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Draft version for this Conference use only. Do not quote without author’s permission. Antigas e novas plantas de América a Europa: batatas, milho e nova genética de milho ODH (1800-1940). Bruno Esperante Paramos (Facultade de Xeografía e Historia da Universidade de Santiago de Compostela) ([email protected]) Beatríz Corbacho González (Facultade de Xeografía e Historia da Universidade de Santiago de Compostela) ([email protected]) Miguel Cabo Villaverde (Facultade de Xeografía e Historia da Universidade de Santiago de Compostela) ([email protected]) Lourenzo Fernández Prieto (Facultade de Xeografía e Historia da Universidade de Santiago de Compostela) ([email protected]) _____________________________________________________________________________ Abstract: Reflexionamos sobre o processo de extensão final de milho e batata na agricultura atlântica peninsular galega nos século XIX e XX, em canto processo de inovação que permitiu uma rápida circulação de um novo alimento para o gado desde a América para a Europa. Pomos especial atenção para o período de 1890-1940 no território da Galiza, em que se encontra um processo de melhoramento genético de alto interesse científico. A nova ciência genética desenvolveu novas plantas de milho híbrido dobres que funcionam a partir da terceira década do século XX. Concentrar-nos-emos neste relatório em descrever as condições nas que a historiografia modernista descreve a primeira introdução e difusão para analisar despois o quadro institucional e social que permitiu essas mudanças genéticas no século XX. Falaremos sobre redes de conhecimento, sistema de inovação e suas ferramentas institucionais e sociais. Em suma, vamos continuar durante toda a viagem de conhecimento e sementes que cruzou o Atlântico a partir de lugares como a Connecticut Experiment Station (1918), até outros como a Misión Biolóxica de Galicia(1923) e assim por diante. _____________________________________________________________________________

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  • Draft version for this Conference use only. Do not quote without authors permission.

    Antigas e novas plantas de Amrica a Europa: batatas, milho e nova gentica de milho ODH (1800-1940).

    Bruno Esperante Paramos

    (Facultade de Xeografa e Historia da Universidade de Santiago de Compostela) ([email protected])

    Beatrz Corbacho Gonzlez (Facultade de Xeografa e Historia da Universidade de Santiago de Compostela)

    ([email protected])

    Miguel Cabo Villaverde (Facultade de Xeografa e Historia da Universidade de Santiago de Compostela)

    ([email protected])

    Lourenzo Fernndez Prieto (Facultade de Xeografa e Historia da Universidade de Santiago de Compostela)

    ([email protected])

    _____________________________________________________________________________

    Abstract: Reflexionamos sobre o processo de extenso final de milho e batata na agricultura atlntica peninsular galega nos sculo XIX e XX, em canto processo de inovao que permitiu uma rpida circulao de um novo alimento para o gado desde a Amrica para a Europa. Pomos especial ateno para o perodo de 1890-1940 no territrio da Galiza, em que se encontra um processo de melhoramento gentico de alto interesse cientfico. A nova cincia gentica desenvolveu novas plantas de milho hbrido dobres que funcionam a partir da terceira dcada do sculo XX. Concentrar-nos-emos neste relatrio em descrever as condies nas que a historiografia modernista descreve a primeira introduo e difuso para analisar despois o quadro institucional e social que permitiu essas mudanas genticas no sculo XX. Falaremos sobre redes de conhecimento, sistema de inovao e suas ferramentas institucionais e sociais. Em suma, vamos continuar durante toda a viagem de conhecimento e sementes que cruzou o Atlntico a partir de lugares como a Connecticut Experiment Station (1918), at outros como a Misin Biolxica de Galicia(1923) e assim por diante.

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    1. Introduo de novas plantas de Amrica a Europa: batatas, milho SS. XVII-XX

    O conhecimento e introduo do milho no sistema agrrio da Europa do Antigo Regmen foi, sem dvida, um dos principais transvases culturais que se derivaram da conquista do Novo Mundo. Da sua introduo pelo sul da pennsula rapidamente passa a ganhar terras de toda a pennsula ibrica e europeias. Mas conhecemos ainda pouco e com alguns equvocos e confuses. Alguns autores consideram que para passar de cultivo curioso a cultivo de primeira necessidade tive que acontecer as graves crises de subsistncia como a de 1590-1591 em Itlia, ou a de 1598-1600 no marco asturiano. Assim pois, a planta, que j era conhecida, necessitou um estmulo vital que operou como autntica lanadeira1. Mas alm disso, tambm houve processos culturais e sociais de inovao non sempre bem conhecidos nem pesquisados e com alguns erros e tpicos, como a atribuio aristocratas e eclesisticos o papel de impulsores da inovao entre os ignorantes camponeses.

    O tratamento historiogrfico descobre-nos algumas realidades mas complexas. A problemtica da introduo, aclimatao e expanso do milho cultivado na Galiza tem sido abordada na historiografia galega, por volta de 19002, coincidindo coa poca do que temos definido como modernismo tcnico agrcola (M. Cabo e L. Fernndez Prieto, 1998).

    No obstante, mbolos os autores cometiam o erro de tentar captar o volume de cultivo de milho atravs do pago de rendas. bem sabido que o regime foral estava submetido, como contrato de arrendamento a comprido prazo, a uma rutina que se manifestava na natureza das rendas estipuladas, o que contrastava com o dinamismo dos sistemas de cultivo. assim que conforme trunfa o milho, o quadro estipulado das rendas forais no responde em nada ou muito pouco a produo real. Esta limitada via de investigao, justificvel para a sua poca, situava a introduo do milho para comeos do sculo XVII, deixando para a seguinte centria a sua vulgarizao, uma concluso repetida na bibliografia posterior3.

