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8/7/2019 WP1 arte e arqueologia
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ARTE E ARQUEOLOGIA NA AMAZNIA ANTIGA
Cristiana Barreto
(Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de So Paulo)
Resumo
Este artigo trata de possveis abordagens interpretativas dos universosestticos das sociedades pr-coloniais da Amaznia como meios de se
aprofundar o conhecimento sobre os processos de mudana social, e emespecfico a formao dos cacicados amaznicos a partir de AD 500 e aorganizao social destas sociedades vspera da conquista. Prope-se umametodologia interpretativa que concilie o conhecimento etnogrfico particular dasexpresses visuais de sociedades indgenas amaznicas atuais com a anlisearqueolgica de estilos de artefatos associados a processos (pr)histricos delonga durao para uma avaliao de elementos chave de mudana naideologia das sociedades indgenas amaznicas antes e aps a colonizao.
Abstract
This working paper focuses on the possibilities of analysing Amazonianprecolumbian aesthetics to improve understanding of social and ideologicalchange among pre-colonial indigenous societies: Specifically the formation ofcomplex chiefdoms by AD 500 and the social organization of these societiesbefore European conquest. The paper explores an interpretive methodology thatattempts to bridge ethnographic knowledge on the relationship between aestheticexpressions and societal change in historical or contemporary indigenoussocieties with an archaeological analysis of style. Analysis of artifacts related tolong-term processes of social change in pre-columbian Amazonia, such asfunerary urns, may help evaluate key ideological transformations amongindigenous societies before and after colonization.
Uma verso resumida deste artigo foi publicada em francs no catlogo da exposio BrsilIndien, les arts des amrindiens du Brsil (Runion des Muses Nationaux, Paris, 2005).
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Arte pr-colombiana e as terras baixas da Amrica do Sul
Os objetos arqueolgicos das terras baixas da Amrica do Sul raramente
foram tratados enquanto testemunhos de universos estticos antigos. Em geral
no figuram nas exposies e catlogos de arte pr-colombiana por serempouco conhecidos, mas, sobretudo, por no apresentarem a mesma
exuberncia e complexidade das peas provenientes de culturas pr-
colombianas andinas ou mesoamericanas, mais conhecidas do grande pblico,
e, em geral, mais apreciadas esteticamente no mundo ocidental moderno.
A exceo a presena de alguns materiais que geralmente
surpreendem por sua elaborao esttica, como as urnas funerrias Marajoara e
a barroca cermica Tapajnica, figurando em compilaes de arte pr-
colombiana, mas em geral carentes de documentao contextual.
Tambm os objetos etnogrficos desta regio, preservados em inmeras
colees de museus do mundo inteiro, mas conhecidos apenas por poucos
especialistas, raramente so vistos como objetos de arte: no entraram, por
exemplo, no hall das artes primitivas ou das artes tnicas to apreciadas na
Europa (a exemplo da arte tnica da Oceania ou da frica).
No entanto, objetos arqueolgicos e etnogrficos testemunham uma
variada gama de tradies estticas na regio, tradies estas que oferecem umenorme potencial para uma melhor compreenso das sociedades amerndias em
geral, do passado e do presente. Arquelogos e antroplogos tm lidado com
estes universos estticos de formas bastante distintas, mas sempre alertando
para o fato de que no se pode entender as artes indgenas com entendemos as
artes em nosso mundo (McEwan et al. 2001, Fernandes Dias 2000, Van Velthem
2000).
Se verdade que o conceito de arte no existe entre as sociedades
amerndias, a etnografia nos ensina que todas as coisas so concebidas dentro
de determinados modelos estticos, compartilhados, aceitos e desejados em
cada cultura. Desta forma, a arte est presente em todas as esferas da vida: a
maneira como as aldeias, as casas e os objetos so concebidos supera as
necessidades meramente funcionais e os imbui de significados simblicos e
mailto:tradi%C3%A7@oesmailto:tradi%C3%A7@oes -
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culturais. A maneira de fazer ou decorar um objeto, ou mesmo o corpo de uma
pessoa, torna-se assim parte essencial do prprio objeto. A, como entre muitas
outras sociedades tribais sem escrita, a experincia esttica fundamental para
concretizar concepes compartilhadas do mundo e para a transmisso de
conhecimentos, crenas, valores sociais e morais.
Mas, se na etnografia fica clara a forma como a esttica de concepo e
decorao das coisas expressa contedos simblicos e culturais, funcionando
enquanto um sistema de linguagem visual e, sobretudo, se a experincia
etnogrfica permite compartilhar a experincia esttica de indivduos e
comunidades especficas, na arqueologia, depara-se sempre com a limitao de
se tentar entender linguagens que no podemos decodificar, que simplesmente
no se destinam a ns, e cujos contextos culturais e simblicos so muitasvezes inacessveis.
Arte e estilo na arqueologia da Amaznia
Na arqueologia das terras baixas, algumas regies, como a Amaznia, se
sobressaem no s pela profuso de estilos artsticos, mas tambm pela grande
quantidade de objetos decorados, de natureza cerimonial. Por muitas dcadas,
as tentativas de interpretao da simbologia presente nos objetos arqueolgicosamaznicos ficaram limitadas a descries casuais e sugestes intuitivas de
especialistas, muitas vezes vistas como apenas especulativas, quer por falta de
um maior conhecimento de seus contextos arqueolgicos, quer por falta de
teorias que permitissem relacionar manifestaes artsticas a processos
histricos e sociais.
Mesmo assim, um dos recursos mais usados na arqueologia das terras
baixas tem sido o uso de estilos artsticos, ou melhor, a distribuio no tempo e
no espao de diferentes estilos artsticos para a definio de diferentes culturas
passadas (em geral definidas por diferentes termos como horizonte, tradio,
fase, cultura arqueolgica, etc.). Assim, os diferentes estilos artsticos,
principalmente da arte parietal e da cermica, so concebidos enquanto cdigos
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culturais compartilhados por diferentes grupos sociais, separados no espao, no
tempo ou em ambos.
