povos e linguas-num7
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8/18/2019 Povos e Linguas-Num7
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Povos e Línguas •
ATEÍSMOUNIVERSITÁRIO
O Reino e o reinado
Pág. 20
Ariovaldo Ramos
Fundamentosda jornada
Ronaldo Lidório
A Missão ea glória de Deus
Igor Miguel
Disponível em:
ANO 2 • Nº 7 • POVOSELINGUAS.COM.BRPOR UM BRASIL MISSIONÁRIO
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2 • Povos e Línguas
Asas de Socorro conta com seu apoio para
fazer muito mais! CONTRIBUA!
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Povos e Línguas • 3
246 ultrassons (novidade)
415 cortes de cabelo
1360 consultas médicas
1820 procedimentos de enfermagem
1947 procedimentos odontológicos
429 Bíblias distribuídas
431 visitas às casas
715
crianças e adolescentes ouviramhistórias bíblicas
2125 pessoas assistiram ao Filme Jesus
Este sorriso tão bonito...
é para te dizer
obrigada
Os ribeirinhos agradecem a sua oferta!
www.asasdesocorro.org.br/tamojunto | (62) 4014-0323
EVANGELIZAÇÃO | SAÚDE | MOBILIZAÇÃO DA IGREJA
O Projeto IDE 2015 aconteceu entre os
dias 14 e 24 de Julho, na pequena cidade
de Prainha, às margens do Rio Amazonas,
Região Oeste do Pará. Mais de 200
pessoas vestiram a camisa em
benefício dos ribeirinhos.
ESTE ANO O PROJETO IDE REALIZOU:
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4 • Povos e Línguas
“Pede-me e eu te darei as nações por herança e os conns da Terra por tua posses-são.” (Salmos 2:8)
EQUIPEBreno Vieitas | Direção-Geral | diretoria@povoselinguas.com.brJullyana Pimenta (MTb 19117 MG) | Diretora Executiva | editor@povoselinguas.com.brNatalie Rocha | Assistente de redação | redacao@povoselinguas.com.brRaicle Ferraz | Relacionamento institucional | relacionamento@povoselinguas.com.brSamuel Matos | Diagramação e Arte
REVISÃOVersão Final
CORRESPONDENTES INTERNACIONAISDavi Pezzato (Tailândia) | Maurício Carvalho (Alemanha) | Klaus Shönberg (Alemanha)
COLUNISTAS:Ariovaldo Ramos | Igor Miguel | Luís Fernando Nacif Rocha | Ronaldo Lidório
PARTICIPAM DESTA EDIÇÃOBárbara Helen Burns | Breno Vieitas | Davidson Henrique Estanislao | Durvalina B.Bezerra | Gustavo de Souza Borges | Jessé Fogaça | Lyndon de Araújo Santos | PauloCapellete | Paulo dos Santos Rodrigues | Pedro Miguel A. Castillo Díaz | RosifranMacedo | Rita Mucci Santos | Raquel Chaves Guerreiro | Zé Bruno
CONSULTORESPaulo Bottrel | Jeremias Pereira | Luís Fernando Nacif Rocha | Ariovaldo Ramos |Ronaldo Lidório | Paulo Mazoni | Cassiano Luz
A Revista POVOS E LÍNGUAS é uma publicação do Grupo Povos e Línguas.Todas as matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores.
Editorial
á épocas que parecem requerer de nós um tom mais reflexivo e um
caminhar mais atento. Ao comemorarmos nosso primeiro aniversá-rio vimos que este é o tempo oportuno para ampliar algumas pers-
pectivas e amadurecer ideias que temos gestado ao longo do último ano.
Esta edição traz um novo projeto gráfico, agora mais leve e interativo.E tem outra novidade: a seção “Campos Brancos” nasce do nosso an-seio como mobilizadores de ampliar o alcance das informações sobre asdemandas do campo missionário. Contamos com agências missionáriasque são referência em suas áreas de atuação para nos ajudar a compor aseção. Cada edição vai mostrar, de forma pontual as demandas e a novoscampos sendo abertos para a ceifa. (Jo 4.35).
Ao longo deste segundo ano, nossas capas serão estampadas por gran-des temas que marcam os desafios missionários desta geração. A pro-blemática do ateísmo universitário inaugura a série abordando questõescomo o ateísmo histórico, o avanço da indiferença pautada pelo agnosti-cismo e a vulnerabilidade de jovens cristãos “superprotegidos”.
Até hoje temos trabalhado para ampliar o alcance da voz dos mestres,pastores, evangelistas, apóstolos e profetas. Assim não ficamos maiscomo crianças, levados de um lado para o outro pelas ondas, nem jogadospara cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza dehomens que induzem ao erro. ” (Ef 4.11,14).
Estamos certos de que ao passar pelas próximas páginas com umaleitura atenta, você vai receber informações de diferentes realidades, veráfrutos gerados por meio da obediência, da prontidão e da fé simples da-
queles que ouvem e obedecem.
Tempo oportuno
H
O Reino eo reinado
Ariovaldo RamosPág. 10
O aspectohumano da missão
Luís Fernando Nacif RochaPág. 30
Fundamentosda jornada
Ronaldo LidórioPág. 40
A Missão ea glória de Deus
Igor MiguelPág. 64
Colunistas
Jullyana Pimenta | Diretora Executiva
Fale ConoscoCentral de Relacionamentorelacionamento@povoselinguas.com.br(31) 3657-9054
povoselinguas .com.br
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Povos e Línguas • 5
ATEÍSMOUNIVERSITÁRIO 20
História dasmissões cristãs 12As grandes navegações e o avanço missionário
Cuidado Integral 16Como lidar com o estresse e evitar o burnout
Povos nãoalcançados 18Como ouvirão?
Escuta missionária 34Terra dos livres: Uma tolerância plástica
Terrorismo na Tunísia
Pág. 8Circular
Encontros inusitados
Pág. 26Mídia e Reino
O que temos sido?
Pág. 38Missão e adoração
Fundamentos da jornada
Pág. 40Coluna
E eu com isso?
Pág. 42Missões Urbanas
O fazedor de tendas
Pág. 46Profissionais em Missão
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6 • Povos e Línguas
Quem Somos
Grupo Povos e Línguas é formado por pessoas de diversos ministérios. É um
espaço aberto interdenominacionalmente para refletir sobre o Evangelho no
aspecto missionário, tendo Jesus Cristo e sua Grande Comissão como o centro
dos interesses e a condição básica para firmar parcerias entre as igrejas e as agên-
cias missionárias; entre pessoas que compreendem que, juntos, podemos ir mais
longe pelo objetivo de levar o Evangelho de Jesus Cristo aos confins da Terra.
Investimos esforços na dinâmica de relacionamento entre pastores, igreja local,
vocacionados, agências e campo missionário. Dispomos de diversas estruturas
de comunicação e, especialmente, de cinco ferramentas utilizadas no processo
de mobilização da Igreja Brasileira: Escuta Missionária, Programa de TV, Revista,
Treinamentos em Vídeo e Workshops Estaduais. Por meio desses recursos, o Grupo
trabalha para promover a mobilização e, definitivamente, ver o Brasil se posicionan-
do como uma verdadeira plataforma de envio missionário, contando com mais de
40 milhões de evangélicos.
Temos a visão de missões tradicionalmente compreendida e a mentalidade da mis-
sionalidade entre diversos atores. São empresários, profissionais liberais e outros que
compreendem que, ocupados ou não com um ministério eclesiástico, temos o único
chamado de fazer com que o nome de Jesus Cristo seja anunciado a toda criatura,
bem como de implantar o seu Reino entre nós.
Da mesma maneira, nossos conselhos de referências teológicas e de agência tra-
zem a segurança de sempre avançarmos com a certeza de que todas as etapas estão
sendo cumpridas. Enquanto isso, trabalhamos dentro do alvo coletivo, respeitando
sempre a realidade de cada ministério e sua visão missionária.
Povos e Línguas
O
A Revista Povos e Línguas não é produzida como objetivo de obtenção de lucros. Toda a sua pro-dução é custeada por parceiros que fazem partedo Grupo e acreditam na relevância dessa inicia-tiva. Grande parte dos exemplares produzidos édoada para líderes brasileiros e distribuída gra-tuitamente em eventos relacionados ao universomissionário. Caso deseje ser um patrocinador ou um parceiroentre em contato conosco pelo telefone (31) 3657-9054.
Juntos podemos ir mais longe, por um Brasil missionário!
acesse com seu smartphone
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Povos e Línguas • 7
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8 • Povos e Línguas
Terrorismo na TunísiaUma nação que resiste ao caos
Circular
m julho, o Parlamento da Tunísiaaprovou a legislação que permite
a pena de morte para os conde-
nados por acusações de terrorismo.
A ação ganhou força após os ataquesde militantes islâmicos que mataram
dezenas de turistas estrangeiros no
primeiro semestre de 2015.
No mês de junho, o jovem estudanteSeifeddine Rezgui matou 38 pessoasno resort turístico Imperial Marhaba,
localizado na cidade costeira de Sousse,na Tunísia. De acordo com informações
oficiais, Rezgui recebeu treinamentomilitar em campos jihadistas, na Líbia.
Em março, outro atentado gerou pânicoentre os cidadãos: dois homens armados
abriram fogo contra 21 turistas estran-
geiros e um policial no Museu do Bardo,na capital tunisiana. Ambos os ataques
foram reivindicados por jihadistas dogrupo Estado Islâmico. O ministro de
relações exteriores da Tunísia disse queos terroristas estão encontrando “territó-
rio fértil” na vizinha Líbia, onde o EstadoIslâmico também vem agindo.
Tunísia e Líbia são exemplos opos-
tos do sucesso da Primavera Árabe.
À medida que a Tunísia progredia no
sentido da democratização no pós-BenAli, aprovava uma nova Constituição e
organizava duas eleições livres, a Líbia setransformava num Estado ingovernável e
num foco de instabilidade política. A Líbiatem dois “governos” que disputam o país,
vários grupos extremistas e tribos. Nessadisputa, inserem-se os jihadistas do Es-
tado Islâmico e do Ansar al-Sharia.
As autoridades tunisianas anunciaram
o início da construção de um muro nafronteira com a Líbia. A iniciativa visa
controlar o contrabando e a infiltração de jihadistas, como anunciou Habib Essid. O
muro vai ter cerca de 170 quilômetros decomprimento, e as obras devem ser con-
cluídas até o final deste ano. A barreiracomeça no posto fronteiriço de Ras Jedir,
na costa do país, e termina no posto deDehiba. A área representa mais de um
terço dos 460 quilômetros de fronteira.
Depois do ataque em Sousse, a Tunísiavem utilizando vários meios para tentar
impedir que os turistas abandonem o
país. O setor é vital para a economia dopequeno país africano. “Quaisquer que
sejam os sacrifícios, nós vamos superar
o terrorismo”, assegurou Habib Essid,primeiro-ministro tunisiano.
As pessoas temem pelo futuro de
seus filhos e do país. Elas receiam quea Tunísia se torne uma nova Síria ou umIraque. Por isso, a maioria aprova uma
lei antiterrorista repressiva. O que todos
querem é segurança. Apesar da tensão,
a vida continua para os tunisianos, aspraias estão cheias de famílias aprovei-
tando as férias escolares, todas as noitesouvem-se músicas e fogos de artifício
das festas de casamentos e os cafésficam cheios de pessoas aproveitando asnoites cálidas do verão tunisiano.
As diversas associações locais
buscam alternativas ao integrismo
promovendo democracia, consciência,envolvimento e diálogo social entre os
jovens . É uma resistência proati va de
uma sociedade que rejeita a ideia de
ser engolida pelo caos e que ama e pre-
serva uma ideologia moderada em que
todos podem ter o seu lugar.
E
Informações da Reuters com a colaboração deuma fonte local
F o t o : B B C N e w s / E P A
Membros das forças armadas da Tunísia, na cidade costeira de Souss
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Povos e Línguas • 9
R A Z Õ E
S
p ar a e s t u d ar n
o
B E T E
L
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10 • Povos e Línguas
A boa notícia
Coluna
ós orareis assim: Pai nosso, que
estás nos céus, santificado seja
o vosso nome, venha a nós o
vosso reino, seja feita a vossa vontade,
assim na terra como no céu. O pão nosso
de cada dia dai-nos hoje. Perdoa-nos as
nossas dívidas assim como nós perdo-
amos aos nossos devedores. E não nosdeixeis cair em tentação, mas livrai-nos
do mal. Pois vosso é o reino o poder e a
glória para sempre, amém!” (Mt 6.9-13).
A palavra reino aparece duas vezes
na oração de Jesus. Na segunda fra-
se: “Pois vosso é o reino […]”, ela tem a
conotação de tudo o que existe, isto é,
de tudo o que é sustentado pelo DEUS,
que tudo sustenta, pois só Ele (a TRIN-
DADE) existe. Tudo mais subsiste nEle.
Na primeira frase: “Venha a nós o vosso
reino […]”, a palavra reino traz o conceito
de reinado. É o pedido para que o reinado
da TRINDADE seja estabelecido na Terra.
É um pedido, o que pressupõe o desejo
voluntário de quem pede.
Por que a um ser todo-poderoso de-
ve-se pedir, na realidade que Ele mesmo
sustente, a feitura de sua vontade? ODEUS, que por definição tudo pode, con-
cedeu temporariamente a possibilidade
da rebelião. E ao permitir, continua a
sustentar a existência dos rebelados.
O Senhor de toda a criação tem todo o
poder, mas não é possuído pelo poder.
Daí cede espaço para a existência de
consciências arbitrárias.
O DEUS decidiu que, preferencialmente,
reinaria sobre os que desejassem estar sob o
seu reinado. Nesse tempo, que chamamos de
hoje, o Senhor está a recrutar os que que-
rem sobre si o reinado da TRINDADE. Oram,
conforme essa oração, os que voltaram do
estado de rebelião para o estado de adoração,
que é a maneira adequada de relacionar-secom o DEUS do Universo. Não há, entretanto,
à primeira vista, nessa fase da história, boas
notícias para os que zeram essa opção.
O Novo Testamento começa com DEUS
sendo expulso do templo e termina com
Jesus do lado de fora da igreja. No início
do relato da Nova Aliança está registrado
que João, o Batista, é sacerdote da família
de Arão (Lc 1.5-13), e que, portanto, se
tudo estivesse sob o reinado do DEUS,
estaria como sumo-sacerdote. Porém está
no ermo, dizendo ser a voz daquele que
fala do deserto (Jo 1.23), do DEUS que
sofreu a defenestração com a assunção
do sumo sacerdócio pelos lacaios dos
romanos (Lc 3.1,2 - Hendriksen – Ed.
Cultura Cristã - comentários de Lc 3.1 e Jo
11.49-52; 18.13, 19-28).
No nal do Novo Testamento, na carta àIgreja em Sardes, Jesus, o Cristo, está do
lado de fora, batendo à porta, na expecta-
tiva de ser ouvido (Ap 3.20). Além disso,
o próprio Cristo levantou a questão e se
Ele, em sua vinda, em glória, acharia fé na
Terra (Lc 18.8). Ele falava dos seus, uma
vez que fé é dom de Deus (Ef 2.8).
“V
O Reino eo reinado
O DEUS, que por deni -ção tudo pode, concedeu
temporariamente a pos -sibilidade da rebelião. E aopermitir, continua a sustentara existência dos rebelados.O Senhor de toda a criaçãotem todo o poder, mas nãoé possuído pelo poder
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Povos e Línguas • 1
Pedir o reinado do Pai é submeter-se ao dolo-
roso trabalho de transformação protagonizado
pelo Espírito Santo que se utiliza, inclusive, das
lutas diárias (Rm 5.3-5; 2Co 3.18; Col 1.11,12;
2Tm 3.10-13). Sujeitar-se ao reinado do Pai é
passar pelo sofrimento resultante da rebelião que
se manifesta na história e nos enfrentamentos
espirituais, políticos e econômicos (Mt 5.11,12;
10.16-39; Mc 10.29, 30; Jo 15.20; 2Co 12.10;
2Ts 1.4, 5; 2Tm 3.12; Ef 6.10-13; 1Pe 4.12-19).
Submeter-se ao reinado do Pai é perseverar
diante do engano dos falsos profetas, discernin-
do os seus desvios e, diante do esfriamento do
amor em quase todos, dos que se deniam como
seguidores do Cordeiro (Mt 24.11-13).
O povo de Israel, no Antigo Testamento, tinha
uma missão na história para o bem da humani-
dade; o Israel, no Novo Testamento, a Igreja (Rm
11.17), tem uma missão na humanidade para o
bem da história. O objetivo do DEUS, ao formar
Israel, era trazer a criança prometida no Jardim
(Gn 3.15, 12.1-3; Gl 3.16). O Israel, no Antigo Tes-
tamento, deveria trazê-la para a história. Nessa
fase, as recompensas eram históricas. O Senhor
prometeu que, se cooperassem com Ele nessatarefa, comeriam do melhor da Terra (Is 1.19). O
Israel, no Antigo Testamento, tinha de chegar à
terra prometida e lá car porque a criança tinha
lugar certo para nascer (Mq 5.2).
O papel do Israel, no Novo Testamento, é anun-
ciar a criança para todas as famílias da Terra.
Assim, ao contrário do que perseguia no Antigo
Testamento, é uma terra que mana o leite e o
mel. Nessa fase, Israel tem que sair de qualquer
terra o tempo todo para ir a toda a Terra. No
Novo Testamento, a amplitude e a recompensa
do Israel são uma comunidade solidária e
planetária (Mc 10.29,30; 1Pe 5.9) e uma história
de glória na eternidade (Mt 5.12). O Israel, no NT,
não pode prender-se à história como a vivemos
para que a história da humanidade se torne bem-
aventurada na dimensão da eternidade.
No NT, Israel ou a Igreja como comunidade
sob o reinado do DEUS vive nessa história e nela
sinaliza o reinado do Senhor, que já está presen-
te em si e influencia a sociedade para que, na
medida do possível, experimente os padrões do
reinado, implantando a justiça onde conseguire o faz para que mais da humanidade sobreviva
pelo debelamento da pobreza e de toda a sorte
de opressão do homem pelo homem. Mas jamais
perde o foco na eternidade porque hoje é tempo
de arrependimento. Toda a rebelião será debela-
da, o reinado do DEUS será estabelecido e só os
arrependidos nele viverão.
Ora, “venha o vosso reino” é o clamor de quem se
arrependeu de estar em estado de rebelião; quem
entende que a sociedade também deve se arre-
pender pelo estado de rebelião que se manifesta
no pecado estrutural; quem crê que Jesus é Deus
e Cristo (Mt 16.16); quem crê que virá o reinado
eterno do DEUS (Mc 1.14-15); quem reconheceu
ser um privilégio estar em comunidade sob o
reinado; quem reconhece que só há comunidade
onde há justiça; quem sabe que só pela ecácia
do sacrifício do Deus Filho, manifesto na cruz (1Pe
1.18-20) e na sua ressurreição, é possível partici-
par do reinado; quem entende que a dor da cruz épequena diante da vida abundante da Ressurrei-
ção e que é possível desfrutar, desde agora, de tal
realidade como pessoa e como sociedade.
Ariovaldo Ramos
Filósofo, teólogo e escritor. Pastor e membro da dire-toria da Visão Mundial, a maior organização cristã nãogovernamental do mundo
O DEUS decidiu que, preferen-
cialmente, reinaria sobre os quedesejassem estar sob o seureinado. Nesse tempo, que cha-
mamos de hoje, o Senhor está arecrutar os que querem sobre sio reinado da TRINDADE
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12 • Povos e Línguas
As grandes navegaçõese o avanço missionário
História das Missões Cristãs
ários historiadores do cristianismo católicoe protestante reconhecem que entre os
séculos XV e XVIII, a expansão da fé cristã
foi favorecida pela época das grandes navega-
ções. Novas rotas marítimas foram possíveis porcausa do aprimoramento das técnicas náuticas.
Esse fator contribuiu para que o cristianis-
mo (europeu e ocidental) alcançasse todas asregiões da Terra durante três séculos. Foi umperíodo singular na história da humanidade que
marcou, particularmente, o Ocidente.
Os avanços técnicos que impulsionaram as
navegações e a conquista dos mares explicama ida de milhares de missionários cristãos para
as fronteiras mais distantes do mundo de então.
Outras forças atuaram de fora para dentro e dedentro para fora do cristianismo. A religião con-
dicionava as relações sociais, culturais e políti-
cas nesse período. Portanto, é preciso identificaressas forças para compreender as direções, ossentidos e as formas que as missões cristãs as-
sumiram desde o ocidente europeu. Pelo menos
três fatores atuaram dentro e fora do cristianis-
mo da época: a expansão comercial, a moderni-
dade e a divisão da cristandade.
