÃO Processo de solução do problema (solução

do problema e sua avaliação reiterada) Processo de desenho (desenvolvimento do

produto) Solução de desenho Construção e constituição estrutural Configuração nos detalhes (elementosde serviço)

Desenvolvimento de modelos

Esboços Documentação

gosto e experiência

intelecto esegurança

DESENHISTA INDUSTRIAL(indivíduo criativo)

afeto etemeridade

PROCESSO DE DESENHO(processo criativo)

4 FASES:- Fase de preparação

- Fase incubação- Fase de iluminação- Fase de verificação

PRODUTO INDUSTRIAL(produto criativo) Resultadomaterial(produto industrial)

Resultadoimaterial(idéias)

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1177 IInntteer r iioor r iiss mmoo

Ao se observar a vida do homem, verifica-se que, na maior parte de seu tempo, estaocorre em ESPAÇOS INTERIORES,portadores de estabilidade, permanênciae continuidade; e que mantêm uma íntimarelação com seus usuários. O espaçointerno das edificações é o reduto deestreitas leis do mundo civilizado, poisencerra o lugar onde o homem nasce eacompanha-o por toda a sua vida.

Assim, o homem e o espaço internoacompanham-se e harmonizam-se namútua e agradável tarefa de criarsatisfações íntimas. Daí a importânciade “sentir” o ambiente como algoespecial, pulsar sua harmonia e ircriando uma sintonia perfeita entre ela eo homem para modular um determinadoperfil e personalidade (M ANCUSO, 2002).

Deste modo, denomina-se ARQUITETURA DEINTERIORES ou INTERIORISMO o conjuntode procedimentos e técnicas de organizaçãodos espaços internos, visando a satisfaçãofuncional, técnica e estética das necessidadeshumanas. Trata-se de uma atividademultidisciplinar, que envolve conhecimentos dearquitetura, ergonomia, engenharia, decoraçãoe artes plásticas, entre outras disciplinasválidas (psicologia, sociologia,marketing , etc.).

Por DECORAÇÃO entende-se aornamentação que completa o ambiente

arquitetônico por meio do arranjo dedetalhes envolvendo o mobiliário, objetosdecorativos, tecidos e forrações, materiaisde revestimento, cores, etc.

Historicamente, consideram-secomo artes decorativas ou aplicadas o conjunto de disciplinas que visam aprodução de elementos próprios paradecorar, assim como objetos, de usoprático ou não, que têm valoressencialmente estético (tapeçaria,marcenaria, serralheria, ourivesaria,cerâmica de arte, etc.)

Desde a Idade Média, a arquitetura foiconsiderada a mais importante das artesaplicadas e, principalmente a partir doRenascimento, passou a ser vista como

sustentáculo físico das artes plásticas figurativas (pintura e escultura).

Os arquitetos passaram a sedistinguir dos artesãos ou artíficesdevido à abrangência de seusconhecimentos, cujas bases estavamem seu ensino formal; assim como aarquitetura passou a abranger adecoração. Finalmente, na EraContemporânea, o nascimento dodesign industrial – ênfase dafuncionalidade e da técnica em

detrimento da decoração – acabouimpondo limites mais rígidos entreambas áreas

A organização e decoração de umambiente interno devem ser feitascuidadosamente, pois necessitam seaperfeiçoar com os gostos pessoais, asexigências de trabalho e os meios de vida.Sabe-se que a saúde, o ânimo, asrelações sociais e grande parte da vidahumana estão, por sua vez, influenciadospelos espaços internos.

Todo espaço interno é para quem outiliza. Tudo quanto há naquele lugar é edeve ser usado por quem o habita, e istocontribui para a experiência dereconquista que todos passam ao seutilizar dos elementos do espaço internoem usufruto próprio.

Este pequeno agrado, feito diariamentea nós mesmos, vai nos dando maissegurança e nos aproximando de tantaspequenas satisfações, cujo objetivo nãoé outro senão o de tornar mais feliz anossa permanência no ambiente. Pode-

se dizer que o ambiente interno funcionacomo verdadeiro cenário da nossa vidacotidiana.

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O principal objetivo do arquiteto de interiores éa HARMONIA, a qual somos todos sensíveis,mesmo desconhecendo suas regras(capacidade inata). Além disto, pode-se dizerque cada um possui sua harmonia pessoal,vinculada ao seu próprio complexo existenciale na qual atuam as forças hereditárias, deraça, de credo e de costumes (fatoresculturais).

Nas artes em geral, HARMONIA pode ser entendida como a qualidade deum conjunto que resulta do acordo entresuas partes. Ela é produto das relaçõesde adaptação, conformidade econveniência entre seus elementos.

