morfodinamica e vulnerabllidade da praia de...
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MORFODINAMICA E VULNERABlLIDADE DA PRAIA DE FARO'
6scar Ferreira
Universidade do Algarve, UCTRA
Campus de Gambelas, 8000 Faro
Tel: 089-800900 Fax: 089-818353
Jollo Carlos Martins
Universidade do Algarve, VeTRA
Campus de Gambelas, 8000 Faro
Tel: 089-800900 Fax: 089-818353
J. Alveirinho Dias
Universidade do Algarve., UCTRA
Campus de Gambelas, 8000 Faro
Tel: 089-80090(1 Fax: 089-818353
Resumo
A Praia de. Faro, localizada na Peninsula do Anello (Ria Formosa)/ e frequentemente assolada pOt epis6dios erosivos
e pot galgamentos oceanicos associados a temporais que, por vez.cs, sao respons3veis pela destruifj;llo e danificaCllo
de bens materiais. A existencia destes problemas levou ao estudo e monitorizayao da Praia de Faro, iniciado em
Maio de 1995 e que ainda decorTe, com levantamenlos mensais e apas tempestades. Como pontos de monitorizacao
seleccionaram-se 5 locals espa¥ados de cerca de 500m entre si, englobando areas de elevado grau de ocupacrilo e
areas com ocupa(f!o reduzida. A praia pode ser classificada como sendo uma Praia de Terra¥o em Mare Baixa + Rip
("Low Tide TelTace + Rip Beach"), possuindo um componamento genericamente reflectivo e uma rebentayilo do
tipo tubular ou mergulhante sabre a face da praia. No entanto, separando as condiyOes em mare baixa e em mare
alta foi posslvel verificar que em mare baixa a praia assume urn comportamento intermedio com rebenta9ilo do tipo
progressiva. A maxima variabilidade volumetrica ocorrida nao foi significativamente diferente de local para local,
No entanto, as locais mais ocidentais. coincidentes com a maior ocu~ao antrOpica, silo as que possuem menor
volume sedimentar annazenado e, consequentemente, aqueles que apresentam maior susceptibilidade a qualquer
evento erosivo. Na realidade, 0 completo desenvolvimento natural dos locais no sector ocidental da Praia de Faro
(nomeadamente do contacto praia/duna) atingiria areas actualmente ocupadas, ra.z1io pela qual, durante eventos
extremos, se verifica a ocorrencia de galgamentos e/ou destruiyOes de bens materiais. Pelo contririo, no tro¥o
oriental da area estudada, pouco ocupado, 0 perfil cncontra-se completo c as dunas rammente silo atrngidas pelo
mar,
P.alavras-ehave: Praia de Faro, morfodinamica, vulnerabilidade. monitorizaylo
Abstract
Praia de Faro morphodynamic and vulnerability: Praia de Faro, located at Peninsula do Ancilo (Ria Fonnosa), is
frequently wasted by erosive events and oceanic overwashcs which are associated to stonn. events. These are often
responsible by the destruction and damaging of public and private properties.
, Conuibui~ao DISEPLA n.G A 98
68
The existence of these problems gave rise to a monitoring study at Praia de Faro, initialed in May 1995 and still
running, with monthly and after stonns events surveys. Five survey sites were chosen, spaced 500 m one from each
other, comprising areas with high and low human occupation. Praia de Faro can be classified as a Low Tide Terrace
+ Rip Beach having, in general tems, a reflective behaviour and a plunging wave breaking conditions over the
beach face . However, separating low and high tide behaviour it was possible to verify thal at low tide the beach
have an intennediate behaviour with spilling breakers dominating. The computed maximum volumetric variability
was not significantly different from site to site. Nevertheless, the western sites, where the larger human occupation
occur, are those who have smallest sand stocks and, thus, the ones presenting the biggest susceptibility to any
erosive event. In fact, the natural development of the beaches belonging to the western sector of Praia de Faro (e.g.
the interface beach/dune) would affect areas nowadays occupied, reason why during extreme events overwashes
and/or properties destruction of are likely to occur. In opposition, the beaches from the eastern sites of Praia de Faro
show a well developed profile and the dunes are rarely touched by the sea.
