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VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
COMPORTAMENTO E DERIVAÇÕES DAS PRECIPITAÇÕES PLUVIAIS NO ALTO
CURSO DO RIO SUBAÉ-BA
MICHELLE PEREIRA DA COSTA DA SILVA¹ SANDRA FREITAS SANTOS¹
CARLA ALESSANDRA MELO DE FREITAS BASTOS1 JOSEFA ELIANE SANTANA DE SIQUEIRA PINTO2
RESUMO O estudo sobre clima e recursos hídricos, associados aos impactos dos resíduos sólidos como atividades derivadas propiciou essa reflexão que sucedeu a discussão sobre as chuvas que influenciam na manutenção da bacia hidrográfica. Diante disso, o escopo deste artigo é compreender o comportamento e as derivações das precipitações pluviais no alto curso do Rio Subaé – BA, ressaltando a degradação causada pelo descarte indevido de resíduos sólidos, ampliando os riscos e impactos no período chuvoso. Os procedimentos metodológicos consistiram na revisão bibliográfica, levantamento e análise de dados pluviométricos e registro fotográfico. A partir das análises realizadas notou-se o danoso comprometimento do alto curso desta bacia, pelo seu processo de urbanização, pela irregularidade de suas chuvas e pelo acúmulo de resíduos sólidos em suas cabeceiras. Palavras chave: Clima, Bacia Hidrográfica, Resíduos Sólidos.
ABSTRACT The study of climate and water resources, associated with the impacts of solid waste as derivatives activities led to this reflection that followed the discussion about the rains that influence the maintenance of the watershed. Thus, the scope of this article is to understand the behavior and derivations of rainfall in the upper reaches of the Rio Subaé - BA, highlighting the degradation caused by improper disposal of solid waste, increasing the risks and impacts in the rainy season. The methodological procedures consisted of literature review, survey and analysis of rainfall data and photographic record. From the analyzes it was noticed the harmful commitment of the upper reaches of the basin, by the process of urbanization, the irregularity of its rain and the solid waste accumulation in the headwaters. Key words: Climate, Hydrographic basin, Solid waste.
1 - Introdução A climatologia compõe área de interesse nos estudos ambientais, dada a sua
influência nos sistemas da hidrosfera, biosfera e litosfera, que são controlados pelas
condições que se estabelecem na interface atmosfera – superfície. Além disso, o clima
exerce interferência direta e indireta nas atividades humanas, alterando o cotidiano das
pessoas.
Na perspectiva da ciência geográfica, o clima é um recurso natural que desempenha
influência significativa na organização da sociedade, na interação com os elementos do
1 Acadêmicos do programa de pós-graduação em Geografia na Universidade Federal de Sergipe. E-
mail: chell.geouefs@gmail.com; sandra.estroges@gmail.com; carla.meelo@gmail.com. 2 Docente do programa de pós-graduação em Geografia na Universidade Federal de Sergip. E-mail:
josefaeliane@ufs.br.
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espaço geográfico, a fim de contribuir e manter circunstâncias vantajosas para ocupação
humana (DINIZ, 2012). Portanto, faz-se mister integrar informações sobre o clima assim
como o conhecimento de derivações antropogênicas, buscando efetividade nos
planejamentos e ordenamentos dos espaços.
Os fenômenos climáticos são dinâmicos, uma vez que são influenciados por
sistemas que comandam a sua repercussão, caracterizando mecanismos de um
determinado tipo de clima. Esse recurso natural, com sua dinâmica também se permite ser
influenciado por outros elementos, sendo estes: da paisagem, da vegetação e do homem
(enquanto ser social) através de suas diversas atividades (AYOADE, 1988).
Outrossim, o estudo do clima para as bacias hidrográficas é significativo, uma vez
que os fenômenos atmosféricos comandam os processos hidrológicos. A precipitação
pluviométrica é a principal fonte de restabelecimento dos recursos hídricos, haja vista que é
a entrada de energia no sistema da bacia hidrográfica. A pluviosidade influencia na vazão
dos cursos d’água da rede de drenagem, uma vez que sua ocorrência é dada pela
interceptação ou armazenamento no sistema.
E, por derivações foram desenvolvidos estudos sobre resíduos sólidos, na forma de
uso e ocupação do solo, buscando a compreensão integrada entre o ambiente da bacia e as
chuvas.