De modo específico em interiores, estádeterminada tanto pelo tamanho, isto é,o valor das massas – dos móveis, noque se refere a interiores – como pelasdistâncias, ou seja, o espaço livre quehá entre elas; além de outros fatores,ligados a questões estéticas.

Ao entrar em um recinto, pode-se sentir uma sériede impressões, que produzem várias sensações,desde a de repouso e quietude até deincomodidade. O MÓBILIÁRIO contribui para estasimpressões, assim como certos elementos, cujaescolha e combinação podem provocar diferentes

sensações, destacando-se: a linha, a textura e acor dos ambientes.

Na história, pode-se identificar 04 (quatro)fases no desenvolvimento da arquiteturade interiores:

a) PERÍODO ANTIGO: Estendeu-se desde osprimórdios da humanidade até oRenascimento, aproximadamente noséculo XV; e caracterizou-se por uma forterelação entre decoração e religião, comambientes internos marcados pelasescassez de mobiliário, ênfase napraticidade e emprego de técnicaexclusivamente artesanais. Suas maioresexpressões deram-se através dos estilosegípcio, mesopotâmico, persa, oriental,hindu, greco-romano, bizantino, islâmico,mudéjar, românico e gótico.

b) PERÍODO CLÁSSICO: Abrangeu daRenascença à Industrialização, ocorrida emmeados do século XIX; e foi marcada pelaforte aliança entre decoração e poder,devido às condições políticas eeconômicas, além de apresentar umacomplexidade crescente, ênfase na estéticae emprego de técnicas semiartesanais.Suas principais manifestações foram osestilos italianos (Renascentista e Barroco),espanhóis (Plateresco, Churrigueresco,etc.), franceses (Louis XIII a XVI, Diretório,Império, etc.) e ingleses (Georgiano, Queen

Anne, Chippendale, Adam, Hepplewhyte,Sheraton, etc.).

LOUISXIII LOUISXIV LOUISXV

CHIPPENDALE LOUISXVI IMPÉRIO

c) PERÍODO MODERNO: Equivaleu àconcepção do modernismo, na primeirametade do século XX, que priorizava afuncionalidade, o universalismo e aantiornamentação. Aplicando a geometria emateriais e técnicas industriais, voltou-separa o International Style (1915/25).Envolveu os estilos pré-modernos como o

Art Nouveau e o Art Déco, estesrespectivamente influenciados pela buscada originalidade e pela padronizaçãoindustrial, além das correntes puristasguiadas pelas vanguardas artísticas(cubismo, neoplasticismo, futurismo, etc.).Seu fator decisivo foi a fundação daBauhaus (1919/33) e difusão de seusprincípios, com o nascimento do design.

GAUDI RULHMANN RED & BLUE(RIETVELD)

BARCELONA(MIES) CHAISE-LONGUE(LECORBUSIER)

EGÍPCIO MUDÉJAR GÓTICO

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Na hora de mobiliar a sala de jantar (dinner room), deve-se considerar a área disponívelpara os móveis essenciais (mesa, cadeira eaparador) e dar preferência aos que melhor seadaptem às necessidades da família e não

prejudiquem o espaço de circulação (ao redorda mesa, que deve ter, no mínimo, 80 cm).

Deve-se evitar mesas muito grandes, o queprejudica seu uso adequado (cada indivíduoocupa, nas mesas retas, um espaço de 60 cmde largura, e nas redondas 50cm, mas comotêm apoio central, as mesas redondas nãopodem ter diâmetro superior a 1.50 m). Edeve-se evitar cadeiras com assentos muitofofos, para que as pessoas possam se sentarmantendo as costas eretas; ou ainda cadeirasmuito pesadas, que prejudicam suamovimentação.

Em salas de jantar, o aparador ou bufê podeservir como apoio-bar, auxiliando no serviço demesa, e será mais útil quando, com prateleirase gavetas, permitir que ali sejam guardadosutensílios. Em alguns casos, poderá servircomo divisória entre a sala de estar e a de jantar, ou ainda como ligação com a cozinha. Acolocação de plantas, quadros de naturezasmortas e tapeçarias abstratas é um excelenterecurso de decoração que contribui para acriação de um ambiente agradável,principalmente quando não existem janelas ouse a vista da sala não for muito boa.

Os quartos (bedrooms) podem não atenderapenas a função de dormir, pois podem incluiratividades que demandam privacidade visuale/ou sonora, como ler e estudar, ou ainda, ouso de equipamentos, como TV e computador.Os armários devem ser colocados o maispróximo possível da entrada, evitando-secontornar a cama para atingi-los. Eles podemser fixos (embutidos), duplos ou do tipo quarto-roupeiro (closet ), que ocupam toda umaparede e comunicam dois ambientes.

