actas jornadas conocimientos tradicionales · preocupação geopolítica de integração,...

59
CONOCIMIENTOS TRADICIONALES DE LA PAN-AMAZONIA AL RIO DE LA PLATA Actas de las Jornadas edición preliminar

Upload: doantuyen

Post on 28-Dec-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CONOCIMIENTOS TRADICIONALES DE LA PAN-AMAZONIA AL RIO DE LA PLATA

Actas de las Jornadas

edición preliminar

ACTAS DE LAS JORNADAS «CONOCIMIENTOS TRADICIONALES DE LA PAN-

AMAZONIA AL RÍO DE LA PLATA»

(edición preliminar no comercializable)

ACTAS DE LAS JORNADAS

CONOCIMIENTOS

TRADICIONALES DE LA PAN-AMAZONIA AL RÍO DE LA PLATA

Realizadas en Universidad Nacional de General Sarmiento, Buenos Aires, del 18 al 20 de Octubre de 2012

Comité Organizador: Dina V. Picotti C. (UNGS)

Sergio Barrionuevo (UNGS-UBA) Noelia Lobos (UNGS-CONICET) Claudia Bonicceli (UNGS-UBA)

Irene Vázquez (USAL)

Evento Auspiciado por: Secretaría de Cultura de la Nación Argentina UNGS - Universidad Nacional de General Sarmiento (IDH - Instituto de Desarrollo Humano) UEA - Universidad del Estado do Amazonas (INCS - Instituto Nova Cartografia Social) UFAM - Universidade Federal do Amazonas UNAMAZ – Associaçâo de Universidades Amazônicas SBPC -Sociedade Brasileira para o Progressso da Ciência ABA- Associaçâo Brasileira de Antropología Ford Fundation

Actas de las Jornadas „Conocimientos Tradicionales del Pan-Amazonia al Río de la Plata / Dina V. Picotti et al. – 1a ed. (versión perliminar) - Buenos Aires, 2013. 64 p.; 14 x 22 cm ISBN: en trámite I. Antropología. II. Historia. III. Filosofía. IV. Dina Picotti.

Diseño de tapa: Sergio Barrionuevo Diseño de interior: Sergio Barrionuevo © 2013, Dina V. Picotti C. © 2013, de cada uno de los autores firmantes © Editorial (en proceso) ISBN: En trámite Hecho del depósito que indica la Ley 11.723

ÍNDICE Prólogo

7

Presentación

9

1. Apontamentos Para Uma “Nova Descriçâo”: Uma Abordagem Crítica Sobre A Politizaçâo Da Consciencia Das Fronteiras Da Amazonia Ao Prata Alfredo Wagner Berno de Almeida

13

2. Retratos Sonoros. Soporte fotográfico y universo musical. Javier Valado

29

3. La Experiencia De Construcción De Un Espacio Colectivo De Conocimiento Grupo ALFAR

33

4. Crónica sobre las Jornadas Rodolfo Funes

45

Prólogo

AUTOR, Nombre Texto

AUTOR

Presentación

PICOTTI, Dina Universidad Nacional de General Sarmiento - GIEIL

Texto

11

13

APONTAMENTOS PARA UMA “NOVA

DESCRIÇÂO”: UMA ABORDAGEM

CRÍTICA SOBRE A POLITIZAÇÂO DA

CONSCIENCIA DAS FRONTEIRAS DA

AMAZONIA AO PRATA

BERNO DE ALMEIDA, Alfredo Wagner Professor visitante UEA e pesquisador CNPq e Fapeam

1. Do Amazonas ao Prata: uma questão geopolítica?

Elaboramos estes apontamentos com o propósito de provocar uma discussão mais detida sobre as interpretações da relação entre o Amazonas e a bacia do Prata.

1.1. A proposição destas JORNADAS CIENTÍFICAS DO

AMAZONAS AO RIO DE LA PLATA, que objetivam abranger uma diversidade de situações sociais da Pan-Amazônia à bacia do Prata, consiste num convite a uma reflexão crítica, que provoque uma ruptura com a literatura de vulgarização fundada em esquemas interpretativos já cristalizados na vida intelectual. Tais esquemas tratam o tema numa perspectiva dual seja por “dissociação” (“Amazonas absolutamente separado do Prata” ) ou por continuidade absoluta (“junção do Amazonas com o Prata”). Os próprios termos “dissociação”, oposição, e “junção” perpassam a literatura histórica, consistindo numa maneira corrente de interpretar a questão de um prisma absolutamente geopolítico, menosprezando quaisquer outras dimensões. Em décadas recentes a transformação dos padrões de relação política, com a emergência de novos movimentos sociais e suas respectivas identidades coletivas e com a relevância de fatores vinculados a uma consciência ambiental profunda, tem permitido uma recolocação da questão para além da estreiteza de objetivos

ALFREDO WAGNER BERNO DE ALMEIDA

14

geopolíticos e das limitações historicistas e coloniais. A proposição destas “Jornadas Científicas” busca se aproximar de tais reinterpretações críticas, redefinindo problemas e a própria maneira de colocá-los.

1.2. Os estudos sociológicos concernentes à Amazônia, que amparam estas reinterpretações, desde pelo menos a segunda metade do século XIX, propiciam condições de possibilidades para procedimentos comparativos. Durante este período e a partir dele verificam-se exercícios comparativos que focalizam as grandes bacias hidrográficas das regiões tropicais, que ora privilegiam o Rio Congo e ora privilegiam o Prata, cotejando-os com situações amazônicas. Tais trabalhos, com pretensões de comparação e de aproximação de situações sociais semelhantes, documentaram as grandes expedições científicas na Amazônia e na África. No resultado destas expedições tem-se os materiais selecionados para comparação, como aqueles dos denominados “naturalistas” e viajantes à Amazônia, que tem na Expedição à Serra do Norte1 seu epílogo, ou como aquelas outras realizadas no chamado “Estado Livre do Congo” sob o reinado despótico de Leopoldo II, rei da Bélgica2. Um autor em especial realizou observações acuradas em ambas as regiões, elaborando dois alentados relatórios sobre violências praticadas contra povos indigenas. Trata-se do diplomata Roger Casement que produziu, em 1903, por solicitação do Marques de Landsdowne, Secretario de Estado de Assuntos Exteriores do Reino Unido, um relatório, intitulado “Informe Geral”, narrando sua viagem ao Congo3 e

1 A Expedição à Serra do Norte, em 1939, teve como participantes os antropólogos Claude Lévi-Strauss e Luiz de Castro Faria, dentre outros. Vide: Domingues, Heloisa M. Bertol – “A última grande expedição etnográfica do século XX” in Castro Faria, Luiz- Um outro olhar. Diário da Expedição à Serra do Norte. Rio de Janeiro. Ouro sobre Azul. 2001 pp.12-19

2 As grandes expedições ao Rio Congo tem um destaque com a expedição de Stanley entre 1879 e 1884, seguida das viagens de George W. Williams, em 1890, e de Roger Casement, em 1903. Cf. Williams, G.W.; Casement, R.; Doyle, A.C., Twain, Mark- La Tragedia del Congo. Mexico. Santillana Ed. Gen. 2010

3 Esta experiência de Casement, com farto material fotográfico de nativos que tiveram decepadas mãos e pés como castigos corporais infligidos pelos donos das empresas extrativistas, ganhou uma vigorosa interpretação literária com o romance de Mario Vargas Lhosa intitulado El sueño del celta. Bogotá. Ed. Aguilar. 2010. Vide também: Casement, Roger – The Amazon Journal. Ed. by Angus Mitchell. London. Anaconda Editions.1997.

Apontamentos Para Uma “Nova Descriçâo”

15

relatando em pormenor as atrocidades cometidas contra os povos africanos pelos empreendimentos coloniais belgas. O mesmo Casement, seis anos depois, produziu The Amazon Journal, descrevendo o caráter autoritário e as atrocidades contra povos indígenas por empresas extrativistas na Amazônia peruana, como a Peruvian Amazon Company, a partir de sua viagem pelo rio Putumayo.

1.3. Estudos antropológicos, realizados na segunda metade do século XX, como aqueles de Charles Wagley e Eduardo Galvão, abriram perspectivas de investigação do prisma da relação entre “raças e classes”. Outros estudos realizados duas décadas mais tarde como o do antropólogo Otavio Velho, em meados dos anos 70, alertou para outras possibilidades de cotejo, realizando uma discussão em torno de estudos comparativos das “fronteiras em movimento”, repertoriando autores como Vianna Moog e Frederik Jackson Turner e comparando historicamente o desenvolvimento capitalista e a fronteira nos Estados Unidos e no Brasil4. A interpretação de Velho evidencia na Amazônia uma vertente autoritária do desenvolvimento capitalista apoiado num sistema repressor da força de trabalho ou na imobilização dos trabalhadores pela dívida.

1.4. Enquanto tais estudos academicos assinalaram um capitalismo autoritário, subordinando povos indígenas e camponeses, aquelas interpretações oficiosas relativas ao Amazonas e ao Rio da Prata, de fins do século XVII aos anos 1970-80, enfatizaram aspectos geopolíticos. As discussões oficiais sobre as relações entre a Amazônia e a bacia do Prata ocorreram inicialmente no plano das politicas externas de diferentes potencias coloniais e depois no âmbito de estados nacionais recém-constituídos na América do Sul. Engenheiros militares formularam as primeiras teorias geopolíticas a respeito. Através de uma proposta de “junção do Amazonas ao Prata”, datada de 1890, de autoria do Coronel Eduardo José de Moraes5 e do Major Thaumaturgo de Azevedo, ambos do corpo de engenheiros, projetaram uma via de navegação interligando as duas bacias. Esta preocupação geopolítica de integração, resguardando os interesses nacionais, foi retomada por pensadores militares como Mario

4 Cf. Velho, Otavio G. – Capitalismo Autoritário e Campesinato. São Paulo/Rio de Janeiro. DIFEL.1976.

5 Moraes é também autor de Estudo sobre o Rio Madeira. Janville, 1873.

ALFREDO WAGNER BERNO DE ALMEIDA

16

Travassos6, Golbery do Couto e Silva7, Lysias Rodrigues8 e Meira Matos9, todos eles voltados para geoestratégias. A questão foi estudada por vários intérpretes10 e analisada criticamente11 abrindo um complexo campo de reflexões e debates.

