educacao século xxi
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Anton io Car lo s Gomes da Cos ta
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Costa, Antonio Carlos Gomes daEducao / Antonio Carlos Gomes da Costa. -- So Paulo, SP :
Editora Cano Nova, 2008. -- (Coleo valores)
BibliografaISBN 978-85-7677-107-4
1. Educao 2. Valores (tica) I. Ttulo. II. Srie
08-00412 CDD-370.114
1. Educao para valores 370.114
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
ndices para catlogo sistemtico:
EDITORACANONOVARua So Bento, 43 - Centro01011-000 So Paulo SPTelefax [55] (11) 3106-9080e-mail: editora@cancaonova.com vendas@cancaonova.comHome page: http://editora.cancaonova.com
Todos os direitos reservados.
ISBN:978-85-7677-107-4
EDITORA CANO NOVA, So Paulo, SP, Brasil, 2008
COORDENAOEDITORIAL:Iara Rosa da SilvaEDITORA:Cristiana Negro
CAPA: Raul Fernandes
PROJETOGRFICOEDIAGRAMAO: Claudio Tito Braghini Junior
PREPARAOEREVISO:Lilian Miyoko Kumai
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A educao deve contribuir para o desenvolvimento total da
pessoa esprito e corpo, inteligncia, sensibilidade, sentido
esttico, responsabilidade social, espiritualidade. Todo ser
humano deve ser preparado, especialmente graas educaoque recebe na juventude, para elaborar pensamentos
autnomos e crticos e para formular seus prprios juzos de
valor, de modo a poder decidir por si mesmo nas diferentes
circunstncias da vida.
Educao: um tesouro a descobrir
Relatrio Jacques Delors - Unesco
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Sumrio
Introduo .............................................................................. 9Captulo 1 - Por uma educao interdimensional ..................13Captulo 2 - A educao para valores .....................................29Captulo 3 - A educao brasileira .........................................37Captulo 4 - Educar para o desenvolvimento humano ...........45
Captulo 5 - Para que serve o conhecimento? .........................51Captulo 6 - A pedagogia da presena ....................................57Captulo 7 - A relao de ajuda..............................................65Captulo 8 - Pedagogia e resilincia .......................................79Captulo 9 - O sentido da vida ..............................................89Captulo 10 - A dignidade humana .......................................93
Captulo 11 - A formao do jovem autnomo,solidrio e competente ...........................................................97Captulo 12 - A relao famlia-escola ..................................103Consideraes finais ............................................................111Bibliografia ..........................................................................115
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Introduo
A educao, segundo o grande pensador brasileiro padreHenrique Cludio de Lima Vaz, a comunicao intere intrage-racional do humano. Comunicao intergeracional aquela quese estabelece entre as geraes adultas e maduras e as geraes vin-douras crianas, adolescentes e jovens. Comunicao intragera-cional aquela que se estabelece entre pessoas do mundo adulto,
ou seja, adultos educando adultos.O que o humano, que busca comunicar-se por meio daeducao? O humano so conhecimentos, crenas, valores, ati-tudes e habilidades que a humanidade foi acumulando ao longodo processo civilizatrio em suas grandes vertentes oriental eocidental, amerndia e europia, tradicional e modernizante, tc-nica e humanista, global e local, individual e coletiva, moderna e
ps-moderna.Esses so os contedos da educao. E quais so os seus
meios? Os meios da educao segundo debate na Confernciade Jomtien, realizada entre 5 e 9 de maro de 1990, na Tailndia, so a linguagem oral, a linguagem escrita, o clculo e a resoluode problemas. Foi assim que a humanidade construiu a si mesmae o mundo ao longo de milnios.
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Darcy Ribeiro, o mais genial dos antroplogos brasileiros,assim definiu esse processo de comunicao inter e intrageracio-nal do humano no extraordinrio e seminal artigo primeiro daLei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei 9394/96):A educao abrange todos os processos formativos que se dona famlia, no mundo do trabalho, nas instituies de ensino epesquisa, nos movimentos sociais, nas organizaes da sociedade
civil e nas atividades culturais.