Uma das melhores disposições para a cama éparalela à janela, o que fornece boa iluminaçãopara a leitura e facilita sua abertura para ventilação.Pode-se ainda dispor camas em nichos ou vãosformados pelas paredes e armários. Deve-se levarem conta uma circulação mínima de 60 cm noquarto, de modo a garantir acesso a todos ospontos do recinto.

Para dar uma idéia de maior amplitude aodormitório, pode-se pintar o armário damesma cor que as paredes. Se o quarto forescuro, as paredes e móveis claros são osmais indicados. Nos quartos bemiluminados, uma das paredes menores podeser em cor forte e quente, para tornar oambiente mais aconchegante. Enfeites ealmofadas devem combinar com a corbásica da decoração. No chão, carpetes outapetes em cores neutras ou escuras são osindicados, pois dão calor e aconchego.

Em banheiros, o box do chuveiro e a baciasanitária devem ficar bem perto da janela,por causa da ventilação. A bancada da pia éa peça mais usada no banheiro e por issomesmo deve ficar perto da porta. A baciadeve ficar escondida e a banheira só deveser colocada se houver espaço disponível.Os armários servem para guardar toalhas,produtos de higiene, cosméticos e roupassujas. A ventilação fator fundamental,podendo ser conseguida através de uma janela ou duto de ventilação. Visandotambém a iluminação natural, o ideal é quea janela fique à esquerda do espelho ouacima dele, para um perfeito aproveitamentoda luz natural.

Uma cozinha deve ser funcional, bemdimensionada e planejada de forma que asatividades do dia-a-dia desenvolvam-serápida e eficientemente. Ela basicamente éformada três elementos: a geladeira, o fogãoe a pia, além das bancadas de porte. Estesdevem ser distribuídos de maneira que astarefas domésticas possam ser executadascom rapidez e eficiência, mas tudo irádepender do número de pessoas que iráusar a cozinha.

Quanto aos acabamentos, deve-se lembrarque a cozinha é considerada área molhada,portanto, os acabamentos para piso e paredee armários devem ser práticos e resistentes.Usar cerâmica, granito ou laminados plásticose não-porosos. As cores do amarelo aovermelho estimulam o apetite e afugentam osinsetos. As cores frias (azul, verde e lilás) sãomais indicadas para cozinhas pequenas,enquanto que as quentes e fortes paraambientes maiores. Tons neutros são osmenos cansativos.

Em áreas de serviço, independente dotamanho, disposição ou número de peçasque compõem o ambiente, deve-se semprereservar um razoável espaço para a livremovimentação das pessoas. Tanque emáquina-de-lavar, consideradas as peçasbásicas, devem ser colocadas uma ao ladoda outra para facilitar o trabalho e evitarexcesso de respingos de água no chão. Nãose pode esquecer da área para passarroupa, que pode ser com tábua dobrável.

Terraços e varandas devem ser decoradosde forma a darem uma idéia de continuidadedo interior da casa. Assim, se a decoraçãofor requintada, o mesmo conceito deve seraplicado ao terraço. Móveis de junco e vime,por exemplo, prestam-se bem a esse tipo dedecoração.

Escadas devem garantir a segurança dosmoradores, além de seu efeito decorativo.

FÓRMULA BÁSICA: 2h + p > 64 cmsendo: h = altura do degrau (cm)

p = passo do degrau (cm)

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1199 PPAAIISSAAGGIISSMMOO

ARQUITETURA DE EXTERIORES ouPAISAGISMO corresponde ao conjuntode trabalhos de configuração do entornoaberto do homem, ou seja, de toda apaisagem circundante, não só em termosde arborização ou vegetação, mastambém em relação ao mobiliário eequipamentos urbanos, serviços ecomunicação visual da cidade.

O campo de atuação do paisagistavai desde o projeto de parques, bosquese praças públicas até o entorno próximode edificações residenciais, comerciaise industriais, abrangendo tambémescolas, hotéis, clubes, rodovias e

jardins botânicos e zoológicos.

Além das áreas verdes propriamenteditas, o paisagismo trata também dasáreas de circulação; elementos de

informação, iluminação e manutenção;preservação de fachadas e centroshistóricos; e qualificação de áreasdegradadas, associando-se à área depatrimônio histórico..