Para Pinto & Aguiar Netto (2008, p. 183):
A gestão dos recursos hídricos se insere no contexto das novas práticas para com os recursos naturais cuja realidade é antecedida por estudos que apontem e demonstrem as formas de apropriação e os níveis de suporte da relação homem-ambiente. Nesse contexto, a bacia hidrográfica é estabelecida como unidade de planejamento, sendo analisada como um sistema aberto, resultante da interação das ações humanas com os elementos e formas do meio físico e, dentre estes, em especial, a disponibilidade e qualidade das águas.
Segundo Nimer (1989, p.9) ”nenhum fenômeno da natureza pode ser compreendido,
quando encarado isoladamente, fora dos demais circundantes”. Dada a importância de
estudos integrados no âmbito do eixo ambiental faz-se necessária a articulação dos
conhecimentos relacionados aos aspectos físicos, bióticos e antrópicos para compreender o
funcionamento da dinâmica do sistema hídrico.
Diante disso, a discussão realizada leva a reflexão sobre os fatores climáticos e a
interação deste com os recursos hídricos. Ressaltando a importância que esta conexão
(Clima e Recurso hídrico) contribui para análise da dinâmica socioambiental e geográfica.
Nesta perspectiva, este trabalho buscou compreender sob essa temática, a distribuição da
precipitação pluviométrica e derivações relativas a presença de resíduos sólidos do alto
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curso do Rio Subaé – BA, considerando a conjuntura da precipitação pluviométrica e sua
variabilidade temporal.
O alto curso do Rio Subaé situa-se em uma faixa de transição, denominada de
agreste, entre o sertão e o clima úmido do litoral. Localiza-se dentro do limite político-
administrativo de Feira de Santana – Ba e situa-se a aproximadamente a 107 km da capital
baiana (Figura 1). Está inserida na Região de Planejamento e Gestão das Águas (RPGA) do
Recôncavo Norte.
O contexto socioambiental do alto curso do rio Subaé reflete os conflitos sociais,
políticos, econômicos e ambientais do espaço urbano, uma vez que a sua área se situa, em
grande parte, no perímetro urbano do município de Feira de Santana. O rio é receptor de
efluentes doméstico e industrial, e, além disso, a ocupação irregular atinge áreas que
deveriam estar ambientalmente protegidas, e que são sujeitas a chuvas irregulares.
Figura 01 - Localização da área de estudo.
Fonte: Santos, 2015.
Considerando-se a perspectiva de análise do clima e a sua importância para a
dinâmica socioambiental e para a Geografia este trabalho buscou compreender sob essa
temática, a conjuntura da precipitação pluviométrica no alto curso da bacia hidrográfica do
Rio Subaé no período de onze anos (2001 a 2011) e os impactos causados pelo descarte
indevido dos resíduos sólidos, ou como tais resíduos se coadunam com as chuvas. Os
dados utilizados para a discussão foram obtidos pela Estação Climatológica da Universidade
Estadual de Feira de Santana – UEFS e através de trabalhos de campos que
proporcionaram a percepção atual da área de estudo.
Evidencia-se que a relevância do trabalho consiste em fornecer informações sobre
as condições climáticas, por via das precipitações pluviais, do alto curso do Rio Subaé a
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partir de uma escala temporal, associando tal comportamento aos resíduos sólidos. Tais
informações oferecem contribuições pertinentes tanto para caracterizar a área de estudo
quanto para direcionar tomadas de decisões e medidas mitigadoras de planejamento,
gestão e conservação dos recursos hídricos. Dessa forma, reforça a relevância social e
ambiental da interação entre clima e recursos hídricos.
2 - Material e Métodos
O primeiro procedimento metodológico adotado para o desenvolvimento deste
trabalho consistiu no levantamento de referências bibliográficas para embasar a discussão
teórica abordada. Fizeram-se necessárias algumas leituras de temas específicos que
envolvessem as temáticas: Clima e Geografia, Clima e Recursos Hídricos e Resíduos
Sólidos. Nesta perspectiva, as leituras de autores como: AYOADE, J. O., 1988; TUCCI, C.
E. M. e BRAGA, B., 2003; MENDONÇA, F. 1999; PINTO & AGUIAR NETTO, 2008, entre
outros, contribuíram para esclarecer e fundamentar questões relacionadas às dinâmicas
naturais desempenhadas na atmosfera, bem como discutir a influência do sistema climático
nas atividades antrópicas desempenhadas na bacia.