Desse modo, se procurarmos um grupo indgena queainda no teve contato com a civilizao, ou se formos Uni-versidade de Harvard, constataremos que as geraes madurasesto transmitindo s novas geraes as mesmas coisas: conheci-mentos, crenas, valores, atitudes e habilidades. O nome disso
educao. sobre esse conceito amplo e profundo do fazer educativo
que nos debruaremos neste texto. Nossa inteno refletir sobrea educao para a vida, educao para formar pessoas, formar ci-dados para o Brasil e para o mundo, educao para formar pro-fissionais, produtores de riquezas tangveis e intangveis, riquezasmateriais e riquezas morais.
O Relatrio Jacques Delors, da Unesco, Educao: umtesouro a descobrir, definiu um ideal pedaggico para o sculo. Ele est sintetizado nas quatro aprendizagens que, se pratica-das, nos levaro formao do homem que o mundo necessita erequer para dar certo. So elas:
Aprender a ser, pelo desenvolvimento de competnciaspessoais;
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Aprender a conviver,pelo desenvolvimento de competn-cias relacionais;
Aprender a fazer,pelo desenvolvimento de competnciasprodutivas;
Aprender a conhecer,pelo desenvolvimento de competn-cias cognitivas.
sobre essas quatro competncias essenciais para a vidaque falaremos aqui, bem como sobre o significado e o sentido deeducao em nossas vidas.
Belo Horizonte, julho de 2006.
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Captulo
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Por uma educaointerdimensional
Mais do que uma poca de crise, estamos vivendo a crisede uma poca. A relao do ser humano consigo mesmo, com osoutros homens, com a natureza e com a dimenso transcendenteda vida est passando por amplas e profundas modificaes.
A razo analtico-instrumental dominante ao longo dos l-timos sculos, que se iniciou no Renascimento e tornou-se forahegemnica a partir do Iluminismo para culminar na modernacivilizao industrial, comea a emitir sinais de esgotamento. Estese revela na incapacidade da modernidade, nascida do Iluminis-
mo, de cumprir as promessas que marcaram o seu nascimento:liberdade, igualdade e fraternidade. A razo, a cincia e a tcni-ca foram desenvolvidas e continuam se desenvolvendo cada vezmais, no entanto, basta assistir aos noticirios da para percebero quanto nos afastamos desses ideais:
Na relao consigo mesmo,o homem parece cada vez mais
marcado pelo solipsismo, pela ansiedade e pelo medo,entregando-se aos anestsicos da cultura de massas.
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Na relao com os outros, o individualismo, a com-petio, a explorao e o uso instrumental do ser hu-mano marcam as relaes interpessoais, enquanto que,no plano das relaes coletivas, dentro das naes e en-tre as naes, o cinismo e a fora bruta parecem ganharcada vez mais espao.
Na relao com a natureza, a quebra sistemtica dosecossistemas vai desequilibrando as bases dos dina-mismos que sustentam a vida, gerando conseqnciascomo a diminuio da biodiversidade e os buracos nacamada de oznio, comprometendo o direito vida dasgeraes futuras.
Na relao com a dimenso transcendente da vida,verifica-seuma forte crise de sentido que resulta numa cada vez maisevidente perda de respeito pela dignidade e sacralidade davida em todas as suas manifestaes naturais e humanas.
Ao mesmo tempo, vivemos tambm uma poca de grandesoportunidades. Basta olhar atentamente ao nosso redor para per-cebermos sinais importantes:
Na relao consigo mesmo,parece estar emergindo, com in-tensidade indita na histria, um desejo humano de auto-compreenso, auto-aceitao, auto-estima, autoproposioe autodeterminao, na busca da auto-realizao e da
plenitude humana. Esse movimento reflete a busca
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pelo encontro do homem consigo mesmo como condiopara encontrar os demais.
Na relao com os outros,constata-se uma procura da resig-nificao dos laos interpessoais na famlia, na escola, notrabalho, nas relaes afetivo-sexuais. Por outro lado, navida social mais ampla, no plano das relaes com o bem
comum, a incorporao dos direitos humanos individuaise coletivos, como novo eixo estruturador dos processos dedesenvolvimento, propicia o surgimento e a ainda incipien-te, mas gradual, afirmao do Paradigma do Desenvolvi-mento Humano como a grande via para a construo deum progresso com um rosto verdadeiramente humano.
Na relao com a natureza,a emergncia do conceito desustentabilidadevai fazendo surgir uma nova tica e umanova tica que tem como fundamento a noo de quecada gerao deve legar s geraes vindouras um meioambiente igual, ou melhor, do que aquele recebido dasgeraes anteriores.