Nesta abordagem, a correspondncia direta entre estilo artstico e
identidade cultural assumida a priori, e estilo concebido como um atributo
passivo, isto como um produto cultural, uma marca que reproduzida atravs
das geraes, sendo assim mantida conscientemente ou no ao longo de um
determinado tempo por determinadas comunidades.
dentro desta abordagem que foram organizadas, por exemplo, as
tradies regionais de arte rupestre do territrio brasileiro (Vialou 2005).
Arquelogos chegam a propor claramente que as variaes estilsticas da arte
rupestre correspondam a grupos tnicos descendentes de uma mesma origem
cultural e que as manifestaes estilsticas de uma sub-tradio rupestre, porexemplo, sejam o resultado da evoluo de uma etnia em funo do tempo, do
isolamento geogrfico e de influncias exteriores (Pessis e Guidon 2000:21).
No Brasil, as tendncias interpretativas da arte rupestre seguiram as
mesmas discusses que se registram em outras partes do mundo: uma
corrente defendendo uma anlise formal da arte; outra com uma
preocupao mais interpretativa, acreditando numa arte utilitria, que traduz
manifestaes simblicas de ordem mgico-religiosa; e ainda uma terceira,mais recente, que sublinha a unidade da dimenso simblica com a
esttica. Mas assim mesmo, a maioria dos autores considera difcil
conseguir resultados positivos na procura do significado da simbologia. O
avano das pesquisas tem sido principalmente em relao ao aspecto
formal (Pessis 2004). Especificamente para a Amaznia, abordagens mais
sistemticas tem permitido identificar no s estilos regionais, mas tambm
estabelecer relaes entre uma linguagem iconogrfica da arte rupestre e
da cermica (Pereira 1996).
No caso da cermica, a interface entre tcnicas de fabricao e estilos de
forma e decorao tem sido o principal recurso classificatrio, principalmente na
baixa Amaznia, onde a variao estilstica, sobretudo nas formas e decorao
da cermica ceremonial parece ser maior. Para se entender as origens destes
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estilos amaznicos procurou-se paralelos em outras partes das Amricas,
apontando-se semelhanas de estilos no oeste e noroeste da Amrica do Sul,
partes da Amrica Central e Caribe estendendo-se at reas dos Estados
Unidos, como o Mississipi (Meggers e Evans 1957; Palmatary 1950).
Assim, tidos como combinaes de atributos formais, estilos artsticos no
s so usados para definir tradies culturais diferentes, mas tambm seus
atributos isolados (como, por exemplo, o antiplstico, ou a policromia) so
usados para retraar origens regionais, migraes e contatos entre diferentes
culturas (como o fizeram Nordenskiold 1930, Palmatary 1950, Meggers e Evans
1957, e Brochado 1980, 1984, para a Amaznia). Resultam desta abordagem,
as tradies e fases propostas por Meggers e Evans para organizar os
conhecimentos sobre a ocupao pr-colonial da floresta tropical, denominadashachurada-zonada, inciso-ponteada e policrmica, isto , essencialmente a partir
dos atributos decorativos da cermica.
No entanto, se verdade que estas abordagens arqueolgicas
consideram o estilo artstico em suas anlises, elas no enfocam propriamente o
contedo simblico dos diferentes estilos. Servem apenas enquanto guias
analticos, mas no se objetiva relacionar estes estilos a outros aspectos das
sociedades estudadas como, por exemplo, sua estrutura social ou seu universomitolgico.
Nas ltimas dcadas, a arqueologia tem proposto um outro tipo de
abordagem que concebe estilos artsticos de forma mais ativa. Parte-se do
princpio que arte e artefatos concretizam as maneiras em que indivduos
percebem e organizam a realidade. O estilo artstico ento visto como um meio
ativo de comunicao, o qual atravs da experincia esttica, indivduos ou
grupos negociam, definem, afirmam, negam ou impem relaes sociais (Wobst
1977, Hodder 1982, Conkey 1990). A arte, e consequentemente os artefatos so
ento vistos como transformadores, e no apenas como um produto passivo.
Na arqueologia das terras baixas, antes mesmo deste renovado interesse
por estilos artsticos, alguns arquelogos como, por exemplo, Lathrap e seus
alunos, propuseram que a Amaznia foi um centro de inovao cultural, com
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invenes tcnicas crticas, como a cermica e a tecelagem (especificamente o
tear dito amaznico ), criando estilos artsticos prprios que acabam por se
espalhar por toda a regio. So estilos presentes na iconografia de decorao
dos objetos, uma iconografia identificada essencialmente como religiosa,
zoomrfica, com base em prticas alucingenas e xamansticas, utilizada em
rituais para a comunicao com o mundo sobrenatural (Lathrap 1970).
a partir desta idia de estilos artsticos amaznicos, ou pan-
amaznicos, que a simbologia presente nos objetos arqueolgicos e
etnogrficos pode ser relacionada ao um corpo de mitos e narrativas indgenas e
que seu papel enquanto agente de reproduo e transformao da cultura pode
ser estudado no passado e no presente (Peter Roe 1982, Reichel-Dolmatoff
1978, De Boer 1984). Na Amaznia, a repetida representao mais ou menosestilizada de determinados animais como, por exemplo, a cobra ou a ona,
juntamente com personagens humanos que povoam as narrativas mitolgicas
uma constante na decorao dos objetos, passado e presente. Pode-se falar
assim de uma arte indgena amaznica geral, com variaes regionais, ou
estilos regionais.
Na Amrica pr-colombiana, a emergncia de diferentes estilos artsticos
tem sido associada a mudanas de estrutura social. Desde Willey (1962) quearquelogos tem reconhecido o papel organizador da arte, como nas culturas
Olmeca e Chavin, ou no Mississipi e no Sudoeste americano (Earle 1990, Plog
1990), onde estilos minimamente relacionados acabam por unir regies
previamente isoladas e separadas politicamente, formando unidades polticas
mais complexas.