A EXPANSÃO COMERCIAL
Os europeus deram início a uma expansão
comercial durante uma sangrenta disputa pelahegemonia dos oceanos e das terras desco-
bertas. Eles eram ameaçados pelos turcos
otomanos nas fronteiras do Oriente. A América,a África e a Ásia foram regiões conquistadas esubmetidas a um sistema de colonização voltado
para a extração de riquezas, como ouro, prata,
especiarias e até exploração de vidas humanasprovocada pelo tráfico escravo. Muitas popula-
ções com diferentes línguas, culturas, crenças e
costumes passaram a fazer parte de um domíniopolítico, tecnológico e militar. Os colonizadores
viriam a subjugar esses povos durante séculos, àcusta de conflitos e resistências, com consequ-
ências visíveis até hoje. Impérios como Portugal,Espanha, Holanda, França e Inglaterra se lança-
ram aos mares e aos oceanos para conquistarterras, ampliar seus domínios e obter riquezas.Os ganhos ficaram concentrados nas mãos de
uma aristocracia aliada aos altos comerciantes e
à divisão da cristandade.
A MODERNIDADE
Os antigos medos e as superstições foramdominados por uma mentalidade que supera-
va a ordem medieval. O uso da razão, por um
lado, e do experimentalismo, por outro, serviu
como base para aferir a verdade e estabeleceuoutras formas de produção do conhecimentooriundo da observação empírica dos fenô-
menos naturais. Colocavam-se em xeque osdiscursos oficiais da Igreja, da teologia, da re-
velação e da tradição no conteúdo e na forma.Os posicionamentos da Igreja normalmente
eram impositivos e dogmáticos. Surgiram os
questionamentos relativos ao lugar da Igreja e
da teologia nos âmbitos do saber, da cultura e
da política, em contraste com os tempos mais
efervescentes e sombrios das perseguições àsheresias e aos hereges pela inquisição do San-
to Ofício. Essa modernidade teve como base o
surgimento de pensamentos críticos sobre opoder dos reis em relação ao poder do papado.
O debate em torno da soberania dos reis sobre
o papado e a Igreja foi decisivo para a concepçãomoderna de estado como entidade autônoma
V
Motivações obscuras e consequências históricas
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Povos e Línguas • 13
A religião condicionava asrelações sociais, culturais epolíticas nesse período. Por -
tanto, é preciso identicaressas forças para compreen-der as direções, os sentidose as formas que as missõescristãs assumiram desde oocidente europeu
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14 • Povos e Línguas
para gerir a sociedade à parte dos inte-
resses e das pressões da religião.
A DIVISÃO DA CRISTANDADE
A cristandade atravessava uma aguda
crise interna no alvorecer do século XVI:enfrentava as questões referentes às in-
vestiduras e ao conciliarismo*, a dúvidaquanto à (in) eficácia da Igreja ante o
terror da Peste Negra, o desgaste moraldo clero católico romano e as angústiasespirituais com relação à salvação e à
justif icação. As tensões em torno da Re-
forma Protestante cindiram a cristanda-
de em termos políticos e religiosos, com
a reação católica a partir do Concílio deTrento, a Contrarreforma.
As novas ordens religiosas, comoa dos jesuítas, fundada por Inácio de
Loyola, incorporaram o espírito triden-
tino à missão, constituindo um modelode cristianização atrelado aos interesses
das conquistas comerciais, sob a bên-
ção papal. Os reis ibéricos de Portugal
e Espanha foram confirmados pelo pa-
pado como reis missionários da Igreja e
responsáveis pela expansão da fé cristã
aos novos territórios, como o Brasil.
Movidos pela força da Reforma, diver-
sos missionários protestantes saírampela Europa proclamando a salvação
pela fé. Muitos foram perseguidos e
martirizados, vindo para o novo mundo,como o Brasil. Foi isso que aconteceu
com Jean de Léry, enviado pelo próprioCalvino para a invasão francesa no Rio
de Janeiro. Nos seus domínios e nasfronteiras, as missões protestantes
e católicas reproduziram o clima dedisputas e de antagonismos de uma
cristandade cindida. A consequência da
Reforma e da Contrarreforma foram asguerras religiosas. Houve grande des-
gaste e a frustração de um cristianismotomado pelo ódio e pela intolerância.
Aquele momento transformou o cristia-
nismo em refém dos interesses políticosdas monarquias insurgentes.
Essas forças teceram um cenáriorepleto de contradições e de avanços
para as missões. Por um lado, cr istãosse lançaram à empresa missionária
aliada às conquistas territoriais, indi-
ferentemente de estarem cientes dosprejuízos e comprometimentos dessa
aliança. Nesse sentido, o cristianismoserviu como elemento civilizador do
outro estranho que deveria ser evange-
lizado, mas que se apropriou da nova
fé ante uma dominação imposta. Esseoutro era visto como ser de condição
inferior em termos culturais, religiosos eétnicos. Os modelos estabelecidos para
a cristianização desses bárbaros, comoos aldeamentos e as reduções na Améri-
ca Latina, foram enclaves religiosos vol-
tados para a conversão dos indígenas,mas que resultaram num processo de
aculturação e de violência simbólica.
Mas dentro e fora desse modelo,
vozes e experiências apontaram paraas outras formas de fazer missão emcontraste com a da conquista. Assim o
dominicano Bartolomeu de Las Casas,na América Central, incidiu contra o ge-
nocídio indígena nas cortes espanholas,
denunciando o que a conquista coloni-
zadora tinha trazido para os nativos em
termos de morte. Por sua vez, o estra-
nhamento dos missionários diante da
linguagem, dos costumes, dos rituais
e das crenças dos indígenas levou aos
questionamentos sobre os própriosdogmas, os modelos da missão e a ci-
vilização “superior” que representavam.
A partir de outra região de transição no
Leste Europeu, os cristãos morávios
experimentaram o fervor missionário àmargem desses modelos baseados na
conquista e no espírito bélico. Movidospor um intenso amor e pela paixão às
pessoas de outras terras, os moráviosrumaram para destinos desconhecidos
sabendo que nunca mais retornariam.
O legado desse tempo oriundo das
Grandes Navegações pode ser identi-
cado na permanência e na insistência
no modelo da missão como conquista e
dominação. Esse sentido perpassou os
séculos XIX e XX, quando novos ciclos deexpansão missionária aconteceram. E, da
mesma forma, estavam eles atrelados àexpansão econômica e civilizacional, comas denominações protestantes sendo as
estruturas eclesiásticas a seu serviço.
Por fim, é preciso identificar histori-camente sempre a Missão dentro da
missão. A Missão deve ser vista como
o serviço desinteressado e movido pela
paixão, pelo amor ao outro, visando atransformação das relações sociais a
partir do poder do Evangelho. A segundaa missão como modelo de conquista e
dominação, nega ao outro sua identida-
de como pessoa e se alia aos grandessistemas que reproduzem a injustiça.
Lyndon de Araújo Santos
Pós-doutor pelo Programa de Pós-Graduação emHistória da Universidade Federal Fluminense (UFF).Atua nas áreas de História e Ciências Sociais. Foipresidente da Associação Brasileira de História dasReligiões (ABHR) de 2006 a 2012
O legado desse tempo
oriundo das Grandes Navega-ções pode ser identicado napermanência e na insistênciano modelo da missão comoconquista e dominação
*Doutrina teológica defendida por Marsílio de Pádua e seguida por Jean Gerson, segundo a qual a auto-
ridade dos concílios gerais é superior à dos papas. Considera-se que, tal como na cidade a autoridade
deriva do povo, na Igreja ela deve derivar dos fiéis. Reflete-se no Concílio de Constança de 1414 a 1418 e
que acabou com o Grande Cisma do Ocidente. (iscsp.utl.pt)
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16 • Povos e Línguas
té certo ponto, o estresse épositivo e necessário para a
sustentação da vida. Alguns
autores1 afirmam que não podemos
viver sem ele, pois o estresse nos
auxilia em todos os momentos deadaptação de que necessitamos. Pre-
cisamos aprender a lidar de maneira
saudável com ele para evitarmos
chegar ao estágio do burnout. A sín-
drome de burnout é caracterizada por
exaustão emocional, despersonaliza-
ção e baixa realização pessoal.2 Esse
estágio é o resultado de um estilo de
vida dominado por fatores desgas-
tantes e prejudiciais.
Alguns tipos de estresse prejudiciais:
1.Tensão além da capacidade de suportar;
2. Estímulo contínuo prolongado: des-
confortável ou prazeroso;
3. Emoções desagradáveis contínuas:ansiedade, medo e raiva.
Quando as pessoas se referem aoestresse, normalmente elas pensam
em situações extremas: uma notíciatrágica, uma doença crônica ou a
morte de um ente querido. Tais situa-
ções são estressantes, mas esse nãoé o pior tipo de estresse.
Esses momentos são pontuais,facilmente identificados e, quase
sempre, de duração limitada. Passa-
mos um período turbulento até que
nós, finalmente, conseguimos ajustarnossa vida à nova situação.
O PERIGO DOS ESTÍMULOSPROLONGADOS
Portanto, o estresse mais prejudicial
é o do segundo grupo, proveniente deestímulos contínuos e prolongados.
A Quando as pessoas se refe-rem ao estresse, normalmen-te elas pensam em situaçõesextremas: uma notícia trágica,uma doença crônica ou amorte de um ente querido.Tais situações são estres-santes, mas esse não é o piortipo de estresse
Como lidar com o estressee evitar o burnout
Cuidado Integral
1 RODRIGUES & GASPARINI, 1992. 2 Estudos de Psicologia, Campinas, 24(3), 325-332, julho -.setembro 2007, M.S.
Carlotto & S.G. Câmara 3 HART, Archibald, Adrenaline and Estresse; W Publishing, USA, 1999. 4 Hart, pg. 88-89
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Povos e Línguas • 17
Muitas vezes, a rotina é de estresse cons-
tante. A repetição contribui até mesmo
para que o estresse não seja percebido de
forma clara. Além das atividades estres-
santes, temos de enfrentar situaçõescomo o trânsito desgastante, uma relação
irritante, a crise nanceira, impostos injus-tos, a ameaça de doenças e de violência.
O médico cristão Dr. Hart afirma que o
maior perigo nesse grupo são os estí -
mulos contínuos prazerosos.3 O estilo
de vida moderno, de muita competição,recompensa e premiação pode nos levar
a desenvolver a mentalidade de que
o nosso valor está relacionado com a
nossa produtividade.
Muitos se tornam viciados no própriotrabalho devido à recompensa finan-
ceira ou ao reconhecimento público. E
a nossa espiritualidade acaba sendo
definida por nosso ativismo religioso. O
culto é definido pelo nível de “emoção”que causa nos partipantes. Para os mis-
sionários, há a cobrança contínua porresultados “visíveis” por parte da igreja,dos mantenedores e da agência.
O Dr. Hart aponta para o perigo dedesenvolvermos um estilo de vida sempre
sob o estresse e nos tornarmos depen-
dentes da adrenalina, ou seja, de estí -
mulo contínuo. Quando isso acontece,perdemos a capacidade de reflexão e de
relaxamento, meditação e autoanálise, ede gastar tempo sozinhos diante de Deus.
Se vivermos por muito tempo dependen-
tes do excitamento, podemos desenvolveruma crise de estresse crônico. Se não for
tratada adequadamente, essa crise podenos levar ao burnout.
ALGUNS SINTOMAS DO ESTRESSE CRÔ-
NICO:4
LIDANDO COM O ESTRESSE CRÔNICO
Não basta apenas resolver as situa-
ções estressantes. É preciso reavaliar oseu sistema de valores que o leva a uma
rotina de estresse agudo e de cansaço.
Quais são suas crenças acerca do seu
valor? Será que ele depende da sua pro-
dutividade e da aceitação dos outros?
Se não refletirmos sobre os valoresbásicos, não adianta muito mudar as
atividades, pois vamos apenas substi-tuí-las. Afinal, a causa comum de umarotina estressante é a motivação errada
e o equívoco acerca nosso valor.
É necessário também tomar algumasmedidas práticas para modificar o estilode vida estressante. Quais atividades na
sua rotina podem ser modificadas? O
que você pode parar de fazer? O que pode
ser deixado para mais tarde? É necessá-
rio reconhecer que Deus é soberano (Rm
5.1-5) e que, se a situação não for de fácil
mudança, é preciso aprender a aceitá-la elidar com ela de maneira criativa.
Muitas vezes, Deus nos coloca e m
situações difíceis justamente paratratar aspectos do nosso caráter que
nos trazem dificuldades e infelicidadePrecisamos crescer! Às vezes, nãosão as situações que nos causam
tanta frustração e estresse, mas a
maneira como as vemos. Portanto,precisamos mudar nossa percepção
da realidade e além disso, é funda-
mental aprendermos a lidar positi-
vamente com emoções estressantes
como o medo, a ansiedade e a raiva.A partir daí, é preciso desenvolver um
estilo de vida que inclua exercíciosfísicos, práticas de relaxamento ealimentação saudável.
Rosifran Macedo
Pastor presbiteriano, missionário da OitavaIgreja Presbiteriana de Belo Horizonte - MGe da WEC Brasil (Missão AMEM). Casado comAlicia Bausch Macedo. Trabalham há mais de15 anos no Missionary Training College (MTC)Latino-Americano e nove anos como diretoresda WEC Brasil, atuando na área de cuida-do integral do missionário e de sua família.Atualmente é diretor do MTC e trabalha nacoordenação do PHILHOS
Não basta apenas resol -ver as situações estres -santes. É preciso rea-
valiar o seu sistema devalores que o leva a umarotina de estresse agudoe de cansaço. Quais sãosuas crenças acerca doseu valor?
Dificuldade anormal de começar o
dia com disposição pela manhã;
Exaustão que ocorre facilmente
ou com frequência;
Estranhas sensações no corpo,
como formigamento nos braços,
no peito, ou dor estranha nas
juntas e nos músculos;
Tensão muscular crônica no
pescoço e nas costas e dor de
cabeça por tensão;
Distúrbio do aparelho digestivo;
Insônia crônica, difculdade para
dormir ou despertando muito cedo;
Fadiga crônica, especialmente
acordando cansado;
Perda de entusiasmo pela vida e
ansiedade crônica.
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18 • Povos e Línguas
Como ouvirão?Um povo que tem as mãos como voz e símbolo de luta
Povos Não Alcançados
fé vem pelo ouvir (Rm 10.17).Essa é uma verdade tão cla-
ra e simples que pode parecer
óbvia para muitos. Mas como é o“ouvir”? A linguagem é tão inerente
que, podemos viver despercebidos detoda a c omplexidade envolvida nosprocessos de comunicação interpes-
soal. Porém, para quase 10 milhõesde brasileiros declarados deficientes
auditivos no Censo 2010, ouvir não étão natural e simples.
Essa deficiência ocorre em diferentes
momentos, circunstâncias e níveis. Porexemplo: alguns idosos perdem parte
da audição e, até recorrer à prótese,precisam lidar com a falta de paciência
própria e dos outros. Há pessoas queficam surdas de apenas um dos ouvi-
dos e ficam literalmente às voltas para
escutar do lado que funciona.
A surdez pode ter causas genéticas ou
ambientais, como meningite, rubéola ou
lesões. Muitos têm uma perda auditiva
leve e ainda há aqueles que perderam a
audição após o período de aquisição delinguagem. Nesses casos, quando sãobem assistidos por médicos otorrinos
e fonoaudiólogos, é possível que eles
nem sejam facilmente percebidos pela
sociedade como deficientes auditivos.Seguindo o exemplo de Jesus, precisa-
mos nos colocar ao lado deles e fazero exercício de nos colocar, também,
no lugar deles a fim de entender suasnecessidades especiais tão diversas.
Precisamos ser sensíveis, se quisermosincluir essas pessoas em nossos rela-
cionamentos, programas e cultos.
É importante ressaltar que, dentroda população de deficientes auditivos,
mais de 2 milhões foram declaradosaos recenseadores do IBGE como pes-
soas que têm grande dificuldade para
ouvir ou que não conseguem ouvir de
jei to nenhum. Est ima-se que esse seja
o número aproximado da populaçãoque forma a comunidade surda usuária
da Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Desde 2002, quando o PresidenteFernando Henrique Cardoso sancionou
a Lei Nº 10.436 que reconhece a Libras,os surdos têm conquistado mais e
mais espaço. Eles estão celebrando as
vitórias e buscando avançar cada vezmais em busca de novas conquistas e
de reconhecimento, principalmente naárea da educação.
Há quem diga que o Evangelho
chega para os surdos com 100 anosde atraso em relação aos ouvintes. O
primeiro ministério com surdos de que
se tem notícia no Brasil começou emCampinas (SP), no final da década de70. Na década de 90 ainda existiam
algumas capitais, e talvez estadosinteiros, sem nenhuma igreja evangé-
lica tendo seus cultos traduzidos para
a língua de sinais.
Esses ministérios têm se multiplicado
mas ainda é certo que menos de 1% dacomunidade surda brasileira frequentaalguma igreja evangélica. Atenção e
apoio são importantes para que não
ofereçamos apenas tradução nos cul-
tos, mas uma real inclusão, respeitandoas diversas identidades dos surdos.
Eles também são crianças, jovens, sol-teiros, casais e idosos e cada espaço
da Igreja deve incluir os que ouvem
com os olhos e falam com as mãos.
Davidson Henrique Estanislao
Missionário na JOCUM em Belo Horizonte - MG. Diri-ge a Casa Semear, que atende crianças e adolescen-tes surdos carentes e em situação de risco
A
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20 • Povos e Línguas
Ateísmouniversitário
Capa
á pouco mais de três anos, eu me juntei aum grupo acadêmico de aproximadamente
40 estudantes da Universidade de Hambur-
go. O grupo é composto por brasileiros, alemãese estrangeiros representantes de diversas áreas
do conhecimento: sociologia, filosofia, psicologia,
direito, ciências políticas e, no meu caso, teologia.Nós promovemos encontros regulares para discu-
tir temas brasileiros atuais.
Nossos encontros começam com uma pales-
tra de um dos membros do grupo, e o momentoé seguido de uma discussão a respeito do tema
abordado. Assuntos teológicos fazem parte danossa agenda. Em dezembro darei minha segun-
da palestra. O grupo é caracterizado pelo interes-
se de analisar temas por vários pontos de vista,
aprofundando assim o próprio conhecimento.Outra característica é que a maioria dos partici-
pantes não acredita em Deus. O ar que se respiradentro das universidades parece ignorar a exis-
tência de Deus. Aqui segue uma análise pessoal
da ligação entre o contexto universitário do século
XXI e o ateísmo, assim como possíveis reflexõese atitudes que, como igreja, deveríamos extrairdesse momento.
Poucas semanas depois de ter me tornado
cristão em uma Igreja Metodista de Belo Horizonte
(MG), ouvi vários comentários a respeito de um jo-
vem que acabara de se matricular em um seminá-
rio teológico, em São Paulo. Tudo que ouvi sobre a
iniciativa dele me deixou confuso. Muitas pessoasdiziam que o seminário teológico seria, na verda-
de, um cemitério da fé! Seminário-cemitério: um jogo de palavras de mau gosto. Após sofrer tantas
pressões e fazer diversos questionamentos, valelembrar: hoje esse rapaz é um conhecido pastor de
uma Igreja Presbiteriana na capital mineira. E a fédele continua inspirando muita gente.
Depois de mais de uma década e a mais de 14mil quilômetros da minha cidade natal, escutei
algo parecido, mas dessa vez a meu respeito.Recebi um chamado pastoral após uma pregação
do Bill Hybels, durante um congresso da Willow-
-Creek Comunion Church em Hamburgo, na Ale-
manha. Na ocasião, Hybels comparou o ministériopastoral na Alemanha com o ministério profético
de Jeremias, afirmando que não existe nenhumpaís em que seja tão difícil ser pastor como na
Alemanha. Após a preleção, ouvi o Espírito Santome dizer que eu deveria estudar teologia.
Ao conversar com o meu pastor sobre o desejo de
ingressar no seminário, sua primeira reação foi tentar
me impedir. Ele tentou argumentar dizendo que o
estudo da teologia iria abalar a minha fé. Confesso
que, quanto à última questão, ele tinha razão. Duranteos cinco anos de estudos, fui confrontado com o
método histórico-crítico. Com a abordagem de certaslinhas da losoa e da psicologia, experimentei várias
fases em que a minha fé foi profundamente abalada.Isso ocorreu com vários colegas. Alguns deles che-
garam a abandonar o estudo e até mesmo a fé.
Então a armação do meu pastor sobre como aminha fé jamais seria a mesma se cumpriu, mas
graças a Deus de uma maneira positiva. Por um lado,depois das minhas crises, Deus continuou insondávele inexplicável, mas, por outro, tornou-se ainda mais
profundo, e a sua graça e o seu amor, mais claros doque nunca. Quem cruzou um deserto pode entender
a ansiedade e a sede dos que enveredam por cami-
nhos áridos. E, com a experiência, pode até mesmoguiar o caminhante para um oásis.