Key·words: Praia de Faro, mOll'hodynamic, vulnerability, monitoring
Introdu~o
As praias sAo modeladas, na sua generalidade, pelo fomecimento scdimentar, pelas condi~Oes climaticas existentcs
e, principalmente, pela agita~.!Io maritima. Esta, tern uma quantidade de cnergla associada que e dissipada, numa
primeira fase, pelos mecanismos naturais de resposta da praia, como sejam as barras submersas e, posterionnente,
sobre a propria face da praia, por rebenta~ao directa. Apenas as praias morfologicamente robustas poderllo suponar
eventos energeticos extremos. Os efeitos de urna ternpestade violenta, ou de vArios epis6dios tempestuosos
sucessivos, podem esgotar uma praia das suas capacidades intrinsecas de defesa, induzindo erosJo efectiva do
cordi!o dunar ou da arriba, bern como destrui~Ao de estruturas edificadas, quando presentes.
Na generalidade, as praias mais suscepdveis a eSle tipo de acomecimentos si!o aquelas que sofrem as consequencias
de interven~r.es humanas (directas ou indirectas) resultantes de urna ocupa~Ao mal planeada. Urn planeamenlo mal
concebido traz geralmente consequencias ni!o desejadas e, por vezes, economicamenle desastrosas. 0 resultado da
constru~Ao indevida em sistemas tao sensiveis como as praias reflecte-se, na maio ria das vez.cs, em elevadas perdas
materiais atraves da destrui~a:o de propriedades publicas e privadas. Acresce referir que, frequentemente, os gestores
deste tipo de ambientes se encontram desprovidos de instrumentos de gestao eficientes, situa~o ainda agravada pela
constante inexistencia de estudos aplicados com base cientlfica consistente, vendo.se forc;ados a tomar decis6es
urgentes com meios de apoio notoriamente insuficientes.
Por lodas as raroes apontadas revela-se necessArio e urgente, a condu~a:o de estudos que permitam compreender
melhor os processos que ocorrem nos litorals arenosos. S6 assim sera possivel gerir os recursos de fonna sustentAvel
e cientificameme suportada. Estes eSlUdos deverAo englobar programas de monitoriza~Ao continua, condiylo esta
essencial para se atingir um nlvel de conhecimento que permita efectuar previs6es de comportamento a curto, medio
e longo prazo.
Este trabalho prctende demonstrar a utilidade deste tipo de eSlUdos quando aplicados a areas e a situa~Oes
concretas, pennitindo definir zonas de maior ou menor vulnerabilidade a erosao, bern como apontar causas e
solu~3es possiveis, para os problemas detectados.
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Area de estudo
A Praia de Faro (Figura I) possui urna praia aberta, arenoS!, e localiza-se na Peninsula do Anc!o, que constituindo a
extremidade ocidental do sistema de i1has barreira da Ria Formosa. tern cerca de 10km de comprimento e 100m a
300m de largura (Bettencourt, 1994). Ao nlvel da ocupa~ao humana, esta e bastante forte no sector ocidental da
zona de estudo, sendo mais diminuta no lado oriental.
o regime de mare e mesotidal com uma amplitude maxima de aproximadll{l1ente 3.5m. Relativamente a agitay!o
maritima presente, de 8COrdO com Instituto Hidrogr.U'ico (1994), quer em termos de altura da onda, quer em termos
de periodo, esta assume urn cornponamento marcadamente sazonal. Assim, 0 Verlo, aqui considerado de Abril a
Seternbro. aparece com uma altura media de O,78m e 0 Invemo (Outubro a Marya) com 1,15m. Relativamente aos
perfodos de pica eles slo, respectivamente, 7, l s e 9,5s. Os valores utilizados oeste trabalho si\o, no entanto, valores
medios globais. Assim a altura de ondula~!o coosiderada foi 0,92m eo perfodo de pico 8,Os. Durante 0 Lnvemo sao
frequentes ondula~Oes ahas, seodo relativamente comum a presenr;:a de ondas maiores que 3m de altura (Pires,
1985). E nestas condj~(les de agita~lIo com maior energia que ocorrem problemas de erosito acompanhados por
frequentes galgamentos oceanicos (Andrade, 1990. Manins el aL~ 1996 e 1997), principaimente em situarwOes de
mare alta viva.