No plano da relao com a dimenso transcendente da
vida,registra-se uma grande necessidade de sentido exis-tencial. Pessoas, grupos, comunidades e organizaesde todo tipo esto cada vez mais empenhados na busca denovas fontes de significado para o seu ser e o seu fazerneste mundo, isto , para sua presena entre os homens
de seu tempo e de sua condio.
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Qual desses dois dinamismos prevalecer? O dinamismo dosriscos, nos dias de hoje, ainda claramente hegemnico, mas emitesinais de caducidadehistrica. O dinamismodas oportunidadespa-rece ser o portador do futuro, contudo ainda no demonstrou terfora suficiente para se impor nas relaes do ser humano consigomesmo, com os outros, nos planos interpessoal e social, nas rela-es com a natureza e com a dimenso transcendente da vida.
A real natureza da presente crise no nem econmica,nem social, poltica ou cultural. A nosso ver, estamos diante deuma crise ontolgica, isto ,umacriseque diz respeito ao ser hu-mano em sua totalidade irredutvel e complexa.Minha tese bsica a de que os dinamismos econmicos, sociais, polticos e cultu-rais que configuram a presente crise so manifestaes derivadasde um conjunto de fenmenos; so sintomas de uma crise mais
profunda, a crise resultante do desenvolvimento desequilibrado doser humanoao longo do processo civilizatrio.
A sada para essa crise ontolgica dever ser a busca de umaintegrao equilibradoradas diversas dimenses do humano, que fo-mos buscar nainfncia feliz da humanidade, expressa na Paidia,ou seja, nos conceitos e nas prticas que presidiram a construodo ideal do homem grego, os quais, posteriormente, fundiram-se
com os conceitos e as prticas do mundo judaico-cristo, dandoorigem civilizao ocidental. Estas dimenses so quatro:
1. ologos, a dimenso do pensamento,do conceito ordenadore dominador da realidade pela razo, cincia e tcnica;
2. opathos, a dimenso do sentimento,da afetividade, gera-dora da simpatia, da empatia, da antipatia e da apatia na
relao do homem consigo mesmo e com os outros;
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3. oeros,a dimenso do desejo,das pulses, dos impulsos, dacorporeidade, das emanaes vitais bsicas, do lanvital;
4. o mytho,adimenso da relao do homem com o mistrioda vida e da morte, do bem e do mal.
Para conhecer a si mesmo e o mundo natural e humano emque est imerso, ou seja, para acessar de forma plena a realidade
de sua existncia, o homem no pode valer-se apenas do conheci-mento racional, da razo e do logos. Ele necessita, para empreendersatisfatoriamente essa tarefa, abrir-se a outras formas de conheci-mento ligadas aopathos, ao erose ao mytho, ou seja, ligadas s de-mais dimenses ontolgicas(dimenses estruturadoras do seu ser).
Na modernidade, o advento da cincia e da tecnologiacoincide com o surgimento do mercantilismo, aps o declnio do
mundo medieval, cujo eixo estruturador foi o mytho. Na nova etapado processo civilizatrio, o qual o marco instaurador o Renasci-mento, o logosse concretiza e se expressa no mais apenas comoexerccio gratuito da racionalidade como na filosofia grega , mascolocado a servio do poder econmico, militar e poltico necess-rio afirmao, expanso e consolidao hegemnica da economia
de mercado no mundo. Com a fragmentao do conhecimentoem distintas cincias especficas, a razo se torna analtica(mtodocientfico). Com a sua aplicao prtica, por meio das tcnicas,naresoluode problemas reais, a razo se tornainstrumental.
O importante percebermos que a razo analtico-instru-mental, por meio da cincia e tecnologia modernas, coloca-se,desde o incio, a servio do poder no processo de surgimento,
afirmao e expanso dominante da economia de mercado. O logos
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(razo, cincia e tecnologia), que passa a dominar as relaes doshomens entre si e com a natureza, est, ele prprio, dominadopelo poder de que se torna instrumento.
A cincia e a tcnica, as manifestaes preponderantes dologosna modernidade, se autoproclamam as foras redentoras dahumanidade, a dimenso suprema de um novo humanismo. Opathos, o eros e o mythoso descredenciados e recalcados como
formas legtimas e vlidas de conhecimento, ou seja, de acessodo homem ao real. Essas dimenses passam a ser consideradaselementos perturbadores da objetividade cientfica e tecnolgica.