ATEÍSMO HISTÓRICO
O termo ateísmo vem do grego antigo átheos,que signica “sem Deus”. A palavra descreve a
H
Mais do que lsoas anti-Deus
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Povos e Línguas • 2
A armação do meu pas -
tor sobre como a minha féjamais seria a mesma secumpriu, mas, a graça deDeus, de maneira positiva.Por um lado, depois das mi -nhas crises, Deus continuouinsondável e inexplicável,mas, por outro, tornou-seainda mais profundo, e a sua
graça e o seu amor, maisclaros do que nunca
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22 • Povos e Línguas
convicção de que Deus e deuses não exis-
tem. Em outro sentido, o conceito descre-
ve também o modo de se distanciar da
fé, dizendo ser impossível saber se essas
entidades existem ou não. Essa forma échamada de agnosticismo. O ateísmo é
tão antigo quanto o próprio teísmo.
Há evidências históricas sobre ateísmoem antigas culturas, encontrado em siste-
mas losócos, como Jainismo, Vaisheshi-
ka, Nyaya e Samkhya na Índia do século VIa.C. Essas correntes incluem o budismo,
iniciado no século V a.C. O Daoísmo daChina do século IV a.C. também nega a
existência de um Deus criador. Na Pérsiado século V a.C. há evidências de corren-
tes ateístas no Zervanismo. A questãosobre se o povo hebreu conheceu ou não
o ateísmo é um ponto de discórdia entreteólogos. No entanto, o salmo 10.3 aponta
a existência de pessoas que não acreditamna existência de Deus. Em Efésios 2.12
encontra-se o termo “ateísta”.
No Mundo Antigo e na Idade Média, a vidaprivada e a pública eram determinadas por
ideias religiosas. Ceticismo e dúvidas com
relação à existência de Deus eram questões
de uma minoria e de intelectuais que nãose atreviam a pensar em voz alta. Chamar
alguém de ateísta era uma forma de ofendere até de acusar judicialmente. Durante gran-
de parte da história, até meados do século
XVII, ateístas foram presos e executados. Oateísmo começou a fazer escola durante o
Iluminismo e trouxe consigo o Secularismo.Assim houve a separação entre Estado e
Igreja em muitos países. Nos séculos XIXe XX, o ateísmo foi colocado como pensa-
mento fundamental na losoa marxista
e existencialista. Desde então, esse termodescreve a inexistência de Deus e a com-
pleta negação do sobrenatural. Esse é o
chamado “Novo Ateísmo”.
Pesquisas feitas em 20101, na Europa,revelaram a existência de 20% de ateus –
pessoas que não acreditam em Deus nem
em uma forma espiritual. Os resultados
trouxeram também: 51% acreditam emDeus, 26% creem em alguma forma de
força espiritual e 3% não se manifesta-
ram. É interessante observar a diferença
desses dados em relação aos de outrospaíses: o maior número de teístas se
encontra em Malta (94%) e na Romênia(92%). O menor número está na RepúblicaTcheca (16%) e na Estônia (18%). Na Ale-
manha, Áustria e Suíça, 44% da populaçãocrê em Deus. O número de pessoas que
não acreditam em Deus foi maior na Fran-
ça (40%) e na República Tcheca (37%).
Na Alemanha, esse número é de 27%,na Áustria, 12% e na Suíça, 11%. 2 Outra
pesquisa de 2005 revelou que dentre os
teístas se encontram 55% de mulherescontra 45% de homens. Boa parte dos te-
ístas é composta por idosos, pessoas deorientação política da direita e de poucaescolaridade. Nos Estados Unidos vive o
maior número de teístas: 91%.3
Entre 2011 e 2012, o Worldwide Inde-
pendent Network e a Gallup InternationalAssociation zeram uma pesquisa com
quase 52 mil pessoas de 57 países. Os
resultados revelam uma diminuição nonúmero de religiosos no mundo. Entre
2005 e 2012 houve uma queda de 9%, en-
quanto que o número de ateístas cresceu
3%. Em alguns países, esse crescimentofoi extremo. Os mais expressivos são Viet-
nã (23%), Irlanda (22%) e Suíça (21%). 4 O
número de ateístas nos Estados Unidosé maior entre cientistas. Somente 7% dosmembros da associação cientíca ameri-
cana acreditam em um Deus pessoal.5
O mundo está passando por mudanças
radicais na área intelectual. O cotidiano
em uma universidade é permeado pela
forte confrontação com losoas anti-
-Deus. Especialmente nas ciências huma-
nas, o jovem estudante é confrontado em
uma fase delicada. Nesse período, o seu
caráter e intelecto estão sendo moldados.
Eles são obrigados a se posicionar diante
de questões para as quais não têm opi-
nião formada. Professores são sinônimo
de autoridade. É preciso haver cristãos nocorpo de professores universitários assim
como um acompanhamento de estudan-tes por cristãos acadêmicos.
FILOSOFIAS ANTI-DEUS
Não há meios empíricos em que se pos-
sa explicar ou comprovar a existência divi
na e suas implicações. No entanto, muitosdefendem a tese de que a existência deum Deus traz consigo consequências
morais. Mas pensadores como Immanuel
Kant declaram que elementos moraissão inerentes à natureza humana. Para o
lósofo, esses princípios existem mesmosem a consciência de um ser superior.
A história humana mostra claramen-
te que a fé em um deus não é nenhuma
garantia contra o uso de violência nem de
atos criminosos. Segundo Kant, a obriga-
ção de um ser humano agir moralmente
em prol de outra pessoa não pode ser ba-
seada na fé em um deus. Após os atos deviolência em nome de Deus que ocorreram
nos últimos anos, Dalai Lama escreveu umapelo ao mundo, defendendo uma ética
O ateísmo começou a fazerescola durante o Iluminismo etrouxe consigo o Secularis -mo. Assim houve a separação
entre Estado e Igreja emmuitos países. Nos séculosXIX e XX, o ateísmo foi colo -cado como pensamento fun-
damental na losoa marxistae existencialista
1 Special Eurobarometer, biotechnology report. 2 Eurostat poll on the social an religious beliefs of europeans 3 BBC UK among most secular nations 4 Global index of
religions and atheism 5 Edward J. Larson, Larry Witham: Correspondence: Leading scientists still reject God. In: Nature. 394, Nr. 6691, 1998.
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Povos e Línguas • 23
livre da religião. Ele compara ética e religião
como água e chá: “A água existe sem o
chá, mas o chá jamais vai existir sem aágua”. Para ele, a religião gera violência epara salvar nosso mundo precisamos da
ética em vez das religiões. Nas comissões
éticas da Europa há um grande número depessoas que defendem o ateísmo huma-
nista no lugar das religiões tradicionais
como base da ética moderna.
A lista de nomes de ateístas famosos,como Nietzsche, Marx, Freud e Sartre, que
influenciaram todas as cadeiras universitá-
rias, é longa. O existencialismo arma que
somente um mundo sem Deus, onde tudoé permitido, leva o homem a assumir a ver-dadeira responsabilidade pelos seus atos.
Nos primeiros anos pós-Segunda Guerra
Mundial surgiu uma ligação entre ateísmoe cristianismo destacada pelo silêncio de
Deus diante do assassinato de milhões de
judeus durante o Holocausto. Nesse perí -
odo, a declaração de Nietzsche, datada de1882, tornou-se uma bandeira: “Deus estámorto!”. Para os adeptos dessa linha de
pensamento, naquele momento nalmenteocorria a libertação do mundo das mãos de
um deus tirano. Esse foi o pano de fundo
do nascimento de um ateísmo cristão.
Essa linha ateísta dentro da teologia
europeia exalta Jesus como o libertadorda verdadeira ética e moral cujas conse-
quências se limitam a esta existência. Ateóloga alemã Dorothee Sölle é um dos
nomes mais famosos na chamada “Te-
ologia da Morte de Deus”. Ela fala sobre
crer em Deus de maneira ateísta. Nessavertente, o ateísmo significa uma novapercepção a respeito de Deus: o Deus
onipotente e onipresente, mesmo po-
dendo interferir na história, permite todo
tipo de miséria e sofrimento e admiteaté mesmo os fatos que culminaram noHolocausto. Como consequência dessa
linha teológica, esses líderes admitem apossibilidade de ser pastor na Alemanha
sem a fé em Deus. Para eles, religião é
algo mais profundo que Deus.
INDIFERENÇA
Voltando aos encontros regulares na
Universidade de Hamburgo, perceboque algo mudou. Há algumas décadas,
o ateísta tentava convencer o teísta da
sua ignorância por crer na existência deum deus. O ateísmo era militante e tinhaum quê de religião. Eles faziam partede comunidades que se juntavam para
alcançar mais e mais espaço na socieda-
de. A lista dessas sociedades na Europa
e nos Estados Unidos é longa.
Percebe-se que o ateísmo tem dado
cada vez mais espaço para o agnosti-cismo. O agnóstico não brada por todo olado que Deus não existe. Ele não milita
contra a ideia da divindade, não acha quereligiosos são ignorantes por denição
nem considera que a religião seja a fontede todo o mal. Ele segue a própria vidaconvencido de que Deus não é uma ques-
tão. O agnóstico plenamente indiferente
pode apreciar um culto como expressãocultural, sem nenhum valor transcen-
dental, mas é valoroso do ponto de vistahumano. Para ele, o cristianismo é um im-
portante movimento histórico-cultural que
legou para o Ocidente um dos mais valio-
sos conceitos que temos: o da dignidade
humana. No entanto, também é uma fontede culpa e sofrimento para seus éis, que
tentam apaziguar seus dramas na gurade Cristo. Para o agnóstico, a mensagem
de Jesus é uma losoa estoicista que
convida as pessoas a deixarem de viverpara si em prol dos benefícios que vãoobter em outra existência.
Uma das frases mais conhecidas de
Friedrich der Große, Frederico o Grande,
(17 12-1786), é ainda um dos ditadosmais citados quando se diz respeito à to-
lerância religiosa na Alemanha. Esta frasedescreve a postura do homem moderno:
“Cada um deve ser salvo da sua própria
maneira” (jeder soll nach seiner façon se-
lig werden). Sendo assim, cada um segue
o próprio caminho em direção àquilo queconsidera a sua salvação. Se um cristão
quer ser “salvo” por Jesus ou um muçul-
mano por Allah, se alguém arma queDeus não existe, cada um tem o próprio
caminho. Vivendo em um continente com
o convívio de representantes de todas
as religiões e doutrinas deste mundo,somente a tolerância, o respeito mútuo
e o diálogo impedem que os conflitos seintensiquem. Para o europeu moderno, aquestão religiosa não tem nenhuma rele-
vância. O que eles desejam é paz.
CRISTÃOS SUPERPROTEGIDOSE VULNERÁVEIS
Diante do chamado “ateísmo universitá-
rio”, como devemos nos posicionar como
Igreja e como indivíduo para seguir emfrente com uma mensagem de salvação pormeio do sacrifício do Senhor Jesus Cristo?
Em primeiro lugar, há muitos cristãos
que veem no crescimento do desinteresse
geral sobre a existência ou não existência
de Deus nas universidades como um tipo
de conspiração contra o cristianismo.
Muitos creem em um plano denido parabanir Deus da sociedade. Está claro que as
trevas avançam e que a batalha espiritual
é uma realidade. Todavia, se nos atermos
apenas a essa questão, a resposta auto-
mática seria a oração. Orar é dever de todo
cristão. No entanto, não dá para estagnarnesse ponto. Nossas atitudes devem ser
um reflexo da nossa vida de oração.
Ele compara ética e religiãocomo água e chá: “A águaexiste sem o chá, mas ochá jamais vai existir sem aágua”. Para ele, a religião geraviolência e para salvar nossomundo precisamos da éticaem vez das religiões
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24 • Povos e Línguas
A oração de Jesus por nós não foi paraque Deus nos tirasse deste mundo, maspara que o Senhor nos livrasse do mal.
Parece que nós, cristãos, estamos ten-
tando “sair” do mundo em vez de preparar
nossos jovens para que eles possam viver
e se tornar testemunhas aqui e agora. Umaconfrontação com a realidade externa e
suas losoas, muitas vezes, só ocorreatravés das janelas do nosso carro. Será
que essa é a melhor maneira de prepa-
rá-los para o futuro? Quanto mais osafastamos do mundo, maior será o choque
cultural ao entrarem em uma universidade.
Os resultados de uma hiperproteção
podem ser desastrosos para o preparo dos
jovens. Fiz uma pesquisa com cerca de 20 jovens que cresceram em um lar cristão,em um ambiente totalmente protegido do
chamado “mundo”. Os resultados mos-
traram que 80% deles tinham se desviadoou se tornado ateístas. O que eu constateisobre a educação cristã que eles recebe-
ram me abalou profundamente. Muitosdeles se sentiram oprimidos pela fé dos
pais. Não podiam falar sobre suas dúvi-das nem de pontos de vista diferentes em
relação à fé que a família professava. O que
não foi discutido em casa foi respondidopor professores ateus. O que muitos delesperceberam foi que o chamado “mundo”não era tão mal quanto seus pais pintaram.
ÊNFASE
A segunda posição a ser observada é se
a nossa mensagem tem se restringido a
questões morais. É preciso assumir que,aos olhos de muitos, crente é aquele que
não pode beber, não pode fumar, não podementir nem pode ter sexo antes do ca-
samento. A lista de proibições é enorme.
Essa denição de crente como moralistaconduz a uma deformação da percepção
do que, de fato, Cristo comunicou. Esseestereótipo de crente distorce a ênfase da
boa–nova, que é o Evangelho. A mensa-
gem do Evangelho tem consequências
morais. Mas é somente isso que temos
a oferecer? Essa é a ênfase de Jesus aolongo dos evangelhos?
Nós pregamos que Deus liberta o pecador,mas o cristão vive em uma cadeia religio-
sa. Essa é uma realidade parecida com a
dos fariseus na época de Jesus. A lista dasproibições impostas por eles registrava
mais de 3 mil pontos. A ênfase coloca Deus
como um estraga-prazeres. Sendo assim,como podemos ser felizes? Muitos armam
que crentes vivem com um sorriso forçadono rosto. Será que essa é a nossa forma decompensar esse monte de não-pode que
a moralidade exige? Tentamos convencer
as pessoas de que, apesar de tudo, somosrealmente felizes? Em vez de pregar o quenão podemos, deveríamos falar sobre o que
temos e somos em Deus.
Um terceiro aspecto precisa da nossa
atenção: é necessário parar de pensar
que sempre temos razão. Confesso que
uma discussão sobre temas teológicoscom meus amigos na universidade é
mais proveitosa e agradável do que
uma discussão com muitos cristãos.
O respeito mútuo e a disposição de
ouvir, que pode levar a um denominadorcomum ou à possibilidade de pensar
a respeito, que é verificada na univer-
sidade, quase não encontro no meio
evangélico. Talvez tenhamos medo de“perder” uma discussão ou de não ter
respostas para tudo.
QUEBRA DE PARADIGMAS
Precisamos de uma mudança de pa-
radigma. Muitas vezes, lutamos contra omundo. Essa declaração é totalmente ne-
gativa, e o termo “mundo” se tornou pejo-
rativo. Em João 3.16, esse termo se referea pessoas pelas quais Jesus deu sua vida
para que elas pudessem ser salvas. Que
tal se trocássemos a luta contra o mundo
por um trabalho em prol das pessoas?
Precisamos amar essas pessoas como
Cristo as amou. Há alguns meses, estiveem uma palestra de Floyd McClung. Ao ser
questionado sobre o que mudaria no seu
ministério, caso tivesse a oportunidade decomeçar tudo novamente, ele respondeu:“Eu amaria mais as pessoas e buscaria um
verdadeiro relacionamento com elas em
vez de vê-las como objetos de missão”.
É preciso trabalhar em prol das pessoasenquanto é dia, pois a noite vem (Jo 9.4).Qual será a mensagem que vai reluzir nas
trevas deste século? Somente o amor deJesus refletido em nossas vidas e uminteresse verdadeiro pelas pessoas ao
nosso redor vai abrir os olhos dos cegos e
fazê-los ver Deus. Nossas vidas e nossos
atos sempre vão falar mais alto do quenossas palavras (1Jo 3.18).
Dados aqui citados conrmam que omundo caminha em direção a um futuro
ateísta. Como cristãos, somos chamadosa viver entre aqueles que andam sem Deus
neste mundo (Ef 2.12). Apesar de toda acrítica, eu creio na Igreja como luz e sal daTerra; na mensagem de amor que, pelo Es-
pírito Santo, tem o poder de abrir os olhosdos cegos. Cristo em nós é, e sempre será,
a esperança deste mundo (Cl 1.27).
No Mundo Antigo e na Ida-
de Média, a vida privada e apública eram determinadaspor ideias religiosas. Ceticis -mo e dúvidas com relaçãoà existência de Deus eramquestões de uma minoria ede intelectuais que não seatreviam a pensar em voz alta
Maurício da Silva Carvalho
Mestre em Teologia pelo Theologisches SeminarElstal - Fachhochschule em Berlim – Alemanha.Palestrante e pastor titular da Josua-Gemeinde,Igreja Batista Alemã localizada em Hamburgo.Natural de Belo Horizonte – MG. Casado comUlrike. Pai de Leo (16) e Nicolas (14)
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Povos e Línguas • 25
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26 • Povos e Línguas
Encontros inusitadosA arte a serviço do Rei
Mídia e Reino
uma tarde ensolarada, eu estavasozinha numa sala de cinema, emuma grande capital do Brasil. Na
época, eu era mais jovem, solteira, nãotinha filhos. Estava em uma tarde livre
assistindo a um filme belga, Le Huitiè-
meJour. De repente, tudo fez sentido.A mensagem do Evangelho de Jesus
Cristo, que eu tinha ouvido de um pastor,tornou-se mais clara.
Ali mesmo decidi seguir Jesus comomeu Senhor e Salvador. Saí do cinemaconvicta de que a vida sem amor não fazia
o menor sentido. No entanto, para amarverdadeiramente, eu precisava de Jesus
Cristo. Anal, era Ele quem arma ser oCaminho, a Verdade e a Vida (Jo 14.6).
Dentro de uma sala de cinema, sozinha,entreguei-me ao Salvador.
E com você: como aconteceu? Onde ecomo você percebeu que precisava de
um Salvador? Talvez, para você, essemomento tão importante tenha aconte-
cido em um culto, em um acampamentode jovens ou até mesmo ouvindo uma
pregação pelo rádio ou assistindo à TV,mas nem sempre é assim.
Para me tocar e levar-me a uma decisão
importante, Deus usou um lme que nemde longe é classicado como cristão ou
evangelístico. Diante da minha história,
percebo que Deus usa diferentes maneiraspara falar conosco. E uma delas pode seruma tela de cinema ou uma exposição fo-
tográca. Em um dia, o que está desviadopode retornar; o que está sem esperança
pode encontrar o consolo; quem precisa
de amor pode ouvir um chamado.
Para o meu marido, foi também de umaforma inusitada que Deus o tocou. Após
assistir a palestra de um fotógrafo famosoe não declaradamente cristão, meu maridofoi tocado ao ver fotos de refugiados ao
redor do mundo. A exposição fotográcao fez chorar e o ajudou a perceber que a
grande resposta para todo aquele sofri-
mento seria Jesus Cristo ressurreto.
Após aquela sessão de cinema e a
exposição fotográca, Deus nos levou pormuitos caminhos. Levou-nos à Inglaterra,
onde realizamos sonhos prossionais. Eu,de fazer um mestrado em cinema docu-
mentário e meu marido, de trabalhar com
cinema de animação na Aardman Anima-
tions (produtora inglesa).
De volta ao Brasil, continuamos a
perceber o agir de Deus, superandoas nossas expectativas. Para nosso
privilégio, estamos servindo em umamissão que apoia logisticamente mis-
sionários no interior da selva Amazôni-
ca: a Asas de Socorro. Nosso sonho éservir ao Reino com nossas provisões,vídeos, fotos, textos e depoimentos.Que Deus, em sua infinita misericórdia,
use o trabalho de nossas mãos para
tocar os outros, assim como ele usou a
arte de outros para nos tocar.
Talvez Ele também possa usar a suafala, o seu agir, a sua arte para consolar,alegrar e dar esperança para quem está
desanimado. O Evangelho de Jesus Cristoé poder para salvar (Rm 1.16). Isso podeacontecer em qualquer lugar, até mesmodentro de uma sala de um cinema.