Em muitos casos, o surgimento de grandes estilos artsticos concomitante
ao aumento de atividades cerimoniais tem sido associado a processos de
transformao de sociedades igualitrias para estruturas mais hierrquicas,
onde os objetos e sua iconografia servem para legitimar novas estruturas de
poder e reforar posies de prestgio, sobretudo associando as novas elites
com o mundo ancestral e sobrenatural atravs dos mitos (veja por exemplos os
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estudos de Earle (1990) no Hava e na rea Olmeca e de Helms(1986) na
Colmbia e no Panam.
A partir desta perspectiva os diferentes estilos da cermica arqueolgica
na Amaznia adquirem um novo significado, e podem ser entendidos no mais
como formados por influncias de outros estilos de outras regies, mas como
elementos ativos de processos de transformao dos indivduos e das
sociedades pr-coloniais.
Com a formulao de novas teorias sobre como manifestaes artsticas
se relacionam a processos histricos em uma variedade de sociedades
amerndias, e, sobretudo com o avano das pesquisas arqueolgicas que
permitem melhor entender os contextos de fabricao e uso daqueles objetos
arqueolgicos at ento conhecidos apenas por sua elaborao esttica, umanova era se inicia na arqueologia amaznica.
Nos ltimos anos, alguns estudos arqueolgicos tm voltado iconografia
de determinadas culturas arqueolgicas amaznicas em especfico, (vide os
estudos de Schaan (1997, 2001a, 2001b, 2004) com a cermica da fase
Marajoara, e os de Gomes (2001) com a cermica Tapajnica). Estas
iconografias so estudadas enquanto linguagens simblicas, as quais,
juntamente com outros dados do contexto arqueolgico, podem informar sobreas dinmicas histricas, sociais e ideolgicas destas antigas sociedades
amaznicas.
Na cermica arqueolgica amaznica a necessidade de reafirmar
modelos mentais do universo mitolgico e dos personagens que ele contm
atravs da arte cermica parece surgir de forma consistente a partir do primeiro
milnio de nossa era, sempre atravs de formas de representao que parecem
obedecer regras extremamente rgidas e complexas (Barreto 2003).
Por outro lado, estudos de etno-arqueologia junto a sociedades indgenas
contemporneas tm revelado as diferentes dimenses simblicas que podem
adquirir a fabricao e usos da cermica, assim como suas formas e grafismos
decorativos, mostrando como representaes mais estilizadas de elementos da
natureza tambm carregam significados mitolgicos (DeBoer 1984, Silva 2003).
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Estes avanos permitem repensar o papel das artes nas sociedades
amaznicas antigas, sobretudo em regies e culturas especficas. Contudo, falta
ainda uma viso geral de como esta arte cermica pode nos ajudar a
compreender as transformaes pelas quais passaram estas sociedades nos
ltimos sculos ao nvel regional mais amplo; de como os diferentes estilos
encontrados na arqueologia da regio se relacionam entre si e definem
processos de interao e mudana.
Com os estudos recentes da iconografia encontrada na cermica
arqueolgica aprendemos que representaes figurativas, sobretudos de figuras
humanas e animais, parecem ser bem mais freqentes no passado pr-colonial,
como demonstram as estatuetas, as urnas funerrias antropomorfas e os
apliques e apndices decorativos em forma de seres humanos e animais quepovoam a cermica de vrias culturas arqueolgicas da Amaznia. Esse
figurativismo contrasta marcadamente com as representaes mais abstratas de
elementos da natureza, notadamente mais estilisadas e geometrizantes,
encontradas nos materiais etnogrficos histricos e contemporneos, em uma
larga gama de suportes que incluem instrumentos variados, tranados,
mscaras, bancos, corpos humanos, alm tambm da cermica. Exibem uma
linguagem simblica mais codificada, de leitura mais restrita, destinada aosmembros daquela comunidade tnica ou grupo cultural apenas e a partir da qual
a possibilidade de uma leitura mais universal do seu significado simblico parece
ter sido abandonada.
Algumas raras excees de um figurativismo mais realista, como o
encontrado nas bonecas Karaj ou nos bancos zoomorfos xinguanos,
correspondem justamente queles objetos hoje feitos para venda aos turistas ou
comrcio de artesanato, para uma apreciao externa por um pblico mais
genrico, o que refora a idia de que o uso de uma linguagem esttica
figurativa mais realista busca comunicar idias para o mundo externo quela
cultura especfica. Em tempos pr-coloniais, um figurativismo mais realista
parece corresponder necessidade de se manter uma linguagem extra-regional,
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ainda que com suas variaes particulares. Qual o papel desta linguagem pan-
amaznica no passado pr-colonial destas ociedades indgenas?
Universos estticos indgenas na Amaznia: passado e presente
O passado pr-colonial da Amaznia tem sido objeto de debates
acirrados entre modelos concorrentes, dentro de uma longa e cclica histria de
interpretaes, a qual, desde tempos coloniais, tem oscilado entre um passado
de grandes civilizaes perdidas, e outro menos glorioso, de sociedades
simples, pequenas, e primitivas , mais prximas das atuais (Barreto e
Machado 2001, Neves 1999).