    Cronologicamente, o segundo enfoque historiogrfico que enfrenta a problemtica do milho, arranca da escola de modernistas galegos dirigidos pelo professor Eiras Roel. Pode seguir-se esta investigao ao comprido dend 1973. Esta linha questionou no tanto o quando como o jeito da sua acolhida e analisa a varejo as transformaes agrrias que puderam gerar-se do milho. Em vez das rendas forais, fixaram-se nos inventrios post-mortem. Estas escritas, localizveis nos protocolos notariais, ofereceram-nos um quadro muito detalhado dos celeiros camponeses referindo-se a varejo as espcies de cereais conservadas cuidadosamente em arcas, sacos, hrreos e outros lugares menos comuns4. Uns celeiros camponeses que empeam a competir cos dos senhores e que s aparecem quando tenham coisa que guardar, graas ao cultivo das plantas americanas.

    1PREZ GARCA, X.M. (1982): O millo en Galicia. Un estado da cuestin, (pp. 87-104), en: Revista galega de estudios agrarios. N:7-8, p. 87. 2 Podemos identificar no artigo de Manuel Murga a primeira publicao acerca do milho no Boletn da Real Academia Galega, 1907-1909. Na revista Prcticas Modernas uns anos antes j tratara a questo, considerando surpreendentemente a hiptese de que o milho j fosse cultivado nalgumas regies europeias (sem excluir a possibilidade de que Galiza fosse unha delas) dend a Idade Media: MURGUA, M. Cundo se generaliz el cultivo del maz en Galicia?, Prcticas Modernas (n63 1-VIII-1905 e n 64 15-VIII-1905). Anos mas tarde Fermn Bouza Brey em 1953 volvia sobre a mesma questo sem aportar de fato alguma inovao. 3Dend Otero Pedrayo, Vicens Vives, Garcia Lombardero, Garca Fernndez ou A. Bouhier. En: PREZ GARCA, X.M. (1982): O millo en Galicia. Un estado da cuestin, (pp. 87-104), en: Revista galega de estudios agrarios. N:7-8, pp. 88-89. 4PREZ GARCA, X.M. (1982): O millo en Galicia. Un estado da cuestin, (pp. 87-104), en: Revista galega de estudios agrarios. N:7-8, p. 90.

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    Este artigo no e que um percurso sobre a questo do milho, pois sendo esta central no esqueamos tambm outros cultivos americanos como a batata.

    1.1 Introduo das novas plantas americanas na Galiza. Milho, batata, chocolate, caf,

    tabaco, pimentos, tomates...

    ...mais til foi a Espanha a primeira espiga de milho trada de Amrica para ser sementada que todo o cerro do Potos.

    Padre Fr. Martn Sarmiento, sculo XVIII.

    Estimasse habitualmente que as primeiras semilhas de milho chegadas pennsula dend Amrica, no redor do ano 1500 por Andaluzia, estendesse rapidamente pelo sul do Portugal. No obstante, a batata deveu-se conhecer mas tardiamente. Este facto poderia estar ligado possivelmente rea original do tubrculo, mas afastada como so as cordilheiras andinas, onde os exploradores europeus no chegaram ate o 1532 quando ascenderam aos Andes para apoderar-se da localidade que hoje dia conhecemos como Cajamarca5.

    Para a Galiza, a primeira referncia que temos segura do milho data do 1610, no Barbanza, a seguinte som oito anos mas tarde, desta vez no Morrazo, em Cangas, 1618. Para quando o milho chegou a Galiza pelas Ras Baixas, este j levava uma dzia de anos cultivando-se nalgumas zonas do litoral cantbrico e assim como no sul peninsular. Pelo que sabemos sobre a procedncia da nova planta, o retraso na adopo do milho da rea tudense e minhota (lindeira com Portugal) e mindoniense cantbrica (lindeira com Asturias) faz-nos suspeitar que provavelmente a sua introduo fora martima. Descartar-se-ia assim a procedncia portuguesa ou asturiana6.

    Detectada a sua presena, o passo decisivo para cultiva-lo milho a escala no seria ate a onda de malas colheitas de 1626-1633. A iniciativa viria no tanto dos lavradores excedentrios, seno daqueles outros com dificuldades para a subsistncia. Ser para esses anos quando se poder ver aos lavradores de quase todas as Rias Baixas semear e comer milho, ou tambm chamado nesse momento, mijo grueso, manzo, ou mijo manzo. Os bons rendimentos obtidos permitem uma rpida expanso que converte ao novo cereal no mas importante da zona em coisa de trinta anos. O impacto foi tal que um dos representantes na Junta do Reino da Galiza, manifestava desta forma ao redor do 1637: "o cereal abundante com tanto extremo era o milho (...) as casas esto cheias de sementes de milho7. Desde logo, esta boa valorao do milho faz-se a costa de outro cereal de similares caractersticas e tempos de cultivo, o milho autctone, o qual, por outra parte, ver-se- avocado marginalidade progressiva ante o empurre do milho, ao que cede mesmo o nome para passar a abrao milho mido ou milln.

    Outra histria bem diferente supe o milho para a Galiza interior. Este manteve-se como um cereal secundrio durante todo o sculo XVII, sobretudo pelo clima, e inclusive foi desconhecido em zonas excetuando os vales abrigados como os do Ribeiro. Para o interior em geral, haveria que espera ate a crise de 1768 ou ate o XIX para que o milho ganhasse terreno de forma considervel. Os ritmos de adopo do milho eram mas demorados isso sim, para a

    5 MASSON MEISS, L. (1991): La papa entre las grandes culturas andinas., (pp. 11-72), en: LPEZ LINAGE, J.: De papa a patata. La difusin del tubrculo andino. Ministerio de agricultura, pesa y alimentacin. Madrid, p.37. 6 Inventrio de Juan Lampn. 09/10/1610., em: PREZ GARCA, X.M. (1982): O millo en Galicia. Un estado da cuestin, (pp. 87-104), en: Revista galega de estudios agrarios. N:7-8, pp. 91, p. 97. 7PREZ GARCA, X.M. (1982): O millo en Galicia. Un estado da cuestin, (pp. 87-104), en: Revista galega de estudios agrarios. N:7-8, pp. 97-98.

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    marinha mindoniense, terras de Santiago e Betanzos. Ao invs e como j se disse, no interior o milho s lograva implantar-se nalguns vales recolhidos, pelo que no resto do interior de Lugo e Ourense ate o sculo XX, dizer po era dizer centeio8.