Constituem os ESPAÇOS VIÁRIOS todasas vias de comunicação intra e extra-urbana, cada qual formando redesespecíficas. Basicamente, distinguem-sena rede viária urbana as ruas e asavenidas, além de outras formas depassagem; assim como as praças, jardins

e largos, vinculados às necessidades detráfego e também de lazer e recreação.

Em relação ás áreas de circulação, asRUAS são vias ao longo das quais asconstruções se enfileiram e AVENIDAS são vias mais largas, dotadas de

arborização na sua faixa central ou nassuas orlas ( boulevares). Diferenciam-sedas ESTRADAS pela maior intensidadede fluxo e pela necessidade de separaçãodo movimento pedestre, bem como pelaexistência de obras não vinculadas aotráfego de veículos. Há ainda as vielas,travessas, alamedas, calçadões erodovias (freeways).

Além das atribuições de condutospara a circulação viária e de meio de

acesso aos imóveis, os espaços viários expõem as fachadas à iluminação eventilação naturais; comportam avegetação e servem de base para ainstalação das redes dos serviçospúblicos. Seu desenho edimensionamento são fundamentais parao funcionamento de uma cidade.

Por sua vez, as PRAÇAS são organismosinerentes às cidades, jamais tendodeixado de participar da composiçãourbana, tão importantes e essenciaissempre foram as funções quedesempenham. A evolução tem-lhesrespeitado o caráter de local deconcentração para as muitasmanifestações da vida social, mas novasfunções têm aparecido (F ERRARI, 1991).

As praças sempre mantêm conexõese interdependências com a rede viária,podendo ser abertas (percebidas àdistância, através das ruas aferentes); semi-abertas ou panorâmicas (situadasà beira-mar, à margem de um rio, lagoou parque;ou ainda, na esplanada deuma elevação); ou fechadas (aquelasalcançadas apenas por vias tangenciais,sendo mais tranqüilas e resguardadas).

Quanto à sua função urbana, as praças podemser classificadas em: praças de circulação (geralmente próximas a terminais detransporte); praças de aglomeração (destinadas à realização de eventos, comofeiras e shows); praças arquitetônicas ou monumentais (de caráter estético) ; praçasornamentais ou decorativas; e praçasrecreativas (FERRARI, 1991).

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As principais funções do paisagismo são:

FUNÇÃO PRESERVATIVA: Visafavorecer o desenvolvimento e aconservação de espécies vegetais eanimais, contribuindo para o equilíbrioambiental (sentido ecológico);

FUNÇÃO ATENUANTE: Reduz diversostipos de fatores adversos ao convíviodas pessoas em determinadas áreas,tais como os efeitos de temperaturaselevadas, ruídos e ventos fortes,inclusive criando barreiras filtrantes depoluentes em suspensão na atmosfera;

FUNÇÃO DECORATIVA: Contribui parao resultado plástico de um conjuntoarquitetônico ou urbanístico, através daconcordância harmoniosa de seuselementos, o que possibilitam arranjosmonumentais e turísticos, além decomunicações estéticas;

FUNÇÃO ESTRUTURAL: Permite acriação de formas e volumes queinfluenciam na conformação ambiental,tais como muros vegetais ou cercasvivas, que servem de elementoslimitadores; além de forrações detaludes, que protegem as camadassuperficiais do solo e impedem aerosão;

FUNÇÃO RECREATIVA: Qualifica umadeterminada área como adequada paraa recreação e o lazer, tanto passivo(lúdico) como ativo (esportivo), atravésda disposição com motivos utilitários oucontemplativos, para o desfrute dosusuários e transeuntes;

FUNÇÃO LUCRATIVA: Valoriza

economicamente uma propriedadeimobiliária, o que recompensa financeirae profissionalmente o paisagista,principalmente através da projeçãopública de sua imagem e de seuempreendedor.

O planejamento de parques e jardinsexternos à edificação constitui em umimportante trabalho de apropriação doespaço do ser humano para as habitaçõese demais funções urbanas. Desde a Antiguidade, o verde esteve sempreassociado às atividades lúdicas.

Os antigos egípcios, persas ehindus criaram jardins de grandeexuberância, estes destinados àcontemplação e ao prazer, de traçadosgeométricos, carregados de valoresreligiosos e simbólicos.

Já os gregos recusavam linhasrígidas, buscando a simplicidade erespeitando a topografia. Seus jardinsocorriam em recintos fechados, ondecultivavam plantas aromáticas emedicinais. Foram os romanos quederam aos jardins um caráterfuncional, criando hortas e pomares.