Posteriormente para a obtenção dos resultados realizou-se coletas de dados sobre a
precipitação pluviométrica, os quais foram extraídos da Estação Climatológica 83221 da
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS. Esta consiste numa estação
meteorológica convencional cuja função é monitorar informações sobre temperatura,
pluviosidade entre outros. O seu funcionamento ocorre todos os dias da semana, durante
todo o ano, com três coletas regulares (padrão), que são efetuadas às 9:00h, 15:00 e
21:00h. No período de horário de verão, as coletas são realizadas às 10:00h, 16:00h e
22:00h, para manter os dados dentro do padrão internacional (ESTAÇÃO CLIMATOLÓGICA
– UEFS).
A seleção dos dados estabeleceu uma série pluviométrica que corresponde ao
período de 2001 a 2011, ou seja, um período relativamente recente de onze anos que
proporcionou uma compreensão atual do regime de chuvas do município e especificamente
da área delimitada do alto curso da Bacia do Rio Subaé.
Para discutir sobre o comportamento da precipitação pluviométrica, levou-se em
consideração as derivações antropogênicas, sobretudo a presença de resíduos sólidos no
alto curso do Rio Subaé. Nesta etapa, durante o trabalho de campo, utilizou-se registro
fotográfico identificando os pontos de descarte dos resíduos.
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Os resultados foram organizados e discutidos com auxílio de quadro e climograma
dos dados sobre precipitação pluvial, a partir das ferramentas informacionais, garantindo a
melhor sistematização do comportamento das chuvas no período analisado.
3 - Resultados
O estudo da Climatologia é fundamental para a compreensão dos inúmeros
processos que ocorrem nos sistemas ambientais, pois os fenômenos da superfície são
comandados pela dinâmica da atmosfera (PENTEADO,1980). O alto curso do Rio Subaé
abrange uma faixa de transição climática denominada de agreste, a qual está entre o sertão
e a zona da mata. Analisar o perfil pluvial permite compreender as condições climáticas que
as cabeceiras do rio estão inseridas, e, portanto, associá-la com outros fenômenos que
integram a dinâmica da bacia hidrográfica. Christofoletti (1999, p. 63) aponta que “as
características sobre as temperaturas e precipitação são analisadas principalmente como
sendo fluxo de matéria e energia entre os componentes dos geossistemas”.
O Rio Subaé nasce no município de Feira de Santana, no perímetro urbano, e o seu
fluxo direciona-se até a Baía de Todos os Santos, onde ocorre a sua desembocadura no
mar. Para Franca-Rocha et al. (1998) apud Santos (2013) as nascentes são do tipo aquífero
confinado, com o aspecto de lagoa, já que forma parte do manancial subterrâneo que aflora
na superfície terrestre e se encontra entre duas camadas impermeáveis de material sólido.
A bacia hidrográfica consiste num sistema ambiental aberto, ou seja, há entrada e
saída de matéria e energia na unidade. O resultado do escoamento fluvial decorre de uma
série de processos que fazem o sistema funcionar, resultante da articulação de vários
subsistemas, tais como o clima (temperatura, precipitação, evaporação, radiação etc.),
relevo, vegetação, solo entre outros.
Mas é a precipitação pluviométrica um dos condicionantes climáticos mais avaliados
no nordeste do Brasil, visto que esta região apresenta acentuada variabilidade contrapondo-
se a regularidade dos demais componentes climáticos. Segundo Carvalho (2014) o
conhecimento dos totais pluviométricos médios anuais são importantes para política de
planejamento econômico, pois fornecem parâmetros para a avaliação do potencial hídrico.
A ação pluvial exerce um papel importante na transformação das paisagens, atuando
nos processos da morfogênese com a retirada, transporte e acumulação dos sedimentos.
Após a incidência da precipitação pluviométrica, a água que não é interceptada e/ou
evaporada, ao atingir a superfície e saturarem as camadas superiores do solo, irá formar o
escoamento superficial. A capacidade de infiltração depende das características do solo,
bem como da intensidade da precipitação, portanto, superfícies desprotegidas de cobertura
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vegetal, assim como, áreas impermeáveis pela infraestrutura urbana, possuem baixa
capacidade de retenção de água.