N
Rita Mucci Santos
Jornalista, casada com Rodrigo Fraga Santos, mãede três filhos e missionária da Asas de Socorro
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Povos e Línguas • 27
DEPASTOR PARAPASTOR
A escola da vida e a vida da escola
Pág. 32 Raquel Chaves Guerreiro
CADERNO ESPECIAL Nº 7 | POVOSELINGUAS.COM.BR
VOCAÇÃO
E OBEDIÊNCIAO aspecto humanoda missão
Pág. 30 Pastoral
Terra dos livres:Uma tolerância plástica
Pág. 34 Escuta Missionária
Foto: Maycon Wesle
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28 • Povos e Línguas
Vocação e obediênciaA dinâmica missionária da igreja local
Igreja Missionária
Primeira Igreja Presbiteriana de
Vitória (1ª IPB) nasceu missioná-
ria. Após 87 anos de existência, a
igreja tem diversas frentes de trabalho
em missões urbanas e já plantou 20
igrejas pelo estado do Espírito Santo e
na região da Grande Vitória. A 1ª IPB
também ajudou a construir três tem-
plos, sendo um no Chile. Em missões
transculturais, a igreja desenvolve
trabalhos na Amazônia Legal e nos
cinco continentes, apoiando 23 mis-
sionários em 17 países.
Compreendemos a importância deinvestir tempo e recursos principalmen-
te em projetos de médio e longo prazo.
Portanto, missionários credenciados apre-
sentam seus planos de trabalho e buscam
parceiros para completar seu orçamento.
Nessa etapa, um grupo de irmãos
vocacionados em obediência à Pala-
vra forma um conselho d e missões
local. Esse conselho analisa projetos,
entrevista candidatos, apresenta a
igreja e, debaixo de oração, encami-
nha os projetos analisados para a
avaliação dos conselheiros.
O regimento interno do Conselho de
Missões foi produzido para nortear a
abrangência de ações. Os conselheiros
se reúnem ordinariamente uma vez por
mês e estão sempre a postos para se
reunir e prestar socorro ou ajuda emer-
gencial a seus apoiados.
Com base nessa dinâmica, os
missionários da IPB atuam em paí -
ses, como Austrália, Espanha, Portu-
gal, Romênia, Albânia, Bolívia, Chile,
Senegal, África do Sul, Líbano, Síria,
Curdistão/Iraque, Guiné-Bissau, Índia,
e no mundo árabe, além da Amazônia
Legal, entre os Quilombolas.
A Não apenas é possível comonecessário que organizemdepartamentos ou conselhosmissionários em suas igrejas,identicando membros vo -cacionados que assumam umpapel mobilizador sob orien-
tação de líderes conscientese obedientes ao Ide de Jesus
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Povos e Línguas • 29
O avanço missionário é acompanhado
por meio de relatórios per iódicos, e-mail,
blogs, telefonemas, redes sociais e até
visitas ou convites dos missionários
para irem à igreja local, com custeio
integral das despesas.
Pedidos de socorro financeiro são
frequentes, devido às circunstâncias
vividas nos campos. As demandas são
atendidas de forma extraordinária pelo
envolvimento dos membros da igreja.
Por meio de suas sociedades inter-
nas, Sociedade Auxiliadora Feminina
(SAF), União Presbiteriana de Homens
(UPH), União Presbiteriana de Ado-
lescentes (UPA), União da Mocidade
Presbiteriana (UMP) e União Presbite-
riana de Crianças (UCP), os membros
promovem “cantinas missionárias”
com doações simbólicas ao consumir
comidas típicas de diversos países. Os
recursos captados são revertidos para
o atendimento de demandas emergen-
ciais do campo missionário.
Anualmente a 1ª IPB de Vitória rea-liza uma Conferência Missionária. Em
2015 acontece a sexta edição. Essa é
uma oportunidade para abordar diver-
sos temas que estão em voga. Neste
ano, o tema escolhido é “Missões
versus Estado Islâmico”. Na ocasião
serão apresentados relatórios de
campo e a vivência dos missionários
enfatizando a postura dos cristãos
diante das perseguições e das amea-
ças nesse contexto.
A divulgação de algumas atividades
precisa ser mais cuidadosa, uma vez
que não se podem expor nomes, locais
de atuação nem contatos de alguns
obreiros que atuam em regiões onde a
perseguição religiosa é mais intensa.
Contudo, a 1ª IPB de Vitória vem edi-tando boletins informativos e usando
as mídias digitais para apresentar o
trabalho de obreiros que estão em
campos livres de perseguição.
A maioria das ações missionárias da 1ª
IPB está dirigida ao mundo árabe, seguido
de revitalização e reevangelização da Euro-
pa e da África. A Igreja também dá atenção
especial ao trabalho com alguns grupos
minoritários: Índios, Ciganos (na Romênia)e Quilombolas.
Diante do chamado original da Igreja
de Cristo, é preciso lembrar uma coisa
a todos os pastores que ainda não es-
tejam envolvidos de forma perene na
obra missionária: esse é o sentido da
permanência da Igreja na Terra.
Não apenas é possível como neces-sário que organizem departamentos ou
conselhos missionários em suas igrejas,
identicando membros vocacionados que
assumam um papel mobilizador sob orien-
tação de líderes conscientes e obedientes
ao Ide de Jesus (Mt 28:19-20; Mc 16:15).
Abraçar desaos de sustentar parcial
ou totalmente projetos missionários ou
obreiros é fundamental para o avanço do
Reino de Deus. Essa é uma marca dos cristãos que vivem com ousadia e intrepidez o
Evangelho do Senhor Jesus Cristo.
Pedro Miguel A. Castillo Díaz
Presbítero Presidente do Conselho Missionário daPrimeira Igreja Presbiteriana de Vitória - ES
Culto Convite aos Konkombas da Africa com o Rev. Ronaldo Lidorio e Hernandes Dias Lopes
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30 • Povos e Línguas
A perspectiva de Deus
Pastoral
asa de ferreiro, espeto de pau”.
“Santo de casa não faz milagre”.
Os ditados populares nem sempre
refletem verdades bem-fundamentadas, mas
esses dois expressam muito bem a experi-
ência cotidiana, seja ela alimentada por fatos,
seja por preconceitos. E aquele que é alvo
desses preconceitos logo se identica com
outro texto bíblico, dizendo: “O profeta não
tem honra na própria casa” (Mc 6:4). Com
isso, todos perdem, tanto o que não dá honra,
quanto o que se faz de vítima.
Quando lidamos com o processo missioná-
rio – vocação, preparo, envio e manutenção –,
muitas vezes esbarramos em obstáculos logo
no início. Isso acontece muito provavelmente
devido às barreiras que nós mesmos criamos.
Quando lemos as biograas de grandes
homens e mulheres de Deus que dedicaram
suas vidas ao Senhor em missões, encon-
tramos nomes como Charles Studd e Sophia
Müller e muitos outros. Diante dos registros
históricos e de tudo que se pode encontrar
nos livros, pensamos logo no estereótipo da
pessoa madura, solidamente espiritual, sem
medos, dúvidas nem mesmo pecados.
Precisamos admitir que muitas vezes
passa pela nossa mente aquela visão do
missionário com padrões nórdicos, alto, si-
camente forte para enfrentar as intempéries
do campo e emocionalmente estável a ponto
de só chorar de quebrantamento diante das
almas perdidas. Se solteiro, não sofre com
carências nem desejos sexuais. Se for casa-
do, é extremamente amoroso com o cônjuge,
e os lhos são protótipos melhorados do
famoso “Bebê Johnson”. Esses missionários
concebidos no consciente coletivo de boa
parte da Igreja naturalmente são evangelis-
tas, pastores, mestres e servos prontos para
destilar uma renadíssima espiritualidade em
cada ato ou palavra. A verdade é que esses
“supermissionários” só existem em nossa
imaginação e por um motivo simples: não
existe crente nenhum que seja assim.
O Senhor chama para o campo missionário
gente como os demais. Portanto, considerar
que cristãos mais espirituais sejam separa-
dos por Deus para tarefas mais complexas
é separar o povo de Deus em castas; é dizer
que alguns foram chamados para o campo
transcultural porque Deus os aprovou por se-
rem mais capacitados. Não há nada menos
bíblico e mais nocivo ao conceito da graça
de Deus e ao processo de lapidar aquele
que tem chamado, pois ninguém recebe um
pacote de “unção missionária” ao sentir de
Cristo um chamado para o campo.
Como crentes normais, os vocacionados
convivem na dualidade de se verem cheios do
Espírito Santo e, ao mesmo tempo, sentirem
desejos pecaminosos completamente contrá-
rios a essa realidade espiritual de que somos
habitação do Espírito Santo (1Co 6.19). Essas
tensões tendem a se potencializar à medida
que se afastam da proteção do ambiente da
igreja local para viver em campos com um
clima que mais agride que incentiva sua espi-
ritualidade. Por isso, os missionários precisam
ser bem preparados espiritual e emocional-
mente para enfrentar essas situações. Se en-
cararmos os chamados e vocacionados para
“C
O aspecto humanoda missão
A questão maior não estáem achar o crente que seencaixe em nossa ideia demissão, mas em deixarmos
a graça de Deus uir porintermédio de nossas vidas,permitindo que Deus use aigreja local como ambientede preparo e plataforma delançamento daqueles quesão chamados para longe
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Povos e Línguas • 3
missões como sendo automaticamente ungidos
para isso, deixaremos de lado a importante tarefa de
preparo que é, antes de tudo, da igreja local.
A visão distorcida do chamado missionário é
evidenciada quando se compara à usual preparação
para o trabalho pastoral com a do missionário trans-
cultural. Quando uma pessoa procura a liderança
de sua igreja dizendo que deseja “ser pastor”, um
processo é iniciado. Logo o “candidato” é analisa-
do, arguído e encaminhado para um envolvimento
ministerial parar ser observado e posteriormente
enviado para um seminário. Depois de graduada,
a pessoa ainda é colocada ao lado de outro pastor
para ser acompanhada até a sua ordenação (com
certeza, esse processo é mais curto em algumas
denominações). Se o preparo de alguém que vai
pastorear um rebanho em sua cultura dura váriosanos, por que nós nos achamos no direito de pensar
que o missionário pode ir para um campo transcul-
tural sem um profundo e extensivo treinamento?
Uma consequência direta desse bom acompanha-
mento do vocacionado por parte de sua liderança
pastoral é a quebra do estereótipo do missionário
“supercrente”. Ao olhar para o vocacionado como
alguém que também carece de preparo, a liderança
se coloca nas mãos de Deus para ser a ferramenta
de lapidação desse líder em treinamento. Diferen-temente do que muitos acham, não existe gênero,
idade nem conguração familiar ideal para o traba-
lho missionário. Assim como há inúmeros tipos de
campos missionários, são inúmeras as possibilida-
des para diferentes pers. Alguns campos precisam
de jovens solteiros, ao passo que outros carecem
de casais com boa vivência conjugal. Uns campos
precisam de missionários de carreira em tempo in-
tegral enquanto outros só podem ser acessados por
bivocacionados com boa formação prossional.
Alguns são chamados para o campo com um
histórico de vivência evangélica, lhos de diversas
gerações de crentes maduros. Outros, no entanto,
são resgatados das drogas, da vida underground
com tatuagens e piercings, ou de famílias desajus-
tadas para servir a Deus neste mundo globalizado
e pós-moderno igualmente desajustado. A questão
maior não está em achar o crente que se encaixe
em nossa ideia de missão, mas em deixarmos
a graça de Deus fluir por intermédio de nossas
vidas, permitindo que Deus use a igreja local como
ambiente de preparo e plataforma de lançamento
daqueles que são chamados para longe.
Como uma vez disse um amigo: todo preconceito
é um pré-conceito, que é um pré-juízo, que é um
prejuízo. Como liderança pastoral, nós nos aproxi-
mamos daqueles que se entendem chamados por
Deus para a obra missionária. Lançamos sobre eles
olhos preconceituosos, excluindo das leiras dos vo-
cacionados, pessoas que achamos novas ou velhas
demais, que não apresentam certos traços de perso
nalidade que entendemos que todo missionário deve
ter ou alguns dons espirituais que entendemos ser
condição básica para o trabalho transcultural. Assim
acabamos excluindo por nossa conta pessoasgenuinamente vocacionadas e enviando outros sem
o devido preparo, por acharmos que já reúnem os
requisitos que julgamos “espirituais”. Em vez de nos
enchermos do Espírito Santo para nessas decisões,
acabamos agindo em seu lugar.
Cristo, nosso modelo para todo tempo e qualquer
situação, ensina-nos muito quanto ao preparo do
vocacionado. O fato de Jesus ter formado o corpo
apostólico de 12 discípulos da forma como o fez le-
va-nos a crer que sua escolha foi meticulosamenteplanejada. Ele envia uma mensagem aos seus
sucessores ao chamar pessoas com experiências,
histórias familiares, posições políticas, prossões,
idade e temperamentos tão diversos. Cristo nos
comunica que não utiliza parâmetros humanos.
Ao gastar tempo com os 12, ensinando-os com
seu exemplo como deveriam agir em missão,
Cristo deixou para eles e para nós o mais frutífero
modelo. Como bem disse Deus a Samuel quando
se achou com a vista embotada de preconceitos
para a escolha do novo rei: “O Senhor não vê comoo homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor
vê o coração” (1 Sm 16:7).
Luís Fernando Nacif Rocha
Pastor de missões da Oitava Igreja Presbiteriana deBelo Horizonte - MG
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32 • Povos e Línguas
A escola da vida e a vida da escolaEsperança e transformação
Artigo
Teologia da Missão Integral estáinspirando e desaando a IgrejaBrasileira a aplicar os princípios do
Evangelho na vida cotidiana. O objetivo é
promover uma atuação mais expressiva navida social e espiritual das pessoas. O proje-
to Escola da Vida foi lançado em 2009 pelaMocidade Para Cristo (MPC). A iniciativa é
inspirada na perspectiva expressa no Pacto
de Lausanne – “O Evangelho todo para ohomem todo e para todos os homens”.
O projeto prevê diversas atividades nas es-
colas. Durante uma semana, os alunos parti-
cipam de palestras que tratam de assuntos,como violência, caráter, família e sexualidade.
A abordagem engloba a realidade social da
comunidade. A construção das palestras se
fundamenta nos princípios bíblicos, e a equi-
pe utiliza uma linguagem contextualizada ecriativa na sua reprodução. O tema da última
palestra é o amor. A programação inclui
muita música, teatro, vídeos e a proclamaçãodo Evangelho. Ao longo desses cinco anos,
foram mais de 20 mil decisões por Cristo e200 mil alunos alcançados.
Você já escreveu uma carta para Deus?Esse é o tema do concurso de redação
lançado durante a semana para os alunos.
Para muitos, foi a primeira oração; paraoutros, uma oportunidade de desabafare tirar dúvidas. As redações são respon-
didas pela equipe da MPC, e as melhores
são premiadas na sexta-feira. Já forammais de 23 mil oportunidades de falar doEvangelho por meio das cartas.
Muitas esferas de atuação da escola
são contempladas. Antes da semana de
palestras começar, a equipe organizadora
tem um momento especial com os profes-sores. Eles fazem um lanche e, na ocasião,a equipe ministra uma palavra de esperan-
ça em meio a ações de atenção e carinho
para cada professor. Outro momento-cha-
ve é o encontro com os pais dos alunos.
Em uma sociedade em que cada vez mais
se terceiriza o cuidado, lança-se um desa-
o: adote o seu lho, ame-o com todas assuas forças assim como Jesus amou você.
Essas ações promovem o evangelismo
natural e relacional porque as pessoas são
mais importantes do que o programa. O que
se deseja é estar nas escolas para passar a
semana com esses alunos, sentar, conversar,brincar, descobrir quem eles são, quais sãoos seus medos e suas angústias e comparti-
lhar a esperança, que é Cristo. Mas e depois?
Em cada escola do Brasil existe pelo me-nos um cristão que quer falar de Jesus para
os seus amigos, e não sabe como. A missãoda MPC é compartilhar essa chama e dizer
que isso é possível, mostrar as ferramentase ensinar cada aluno cristão a montar um
clube bíblico na sua escola.
Depois que o projeto acontece, a gura deum capelão escolar é o ideal para a conti-
nuidade dos trabalhos. A equipe da MPC
mantém contato com os alunos através dasredes sociais e prepara um site especialmen-
te para os estudantes, com material dinâmi-co e um curso bíblico on-line.
Ao longo da semana, a frase “Tudo muda
quando você muda” é enfatizada em váriosmomentos. Quando cada Igreja no Brasil de-
cidir entrar nas escolas de maneira efetiva econsciente, haverá uma “manifestação histó-
rica do Reino de Deus” (Pacto de Lausanne).
A
Raquel Chaves Guerreiro
Integrante da Mocidade Para Cristo (MPC) desde janeiro de 2009. Líder da MPC de Brasília e doProjeto Escola da Vida Brasil. É casada com JúlioGuerreiro e mãe da Lara
32 • Povos e Línguas
F o t o s : M P C
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Povos e Línguas • 33
WEC BrasilMissão AMEM
Alcançando povos.
Plantando igrejas.
Mobilizando para missões.
O nosso sonho é ver Cristo conhecido,
amado e adorado pelos povos menos
evangelizados do mundo.
R. Carlos Monte Verde, 35 Boa Vista Belo Horizonte / MG (31) 3489-1800
Alcançando os não alcançados
W E CInternacional
desde 1913
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34 • Povos e Línguas
Terra dos livres:uma tolerância plástica
Escuta Missionária
m 1939, o país conhecido como
o Reino de Sião alterava o nome
de sua nação para Thailand.
Literalmente “Terra dos Livres”, a terrado povo Thai, que nas últimas décadas
tem se tornado um dos países maisvisitados do mundo. A Tailândia é uma
nação com praias paradisíacas, mon-
tanhas e paisagens exóticas, culinária
refinada e, especialmente, um povo ale-
gre e hospitaleiro. Essas característicasmarcantes fazem do país um dos cinco
destinos mais procurados por turistas
da Europa e dos Estados Unidos.
Entretanto, esse fenômeno não é re-
sultado apenas do esforço e do desen-volvimento da indústria internacional
do turismo. O crescente interesse da
mídia pelo universo oriental e pelas
bandeiras da filosofia asiática teminfluenciado o Ocidente de maneira
jamai s v ista. Um reflexo evi dente dessemovimento é o fato de que o budismo
conquista cada vez mais adeptos fa-
mosos e anônimos. A Tailândia tem um
papel histórico fundamental na manu-
tenção e na propagação do budismo.
Principal promotora da corrente do
budismo Theravada, a Tailândia tem
sua história atrelada a diversos movi-mentos budistas. Essa condição con-
fiou ao budismo boa parte do processode formação da identidade cultural do
país. Mais de 90% dos tailandeses sãobudistas. A história indica a presença
dos primeiros cristãos chegando ao
Sudeste Asiático no século XVI, com o
movimento dos Nestorianos. Mas foisomente no século XIX que a Tailândiapassou a receber missionários cristãos
de forma sistemática.
Mesmo depois de mais de 180 anos
de história, a Tailândia permanececomo um dos países menos evangeli-
zados do planeta. Questões históricas,culturais e religiosas embasam esse
fato. Há que se reconhecer a história
milenar que envolve a formação da na-
ção Thai no Sudeste Asiático. Principal-
mente na Era do Império de Ayutthaya
(1351-1767), os princípios do budismoforjaram os conceitos morais, políticos,
culturais, sociais e familiares do povo.Tendo no monarca a figura do defensor
e representante supremo do budismo.
Essa filosofia transcendeu o caráterreligioso para forjar o próprio senso deidentidade nacional.
Na história moderna, alguns autoresapontam para o fato de que grandeparte das ações missionárias esteve
atrelada aos movimentos de navega-
ção e colonização promovidos pelos
países europeus. Em especial, a histó-
ria das colônias inglesas e francesasestabelecidas em territórios ao redorda Tailândia – hoje Malásia, Myanmar
Vietnã, Laos e Camboja – contribuiupara o fortalecimento d a xenofobia.
A rejeição da cultura e da religião
estrangeiras consolidou o budismo
como uma das colunas da autoafir-
mação da nação. A história nacional
reconta com orgulho, o fato de que a
E
Tailândia
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Povos e Línguas • 35
Tailândia jamais se submeteu a outra
nação e, por isso, até hoje é “livre”.
Muitas vezes, o cristianismo foidivulgado entre os tailandeses sem
a devida contextualização e baseadono triunfalismo moderno. Isso gerouainda mais rejeição quando comparado
com o budismo. Há relatos de grandes
debates públicos em que missionários
foram convidados para expor as basesdo cristianismo diante dos monges e
do público local. Os cristãos acabavam
saindo derrotados desses debates, e
os mensageiros reforçavam a ideia desupremacia da filosofia local. Entretan-
to, essa rejeição não é sentida pelosestrangeiros. Pelo contrário. Todos sãorecebidos de braços e com sorrisos
abertos. O pluralismo/universalismo, a
tolerância e a paz estão entre os funda-
mentos da filosofia local. Essas carac-
terísticas budistas pressupõem que opovo local receba pessoas e permita a
presença dos visitantes e de seus pen-
samentos. Em quase todos os estra-
tos sociais, os tailandeses reagem deforma plástica diante da pregação de
outras crenças, mas eles não se deixaminfluenciar. Talvez seja este o cerne doproblema: uma sociedade de sorrisos
abertos, mas de coração fechado.