No Extremo Oriente, os jardins eramplanejados para todos os estados mentaise ocasiões da vida, procurando evidenciarsimbolicamente a essência da natureza:

Pedras e colinas = Yang (força eenergia masculina)

Água e rios = Ying (fluência do espíritoe tranqüilidade feminina)

Bambu = força do indivíduo Lótus = espiritualidade

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Devido aos seus espaços exíguos (1/8 deárea cultivável), o Japão acabou propondouma “miniaturização” do jardim chinês,usando apenas rochas, cascalhos e areiaem diferentes texturas para produzirefeitos belos e exóticos, sempre com apresença da água e do verde.

De bases xintoístas e naturalistas,oJARDIM ORIENTAL ou JAPONÊS caracteriza-se principalmente pelo seuaspecto simbólico, no qual cadaelemento da paisagem – árvore, pedra,tótem, miniatura, etc. – possui um valorde contemplação e reflexão pessoal(Estética Zen).

Foi em Roma que surgiu o HORTUS, um jardim cercado destinado ao cultivo delegumes, ervas, frutas e também flores.Já os jardins de recreação só apareceramno final do século II a.C., caracterizando-se também pelo traçado geométrico,composto por estátuas, pergolados,fontes e bancos, dispostos de formaregular (JELLICOE& JELLICOE, 1995).

Na Idade Média, os jardins

praticamente desapareceram,reduzindo-se a áreas confinadas emclaustros e destinadas ao cultivo. Já aspraças desempenhavam importantepapel no organismo urbano, servindocomo locais de concentração.

Foi a partir do século XVI que essesespaços passaram a ter maiorimportância, adquirindo valor utilitário,principalmente na Itália, na França e naInglaterra. No Renascimento, o JARDIMITALIANO retomou os elementosdecorativos da Roma antiga, explorandoeixos em composições retilíneas.

No século XVII, o Barroco conduziu àexuberância dos jardins, os quais adquiriramgrandiosidade, complexidade e uma rígidadistribuição axial, marcada por perspectivas ea idéia do domínio do homem sobre anatureza. Há uma transformação da paisagemem espetáculo do poder, além da veneraçãoda figura do rei, bastante presente nos jardins

de Versailles, próximos a Paris. Nascia assimo JARDIM FRANCÊS ou CLÁSSICO.

Dominado principalmente pelaperspectiva, caracterizava-se pelo seuaspecto monumental, sua rigidezgeométrica e simetria. Os componentesvegetais eram tomados como elementosconstruídos, o que recaía na monotoniae estaticidade (ciprestes e cercas-vivas).Usavam-se várias estátuas, fontes eespelhos d’água.

No século XVIII, como reação aos franceses e

por influência oriental, os ingleses propuseramuma reaproximação das formas orgânicas enaturais, através de paisagens pitorescas quepropunham uma continuidade com ossistemas existentes. Era o surgimento doJARDIM INGLÊSou ROMÂNTICO.

Criticando a artificialidade clássica,inspirava-se na natureza, baseando-seem traçados mais naturais e dinâmicos.Caminhos sinuosos, prados, lagos ecascatas, compunham um conjunto livree de grande fluidez. Buscava cenários esurpresas, através de ruínas e bosques.

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A partir do século XIX, as transformaçõese diversos problemas decorrentes daindustrialização afastaram o homemurbano da natureza, fazendo surgir o

PARK MOVEMENT, uma tendência deresgate e implantação de áreas verdesnas cidades através de parques urbanos surgida especialmente nos EUA. Seumaior expoente foi Frederick LawOlmstead (1822-1903), criador do CentralPark (1850/58), em Nova York.

Nessa época, c omeçou também apreocupação em introduzir a naturezana casa ( paisagismo interno),estabelecendo uma íntima continuidadeentre edifício e jardim, inclusiveincorporando-o aos interiores. Estaprática já era comum no Oriente, ondeos jardins eram vistos como elementosornamentais dos espaços internos.

No final do século XIX, alguns utopistaspropuseram a organização da cidadecombinada, de forma harmônica, com anatureza, por meio da busca do equilíbriosocial e ambiental, o que fez surgir oconceito de garden-cities ou CIDADES-JARDIM, criado pelo britânico EbenezerHoward (1850-1928). Suas idéiasinfluenciaram o planejamento das cidadese seus greenbelts (CHOAY, 2005).

Até o século XX, o tratamento paisagístico eraregido por normas acadêmicas – as mesmasque eram impostas na arte e arquitetura –,seguindo estilos e intenções plásticasgeralmente universais. A partir doMODERNISMO, os espaços verdes passarama ser trabalhados de modo mais livre,recebendo influência das vanguardas artísticas(Cubismo, Futurismo, Fauvismo,Neoplasticismo, etc.), além de recebereminfluências do pensamento funcionalista. Coma Pós-Modernidade, as variaçõesmultiplicaram-se.