N
T
• I
" FARO
~.,
Figura 1- Localizarwao da area de estudo e dos locais referencia (adaptado de Manins el 01. , 1996).
figure 1 - Location of study area and studied sites (adapted from Martins et 01., 1996)
De acordo com Pires e Pessanha ( 1986), para urn perfodo de retorno de 5 anos a altura signifi cativa estimada e de
4,8m. sendo de 6.1m para urna tempestade com urn perfodo de retorno de 50 anos. Os maiores temporais possuem.
geraimente, rumos proveniemes de Sudoeste (Pires, 1985), seodo a frequencia relativa de ocorrencia de agita~o
[leste octante de 16.3%, contribuindo 0 octante Oeste com 51,5% das oconincias e correspondendo a ondula~o de
Sueste (Levante) a 25% do total (lnstituto Hidrografico. 1994).
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TknkllS de CAmpo e M~/odos de Antflise
Para a determinac;:ao da morfologia da praia emersa e da sua "ariabilidade em tennos de volumes sedimentares
existentes, seleccionaram-se 5 locais espayados de 500 metros entre si, ao longo cia Praia de Faro (Figura I), tendo
em a:enc;:Ao as caracterfsticas da zona em termos de tipo de ocupac;:Ao existente. Realizaranl-se, entre Maio de 1995
e M~ de 1997, levantamentos de perfis 10pogntficos transversais a praia, com uma regularidade mensal. em
ocasiOes de mares vivas. Foram tamlX:rn rea!lzados perfis de forma esporadiea, ap6s tempestades. Obleve-se desta
fonna urn total de 111 perfts de praia distribufdos da seguinte fonna: Local A 24, local B 22, Local C 24. Local 0
22 e Local E 19. Em cada levantamento foi feita urna caracterizac;:4o visual do estado da praia em termos de formas
presentes e localizado em cada perfil 0 maximo atingido pela mare.
Para 0 tratamento dos dados e posterior analise recorreu-se A utilizac;:4o de folhas de calculo simples. Para 0 calculo
dos volwnes sedimentares detenninou-se para cada local urn ponto de nile mobilidade relativa (local para 0 interior
do qual nile se registaram "ariaIYOes significativas devidas ! ac"lo marinha) e urn nl"el de base (Zero Hidrografico
ou Nf"e1 Medio do Mar, dependendo da aplicac;:4o). 0 volume ca lculado (m)/m) em cada perfil e, portanto, limitado
inferionnente por urn nl"el de base, intemamente por uma linha .... ertical defmida pelo ponto de nAc mobilidade
relativa e, superiormente. pclo prOprio perfil.
Para a"aliar a vulnerabilidade da Praia de Faro A eroslo e aos galgamenlos oceinicos adoptou-se urn procedirnento
que consistiu nos calculos dos "stocks" sedimentares (annazenamento de sedimento existente em cada local, de
acordo com os metodos descritos em Manins et al .• 1996; 1997), das diferenyas de volume em cada perfil para datas
consecutivas. da variabilidade maxima existente em cada local e das relaIY6es exislenles entre perfis em leonos de
annazenamento volumetrico.
Ambiente Morfodinimico
Para caracterizar 0 ambiente morfodinamico existente na Praia de Faro recortCu·se a utilizac;:ao de dois indices. 0
"Surf Similarity Parameter" (s,,) e 0 "SurfScalling Parameter" (El.