Evitando adentrar nos meandros deste campo de disputas geopolíticas, buscaremos uma modalidade de reflexão de outro prisma, mais exatamente de uma leitura crítica capaz de relativizar o peso desta dimensão geopolítica e de suas implicações, chamando a atenção para unidades sociais localizadas e seu potencial de mobilização, que as torna laterais à cena política constituída. Para tanto insistiremos numa modalidade de reflexão capaz de propiciar novas possibilidades de análise, ressaltando como sujeitos os agentes sociais mobilizados em torno de direitos territoriais e reconhecimento de identidades coletivas.

2. “Nova Cartografia Social” como forma de abordagem crítica

Numa tentativa de ruptura com as interpretações de pretensão geopolítica e reforçando o exercício das comparações, objetivamos a proposição de uma “nova cartografia social”, enquanto orientadora de práticas de pesquisa, distinguindo-se do sentido corrente do vocábulo “cartografia”. Em outras palavras a noção de cartografia social aqui não pode ser entendida como circunscrevendo-se a uma descrição de

6 Vide Travassos, Mario – Projeção continental do Brasil. São Paulo. Cia. Ed. Nacional. 1947.

7 Vide Couto e Silva, Golbery do – Geopolítica do Brasil. Rio de Janeiro. Livraria José Olympio Ed. 1967.

8 Vide Rodrigues, Lysias - Geopolítica do Brasil. Rio de Janeiro. Biblioteca Militar. 1947.

9 Vide Mattos, Gal. Carlos de Meira – Brasil, Geopolítica e Destino. Rio de Janeiro. Liv. José Olympio Ed. 1975. Vide também: A Geopolítica e as Projeções do Poder. Rio de Janeiro. Biblioteca do Exército Ed. 1977. E ainda: “Integração: Bacia do Prata ou Cone Sul?” São Paulo. O Estado de São Paulo. Cultura n.8 1980.

10 Vide i) Guglialmelli, Juan Enrique- Geopolítica del Cono Sur. Buenos Aires. El Cid Ed. 1979. ii) Mello, Leonel I. A. – A geopolítica do Brasil e a Bacia do Prata. Manaus. Ed. Univ. do Amazonas. 1997.

11 Cf. Miyamoto, Shiguenoli – Do Discurso Triunfalista ao Pragmatismo Ecumênico (Geopolítica e Política Externa no Brasil pós-64). Tese de doutoramento apresentada ao Departamento de Ciências Sociais da FFLCH-USP. São Paulo, 1985.

Apontamentos Para Uma “Nova Descriçâo”

17

cartas geográficas ou a um traçado de mapas e seus pontos cardeais com vistas à defesa ou à apropriação de um território. Ao contrário de qualquer significação única, dicionarizada e fechada, a ideia de “nova” visa propiciar uma pluralidade de entradas a uma descrição aberta, conectável em todas as suas dimensões, e voltada para múltiplas “experimentações” fundadas, sobretudo, num conhecimento mais detido de realidades localizadas. A verificação in loco de situações empiricamente observáveis remete a relações de pesquisa entre os investigadores e os agentes sociais estudados, que no caso em pauta, do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, referem-se às comunidades tradicionais, cujos efeitos se manifestam, de maneira diferenciada, nos resultados obtidos. Esta descrição de pretensão plural compreende práticas de trabalho de campo e relações em planos sociais diversos, que envolvem múltiplos agentes, os quais contribuiriam à descrição com suas narrativas míticas, suas sequências cerimoniais, suas modalidades próprias de uso dos recursos naturais e seus atos e modos intrínsecos de percepção de categorias (tempo, espaço) e objetos. Semelhante construção descritiva, que nada tem de uma interpretação dos atos como texto, ocorre na “confrontação contínua das experiências e das reflexões dos participantes” (Bourdieu, 2003:694), desfazendo a ilusão empirista das “autoevidências” de campo. As confrontações acham-se dispersas na vida social e se estruturam a partir da perspectiva de diferentes posições12 e não apenas do prisma das instâncias de poder referidas ao Estado. Poderia ser nomeada como uma “nova descrição”, que se avizinha da etnografia, ao buscar descrever de maneira detida, através de relações de entrevista e de técnicas de observação direta dos fatos, a vida social de povos, comunidades e grupos, classificados como “tradicionais” e considerados à margem da cena política, mas que revelam consciência de suas fronteiras e dos meios de descrevê-la. Está-se chamando de consciência de suas fronteiras à confluência de pelo menos duas vertentes, ou seja, à unificação da consciência de seu território com a consciência de si mesmos, manifestas de maneira explícita pelos próprios agentes sociais em suas reivindicações face ao

12 Para um aprofundamento das questões referidas às “relações de pesquisa” e às “relações de entrevista” consulte-se: Bourdieu, Pierre – “Compreender” in: A miséria do mundo. Petrópolis. Ed. Vozes. 1997 pp. 693-713. (trad. de Mateus S. Soares Azevedo et al.).

ALFREDO WAGNER BERNO DE ALMEIDA

18

Estado. Tal unificação indica uma ruptura com o monopólio de classificações identitárias e territoriais produzidas historicamente pela sociedade colonial, mediante recenseamentos, cadastros, códigos e mapas. Enuncia uma tensão, cada vez mais perceptível, entre a consciência de si mesmos, expressa por ações coletivas e pelas autodefinições, e as categorias censitárias de identidade, apoiadas em critérios cromáticos (“preto”, “amarelo”, “branco”, “pardo”) e primordialistas, de nítida inspiração em classificações raciais, impostas uniformemente pelo poder do Estado desde pelo menos 1872, data do primeiro censo demográfico do Brasil13. A principal configuração desta ruptura concerne a um quadro de intensas mobilizações políticas destes agentes sociais articuladas tanto com o advento das categorias de autodefinição, quanto com a emergência de formas político-organizativas específicas. Ambas convergem para uma identidade coletiva objetivada em movimento social, notadamente a partir de 1985-86, no âmbito das discussões que perpassaram a Assembléia Constituinte e foram incorporadas à Constituição Federal de 1988. Por meio destas práticas mobilizatórias, que evidenciam conhecimento de seus direitos constitucionais, é que tais agentes interrogam sobre suas relações com a política, parcialmente exprimidas pelas organizações e movimentos que os representam. Certamente que, para muitos estudiosos, tais ações coletivas14 remetem à tentativa de constituição de um coletivo, mais ou menos formalizado e institucionalizado, apoiado em relações associativas que possibilitam uma interlocução permanente com o Estado e com outros coletivos. Mediante estes “efeitos de agregação” (Cefai, 2007:08) aflora uma certa percepção da legitimidade das ações coletivas, que nos parece coextensiva a uma crença na eficácia dos direitos étnicos e territoriais para além de qualquer demanda de “reconhecimento” pelo Estado. Todo este conjunto de efeitos reforça uma autoconsciência que requer o reconhecimento recíproco de agentes sociais igualmente autoconscientes, que pode ser assim sintetizado: “é um de nós”. Ao

13 Consulte-se Pacheco de Oliveira, João – “Entrando e saindo da “mistura”: os índios nos censos nacionais” in Ensaios em Antropologia Histórica. Rio de Janeiro. Editora UFRJ. 1999 pp. 124-151.

14 Para uma discussão sobre o sentido destas ações consulte-se: Cefai, Daniel – Pourquoi se mobilise-t-on? Les théories de l’action collective. Paris. Éditions La Découverte. 2007 (Collection “Recherches”. Série Bibliothèque du MAUSS).

Apontamentos Para Uma “Nova Descriçâo”

19

mesmo tempo possibilita condições para que cada um encontre a si mesmo no outro, delineando uma relação política fortemente solidária e um acordo explícito em torno de uma dada forma associativa, de uma pauta reivindicatória face ao Estado e de um mesmo território. Cada um ao reconhecer na luta do outro uma parte de sua própria luta reconstrói sua trajetória histórica, repensa a sua “origem” e propicia o lastro indispensável para a coesão imprescindível a uma ação política concreta. Estes agentes sociais agudamente conscientes de si mesmos e ombreados numa ação transformadora, ao repensarem sua história, percebem-se como compondo circunstancialmente um todo, mobilizados em torno de um propósito aproximado e de uma mesma forma de luta. Acham-se investidos de uma posição de legitimidade face ao próprio grupo, que se desdobra na condição de narradores das trajetórias coletivas, reunindo atributos que se projetam para além do presente. Mostram-se, neste sentido, profundos conhecedores das particularidades ecológicas e geográficas, exímios artífices de paisagens, perquirindo realidades localizadas e esboçando caminhos entre acidentes naturais e artificiais topograficamente inimagináveis. Articulam uma combinação entre este conhecimento peculiar, ao mesmo tempo geográfico e ambiental, e uma ação política formulada em termos de identidade, indissociável de fatores econômicos. Ao fazê-lo refletem a toda prova uma “nova descrição”. Expressam ademais uma consciência de sua diferença e da singularidade de seus interesses em flagrante contradição com aqueles de seus antagonistas históricos. Os mapas produzidos no contexto destas mobilizações passam, portanto, a refletir não somente a diversidade social e a multiplicidade de seus respectivos pontos de vista e práticas, mas sobretudo uma situação de conflito e um conhecimento intrínseco às realidades locais, tanto agrupando, quanto distinguindo. Neste processo de distinção tem-se um ritual de passagem eminentemente político, que direciona este esforço analítico para determinações de existência diferenciadas. Há mobilizações que estão voltadas para a aprovação de leis, outras se empenham em lutas de “reconhecimento”, outras mais se mobilizam por seus territórios, enquanto outras ainda exigem medidas reparadoras e recusam qualquer “concessão”, num conhecido preceito de “conflito a todo custo”. Diante destas particularidades torna-se difícil, senão improvável, fazer qualquer tipo de generalização ou elaborar um modelo que permita prever-lhes a evolução.