Na atual terminologia, as alternativas repousam entre antigos
sistemas de complexos cacicados rivais que teriam emergido
rapidamente durante o milnio que antecede a chegada dos europeus,
integrados atravs de extensas redes de trocas e alianas de guerra,
(Roosevelt 1999; Heckenberger 1999; Heckenberger et al. 1999, 2001;
Neves 2004; Schaan 2004); e a de sociedades simples, de pequeno
porte, que teriam atingido h milnios um estado de equilbrio
adaptativo na floresta tropical, e que teriam assim perdurado em
relativo isolamento at os nossos dias (Meggers 2001).Desde os anos 1980 as pesquisas vm confirmando que houve um
verdadeiro florescimento de diferentes culturas na regio, sobretudo no baixo
Amazonas, durante o primeiro milnio da Era Crist. Estas culturas so
reconhecidas pelos diferentes estilos de cermica funerria, com urnas quase
sempre representando figuras humanas. Outros tipos de artefatos cermicos,
como tigelas, pratos, vasos e estatuetas, altamente decorados, assim como
alguns raros objetos esculpidos em pedra, como os muiraquits e os dolos de
pedra, so encontrados em stios muito densos nas frteis plancies fluviais da
Amaznia. Essa profuso de objetos decorados, provavelmente usados em
contextos cerimoniais, tem sido interpretada como resultado da rpida
transformao de pequenas sociedades tribais em grandes cacicados rivais,
onde a intensificao de rituais e de cerimnias legitimaria novas estruturas de
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poder.
Muitos destes objetos parecem ter sido usados como smbolos de
prestgio e poder dos chefes e elites locais, que eram objetos de circulao e
troca por toda a Amaznia, como o caso de pingentes e adornos de nefrita e
jadeta, mais comumente conhecidos com muiraquits, encontrados por toda a
regio amaznica, Orinoco, e Caribe, mas com apenas alguns centros de
fabricao regionais (Boomert 1987).
Alm da cermica elaborada e dos objetos de prestgio, outras indicaes
arqueolgicas do surgimento de sociedades mais centralizadas e hierrquicas
tem sido a alta densidade de ocupao dos stios arqueolgicos que sugere uma
organizao social de assentamentos em grandes aldeias permanentes, e as
profundas intervenes na paisagem natural de forma a reverter determinadaslimitaes ambientais para o estabelecimento de grandes populaes na regio,
e possibilitar uma integrao regional. A formao de terras pretas ricas para o
cultivo (Petersen et all. 2001), a construo de estradas e fossos (Heckenberger
1996), ou a ereo de mounds artificiais (Schaan 2004) sugerem uma
organio social com alta cacapcidade de organizao de mo de obra e uma
poltica centralizada de coordenao para estes trabalhos.
Enquanto alguns destes cacicados parecem ter desaparecido antesmesmo da conquista, como o caso de Maraj (Schaan 2001a), outros
perduraram at o contato com os europeus, como o dos Tapajs em Santarm
(Gomes 2001), mas acabaram se desintegrando rapidamente em conseqncia
do contato.
Contudo, se hoje o pndulo da pr-histria amaznica parece estar mais
prximo dos cacicados complexos, pouco se sabe ainda como estes teriam se
formado e, sobretudo, como estes se transformaram durante e aps a
colonizao europia.
Uma das questes mais importantes na atual antropologia das terras
baixas da Amrica do Sul justamente a de se entender a natureza e magnitude
das mudanas ocorridas entre as sociedades antigas do passado pr-colonial e
aquelas historicamente conhecidas e etnograficamente estudadas (Neves et al.
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2001). Mas na Amaznia, esta ponte entre a arqueologia e a etnografia nem
sempre possvel, pois os materiais trabalhados de cada lado deste grande
divisor de guas - o contato com os brancos e seus conseqentes efeitos - nem
sempre so comparveis.
Do ponto de vista antropolgico, e especificamente para a questo de
quo diferentes eram as sociedades indgenas do passado, o debate se torna
ainda mais relevante se extrapolar o mbito meramente do passado pr-colonial
e dialogar com outras questes, trabalhadas tanto pela etno-histria como pela
antropologia social, sobre dinmicas especficas de transformao das
sociedades indgenas, e especificamente teorias de desenvolvimento social.
Recentemente, a arqueologia dos antigos cacicados Amaznicos (vide
Heckenberger 1999, 2003) tem gerado um certo desconforto com interpretaesarqueolgicas que propem um cenrio para o passado to diferente do atual,
de forma que as sociedades indgenas contemporneas so, dentro desta tica
evolucionista, facilmente reduzidas a meras sociedades devoludas e, portanto,
facilmente descartveis (Viveiros de Castro 2002:340).
preciso reconhecer que por trs deste desconforto existem contradies
reais entre a viso etnogrfica e a arqueolgica, como apontou Viveiros de
Castro (1996:194) contrapondo, por exemplo, o cenrio arqueolgico desociedades centralizadas em cacicados agrcolas certas caractersticas
dominantes das sociedades indgenas contemporneas, como a enorme
importncia ideolgica conferida caa, a generalizada concepo das relaes
com a natureza que privilegia interaes simblicas e sociais com o mundo
animal, ou ainda a ideologia de predao ontolgica como um regime de
constituio de identidades coletivas, caractersticas estas que casariam mal
com regimes ideolgicos associados agricultura e centralizao poltica.
Estariam os arquelogos completamente equivocados quanto natureza
das sociedades pr-coloniais, ou teriam estas mesmas sociedades se
transformado a tal ponto que seus traos essenciais no seriam mais
reconhecidos nas sociedades indgenas contemporneas?
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Este paradoxo exemplifica como o conhecimento das sociedades
contemporneas pode questionar de forma positiva as hipteses e modelos
arqueolgicos postulados para o passado, contrariamente a uma viso bastante
em voga entre os arquelogos contemporneos que alertam contra os perigos
de qualquer projeo analgica do presente para o passado.
Ao contrrio, parece-nos que a estratgia fundamental a ser avanada por
ambas as disciplinas seria o estabelecimento de pontes analticas entre o
passado e o presente que permitam entender as verdadeiras mudanas no
ethos das sociedades amaznicas. Acreditamos que um passo nesta direo
pode ser dado justamente atravs do que conhecemos dos universos estticos
das sociedades indgenas da Amaznia, do passado e do presente.
Se na arqueologia lidamos essencialmente com variaes da culturamaterial no tempo e espao para determinarmos diferentes sociedades, o que
estas variaes nos dizem sobre as dinmicas de transformaes de sociedades
tribais em outras mais complexas e todas as tenses sociais inerentes a estas
mudanas?