    Para o sculo XVIII, o milho convertesse no cereal quase hegemnico no litoral ocidental galego. Este tinha presena em entre 8 e 9 reas sobre 10 de trreo cultivado a cereal. Isso quer dizer que para os cereais tradicionais, centeio ou trigo s quedava reservado um 10% do trreo. Como j se citou, o grande prejudicado era o milho mido mas para finais do sculo XVIII e comeos do XIX vai-se desenvolvendo um grande processo de transformao de rotaes complexas de cereais europeus e americanos, cultivos forrageiros e prados, bem estudado por (D. Soto, 2006) que vai gerando um sistema de poli-cultivo, reduzindo o alqueive e garantindo a alimentao e humana assim como importantes incrementos de renda. Um novo sistema revolucionrio que no pode entender-se sem as inovao das plantas americanas nos dois sculos prvios. O cultivo esmerado que requere o milho, com muitos lavores e mui intensivo em mau de obra, estendesse na prtica a tudo o agro cultivado (L. Fernndez Prieto, 1992). A possibilidade do sistema depende de obter abono suficiente que tambm garantido a travs do uso dos baldios9.

    Explicada a evoluo e ritmos de adopo do milho, temos que perguntarmos que modificaes sups para a agricultura e sociedade galega. Para comear, foi responsvel de criar um modelo evolutivo que rompe com o desenvolvimento paralelo com muitas regies da pennsula e europeias. Isto traduzido, significa fazer referncia aos altos rendimentos que proporcionava o milho, sobretudo nas Rias Baixas e que possibilitaria tanto o aumento da populao como a acentuao do reparto de terras e portanto, o acrescentamento do minifndio to arguido com posterioridade.

    Os envolvimentos demogrficos foram evidentes, tendo em conta que Galiza no sculo XVI superava ligeiramente os 600.000hab., em 1752 a populao situar-se-ia cerca do 1.300.000hab, representando o 108% da populao espanhola em 1800 e o 115% em 1860. Um efeito colateral daquele desenvolvimento seria o basculamento da populao ao longo desses dois sculos do interior costa galega, tal e como se distribuem a maioria da populao no atual sculo XXI10.

    J se tem citado os enormes rendimentos por hectare do novo cultivo em comparao com outros cereais. Em base a esses rendimentos, estruturou-se de novo o agrossistema galego por completo. Comeou um sistema de rotura-co de novas terras vez que se reduziam as reas de pastoreio para dedica-las cultivo do cereal. Isto influiu nas caractersticas da cabana ganadeira galega, que viu como se reduziam tanto o nmero como o tipo de cabeas de gado dedicadas a extensivo, para passar a outras mas adequadas explorao intensiva e estabulada11.

    8SAAVEDRA, P. (1992): La Introduccin del maz y la patata en Galicia, (pp. 202-207), en: Galicia e Amrica: cinco siglos de historia. Consellera de Relacins Institucionais e Portavoz do Goberno. Consello da Cultura Galega. Santiago de Compostela, pp. 202-204. 9 Tese em preparao de Beatriz Corbacho Gonzlez. Bolseira FPI no grupo de investigao Histagra. Departamento de Historia Contempornea e de Amrica. Universidade de Santiago de Compostela. Galiza-Espanha. 10 Hoje a Galiza representa o 6% da populao espanhola em: (X. Carmona:2001), (X. Fernndez Leiceaga: 2000), (E. Lpez Iglesias: 2000), tambm em: PREZ GARCA, X.M. (1982): O millo en Galicia. Un estado da cuestin, (pp. 87-104), en: Revista galega de estudios agrarios. N:7-8, pp. 99. 11PREZ GARCA, X.M. (1982): O millo en Galicia. Un estado da cuestin., (pp. 87-104), en: Revista galega de estudios agrarios. N:7-8, pp. 98-101.

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    Ate aqui escreveu-se s do milho, mas sim se a renovao agrria do litoral galego veio da mo da introduo do milho, para o interior galego veio da mo (excetuando os vales abrigados) da introduo da batata.

    Sabemos que este cultivo j se conhecia na Galiza desde o 1570, (quando a sementaram os frades na parquia de Herbn). Embargante, no ser ate o sculo XVIII quando comece a ter verdadeira importncia12.

    A batata estendesse preferentemente pelo interior galego. Concretamente pela antiga provncia de Mondoedo, dum jeito em certo modo complementrio ao do milho por algum tempo. O ciclo de fomes de finais do XVIII facilitaria o passo de ser alimento de animais a ser dos lavradores mais pobres. A diferena do milho, esta planta americana encontrava grandes obstculos de tipo econmico, social e cultural. Tinha m considerao entre os paisanos, motivada porque era um fruto criado baixo a terra e prprio de porcos. Com tempo, revelar-se-ia tambm como uma inimiga de preceptores de dzimos e rendas proporcionais13.

    Disto, do-nos conta a srie de aes judiciais empreendidas pelos preceptores de dzimos e que conformam o groso da documentao do sculo XVIII para A Galiza. De fato, para o XVIII, som precisamente os pleitos os que nos permitem seguir a expanso da batata. Para o XIX, os dicionrios de Miano e Madoz facilitam igualmente aproximaes da situao do cultivo, sobretudo, para a primeira metade de sculo. Como exemplo, a referncia mais antiga que se conserva dum pleito data de 1736, pelo proco de Santiago de Bravos, antiga provncia de Mondoedo, contra os seus feri-grses por negar-se estes a pagar o dzimo da batata. Em realidade, na maioria dos pleitos os lavradores negavam-se a pagar justificando-se no fato de no cultivar a batata em terras de lavradio, seno noutras terras incultas, speras ou mais ruins. Outros obstculos expanso da batata estavam relacionados com as doenas que a atacavam. Uma destas ondas de peste, como a de 1850 a 1860 reduziram consideravelmente a sua expanso. No momento, a superao desta crise no passava por outro caminho mas que pela adopo de novas ou mas resistentes variedades ao fungo phytophthora infestans14. Seja como for, com estas vagas de pestes descobriramos quanto de grandes eram as dependncias alimentcias das sociedades coa batata, e no s coa bem conhecida Great famine em Irlanda, se no que tambm em toda a Europa15.