ALFREDO WAGNER BERNO DE ALMEIDA

20

3. Unidades de Mobilização: categoria analítica

A força destas especificidades e de distinções que lhes são adstritas direciona o esforço analítico para determinações de existência, que tem como principais referências empíricas a região amazônica e a bacia do Prata, e para situações de emergência étnica dos denominados povos e comunidades tradicionais em outras regiões do continente sul-americano. Em termos político-organizativos verifica-se neste processo social uma passagem que, respeitando a heterogeneidade de situações, pode ser assim sintetizada: as unidades sociais de referência (povos, comunidades e grupos) se transformam em unidades de mobilização15, cujas práticas diferenciadas e laços de

15 A expressão unidades de mobilização consiste numa noção operacional utilizada como recurso explicativo mediante situações de conflito social. Vem sendo reelaborada consecutivamente desde meados de 1987-88 em sucessivas experiências de pesquisa, que implicaram em atividades de mapeamento social caracterizadas pelo fato de membros de povos, comunidades e grupos participarem diretamente da elaboração de mapas, constituindo-se em seus principais artífices. Resultaram em inúmeros trabalhos com comunidades quilombolas, povos indígenas, quebradeiras de côco babaçu, pescadores, ribeirinhos, castanheiros, seringueiros, piaçabeiros, povos de terreiro, peconheiros e artesãos na região amazônica, bem como com comunidades de faxinais no planalto meridional do país e com comunidades de fundos de pasto no semi-árido nordestino. A partir de observações in loco das ocorrências de conflito tem sido possível destacar um conjunto de condições favoráveis à aglutinação de interesses específicos de povos, comunidades e grupos sociais diferenciados. Embora não haja homogeneidade absoluta nas suas condições materiais de existência, são momentaneamente aproximados e assemelhados, baixo o poder nivelador da ação do Estado ou de antagonistas circunstancialmente mais poderosos. Em outras palavras e a outro nível de abstração, pode-se adiantar que as políticas governamentais e seus efeitos é que tem possibilitado elementos básicos à formação de composições e de vínculos solidários entre diferentes comunidades e povos nestas situações de conflito. São elas que concorrem decisivamente para uniformizar ações políticas de grupos sociais não-homogêneos do ponto de vista econômico. Sem representar necessariamente categorias profissionais ou segmentos de classe, tais povos, comunidades e grupos tem se organizado em consistentes unidades de mobilização, não somente na Amazônia, mas em todo o país. Nestas unidades o valor da força de trabalho não constitui sua base racional e declarada, mas, a despeito disto, verifica-se um elevado grau de coesão em suas práticas, tornando-as formas ágeis e eficazes de organização política. Por se encontrarem atreladas a lutas localizadas e imediatas, cuja especificidade se atém ao próprio tipo de intervenção dos aparatos de poder consorciados com interesses de empreendimentos privados, estabelecem uma articulação particular do político com o econômico, mesmo com todas as

Apontamentos Para Uma “Nova Descriçâo”

21

solidariedade política16 se consolidam em oposição aberta a antagonistas históricos e recentes, avivando uma existência coletiva traduzida pela indissociação entre os conflitos e a consciência de suas fronteiras usurpadas retratadas fidedignamente pelo mapeamento social.

Face a esta projeção dos narradores e a complexidade das relações sociais o processo de produção cartográfica já não encontra condições de possibilidade para insistir numa representação “objetiva” da superfície terrestre e do quadro natural. Conjugado com esta relativização tem-se que o termo “nova”, enquanto adjetivante, não só assinala uma insuficiência teórica e uma certa incapacidade de explicar fenômenos recentes, mas traduz, sobretudo, imprevisibilidade, chamando a atenção para um aspecto dinâmico e situacional, que caracteriza o processo de construção cartográfica dos

diferenciações e desigualdades que porventura encerrem. Estas unidades mobilizam-se pela manutenção de condições de vida preexistentes aos grandes projetos em vias de implantação ou já implantados. Compõem-se, objetivando garantir o efetivo controle de domínios representados como territórios fundamentais à sua reprodução física e social, à sua identidade e, inclusive, para alguns deles, à sua afirmação étnica. O que antes os dividia, erodiu temporariamente, permitindo convergências inimagináveis. Fatores étnicos, “raciais” e religiosos, usualmente acionados para reforçar solidariedades e distinguir as chamadas “minorias”, perdem relativamente, no contexto destes antagonismos, sua força de marcar diferenças intransponíveis. Ameaçados pela perda de direitos às pastagens, às florestas densas e aos recursos hídricos e, por conseguinte, à caça, à coleta, à pesca e à agricultura, povos e comunidades vivem a ruptura da estabilidade na combinação de recursos e no exercício de atividades elementares como prenúncio de uma “crise ecológica” (Wolf, 1984:336-350) sem precedentes. As formas de resistência que engendram para enfrentar estas adversidades evidenciam estratégias de luta consolidadas pelas unidades de mobilização, que passaram a ter nos mapas um de seus fatores de articulação e de conhecimento comum (Almeida, 2011:17). Para maiores detalhes, consulte-se: Almeida, A. W. B. de – “Universalização e Localismo: movimentos sociais e crise dos padrões tradicionais de relação política na Amazônia” in Os quilombos e as novas etnias. Manaus. UEA, 2011. pp. 15-33.

16 Na busca de demonstrar a complexidade desta passagem e as discordâncias em torno dela importa citar Rancière, que busca construir, diferentemente de Bourdieu, um “sujeito político” fora deste jogo de oposições: “Un sujet politique ce n’est pas un groupe qui prend conscience de lui-même, se donne une voix, impose son poids dans la société. c’est un opérateur qui joint et disjoint les régions, les identités, les fonctions, les capacités existant dans la configuration de l’experience donnée (…)” (Rancière, 1995 :188). Cf. Rancière, Jacques – La mésentente. Politique et philosophie. Paris. Galilée. 1995.

ALFREDO WAGNER BERNO DE ALMEIDA

22

chamados mapeamentos sociais e de realidades que estão por vir. As noções operativas referentes à “nova cartografia social” encontram-se, pois, em constante movimento, relativizando seus resultados, politizando as relações e desdizendo concomitantemente as tentativas “objetivistas”, as “ilusões empiristas”, as instruções normativas e os manuais de inspiração “positivista”, que buscam a cristalização dos procedimentos de produção de mapas e mapeamentos.

4. Filósofos e antropólogos: uma “nova descrição”

Nesta ordem é que se pode asseverar que a análise crítica das práticas de cartografar, tornou-se mais recentemente objeto de reflexão e debate de filósofos17 (Foucault18, Deleuze, Guatari19, Agamben20) e de sociólogos e antropólogos21 (Bourdieu22, Bateson23, Baudrillard24,

17 Poder-se-ia argumentar, de maneira complementar, que, desde pelo menos o século XIX, os filósofos tratam da questão cartográfica e esta assertiva mostra-se pertinente, afinal em 1897 o filósofo Ricardo Luddecke publicou o Atlas Escolar Português.

18 Cf. Foucault, Michel – Sécurité, territoire, population. Cours au Collège de France. 1977-1978. Paris. Seuil-Gallimard. 2004.

19 Cf. Deleuze, Gilles; Guatari, Félix – Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. I . São Paulo. Editora 34. 2007 (trad. Aurélio Guerra Neto e Celia Pinto Costa).

20 Cf. Agamben, Giorgio – Nudez. Lisboa. Relógio D’água Editores. 2009 (trad. Miguel Serras Pereira).

21 Na história da antropologia as discussões com a abordagem geográfica mostram-se recorrentes desde as últimas décadas do século XIX. O texto “Estudo da Geografia” de Franz Boas, datado de 1887, inaugura este debate, discutindo “duas concepções sobre a natureza da pesquisa científica”, cuja distinção encontrava-se nos métodos: o “físico” e o “histórico”. Para Boas a “influencia da geografia” era “uma questão extremamente complexa”. (Stocking, 2004: 24,25). Não é difícil constatar que o primeiro capítulo das descrições etnográficas invariavelmente referiam-se ao quadro natural ou espacial das narrativas denominado setting. Os mapas, que passam a integrar os trabalhos etnográficos, tornam-se mais destacados nas etnografias a partir dos trabalhos de campo de B. Malinowski.

Cf. Stocking, Jr;, George W. – Franz Boas. A formação da antropologia Americana, 1883-1911. Rio de Janeiro. Contraponto – Editora UFRJ. 2004 ; pp. 15-38 . (trad. Rosaura C. L. Eichenberg).

Apontamentos Para Uma “Nova Descriçâo”

23

Goody), invertendo direções, recompondo paisagens, alargando horizontes, abrindo debates e arrebatando a questão dos domínios estritos do conhecimento técnico em que ela já estaria consolidada como tributária da geografia e de disciplinas militares. “Mapear uma região” não significaria, portanto, a mesma proposição, quando perpetrado pela geografia, consoante, por exemplo, critérios náuticos da marinha chinesa por volta do século XIII ou critérios geopolíticos dos militares prussianos do final do século XIX e das primeiras décadas do XX, ou quando formulado por critérios de inspiração epistemológica de filósofos e antropólogos, no final do século XX e na primeira década do século XXI. Para Foucault e Deleuze seriam formações discursivas inteiramente distintas e caberia aos sistemas explicativos não desconhecer a “novidade dos critérios”, fixando com rigor os cortes ou rupturas e tratando-os de maneira detida e criticamente.

A força desta distinção rompe com a rigidez do cartografismo histórico, reinterpretando fontes documentais e arquivísticas (Goody25, Black26, Cortes27), e permitindo-nos asseverar que a “nova

22 Cf. Bourdieu, Pierre – “Campo do Poder. Campo Intelectual e Habitus de Classe.” In: A Economia das trocas simbólicas. São Paulo. Perspectiva. 2007. p. 184. (tradução de Sérgio Miceli et al.).

23 Segundo Deleuze: “Gregory Bateson serve-se da palavra “platô” para designar algo muito especial: uma região contínua de intensidades, vibrando sobre ela mesma, e que se desenvolve evitando toda orientação sobre um ponto culminante ou em direção a uma finalidade exterior.” (Deleuze, 2007: 33). O trabalho de Bateson que é citado trata-se de: vers une écologie de l’espirit. Este termo “platô” que integra também o título do livro de Deleuze, anteriormente citado, é tomado à botânica e utillizado no estudo dos bulbos, tubérculos e rizomas.

24 Baudrillard nos convida a refletir que o mapa precede ao território, através dele é que o território seria construído. A gradação em pauta trata-se de um argumento polêmico, que busca inverter as proposições correntes seja de geógrafos ou de sociólogos. Esta interpretação levanta indagações: o mapa sucederia à consciência das fronteiras? No processo de cartografar é que a percepção do território se consolidaria? A polêmica é política e a eficácia das mobilizações é que habilita cada forma organizativa a dar suas respectivas respostas. Vide: Baudrillard, Jean – Simulacres et simulation. Paris. Galilée. 1981.