Da mesma forma, podemos nos perguntar porqu, atravs dos sculos,
mesmo aps o desmantelamento destas sociedades enquanto cacicados
autnomos, alguns elementos destas estticas parecem ter permanecidoinalterados como, por exemplo, certos motivos decorativos, enquanto outros
foram extremamente transformados, recriados, quando no desapareceram por
completo? O que nos dizem os estudos etnogrficos sobre a integridade e
continuidade de padres estticos diante das mudanas mais recentes
observadas na cultura material ?
Se os estudos da cultura material indgena para os perodos durante e
ps-contato refletem sempre uma histria de perda e abandono de determinadas
prticas, de substituio de tcnicas e materiais tradicionais por outros
modernos, eles tambm deixam claro que apesar das transformaes ocorridas,
as sociedades indgenas continuam a conceber seus objetos dentro de padres
estticos carregados de significados simblicos, inclusive daqueles referentes s
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tenses e contradies trazidas pela prpria experincia de contato (van
Velthem 1999, 2000).
Na verdade, o terreno dos estilos artsticos, e especificamente a relao
entre universos simblicos e a cultura material, tem sido um terreno bastante
visitado na antropologia amaznica, quer em uma viso mais generalizante
(como as de Rivire 1969, Lopes da Silva 1991; Ribeiro 1989, Vidal 1992) quer
em estudos particulares, sobre a cultura material, grafismo e decorao corporal
em sociedades especficas (Overing 1989, Reichel Dolmatoff 1961,1985; Mller
1990, Van Velthem 1995, Gow 1999, entre outros).
Por outro lado, na arqueologia, conforme mencionado, os estudos
iconogrficos, sobretudo dos estilos regionais de cermicas arqueolgicas dos
antigos cacicados amaznicos, tem se aprofundado. E ainda que o uso de estiloenquanto categoria analtica varie entre os arquelogos, concorda-se que estilos
artsticos so instrumentos de comunicao e demarcam (intencionalmente ou
no) comunidades e fronteiras sociais, polticas e ideolgicas (Conkey e Hastorf
1990; Earle 1990; Wobst 1977).
Portanto, de ambos os lados, parece haver um consenso de que a
esttica de fabricao e decorao das coisas reflete no s as diferentes
maneiras indgenas de conceber seus mundos, mas tambm suastransformaes. Parece haver igual consenso sobre a importncia desta esttica
decorativa, seja dos objetos ou de corpos humanos, enquanto linguagem visual
que refora a vida social e espiritual, o que parece ser uma caracterstica
comum em sociedades tribais sem escrita, particularmente em situaes de
transio (Guiart 1990).
Assim sendo, o que nos resta compreender melhor como estas
estticas expressam as mudanas pelas quais passaram as sociedades
indgenas da Amaznia nestes ltimos dois milnios, onde uma longa histria de
profundas modificaes sociais, de sociedades tribais para cacicados pr-
colonais mais hierarquizados, de sociedades desmanteladas pela colonizao
para as sociedades indgenas contemporneas, complexamente integradas s
sociedades nacionais que as envolvem.
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Alguns antroplogos observam que a simbologia associada aos mitos que
estruturam o universo dos povos indgenas da Amrica do sul se diferenciam de
acordo com o grau de hierarquizao destas sociedades. Roe (1982), por
exemplo, prope que na Amrica do Sul, a tendncia a antropomorfisao do
mundo mais forte entre sociedades hierarquizadas e etnocntricas de Estados
(em oposio sociedades tribais ou cacicados), citando como exemplo a
cosmologia Aymara-Quetchua, onde as montanhas tem cabeas, ombro, peito e
pernas. Esta viso antropocntrica do mundo aparentemente mais sutil em
cacicados complexos (como as culturas Kogi e Warao). Entre os povos menos
estratificados da floresta tropical, os smbolos naturais utilizados seriam mais
generalizados, onde humanos se misturam s criaturas mticas, animais, e
espritos em uma forma mais igualitria.A arqueologia mostra que, na Amaznia pr-colonial, justamente entre
as sociedades que parecem ter atingido os nveis mais complexos e
hierarquizados de organizao social que surgiram as representaes de
animais e humanos, onde estes se misturam formando criaturas mticas como,
por exemplo, nas figuras duais representadas na cermica Tapajnica.
Parece-nos, portanto, que no se trata de identificar elementos de uma
esttica de sociedades tribais diferenciada de outra de sociedades maiscomplexas, e assim por diante, mas entender como estes modelos mentais do
mundo presentes na cultura material expressam mudanas na forma em que
estes mundos so organizados.
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Tradio e mudana nas artes indgenas da Amaznia antiga:
urnas funerrias e cacicados
O exame de como as tradies estticas surgem inicialmente de forma
diferenciada na Amaznia, do mbito regional e contextos em que elas
aparecem pode ser elucidativo para avanarmos na questo de como a arte
expressa mudanas sociais, em especfico o exemplo de Maraj, onde as
pesquisas tm sido mais intensas.
Em Maraj, a rpida formao de cacicados parece ter ocorrido a partir do
sculo V de nossa era. Nessa poca, uma grande quantidade de tesos montes
artificiais comea a ser construda na poro leste da ilha, aparentemente
destinada formao de reas mais elevadas, protegidas das inundaes
anuais to intensas na ilha. Os arquelogos acreditam que, ao longo do tempo,esses tesos se tornaram smbolos fsicos de prestgio de cada comunidade e de
liderana e capacidade de mobilizao das chefias locais (Schaan 2001b).