Segundo Battjes (1974), 0 "SurfSimilarity Parameter" (~) e descrito por:
( I)
onde 0 [ndice b representa as condic;3es de ondulay!o na rebentac;:!o, tanj} e 0 decli"c da face da praia, Hb e a alrura
dB onda na rebentac;:4o e Lo e 0 comprimento de onda ao largo.
o "Surf Scalling Parameter" (El, segundo Guza e Inman (1975) e dado por:
(2)
onde "a" e a amplitude da onda na rebentac;:4o, g e a acelerac;:ao gravitica e m t a frequblcia angular da onda
incidente (21tfI), sendo T 0 periodo da onda. Classificou-se, ainda, a Praia de Faro de acordo com 0 metodo de
ciassificac;:4o de praias de Masselink e Short ( 1993). ESle modelo conlempla os efeitos das mares na morfologia da
praia, classificando estas com base nas caracterislicas da ondulayllo, da mare e dos sedimentos constituintes.
Os par.imetros utilizados por este modelo silo: (i) a Velocidade de Sedirnentayao Adirnensional (0). descrito por:
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O = H. / (W,n (3)
onde Ws e a velocidade de sedimentaij:Ao do sedimento; e (ii) a Amplitude Relativa de Mare (RTR - "Relative Tide
Range"), descrita por:
RTR s MSR / H~ (4)
onde MSR e 0 valor medio da amplitude de mare em mares vivas.
Os vaJores limites dos indices morfodinamicos alris mencionados variam de aUior para autor, quer relativamente ao
tipo de ondulaii=Ao caracterlstica, quer para 0 comportamento assumido pela praia. Optou-se por utilizar os valores
propostos em Carter (1988) que define 0 tipo de ondula~!o em: Progressiva ("Spilling") para valores de ~ < 0.64,
Mergulhante ("Plunging") para 0.64 < ~ <5.0 e "Surging" para ~ > 5.0. 0 mesmo autor define 0 componamento
da praia como Reflectivo para 0.1 < £ < 2.5, Intermed-io para 2.5 < t <20 e Dissipativo para 20 < t < 200.
Na labela I Bpresentam-st os valores dos parametros utilUados no calculo dos indices morfodin!micos. De acordo
com os calculos efectuados a praia apresenta urn cornportamento reflectivo (t=2.34), predominando as condi~ de
rebentay!o do tipo mergulhamc ou lubular (~"" 1.16).
Seguindo 0 modele apresentado por Masselink e Shon (1993 ), que dislingue 8 lipos di(erentes de praias em funt;:ilo
do comportamento medio,da praia e da amplitude relativa de mare, a Praia de Faro e uma Praia de Terra~o em Mare
Baixa + Rip ("Low Tide Terrace + Rip") (0 < 2 e 3 < RTR < 7), de caracter generico reflectivo. Esle resultado vai
cOlTigir 0 obtido por Manins et 01. (1997) que classificava a praia como sendo uma Praia de Terrao;;o em Mare
Baixa ("lAlw Tide Terrace Beach").
Tabels I - Valores utilizados no calcuto dos Indices rnorfodinim ic:os.
Table I - Values used in the computation o( the morphodynamic index .
Parametros Valores e referencias
Alrura da ondulao;;!o na rebencao;;!o (HJ O.9m (Teixeira, 1986)
Periodo de pico da onda ao Largo (T J 8.0s (Instituto Hidrografico, 1994)
Velocidade de queda do sedimento (Ws) 0.07m1s (Manins et al. . 1997)
valor ml!dio da amplitude de marl! em mares vivas (MSR) 2.9m (lnstituto Hidrogrifico, 1996)
Declive da (ace da praia (tanp) 0.11'
Decl ive da (ace da praia em mare cheia 0.13 '
Declive da (ace da praia em mare vazia 0.06'
• representa a media antmehca dos de<:hves da face da praia de todos os perfis efcctuados .
As classificao;;Oes atris re(eridas referem-se apenas a condio;;Oes gerais anuais. No entanto, numa aproximar;lo a uma
escala temporal curta, I! posslve1 discemir que exisle variabilidade do comportamento da praia por efeilo de mare.
Como resultado da varia~o do nlvel do mar duranle a marl!, a hidrodinimica da praia vai-se alterar ao lango do
cido, bern como a morfodinimica, visto que a aC:luaii=Ao das ondas n!o se efectua nem nas mesrnas morfologias,
nem sabre os mesmos declives. De (acto, a localiza~o da zona de espraio, da zona de "surf' e da zona onde a onda
come!;a a sentir 0 fundo, variam ao longo do perfil, de acordo com a altura da mare (Masse link e Shon, 1993).