25 Cf. Goody, Jack – Renascimentos: um ou muitos? São Paulo. Editora UNESP. 2011. (trad. Magda Lopes). pp. 94,95 e 267-270.

26 Cf. Black, Jeremy – Mapas e História. Construindo imagens do Passado. Bauru, São Paulo. EDUSC. 2005; (trad. Cleide Rapucci).

ALFREDO WAGNER BERNO DE ALMEIDA

24

cartografia social” observa os ditames do rigor científico, incorporando a mobilização dos agentes sociais e suas respectivas formas organizativas e representações do território, bem como o aspecto extremamente dinâmico do processo de produção cartográfica.

Deleuze28, ao analisar “vigiar e Punir”, de Foucault, fala inclusive, de maneira explícita, de “um novo cartógrafo” (Deleuze, 2005:33). Para tanto ele sublinha que Foucault refuta um certo número de postulados, dentre eles os da “propriedade”, da “localização”, da “subordinação” e da “essência”. Aqui importa mencionar a crítica ao “postulado da localização”, segundo o qual “o poder seria o poder de Estado”, estando localizado no próprio aparelho de Estado (Deleuze, ibid. 35). Argumenta Deleuze que, para Foucault, ao contrário, haveria uma dispersão, isto é: “o próprio Estado aparece como efeito de conjunto ou resultante de uma multiplicidade de engrenagens e de focos que se situam num nível bem diferente e que constituem por sua conta uma “microfísica do poder”. (Deleuze, ibid. 35). As relações de poder perpassam povos, comunidades e grupos nas decisões de como construir o mapa ou de como delimitar seu território. Narrar memorialisticamente os pontos extremos, traçar uma linha, elaborar uma planta ou croquis, identificar pelo conhecimento local os marcos divisórios e os lindeiros, implica em confronto direto, em relações de poder.

O arrebatamento da questão por filósofos e cientistas sociais tem forçado, deste modo, aqueles domínios de conhecimento, já instituídos formalmente para pensar o processo cartográfico, a proceder a redefinições, ressemantizações e relativizações de noções básicas da cartografia, que haviam se tornado lugar comum e não

27 Cortés, E. L.; Ortiz, C. P.; González, R. A. B. – De la etnografia antropológica territorial a la etnografía de la globalización. Jalisco, México. Universidad de Gualajara. 2007.

28 Para Deleuze a interpretação de Foucault não assinalaria mais um lugar privilegiado como fonte de poder. Em decorrência ela recoloca as concepções de espaço físico e de espaço social, abrindo novas possibilidades de analisar as reações entre poder político e defesa do território. “Notar-se-à que “local” tem dois sentidos bem diferentes: o poder é local porque nunca é global, mas ele não é local nem localizável porque ele é difuso.” (Deleuze, 2005: 36). Cf. Deleuze, G. – Foucault. São Paulo. Editora Brasiliense. 2005 (trad. Claudia Sant’Anna Martins).

Apontamentos Para Uma “Nova Descriçâo”

25

mais requeriam explicações ou demonstrações de sua eficácia científica. A partir desta abordagem crítica verifica-se que, tanto o conceito corrente de cartografia29, quanto as “relações espaciais”, que caracterizaram historicamente o conceito cartográfico de território, estariam conhecendo atualmente uma certa dispersão e passando por transformações profundas. Por serem muito recentes e complexas, redefinindo inclusive as teorias acerca da categoria espaço30, reconceituando território31 e indagando quem é o sujeito da ação cartográfica, tais mudanças são difíceis de serem estimadas em toda sua extensão. Mediante esta pressão pluridisciplinar, que tem insistido no primado da reflexividade, relativizando o papel de quem produz os mapas, é que o processo de produção cartográfica já não

29 Conforme o manual “Noções Básicas de Cartografia”, de 1999, que corresponde ao número oitavo da série Manuais Técnicos em Geociências, organizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) através da Diretoria de Geociências e seu Departamento de Cartografia, tem-se que em 1966 foi estabelecido pela Associação Cartográfica Internacional (ACI) e posteriormente ratificado pela UNESCO o seguinte conceito de cartografia: “A Cartografia apresenta-se como o conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que, tendo por base os resultados de observações diretas ou da análise de documentação, se voltam para a elaboração de mapas, cartas e outras formas de expressão ou representação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômicos, bem como sua utilização.” (IBGE,1999:12). Nos termos deste manual este conceito seria “hoje aceito sem maiores contestações” (ibid.).

30 Harvey, inspirado em Henri Lefebvre, reconstitui a conceituação de espaço em Marx, que considera estreitamente ligada à problemática do imperialismo, e recupera as polêmicas em torno de uma produção do espaço. Discute, em resumo, a noção de capital como entidade espacial ou territorializada, isto é, o capitalismo avança sobre novos espaços físicos, acelerando a circulação das mercadorias e desestruturando, assim, o espaço através do “encurtamento” do tempo (Harvey,2011). Cf. Harvey, David – “the Geography of capitalist Accumulation: a reconstruction of marx’s theory”, Spaces of capital: toward a critical Geography. Edinburgh University Press. 2001; e também O novo imperialismo. São Paulo. Loyola,2004.

31 Chamando a atenção para reconceituações de território Bensaid, lendo Harvey, acrescenta que a “nova fase de acumulação do capital globalizado” está implicando numa reorganização de espaços e territórios, que conduz a uma hierarquização territorial e a medidas de controle extremo do trânsito de pessoas com a construção de uma série de muralhas, seja contra os palestinos, seja na fronteira do México com os Estados Unidos, seja em Ceuta, impedindo os africanos de terem livre acesso ao continente europeu (Bensaid, 2008:14). Cf. Bensaid, Daniel – Os irredutíveis teoremas da resistência para o tempo presente. São Paulo. Boitempo Editorial. 2008 (trad. Wanda Caldeira Brant).

ALFREDO WAGNER BERNO DE ALMEIDA

26

busca necessariamente, como sublinhado em momentos anteriores, a representação “objetiva” e acabada da superfície terrestre e se afasta da orientação normativa do positivismo.

Ao mesmo tempo cabe destacar que os mapas deixaram de ser instrumentos reservados principalmente aos doutos, aos sábios e aos “poderosos” ou aos aparatos de Estado. O acesso aos seus meios de produção, mesmo requerendo o conhecimento de determinadas inovações tecnológicas, acha-se disposto ao alcance de um público amplo e difuso. A vulgarização científica amplia significativamente as possibilidades de acesso ao conhecimento técnico antes restrito a especialistas e peritos. Com esta abordagem os mapas passam de uma construção privada, circunscrita a especialistas, para uma construção de sentido público ou aberta a um público amplo e difuso. Nesta brecha na conhecida oposição binária, público/privado, é que se posicionam aqueles que estão à margem da cena política legítima, passando a ter papel relevante nos mapeamentos sociais, recolocando-se, enquanto força social nas relações de poder. Eis o corolário: mapear é mobilizar-se política e criticamente, seja no plano discursivo, seja no plano das práticas coletivas, consistindo numa descrição em movimento para além de qualquer abordagem que tome a descrição como uma “textualização”, tal como sugere Clifford32 em relação a Geertz (Clifford, 2002: 39).

O processo de publicização da cartografia social, que a conduz ao patamar de “nova”, evidencia o quanto ela vai recusando os rótulos oficializantes ou se afastando das orientações manualescas e, num sentido oposto, se aproximando de abordagens críticas da “sociedade” e das mobilizações políticas que encaminham reivindicações territoriais às instâncias de poder. Conceitos com determinação de existência, tais como “processo de territorialização”33 (Pacheco de oliveira, 1998) e “mapeamento social” ou noções operativas como “territorialidades específicas” (Almeida, 2006) tornam-se instrumentos de descrição etnográfica. Com esta

32 Vide Clifford, James – A Experiência Etnográfica. Antropologia e Literatura no século XX. Rio de Janeiro. Editora UFRJ. 2002. (Organização e revisão técnica de José Reginaldo Santos Gonçalves).

33 Cf. Pacheco de Oliveira, João – “Uma etnologia dos “índios misturados”? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais”. Mana: estudos de antropologia social. Rio de Janeiro. PPGAS-MN-UFRJ. Nº 4/1.1998.

Apontamentos Para Uma “Nova Descriçâo”

27

aproximação podem ser elaboradas interpretações críticas mais percucientes e capazes de detalhar as implicações intrínsecas às diferentes modalidades oficiosas de mapeamento perpetradas por agencias estatais ou por agencias multilaterais (Bird, Bid) ou ainda por associações voluntárias da sociedade civil (ONGs), como acentua Acselrad34. O caráter oficioso das iniciativas destas referidas agencias nutre um pseudo-consenso em torno das práticas cartográficas de zoneamentos “etnoambientais” e “ecológico-econômicos” sob a regência de uma discutível “ambientalização35” (Leite Lopes, 2004:17), orientadora de critérios que passam a propalar o preceito de “proteger a biodiversidade” e de delimitar áreas de incidência de determinados recursos naturais, considerados “essenciais” ou “estratégicos”. Ainda que esta tendência persista pontificando com respeito à região amazônica, cabe registrar que estamos assistindo, neste início da segunda década do século XXI, um certo esgotamento de esquemas explicativos que privilegiam fatores ambientais para explicar realidades localizadas. A ênfase nestes “fatores ambientais” e seu poder explicativo revelam sinais de exaustão através de formações discursivas caracterizadas pela monotonia, pela repetição e pela enumeração infinita de autoevidências, criando condições propícias para a emergência de uma “nova descrição” de diferentes biomas, quaisquer que sejam, tanto referidos à região amazônica,

34 Em contraposição aos que consideram os mapas unicamente como instrumento de poder e não de resistência à dominação Acselrad nos convida a refletir sobre um vasto campo de conhecimentos em que a cartografia social tanto é vista como esforço de resistência às dinâmicas de globalização, quanto um instrumento de apoio à efetivação destas mesmas dinâmicas (Acselrad,2008: 10).Para um aprofundamento destas interpretações consulte-se as coletâneas organizadas por Henri Acselrad : i) cartografias sociais e territórios. Rio de Janeiro. IPPUR-UFRJ. 2008 e também ii) cartografias social e dinâmicas territoriais : marcos para o debate. Rio de Janeiro. IPPUR-UFRJ. 2010.