Grupos de tesos de diferentes tamanhos so encontrados nos pequenos rios e
lagos nessa parte da ilha, e enquanto certas reas parecem ter sido usadas para
a habitao e fabricao de uma grande quantidade de cermica, outras eram
usadas como cemitrios. Nestes ltimos, encontra-se uma variada gama de
objetos morturios. As urnas cermicas so enterradas contendo no s osossos dos indivduos, mas tambm pequenos vasos, estatuetas, e objetos
pessoais, como bancos, utenslios de pedra e adornos corporais tangas,
pingentes e colares, (Meggers & Evans 1957; Palmatary 1950; Schaan 2000,
2001a e b).
Neste contexto altamente ritual, a cermica sempre muito decorada, em
geral com pintura policromada, mas tambm com incises e apliques
modelados. Estudos iconogrficos da decorao dos objetos revelaram a
representao figurativa e estilizada de animais e humanos como expresso de
mitos e crenas que estruturaram o universo espiritual Marajoara (Schaan,
1997). Padres decorativos simtricos e smbolos geomtricos so combinados
de acordo com regras bastante rgidas, representando criaturas de traos
mistos, entre animais e humanos e lembrando as transformaes animsticas
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que at hoje perduram as narrativas amaznicas.
A representao dessas figuras, e especialmente a forma como os corpos
humanos so concebidos tm sido uma fonte de inspirao particularmente rica
para se entender o cosmos e o ethos Marajoara (Roosevelt 1988; Heckenberger
1999; Schaan 2001a e b).
Se, ao nvel regional mais amplo, e especialmente para o mdio
e baixo Amazonas, a partir de 500 AD o aparecimento de vrios estilos
regionais parece coincidir com o de sociedades organizadas em
cacicados mais complexos, muitas semelhanas tambm so
observadas entre eles. As urnas antropomorfas das vrias fases
arqueolgicas regionais, tanto do baixo Amazonas (Marajoara,
Mazago, Caviana, Marac, Arist e Aru) tanto como do mdio e alto
Amazonas (Guarita, Rio Napo) podem ser vistas enquanto variaes
de um mesmo tema no qual o corpo humano de seres ancestrais so
perpetuados plasticamente na forma de urnas (Barreto 2004).
As urnas funerrias dos diferentes estilos regionais se assemelham e
compem uma linguagem comum amaznica no s na sua antropomorfia, mas
tambm em outros elementos que se observam no prprio grafismo que as
recobre, como por exemplo, as espirais reticuladas (cobras estilizadas) sobremuitos destes corpos humanos cermicos. Outra constante a indicao do
sexo do personagem representado, ainda que isto varie entre os estilos
regionais estando indicado de forma mais ou menos estilizada.
Os estilos regionais se diferenciam pelas diferentes formas de
representao dos seres, isto no grau de realismo em que as pessoas so
representadas, sobretudo na forma da prpria urna e como elas representam o
corpo humano, algumas com corpos bem cilndricos, outras mais globulares
lembrando corpos grvidos; algumas com corpos sentados sobre bancos, o que
pode ser interpretado como uma insgnia de prestgio ou poder (McEwan 2001),
enquanto em outras as pernas aparecem apenas estilizadas, ou ainda esto
ausentes; alguns estilos de urnas tm tampas representando cabeas, outras
apresentam apenas olhos prximos borda indicando a parte superior do corpo
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humano.
As diferenas entre os estilos regionais certamente refletem as diferentes
maneiras de se fabricar o corpo humano e de se conceber o papel dos
indivduos no universo de suas culturas, como nos mostram as etnografias de
Gow (1999b) e Viveiros de Castro (1987).
Nota-se, por exemplo, que apesar de a indicao do sexo estar sempre
presente, em algumas culturas parece haver uma real correspondncia entre o
sexo das urnas e o dos indivduos nelas enterrados (com nas urnas Marac,
vide Guapindaia 2001), enquanto que em outras, como nas urnas Marajoara,
onde mais de um indivduo pode ser enterrado em uma urna, o sexo da figura
antropomorfa representada sempre feminino (Schaan 2004). A partir destas e
outras evidncias alguns arquelogos chegaram mesmo a levantar hiptesessobre uma maior importncia do papel das mulheres em Maraj poca pr-
colonial, e mais especificamente uma organizao social em matriarcados
(Roosevelt 1988) ou em linhagens ancestrais femininas (Barreto 2003, Schaan
2001b e 2003).
Outra diferena a representao de indivduos sentados sobre bancos,
objeto este que tem sido interpretado como uma insgnia de diferenciao de
indivduos masculinos de maior prestigio, como os chefes e xams, entrealgumas sociedades indgenas do noroeste da Amaznia no passado. O banco,
objeto ainda hoje associado a rituais xamansticos entre os Tukano no s
uma insgnia do xam mas tambm aumenta de tamanho de acordo com o
prestgio deste. Juntamente com outros objetos, o banco, e o ato de se sentar
em um banco, remete a vrios mitos de origem da humanidade e rituais de
comunicao com um mundo espiritual dos seres acentrais (Ribeiro 1989;
McEwan 2001).
A representao de indivduos sentados em bancos nas urnas funerrias
arqueolgicas da Amaznia varia regionalemnte. Nas urnas Marac e Caviana,
todos os indivduos (homens, mulheres, e crianas) so sistematicamente
representados sentados sobre bancos, enquanto as representaes humanas
das urnas Arist e Marajora no fazem referncia a bancos, e s vezes nem
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sequer as pernas dos indivduos esto representadas. As urnas dos estilos
Guarita e Rio Napo, no mdio e alto Amazonas, mantm por vezes a indicao
das pernas dobradas, com se o indivduo estivesse sentado, juntamente com a
indicao de sexo do indivduo, mas no parece ser um atributo obrigatrio na
representao de todos os indivduos. Parece portanto existir graus de
diferenciao distintos entre os indivduos representados, com alguns estilos
indicando maior prestgio de determinados indivduos masculinos (chefes e
xams) enquanto em outras sociedades os indivduos parecem diferenciados
apenas pelo sexo.