Nas áreas urbanas a impermeabilização do solo e as construções diminuem o
potencial de infiltração da água e como consequência se tem o aumento das cheias e
enchentes. Segundo Botelho e Silva (1999, p.173)
A água da chuva, impedida de infiltrar-se, escoa sobre a superfície pavimentada, seguindo diretamente para os canais fluviais, alimentando-os rapidamente e podendo causar – dependendo, entre vários fatores, da intensidade e duração das precipitações - enchentes de proporções alarmantes.
De acordo com Tucci (1997, p.10) “a qualidade da água da rede pluvial depende de
vários fatores: da limpeza urbana e sua frequência, da intensidade da precipitação e sua
distribuição temporal e espacial, da época do ano e do tipo de uso da área urbana”. Para o
referido autor o desenvolvimento urbano tem produzido um ciclo de contaminação gerado
pelos efluentes da população urbana, que são o esgoto/doméstico/industrial e o esgoto
pluvial.
A dinâmica urbana influencia nas características do clima da cidade, a partir das
derivações antropogênicas, em suas variadas formas. Monteiro (2003) ao discutir Sistema
Clima Urbano salienta que os fenômenos climáticos são capazes de causar impactos na
vida da cidade. E sustenta que:
Se um clima local é um ponto dentro do regional onde uma conjugação de fatores “especializa” uma certa definição climática, nos locais ocupados por cidades, a ocorrência destes “fatores” constitui um espectro bem mais amplo pelas grandes “derivações” introduzidas pelo Homem na edificação urbana. Não apenas “edificado” urbanisticamente, mas pela adição de várias alterações no quadro geoecológico, tais como represas, reservatórios, aterros, desmontes de morros, etc. Assim, os climas urbanos são climas locais muito alterados por ação antrópica.(MONTEIRO, 1999, p.27)
Nos últimos anos, a contaminação dos corpos hídricos urbanos tem aumentado
significativamente devido às diversas atividades antrópicas, tornando-se, na maioria dos
casos, locais de descarte de materiais recicláveis e não reutilizáveis, comprometendo a
dinâmica ambiental da rede de drenagem.
A produção e a destinação dos resíduos sólidos urbanos (RSU) configuram uma das
maiores problemáticas ambientais enfrentadas por pequenas, médias e grandes cidades. O
aumento na quantidade de resíduos produzidos diariamente está vinculado ao crescimento
populacional e aos novos padrões de vida essencialmente consumista imposto pela
sociedade industrial. Porém, a falta de infraestrutura sanitária, atrelada a esse crescimento
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constitui um desafio para técnicos e administradores públicos no gerenciamento e
tratamento de resíduos sólidos no país.
Entende-se por resíduos sólidos:
Aqueles que resultam da atividade da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Considera-se também resíduos sólidos, os lodos provenientes de sistema de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos de instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornam inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água ou exijam, para isso, soluções técnicas e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível (ABNT, 2004).
Dessa forma, em decorrência de sua heterogeneidade, os resíduos podem ocasionar
impactos negativos durante toda sua trajetória e especificamente, em sua fase de
destinação final, pois contaminam o solo, os corpos hídricos e provocam risco à saúde
humana. Os processos de gerenciamento destes resíduos produzem impactos
socioambientais, consideravelmente relevantes, pois seus efeitos deletérios são um risco a
qualidade de vida (ANJOS; FERREIRA, 2001).
A bacia de drenagem urbana aparece entre as principais responsáveis pela
veiculação de cargas poluidoras, estabelecendo-se em um importante fator de degradação
dos corpos hídricos (TUCCI, 2002). Os RSU se destacam como principais fontes da
produção de material sólido em uma bacia hidrográfica urbana. Dentre os efeitos causados
pelos resíduos sobre o sistema de drenagem, destaca-se o assoreamento dos canais,
aumento de inundações e contaminação das águas.
Observa-se nas margens dos cursos d’água do Rio Subaé a disposição inadequada
de resíduos sólidos como sacolas plásticas, garrafas pets, sofás, materiais de construção
civil, efluentes domésticos entre outros (Figura 2). O local que fora observado e registrado
com o acúmulo de RSU se localiza, no Bairro Brasília, próximo a uma das nascentes que
compõe a rede hidrografia e isto demonstra à ineficiência da gestão e coleta dos resíduos
sólidos, assim como, a negligência da responsabilidade ambiental por parte do poder
público e da comunidade local. A presença de resíduos tanto sólidos quanto líquidos eleva o
nível de susceptibilidade à degradação ambiental dos recursos hídricos.