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Calculando novamenle os pendores, desl8. vez dividindo a face da praia em all8. face da praia (acirna do nivel medio
do mar) e baixa face da praia (abaixo do Rlvel medio do mar), foi posslvel obler dois valores de pendores
significativamente diferenles. Estes pendores foram calculados recorrendo-sc aos envelopes de perfil dos locais
cstudados, sendo de 0,13 para a aha face da praia e de 0,06 para a bain (ace da praia.
Re<:arrendo novamente aos [ndices morfodinamicos e recalculandQ-()s para os pendores apontados, a praia em mart
baixa passa a apresentar urn cornportamento intermedio (t := 8,7) e uma ondula¢o do tipo progressiva (F. .. 0,6).
Em mare alta, a praia comporta·se como anteriormente calculado, ou seja, com cornportarnento reflectivo e
ondula~o predominante do tipo rnergulhante ou tubular.
Em suma, a Praia de Faro, em tennos rnorfodim\micos. caracteriza·se por apresentar urn comportamento
genericamente reflectivo mas com elevada diferenoa morfodincimica 80 longo do cicio de mare. Tal deve-se,
sobretudo, a existencia de urna parte superior do perfil com urn pendor e!evado, tendo a parte inferior do mesmo urn
pendor mais suave. Assim, na mare all8. ocorre urn comportamenlO reflectivo com rebenl8.~o das ondas do tipo
mergulhante na face da praia, havendo em mart baixa urn comportamento intennedio, que pode chegar a ser
dissipativo quando em mares vivas, com exposiylo do terra~o de mare e com ondula~ao progressiva, podendo neste
caso existir varias Iinhas de rebentaylo ao longo da zona de "surf". Slio ainda fTequentes situ~6cs em que existe
urna barra submersa que faz quebrar a onda urna primeira vez, aplls 0 que e reformada, rebentando novamente
quando atinge a face da praia.
Do ponto de vista da caracteriza~ilo morfodinimica, a analise comparada dos perfis efectuados pennitiu ainda
coneluir que, contrariamente ao mencionado por Masselink e Hegge (1994) nas caracterlsticas de Praias de Terra~o
em Mare Baixa + Rip, no imbito das quais a Praia de Faro aparenta estar inscrida, esta ultima pode apresentar
elevadas varialf6es volumetricas e morfol6gicas em apenas urn cicio de mare (Martins el aI .. 1991).
Vulncrabilidadc da Praia de Faro
A monitoriza~1I0 e amilise de perfis de praia em locais fixos e durante urn periodo de tempo alargado pode revclar
varia~Oes sislern:1ticas no perfil de praia a longo lermo, bern como as flutuac;lies de curto prazo (Komar, 1916). E posslve! , tambtm , quantificar as trocas sedimentares prescnles, nomeadamente as trocas transversais a praia. Na
labela 11 estAo representados os valores dos volumes sedimentares mhimos. medios e minimos, bern como a
variabilidade maxima ocorrida, para 0 perfodo entre Maio 9S e Mar~ 91. Estes valores foram ca1culados a partir
dos envelopes de perfil para c;\da local (figura 2).
Os valores verificados nos "stocks" dernonstram que os locais situados na pane ocidental da circa de estudo (locais
A. B e C). coincidences com as areas de maior ocupayio antr6pica, sAo os que possuem menor "stock" sedimentar.
Este facto t, peto menos em parte, devido a coloca~o de estruturas rlgidas e flxas oa pane superior dos perfis de
praia, que promovem a truncatura do perfil e urn rebaixamento da cota dunar. nilo pcrmitindo que estes
desempenhern 0 seu pape! nonnal face a episOdios de ondula¢o rnais energetica. Isto e, 0 perfil nilo se desenvolve
na totalidade da sua extensAo, possuindo menor largura que os pcrfis do sector Este (Iocais DeE). Como a
variabilidade volurnetrica se mantem relativamente uniforme ao longo de toda a praia, para 0 mesmo evento, e
16gico que as cempestades ou as situa~Oes de eJevada energia tenham uma expressilo muilo mais forte nos locais
onde os pcrfis foram impossibilitados de se desenvolver por completo e onde, por consequencia, possuem menor
capacidade de resposta. Assim, devido as carencias sedimentares exislentes toma-se comum a danifica~lI:o das
estruturas edificadas, 0 que corresponde ao perfil retomar 0 seu normal desenvolvimento.