Importante papel teve o paisagistabrasileiro Roberto Burle Marx (1909-94),criador e difusor do JARDIM TROPICAL,no qual se explorava o aspecto escultural

e cromático das espécies vegetais, alémdo forte espírito ecológico, resultando emtraçados livres, assimétricos e coloridos,que influenciaram o mundo todo.

Empreendendo pesquisas ecolecionando flores e plantas, Burle Marxtornou-se um dos maiores paisagistas doséculo XX, cujo valor éinternacionalmente reconhecido.

Algumas espécies por ele descobertasreceberam a designação científica burle-marxii, como: Merianthera burle-marxii,

Aechmea burle-marxii , etc.

Na criação e execução de jardins, asalterações da paisagem devem seravaliadas em volume, trabalho e custo. Após o planejamento, chega-se ao projeto paisagístico, no qual são indicados oscomponentes e seus detalhesconstrutivos, tais como espelhos d’água,pérgulas, esculturas, pisos, etc.

Para se planejar um jardim,praça ou parque são necessáriosalguns fatores:

Conhecer a organização geral do terreno, ouseja, a sua extensão, orientação, caracterespedológicos locais e conformaçãotopográfica;

Pesquisar as condições ecológicasregionais, para auxiliar na definição dasplantas e vegetação em geral;

Considerar fatores climáticos, luminosidadenecessária, freqüência e intensidade daschuvas, e direção dominante do vento;

Definir os elementos de infra-estrutura,como pontos de água, iluminação,circulação, proteção, etc.

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2200 PPAATTRRIIMMÔÔNNIIOO

Uma das áreas de crescente interesse daarquitetura e urbanismo consiste napreservação do patrimônio cultural, tantohistórico como artístico. São várias ascausas que conduziram a atenção dosarquitetos para este campo,principalmente a partir de 1950, entre asquais a revalorização da história, aconstatação da importância do passado eo despertar ecológico da sociedade.

É evidente a existência de diversosfatores que impulsionam odesenvolvimento sócio-econômico e,conseqüentemente, o surgimento denovas necessidades que acabam porinfluenciar o espaço pré-existente, oqual deverá ser adaptado.

Além disto, todas as obras arquitetônicasconstruídas pelo homem estão sujeitas aodesgaste contínuo e inevitável. Este se dá tantopela ação do meio ambiente como pelo seu própriouso e consiste em um desgaste físico, funcional eaté mesmo estético, levando-se em conta que osgostos se modificam, assim como as formas econdições de uso (C HOAY, 2001).

O PATRIMÔNIO CULTURAL de um povoconsiste nos bens históricos e artísticos,materiais ou não, que são preservados demuitas maneiras, visando a garantia damanutenção da memória de sua história ede sua cultura (ARANTES, 1984).

BENS são toda e qualquer obranatural ou produzida pelo homem,passível de valorização, podendo sermóveis ou não.

Denominam-se bens culturais aquelesque representam um determinadoestágio do desenvolvimento de umgrupo social, desde pequenos usos ecostumes até obras eruditas, sendoassim alvo de tombamento pelo poderpúblico ou pelas comunidadesorganizadas.

TOMBAMENTO ou TOMBO é oreconhecimento legal de que uma obra épatrimônio, ou seja, é um dos institutos

jurídicos por meio do qual o Poder Públicodetermina que os bens culturais serãoobjeto de proteção (C ASTRO, 1991).

Seu processo requer uma série decondicionantes que, quase sempre, têmfundo econômico, uma vez que aclassificação dos bens a serempreservados é essencialmente de cunhofinanceiro, pois depende das verbasdisponíveis e das prioridades depreservação.

Em uma cidade, estão sujeitas ao tombamentoquaisquer obras que representem a memóriaurbana, por questões arquitetônicas,simbólicas ou sentimentais. Assim, tantoruínas, edificações incompletas – demolidasou com partes faltosas – e sítiosarqueológicos, como construções recentes,casas modestas e edifícios ainda em usopodem ser tombados como patrimônio. Atémesmo bens naturais (árvores, matas, lagos,etc.) são tombados (IPHAN, 2009).

OOBBSSOOLLEESSCCÊÊNNCCIIAA DDEE UUMMAA OOBBRRAA

AARRQQUUIITTEETTÔÔNNIICCAA

A longo prazo(Intempéries, recalques, etc.)

CAUSASNATURAIS (produzidas pela Natureza)

CAUSASARTIFICIAIS (produzidas pelo Homem)

A curto prazo(Terremotos, vendavais, etc.)

A curto prazo(Guerras, explosões, etc.)