Nota-se que a quantidade e tipo de rejeitos sólidos observados são provenientes dos
domicílios e do lixo da varrição das vias públicas. A população que mora próximo ao canal
do rio encontra nos terrenos baldios e nas margens dos corpos d’água um local para
descartar os resíduos.
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Figura 02 - Resíduos Sólidos observados no alto curso do Rio Subaé, no município de Feira de Santana, Bahia. Fonte: Silva, 2015.
A pluviosidade e resíduos sólidos estabelecem intrínseca relação, pois a água
consiste no principal agente de transporte de sedimentos, portanto, com o escoamento
superficial, os resíduos, dispostos de modo inadequado, serão carreados para o canal do
rio. Desse modo, em períodos com intensidade maior de chuva, a coleta de resíduos deve
ser eficiente e regular para evitar a contaminação dos corpos d’água.
O comportamento da pluviosidade permite integrar as ações de planejamentos de
resíduos sólidos, uma vez que, tais informações são úteis para ordenar as atividades da
sociedade com a finalidade de desenvolver medidas que amenizem os efeitos da poluição
sobre os recursos hídricos.
Há que se fazer o registro de que no nordeste brasileiro a variabilidade da
pluviosidade está associada à atuação dos mecanismos da circulação atmosférica atuantes
sobre esta região, a qual sofre influência dos Anticiclones Subtropicais do Atlântico Sul e do
Atlântico Norte, bem como pela Zona de Convergência Intertropical. Tratando-se de uma
região de transição entre o clima seco do semiárido e o úmido do litoral, a área de estudo se
apresenta com uma pluviosidade concentrada em determinados meses do ano.
A série temporal dos anos de 2001 a 2011, em que pese ser aleatória, representando
um período recente, demonstra que o comportamento anual da precipitação pluviométrica
registra médias relativamente baixas associadas a elevada variabilidade na distribuição
mensal e em seus totais anuais, durante os respectivos anos, conforme consta na tabela 1.
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Observa-se que a média da precipitação anual do período analisado é de 630,57mm,
variando entre 260,8, (2009) a 882,1mm (2003), mas com predominância de índices
superiores a 600mm. Nota-se não haver chuvas totais elevadas, o que caracterizaria a área
como chuvas de semiárido. Mas é dever pensar como estas chuvas se comportam ao longo
do ano, ou seja, se há ou não concentração, se é possível definir regimes pluviométricos na
escala de tempo em análise.
Analisando a variabilidade pluvial em sua distribuição cronológica, pelas médias
mensais do período, pode-se assim caracterizar a distribuição das chuvas. Salienta-se que
os meses de junho e julho são mais chuvosos, enquanto define-se como período menos
chuvoso agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro (05 meses consecutivos),
referente ao término do inverno e primavera, com a média de 31,8 a 43,6 mm. Mas há que
se ressalvar as médias mensais relativas a janeiro e fevereiro que apontam para
irregularidade: ou nos dados ou no comportamento real, que deve ser melhor investigado.
Os anos de 2002, 2003 e 2004 registram alta concentração de chuvas e, em 2006, 2007 e
2008, praticamente sem chuvas.
O regime pluviométrico mensal da área de estudo caracteriza-se pela distribuição
irregular, ou seja, há a concentração de chuvas em determinados meses e outros se
apresentam com menor índice. Observa-se uma considerável variação pluvial, entre
novembro a fevereiro nota-se o período com maior pluviosidade. Nesse período ocorrem as
denominadas chuvas torrenciais, típicas do semiárido que acontecem em curto espaço de
tempo. Desse modo, registra-se um verão relativamente chuvoso quando comparado com
as demais estações do ano.
TABELA 01 - Precipitação pluviométrica do alto curso do Rio Subaé no período de 2001-2011.