    A parte do milho e da batata, tambm no nos podemos esquecer de outros cultivos de origem americana e introduzidos, j bem atravs do seu consumo como o chocolate, caf ou tabaco; j bem atravs do cultivo hortofructicola como o tomate ou o pimento. Os cmbios na dieta que supuseram estes cultivos no se pode menosprezar. O chocolate e o caf, eram considerados remdios mdicos contra doenas, outros, como o tabaco estendesse com tanta popularidade e demanda que viria a justificar a construo da Real Fbrica de Tabacos da

    12SAAVEDRA, P. (1992): La Introduccin del maz y la patata en Galicia, (pp. 202-207), en: Galicia e Amrica: cinco siglos de historia. Consellera de Relacins Institucionais e Portavoz do Goberno. Consello da Cultura Galega. Santiago de Compostela, p. 204. 13SAAVEDRA, P. (1992): La Introduccin del maz y la patata en Galicia, (pp. 202-207), en: Galicia e Amrica: cinco siglos de historia. Consellera de Relacins Institucionais e Portavoz do Goberno. Consello da Cultura Galega. Santiago de Compostelap, p. 206. 14 DOPICO, F., RODRGUEZ GALDO, M.X. (1980): Novos cultivos e agricultura tradicional: a pataca en Galicia nos sculos XVIII e XIX, (pp. 11-35), en: Revista galega de estudios agrarios. N: 3, pp. 15 e 21.e DOPICO, F., RODRGUEZ GALDO, X.M. (1981): Crisis agrarias y crecimiento econmico en Galicia en el S.XIX. Do castro, Sada, p. 61. 15 GRDA, C., PAPING, R., VANHAUTE, E.: When the potato failed : causes and effects of the 'last'

    European subsistence crisis, 1845-1850. Brepols, Turnhout, 2007.

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    Corua no 180416. Por outra parte, o pimento hoje em dia faz parte integral da gastronomia galega, reservando-lhe junto ao tomate uma parte essencial de qualquer horta camponesa.

    Pela banda dos cultivos que aqui tratamos mas profusamente como a batata, esta supunha uma autntica aplice de seguros contra a fome, garantia alimentao sim se as chuvas estropeavam o milho que ademais, fazia engordar a batata. Tendo em conta ademais que em muitos casos encontrava-se numa situao de baleiro legal com respeito ao pago de rendas em espcie; as colheitas de batata no Inverno reduziam o consumo de milho, liberando-o assim para alimentar a mas numero de gado ou usa-lo para a exportao17.

    S com o contributo destes cultivos pode-se perceber o crescimento agrrio galego refletido no crescimento da sua populao. Um crescimento que supunha para a poca um maior peso demogrfico com respeito ao resto de Espanha para princpios do sculo XIX. No em vo, faz tempo que a batata encontra-se para os investigadores associado ascenso da populao. Um caso comparativo som os estudos clssicos da histria econmica em Irlanda como (R. N. Salaman, 1943; K. H. CONNEL, 1962; M.DRAKE, 1963). De forma mais recente tambm temos que citar a (C. Grda, R. Paping e E. Vanhaute, 2007). Tudo isto, sem esquecer ao milho, o grande protagonista do aumento da populao para meados do sculo XVIII, e que revelava ademais uma clara superioridade do litoral atlntico, dizer, a zona onde a presencia do milho fora anterior e mais contundente18.

    1.2 Melhoras genticas a raiz da intensificao agraria do primeiro tero do XX.

    Falamos ate aqui da introduo das plantas americanas e da sua expanso e consolidao no sistema agrrio galego. Agora trataremos os cmbios aos que foram sujeito para finais do sculo XIX e comeos do XX.

    Durante todo o oitocentos tanto o milho como a batata alcanam para a segunda metade do sculo a sua mxima extenso territorial. Desta forma Galiza passa a ser um pas importador a exportador de graus na dcada de 1820. Para finais da centria os alicerces do complexo poli-cultivo galego estavam praticamente configurado em toda a sua intensidade. Um sistema agrrio que proporcionava ademais, vinho, leguminosas e outros vrios produtos19.

    Embargante e nesta situao, estala na dcada de 1870 e 1880 a crise fine-secular. Os baixos preos dos produtos agrrios vindos dos novos pases americanos, sobretudo, carne congelada e cerais afetam a todos os produtores europeus. Ante este panorama, a intensificao, especializao ou a reorientao da produo na busca de novos mercados som algumas das novas necessidades das agriculturas europeias e, entre elas, a galega. Os Estados nao liberais desacreditam do laissez-faire que se vinha praticando e intervenham protegendo aos produtores afogados pelos baixos preos americanos. A interveno do Estado no s ser a base de impostos, se no que tambm ser atravs da construo duma estrutura de

    16SAAVEDRA, P. (1992): La Introduccin del maz y la patata en Galicia, (pp. 202-207), en: Galicia e Amrica: cinco siglos de historia. Consellera de Relacins Institucionais e Portavoz do Goberno. Consello da Cultura Galega. Santiago de Compostela, p. 207. 17 DOPICO, F., RODRGUEZ GALDO, M.X. (1980): Novos cultivos e agricultura tradicional: a pataca en Galicia nos sculos XVIII e XIX, (pp. 11-35), en: Revista galega de estudios agrarios. N: 3, p. 20 e 31. 18 DOPICO, F., RODRGUEZ GALDO, X.M. (1981): Crisis agrarias y crecimiento econmico en Galicia en el S.XIX. Do Castro, Sada, p. 38. 19DOPICO, F., RODRGUEZ GALDO, M.X. (1980): Novos cultivos e agricultura tradicional: a pataca en Galicia nos sculos XVIII e XIX, (pp. 11-35), en: Revista galega de estudios agrarios. N: 3, pp. 11-12.