35 Reitero uma passagem do livro de Sérgio Leite Lopes que me parece bastante elucidativa: “O termo “ambientalização” é um neologismo semelhante a alguns outros usados nas ciências sociais para designar novos fenômenos ou novas percepções de fenômenos.” (Leite Lopes et al. 2004:17). Seu uso difuso e acrítico propicia uma interiorização das diferentes facetas da questão pública do “meio-ambiente” como se constituísse “naturalmente” um fator de consenso na vida social. Cf. Leite Lopes et al. (org.) – A ambientalização dos conflitos sociais: participação e controle público da poluição industrial. Rio de Janeiro. NUAP - Ed. Relume & Dumará. 2004 pp. 17-38.

ALFREDO WAGNER BERNO DE ALMEIDA

28

quanto à bacia do Prata. Pode-se concluir dizendo que a cartografia aproxima, pelas mobilizações políticas, o que a geopolítica separaria.

29

Retratos Sonoros. Soporte fotográfico y universo musical.

VALADO, Javier (Fotógrafo)

“Tengo una meta muy específica: Entender la humanidad a través de sus individuos”

Jorge Prelorán

1 Las múltiples búsquedas del ser humano por expresas sus diferentes estados de ánimo y sentimientos, se expresa desde hace millones de años con gritos, palmas, entre otras acciones, dando nacimiento a las formas mas primarias de percusión. El tambor en todas sus formas representa para mí una herramienta de comunicación de los pueblos, una especie de idioma universal que trasciende las fronteras del planeta tierra. Ahí radica su vital importancia: nos vuelve semejante más allá de nuestro color de piel, nacionalidad o creencia religiosa. Nos hermana.

“Aquí (en Santiago del Estero, Argentina) el bombo no nace como instrumento musical, sino como medio de comunicación. Se lo utilizaba para saber qué pasaba en el pueblo. Las personas se subían a los árboles con el bombo y hacían un tipo de sonido si había carne, otro si había baile, otro si había velorio. De esa manera la gente iba aprendiendo los códigos”. (Indio Froilán González)

JAVIER VALADO

30

Desde 2009 me dedico a realizar desde el soporte fotográfico investigaciones sobre percusión, canto y danzas ancestrales. Creo que la fotografía es una herramienta visual única para documentar dichos temas, ya que posee la particularidad de plasmar y describir un momento único e irrepetible en la fracción de segundo. En la imagen fija reside toda su potencialidad y magia. Por intermedio de la fotografía podemos recabar diversas informaciones (Épocas, cantidad y diversidad de personas, contextos geográficos y sociales, vestimentas, etc) que ayudan a poner en contexto y profundizar la investigación. En este sentido, la fotografía puede (y debe) ser un puente con los soportes escritos, sonoros y audiovisuales, generando así una retroalimentación, que en algunos casos termina construyendo un nuevo soporte comunicacional, que no anula a ninguno, sino que los potencia en la diversidad. Tener que escribir los textos, pensar las preguntas de las entrevistas, realizar y desgrabar las mismas, indagar en la etnografía, la antropología, etc. ha potenciado mi capacidad investigativa, repercutiendo positivamente en mis trabajos fotográficos.

El zoom de la cámara es equivalente a la incapacidad del fotógrafo para relacionarse con el otro. (Felipe Federico)

2 Cuando he decidido el tema a investigar, el grupo de personas con las que me voy a relacionar, a las que voy fotografiar, lo primero que me planteo es qué dinámica voy a proponerles a aquellas personas. Tengo bien claro que sin el fotografiado, no hay fotógrafo. Esa es la base desde la cual empiezo a construir el relato fotográfico. Si lo que quiero retratar es un mundo particular, que creo importante ayudar a difundir, revalorizar, tengo que ser parte de ese mundo, y para ello tengo que ser uno más en ese grupo de personas. Compartiendo el cotidiano es que me vuelvo “invisible”. Sólo en esos momentos surgen las fotografías más frescas e intimas. Mi mirada se torna complicidad y la investigación un proyecto importante para ese grupo de personas. La inmediatez de resultados no hace más que generar, en el caso de la investigación, una relación utilitaria con el otro. El fin no justifica los medios. El medio es el fin en si mismo, y sólo se llega a este con proyectos a mediano y largo plazo.

Lo más importante es la ética del investigador. Cómo uno se planta ante un tema que forma parte de tu identidad cultural, pero no de tu

Reatratos sonoros

31

comunidad de todos los días. Muy a menudo, que con el propósito de "investigar", llega gente de la ciudad en búsqueda de cultores de campo a los lugares donde se siguen conservando estas tradiciones, les sacan fotos, los graban, los filman, y después no hay una devolución, ni una producción hecha con seriedad, que aborde ese material desde un mínimo marco teórico conceptual. En este aspecto hay que trabajar la reciprocidad, el intercambio, y la reflexión. En síntesis, cultivar el respeto por el otro y sus costumbres y saberes. (Miriam García)

Tomando las palabras de Miriam, creo que ante la desigualdad de oportunidades y recursos que genera el sistema capitalista, es muy importante la socialización de los conocimientos. Tenemos que propiciar espacios de formación, de educación popular en los espacios donde estamos realizando la investigación, para que los protagonistas aprendan a utilizar las diversas herramientas a las cuales nosotros tenemos acceso por pertenecer a una clase social privilegiada (cámaras fotográficas, computadoras, etc.) y vayan capacitándose como comunicadores. De ese modo podrán compartir, informar sobre sus propias vivencias, sin esperar que otros lo hagan por ellos. Es imprescindible que sea la misma comunidad quien decida qué mostrar y cómo hacerlo, para que se rompa ese vínculo de dependencia con el investigador.

Cuando venían los mayores a casa mi Papá nos decía: bueno, váyanse a jugar. Era para que no escucháramos y aprendiéramos quichua (Victoria Medina)

3 El canto con caja es una manifestación social que realizan varios pueblos desde el sur de Colombia hasta el noroeste de argentino. En cada Encuentro de Copleros, hombres y mujeres no solo comparten el canto, también vivencias en común: La crianza en el campo, el desarraigo en la ciudad, la pérdida de costumbres. A medida que avanzaba en el libro Cuero que llora. Una investigación sobre el canto con caja en Argentina, los cantores y las cantoras con caja compartían conmigo sus historias de vida. Palabras llenas de añoranzas que visibilizaban diversas problemáticas sociales, y que me ayudaron a entender las características históricas y actuales del canto con caja.

Con nosotros vinieron las costumbres. Yo vine a los once años de Queta, que es un campo en el departamento de Cochinoca, Jujuy. Me

JAVIER VALADO

32

costó mucho. Yo hablaba mitad quechua, mitad castellano. Como me iba mal en el colegio, mi Mamá no me dejaba hablar en quechua, solo en castellano, y eso hizo que me olvidara muchas de las palabras. (Teodocia Guanactolay)

4 Para finalizar, quiero referirme a un tema central en mis investigaciones fotográficas: el de la producción, el financiamiento y la distribución de las mismas. El Bombo Legüero y Cuero que llora, fueron libros que he publicado de manera independiente, manteniendo de este modo la plena libertad para elegir los contenidos, el formato impreso y la comercialización. De este modo no tuve que depender de ninguna editorial, ni beca, ni subsidio, dejándome una experiencia altamente positiva en lo que refiere a la autogestión: La tranquilidad de saber que podré seguir publicando mis trabajos y aportando a la cultura. Fuentes: Valado, Javier & Maury-Robin, Yann, El Bombo Legüero, Buenos Aires, 2011 Valado, Javier, Cuero que llora. Una investigación sobre el canto con caja en Argentina, Buenos Aires, 2012

Contacto: [email protected]

proyectobomboleguero.blogspot.com.ar

LA EXPERIENCIA DE CONSTRUCCIÓN DE

UN ESPACIO COLECTIVO DE

CONOCIMIENTO

ALFAR - Un espacio para pensar-hacer desde las Identidades ¿De dónde partimos ? 1 Como dice Eduardo Grüner:

(…) La crisis del nuevo “modelo de acumulación” implementado en los años 70, y en términos más históricos, el cada vez más evidente fracaso –por no decir catástrofe– civilizatorio del capitalismo, junto con el progresivo crecimiento de los nuevos movimientos nacionales, regionales y mundiales de resistencia a una globalización genocida y “etnocida”, empiezan a hacer impacto también en el universo simbólico-cultural. El contexto es todavía de profunda incertidumbre y desorden, y sería excesivamente audaz arriesgar una dirección precisa del nuevo proceso. Pero no cabe duda que están sentadas las condiciones para repensar críticamente la cultura, para recrear una cultura crítica, con todo el nivel imprescindible de (relativa) autonomía y especificidad, pero también con un nuevo impulso de puesta en evidencia del carácter conflictivo, de campo de batalla, de la esfera cultural.2

1 La presentación oral fue acompañada con un ppt con testimonios en imágenes de la acciones

2 La Teoría Marxista hoy. Problemas y perspectivas, Buenos Aires, Clacso, 2006. Décimo Quinta Clase “Marxismo, cultura y poder”.

ALFAR

En ese marco, creemos que hoy en el plano de la subjetividad humana, de las ciencias, de las artes hay manifestaciones que vienen desarticulando los cimientos de la modernidad: un cambio de época, similar al que caracterizó el surgimiento de la agricultura o del cristianismo, o el pasaje del mundo feudal a la modernidad. En tales momentos, hubo cambios en la organización social y se pasó de la recolección a la agricultura modificando el sistema de vida, o se constituyó la idea de un único dios-hombre, o se reemplazó el sentido que se otorgaba a dios por la razón, produciendo así la caída del orden instalado.

Del mismo modo, decimos que nos toca vivir un tiempo especial, cuyos gritos y planteos vienen escuchándose desde hace más de un siglo y medio. Gritos que parecían incomprensibles en sus inicios y que comenzaban a sacudir una determinada visión de la cultura, de la concepción del sujeto y de la forma de estructurarse la experiencia humana. Estos planteos, que vinieron a subvertir el orden donde estaba apoyada toda la estructura dominante, el sistema hegemónico reinante, no fueron escuchados.