Meses/
Anos 2001 2002 2003 2004 2005
2006
2007
2008
2009
2010 2011
MÉDIAS
Janeiro 53,4 207,4 233,6 259,7 53,9 5,2 5,1 1,3 36,8 62,6 78,2 90,6
Fevereiro 2,2 46,4 70,8 95,1 127,5 0,8 267,2 152,7 119,3 10,8 15,1 82,5
Março 103,4 16,8 18,1 19,3 50,2 37,2 60,2 67,3 3,6 86,9 50,0 46,6
Abril 20,8 12,9 41,6 70,3 45,4 75,2 38,8 68,7 57,9 156,1 114,4 63,8
Maio 40,9 100,7 73,5 46,2 76,0 113,4 12,0 35,6 164,0 41,7 32,7 66,9
Junho 86,3 77,3 57,6 87,5 131,2 53,9 92,5 98,4 65,0 81,8 65,0 81,5
Julho 54,2 64,9 129,4 30,6 78,8 49,4 59,6 84,3 50,6 169 30,3 72.8
Agosto 70,1 30,6 79,9 37,7 52,1 30,8 38,2 45,6 39,8 34,4 20,9 43.6
Setembro 64,7 54,4 61,6 6,8 7,2 22,3 33,2 24,8 6,8 43,9 26,7 32,0
Outubro 72,2 6,8 24,9 5,9 1,6 11,0 15,3 27,5 48,4 40,1 96,4 31,8
Novembro 1,7 8,7 87,4 93,9 141,9 149,6 7,0 84,1 17,5 4,6 115,0 64,6
Dezembro 49,7 21,1 3,9 2,6 16,3 55,2 19,4 82,8 11,1 80,4 57,7 36,3
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Fonte: Estação Climatológica da Universidade Estadual de Feira de Santana - Bahia.
Organização: Autoras, 2016.
Na figura 3 relativa ao climograma da área, é possível delinear certa ciclicidade,
entendendo que mesmo mínimas diferenças na escala podem ser indicativas de ciclos e
tendências. No caso em análise, percebem-se dois máximos chuvosos de três anos, a
saber: período de 2003-2004-2005 e 2008-2009-2010. Observando e correlacionando os
dados, recomenda-se maior atenção ao se trabalhar com períodos temporais menores, pois
observam-se índices isolados que devem estar comprometendo a compreensão do clima da
sub-bacia, muito embora sejam significativos para subsidiar algumas
4 - Conclusões
É sabido que o clima é de suma importância para os estudos no âmbito da ciência
geográfica, pois esse fenômeno interfere na dinâmica social, econômica e ambiental. Neste
contexto, a hipótese levantada neste trabalho foi a de demonstrar a importância do clima,
especificamente no comportamento da pluviosidade, com as derivações antropogênicas no
alto curso do Rio Subaé a partir da análise dos resíduos sólidos. A perspectiva sistêmica
visa integrar os fenômenos de modo a compreender a articulação entre os elementos,
portanto, a distribuição da precipitação pluviométrica associada com as ações antrópicas
são condicionantes importantes para caracterizar a dinâmica da área de estudo.
Resultados apontados no trabalho demonstram que as derivações antropogênicas,
associadas ao clima, no alto curso do rio que passam por processo de urbanização e
expansão devido suas cabeceiras por estarem inseridas no perímetro urbano. Uma das
pressões antrópicas identificadas é o acúmulo de resíduos sólidos, descartados de maneira
TOTAL 619,6 648 882,1 725 782,1 604 757,5 773,1 260,8 812,3 702,4 630,57
Figura 03 - Climograma da média mensal do periódo de 2001 – 2011 do alto curso do Rio Subaé. Fonte:
Estação Climatológica da Universidade Estadual de Feira de Santana- Bahia
Organização: Autoras,2016
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inadequada no curso do rio. Dessa forma, a susceptibilidade à degradação dos recursos
hídricos torna-se evidente pela contaminação que estes resíduos podem interferir na
qualidade ambiental do Rio Subaé.
Com base no exposto verifica-se que é necessário o desenvolvimento de um
gerenciamento integrado de resíduos sólidos nos bairros que compõe a bacia do Rio Subaé,
tendo em vista regularizar a limpeza das vias públicas, principalmente nos meses em que há
maior intensidade da precipitação pluviométrica, a partir da ciência do comportamento
têmporo espacial das chuvas, devendo subsidiar melhor a gestão da sub-bacia e evitar
impactos ambientais mais danosos.
Diante disso, ressalta-se que o conhecimento do comportamento das chuvas, a
conservação dos recursos hídricos urbanos, associada ao cuidado com os resíduos sólidos,
contribuem para a manutenção ambiental da bacia hidrográfica, que, por sua vez, mostra
sinais de alerta.
5 - Referências
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VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
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