A verificabilidade cientfica e a eficcia operatria tornam-se,assim, as manifestaes mais elevadas da razo analtico-instrumen-tal e inauguram com a Revoluo Industrial a era de extraordi-nrios avanos econmicos, sociais, polticos e culturais do mundo
capitalista. O caminho desses avanos pode ser assim resumido:
a razo, a cinciae a tcnicacomo formas hegemnicasde conhecimento;
a democracia representativacomo forma de organizaosocial;
e a economia de mercadocomo forma de organizao daesfera produtiva.
No campo filosfico, a expresso maior desse movimen-to foi o Iluminismo.Foram as idias iluministas que embasaramconceitualmente o projeto poltico que resultou nas revoluesFrancesa e Americana; idias que deram fim ao poder absoluto
dos reis em vrias partes do mundo. E no bojo desse processo
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histrico que nasce a escola moderna, os sistemas de educaopblica,gratuita,laica,universal e obrigatria,que se expandem,junto com as idias liberais, por todo o mundo.
A escola iluminista como no poderia deixar de ser nasceligada razo analtico-instrumental e torna-se, assim, a sua expres-so mxima na formao de seres humanos para a nova ordem:
a escola onde o discurso deve prevalecer sobre o cursodos acontecimentos.
a escola onde os conceitos devem prevalecer sobre adimenso simblica.
a escola onde a mente deve prevalecer sobre o corpo.
a escola onde a racionalidade se sobrepe aos senti-mentos.
a escola onde o pensar normatizado no cede espao intuio.
a escola onde a docncia deve prevalecer sobre a vivncia.
a escola onde a impessoalidade das relaes deve pre-valecer sobre a presena, o encontro, a convivncia.
a escola onde o coletivo deve prevalecer sobre as mani-
festaes da individualidade. a escola onde a mecnica estrutural e funcional deve
prevalecer sobre a espontaneidade.
a escola onde a padronizao deve prevalecer sobre adiversidade.
a escola onde a quantidade deve prevalecer sobre a
qualidade.
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a escola onde o viril deve prevalecer sobre o feminil.
a escola onde a teoria deve prevalecer sobre as prticase as vivncias.
a escola onde a palavra deve prevalecer sobre o gesto.
a escola onde o controle deve prevalecer sobre aliberdade.
a escola, enfim, onde o logosdeve, em tudo e em todos,
prevalecer sobre opathos, o erose o mytho.
A escola que nos legou o Iluminismo j no d conta dosdesafios que, principalmente os adolescentes e os jovens, trazempara o seu interior. Ela j no consegue, com base na razo ana-ltico-instrumental, vencer antecipadamente os desafios impostospelos novos tempos. O grande equvoco dessa escola tem sido ten-tar superar esses desafios ao atuar nos limites do territrio do logos,fazer propostas de (des)fragmentao do conhecimento, buscarnovas formas de relacionamento entre as disciplinas e trazer osenfoques multidisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar.
Nossa proposta a criao de uma nova educao, umaeducao interdimensional, que seja capaz de reequilibrar as rela-
es do logoscom opathos, o mythoe o erosde forma mais inteli-gente e harmnica. Isso significaria recalcar a dimenso do logos?De forma alguma. Trata-se de abrir os projetos pedaggi-
cos para outras dimenses do humano, acolhendo, valorizandoe dignificando aspectos como a sensibilidade, a corporeidade, atranscendentalidade, a criatividade, a subjetividade, a afetividade,
a sociabilidade, a convivncia e tantas outras dimenses relacio-
nadas com opathos, o erose o mytho.
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Contudo, a razo analtico-instrumental, representada pelacincia e pela tcnica, no pode, de forma alguma, ser desdenha-da. Ela permanece indispensvel ao lado das demais, mas nodeve se sobrepor s outras dimenses do humano, como temocorrido at aqui. O enfoque interdisciplinar no d conta dainteireza e da complexidade do desafio educacional de integrar asquatro grandes dimenses co-constitutivas do humano. preciso
desenvolver um enfoque interdimensional.