As diferenas entre os estilos regionais podem assim fornecer
informaes importantes sobre os diferentes graus e formas de complexidade
social atingidos pelos antigos cacicados amaznicos.Por outro lado, as semelhanas encontradas entre os estilos regionais
tm sido interpretadas ora como coincidncias, ora como evidncia de contato e
interao entre estas sociedades, uma vez que redes de troca testemunhadas
pela distribuio de certos objetos (Boomert 1987), poderiam ter impulsionado
tambm a adoo de smbolos grficos (Schaan 2003). Contudo, a recorrncia
dos grafismos e figuras representadas pode tambm denotar uma base
mitolgica minimamente comum, mas o processo histrico que gerou esta basecomum ainda desconhecido.
Alguns processos histricos melhor conhecidos arqueolgicamente em
escala regional menor podem elucidar a relao entre estilos artsticos e
transformaes sociais na regio amaznica como um todo. Por exemplo,
estudos sobre variaes estilsticas no interior da ilha de Maraj revelaram que
ao invs de se correlacionarem a diferenas cronolgicas, como previamente
sugerido (Magalis 1975; Meggers e Evans 1957; Roosevelt 1991), estas
variaes estilsticas resultaram de uma rpida expanso geogrfica da cultura
Marajoara pela ilha, em um perodo de 100 a 200 anos, e que a segregao de
sub-estilos surgiu para demarcar centros regionais autnomos que interagiam ou
competiam entre si (Schaan 2003).
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Da mesma forma, o aparecimento durante o primeiro milnio A.D. de
prticas de enterramento em urnas cermicas antropomrficas decoradas por
toda a bacia amaznica pode ser visto como o surgimento de uma linguagem
comum, usada de forma identitria por toda a regio amaznica para se
demarcar centros de poder regionais (cacicados) atravs dos diferentes estilos
da cermica funerria.
O fato de que esta variabilidade estilstica se manifeste em uma gama de
objetos intencionalmente durveis, destinados a preservar e proteger os
ancestrais para a eternidade, e tambm em objetos de natureza altamente
cerimonial, indica que a identidade destes centros era legitimada atravs de
lugares ceremoniais (como os cemitrios) e suas relaes com domnios
ancestrais e espirituais.Na Amaznia, alguns cemitrios antigos, como os da cultura Marac,
guardam as urnas em lugares protegidos (como abrigos e cavernas), mas ao
invs de manterem as urnas enterradas, estas ficam expostas aos visitantes
(Guapindaia 2001). As urnas Aru e Arist tambm no eram propriamente
enterradas, mas eram colocadas em bragos ou outros lugares protegidos, porm
visveis, da floresta (Meggers e Evans 1957). Esta visibilidade intencional sugere
fortemente a prtica de uso da representao dos ancestrais enquantomarcadores de identidade poltica e cultural para o mundo exterior, isto as
outras sociedades amaznicas contemporneas.
interessante notar que a representao dos ancestrais em urnas
funerrias cermicas, uma tradio regional to arraigada na Amaznia pr-
colonial, e apesar de continuada durante os primeiros tempos de contato (como
atestam as contas de vidro europias encontradas em urnas Marac), parece ter
sido abandonada por completo entre as sociedades indgenas ao longo da
histria.
Seu abandono certamente no se deve ao abandono da fabricao da
cermica, uma vez que algumas sociedades amaznicas (como por ex. os
Waur, ou os Asurini do Xingu) mantiveram esta prtica at hoje, mantendo
tambm seus diferentes estilos de forma e decorao. A importncia do mundo
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ancestral entre as sociedades indgenas contemporneas to pouco diminuiu,
como denotam a prtica de rituais funerrios bastante importantes como, por
exemplo, o ritual funerrio Bororo ou o Kuarup entre os xinguanos, ou ainda em
geral, em outras manifestaes mitolgicas e cerimoniais.
possvel que certas prticas contemporneas, como, por exemplo, a
representao do morto nos postes de madeira do ritual funerrio Kuarup, no
Alto Xingu, possa ser vista como uma reminiscncia das urnas antropomorfas
funerrias do passado pr-colonial. Neste caso, os chefes recm-mortos so
invocados ao final do ciclo ritual a ocupar estes idolos de madeira, decorados
com as insgnias de chefia, com os diademas, colares, brincos, etc..., e a pintura
corporal que representa os ancestrais e as chefaturas. Heckenberger nota que o
Kuarup um dos rituais de passagem mais importantes para a reatualizao dopoder dos chefes da comunidade, durante o qual, atravs da presena dos
troncos transformados em personagens ancestrais, as linhas de poder so
lembradas e os espritos dos antigos chefes so invocados para animar os vivos
por uma ltima vez, no s reatualizando os elementos principais da
cosmogenia xinguana, mas tambm resedimentando o elo com os ancestrais, os
quais so dispostos lado a lado, no corao da aldeia, para o descanso final
(Heckenberger 2005: 297, traduo da autora).Esta clara relao entre hierarquia social e ancestralidade, observada
ainda hoje entre as sociedades xinguanas teria tido sua origem nos processos
pr-coloniais de transformao social que deram origem aos estilos regionais de
urnas funerrias? possvel entendermos determinadas atividades rituais e
expresses estticas contemporneas enquanto reminescncias de um antigo
ethos essencialmente hierrquico? Quando e como teriam estas sociedades
amaznicas abandonado as prticas rituais que reatualizam a hierarquia social
atravs da ancestralidade?
O abandono da prtica de enterramentos em urnas funerrias enquanto
demarcadores de identidade de poderes regionais certamente compatvel com
aquilo que conhecemos sobre as mudanas scio-polticas que sofreram os
cacicados amaznicos aps os primeiros anos de colonizao, em que a
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dizimao populacional e a reintegrao de poderes regionais em redes de
comrcio e guerras coloniais reorganizam suas identidades scio-polticas
(Porro 1994, Whitehead 1992).