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    investigao e inovao no mbito da agricultura para apoiar a necessria renovao produtiva20.

    aqui nesta nova finalidade do Estado na que se inserem s lgicas que explicam a criao de instituies nas que desenvolveram investigaes e trabalhos os engenheiros agrnomos, florestais ou genticos como Cruz Gallstegui na Misin Bioloxica da Galiza. Fundamentalmente, imitasse modelos de inovao tecnolgica ali onde j existiam. Pases como os USA j levavam anos com instituies de inovao devido s especiais lavouras de colonizao agrcola no centro do pas. A instituies norte-americanas como a Connecticut Agricultural Experiment Station, viajam investigadores como Cruz Gallstegui em 1918 para formar-se com D.F. Jones, responsvel da estao norte-americana e logo mentor del.

    O Estado espanhol define em 1887 o modelo francs das Granjas-Escola de Experimentao como um guia a seguir. Entre as varias que se fundam nesses anos est a Granxa-Escola da Corua criada em 1888. Anos despois criasse em 1921 a Misin Biolxica, a qual junto coa Granxa da Corua serviram como canal dos intentos de penetrao de novos cultivos, variedades e melhora dos cultivos tradicionais21. Os trabalho levados a cabo por ambas instituio observara-se sobretudo no perodo 1921-1935.

    Embolas duas instituies formam parte do quadro institucional que o Estado espanhol cria dend a etapa poltica da restaurao, passando pla ditadura de Primo de Rivera e culminando na tera dcada dos XX na II Repblica. A instaurao em 1933 do IIA (Instituto de Investigaes Agrarias) simboliza o medre das estruturas de inovao, assim como tambm o medre do financiamento e o aumento da experincia histrica acumulada na aplicao da cincia agricultura22.

    A lavoura de Cruz Gallstegui e a obteno de milhos duplas hbridos (O.D.H)

    Para falar de Cruz Gallstegui Unamuno, temos que falar do nascimento da Misin Biolxica da Galiza em 1921, quando a Junta de Ampliacin de Estudios decide criar um centro de investigaes biolgicas no que designa jovem Cruz Gallstegui para dirigir as investigaes23. Esta instituio ser a origem dos ensaios encaminhados obteno do milho hbrido para obter os melhores rendimentos deste produto.

    Por que se queria fazer tal coisa? Como resultado da crise fine-secular, o novo mercado mundial de produtos agrrios requeria da necessidade de procurar novas vantagens competitivas que s era possvel conseguir atravs dos mas inovadores avanos que podia oferecer a cincia aplicada agricultura. Neste objetivo trabalharia Cruz Gallstegui dend a Misin Biolxica, mas no s, se no que tambm o faria Ricardo de Escauriaza dend a Granxa da Corua. mbolos dois teriam como prioridade o aumento dos rendimentos do milho conseguida finalmente pelas sementes duplas hbridas obtidas por Gallstegui.

    20 FERNNDEZ PRIETO, L. (1992): Labregos con ciencia. Estado, sociedade e innovacin tecnolxica na agricultura galega, 1850-1939. Xerais, Vigo, p.422. 21 FERNNDEZ PRIETO, L. (1992): Labregos con ciencia. Estado, sociedade e innovacin tecnolxica na agricultura galega, 1850-1939. Xerais, Vigo., p.423. 22FERNNDEZ PRIETO, L. (2007): El apagn tecnolgico del franquismo. Estado e innovacin en la agricultura espaola del siglo XX. Tirant lo Blanch, Valencia, p.137 23POUSA ANTELO, A. (2005): Don Cruz Gallstegui. O home dos millos hbridos, (pp. 9-12) en: Murgua.

    N:5, p. 9.

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    O gentico de origem basco explicava desta forma o objetivo final que se perseguia aumentando os rendimentos do cultivo do milho: H regies que salvam o retraso do seu agro com o avano da indstria, seja Pas Basco ou Catalunha. Outras, salvano com grandes extenses como as mesetas ou Andaluzia. Galiza no pode fazer o mesmo, sem indstria e superfcie suficiente e com uma crescente populao, necessitamos intensificar os cultivos agropecurios para assegurar a marcha da sua economia a ritmo dos tempos. Logo disso, na mesma conferncia defendia a linha dos trabalhos de seleo de sementes (neste caso de batata) da seguinte maneira: Fixem ensaios com 69 variedades de batatas. Houve classes que deram 4.600kg/hectare e outras 54.000kg/hectare. Onze vesses mas. As classes de batatas Ragis e que hoje tenham nome mundial quedaram cola na Galiza das mas produtivas. E j para rematar com as citas literais de Gallstegui, a continuao deixamos uma bem expressiva sobre a finalidade dos seus trabalhos: Galiza no produze o milho suficiente para auto-abastecer-se, mas produze sobre a metade do total Espanhol, que oscila entre os 550.000 e 600.000tn. Do total, Galiza produze 300.000tn e necessita importar 20.000 mas, enquanto que e o resto de Espanha produze 300.000 e necessita importar 200.000tn. A livre importao de milho afunda os preos do milho que no resto de Espanha se destina a alimentao do gado. Milho barato abarata a carne do resto das provncias que competem com a gandearia galega. Sim a importao tem dificuldades, vai-se ao milho galego com o que se corre o risco de que no haja milho para alimentar populao. Esta situao tem um remdio. Sim se a Misin consegue aumentar os rendimentos do milho galego, poderamos no s ser autossuficientes se no que tambm exportar ao resto de Espanha. Algo que redundaria na riqueza dos nossos lavradores24.

    Neste caminho iam os primeiros trabalhos que realizou Gallstegui nos terrenos da Escola de Veterinria de Santiago na procura da melhor distncia que se devia semear o milho. Outro problema a estudar foi a que profundidade se devia depositar a semente. Tambm se experimentavam nos primeiros anos acerca do melhor abonado, onde se misturavam diferentes estilos aplicados pelos lavradores com esterco e superfosfatos e outros com abono mineral completo25.

    Logo desses primeiros trabalhos no tardou em plantear numa conferncia a lavradores da provncia de Pontevedra, a necessidade de obter uma boa semente. Ao respeito disto Gallstegui comentava: De semear um milho a semear outro, h uma grande diferena. Tinha semeies que rendiam 1.800kg/hectare; enquanto que outras sementes cultivadas e semeadas da mesma maneira obtinham 5.000kg/hectare. A causa desta diferena no , embargante, mas que uma semente foi selecionada e outra no26.