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12 LocaJ A 12 LocaJB 10 10 8 8 6 6
-it ~~~~M -H~
NMM
I : -I I I
12 10 8 6 4 2 0
-2
0 20 40 60 00 100 120 0 20 40 60 80 100 120
LocaJ 12 LocaJD
10 8
'NMM 6
NMM 4 2 0
I I I -2 0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 100
IL LocaJ E 10 _
~~ '~MM 4
L OJ
-2 I I
0 20 40 60 00 100 120
Figura 2 - Representa~aio dos envelopes de perfil para os locais estudados. As abcissas reptesentam
a distancia horizontal (m) e as otdenadas a cola relativa ao
Zero HidrognHico (m). NMM ::: Nivel Medio do Mar
Figure 2 - Profiles envelopes for the study sites. (Distance 'IS . Elevation). NMM - Mean Sea Level .
Tabela II - Volumes sedimentares (ml/m) para os locais A, B, C, 0 e E.
Tnble II • Sand stock (ml/m) for sites A, B, C, D, and E.
120
Locais "Slock" max imo "Stock" minima "Stock" media Maxima variabilidade
A 274,9 170,8 222,9 140,1
B 272,6 160,9 216,8 111 ,7
C 256,4 155,7 206,5 100,7
D 343.0 215 279,0 128
E 379,0 248,1 315,6 130,9
74
Tendo como base os volumes sedimentares mAximos apresentados (labela lI), os dois sectores referidos sao
facilmente separaveis. Assim, na primeira zona que compreende os locais A, Be e, onde a forte ocupayAo exerce
grande influencia no perfil de praia, 0 valor do "stock" sedimentar maximo t da ordem dos 250 a 275 ml/m. Na
segunda zona (Iocais 0 e E), onde 0 perfil de praia nao e influenciado pela ocupayAo, 0 valor de "stock" sedimentar
maximo atinge valores de cerca de 380 mJ/m, ou sej a, possui um acrescimo de 100 mJ/m, relativamente a anterior.
Embora os resultados relativos ao volume maximo nao demonstrem que 0 local 8 se apresenta como 0 local mais
vulneravel de todos os analisados, (devido a recolocayAo anificial de areia que no Inverno esporadicamente se
verifica), em termos de volume mlnimo consegue·se distinguir ni tidamente a fragi lidade apresentada por este local.
A mesma situat;:ao ocorre no local C, ainda que a recolocayAo anificial nao tenha possuldo tAo grande expressllo.
Para uma melhor perce~o da vulnerabilidade de uns locais em relat;:ao aos outros, foi elaborada uma tabela (tabela
111) em que se expressam as percentagens a que os volumes mAximos e mlnimos de cada local correspondem
relativamente ao volume mAximo e minimo do local E, e qual a percentagem a que corresponde a variabilidade
maxima ocorrida em cada local relativamente ao volume sedimentar medio do proprio local. 0 local E foi escolhido
como referenda por possuir urn volume sedimentar rnais elevado e portanto rnais robusto e por n!o ter ocupayAo no
perfil. (Martins ef al., 1997).
Tabela III - Per~entagens relativas dos "stocks" de sedimento dos localS A, B, C, DeE.
Table 111- Relative percentage of sediment stocks in sites A to E.