A longo prazo(Uso, intervenções, etc.)

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PRESERVAÇÃO (do latim praeservare =observar previamente) tem o sentidoatualmente de guardar ou conservar os bensculturais para os próximos tempos, sendobasicamente uma medida político-administrativa. Sua metodologia é bastanterecente, datando do século XIX, e tem variadoconforme as posturas que se tomam diante dopassado.

É possível apontar 03 (três) fases naevolução da Teoria Preservacionista :

FASE MONUMENTALISTA (Do séculoXIX a 1945): Quando a preservação dopatrimônio cultural limitava-se àpreservação de fragmentos do tecidourbano, especialmente edifícios ou“monumentos” de excepcional valorhistórico e artístico.

O critério que norteava talclassificação baseava-se em conceitosestéticos (o mais belo, segundo asnormas estilísticas) e de antigüidade (omais antigo, sendo seu tempo deexistência). Isto provocou a devastaçãode grandes áreas e perda significativado patrimônio vernacular.

FASE HISTORICISTA (1945-1970):

Quando a ideologia domonumentalismo entrou em crise epassou- se a valorizar os “centroshistóricos”, ainda entendidos como ummonumento a ser preservado. Isto sedeu devido à preocupação européia dereconstruir as cidades pós-guerra, oque deu um grande impulso àreabilitação urbana.

Esta valorização dos “centros” acabapor expulsar seus antigos moradores, oque promove uma periferização maiordas cidades. Importante papel teve aCarta de Veneza (1964).

FASE AMBIENTALISTA (De 1970 emdiante): Quando surgiu a preocupaçãocom o edifício e o ambiente através daConferência de Estocolmo sobre o

meio ambiente, realizada em 1972. Aqui, discutiu-se a preservação dopatrimônio cultural como premissabásica para o desenvolvimento social ecomo instrumento para a melhoria daqualidade de vida urbana. Deste modo,defende-se a manutenção dascondições locais de vida, sem“maquiagens” (CHOAY, 2001).

No Brasil, a Teoria Preservacionista temseu desenvolvimento bastante lento emuito recente. No século XVIII, surgiramalgumas iniciativas isoladas, e no início doséculo XX, apareceram debates sobre aquestão da formação do caráter eidentidade nacionais, o que pode serexemplificado pelo MOVIMENTONEOCOLONIAL, que buscava um estiloidentificado com a cultura brasileira.Contudo, foi no Estado Novo (1937/45),que o preservacionismo afirmou-se.

Em 1938, fundou-se o SERVIÇO DEPATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICONACIONAL – SPHAN (hoje Instituto), o qualadotou as primeiras medidas efetivas deproteção de monumentos isolados no país.Durante seus primeiros 30 anos, preocupou-sefundamentalmente com o estudo e análise daarte brasileira e a institucionalização dapreservação no Brasil, relegando as questõesconceituais e metodológicas a um planosecundário.

Foi uma segunda geração dearquitetos do IPHAN, lideradaprincipalmente por Lúcio Costa (1902-

98), que começou a cobrar do órgãouma orientação unificada e colocar emprática o preservacionismo no país.

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Particularmente, existem 02 (duas) açõesque visam sanar o mau estado de umaconstrução, as quais são essencialmentepráticas:

CONSERVAÇÃO: Constitui-se em umaintervenção física na própria matéria deum edifício para assegurar suaintegridade estrutural ou estética(trabalho contínuo de manutenção)(C ASTELNOU, 1992).

RECONSTRUÇÃO. Consiste no resgatede um passado arquitetônico perdido, ouseja, no “re-feitio” a partir da reproduçãode partes destruídas, da construção deréplicas ou da substituição de elementos

desaparecidos.Por RESTAURAÇÃO entende-se a medidatécnica de recuperar uma obra, o que podeacontecer de 02 (dois) modos: fazendo-seuma “reversão” ao estado original – o quepressupõe uma reconstituição histórica – oufazendo uma “intervenção” da obra em si,respeitando entretanto seu caráter, função eforma.

O RESTAURO envolve váriasetapas, tais como: a limpeza dosescombros e catalogação dos materiaisencontrados; a consolidação dasestruturas e tratamento das instalaçõescomplementares; a decoração erecuperação dos acabamentos,esquadrias e vidros, etc.

Visando preservar a exata estruturaoriginal da edificação, a restauração não impede que se aplique algumassoluções técnicas contemporâneas, taiscomo processos de injeção de concretoem fendas e alicerces; eliminação deinfiltrações ou aplicação de abrasivoscom areia na limpeza e de produtosquímicos para a descupinização.