Os desafios se tornam ainda maiscomplexos diante dos problemas
sociais que têm ocorrido no Sudeste
Asiático: tráfico de humanos, turismo
sexual, prostituição, tráfico de drogas,pobreza, povos étnicos não reconhe-
cidos, migração forçada e um grandenúmero de refugiados, além de catás-
trofes naturais, como o Tsunami em
2004, e as enchentes que ocorreram em2011. Somam-se a isso as turbulênciasda política interna. Nos últimos oito
anos, a Tailândia passou por dois gol-
pes militares que destituíram o governoe reeditaram a constituição.
Mesmo diante de um cenário deli-
cado, há muitas portas abertas pelaglobalização e pela compreensão das
novas gerações de conceitos de socie-
dade, vida e filosofia que abrem portase renovam a esperança de um futuro
distinto para o povo Thai. O país temapenas 0,6% de cristãos, o que coloca a
nação entre as mais carentes de envio
de missionários e de apoio institucio-
nal e espiritual no plano estratégico de
missões transculturais.
Há grandes oportunidades para o
desenvolvimento de ministérios entre
povos tribais, missões urbanas, minis-
térios de desenvolvimento, plantação
de igrejas, treinamento de lideranças,projetos de educação e misericórdia. Oro
para que você seja desafiado e guiadopor Deus. Assim, de alguma forma, quecada um também se envolva na tarefa
de alcançar esse querido povo.
Davi Pezzato
Missionário na Tailândia. Membro da Missão Evan-gélica Avante
8/18/2019 Povos e Linguas-Num7
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36 • Povos e Línguas
Missão reversaPor que a Europa deveria receber missionários de todo o mundo?
Artigo
ara boa parte da Igreja Euro-
peia e durante centenas de
anos, o termo “missão” signi-
ficou missionários do Leste Europeu
seguindo para o Hemisfério Sul paralevar o Evangelho. Missão Inversa
(ou Reversa) significa missionários
do Hemisfério Sul indo em direção apaíses do Leste Europeu para levaresse Evangelho de volta. Igrejas jovens
e instituições missionárias cheias de
vigor percebem o crescente secularis-
mo europeu e querem colaborar para
uma reevangelização da Europa. No
contexto alemão, as opiniões são con-
troversas sobre se a Europa precisa ou
não de missionários do Hemisfério Sul.
APARENTE FRACASSO
O início da segunda viagem mis-
sionária de Paulo é marcado por
várias dificuldades e por um fracassomissionário. Em Atos 16.6-8, Lucas
descreve como Paulo e Timóteo per-
correram aproximadamente 2 mil qui-
lômetros de um lado para o outro daregião onde fica a Turquia. Vez apósvez, eles se encontraram diante de
portas fechadas. O aparente fracassoé também algo comum no dia a dia de
um missionário. Ao ler os evangelhos,percebemos que Jesus normalmente
não dá as coordenadas geográficasexatas para onde seus discípulos de-
vem ir. Ele se refere a todas as naçõescomeçando por Jerusalém (Lc 24.47;
Mt 28.19; Mc 16.15).
A missão tem perspectivas naturais
e sobrenaturais. O lado natural se
reflete na obediência: “Ide e fazei dis-cípulos de todas as nações [...]” (Mt28.19; Mc 16.15), independentemente
se a mensagem será aceita ou não. A
dimensão sobrenatural se reflete em
visões, curas e experiências com aação do poder de Deus. Após vários
meses de aparente fracasso missio-
nário, Paulo teve uma visão quando
PObservando a realidadeespiritual da Europa, perceboque a sociedade europeiaem geral e a alemã estão setornando cada vez mais ido -sas e miscigenadas. Migra-
ção e globalização trazemconsigo mudanças no grá-
co etnológico social
Marktforschung em Hamburgo - Alemanha
F o t o : D i v u l g a ç ã o
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Povos e Línguas • 37
estava na cidade portuária de Troas. “E
de noite, Paulo teve uma visão em quese apresentou um homem da Mace-
dônia e lhe rogou, dizendo: Passa àMacedônia e ajuda-nos. E, logo depois
dessa visão, procuramos partir para aMacedônia, concluindo que o Senhornos chamava para anunciarmos o
evangelho para eles.” (At 16.9-10).
A visão sobrenatural que Paulo teve
foi um marco apontando que um novocírculo cultural seria cruzado. Ele deve-
ria ir à Macedônia, hoje uma região daEuropa. Em Atos 1.8, o Evangelho deve-
ria partir da Judeia, passando por Sa-
maria até alcançar os confins da Terra.Vale lembrar que, ao adentrar um novo
círculo cultural, evidências poderosasdo Evangelho se manifestam por meio
de sinais e de milagres (Mc 16.17).
Observando a realidade espiritual
da Europa, percebo que a sociedadeeuropeia em geral e a alemã estão
se tornando cada vez mais idosas e
miscigenadas. Migração e globalização
trazem consigo mudanças no gráficoetnológico social. Um em cada cinco
alemães vêm de famílias miscigena-
das. Em grandes cidades, esse número
chega a 50%. As Nações Unidas reco-
nhecem 193 nações no mundo intei-
ro. As metrópoles europeias reúnemrepresentantes de mais de cem dessas
nações. Em outras palavras, a metade
do mundo envia seus representantes
para a Alemanha.
FORMAÇÃO DE GUETOS
A maior parte das igrejas europeias ealemãs é composta de pessoas idosas.
Isso nos leva a armar que sua capaci-
dade física e missionária é limitada. Pormeio da migração de cristãos do mundo
inteiro surgem centenas de igrejas de
migrantes na Europa, principalmente
nas grandes cidades. No entanto, essesmigrantes vêm normalmente de classes
que não tiveram acesso à educação e, por
isso, eles acabam tendo um alcance so-
cial limitado. O movimento não influencia
outros fora desse contexto e esse proces-
so culmina na formação de guetos.
Para alcançarmos alemães e outros euro-
peus cultos de forma efetiva, precisamos deevangelistas bem-formados e de missio-
nários que estejam dispostos a trabalhar
em parceria com líderes europeus. Pessoascom essa disposição são bem-vindas para
trazer sua espiritualidade, sua fé inspiradorasua paixão por Cristo e seu Evangelho de
amor. A esses, vai aqui um convite: Kommherüber nach Europa und hilf uns! (Venham
à Europa e ajuda-nos!).
Klaus Schönberg
Formado em Teologia (1984-1988) pelo SeminárioBatista de Hamburgo e mestre em Teologia pelaUniversity of South Africa. É escritor e foi pastor prin-cipal em duas igrejas entre os anos de 1988 e 2004,quando iniciou seu trabalho como palestrante daJunta Batista Alemã na área de plantação de igrejas
F o t o : A r q u i v o P e s s o a l
Klaus Schönberg
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38 • Povos e Línguas
O que temos sido?Missão e Adoração
antamos o que cremos. Cantamos oque sentimos. Cantamos o que prega-
mos. Cantamos a vida da maneira como
a vemos. Afinal, cantamos o que somos. A
música talvez seja, de todas as artes, a mais
presente no cotidiano do ser humano. Começa
com o toque dos nossos aparelhos celulares,
passa pelo caminhão do gás, está presente nas
mensagens de facebook que recebemos a cada
segundo, está nas rádios que ouvimos no car-
ro, em nossos aparelhos eletrônicos e deságua
nas nossas igrejas.
Deus nos criou com a capacidade de nos
expressar de múltiplas formas. Ele n os deu
a musicalidade. Nós sentimos o mundo ao
nosso redor no ritmo da criação. Os sons
da natureza, a música dos pássaros, toda
percussão e toda harmonia dos timbres da
criação envolvem a vida do homem desde o
princípio. A música nos comove, estimula,
acalma e nos empolga. Den tro dela vai tudo
o que pensamos. Nossas palavras são em-purradas para fora de nós com harmonia,
melodia e ritmo. É c omo um míssil teleguiado
pronto para explodir dentro do coração de
quem ouve. Deus nos deu a música para que
pudéssemos, de forma mais completa, dizer
a Ele tudo o que sentimos e tudo que nossa
emoção e a fé carregam de dentro de nós até
a Sua presença. Melodias, harmonias e ritmos
expressam sentimentos que, com palavras,
talvez não possamos revelar por completo.
Ao mesmo tempo que temos essa força a nos-
so favor na missão, temos um desafio em nos-
sas comunidades: o desafio do entendimento da
cosmovisão cristã e da teologia da missão entre
músicos e compositores. Mesmo com todos os
esforços em congressos, cursos, palestras e com
o material que circula pela internet, é notório que
há muito a ser feito. A infantilidade artística, o
despreparo teológico, os apelos do mercado eo narcisismo não resolvido têm transformado
nossa música num rascunho e numa caricatura
do que Deus realmente criou.
O momento que vivemos no país e na Igre -
ja clama por uma revolução. Esta é a hora de
pastores e líderes locais voltarem os olhos
para a identidade da Igreja em Cristo, para a
missão da igreja em sua comunidade e para a
oportunidade de usar a arte num mundo que
carece de conteúdo e apela às redes sociais. Omundo pede pela conversão da igreja. Preci-
samos redescobrir o papel da música dentro
e fora das quatro paredes da igreja e admitir
que ainda somos preconceituosos no desen-
volvimento da arte cristã. Temos facilidade de
encontrar pecado nas diversas expressões ar-
tísticas, mas dificuldade em reconhecê-lo nas
transações comerciais que sustentam essas
expressões na mídia cristã desnorteada e sem
senso de missão.
Nunca houve tanta facilidade para produzir mú-
sica. Nossos lares se transformam em estúdios
com um simples toque da varinha de condão da
tecnologia e dos softwares. Fazemos filmes com
nossos aparelhos celulares! Está fácil!
Difícil tem sido encontrar conteúdo e paixão
no que se produz hoje. Há um movimento de
exceção que se soma a uma história recente
de compositores brasileiros que influenciaram
a minha geração, mas não há dúvida de queexiste muito trabalho a ser feito. Cantamos o
que somos. O que temos sido?
C
O caos da infantilidade artística e o despreparo teológico
Zé Bruno
Pastor da Casa da Rocha em São Paulo e vocalista dabanda Resgate
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Povos e Línguas • 39
A infantilidade artística, o
despreparo teológico, osapelos do mercado e onarcisismo não resolvidotêm transformado nossamúsica num rascunho enuma caricatura do queDeus realmente criou
Z é B r u n o | F o t
o : B a n d a R e s g a t e O f c i a l
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40 • Povos e Línguas
O aprendizado do cristão
Coluna
eus não chama os fortes e prontos,
mas os fracos e inadequados. E Eleos fortalece ao longo do caminho.
Essa é a minha impressão ao ler, nos evan-
gelhos, os encontros, diálogos e ensinos de
Jesus aos seus discípulos. Em um ambien-
te orientado intelectualmente pelos brilhan-
tes gregos, comandado politicamente pelospoderosos romanos e guiado espiritual-
mente pelos religiosos judeus, Jesus nãoescolheu como discípulos os brilhantes, ospoderosos nem os religiosos.
Talvez pudéssemos argumentar que
as virtudes e os talentos identificadospor Jesus nos discípulos fossem invisí -veis aos olhos comuns. Mas a verdade
é que eles não tinham a natureza de
ser grandes líderes, influenciadores de
multidões nem eram habilidosos em re-lacionamentos humanos. Pelo contrário:
eram temerosos, confusos, lentos paraaprender e duros de coração.
É impressionante notar que foramexatamente esses os homens que Jesus
escolheu. Foi a eles que Cristo conou amissão de liderar a igreja na comunhão,oração, diaconia, pregação da Palavra
e evangelização de todos os povos. Ele
parece frequentemente chamar os fracose inadequados para fortalecê-los aolongo da caminhada. É na caminhada que
passamos de servos a lhos e deixa-
mos de ser orientados pelo serviço para
sermos guiados pelo amor. Ao m do dia– na caminhada – percebemos que não
fomos chamados para cumprir uma listade tarefas, mas para um relacionamento
profundo e eterno com o Pai.
Esse parece ser um padrão de Deus
ao chamar seus servos. Ele chamou um
homem gago para liderar um grande
povo, um jovem franzino para enfren-
tar um gigante enfurecido e um profetadeprimido para uma grande missão. Ele
chama perseguidores para sofrer por seu
nome, altivos de coração para servir hu-
mildemente, endinheirados para aprendercom a pobreza, incertos de alma para
ensinar sobre a fé, mentes lentas paraserem grandes mestres e corpos fracos
para enfrentar circunstâncias inóspitas. Amensagem por trás de todo esse para-
doxo é que na caminhada nunca vamosestar sozinhos – Jesus está conosco!
Em Mateus 28 lemos que Jesus armouter toda a autoridade e comissionou os
discípulos para levarem o Evangelho a todasas nações. Essa seria uma tarefa impossívele impensável, se não fosse sua armação
nal: “[...] e eis que estou convosco todos osdias até a consumação dos séculos” (v. 20).
Por isso, a gura do caminho é tão im-
portante na Palavra de Deus. Ao caminhar
com Cristo, passamos a conhecê-lo melhore experimentamos episódios inesperados,
porém transformadores. Por vezes, algumas
circunstâncias parecem não fazer sentido,mas conferem sentido à vida. Esses episó-
dios não são impressionantes aos olhos do
mundo, mas são verdadeiramente libertado-
res para a Igreja. Lembremo-nos de que Je-
sus era um andarilho, estava em constantemovimento. Um dos verbos mais repetidos
sobre a dinâmica de Jesus e seus discípulosé que eles “percorriam...”. E é nessa estrada
que Cristo nos lança o mais fascinante con-
D
Fundamentosda jornada
Ele chama perseguidorespara sofrer por seu nome, al -tivos de coração para servirhumildemente, endinheirados
para aprender com a po -breza, incertos de alma paraensinar sobre a fé, menteslentas para serem grandesmestres e corpos fracospara enfrentar circunstânciasinóspitas
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Povos e Línguas • 4
vite: siga-me! Não é um convite solto no ar nema palavra de um guia que simplesmente aponta o
rumo. É um chamado ao relacionamento, a seguira estrada – sempre com Ele.
Os salvos em Cristo são chamados por Deus.
Aos que Deus tem chamado para ser sal e luzem variados contextos, lembrem-se de que em
meio ao testemunho, à vida e ao trabalho, aprincipal razão de estarem nessa caminhada é
para conhecer mais o Cristo.
Em meio a todos, Deus também chama algunspara ministérios especícos. Aos que Deus temvocacionado para o trabalho pastoral ou missio-
nário, estejam certos de que vocês não foramchamados apenas para cumprir uma lista de ta-
refas na igreja ou no campo, mas principalmentepara um relacionamento mais próximo com
o Pai. Na caminhada dos discípulos podemosaprender um pouco sobre a maneira de Deus nos
conduzir. Três verdades parecem fundamentais:
1. Deus geralmente só mostra o próximo passo.Os discípulos chamados por Cristo não tinham
ideia do m daquele caminho. Jamais imaginaramser colocados em posições de grande liderança e
desao. Foram chamados para ser éis um passopor vez. Portanto, pare de nutrir ansiedade pelo
que há de acontecer ao longo da vida e do traba-lho. Deus, que o chama, guia, guarda e continuacom você muito além daquela curva mais fecha-
da. Seja el no próximo passo que Ele vai mostrara você. Talvez esse passo para você seja reformar
a sua vida devocional, servir com mais delidadeem sua igreja local e desenvolver sua vocação
cristã na universidade ou ir para um seminário.
Seja el no próximo passo e siga caminhando...
2. Mais importante do que conhecer o cami-
nho é compreender o seu signicado. Além demostrar o caminho aos seus discípulos, Jesus
desejava que eles compreendessem o signi-
cado da caminhada. É no caminho que nossosolhos se abrem e um relacionamento muito além
das nossas limitadas percepções se apresenta.
Além de saber aonde estamos indo, vamos saber
por que estamos aqui. Em Lucas 9 lemos: “Jesusdizia a todos: [...] Quem quiser salvar a sua vida,
vai perdê-la. Mas quem que, por amor de mim,
perder a sua vida, vai salvá-la” (v. 22-23). É se-
guindo Cristo de perto que vamos compreender
que nossa vida não tem sentido sem Ele, que háum preço a pagar para segui-lo, que somos cha-
mados em missão e, na lógica do Reino, ganhar
signica perder e perder é ganhar.
3. Para seguirmos até o m, é necessário levarapenas o essencial. Na caminhada com Cristo, os
discípulos aprenderam a renunciar. Ao longo desuas vidas, eles abriram mão da segurança, do
conforto e de desejos pessoais. Para completar acaminhada, precisamos saber o que é essencial e
não devemos carregar inutilidades. Muitos fardosde estilo próprio, preferências pessoais e infantis
exigências do coração podem atrasar, e muito, anossa caminhada seguindo o Mestre.
O povo Fulani do Oeste africano é conhecido por
ser um povo andarilho e nômade. São percebidosao longe por sua silhueta alta e esguia e conse-
guem caminhar, sem grandes intervalos, durante
longos períodos, às vezes por semanas. Um dossegredos para eles conseguirem perseverar nas
longas caminhadas é a ausência de pesados
fardos sobre seus ombros. Diferentemente dos de-
mais grupos da região, eles carregam pouquíssimacoisa, sabendo bem identicar o que é essencial.
Talvez você se sinta desanimado pela durezada caminhada, confuso pelas portas que aindanão se abriram ou inquieto por considerar-se
inadequado para a missão. Lembre-se de que é
na caminhada que Ele anima, conrma e fortalece
você. Sirva ao Senhor conforme as forças quevocê tem. Entre pelas portas que estão abertas.
Ensine de acordo com a sua fé. Na caminhada,
lembre-se de que aqueles discípulos fracos,temerosos e incrédulos foram transformados em
pregadores de Deus, exemplos de fé, missionáriosem terras distantes e mestres dedicados. Eles
usaram os seus talentos e foram éis até o últimodia, quando nalmente se encontraram – face a
face – com aquele que é o próprio Caminho.
Ronaldo Lidório
Missiólogo e pastor presbiteriano ligado às agênciasAPMT e WEC
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42 • Povos e Línguas
E eu com isso?A crise da Igreja e a injustiça social
Missões Urbanas
oje são produzidos cerca de 10%mais alimentos do que o neces-
sário para alimentar a população
mundial.1 No entanto, morre de fomeuma criança a cada três segundos. Isso
signica que morrem 28,8 mil crianças pordia. De acordo com órgãos de pesquisa,
1,8 bilhão de pessoas não têm acesso àágua potável no planeta. A economia está
organizada de forma que haja 70 mil mor-
tos por dia. Isso prova que o pobre não é
considerado de forma digna.
Para denir justiça e direitos humanos,é necessário estabelecer conceitos claros
sobre a pessoa, sua natureza e a dignida-
de. Essa é a proposta de Jacques Maritain,
quando arma: “As concepções do mundoe da vida de tipo materialista, as losoasque não reconhecem o elemento espiritual
e o elemento eterno no homem são inca-
pazes de evitar o erro na construção de
uma sociedade verdadeiramente humana,porque são incapazes de dar direito às
pessoas e, por isso mesmo, de compreen-
der a natureza da sociedade”. 2
DESIGUALDADE SOCIAL
Pode-se dizer que este século está
matando mais do que as duas guerras
mundiais juntas. Nota-se que não houve
guerra com tal crueldade como esta, mes-
mo quando se pensa no Holocausto. A
disparidade social e econômica entre ricos
e pobres é maior a cada ano. Para armaressas diculdades relatadas, Enrique
Dussel nos diz: “Aos 500 anos do começoda Europa Moderna, lemos no Relatóriosobre o Desenvolvimento Humano de
HPode-se dizer que este sécu -lo está matando mais do queas duas guerras mundiaisjuntas. Nota-se que não hou -ve guerra com tal crueldadecomo esta, mesmo quandose pensa no Holocausto
“....morre de fome uma cri ança a cada três segundos. Isso signica que morrem 28,8 milcrianças por dia. De acordo com órgãos de pesquisa, 1,8 bilhão de pessoas não têm acesso
à água potável no planeta.”
1 Para saber mais sobre as pesquisas acima citadas, leia o livro Ética da Justiça, do autor Adriano Sella; 2 MA-
RITAN, Jacques A pessoa e o bem comum, Livraria Morais Editora, Lisboa, 1962, pg. 105.
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Povos e Línguas • 43
1992 (UNDP, 1992:35) que os 20% maisricos da humanidade (principalmente na
Europa Ocidental, nos Estados Unidose no Japão) consomem 82% dos bensda Terra. Enquanto isso, os 60% mais
pobres (a “periferia” histórica do “SistemaMundial”) consomem 5,8% desses bens.