    Na primeira etapa da Misin em Santiago, de 1921 a 1926, estudam-se umas 46 variedades de milho galegas e outras 26 vidas dos USA27.Nestes trabalhos procura-se ademais a obteno e conservao de linhas puras coas que principia-la hibridao para obter hbridos singelos, o

    24GALLSTEGUI, C. (ed. 2005): Esbozo do programa agraira para Galiza., (PP.13-28), en: Murgua. N:5, (2005)., pp.10-21. 25POUSA ANTELO, A. (2005): Don Cruz Gallstegui. O home dos millos hbridos, (pp. 9-12), en: Murgua. N:5, pp.10-11. 26POUSA ANTELO, A. (2005): Don Cruz Gallstegui. O home dos millos hbridos, (pp. 9-12), en: Murgua. N:5, p.11. 27CABO VILLAVERDE, M. (1997): O labor da Misin Biolxica de Pontevedra ata 1936 e a reforma da

    agricultura galega en Cruz Gallstegui Unamuno, (pp. 103-152), en: Cuadernos de estudios gallegos.

    T.43, N: 109, p107.

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    que permitir de forma posterior a produo da semente dupla hbrido28. Mais concretamente, a seleo e degenerao centram as investigaes sobre a melhora de sementes dos anos vinte e trinta.

    No esqueamos que todos estes trabalhos desenvolvesse em condies muito precrias de financiamento que provocavam uma insegurana laboral que impossibilitava, ou quanto menos, fazia difcil a planificao necessria para projetos a comprida distncia. Esta situao trocaria ligeiramente com regime republicano que se proclamava em Espanha em 1931. A Misin cambiaria de lugar de trabalho cara Pontevedra, e sria ali onde se cria o Sindicato de Produtores de Sementes . A isto ajudou a visita de Gallstegui a Sucia onde conheceu de primeira mo a Estao de Sementes de Svalof em 1929. J com anterioridade, Gallstegui e o grupo de Pontevedra vinham assinalando a necessidade de garantir a distribuio de sementes ao margem das casas distribuidoras. Desta forma, a difuso das sementes incrementa-base anualmente dend 1924, sendo que para 1928 a demanda superava a capacidade de produo da Misso. Por isso, a volta da viagem a Sucia criasse em 1930 o Sindicato de Produtores de Semilhas e cobrir assim, as necessidades de produo da sementes de milhos hbridos29.

    O papel reservado para o Sindicato de Produtores de Sementes, era a distribuio da semente dupla hbrida de milho entre os camponeses dispostos a sua adopo. Segundo os clculos do historiador Fernndez Prieto, a difuso do O.D.H passou de 16tm. entre 1930 e 1931 a 70tm., entre 1934 e 1935. No obstante, h que ter em conta que a maior parte da produo de sementes estavam destinadas a cobrir encargos de fora da Galiza30. Os scios fundadores do Sindicato em 1930 foram dezessete, cum carcter claramente elitista (quatro curas procos, a prpria granxa de Salcedo, a de Lourizn e personalidades da sociedade pontevedresa presentes no Padroado da Misin) que se foi esvaindo progressivamente, de jeito que em 1935 j eram 259, entre elas varias sociedades agrrias. Editavam assim mesmo um Boletn (1933-1936) para difundir as novidades e instruo pertinentes (Cabo, 1997: 114).

    No seguinte quadro poderemos observar com mais detalhe a distribuio das sementes de milho hbrido polo Sindicato de Sementes. As variedades finalmente selecionadas eram a denominada Pepita de ouro (gro amarelo) e a Reina branca (gro branco)31.

    As sementes de milho O.D.H produzidas e comercializadas polo Sindicato de Produtores de Sementes possvel velas no seguinte quadro:

    28FERNNDEZ PRIETO, L. (1992): Labregos con ciencia. Estado, sociedade e innovacin tecnolxica na agricultura galega, 1850-1939. Xerais, Vigo, p.428. 29Ibdem. 30CABO VILLAVERDE, M. (1997): O labor da Misin Biolxica de Pontevedra ata 1936 e a reforma da agricultura galega en Cruz Gallstegui Unamuno, (pp. 103-152), en: Cuadernos de estudios gallegos. T.43, N: 109, pp. 114-115. 31CABO VILLAVERDE, M. (1997): O labor da Misin Biolxica de Pontevedra ata 1936 e a reforma da agricultura galega en Cruz Gallstegui Unamuno, (pp. 103-152), en: Cuadernos de estudios gallegos. T.43, N: 109, p 121.

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    Quadro 1.

    Anos Sementes/kg Hectares sementadas

    1930-1931 16.000 400

    1931-1932 28.000 700

    1932-1933 10.000 250

    1933-1934 30.000 750

    1934-1935 70.000 1750

    Fonte: Elaborao a partir de (FERNADEZ PRIETO, L. 1992, 430)

    A reduo que se aprecia para 1933, deriva em parte duma correo gentica das sementes ao obter os primeiros resultados da produo dos milhos hbridos em condies reais de cultivo, e j no experimentais. O milho O.D.H requeria duns adubos bem esmerados que no sempre eram possveis, polo que se corrige e se adaptam os hbridos s condies reais do cultivo cotia32.

    Todas as investigaes feitas por volta do milho, no sempre encontraram a boa recolhida que se podia esperar entre os coetneos. Tem-se assinalado a surpreendente falta de coordenao entre os diferentes centros de experimentao agrcola na Galiza do momento, amais disso, rivalidades professionais com Ricardo de Escauriaza, Diretor da Granxa da Corua deixam este tipo de crticas verdadeira efetividade do duplo hbrido de Gallstegui: Os hbridos Pepita de Oro e Reina Blanca. Pelo seu comprido perodo vegetativo, sim o vero fresco e hmido, no maduram bem, e, sim seco, necessitam da irrigao, o que no corrente aqui. Pelo seu grande desenrolo, som facilmente abatidos pelo vento; as suas compridas mazurcas quedam em grande parte do ponta ao descoberto, o que leva a uma rpido aparecimento de mofo; as seus compridos pednculos fazem que as mazurcas descendam o cho, dormindo sobre elas as aguas e recebendo a humidade deste, o que tambm contribuem a que aparece mas mofo. Por ltimo, a sua grande exigncia em abono, assim como o sistema de cultivo que se aconselha e o elevado preo a que se vende a sua semente, recargam extraordinariamente os gastos de cultivo. Estas som as causas pelas que no se estendem na provncia, o que no tira para o Centro e Sul de Espanha estejam dando excelentes resultados33.