A REVITALIZAÇÃO consiste na restruturaçãode uma obra arquitetônica, ou seja, em umasérie de trabalhos que visam revitalizar – “darnova vida” – ou reabilitar – “dar novahabilidade” – a determinada obra que seencontra em deterioração ou mesmo desuso.Para tanto, permite-se reformular algunscomponentes (elementos constituintes),associar novas funções e acrescentarintenções, desde que se mantenha total ouparcialmente o caráter original.

Denomina-se REABILITAÇÃO ou REVITALIZAÇÃO URBANA a estratégiade gestão urbana que procurarequalificar a cidade existente atravésde intervenções múltiplas, destinadas avalorizar as potencialidades sócio-econômicas e funcionais de um espaçopúblico, a fim de melhorar a qualidadede vida das populações. Isto exige amelhoria das condições físicas pela suarevitalização e instalação deequipamentos, infra-estruturas eespaços, mantendo a identidade e ascaracterísticas da área da cidade a quedizem respeito.

Basicamente, é chamada RECICLAGEM areutilização de um edifício, ou melhor, uma

adaptação a novos usos. Reciclar é iniciar umnovo ciclo de utilização da obra, o que podeser feito não só com a mudança de função damesma como da sua forma e até caráter. Vaidesde a modernização da aparência até oaproveitamento do valor econômico ousentimental da obra (FITCH, 1981).

Por REQUALIFICAÇÃO ouRENOVAÇÃO URBANA entende-se aação que implica na demolição dasestruturas morfológicas e tipológicaspré-existentes em uma área degradadae a sua conseqüente substituição porum novo padrão urbano, com novasedificações (construídas seguindotipologias arquitetônicascontemporâneas), atribuindo uma novaestrutura funcional a essa área.

Trata-se enfim de operações destinadas a tornar adar uma atividade adaptada a esse local e nocontexto atual. Hoje, tal estratégia desenvolveu-sesobre tecidos urbanos degradados aos quais nãose reconhece valor como patrimônio arquitetônicoou conjunto urbano a preservar.

A harmonização entre o antigo e o novo podepassar por vários níveis, dependendo dos graus deintervenção arquitetônica, geralmente divididos em03 (três): sutil (respeito completo ao pré-existente,tanto formal como funcionalmente); equilibrado

(repetição, unificação ou contraposição deelementos) e radical (fortes contrastes de formas,materiais e cores).

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CCOONNCCLLUUSSÃÃOO

Conforme a UNIÃO INTERNACIONAL DEARQUITETOS – UIA, preocupada com aeducação dos futuros profissionais em ummundo em rápida transformação, sãoestes os principais pontos para nossaformação técnica e acadêmica atual:

Que – uma vez que a nova era traráimportantes e complexos desafios comrespeito à degradação social e funcional dosassentos humanos caracterizados pelacarência de habitação e serviços urbanos paramilhares de habitantes e pela crescenteexclusão de projetos com conteúdos sociais – todos os projetos e pesquisas nas instituiçõesacadêmicas voltem-se para a formulação denovas soluções tecnológicas para o futuro;

Que – tendo em vista que a arquitetura, aqualidade das edificações, o modo como serelacionam com o seu entorno e o respeito aoambiente natural e construído, tanto quanto aherança cultural coletiva e individual, sãomatérias de interesse público – haja tambéminteresse para assegurar que os arquitetossejam aptos a compreender e dar respostaspráticas às necessidades de indivíduos,grupos sociais e comunidades, levando em

conta o planejamento espacial e a construçãode edifícios, bem como a conservação evalorização do patrimônio construído, aproteção do equilíbrio natural e a utilizaçãoracional de recursos;

Que – embora os métodos de educação etreinamento para os arquitetos sejam muitovariados, o que constitui uma riqueza culturalque deve ser preservada – deve-seestabelecer uma base comum para a futuraação, não somente em metodologiaspedagógicas, como também na aquisição deum nível elevado apropriado, estabelecendocritérios que permitam às nações, escolas eorganizações profissionais avaliar eaperfeiçoar a educação oferecida aos futurosarquitetos;

Que a visão do mundo futuro, cultivada nasescolas de arquitetura, deve incluir osseguintes objetivos: uma qualidade de vidadecente para todos os habitantes dosassentamentos humanos; um uso tecnológicoque respeite as necessidades sociais, culturaise estéticas do povo; um equilíbrio ecológico edesenvolvimento sustentável do ambiente

construído; e uma arquitetura que sejavalorizada como patrimônio e responsabilidadede todos.

RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS BBIIBBLLIIOOGGRRÁÁFFIICCAASS

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