Hoy, por el contrario, los gritos son evidentes y suficientes para que nos constituyamos en gestores de una posición que abogue por cambios radicales en el plano cultural. Y nos ponen en la urgente necesidad de reflexión ya que estas transformaciones ponen en crisis el sentido mismo de la existencia. Si en las diferentes épocas pareció que se derrumbaban las verdades instaladas, siempre también tales momentos permitieron sustituir viejas racionalidades por otras, que revisan y cuestionan las legalidades y el sentido.

Por eso señalamos que la mayor dificultad para el cambio se encuentra en la lectura que hacemos de las lógicas del orden instituido desde el pensamiento, de ese discurso que constantemente permea la realidad y que obtura las posibilidades de leer las potencialidades que despliega la realidad. Nos quedamos, así, en el límite de las determinaciones, de la imposición de modelos de referencia que se muestran como accesibles.

En tal sentido, creemos que estamos inmersos en discursos que nos enmascaran la realidad y nos entrampan en las palabras. El lenguaje, como es sabido, constituye un elemento privilegiado en la construcción, mantenimiento y refuerzo de hegemonía: la potencia de nombrar es ejercida y confiscada desde el orden instituido que se arroga el derecho de otorgar o callar la palabra y de legitimar lingüística y discursivamente las "verdades" confiscando sentidos

La Experiencia De Construcción De Un Espacio Colectivo De Conocimiento

¿Cuál es el problema? Se centra en las dificultades para:

romper con la seguridad para liberarse de los límites y creer que la utopía sea realizable

desnaturalizar de las relaciones dadas

reconstruir los lazos sociales

encontrar la potencialidad de lo des-conocido

pensar la realidad en movimiento, abiertos a lo inédito e in-explicable

trabajar coyuntura - praxis encontrando un modo de meternos en nuestra subjetividad, en la autoconciencia de lo real del trabajo cotidiano.

hacer viable la anticipación como condición de lo político

superar el tiempo estratégico -ausencia y vacío- y mirar hacia el futuro.

superar los esquemas que tratan de explicar lo que pasa

preguntar a la teoría que sostiene nuestra práctica

no "zafar", acomodándonos al esquema impuesto, quedándonos en la superficie, en el sentido común

evitar “lo siniestro”3 que nos lleva a repetir para no recordar

asumir la realidad, para que no nos la construyan: posicionarnos como sujetos históricos

leer "nuestro libro" (el propio de cada uno), desde donde se desvanecen las certezas ante la información que tenemos y la necesidad de categorías rígidas sin tiempo ni espacio.

Estas dificultades pasan principalmente por el cuestionamiento

de nuestra matriz cultural y la construcción de un nuevo paradigma en el campo del conocimiento, especialmente en las ciencias humanísticas o sociales, que se contraponga al “viejo” paradigma eurocéntrico, unicista, determinista, ahistórico, atemporal, descontextualizado, a la vez que fragmentario y divisorio. Es decir que nos planteamos la necesidad de cuestionar y superar la idea de un saber cierto, objetivo, único y neutral.

3 En el sentido que le otorga Castoriadis.

ALFAR

La tensión entre la reproducción (de lo viejo) y la transformación (en lo nuevo) está instalada en nuestro accionar cotidiano. Es desde nuestra práctica, desde el centro de lo nuestro, que es preciso dar la batalla cultural para construir conocimientos desde otra perspectiva, desde nuevos ángulos. Porque en lo cotidiano se constituye el espacio de luchas y de derechos, porque el cotidiano es portador de significados democráticos y liberadores. Desde las grietas de esos microespacios es que puede aflorar lo nuevo, el pensamiento como trasgresión al poder.

Algo está naciendo su campo experimental, es incipiente, lo viejo todavía tiene demasiado peso, que venga lo que nunca ha sido Amaru la racionalidad subterránea (Graffiti que apareció en las calles porteñas para diciembre del 2001)

Justamente este graffiti nos da pie a plantear un ejemplo que, por lo vivencial y lo contemporáneo, puede descubrir los matices que la distancia temporal y espacial ocultaría. Las movilizaciones del 19 y 20 de diciembre de 2001 en la Argentina sacudieron la trama política. Tiempos, espacios y formas de esa política fueron conmovidos y alterados. La complejidad del fenómeno mostró como el encorsetamiento en moldes, conceptos y categorías, que pretendieron interpretarlo desde conceptos como "clase media", "multitud", "pueblo", "ahorristas", "basismo", "soviets", "rebelión ciudadana", etc., aprisionó la realidad. Este caleidoscopio de intereses particulares, que buscan espejos, expresiones y herramientas para construir un contrapoder protector ante el avance devastador del capitalismo sobre nuestros bienes, derechos, cuerpos, tiempos, identidades, quedó abortado por los viejos parámetros.

Pudimos percibir, en esos momentos, la Identidad como nicho donde convivían, al mismo tiempo, la posibilidad de persistir en cada especificidad y los límites y el encierro opresivo. Así vimos cómo la práctica política no garantizó la transformación de los vínculos sociales en el sentido de promover una subjetividad autónoma común. Vimos cómo el conflicto entre organización y no organización, dilema originado en un saber pretendidamente unívoco sobre la "única y verdadera organización política", ayudó a frustrar el momento. Vimos cómo los nuevos movimientos, variables y diversos en organización, se apropiaron de los espacios públicos y sus

La Experiencia De Construcción De Un Espacio Colectivo De Conocimiento

instituciones (educación, salud, previsión, asistencia social y cultura) mediante la introducción participativa de sus lógicas democráticas específicas en el caos impuesto por la mercantilización. Todo eso se pudo ver pero no leer.

Fui lo hice y después me enteré que era imposible (Graffiti que apareció en las calles porteñas para diciembre del 2001)

Nuestra propuesta Ante tal situación y los límites propios e institucionales, decidimos abrir un espacio autónomo para el pensamiento, para las posibilidades y las rupturas, espacio que se construye todos los días confrontando nuestros parámetros con nuestras prácticas. Este espacio se denomina ALFAR4 un espacio para pensar-hacer desde las identidades. ¿Quiénes somos? Somos un grupo que viene trabajando, desde 2001, en distintos espacios -universidades, sindicatos, escuelas, organizaciones indígenas- unidos por un vínculo central: la educación pública.

Nos constituimos alrededor de un interrogante central: cómo pasar del "hombre mínimo" al “ser humano”, que pueda participar de un proyecto y de un sujeto colectivo. Asumiendo como opción metodológica la formación de Círculos de Reflexión nos propusimos5:

Recuperar la realidad en toda su amplitud, para que lo determinado histórica y culturalmente no nos limite y así constituirnos como sujetos recuperando la capacidad de asombro y de imaginación que necesita nuestra conciencia.

Revisar los esquemas o preconceptos, que muchas veces creemos son los que nos permiten resolver situaciones o accionar.

Realizar una construcción colectiva de nuevas posibilidades, transformando el miedo en esperanza.

4 El lugar donde siente, hace, crea el alfarero. 5 La propuesta está inspirada en los “Círculos de Reflexión Latinoamericanos”, del

sociólogo chileno Hugo Zemelman y la pedagoga argentina Estela Quintar, responsables de IPECAL (Instituto de Pensamiento Latinoamericano) en México.

ALFAR

Profundizar el debate, la apertura de ideas y la construcción colectiva de conocimiento.

Incentivar la decisión de participar, de involucrarse en la transformación y en el trabajo conjunto entre "diferentes".

Trabajar en un proceso de articulación política, de articulación social de escuelas y de redes de docentes e instituciones.

-Constituir un grupo que pueda trabajar con total honestidad, con total explicitación de sus supuestos, poniendo "sobre la mesa" nuestras concepciones, y también llevar adelante una estrategia con el compromiso.

Consideramos que el Círculo constituye un espacio ético-político-epistémico donde la persona se rescata como persona, más allá del colectivo de pertenencia, encontrándose consigo mismo en la práctica social y preguntándose desde qué sujeto colectivo de pertenencia es necesario pensar, cómo reconocer las macro situaciones de las micro situaciones y ver sus articulaciones en la realidad . ¿Qué hacemos? Considerando que Alfar tiene como objetivo el sostenimiento de un espacio sistemático para el desarrollo de redes que trabajen propuestas alternativas en educación considerando diversas identidades socioculturales, nos centramos en las siguientes líneas de acción:

implementación de cursos y la organización de seminarios y talleres.

implican la articulación entre experiencias y/o instituciones, el asesoramiento a instituciones y organizaciones sociales y la participación en encuentros, talleres, jornadas etc.

de difusión y en diferentes tipos de soportes y formatos (impresos, en formato electrónico, audio, video),los cuales apuntan a constituirse en insumos para la difusión y la

La Experiencia De Construcción De Un Espacio Colectivo De Conocimiento

práctica docente en diferentes regiones del país, abordando la multiculturalidad del contexto.

Investigación, que involucra la elaboración continua de bases de datos, el diseño e implementación de proyectos interdisciplinarios de investigación y/o intervención, la conformación y mantenimiento de una biblioteca circulante multimedia.

Nuestra participación en la organización e implementación de

encuentros locales y regionales en distintos lugares del país, que propugnan el diálogo y la reflexión conjunta entre docentes, pueblos originarios y otros actores educativos, ha favorecido la conformación y fortalecimiento de redes. Mencionamos especialmente la organización del "1er. Encuentro Nacional de Educación e Identidades: Los Pueblos Originarios y la Escuela", que se realizó en Luján (2003), y de diversos encuentros zonales y regionales en la provincia de Buenos Aires (localidades de Avellaneda, La Matanza, Tigre, Junín, Quilmes, Florencio Varela, San Martín, Almirante Brown, San Miguel, Mar del Plata, Ramallo, Chivilcoy, Carmen de Patagones, Saladillo), Ciudad de Buenos Aires, Bariloche (Río Negro), Tilcara (Jujuy). Estos encuentros fueron organizados conjuntamente por la Mesa de Trabajo de los Pueblos Originarios y los Sindicatos docentes de base y contaron con la asistencia de entre cien y doscientos participantes en cada encuentro (2001-2007).