    Os trabalhos de seleo e melhoramento da batata.

    Chegados a este ponto, no podemos esquecer outro cultivo americano que nesses anos espertava um especial interesse pelos tcnicos da inovao do momento. Amais do milho, a batata era um alimento fundamental para o lavrador e susceptvel duma comercializao para o abastecimento das cidades. Nisto coincidiam tanto Gallstegui como o antecessor de Escauriaza na Granxa da Corua, L. Hernndez Robredo34.Apesar disso, os estudos da batata na 32FERNNDEZ PRIETO, L. (1992): Labregos con ciencia. Estado, sociedade e innovacin tecnolxica na agricultura galega, 1850-1939. Xerais, Vigo, p. 431. 33CABO VILLAVERDE, M. (1997): O labor da Misin Biolxica de Pontevedra ata 1936 e a reforma da agricultura galega en Cruz Gallstegui Unamuno, (pp. 103-152), en: Cuadernos de estudios gallegos. T.43, N: 109, p.146. 34 BERNRDEZ SOBREIRA, A. (1999): Planificacin agraria na galicia autrquica 1939-1955. Consellera

    de Agricultura, Gandera e Poltica Agroalimentaria, Santiago de Compostela, pp. 50-51.

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    Misin Biolxica estiveram sempre sujeitos as lavores intermitentes derivadas da inconstncia com a que se dedicou o seu encarregado B.F. Osorio-Tafall. A sua atividade poltica no sempre lhe deixaria o tempo suficiente como para abordar trabalhos mas exaustivos. Outra diferencia fundamental com o milho eram s as lavores de seleo de variedades que resistissem s pragas, em quanto que com o milho se experimentava geneticamente35. Como curiosidade, nesses anos explorasse tambm a possibilidade da experimentao noutra planta americana como o tabaco, mais nunca chegou a concretizar36.

    Entre 1930 e 1935 a Misso Biolgica experimenta com nada menos que 146 variedades de batatas espanholas, holandesas, alems e escocesas, na procura da sua adaptao condio de clima e solo da Galiza. Nem uma cumpriria adequadamente os requisitos, mas lograsse em 1939 adaptar quatro variedades tardias e duas pr-cozes O Sindicato de Sementes trabalhou tambm para desenvolver variedades resistente s pragas e degenerao, dois problemas que condicionaram e limitaram a produo das batatas nesses anos. A degenerao das sementes da batata no era um problema novo, mas a introduo das variedades de alto rendimento no faziam mas que agudizar esse problema. J se introduziram variedades dend finais do XIX, no obstante, no foi ate depois da I Guerra Mundial quando se recrudesceu mas ainda o problema da degenerao. Gallstegui afirmava deste modo que para a segunda metade da dcada dos vinte tinha-se que recorrer ao sistema de comprar as sementes anualmente37.

    A Misso decide abordar esta questo entre as suas prioridades. Buscam uma variedade que seja resistente ao mldio que provoca a humidade e mancha, e que se produze pla falta de cloides e o excesso da rea dos solos galegos. A batata ideal sria aquela mas produtiva, qualidade suficiente e singela de conservar38.Embargante, como o objetivo de combinar a qualidade e quantidade no sempre resulta singelo, Gallstegui decidisse por atender preferentemente ltima: que o que mas lhe interessa ao lavrador deste pas. Dos resultados destas experincias lograsse variedades que cumprem estas condies e que som comercializadas e produzidas pelo Sindicato de Sementes na quantidade de 17.255 em 1933, e 22.000 em 192839.

    35CABO VILLAVERDE, M. (1997): O labor da Misin Biolxica de Pontevedra ata 1936 e a reforma da

    agricultura galega en Cruz Gallstegui Unamuno, (pp. 103-152), en: Cuadernos de estudios gallegos.

    T.43, N: 109, p.122.

    36CABO VILLAVERDE, M. (1997): O labor da Misin Biolxica de Pontevedra ata 1936 e a reforma da agricultura galega en Cruz Gallstegui Unamuno, (pp. 103-152), en: Cuadernos de estudios gallegos. T.43, N: 109, p.126. 37 FERNNDEZ PRIETO, L. (1992): Labregos con ciencia. Estado, sociedade e innovacin tecnolxica na agricultura galega, 1850-1939. Xerais, Vigo, p.434. 38Ibdem. 39FERNNDEZ PRIETO, L. (1992): Labregos con ciencia. Estado, sociedade e innovacin tecnolxica na agricultura galega, 1850-1939. Xerais, Vigo, p.435.

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    No seguinte quadro podemos ver a evoluo d superfcie em hectares ocupada pla batata na Galiza:

    Quadro 2.

    Fonte: Elaborao a partir de (FERNANDEZ PRIETO, L., 1992, 443)

    Eplogo

    Fica necessrio este ponto do artigo em quanto que o fim das experincias de inovao e instituies implicadas na experimentao coas sementes de milho e batata do primeiro tero do sculo XX tiveram, como tantas cousas, um antes e um despois derivado do conflito da Guerra Civil Espanhola 1936-1939.

    O prprio Cruz Gallstegui estivo no ponto de mira repressivo do regime, ainda que conseguiu desligar a sua lavor de qualquer finalidade ou afinidade poltica durante a Repblica. As acusaes de pertena ao Partido Galeguista quedariam em meras disputas arguidas rivalidade professional cos engenheiros agrnomos40. No tiveram tanta sorte outros trabalhadores da Misin como Alexandre Bveda, um dos lderes do Partido Galeguista e que trabalhara como contvel, foi fuzilado em 1936, ou B.F. Osorio-Tafall que acabou no exilio. Em quanto prpria Misin Biolxica como instituio, foi traspassado ao CSIC (Centro Superior de

    40FERNNDEZ PRIETO, L. (2007): El apagn tecnolgico del franquismo. Estado e innovacin en la agricultura espaola del siglo XX. Tirant lo Blanch, Valencia, pp. 291-292.