Do Interdisciplinar ao Interdimensional
LOGOS
PATHOS MYTHO
EROS
EnfoqueInterdisciplinar
EnfoqueInterdimensional
Existem indcios de que isso possa vir a ocorrer algum dia?Sim. Os Quatro Pilares da Educao, do Relatrio Jacques De-lors Educao: um tesouro a descobrir, apontam na direode um ensino capaz de superar suas prprias tendncias e se abrirpara prticas e vivncias de sentido existencial, social, produtivo e
cognitivo, de impacto mais abrangente e profundo. Isso ocorre
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porque a compreenso de que os educandos devem desenvolvercompetncias pessoais, sociais, produtivas e cognitivas permite queos educadores ultrapassem os limites do intelectualismo e abram-separa a necessidade de repensar o conjunto das oportunidades dedesenvolvimento pessoal e social oferecidas s novas geraes.
Se quisermos desenvolver uma estratgia educativa combase nos Quatro Pilares da Educao, devemos ter em conta as
mediaesexistentes entre a sua formulao inicial, bastante ge-nrica (quatro grandes esferas de aprendizagem), e sua aplicaona ao educativa direta. O caminho que vai da aprendizagem atsua aplicao prtica passa pelo desenvolvimento de competn-cias, pela adoo de atitudes e pela aquisio de habilidades, queso as mediaes necessrias nesse processo.
A aprendizagem o processo por meio do qual o educando
interage, assimila, incorpora, compreende, significa e domina umcontedo. Assim, refere-se a uma atividade de natureza interativae aquisitiva.
A competncia no se reporta ao processo de aquisio docontedo aprendido, mas sua utilizao por parte daquele que odetm. Trata-se, portanto, da capacidade de aplicar o que se apren-deu em esferas ou mbitos especficos da atividade humana.
As atitudes referem-se ao modo bsico como a pessoa seposiciona frente s diversas situaes, dimenses e circunstnciasconcretas de sua vida. A atitude uma fonte de atos. Ela dependede como a pessoa compreende o contexto no qual est inserida.
Habilidade o domnio, por parte do educando, do pro-cesso de produo dos atos necessrios para a realizao de umaatividade, a consecuo de uma tarefa, o desempenho de um de-
terminado papel interpessoal, social e produtivo.
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Uma viso do todoQuatro aprendi-
zagensQuatro conjuntosde competncias
Quatro atitudesExemplos dehabilidades
Aprender a serCompetncias
pessoais
Autodesenvolvimento(Voltado para si
mesmo)
AutoconhecimentoAutoconceitoAuto-estimaAutoconfianaAutonomia
Etc.
Aprender a conviverCompetncias
relacionais
Alterdesenvolvimento(Voltado para o
outro)
Habilidades derelacionamento inter-pessoal e social.As vrias dimensesdo cuidado.
Aprender a fazer Competnciasprodutivas
Desenvolvimento dascircunstncias
(Voltado para arealidade econmica,
ambiental, social,poltica ou cultural)
Trabalhabilidade:AutogestoCo-gestoHeterogesto
Aprender a conhecerCompetncias
cognitivas
Desenvolvimentointelectual
(Voltado para agesto do conheci-
mento)
Habilidades metacog-nitivas*:AutodidatismoDidatismoConstrutivismo
* Metacognio: aprender o aprender, ensinar o ensinar, conhecer o conhecer.
Algum outro sinal importante aponta na direo da supe-rao da hegemonia do logosna educao? Sim. Em algumas dasmelhores escolas do Primeiro Mundo, o ensino da arte comea aocupar, nas propostas curriculares, um lugar semelhante quelereservado s lnguas, s cincias e s matemticas.
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Isso pode ser atribudo importncia que a criatividadevem assumindo na sociedade ps-industrial, tanto na esfera dasrelaes interpessoais como na esfera da vida cvica (exerccio dacidadania) e no mbito da vida produtiva. O que isso tem a vercom a educao interdimensional? Tudo. A resignificao da edu-cao pela arte um exemplo perfeito de como as dimenses dologos, do pathos, do erose do mythopodem entrar na formao
integral do educando, pois esse modelo de educao tem a capa-cidade de trabalhar conhecimentos, mtodos, tcnicas e tambmsentimentos, desejos, crenas, valores, significados e sentidos exis-tenciais profundos, sem que qualquer dessas dimenses recalquee oprima as demais. Como fazer isso? Criando oportunidadeseducativas que permitam aos educandos envolver-se no fazer, noproduzir arte e tambm no fruir, no apreciar as manifestaes
artsticas, de modo a desenvolver o seu senso esttico e a sua cria-tividade nessa e em outras esferas do agir humano.