Entre las actividades que reconocemos como antecedentes se encuentra el apoyo y sostén a diversos actores educativos (individuales y/o institucionales) a través de procesos de reflexión, diseño, elaboración e implementación de acciones innovadoras en la educación formal y "no formal". Del mismo modo, participamos en el apoyo a diversas experiencias y conflictos atravesados por dimensiones socioculturales. En tal sentido, por ejemplo, mencionamos nuestro apoyo a organizaciones mapuche de Los Toldos, asociación Educadores Originarios de Formosa, docentes wichí de Salta, grupo aymara-quechua de la Wak'a, escuelas en el Conurbano bonaerense, etc.

Básicamente, en los últimos años vinimos apostando a la intervención en el sistema educativo apuntando a la constitución de redes. El desafío, tanto académico como social, que hemos asumido (individual y colectivamente) ha sido abrir espacios para personas que están, de hecho, en la práctica educativa aun cuando no hayan tenido

ALFAR

oportunidad de formarse académicamente, permitiéndoles así ampliar su quehacer profesional e intelectual.

La propuesta educativa de formación ha consistido centralmente en la implementación de cursos de extensión universitaria6, organizados y acreditados por la Universidad Nacional de Luján (hasta 2005, en convenio con la CTERA), que abordan la diversidad sociocultural y lingüística mediante el análisis de las condiciones sociohistóricas que la sustentan y de la confrontación de los fundamentos conceptuales (sociolingüísticos, socioculturales y pedagógicos) de tales diferencias, promoviendo la investigación participativa. Tales cursos se han caracterizado por incluir actores educativos sin exclusiones por la titulación, inserción laboral y/o origen sociocultural, que estén vinculados con la educación. Del mismo modo, miembros de ALFAR hemos participado activamente en el curso “Educación e Identidades” del CePA (Escuela de Capacitación Docente de la Secretaría de Educación de la Ciudad de Buenos Aires), implementado en 2004, 2005 y 2006, y en las asignaturas optativas "Educación intercultural bilingüe" (2003) y "Educación intercultural" (2005) del Depto. de Educación-UNLu.

Consignamos una síntesis de las principales acciones realizadas por Alfar en Formación y actualización docente:

Cursos de extensión UNLu - ALFAR

Años 2004/ 2012

Sedes

Educación Intercultural (8 réplicas)

2004-05

2005-06

2007-08 2009 2010

Buenos Aires Formosa

Buenos Aires Los Toldos (BA)

Río Negro Neuquén Neuquén

Formación de Coordinadores de

Círculos de Reflexión (7 réplicas)

2004-05 2005-06 2007-08

2009 2010

Buenos Aires Buenos Aires

Río Negro Neuquén Neuquén

6 Cursos semipresenciales: Educación Intercultural; Formación de Coordinadores de Círculos de Reflexión (2004, 2005 y 2007); Educación Intercultural II; Conocimiento y diagnóstico de la diversidad (2005) y Educación Intercultural Bilingüe (2007).

La Experiencia De Construcción De Un Espacio Colectivo De Conocimiento

2012 Moreno (BA)

Educación Intercultural II

c(3 réplicas)

2005-06 2009 2010

Buenos Aires Neuquén Neuquén

Conocimiento y diagnóstico de la

diversidad

2005-06 Buenos Aires

Educación Intercultural Bilingüe

2007-08 Formosa

Colaboración con el dictado de Asignaturas en la Univ. Nacional de

Luján

Años 2003/2013

Carreras

Educación Intercultural Bilingüe (optativa)

2003 Educ. Inicial Cs. Educación

Educación Intercultural (optativa)

2005 Educ. Inicial Cs. Educación

Educación Intercultural (obligatoria)

2010 2011 2012

Educ. Inicial

Interculturalidad y educación (optativa)

2011 2012

Cs. Educación

Interculturalidad I-II (optativas)

2011 2012

Trabajo Social

Heterogeneidad en los participantes

Perfil de los participantes

Provincias de origen

Pertenencia étnica

Nivel educativo Ocupación

ALFAR

Buenos Aires Chaco Chubut Formosa Jujuy Mendoza Neuquén Río Negro Salta Santa Fe Tucumán Ciudad de Buenos Aires (CABA)

aymara diaguita-calchaquí guaraní kolla mapuche mocoví pilagá quechua tehuelche toba-qom wichi "criollo"

Primario Secundario Terciario maestro de grado maestro bilingüe MEMA (Formosa) ADA (Chaco) profesor enfermera Universitario

agente sanitario albañil comerciante desocupado director/vicedirector docente documentaista empleada doméstica empleado empleado público enfermera estudiante gremialista guía de turismo líder comunitario orientador indígena tapicero trabajador social

Inserción en el sistema educativo

Áreas Curriculares

Niveles Modalidades Población atendida

lengua matemática ciencias sociales ciencias naturales artes plásticas música educación física artesanía lengua indígena

inicial primario secundario terciario universitario

Formal común técnica agrícola adultos aborigen biligüe especial No formal

indígenas inmigrantes gitanos niños en situación de calle niñas madres "travestis" sordos

A las acciones en marcha se suma en 2011 , la coordinación y

el dictado de la carrera de “Postítulo de Actualización Académica en Educación Intercultural”, en el Instituto Superior de Formación

La Experiencia De Construcción De Un Espacio Colectivo De Conocimiento

Docente N° 105 - D.G.E y C. – (Dictamen 1390/10) en Ciudad Evita, La Matanza (prov. de Buenos Aires) . Actualmente se encuentran cursando el segundo año, cincuenta docentes de distintos niveles y modalidades de enseñanza. ALFAR en la Cátedra Abierta Intercultural Desde inicios del 2012, conformamos la CÁTEDRA ABIERTA

INTERCULTURAL 7 con el propósito de constituir un espacio interinstitucional e itinerante, de formación interdisciplinaria y comunitaria que promueva la articulación de saberes y prácticas generadas desde los conocimientos y las experiencias de diversos sujetos sociales y culturales. Su área de acción está, por el momento, acotada a la Ciudad de Buenos Aires, conurbano y provincia de Bs As. Alfar co-coordina la Cátedra junto con las siguientes organizaciones:

AEIEA Área de Estudios Interdisciplinarios en Educación Aborigen – UNLu

ASAFTI Asociación Sudamericana de Filosofía y Teología Interculturales/ GIEIL Grupo Interdisciplinario de Estudios Interculturales Latinoamericanos

UTE (CTERA-CTA) Unión de Trabajadores de la Educación - Secretaría de Educación CFP Nº14

LA WAK'A Espacio Simbólico Significativo y Encuentro de los Pueblos Originarios de Parque Avellaneda C.A.B.A.

Durante el primer año de actividad, se realizaron ocho

encuentros abiertos, articulando con distintos espacios de formación y capacitación: paneles, charlas, encuentros de intercambio de experiencias, proyección de documentales. La asistencia osciló entre 40 y 300 asistentes. Las actividades se realizaron en C.A.B.A. y en Ciudad Evita (La Matanza) .

Un informe detallado de actividades realizadas en 2012 y en marcha en 2013 se pueden encontrar en:

www.facebook.com//CátedraAbiertaIntercultural.

ALFAR

7 Integrado por La Wak’a.

ALFAR

Un espacio para pensar-hacer desde las Identidades

[email protected] http://www.alfarcolectivo.wordpress

.com

45

CRÓNICAS SOBRE LAS JORNADAS

FUNES, Rodolfo (Mapuche) Maestro en Ciencias del Ambiente por la

Universidade Federal do Amazonas - UFAM

Las JORNADAS INTERUNIVERSITARIAS “CONOCIMIENTOS

TRADICIONALES – DE LA PAN-AMAZONIA AL RÍO DE LA PLATA” realizadas del 18 al 20 de Octubre de 2012, en la sala 3019, de la Universidad Nacional de General Sarmiento, Instituto del Desarrollo Humano, han resultado en un importante y singular momento histórico para los pueblos indígenas de Latinoamérica. Ocho universidades latinoamericanas se hicieron representar por renombrados especialistas y maestros.

Conocimientos ancestrales milenarios originarios del corazón de la selva amazónica, como: el dominio de las plantas medicinales y sus principios activos curativos; la Cosmogonía indígena y sus evoluciones a través del tiempo; la música intuitiva y los misterios su ejecución por medio de instrumentos tradicionales, estuvieron allí representados por un Pajé (chamán) Kissibi, Tuchaua del pueblo Dessana del Rio Negro, localidad Tupé1, considerado por el Gobierno del Estado del Amazonas como importante médico tradicional apto para actuar en la entrada de las unidades de

1 Las tierras indígenas del Pueblo Dessana de Tupé se localizan en la margen

izquierda, a aproximados 25 Km de la ciudad de Manaus.

ROLANDO FUNES

46

tratamiento intensivo de importantes hospitales del Sistema Único de Salud local.

En esta Universidad, tiemplo de conocimientos, estudios y pesquisas académicas el Pajé (chamán) Kissibi, cuya ascendencia original se pierde en los milenios del tiempo, siendo transmitida de padre para hijo por innumerables generaciones, se encuentra: con el werken2 Don Segundo Quintupil, del pueblo Mapuche, guardián de las tradiciones, del idioma, de la música, de la danza y de los rituales ancestrales, congénere de Kissibi; con el Lonko 3 Mapuche Rodolfo Coliqueo, Tataranieto del Lonko original Ignacio Coliqueo, que cruzó los Andes en 1822, buscando tierras para asentar su tribu y crear un nuevo futuro lejos de los peligros y las persecusiones que sufrían en Chile; Rodolfo Mapuche, Lonko del Pueblo Mapuche del Amazonas; con el Werken 4 Tata Nahuel, guardián de la historia de la tribu y sus tradiciones, punto de referencia indispensable en toda pesquisa o visita turística; con Myrian Muñoz , hija, nieta, sobrina y aprendiz de tejedora descendiente directa de una familia de tejedores, que conservan las técnicas de tratado de la lana y del uso del telar de palo; y con Miguel Güemil, hombre del pueblo Mapuche, que fue retirado de la tribu cuando pequeño y siente la necesidad de descubrir su origen, su identidad, su familia.

Este contacto generó una gran empatía que hizo fluir naturalmente importantes conocimientos, informaciones y confidencias que enriquecieron los saberes y la experiencia de estos importantes exponentes de sus pueblos.