Jamais foi observada uma concentraçãocomo essa na história! E a injustiça es-
trutural aqui relatada nunca foi imagina-
da em escala mundial”. 3
As pesquisas demonstram a cres-
cente desigualdade mundial. Os dados
são incontestáveis. Desde a década de
80, o abismo da desigualdade entre ospobres e ricos cresce sem parar. Tal
desigualdade nos leva necessariamente
ao pensamento nessa cena como frutoda injustiça. Nota-se que a desigualdade
não é natural, nem mesmo moralmente
neutra, senão histórica e carregada de
culpa e de responsabilidade. Como de-
clara Reyes Mate: “As injustiças não são
fruto do ciclo natural, não são produto do
azar, senão causadas e/ou herdadas pelohomem, ou seja, o pobre não pode ser
culpado da sua pobreza”. 4
A CRISE
A cristandade está sofrendo uma sériacrise que percorre as modalidades da
Igreja e está revelada em todas elas. As
inquietações e as incertezas nos quais
está mergulhada profundamente a vida depessoas que se dizem cristãs é preocu-
pante. Cada vez mais indivíduos se apre-
sentam de forma pessimista. De alguma
maneira, essa postura contaminou aprópria fé que declaram ter.
O signicado de muitos aspectosimportantes da cristandade tem sido colo-
cado em xeque – o ensinamento moral
da Igreja, a natureza absoluta de seuspronunciamentos dogmáticos, sua prática
sacramental, a presença real de Cristona ceia ou na eucaristia católica, a Bíblia
como palavra de Deus, a Igreja como umainstituição séria, a historicidade de Cristo
e agora, nalmente, a existência de Deus.
Pode haver futuro para um mundoassim? Podem os cristãos, que se dizem
representantes de Cristo na Terra, caremindiferentes a esses fatos, aceitandocom frieza uma sociedade organizada
para produzir morte e sofrimento? Sãoquestões que ecoam pelas ruas e pe-
los templos das cidades cada vez mais
cinzentas. Não há respostas prontas, masum caminho a ser trilhado e uma porta
pela qual devemos passar: Cristo.
Paulo Capellete
Mestre em Ciências da Religião pela UniversidadeMetodista de São Paulo (2012), professor da Facul-dade Latino-Americana de Missão e professor daFaculdade Teológica Sul-Americana
+10%
“...são produzidos cerca de 10 % mais alimentos do que o necessário paraalimentar a população mundial”
20% 82%
“...20% mais ricos da humanidade (principalmente na Europa Ocidental, nosEstados Unidos e no Japão) consomem 82% dos bens da Terra.”
3 DUSSEL, Enrique. Europa, modernidade e eurocentrismo, in A Colonialidade do saber: eurocentrismo e
ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Edgardo Lander (org). Colección Sur Sur, CLACSO, Ciuda-
do Autónoma de Buenos Aires, Argentina. Setembro 2005. pp.55-70 4 MATE, Rayes Tratado de la injusticia,
Editora Antrophos, Rubi, 2011. pg. 10.
CONSOME
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44 • Povos e Línguas
Um único propósitoe uma só prioridade
Artigo
á mais de 2 mil anos foi-nosdada a ordem de pregar o Evan-
gelho para todas as pessoas
(Mc 16.15) e fazer d iscípulos de todasas nações (Mt 28.18), porém, essaainda é uma tarefa inacabada.
A Igreja se institucionalizou, o cristia-
nismo nominal se tornou apenas mais
uma religião dentre tantas outras evem perdendo a credibilidade. É neces-
sário voltar os olhos para os campos
que já estão prontos para a ceifa (Jo4.35). A Missio Dei é a Missão de Deusdada à Igreja para que o Criador seja
revelado à sua cr iatura, e o Salvador,àqueles por quem Ele morreu.
O Movimento Moraviano do século
XVIII fez com que o Evangelho che-
gasse a muitos povos não alcança-
dos. Sob o lema: “Nosso Cordeiro
venceu: vamos segui-lo!”. “Em duas
décadas, os morávios enviaram maismissionários do que todos os pro-
testantes tinham enviado nos dois
séculos anteriores”.¹
Sabemos que houve um mover do
Espírito Santo naquela comunidadee um fato inédito: uma reunião de
oração ininterrupta que durou cem
anos. Cada cristão era um missionário
e todos tinham um único propósito: oministério era prioritário!
Estamos atrasados na evangeli-
zação mundial por muitos fatores, àluz do Movimento Moraviano. Va-
mos refletir onde temos falhado. AIgreja Brasileira tem se eximido daresponsabilidade de alcançar os
povos, transferindo o mandato divinopara alguns. No livro “Chamados por
Deus – resgatando os princí pios davocação hoje”, encontramos diver-
sos profissionais testificando que “aprática profissional se relaciona como chamado divino para servir.”²
Todos os salvos são chamados paraservir, seja qual for sua área profissio-
nal ou seu campo de atuação. Recebi
um e-mail do diretor de uma missão
no qual ele expõe uma lista de pro-
fissionais necessários para atender àdemanda dos campos missionários.
Jovem, o Reino de Deus é prioridade!
Você vai prestar vestibular? Antes depensar no status social, no poder aqui-
sitivo e na estabilidade para o futuro,peça direção ao Senhor para saber
com qual capacitação Ele quer usá-lo.
Como cristãos, devemos ter umúnico propósito – consagrar a nossavida, os dons e os talentos ao Senhor
para servir aos povos com o Evangelho
integral (Kerigma), a pregação, o ensi-no (didaquê) e o serviço (diaconia). E
uma só prioridade: “O Reino de Deus e
a sua justiça” (Mt 6. 33). Com certeza,o Evangelho, na linguagem de John
Stott – um “Cristianismo autêntico”alcançará os povos, línguas e nações,trazendo redenção aos homens e
transformações às comunidades para
o louvor e a glória do Cordeiro que foimorto, mas vive para sempre (Ap 5.14)
H
Durvalina B. Bezerra
Diretora do Seminário Betel Brasileiro em São Paulo
1 Tacker. Ruth. “Até aos confins da terra”. Ed. Vida Nova. 1983. P. 74 2 Chamados por Deus – resgatan-
do os princípios da vocação hoje. Durvalina Bezerra; Joyce Every-Clayton; Jorge Noda. (organizadores)
Betel Publicações. João Pessoa. PB
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Povos e Línguas • 45
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46 • Povos e Línguas
O fazedor de tendasA aplicabilidade do modelo de Paulo
Profissionais em Missão
azedor de Tendas é a expressão
moderna usada para se referir ao mis-
sionário que, inspirado no exemplo do
apóstolo Paulo, trabalha para se sustentare criar oportunidades de estabelecer pontes
com o contexto local. Já que a prossão dePaulo era a de fazedor de tendas, conformeAtos 18.3, adotou-se essa expressão como
referência a esse tipo de missionário.
Durante boa parte do seu ministério,Paulo se “autossustentou”. Ele explica esse
sustento da seguinte forma: “Porque vos re-
cordais, irmãos, do nosso labor e da fadiga.
E de como, noite e dia labutando para nãovivermos à custa de nenhum de vós, procla-
mamo-vos o evangelho de Deus.” (1 Ts 2.9).
Em Atos 28.30-31 tem-se mais clara-
mente o modelo de atuação do fazedor detendas: “Por dois anos permaneceu Paulo
na própria casa, que alugara, onde recebiatodos que o procuravam, pregando o reino
de Deus e, com toda a intrepidez, semimpedimento nenhum, ensinava as coisas
referentes ao Senhor Jesus Cristo”.
Vale considerar o período que Pauloesteve em Roma: “dois anos”. Além de
uma marca de seu ministério, esse curtoperíodo é uma estratégia muito interes-
sante, pois gera no missionário um sensode urgência e faz com que ele precisese organizar e trabalhar para divulgar o
Evangelho mais rapidamente.
Em seguida vê-se que Paulo vivia em uma
casa alugada. Isso o ajudava a não se esta-
belecer denitivamente. Ele estava semprepronto a ir adiante, a buscar o próximo
destino. Semelhantemente os fazedores de
tenda de hoje buscam estar sempre prontosa ir para a próxima oportunidade de empre-
go ou o próximo povo a ser alcançado.
A descrição do modelo continua com a
hospitalidade: “recebia todos que o pro-
curavam”. Ser hospitaleiro é algo particu-
larmente difícil. Normalmente o missio-
nário vive em um contexto transculturalem que sua casa tem a tendência de se
tornar um refúgio; é o cantinho onde ele
pode viver a própria cultura, os hábitosde seu povo e onde ele se sente literal-
mente em casa. Acontece que é justa-
mente no abrir das portas desse refúgioque a efetividade do trabalho começa. Oestrangeiro entra na casa do missionário
hospitaleiro cheio de curiosidade sobre
a cultura e a sua forma de vida. Ali elecomeça a perceber, de forma prática, oque é o cristianismo.
E o modelo termina mostrando que,“com toda a intrepidez, sem impedimento
nenhum, ensinava as coisas referentes aoSenhor Jesus Cristo”. No contexto de seu
lar é sempre possível falar de Cristo, mesmoem países onde fazer isso publicamente
seja proibido. Os fazedores de tenda explo-
ram o exemplo de Paulo ao máximo sendoecazes na pregação do Evangelho mesmo
em contextos reconhecidamente fechados.
Ser um fazedor de tendas hoje é ser umcristão que, atendendo ao chamado da Gran
de Comissão, se dispõe a usar sua prossãopara se sustentar conseguindo oportunida-
des de trabalho que o colocam por um curto
período em um contexto transcultural. Sendo
ele hospitaleiro, tem a oportunidade de pre-
gar e viver o Evangelho para impactar aquele
povo e aquela nação. Com isso, ele conseguelevar o nome de Cristo adiante.
F
Gustavo de Souza Borges
Membro da equipe de coordenação do de-partamento Profissionais em Missão (PEM) daAssociação de Missões Transculturais Brasileiras(AMTB). Bacharel em Ciências da Computaçãocom pós-graduação em Matemática e Estatística. ÉGerente de Novos Negócios em uma multinacionalde Seguros e editor do site fazendotendas.org. Par-ticipou do Tentmaking Business as Mission Coursena Global Opportunities, EUA
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48 • Povos e Línguas
EssencialO chamado incontestável
Artigo
m toda a história da Era Cristã,a mulher tem participado inte-
gralmente do cumprimento da
Grande Comissão de Jesus (Mt 28.18-20). Além das missionárias enviadas a
diversos povos e terras, há um grandenúmero de mulheres indispensáveis
que despertam vocações missionárias
nas suas famílias e em igrejas. Elasajudam no preparo de pessoas para a
missão transcultural, encorajam, sus-
tentam financeiramente e em oração erecebem muitos de volta dos campos
com alojamento, festas, bolos, sorri-
sos, carinho e muita alegria.
MULHERES QUE SÃO MISSIONÁRIAS
Começando com o relato bíblico, as mu-
lheres não são deixadas de fora da missãode Deus no Antigo Testamento nem noNovo. Jesus as incluiu de forma extraor-
dinária no seu ensino e no cumprimento
de seus propósitos. A mulher samaritana
foi a primeira pessoa a ouvir de Jesus queEle era o Messias que dava perdão e vida.
Foi a primeira missionária. E ela ganhou
muitas pessoas na sua cidade (Jo 4.1-42)
Acabo de ler um livro sobre duas mu-
lheres iranianas, pegas pelas autorida-
des com muitas Bíblias, folhetos e CDsque distribuíam secretamente. Levadasà prisão terrível de Evin, enfrentaram
todo tipo de indignação, privação, faltade comida e de higiene, interrogatóriose ameaça constante de morte. Mas elas
se alegraram porque não precisavam
mais agir secretamente. Falaram com
todas as letras que foram presas por
causa de Jesus! Na prisão, muitas mu-
lheres creram no Evangelho antes que
elas deixassem o cárcere.
Entre a mulher samaritana e as duas
iranianas há milhares de mulheres fiéisà chamada de levar o Evangelho até os
confins da Terra. Dois terços da forçamissionária são mulheres. Os traba-
lhos que fazem nos campos são dosmais variados: pioneiras, evangelistas,
tradutoras, discipuladoras, plantadoras
EHá um ditado popular(“evangélico”) que diz: “Noscampos missionários há maismulheres do que homensporque Deus chamou oshomens, e eles nãoobedeceram”. Não acreditenisso nem por um instante!Deus chama mulheresporque tem um papel essen-
cial para elas
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Povos e Línguas • 49
de igrejas, líderes, escritoras, doutoras,professoras e apoiadoras. Sabemos so-
bre algumas delas, mas a vasta maioriasão esposas ou solteiras que não tiveram
suas histórias registradas aqui na Terra.Esperamos conhecê-las no futuro!
Há um ditado popular (“evangélico”)
que diz: “Nos campos missionários há
mais mulheres do que homens porque
Deus chamou os homens, e eles nãoobedeceram”. Não acredite nisso nem
por um instante! Deus chama mulheres
porque tem um papel essencial para
elas. Basta ver o filme “Terra Selva-
gem” ou ler livros como “Através dos
Portais de Esplendor” (Edições Vida
Nova) de Elizabeth Elliot ou a históriade Ana Judson, Amy Carmichael, Lottie
Moon, Mary Slessor ou Sophie Muller.
Uma amiga que esteve durante 24anos em Serra Leoa trabalhou com
muito êxito entre três tribos não alcan-
çadas em lugares onde os homens não
conseguiram permanecer. Da mesma
forma, quantas missionárias brasileirasDeus tem chamado? Sônia, Analzi-
ra, Nájua, Maria Pires, Tonica, Rosa e
aquela querida irmã de sua igreja unemforças a esse sem-número de mulheresque fizeram diferença no mundo.
MULHERES QUE DESPERTAM
VOCAÇÕES E AJUDAM NO PREPARODE MISSIONÁRIOS
Deus tem usado mães, professoras
de Escola Bíblica, amigas, tias, avós eesposas de pastores para conscientizar,
desafiar e ensinar crianças e jovens aservir ao Senhor na Grande Comissão. Na
Bíblia há exemplos, como a mãe e a avóde Timóteo, elogiadas como importantesno seu preparo (2 Tm 1.5; 3.14-17).
A mãe de Mary Slessor, missionária
que lutou contra a escravidão na África,ensinou a Bíblia à filha. Falou também
sobre a necessidade das nações, apesar
das severas dificuldades com o maridoalcoólatra e abusivo. Duas mulheres na
minha igreja foram especiais em meupreparo missionário. Elas me empurra-
ram para a responsabilidade, o conheci-
mento, o compromisso bíblico, a oração e
a fidelidade. Desafiaram todos os jovenspara serem missionários transculturais.
Também me ajudaram em alguns mo-
mentos difíceis, sem desistir. Dou graçasa Deus por elas e por muitas outras mu-
lheres que cumprem esse papel, dentreelas, minha mãe, que se dedicou muitopara que eu me tornasse missionária.
MULHERES QUE ORAM
Mulheres foram mencionadas especi-ficamente no livro de Atos por estarem
entre os discípulos, reunidos para orar,até receber o poder do Espírito Santo
para levar o Evangelho até os confinsda Terra (At 1.1-14).
Além disso, a Bíblia mostra a impor-
tância da oração pelas missões. Pauloescreveu para a Igreja de Éfeso pedindooração pela ousadia de abrir a boca
diante das autoridades em Roma (Ef
6.18-20). Mesmo sendo missionárioexperiente e bem-sucedido, ele sabiaque precisava da ajuda dos irmãos em
oração, inclusive das irmãs.
Na história das missões cristãs hámulheres como a irmã de Hudson Taylor
– el correspondente e intercessora – e amãe de J. O. Fraser, que reuniu centenasde mulheres em grupos de intercessão em
toda a Inglaterra, resultando no resgate de
milhares de chineses da idolatria, misériae condenação eterna. Na minha vida, uma
mulher, Ma Kuhn, foi importante na oraçãoEla tinha uma caixa de mais ou menos mil
chas de missionários. Ela se lembravadeles toda semana e, de uma parte deles, alembrança era diária. Tenho certeza de que
em muitas situações, Deus estava respon-
dendo às orações dela.
MULHERES QUE SUSTENTAMMISSIONÁRIOS
Mulheres hospedaram e sustentaram
financeiramente Jesus (Lc 8.3) e os
discípulos, especialmente Paulo (At16.15). Também foi assim na h istória
das missões. Mulheres levantam ofer-
tas missionárias, como Ana Judson e
Lottie Moon, e contribuem sacrificial-
mente para todo o envio e o trabalho
de missionários na história. No século
XIX, mulheres doaram “centavos”
das suas mesadas. A doação somoualguns milhões de dólares, na épocaem que o dólar valia muito. As primei -ras pessoas a darem uma herança
para missões foram uma empregada
doméstica, que doou R$345,00, e outramais rica, que doou R$30 mil. Entre
1840 e 1900, as mulheres doaram 70%de todo o sustento missionário.
É notória a maneira como Deus usa mu-
lheres para falar, preparar, sustentar orar e irservindo, proclamando e fazendo discípulosde Jesus Cristo. Isso precisa continuar!
Na história das missões cris -tãs há mulheres como a irmãde Hudson Taylor – el cor -respondente e intercessora– e a mãe de J. O. Fraser, quereuniu centenas de mulheresem grupos de intercessãoem toda a Inglaterra, resul -tando no resgate de milha-
res de chineses da idolatria,miséria e condenação eterna
Bárbara Helen Burns
Doutora em Missiologia pela Trinity EvangelicalSchool. Coordenadora acadêmica da Escola de Mis-sões JUVEP. Conferencista e professora em escolas eseminários do Brasil
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50 • Povos e Línguas
Entende o que lê?O desao contemporâneo de tradução da Bíblia
Linguística
ministério de tradução da Bíbliaainda é uma necessidade real e
urgente. Mesmo depois de mais
de 2 mil anos de esforços missionáriosda Igreja, aproximadamente 1,8 mil
línguas não têm sequer um versículo bí -blico traduzido. No entanto, os últimos
anos têm evidenciado uma crescente
aceleração nesse processo. Avanços
recentes nos estudos de tradução e
de ciências afins tornam realidade a
possibilidade de, em nossa geração,ver todas essas línguas sendo alcan-
çadas pelas Escrituras Sagradas. E
isso vai acontecer, se a Igreja continuarcumprindo o seu chamado.
Sendo assim, iniciamos aqui umasérie de textos que vão discutir oprocesso de tradução das Escrituras
Sagradas como frente missionária.Esse trabalho deve ser realizado até que
todos os povos etnolinguísticos tenhamlivre acesso à Palavra do nosso Deus
em suas mãos de forma inteligível, pormeio de recursos impressos, visuais,
audiovisuais, etc. Também ousarei a meaventurar no emaranhado de tradução
da bíblia e no envolvimento de ciênciasque são aplicadas nesse ministério.
Mas antes de adentrar esse labirinto,é preciso assegurar que o solo a ser
pisado esteja firme porque sobre ele
serão estabelecidos os principais fun-
damentos. O propósito de traduzir as
Escrituras Sagradas para todas as lín-
guas naturais faladas no mundo está
firmado na crença inabalável da Bíbliacomo revelação infalível, inerrante einspirada da Palavra de Deus. Também
é responsabilidade de todo cristão
trabalhar para tornar a Palavra acessí -
vel aos diversos povos etnolinguísticos,possibilitando que eles tenham livre
acesso ao Senhor da Palavra.
ALICERCE
A tradução da Bíblia também surte oefeito necessário para que seja possíve
a realização de evangelismo, ensinos
ONa verdade, é difícil pensarna plantação, no fortaleci -mento, na multiplicação oumesmo na sobrevivência deuma igreja saudável sem quea Bíblia esteja nas mãos dosseus membros
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Povos e Línguas • 5
bíblicos, discipulado e plantação de igre-
jas. Na verdade, é difícil pensar na planta-
ção, no fortalecimento, na multiplicaçãoou mesmo na sobrevivência de uma igreja
saudável sem que a Bíblia esteja nasmãos dos seus membros. A importância
dada por cada um ao ministério de tradu-ção da Bíblia é proporcional ao valor que ocristão dá às Escrituras Sagradas em sua
vida. A Palavra é o alimento, o sustento eo fundamento espiritual. Por meio dela, a
pessoa encontra respostas para suas in-
dagações existenciais e sacia sua fome e
sede de ouvir a voz de Deus. Portanto, sea Palavra do Senhor é o seu prazer e sobre
ela você medita dia e noite, então vocêestá plenamente consciente da relevânciadesse ministério entre todos os povos.
É possível estar de acordo com o que foidito, mas ainda não estar convencido da
necessidade de caminhar nessa direção. Épreciso passar pelos difíceis e demorados
processos de tradução para línguas aindapouco ou não estudadas. Esse pensa-
mento acaba se fortalecendo ainda mais
à medida que vêm à mente pequenos
grupos linguísticos, como os indígenas do
Brasil ou os grupos da Papua-Nova Guiné.