Como o senso esttico pode ser aplicado em outras esferas doagir humano? A esttica a teoria das formas. O desenvolvimentodo senso esttico permite ao educando ampliar sua capacidade eseus recursos internos para dar forma a si mesmo e ao seu mun-do. Isso ocorre porque um senso esttico ampla e profundamentedesenvolvido cria condies para que a criatividade deixe de seruma habilidade e torne-se uma atitude bsica diante da vida.
Esse o grande objetivo da educao para a vida pelaarte. Na medida em que entendemos isso, podemos dimensio-nar melhor o alcance da afirmao de Mximo Gorki, famosoescritor russo: a esttica a tica do futuro. A tica a teoria
da ao. A esttica, como tica, nos remete possibilidade de o
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ser humano adotar uma atitude bsica, uma postura, um posi-cionamento criativo diante da vida.
Ser de relaes aberto em todas as direes, em que outrosdomnios o homem est sendo chamado a dar novas formas a simesmo e ao mundo, mudando suas formas de relacionamentoconsigo mesmo, com os outros homens, com a natureza e com adimenso espiritual da existncia?
Isso ocorre na medida em que compreendemos a necessi-dade de assumir uma atitude de cuidadocom a dignidade da vidaem todas as suas dimenses:
Transcuidado(Na relao com as fontes de significado esentido da existncia humana)
Autocuidado(Na relao consigomesmo)
Altercuidado(Nas relaesinterpessoais esociais)
Ecocuidado(Nas relaes com o ambiente emque se vive)
O que nos autoriza a pensar que a educao interdimensio-nal poder contribuir para o enfrentamento da crise ontolgica
do nosso tempo?
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Pensamos dessa forma devido ao fato de que a educao in-terdimensionalforma um homem mais apto, essencial para a cons-truo (tarefa de geraes) de uma sociedade, ou melhor, de ummundo baseado no Paradigma do Desenvolvimento Humano:
A vida o mais bsico e universal dos valores.
Nenhuma vida humana vale mais do que a outra.
Toda pessoa nasce com um potencial e tem o direito dedesenvolv-lo.
Para desenvolver o seu potencial, as pessoas precisam deoportunidades.
O que uma pessoa se torna ao longo da vida depende dasoportunidades oferecidas a ela e das escolhas que fez.
Alm de oportunidades, as pessoas precisam ser prepara-
das para fazer escolhas. Cada gerao deve legar s geraes seguintes um meio
ambiente igual ou melhor do que aquele recebido dasgeraes anteriores.
As pessoas, organizaes, comunidades e sociedades de-vem ser dotadas de poder para participar de decises que
possivelmente as afetem. A promoo e a defesa dos direitos humanos o caminhopara a construo de uma vida digna para todos.
O exerccio consciente da cidadania a melhor forma deos direitoshumanospassarem da inteno para a realidade.
A poltica de desenvolvimento deve basear-se em quatropilares: liberdades democrticas, transformao produ-
tiva, eqidade social e sustentabilidade ambiental.
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A tica fundamental para pr em prtica o Paradigma doDesenvolvimento Humano a co-responsabilidade.
A educao interdimensional encontra respaldo na atual Leide Diretrizes e Bases da Educao ()? Sim. Basta ler com aten-o o texto do seu artigo segundo:A educao, dever da famliae do Estado, inspirada nos princpios de liberdade e nos ideais
de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvi-mento do educando, seu preparo para o exerccio da cidadania esua qualificao para o trabalho.
Por que considerar logos,pathos, erose mythocomo as quatrodimenses do humano a serem integradas pela educao interdi-mensional? Por dois motivos: essas dimenses j esto presentes
na educao ocidental desde a Paidia grega; e, como observouViviane Senna, empresria e psicloga, tais dimenses correspon-dem s quatro grandes vias de acesso do homem a si mesmo e aomundo no pensamento de Jung.
As Quatro Funes Junguianas
Sensao (eros)
Pensamento (logos)
Intuio(mytho)
Sentimento (pathos)
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A educao interdimensional, portanto, a educao ne-cessria. Parece que estamos diante de uma idia cujo tempo che-gou. Um tempo de construo de uma educao integradora dasdiversas dimenses do humano.
Ed d 28 11 04 08 09 34 59
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