    Anos Superfcie cultivada/hectares

    1902 37.899

    1910 45.590

    1922 88.575

    1926 64.960

    1927 69.762

    1928 78.818

    1929 93.612

    1930 78.940

    1933 110.173

    1933 110.740

    1934 111.773

    1935 110.784

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    Investigaciones Cientficas), onde sofreu graves careas de financiamento durante toda a dcada dos quarenta41.

    O Sindicato de Produtores de Sementes foi absorbido plas organizaes sindicais no momento de maior fora do falanxismo e de contado levado a runa. A desfeita foi tal que quando se comercialize massivamente milho hbrido j nos anos do desarrollismo franquista farasse a partir de variedades introduzidas dend os USA e no das desenvoltas na Misin e distribudas no j extinto Sindicato de Produtores42.

    Para concluir, o quadro franquista estaria condicionado por uma represso considervel no mbito da sociedade civil, condies econmicas precrias que dificultam qualquer processo de inovao, isolamento internacional e falta de matrias primas bsicas, falta de pluralismo poltico e situao indefensa dos interesses dos lavradores, ou a volta ao rural de parte importante da populao. Haveria pois, um quadro bem distinto no franquismo, com uns objetivos para agricultura tambm diferentes aos que possibilitou as principais mudanas e inovaes no mbito dos cultivos americanos que tratamos aqui.

    2. Concluses

    Neste artigo fizemos um percurso histrico da introduo e expanso das novas plantas americanas na agricultura galega, dend o sculo XVI at o primeiro tero do XX. A magnitude das mudanas feitas na agricultura galega pla introduo dos novos cultivos americanos foi enorme. Os rpidos e altos rendimentos obtidos sobretudo, no litoral galego pelo milho, explicam tanto o crescimento da populao como tambm, a distribuio da populao na geografia galega mas acentuada no litoral que no interior. Desse aumento do peso demogrfico com respeito ao resto de Espanha durante os sculos modernos, deriva a possibilidade das emigraes massivas de populao galega no sculo XIX e XX, assim como tambm explica o comeo do processo de expanso do minifndio nas reas onde a presena do milho foi mas rpida e contundente.

    Para a Galiza interior, a batata estendesse significativamente no sculo XVIII e dend ali expandisse junto com milho pla geografia galega ate completar a sua mxima extenso territorial para a metade do sculo XIX. Para finais da centria os alicerces do complexo poli-cultivo galego estavam praticamente configurado em toda a sua intensidade. Um sistema agrrio que proporcionava ademais, vinho, leguminosas, carne e leite.

    A crise fine-secular que comea nas ltimas dcadas do XIX requere para a agricultura galega, como tambm para a maioria das europeias uma srie de requisitos, modificaes e processos de adopo de inovaes. O Estado intervm na economia no s com impostos que protegem aos lavradores frente os preos dos produtos agrrios importados da Amrica. A nova situao do mercado de produtos agrrios requere de inovao e busca de vantagens competitivas num mercado j globalizado. Por esta rao, comeasse a construo duma estrutura de investigao e inovao ao servio da agricultura para apoiar a necessria renovao produtiva. Neste contexto inserem-se s logicas que explicam a criao de instituies nas que

    41FERNNDEZ PRIETO, L. (2007): El apagn tecnolgico del franquismo. Estado e innovacin en la agricultura espaola del siglo XX. Tirant lo Blanch, Valencia, p.226. 42 FERNNDEZ PRETO, L., LANERO TABOAS, D. y CABO VILLAVERDE, M.: (2014): La lucha por el poder en

    el primer franquismo: la integracin forzosa del Sindicato de Productores de Semillas en la Organizacin

    Sindical, (pp. 201-220), en: FERNNDEZ PRETO, L., ARTIAGA REGO, A.: Otras miradas sobre golpe,

    guerra y dictadura (1944-1946). La Catarata, Madrid.

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    desenvolveram investigaes e trabalhos os engenheiros agrnomos, florestais ou genticos como Cruz Gallstegui na Misin Biolxica da Galiza. Esta instituio criada em 1921, junto com a Granxa Escola da Corua criada em 1888, som os centros de inovao galegas onde se produze os mas importantes avanos tecnolgicos para a agricultura do momento.

    As sementes de milho duplas hbridas (O.D.H) tenham a sua origem numa srie de trabalhos de seleo de sementes de milho vidas da Amrica e outras variedades galegas. Nas prprias verbas de Gallastegui, o desenrolo econmico da Galiza passa por uma intensificao da agricultura que necessita como primeiro passo, alcanar o aumento dos rendimentos do milho como o cultivo central que sustenta toda a economia camponesa. O objetivo dos seus trabalhos iram na linha de conseguir uma correta cobertura das necessidades alimentcias da populao, junto cum apropriado alimento para o gado especializado na exportao s urbes espanholas.

    Dentro desta estratgia, a batata tambm vista como um produto sujeito a comercializao. A Misin Biolxica tambm desenrola trabalhos de experimentao e seleo de espcies da batata, ainda que as lavores no serram nem to intensas nem constates coma no milho. Isto seguramente devindo da atividade politica de Osorio-Taffal, o qual era encarregado na Misin nas lavores com a batata.

    Segundo as cifras que arroxam o Sindicato de Produtores de Sementes, instituio criada ao amparo da Misin para a distribuio das sementes duplas hbridas, assim como de variedades da batata; permite-nos falar dum xito na acolhida desta inovao pelos camponeses. Embargante, tanto as lavores de Gallastegui como das instituies ao servio da inovao atroparam o seu final de forma rpida no incio da Guerra Civil Espanhola. Um conflito que levou a censura, supresso ou represso tantas coisas, entre elas, instituies, conhecimento, sociedades, financiamento e pessoas.

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