Con este espíritu abierto, dispuestos a apreciar con avidez todo lo que pudieran absorber de este primer encuentro, los sobredichos exponentes del pueblo Mapuche, tuvieron contacto con el ambiente académico universitario tan variado, como fértil de la Universidad Nacional de General Sarmiento y de la Universidad del Estado de Amazonas – UEA de Brasil5, que tienen tanto en común,

2 Werken: sabio indígena guardián de las tradiciones, del idioma, de la música,

de la danza y de los rituales ancestrales. 3 Lonko: en la lengua mapuche, significa cabeza, aquél que organiza y

comanda. 4 (vide nota 2) 5 La Universidad del Estado do Amazonas – UEA participó de las JORNADAS

INTERUNIVERSITARIAS “CONOCIMIENTOS TRADICIONALES – DE LA PAN-AMAZONIA AL RÍO DE LA PLATA”, realizadas por la Universidad Nacional

Crónicas sobre las Jornadas

47

47

como por ejemplo, la pesquisa honesta, el deseo de siempre ir más allá y pensar firmemente que el mejor resultado será el próximo.

Encuentro del Pajé Kissibi con el Wuerken Quintupil

Sentados lado a lado y conversando de igual para igual,

doctores y pajés, Lonkos y investigadores, Werkenes y graduados, miembros del pueblo Mapuche, alumnos y convidados, crearan un clima de harmonía y comprensión natural, basado únicamente en la igualdad solidaria.

de General Sarmiento, con la co-coordinación del profesor Alfredo Wagner (que representaba UEA).

ROLANDO FUNES

48

Encuentro del Pajé Kissibi, Wuerken Quintupil y Wuerken Tata Nahuel

Pajé Kissibi con profesores de la Universidad General Sarmiento

Crónicas sobre las Jornadas

49

49

Pajé Kissibi con el Profesor Alfredo Wagner Coordinador de las Jornadas Universitarias

Lonko Rodolfo Mapuche, Pajé Kissibi, Professora Dina Picotti y Miguel Guemil

ROLANDO FUNES

50

Este relacionamiento harmónico fue fruto de la dedicación, la

garra y la férrea persistencia de la profesora Dina Picotti. La presencia de la Profesora Dina Picotti en este escenario es

de gran importancia pues ella se ha engajado en la lucha indígena por el reconocimiento de sus derechos desde las épocas más difíciles, cuando trabajó durante 20 años con un religioso católico que, al contrario de la mayoría de sus pares, defendió la causa indígena con tanto esfuerzo y tenacidad que, cuando falleció, tuvo sus restos mortales enterrados en el cementerio de la tribu cuyo pueblo defendía, a pedido de los miembros de este mismo pueblo que le rogaran a la Iglesia que se los cediesen para que el sobredicho cura tuviera un entierro indígena.

La profesora Picotti acompañó y tuvo contacto con el trabajo del Doctor Eulógio Frites, abogado Coya, que trabajó en los ingenios del Patrón Costa, en el norte argentino y es el autor material de toda la buena legislación indígena de nuestro país, militante activo y guerrero de la defensa de los pueblo originarios, siendo también Secretario de la Comisión para la recuperación de los terrenos usurpados de la tribu en que también participó Rodolfo Coliqueo.

Doctor Eulogio Frites

Crónicas sobre las Jornadas

51

51

Lonko Rodolfo Coliqueo del pueblo Mapuche de Los Toldos

Rodolfo Coliqueo en compañía de Rodolfo Funes, decidieron

atravesar el desierto y pasando por Zapala, llegaron a Villa Pehuenia, a la orilla del Lago Aluminé, para realizar un trabajo de pesquisa sobre las realidades específicas y las colisiones de intereses en las sociedades contemporáneas de Argentina, identificando las estrategias de resistencia y articulación de pueblos indígenas en condiciones desfavorables. Las dichas condiciones, son, por ejemplo: la reestructuración de los mercados inmobiliarios; la inversión financiera a largo plazo con retorno garantido; el esfuerzo de los gobiernos provinciales y municipales por la desterritorialización de los pueblos originarios para ceder espacio a las grandes obras de infra-estructura o simplemente para negociar las tierras con mineradoras o compañías compactadoras de gas, como en el caso de la Piedra del Águila6.

6 El caso de la Piedra del Águila: en este caso el juez del Juzgado Civil de

Cutral Co les dio gaño de causa a los Mapuches, ordenando la reintegración de pose y la salida de la compañía compactadora de gas que estaba en tierras reconocidamiente indígenas (vide la noticia en los anejos).

ROLANDO FUNES

52

Diário Rio Negro – Regionales – Sábado, 19 de Marzo de 2011

Cuando pasamos en la Piedra del Águila el juez del Juzgado

Civil de Cutral Co, dió gaño de causa a los Mapuches, contra una compactadora de gas, ordenando que la compañía saliera de las tierras indígenas que había ocupado. Al quedarse sin patrón y forzados por la orden judicial, los pistoleros contratados por la empresa compactadora de gas, se retiraron sin resistencia, permitiendo que los indígenas ocupasen pacíficamente la planta y la policía se mantuvo a distancia evitando enfrentamientos desnecesarios.

En Villa Pehuenia, a 23 Km de la frontera de Chile a la orilla del Lago Aluminé, en compañía de Rodolfo Coliqueo conversamos con Ema Puel, una matriarca Mapuche de 69 años con cuatro hijas y un solo varón, que cria caballos, cabras y ovejas y que resistió bravamente a los ataques de las cuadrillas de pistoleros financiados por las compañías inmobiliarias. El frente de su casa está con innumerables perfuraciones de bala de distintos calibres y podemos ver en las fotografías que la bandera Mapuche, hastiada en el frente del terreno, junto a la tranquera, más parece un colador de tantos agujeros de balas, pero por su resistencia obtuvo una sentencia

Crónicas sobre las Jornadas

53

53

favorable pronunciada por el Juez de la Comarca concediendole la propiedad de la tierra y haciendo que otros miembros del pueblo consiguieran el mismo resultado.

Ema Puel, sus hijas y nietas com Rodolfo Coliqueo

ROLANDO FUNES

54

Ema Puel, su hija y Rodolfo Mapuche

La Bandera crivada de balas

Crónicas sobre las Jornadas

55

55

En el Lago Lolen en la salida de San Martín de Los Andes

hacia Bariloche, el pueblo Curru Huinca, tiene una excelente aplicación práctica de una planificación inteligente junto con una eficaz administración de sus recursos naturales.

Lago Lolen – Comunidad Mapuche Curruhuinca

ROLANDO FUNES

56

Cabañas de Troncos

Iniciando por el alquiler de las orillas de su lago para la

instalación de carpas para turistas, principalmente de jóvenes mochileros, alquiler de caballos y parrillas, invistieron su dinero en la construcción de cabañas de troncos de excelente aspecto y muy confortables que sin duda alguna contribuirán con el mejoramiento de la renta de todas las familias.

Poder compartir estas informaciones durante las mesas de trabajo de las jornadas, nos dio la seguridad de haber avanzado en la divulgación de estos hechos injustos, pues para combatirlos es necesario conocerlos.

Se percibió que la unión de todos, mapuches y maestros, indígenas y académicos, colaboró con el objetivo principal de las jornadas, que es ampliar la perspectiva del debate, del intercambio y la comparación intercultural de datos en países cuya naturaleza es multicultural, como los de Latinoamérica.

Fue muy importante mostrar que, a pesar de la falta de interés del gobierno en todos los niveles en cumplir y hacer cumplir la ley y el artículo 75 de la Constitución Nacional, hay indígenas que quieren y intentan recuperar sus territorios consiguiendo, en muchos casos, decisiones jurídicas favorables.

Crónicas sobre las Jornadas

57

57

Mas territórios recuperados siguiendo el ejemplo de Ema Puel

En 27 de Noviembre de 2011, se realizó una importante

reunión en la Universidad de Buenos Aires, en la sala de Aula Magna, de la Facultad de Derecho, con la presencia del Relator General de los Derechos Humanos de los Pueblos Indígenas, ONU, Profesor Doctor por Harvard, James Anaya, de la etnia Comanche donde se denunciaron los más variados abusos e injusticias cometidos impunemente, tanto por el poder público como por grandes hacendados, propietarios de ingenios, mineradoras, compañías de petróleo, etc., sin que ninguna medida sea tomada, ni se haya pronunciado ninguna acusación o defensa, ni sentencia en cualquier época citando la legislación sobre los derechos indígenas.

ROLANDO FUNES

58

Doctor Eulogio Frites, Rodolfo Mapuche, Professor Doctor James Anaya

Al ser indagada sobre este particular, la decana de la UBA,

Universidad de Buenos Aires, reconoció que nunca fue administrada, en aquella institución, una cátedra al respecto y que no existen profesores preparados para tal fin hasta el día de hoy.

Se abre con estas jornadas un nuevo camino para el reconocimiento de la ancestralidad de los territorios de los pueblos indígenas: el camino de la dignidad, del estudio para adquirir conocimientos de igual para igual, que permitan tener abogados indígenas, ingenieros, médicos y todo tipo de profesional necesario para hacer valer nuestros derechos milenarios, ganar respeto por nuestros conocimientos tradicionales, nuestra Cosmogonia, nuestra cultura y principalmente el derecho de consulta previa antes de iniciar cualquier tipo de trabajo o pesquisa en nuestros territorios, donde obligatoriamente todo el pueblo se manifieste, basados en la convención 169 de la OIT y la Declaración de los Derechos de los Pueblos Originales de la ONU . Para todos Pew Caial. (Nos estamos viendo) Mariciweau (Volveremos, seremos muchos y venceremos)

La Jornada Conocimientos Tradicionales de la Pan-Amazonía al Rio de la Plata es pensada sobre una triple articulación: de instituciones que buscan gestar espacios de cooperación inter-universitaria; de sus profesores e investigadores que identifican objetos de conocimientos y prácticas de investigación con lineamientos semejantes; de agentes y movimientos sociales que se reconocen y son reconocidos como productores, practicantes de conocimientos tradicionales.

La edición 2012 de las Jornadas fue realizada en Los Polvorines (Buenos Aires, Argentina) en la Universidad Nacional de General Sarmiento entre el 18 y el 20 de Octubre. La presente publicación expresa en parte los temas discutidos en ese encuentro.

ACTAS DE LAS JORNADAS

E D I C I O N P R E L I M I N A R

CONOCIMIENTOS TRADICIONALES DE LA PAN-AMAZONIA AL RIO DE LA P L A T A