Locais A B C D E
Percentagem do "stock" maximo em cada 73% 72% 68% 9 1% 100%
local em relat;:Ao ao local E
Percentagem do "stock" m inimo em cada 69% 65% 63% 87% 100%
local em relat;:ao ao local E
Percentagem de variabilidade maxima em
relat;:ao ao proprio ""stock"" medio de 61% 5 1% 49% 46% 4 1%
sed imente
Da analise da tabela acima apresentada foi passivel, mais uma vez, evidenciar as diferent;:as entre os sectores
ocidental (Iocais A, 8 e C) e oriental (Iocais 0 e E). Efectivamente, para que os locais A, Bee atinjam urn estado
de robustez igual ao demonstrado pelo local E, em "stocks" mlnimos, seria necessario urn acresdmo sedimentar de
3 1%,35% e 37%, respectivamente. No local D, ja pertencente ao sector oriental, a falta relativa de sedimento
traduz.-se em apenas 13%, valor bastante pequeno quando comparado com os que foram determinados para 0 sector
ocidental.
No que respeita a percentagem de variabilidade maxima em re~o ao proprio "stock" sedimentar medio os valeres
mais altos indicam uma maior vu lnerabilidade da praia, pois existe maior possibilidade de esgotar 0 volume
sedimentar acumulado, por erosao. Observa-se, assim, uma tendencia para maior robustecimento de W para E, visto
que os valores diminuem neste sentido.
Embers 0 local A se apresente como 0 local mais vulneravel, de acordo com a tabela 111, seria de esperar que os
locais 8 e C possu issem valores simi lares ao do local A e, como tal. superiores aos determinados, dado que a sua
ocupa~o e intensa. Tal nao acontece devido a deposiyl\o anificial de areias nestes locais, apos a ocorrencia de
galgamentos, 0 que tern pennitido urn aumento do "stock" medio e uma atenua~o da vulnerabilidade.
75
A maior vulnerabilidade do sector ocidental da Praia de Faro foi constatada no decurso dos trabalhos de campo
realizados em situayOcs de temporal, tendo-se observado eroslo da duna proximo do local A e galgamentos
oceinicos nos locais B e C. Pelo contririo, nos locais 0 e E a interface alta praia/duna rantmente foi tocada,
chegando at~. por vezes., a haver alguma acr~lo na parte superior do perfil por ereito do espraio da onda.
Conclus~s
o prescote estudo utilizou a realiza~o sistematica de perfis de praia, para a determina~o das caracteristicas
morfodin!m icas da Praia de Faro e para 0 calculo das varia~Oes volumetricas ocorridas no perfodo de analise (Maio
9S 8 Mar~o 97), permilindo deduzir algumas das tendencias evolutivas a m~dio prazo e separar sectores de
comportamento distinto relativamente a eroslo costeira.
A Praia de Faro foi classificada como sendo uma Praia de Terra~ em Mare Baixa + Rip, possuindo comportamento
rnorfodinimico genericamente reflectivo e predomlnio de rebenta~1I0 do tipo mergulhantc ou tubular.
Urna aproximayAo mais pormenorizada permitiu observar que durante 0 cicio de mare a praia apresenta dois
comportamentos distintos. sendo predominanternentc intermedia em mare vazia e reflectiva em preia-mar. Tambem
o tipo'de rebenta~o dominante varia, sendo para 0 primeiro caso progressiva e mantendo-se mergulhante em mare
cheia.
Relativamente a vulnerabilidade apresentada pela Praia de Faro, verificou-se uma clara diferen~a entre 0 seClor
ocidental (Iocais A, B e C), fortemen te intervencionado pelo Homem, e 0 sector oriental (locals 0 e E), com
pe<juena ocupa~o antr6pica. sendo a vulnerabilidade superior no sector ocidental. Tal rcsulta da ex istencia de urn
diminuto "stock" sedimentar e do rebaixamento da cota dunar neste sector. 0 que possibilita a ocorrencia de
galgamentos oceanicos. Consequentemente, estes locais sao aqueles de tOOa a zona estudada em que e previsivel a
~xislencia , no futuro pr6ximo. de maior~s prejulzos materiais.
Recomenda-se a integra~!l.o futura deste genero de estudos na gestao de ambientes costeiros, nomeadamente em
Pianos de Ordenamento, pois que, para adoptar medidas de gestao que conduzam a uma uliliza~Ao sustentavel do
htoral, e essencial ter urn suporte cientifico forte e adaptado As ~specificidades da area em causa.
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