Whitehead descreve como, durante a colonizao, determinadas
sociedades amerndias do nordeste da Amrica do Sul que representavam
poderes regionais bastante centralizados acabaram por se tribalizar por terem
sido reduzidos demografica e militarmente ou por terem estabelecido relaes
de dependncia poltica e econmica com os governos europeus. Alm disso,
documenta como novas identidades tnicas e tribais foram gradualmente
moldadas pela lenta e tnue expanso e contrao dos estados coloniais,
concluindo que nenhum grupo indgena moderno desta rea pode ser tomado
como exemplo de padres pr-coloniais de existncia, pressuposto este queconsidera ingnuo quando postulado por arquelogos e etngrafos (Whitehead
199: 134-135).
No entanto, se uma certa prudncia certamente necessria no exerccio
da comparao entre as culturas que a arqueologia revela e as sociedades que
a etnografia observa, sobretudo no que diz respeito suas identidades culturais,
suas histrias de transformao entre o passado pr-colonial aos dias de hoje
podem ser recuperadas atravs de testemunhos materiais que refletem estasmudanas identitrias, notadamente, os estilos tnicos. Por exemplo, estudos da
mudana de estilos de decorao em cermicas histricas e contemporneas
dos Kalina (ou Galibi), um povo de lingua Carib, hoje habitando o litoral das
Guianas e do Amap, demonstrou que o estilo da cermica atual no remete a
uma etnicidade nica, fechada em si mesma, mas o resultado de influncias e
interaes dos Kalina com outros grupos, antes e depois da chegada dos
europeus. A anlise de uma sequncia histrica desta cermica possibilitou
assim retraar a complexa histria de interaes entre sociedades indgenas
desta regio e identificar processos de formao de novas identidades tnicas
claramente expressos nos estilos de decorao da cermica (Collomb 2003).
Assim como com a cermica Kalina, a variao de estilos regionais nas
urnas funerrias amaznicas ilustra como estilos artsticos e, sobretudo, formas
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de representao do mundo, neste caso do mundo ancestral, esto intimamente
relacionadas a processos histricos especficos. No caso das urnas funerrias,
identificamos a necessidade de demarcao de poderes regionais atravs da
legitimao de suas identidades com o mundo ancestral, relacionada
especificamente formao de cacicados e a uma dinmica de interao
regional prpria, quer atravs de redes de troca quer atravs da competio e da
guerra.
Concluses
Alguns arquelogos sugerem que somente a partir de analogias
etnogrficas que a arqueologia pode interpretar as representaes simblicas
da arte pr-colombiana. MacDonald (1972), por exemplo, ao associar aiconografia da cermica Tapajnica (Santarm) e, sobretudo, os animais nela
representados, a mitos compartilhados entre grupos indgenas Carib, argumenta
que a partir destes mitos atuais pode-se entender como os antigos Tapajs
ordenavam seu universo no passado.
Contudo, como vimos, nem sempre e analogia etnogrfica dentro de um
contexto de continuidade histrica possvel, e outras dimenses dos estilos
artsticos arqueolgicos devem exploradas, como apontamos acima na relaoentre formas de representao e processos de mudana social.
Especificamente no caso da Amaznia, e para avanarmos na questo de
quo diferentes eram as sociedades indgenas pr-coloniais das atuais, nos
parece que um novo olhar sobre a arte e estilos artsticos das tradies
arqueolgicas pode contribuir para algumas respostas, se acompanhadas pela
experincia etnogrfica com os domnios simblicos de sistemas especficos de
arte, representao e comunicao atravs da cultura material, e em particular
da cermica, que parece ser um universo de estudo comum etnografia e
arqueologia.
Est claro que a anlise de uma esttica amerndia da Amaznia que faa
uma ponte entre o passado e o presente tambm possvel no domnio da
construo da paisagem, isto na esttica espacial dos assentamentos, dos
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monumentos ou de intervenes humanas no meio ambiente em geral, como
sugere Heckenberger (2005: 252) que identifica uma esttica cultural de
construtividade e monumentalidade prprias aos povos Xinguanos, por exemplo.
Contudo, nem sempre os testemunhos arqueolgicos desta esttica da
paisagem foram preservados ou podem ser identificados em seu projeto
original, uma vez que a paisagem (sobretudo nos trpicos amaznicos) se
transforma inexoravelmente com o tempo, com ou sem a ao humana.
Deste ponto de vista, a cermica, assim como a arte rupestre, parece ser
um sujeito privilegiado para o estudo destes universos estticos, pois apesar de
representarem apenas uma pequena parcela dos suportes materiais possveis
das expresses estticas, ela representa um dos poucos tipos de objetos que
so concebidos e construdos para perdurarem no tempo, talvez para aeternidade, diferentemente dos artefatos mais efmeros confeccionados em
palha, madeira, plumas e etc., os quais no sobrevivem s intempries do
tempo. Contrastam tambm com a linguagem esttica da decorao corporal
que tem uma durao mais circunstancial.
De maneira geral, o domnio das atividades cerimoniais tambm se
sobressai como contexto privilegiado para estes estudos, por serem nas
cerimnias que as sociedades indgenas atualizam suas crenas e concepesdo mundo. A cermica ceremonial, tanto a arqueolgica e como a etnogrfica,
como no exemplo das urnas funerrias, parece se constituir, portanto, em um
universo altamente promissor para aprofundar a abordagem aqui proposta.
Por fim, acreditamos que este esforo metodolgico na direo de um
dilogo entre a arqueologia e a etnografia das sociedades amaznicas, em um
terreno no qual o casamento entre uma perspectiva histrica de longo prazo,
inerente viso arqueolgica, e a riqueza e complexidade da etnografia
disponvel sobre sistemas amaznicos de representao visual de cosmologias
particulares, pode oferecer reais avanos para melhor entendermos as
mudanas ocorridas nas sociedades indgenas da Amaznia e melhor
avaliarmos o impacto da colonizao europia sobre suas tradies culturais.
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8/7/2019 WP1 arte e arqueologia
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