O pensamento também prevalece diantede alguns países africanos ou asiáticosque têm diversos grupos linguísticos
no mesmo território. Há muitos dessesgrupos debaixo de uma língua majoritária,
geralmente europeia, como o francês, oinglês ou mesmo o português.
COMUNICAR
A melhor forma para comunicar verda-
des espirituais é usando a língua maternado grupo que se pretende alcançar por
meio da comunicação do Evangelho. É
importante reconhecer a coexistência daslínguas locais e nacionais e a diferença do
papel de cada uma. Na busca pela comu-
nicação de verdades profundas e trans-
formadoras não há atalhos. A língua quefala íntima e efetivamente ao coração do
homem é aquela pela qual ele foi moldado
intelectualmente. Ela constitui suas estru-
turas emocionais desde os seus primeiros
momentos de existência. Essa é a língua
com que a criança ouve e interage com a
mãe, antes mesmo de saber falar. É com
essa linguagem que a criança expressa
sentimentos, angústias, frustrações, rai-vas e é por meio dela que ela brinca com
seus irmãos, joga bola com os colegas
e manifesta os seus mais profundospensamentos. Essa é a chamada língua
materna: a que fala ao coração.
FERRAMENTAS
Acontece que o desao das línguasmaternas dos grupos minoritários sempre
foi, é e continuará sendo um obstáculolinguístico. Quem deseja transmitir umamensagem a outro grupo linguístico pre-
cisa superar as adversidades. No caso de
muitos dos missionários, especialmente
os tradutores da Bíblia, esses grupos sãofrequentemente falantes de uma língua
que foi pouco estudada ou não chegou aser documentada nem linguisticamente
analisada. Essas línguas não têm uma or-
ganização formal de escrita entre grupos
de pequeno nível de escolaridade. Assim
há a necessidade de um preparo nosinstrumentos de análise linguística. Esse éum dos primeiros pilares na formação deum tradutor da Bíblia.
Uma vez que o processo de tradução
é um trabalho altamente técnico, eleexige um apurado preparo no estudo
dos vários níveis de análise de umalíngua. Normalmente esse processo se
inicia na descoberta dos sons da línguade estudo, na relação dos sons dentro
da formação das palavras, no compor-
tamento delas dentro das frases, noprocesso de construção de enunciados
e no meticuloso tear de ideias formadaspela linguagem que permitem comuni-
car uma mensagem completa.
Mas a comunicação não é restrita ape-
nas à língua. Cada povo etnolinguístico tem
recursos e estratégias extralinguísticas que
fazem parte do seu processo de entendi-
mento mútuo. Muito do que se fala nesses
idiomas não está dito em palavras, masem elementos e informações previamentecompartilhadas entre os membros daquele
processo de interação. Para observar oselementos portadores de sentido e inte-
grantes da comunicação de determinado
grupo, a análise antropológica tem sidouma das melhores ferramentas aplicadasa essa tarefa. O trabalho missionário trans-
cultural sempre caminhou de mãos dadas
com a antropologia. E essa parceria tem
sido profícua para ambos os lados.
Outra grande área de destaque no
universo da tradução está diretamente
ligada a recentes avanços nos estu-
dos e instrumentos oferecidos pelas
ciências e pela tecnologia da informa-
ção. Como foi mencionado, os últimos
anos ofereceram uma significativaaceleração no trabalho de tradução das
Escrituras. Com isso, resultados mais
rápidos e precisos podem ser obti-
dos em menos tempo do que há uma
década. Novos programas, softwaresou mesmo aplicativos de smartphones
estão cada vez mais facilmente dispo-níveis e são ferramentas que muito têm
auxiliado nesse processo.
Enfim, tradução, linguística, antropolo-
gia, tecnologia e outras áreas serão alvo
deste espaço de discussão nos próximosencontros. Tudo isso vai ser usado para
falarmos sobre a nossa amada EscrituraSagrada, tornando-se disponível de for-ma inteligível a todos os povos para que
se encontrem com Cristo e vidas sejam
transformadas, e o Senhor, adorado.
Jessé Fogaça
Pastor presbiteriano, linguista e tradutor da Bíblia.Membro da Agência Presbiteriana de MissõesTransculturais (APMT), Associação LinguísticaEvangélica Missionária (ALEM), Australian Societyfor Indigenous Languages (AuSIL) e Summer Insti-tute of Linguistics (SIL Internacional)
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54 • Povos e Línguas
A complexidade do envioO investimento e o preparo para cada nível
Grupo Povos e Línguas
o decorrer do tempo em que o
Grupo Povos e Línguas está sedesenvolvendo e mobilizando
outros para a demanda da Grande Co-
missão, encurta a distância entre a igreja
local e o campo missionário. Duranteesse tempo, alguns detalhes aparente-
mente simples se transformam numa
importante direção para a jornada.
É possível notar uma crescenteiniciativa de pastores e líderes que,
havia alguns anos, não tinham expe-
riência com missões transculturais
nem incluíam esse conhecimento nouniverso das “coisas que um pas-
tor precisa saber”. Esse interessesurgiria graças ao tempo natural de
amadurecimento ministerial. Essa
inclinação decorre também do surgi-
mento de frentes de mobilização per-
correndo as igrejas locais e devido ao
amplo acesso às redes sociais e às
notícias sobre o que ocorre em voltado mundo. Diante dessa convergên-
cia, há uma forte impressão de que
esteja ocorrendo um “encontro das
águas”, como acontece no Norte doBrasil, onde dois rios se encontram e
correm juntos em direção ao mar. O
fenômeno natural pode ser compa-
rado ao que acontece com as frentesevangelísticas das igrejas locais e as
frentes missionáriaos transculturais.
A figura do missionário estásendo cada vez mais difundida,e as oportunidades de se envol-
ver em uma iniciativa miss ionária
está paulatinamente chegando ao
alcance de toda a Igreja Brasileira.
Quanto mais a igreja desmitificar a
figura e a vida do missionário, maisela vai se envolver com ele e, de
fato, fazer parte do “ide por todo omundo” (Mt 28.19).
É importante que formas enges-
sadas de fazer missões transcul-turais sejam revistas. É tempo de
agir de maneira mais desafiadora.Talvez seja preciso lançar mão de
NSempre é tempo para
perguntar: o que posso
fazer para me tornar ummelhor comunicador doEvangelho? Do mesmojeito, não devemos permitirque sejamos tomados pororgulho, altivez ou insegu -rança. Assim a gente evitauma análise mais profundada nossa dinâmica
Alta Complexidade
Média Complexidade
Baixa Complexidade
Congura-se por exigências pró-
prias do campo e da necessidadede desenvolver projetos de médio elongo prazo, investindo na forma-ção de uma liderança autóctone
Categoria de envio que exige menos
tempo de especialização. Normal-mente é necessário que o missioná-rio seja um cristão genuíno e domineo idioma local.
A dinâmica desse tipo de envio émarcada pela especialização e pelodesenvolvimento de habilidades quesão peculiares às exigências do campomais ermo ou hostil.
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Povos e Línguas • 55
métodos mais práticos para fazerdiscípulos, desmitificando algumasquestões relacionadas com os cam-
pos e aceitando sugestões. Sempre
é tempo para perguntar: o que posso
fazer para me tornar um melhor co-
municador do Evangelho? Do mesmo je it o, não de vemos pe rm it ir que se ja-
mos tomados por orgulho, altivez ouinsegurança. Assim a gente evita uma
análise mais profunda da nossa di-
nâmica. É preciso orar ao Senhor quenos enviou ao campo e nos dispor a
rever nossa rota e o plano de ação,sem abrir mão, é claro, da substância.
Uma questão sobre o “encontro das
águas” é levantada entre pastores e
missionários do nosso grupo: uma
vez que a igreja local está se inte-
ressando cada vez mais pelo campo
transcultural, algo vai ser criado paraatender a essa demanda. Tudo o que
existe tornou-se obsoleto? Será quea “antiga” visão de missões vai ser
tragada da nossa teologia prática de
missões? Creio que não. Pelo contrá-
rio: vai ser potencializada. Há varia-
das frentes no universo missionário
que são autoridades em sua esfera deatuação e, de uma forma bem clara,as ações de uma não interferem no
desenvolvimento da outra. Antes,contribuem para o resultado final.
Quando se pensa no envio missio-
nário a partir da Igreja Brasileira, épossível dividi-lo em três níveis de
complexidade (entende-se como“missionário” aquele que prioriza a
oportunidade de se fazer discípulo de
Jesus Cristo, independentemente dequanto tempo tenha para isso).
A) Baixa complexidade: Missioná-
rios que vão a trabalho, cursar umapós-graduação na Europa, aprender
outro idioma, mas que, ao mesmotempo, desejam compartilhar o amorde Deus por meio de um estilo de vida
missional. Eles não têm a obrigato-
riedade da escolha de um método
preestabelecido; podem usar células,
artes, música e outros. Geralmentevão para locais onde há globalização
nas relações comerciais e se fala o
inglês ou outro idioma predominantenas relações comerciais.
Há aqueles que dedicam suas fériaspara realizar atividades como uma
viagem missionária a um país africano,ao sertão brasileiro ou marcam visitas
em um hospital infantil para desenvol-
ver dinâmicas para comunicar o amor,a misericórdia e a graça de Deus. Exigese pouco dessas obras missionárias,
pois são seguras para seus participan-
tes. Nesses locais há plena liberdade
para falar de Jesus. Esse tipo de açãogera frutos positivos, pois é uma forma
de levar a igreja a olhar para fora dasquatro paredes, despertando pessoas
que, no primeiro momento, eram indi-
ferentes a missões.
B) Média complexidade: São mis-
sionários que partem para iniciar
algum projeto exclusivo da igreja
local, como plantar hospitais, tem-
plos, escolas, pastorear, ensinar emum seminário, fixar uma base mis-
sionária para receber outros para
um treinamento de médio e longo
prazo. Esses missionários necessi-
tam de maior preparação teológica etranscultural. Eles moram em lugares
privados de grande conforto ou vivemsob forte pressão cultural e precisam
de vistos específicos; movimentamgrandes valores financeiros de igrejas
e organizações missionárias; desper-tam menos interesse e curiosidade
da parte dos que enxergam missões
como algo contagiante e romântico.Geralmente são missionários que têm
uma forte habilidade de esperar compaciência o mover de Deus.
Na maioria dos casos, são os que
semeiam, mas nem sempre serão osque vão colher. Preparam a terra para
outros que virão. Um bom exem-
plo são os pioneiros que amargam
difíceis começos. Além de venceras etapas básicas de aproxima-
ção, evangelização e discipulado, o
pioneiro tem a tarefa de estabelecerlogísticas adequadas para família,
novos obreiros e consequentemente a
criação de estruturas para educação,saúde e desenvolvimento social em
favor do povo local.
C) Alta complexidade: Outro perfil deenvio é o de missionários que moram
em tribos indígenas distantes, tra-
duzem a Bíblia para a língua local ouvão para países com altos índices de
perseguição religiosa, como Irã, Egito,Índia e Sudão. São profissionais emmissão com técnicas de empreende-
dorismo comercial, fazem transporte(ilegal) de bíblias ou se infiltram em
corporações internacionais com o
objetivo de levar o Evangelho.
Esse nível exige um condicionamento
até mesmo da própria igreja local. Sãomissionários que podem ser chamados
de ousados ou até irresponsáveis aos
olhos humanos. Contudo, são envia-
dos por Deus aos povos não alcan-
çados. Alguns irmãos estão nesses
países como fabricantes de sapatos ou
Há variadas frentes no uni -verso missionário que sãoautoridades em sua esfe -ra de atuação e, de uma
forma bem clara, as ações
de uma não interferem nodesenvolvimento da outra.Antes, contribuem para oresultado nal
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56 • Povos e Línguas
trabalham com o desenvolvimento de
tecnologia da informação. Caso sejam
descobertos, são lançados em camposde concentração e fuzilados.
Os níveis não estão relacionados
com a qualidade, já que a alma quese alcança por meio do envio de
baixa complexidade tem o mesmovalor que uma vida salva por meio do
envio de alta complexidade. Nessecaso, o que varia são as problemáti-cas envolvidas. O sistema que rege
cada atuação é diferente. Depois deidentificar em qual nível de complexi-
dade o enviado está, torna-se pos-
sível entender o tipo de capacitaçãonecessário para o desenvolvimento
de um trabalho eficaz.
No caso do envio de baixa comple-
xidade, é importante se submeter auma liderança local: a igreja com a
qual o missionário vai estar l ig ado
para poder levar os novos conver-
tidos para um pastore io seguro. O
missionário precisa compreender
os rudimentos do Evangelh o para
responder a todos os que o arguírem
sobre a razão da sua fé, ser batiza-do, dar bom testemunho entre fami-l iares e amigos, na empresa e entreos irmãos da igreja que o enviou.
Esse missionário vai ter diver sas
oportunidades de comunicar o amor
do Senhor a tod os os que cruzarem
seu caminho.
Se o envio é de média complexida-
de, o missionário deve ter a perícianecessária para conseguir concluir
a missão. Ele precisa passar por um
excelente treinamento teológico, do-
minar dois ou mais idiomas, perten-
cer a uma junta ou a uma agência de
missões e ter apurado tino de l ide-
rança. Ele deve trabalhar por uma li-
derança autóctone em um projeto delongo prazo elaborado com a igreja.
Ele precisa ser acompanhado, reco-
nhecido e legitimado pela igreja local
e ser uma voz audível entre os anciãos.
Nos casos em que for necessário, omissionário deve receber um salário
digno para se manter em atividade.
Nas questões familiares, é precisoajustar a escola dos filhos e mantervínculos familiares no Brasil. Devecultivar uma rede de relacionamentos
proporcional à segurança que precisa
ter. É fundamental que o missionárioconheça as leis do país. Outro fatorimportante é a construção de relacio-
namentos com outras instituições e a
geração de pontes para arregimentar
a ação de agências missionárias. Nes-
se nível, os missionários são capazes
de sustentar uma plataforma paraque outros, em curto ou médio prazo,
possam ir e pregar o Evangelho.
Na alta complexidade, as qualifi-cações transcendem o aspecto da
exposição da Palavra ou até mesmoa determinação de viver longos anos
distante da sua nação. Convive-se
com o inesperado, a tensão de serdescoberto, de colocar a família emrisco e de expor companheiros no
campo. Há muitas exigências téc-
nicas para um tradutor de Bíblia ouum missionário que deve liderar uma
rede internacional de missionários
em dezenas de campos de refugia-
dos. Existem lugares em que sermissionário implica andar por um fio
todos os dias. Isso é muito diferen-
te de abrir grupos domésticos em
países da Europa. Não são melhoresmissionários. O que os diferencia é acomplexidade do envio.
Os níveis de complexidade estão mais
ligados aos perfis de campo, às oportu-
nidades de interação e aos eventos que
sejam necessariamente compatíveis ao
perfil do missionário. Afinal, ele pode
transitar de um nível para o outro de
acordo com sua caminhada ministerial.
Nesses casos, a diferença se dá notreinamento do missionário diante da
complexidade do envio. É fundamental
o trabalho em parceria com a liderança
da igreja enviadora.
Para os pastores e l íderes que re -
presentam variadas formas de evan-
gelização e de missão, é necessáriocompreender a multiforme sabedoria
de Deus. Essa sabedoria divina gera
a qualidade e a capacidade que omensageiro precisa ter para poder
permear as culturas e as sociedades
por meio de pequenos grupos, porações na área da saúde, por meio
de ajuda humanitária, pelo comba-
te à exploração sexual infantil, pela
construção de escolas confessionaispela plantação de igrejas, pela influ-
ência acadêmico-universitária, pela
tradução ou pelo comércio i legal de
bíblias. Se entendermos que juntos
vamos mais longe, com certeza estageração não vai passar até que, da
parte do Senhor, aconteça a maiorcolheita que o mundo já viu.
Os níveis não estão relacio -nados com a qualidade, jáque a alma que se alcançapor meio do envio de baixa
complexidade tem o mes -mo valor que uma vida salvapor meio do envio de altacomplexidade. Nesse caso,o que varia são as proble -máticas envolvidas
Breno Vieitas
Grupo Povos e Línguas
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Povos e Línguas • 57
Com mais de 10 anos de história, o ministério
Nívea Soares tem alcançado pessoas em diversas
nações com uma declaração de amor e exaltação
a Jesus em forma de canções. Sua visão é
anunciar as boas-novas do evangelho de Cristo
trazendo despertamento à igreja em relação ao
seu lugar em Deus e na sociedade
Seu chamado é ser facilitador para que mais e
mais pessoas se acheguem ao único Deus e
sejam cheias do Seu Espírito
Então conheçamos e prossigamos em
conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alvaé certa; e Ele a nós virá como a chuva, como
chuva serôdia que rega a terra. Oséias 6:3
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58 • Povos e Línguas
Missão KairósAssociação para Treinamento Transcultural
Como Irão?
oi a bordo de uma embarcação
que o Espírito Santo falou altoe claro ao coração do pastor
Waldemar Carvalho. Era o início da
década de 80, e ele estava em Santos(SP), quando foi tocado para sabercomo fazer o Evangelho chegar aon-
de Cristo ainda não fora anunciado.Naquela manhã fria de julho de 1981,o administrador de uma escola ame-
ricana e bem-sucedido plantador de
igrejas em bairros e favelas da cidadede São Paulo participava de uma
conferência missionária da OperaçãoMobilização (OM). O evento acontecia
no navio Doulos, quando o pastor sesentiu desafiado a, daquele momentoem diante, dedicar a sua vida e o seu
ministério às missões transculturais.
Ali nascia um projeto missionário
que acabou se efetivando plena-
mente em 1988 para logo florescerforte e produzir muitos frutos. O
movimento recebeu o nome de Kai-
rós – Associação para TreinamentoTranscultural, também conhecido no
meio evangélico brasileiro simples-
mente como “Missão Kairós”.
A palavra Kairós vem do grego e
quer dizer “tempo oportuno”. Total-
mente adequado para nomear uma
organização que nascia empenhada
em levar auxílio espiritual e socialàs pessoas num momento em que
o mundo tem se mostrado cada vez
mais necessitado.
Em seu estatuto, a Missão Kairós
se autodefine como uma missãoevangélica brasileira interdenomi-
nacional criada principalmente para
levar o Evangelho aos povos pouco
alcançados e aos ainda não alcan-
çados. Os povos pouco alcançados
são aqueles que contam com menos
de 5% de evangélicos praticantes emsua população e precisam de ajuda
para alcançar o próprio povo. Por sua
FOs povos pouco alcança-dos são aqueles que con-tam com menos de 5% deevangélicos praticantes emsua população e precisamde ajuda para alcançar opróprio povo
Presidente Ariovaldo Ramos, no fundo e ao centro, com equipe de missionários e gerentes da Missão Kairós no Encontro de Guarulhos/SP
F o t o s : D i v u l g a ç ã o
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Povos e Línguas • 59
vez, a expressão “não alcançado” se
refere aos países muçulmanos. Nes-
sas regiões é proibida a pregação do
Evangelho aos povos isolados onde a
Palavra ainda não chegou.
Para desempenhar adequadamente
essa função, a Kairós atua como umdepartamento das igrejas a ela vincu-
ladas, auxiliando-as com treinamento,envio e supervisão de missionários no
campo. A Kairós respeita plenamente a
autoridade das igrejas locais no envio
e no sustento dos missionários e não
aceita candidatos que não estejam for-
malmente ligados a uma igreja.
Apenas 28 anos depois daquele cha-
mado especial que o pastor Waldemarrecebeu a bordo do Doulos, a Kairós
cresceu e se orgulha de ter missioná-
rios por ela formados atuando na Euro-
pa, África, Ásia e nas Américas do Nortee do Sul. Outro motivo de orgulho para
a Kairós são as mais de 600 pessoasque passaram pelos treinamentos para
cumprir essa missão.
Desde a morte do seu fundador, emdezembro de 2014, a Missão Kairóspassa por um processo de renova-
ção em sua estrutura. Agora Kairós épresidida pelo pastor Ariovaldo Ramos.
A nova direção investe em moderni-
zação, contratando profissionais nas
áreas administrativas e de comunica-
ção, e trabalha para promover maior
integração entre a base operacional de
São Paulo e os missionários no campo
Exemplo disso foi a realização do I
Encontro de Líderes da Missão Kai-rós. O evento aconteceu entre 15 e19 de junho de 2015, num hotel em
Guarulhos (SP). Profissionais e líderesmissionários dos cinco continentes
puderam receber orientações, interagire alinhavar um plano de ação para nor-
tear os caminhos e as estratégias da
Missão Kairós nos próximos anos. Foi
um encontro muito profícuo que deveproduzir ainda mais frutos no nobre
esforço de a Missão Kairós alcançaraqueles que ainda não tiveram oportu-
nidade de ouvir a maravilhosa palavra
de salvação em Cristo Jesus.
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A Kairós respeitaplenamente a autoridadedas igrejas locais no envio eno sustento dos missionáriose não aceita candidatos quenão estejam formalmenteligados a uma igreja
Senegal é um dos países onde a Missão Kairós atua Paulo Ruiz, missionário de Cabo Verde no Encontro de Pastores e Líderes, em Guarulhos/SP
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60 • Povos e Línguas
Nova FlorOs não alcançados ao alcance
Indo
Chifre da África revela uma dasregiões mais fascinantes da Terra.
A região também conhecida como
Nordeste da África inclui Somália, Dji-
bouti, Quênia, Uganda e Etiópia. É lá ondeestão os registros mais antigos da civili-
zação. O local é considerado o berço da
humanidade, com uma extensa riquezacultural composta por diversos costu-
mes milenares. A Etiópia, por exemplo,
foi o único país africano não colonizado.Formado por mais de 80 tribos que con-
servam sua língua e cultura unidos pelonome Etíope, o país é conhecido desdeos tempos bíblicos como terra de Cuxe.
Mesmo com sua grande riqueza
histórica, essa é uma região ainda a seralcançada. Inúmeras catástrofes natu-
rais e constantes guerras étnicas trazem
profundas marcas sociais, econômicas
e psicológicas para seus habitantes.Conforme dados de 2011 da World
Food Programme (WFP), cerca de 13,04milhões de pessoas foram afetadas pela
seca e por conflitos sociais, étnicos,
políticos e religiosos. Os problemas pro-
vocaram um grande fluxo de migrações.Em uma busca desesperada por sobre-
vivência, vários tentam chegar à Europa.Muitos deles acabam se tornando víti-
mas do tráfico humano. Outros iniciamuma jornada perigosa pelo deserto do
Saara. Os que conseguem atravessá-lo
seguem tentando ultrapassar o Mar
Mediterrâneo. Na chegada, deparam-secom a dura realidade dos emigrantes
africanos em países europeus, frustran-
do as expectativas de encontrar a Thedream land (A terra dos Sonhos).
O ESPORTE
Nesse contexto, uma real e digna formade ascensão social tem sido o atletismo,
símbolo da prova de resistência dessepovo, refletida no Ouro Olímpico. Sem
apoio, poucos atletas do Chifre da Áfricaconseguem vencer as barreiras e trilhar
uma carreira de sucesso no esporte.
Quando o fazem, conseguem isso de for-
ma individual, o que não produz mudan-
ças sociais signicativas em suas nações
Na busca por respostas para tãogrande desafio, surge o projeto Nova
Flor – uma iniciativa que visa daroportunidades a atletas em potencial
e promover a unidade em meio a tanta
diversidade, utilizando como ferramen-
ta a linguagem peculiar e inerente aos
povos dessa região: o atletismo.
A ação inicial do projeto é o desenvol-
vimento de um trabalho com um grupo
de atletas em Addis Abeba, capital daEtiópia. Os atletas recebem suporte em
treinamento desportivo, na busca depatrocinadores, orientação nutricional,ganham o translado das viagens para a
participação em competições esporti-
vas e contam com apoio para resolver
questões relacionadas ao visto e a hos-
pedagem. O projeto promove também o
discipulado pessoal de cada participante
O
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Povos e Línguas • 6
O próximo alvo do projeto Nova Flor éa criação do Centro de Treinamento em
âmbito comunitário. A filosofia que vainortear o funcionamento desse espaço
é a de agregar valores, como unidadee responsabilidade social, com abran-
gência interdisciplinar para a formaçãode jovens cidadãos. Entre as ações
também serão disponibilizados cursos
de capacitação em nutrição, ensino da
língua inglesa, fisioterapia, humanizaçãoe convívio social. O objetivo é fornecer
subsídios para que o indivíduo estejaapto para se desenvolver com ou sem
o atletismo. A iniciativa promove uma
nova perspectiva sobre a realidade dosparticipantes, tornando-os agentes de
transformação social.
As ações do projeto Nova Flor possi-
bilitam maior entrada nas comunida-
des de onde esses atletas se originam.
Normalmente eles vêm das regiões mais
distantes e pobres do país. A experiên-
cia tem levado os membros do projeto
a conhecer diversas realidades e, com
isso, estabelecer vínculos com outrasinstituições para, juntos, contribuírem
para a transformação local.
Outra iniciativa é dar oportunidades aos
que têm potencial de elite para compe-
tirem no Brasil e em outras nações. O
intercâmbio é muito importante, pois per-
mite a esses atletas um convívio diferen-
te. As viagens a outros países, no meiode familiares, amigos e igreja, promovem
o impacto do ensino por meio de pala-
vras e ações, o que leva outros irmãos a
experimentar a influência transcultural.
A experiência coloca os não alcançadosao alcance da Igreja. Os que estão dentro
são chamados para fora a fim de conhe-
cer os que estão longe.
O projeto Nova Flor almeja conscien-
tizar cada cidadão da importância de
se tornar um agente de transformaçãosocial. Essa transformação só é pos-
sível, caso seja iniciada no interior de
cada um. O verdadeiro empoderamento
ocorre pela ação transformadora de
Cristo em cada pessoa. É quando a pes-
soa deixa o individualismo e o egoísmo
e pensa no todo, no coletivo e no gruposocial a que pertence.
“Ide, portanto, fazei discípulos de todasas nações [...]” (Mt 28.19). Faça parte do
cumprimento do Ide do Senhor à região
do Chifre da África. Todos podem fazer a
diferença, seja como pessoa física, jurí -dica, seja como instituições não gover-
namentais ou religiosas. Contribua para
o desabrochar dessa “Nova Flor” que não
é o atletismo, mas o florescer da espe-rança, que é a semente de Cristo em nós
Regue você também essa semente!
Paulo dos Santos Rodrigues
Fundador e presidente do Projeto Nova Flor, membroda Comunidade Evangélica Reviver em Cristo. Traba-lhou no Oriente Médio com a missão JOCUM e no Riode Janeiro com projetos de desenvolvimento comunitário e assistência a crianças em situação de risco
Paulo com os atletas etíopes experimentando açaí pela primeira vez Atletas do projeto na Volta Internacional da Pampula em Belo Horizonte, MG.Paulo (esq.), Yonas, Getu e Menfs
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62 • Povos e Línguas
Agência Missionária de MobilizaçãoEvangelística – AMME
Como irão?
m 15 anos de existência, 130
milhões de brasileiros foram
alcançados com a mensagem
do Evangelho. Essa é a marca que a
AMME atingiu em janeiro de 2015.A instituição foi fundada no início
do ano 2000 para chamar as igrejas
evangélicas brasileiras ao primeiro
amor e ajudá-las nas prioridades
estabelecidas pelo Evangelho.
A AMME foi fundada e é presidi-
da pelo pastor José Bernardo. Sua
equipe ministerial é formada por
um pequeno núcleo administrativo,
composto por missionários dedica-dos à motivação, ao treinamento,
suprimento e ao apoio às igrejas na
evangelização. A equipe também
conta com o apoio de intercessores,
mantenedores e voluntários.
A agência já ajudou mais de 50 mil
igrejas no cumprimento da missão
bíblica de evangelizar todo o mun-
do. Agora está construindo sua base
missionária às margens da represa de
Paraibuna (SP). Atualmente a agên-
cia está localizada em um escritóriocentral, em Santo André (SP), e conta
com estruturas de apoio em diversos
pontos do país. A ajuda às igrejas na
evangelização transcultural faz parte
dos serviços da AMME e é uma área
em constante desenvolvimento.
Quatro diretrizes orientam as
ações desenvolvidas pela AMME:
motivação, treinamento, suprimen-
to e apoio estratégico. Quanto àmotivação, a AMME trabalha para
despertar vocações e restaurar a ca-
pacidade evangelística das igrejas.
Os treinamentos envolvem meto-
dologias de estudo bíblico que pas-
sam pela capacitação da liderança
e abrange o con hecimento dos
EEvangelizar é amar! É assimque se divulga a principalrazão para que jovens voca-cionados escolham a AMMEcomo sua agência de minis -tério. Se você ama a Igreja deCristo e quer vê-la dedicada àmissão bíblica de evangelizartodo o mundo, envolva-se
Participantes da Escola Intensiva de Liderança para Adolescentes e Jovens – Pacifcadore
F o t o s : A M M E
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Povos e Línguas • 63
diversos públicos e as melhores práti-
cas de comunicação do Evangelho.
Entre as iniciativas duas escolas se des-
tacam: Pacicadores, a escola intensiva de
liderança, e Força Extra, a escola modular de
liderança em comunicação do Evangelho,
ambas dirigidas a adolescentes e jovens.
No suprimento são feitas muitas pesquisas
e desenvolvem-se materiais e programas,
além de uma extensa logística para atender
à diversidade da Igreja Brasileira. O apoio
estratégico consiste em orientação para a
organização interna, desenvolvimento deparcerias e outros modos para aumentar a
efetividade das ações de evangelização.
Baseada em pesquisas que realizou
sobre o crescimento da Igreja, a AMME
prioriza o envolvimento de crianças,
adolescentes e jovens e pessoas de até
24 anos de idade como alvos e agentes
da evangelização. As pesquisas apon-
tam claramente que 77% dos evangéli-
cos brasileiros se converteram em umadessas faixas etárias. Enquanto mantém
o apoio à pregação do Evangelho a toda
criatura, a AMME estimula e for talece
a evangelização estratégica para esse
grupo denominado SUPER20.
Evangelizar é amar! É assim que se
divulga a principal razão para que jovens
vocacionados escolham a AMME como
sua agência de ministério. Se você ama
a Igreja de Cristo e quer vê-la dedicada à
missão bíblica de evangelizar todo o mun-
do, envolva-se. Se gosta de desenvolver aevangelização criativa, entende que crian-
ças, adolescentes e jovens devem ser alvo
prioritário da evangelização e do pastoreio
ou se gosta de ensinar, a AMME é uma
ótima plataforma ministerial para você.
O vínculo com os obreiros é aquele pra-
ticado também pela maioria das agências
missionárias. O candidato deve levantar o
seu sustento com mantenedores pessoais
para, então, receber uma designação quevai combinar os dons e o projeto pessoal de
ministério com as necessidades e as opor-
tunidades nas Igrejas servidas pela AMME.
www.evangelizabrasil.com
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Escola Intensiva de Liderança - Pacifcadores Entrega da porção bíblica de número 130 milhões em janeiro deste ano
As pesquisas apontam clara-
mente que 77 %dos evangéli -cos brasileiros se converteramem uma dessas faixas etárias.Enquanto mantém o apoio àpregação do Evangelho a todacriatura, a AMME estimula efortalece a evangelização estra-
tégica para esse grupo denomi -nado SUPER20
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64 • Povos e Línguas
A Missão ea glória de Deus
Coluna
eus está reconciliando o mun-
do consigo na pessoa de seu
filho Jesus Cristo (II Co 5.19). Averdade cristã não é necessariamen-
te um conceito, uma ideologia nem
uma crença científica: é uma pessoa.Cristãos insistem na verdade de que
o universo é uma resposta a um ato
deliberado de criatividade inteligentee pessoal. Nesse caso, a sabedoria e
pessoalidade de Deus.
O Senhor se volta para suas criatu-
ras em amor incondicional por uma
única razão: sua glorificação. O termo“glória” nem sempre é claro, mas
implica essencialmente a exposiçãode quem Deus é . Todas as vezes queolhamos e notamos algo que nos
comove e nos leva a um senso de
gratidão inexprimível, estamos, de al-
guma forma, maravilhados com o quepodemos chamar de Mistério Profun-
do, a glória de Deus. Essa experiência
é singular. Parece que alguém está
permitindo ser visto e e stá se expondo
para que nos maravilhemos. E, de fato,é exatamente isso! As obras de Deussão maravilhosas (Sl 19; 104) e toda a
Terra está cheia de sua glória (Is 6).
O cristão não foi apenas reconciliado
com Deus. Ao crer, ele é imediata-mente convocado para exibir a glóriado Pai por meio d e palavras e ações.
Ele é alvo e cooper ador da missão de
tornar Deus conhecido. Afinal, o Deus
da Bíblia é o Deus de Abraão, Isaquee Jacó (Ex 3.15), ou seja, o Senhor
é conhecido e identificado por meiodaqueles com quem se relaciona.
Deus rejeita toda tentativa de ser
representado por imagens, pois Eleescolheu se revelar ao mundo por meio
de relações pessoais, não na impessoa-
lidade dos ídolos. A relação é baseadana graça. Ídolos são baseados em
obras. A comunhão é uma dádiva. Ela
não pode ser controlada nem requeri-
da. A comunhão é fruto de um eventopascal em que o próprio Deus chamaseus eleitos do Egito. A missão cristã
se funda na libertação, reconciliação ecomunhão que temos com o Soberano
Deus por meio de seu Único Filho.
Definitivamente o propósito da mis-
são é a glorificação de Deus. Um dosmeios que Ele utiliza para esse fim éo testemunho que emerge da união
do cristão com Cristo. Timothy Kellerassevera: “Cristo não é um argumento
D
1 http://ultimato.com.br/sites/guilhermedecarvalho/2015/07/16/1026/
Deus rejeita toda tentativade ser representado porimagens, pois Ele escolheuse revelar ao mundo por
meio de relações pessoais,não na impessoalidade dosídolos. A relação é baseadana graça. Ídolos são basea-
dos em obras
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Povos e Línguas • 65
irrefutável; ele é uma pessoa irrefutável”.Mais do que argumentar, nossa apologética
e evangelização se fundam na pessoalidadede Deus que se fez carne em Jesus Cristo.
Bem situado no tempo e no espaço, o Verbose fez carne. Por isso, Ele se fez história
e virou gente. Agor a, em vez de ficarmosansiosos tentando projetar em imagens
nossas expectativas ou nossos conceitossobre quem é Deus, Ele mesmo, na pessoa
de seu Filho, projeta-se em nós, como dizPaulo: somos transformados na imagem deseu Filho de glória em glória (II Co 3.18).
Não seria exagero nenhum alegar que a
missão cristã é fundamentalmente esca-
tológica. Cristãos não são apenas espec-
tadores de um evento fu turo, pois eles jávivem a consumação pela esperança. Todocristão deveria viver sob o grito do Cristo
na cruz: “Está consumado!” (Jo 19.30).
Não temos nada a conquistar que Cristo
não tenha conquistado. Apenas proclama-
mos que Deus já reconciliou o mundo, já
venceu em Cristo, que Ele é vitorioso, e omal foi derrotado. Naturalmente as pessoas
olharão com desdenho ante a tal alegação,porém sabemos que “a ovelha conhece a
voz de seu pastor” (Jo 10.16) e coraçõesperegrinos serão atraídos irresistivelmente aesse testemunho. Magneticamente con-
duzidos pelo Espírito Santo, eles vão ouviruma música familiar, o canto d e Moisés edo Cordeiro: “Grandes e admiráveis são as
tuas obras, Senhor Deus Todo-Poderoso!
Justos e verdadeiros são os teus caminhos,ó Rei das nações! Quem não temerá e não
glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tués santo. Por isso, todas as nações virão e
adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos.” (Ap 15.3-4).
Como cristãos, não precisamos criar umatensão entre a proclamação do Evangelho e
os serviços que derivam dele. Não preci-
samos criar uma tensão en tre a Grande
Comissão e o Grande Mandamento. Há
uma clara integração bíblica e ntre a obra
de Cristo e as obras que realizamos em
Cristo. Não somos salvos por o bras, mas
para obras (Ef 2.10). Fomos salvos paraexibir quem é Deus por ações, serviço ecriatividade. Que nossa mensagem seja pa-
vimentada por obras graciosas e que obras
graciosas legitimem nossas palavras.
Recentemente asseverou Guilherme de
Carvalho: “Ações cristãs no mundo precisam
ser tratadas como sinais subescatológicos”1,
ou seja, sinais da obra consumada, sempretensões de serem a consumação. Que
missionários estejam fielmente presentes no
mundo, porém livres da ansiedade de arroga-rem para si um papel que pertence a Cristo.
Enfim, o missionário não pode ser umtriunfalista nem um romântico ingênuo. Antesdeve ser um servo esperançoso que caminha
olhando para o horizonte da história, sabendoque Deus está lá e aqui, em Cristo, reconci-
liando consigo mesmo o mundo. O missioná-
rio sabe que sua vida aponta para uma única
tarefa: a glorificação de Deus. Não há espaço
para utopias, ufanismos nem planos de car-reira nas palavras de nossos reformadores:Soli Deo Gloria! (Somente a Deus a glória!).
Igor Miguel
Casado com Juliana Miguel e pai de João Miguel.Teólogo, pedagogo e mestre em Letras pela USP. Coor-denador pedagógico da ONG OMCV e pastor da IgrejaEsperança em Belo Horizonte - MG
Não temos nada a con-
quistar que Cristo não te -nha conquistado. Apenasproclamamos que Deus járeconciliou o mundo, já
venceu em Cristo, que Ele évitorioso, e o mal foiderrotado
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66 • Povos e Línguas
Missão AME
Local: Egito
Campo: Periferia do Cairo.
Projeto/ação: Trabalhar com esporte (escola de futebol).
Público-alvo: Crianças, adolescentes e jovens.
Formação: Educação física.
Idioma: Inglês e árabe.
Habilidade: Resiliência, pedagogia infantil e liderança.Tempo de execução: 1 ano (mínimo).
Contato: contato@povoselinguas.com.br
Missão JUVEP
Local: Continente asiático
Campo: Regiões carentes.
Projeto/ação: Treinamento de obreiros para plantação de igrejas.
Público-alvo: Adultos e crianças.Formação: O candidato deve ser formado em Teologia e deve passar
pelo centro de trenimanto da Juvep.
Idioma: Inglês
Habilidade: Resiliência, trabalho com crianças e liderança.
Tempo de execução: 10 anos (mínimo).
Contato: juvep.com.br
Wec Internacional (Missão AMEM)
Local: Moçambique
Campo: Grupos étnicos do norte do país, onde há apenas 1% de
cristãos e 0,03% de evangélicos.
Projeto/ação: Plantação de pequenos projetos com impacto
comunitário e social.
Público-alvo: Povos não alcançados (adultos e crianças).
Formação: Teologia
Idiomas: Inglês
Habilidades: Liderança, evangelismo pessoal e perseverança.
Tempo de execução: Indeterminado
Contato: www.wecbrasil.com.br
Campos Brancos
INF - International Nepal Fellowship
Local: Nepal
Campo: Pequena cidade localizada a oeste do país, ponto de referência emsaúde e educação para vilas e comunidades de quatro estados ao redor.
Projeto/ação: Ensino primário para filhos de missionários quetrabalham no hospital da cidade, nas igrejas e no Instituto Bíblico.
Público-alvo: Diretamente, lhos dos missionários estrangeiros em nívelde educação primária e indiretamente, a comunidade local e vilas vizinhas
Formação: Pedagogia, Magistério, Artes, Educação ou qualquer for-
mação que o capacite para o trabalho com crianças.
Idioma: Inglês para o local de trabalho e nepalês para a vida na
comunidade (pode ser aprendido no local).
Habilidade: pedagogia infantil, flexibilidade, adaptabilidade, resiliênciacriatividade e capacidade de trabalhar com poucos recursos.
Tempo de execução: 1 ano (mínimo)Contato: recruitment@world.inf.org
Entenda nossa nova seção
Este espaço é destinado às agências missionárias que são refe-
rência no desenvolvimento de projetos nacionais e transculturais.
Nesta seção são publicadas informações relacionadas à abertura
de projetos e demandas de campos existentes que precisam de
missionários.
Centro de Missões Urbanas (CEMU)
Local: Brasil
Campo: Bolsões de pobreza localizados nas periferias das principaismetrópoles com alto índice de violência e vulnerabilidade social.Projeto/ação: Trabalhar na criação de escolas confessionais edesenvolvimento de projetos na área do esporte, idiomas e música.Público-alvo: Crianças, adolescentes e jovens.
Formação: Pedagogia, Educação Física, Música ou Letras (com ênfa-
se em inglês, francês, alemão ou espanhol).
Idioma: Português
Habilidade: Resiliência, pedagogia infantil e liderança.
Tempo de execução: 5 anos (mínimo).Contato: contato@cemu.com.br
Agemiw - Agência Missionária Wesleyana
Local: ArgentinaCampo: Periferia, bairros carentes e com índices sociais baixos emcidades onde a agência desenvolve trabalhos.
Projeto/ação:Trabalhos de apoio, evangelização e discipulado.Público-alvo: Crianças, adolescentes, jovens e adultos.
Formação: Pedagogia, Enfermagem, Educação Física, Arte Circense,Informática, Corte e Costura, Marcenaria e Solda.
Idioma: Espanhol.
Habilidade: Ensino, ajuda e cuidado.
Tempo de execução: Indeterminado
Contato: (24) 2246-4672
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Povos e Línguas • 67
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