a propaganda política - f. c

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estudos das formas da propaganda politica usadas durante a historia

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  • 7/18/2019 A Propaganda Poltica - F. C

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    F. C. Bartlett

    A PROPAGANDA POLTICARidendo Castigat Mores

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    A Propaganda PolticaF. C. Bartlett

    Edio

    Ridendo Castigat Mores

    Verso para eBookeBooksBrasil.org

    Fonte Digitalwww.jahr.org

    Copyright Autor: F. C. BartlettEdio eletrnica:

    Ed. Ridendo Castigat Mores(www.jahr.org)

    Todas as obras so de acesso gratuito. Estudei sempre porconta do Estado, ou melhor, da Sociedade que paga

    impostos tenho a obrigao de retribuir ao menos uma gotado que ela me proporcionou. Nlson Jahr Garcia (1947-

    2002)

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    NDICEAPRESENTAOINTRODUOCAPTULO IO ambiente

    Aglutinao nacional e concentrao urbana Inveno de novas tcnicasCAPTULO IIAs duas fontes da propaganda

    Publicidade Ideologia polticaCAPTULO IIIPropaganda de tipo leninistaCAPTULO IVPropaganda de tipo hitleristaCAPTULO V

    Leis e tcnicasLei de simplificao e do inimigo nico Lei de ampliao e desfigurao Lei de orquestrao Lei de transfuso Lei de unanimidade e de contgio Contrapropaganda

    CAPTULO VIMito, mentira e fatoCAPTULO VIIOpinio e propagandaCAPTULO VIIIDemocracia e propaganda

    NOTAS

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    A PROPAGANDA

    POLITICA

    F. C. BARTLETT

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    APRESENTAO

    Nlson Jahr GarciaO que Propaganda Poltica? H um problema em

    portugus. Em vrias lnguas h uma distino lingusticabem clara entre os tipos de comunicao persuasiva.

    Geralmente a palavra Propaganda se refere transmissode idias, sejam polticas ou religiosas. Publicidade serefere difuso de produtos, servios ou candidatos

    polticos. Em francs h Propagande e Publicit emingls Propaganda e Advertising, espanhis distinguementre Propaganda e Publicidad. Em portugus no,Propaganda e Publicidade so utilizadas indistintamente,da utilizarmos as expresses Propaganda Ideolgica ePropaganda ou Publicidadade comercial. Neste livro, cujooriginal foi escrito em francs, a palavra Propaganda serefere transmisso de idias polticas, nada tem a ver com

    promoo de sabonetes, shampoos, fraldas ou polticosdescartveis.

    um clssico, ningum teria coragem de escreversobre o tema sem cit-lo. Mais do que isso, fundamentado

    em outros clssicos, como os textos de: Serge Tchakhotine,A. Sauvy, De Felice, Bartlett, Lenin, Goebbels, Gustave LeBon, Walter Lippman, H.D. Lasswell.

    O texto parte de uma anlise da propaganda feitapor Lenin e Hitler para extrair alguns princpios e leisbsicas simplificao e inimigo nico, ampliao e

    desfigurao, orquestrao, transfuso, unanimidade

    e contgio. No deixa de lado a reao dacontrapropanda. simplesmente brilhante.

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    INTRODUO

    Um dos fenmenos dominantes da primeira metade

    do sculo XX a propaganda poltica. Sem ela, os grandesacontecimentos da nossa poca: a revoluo comunista e ofascismo, no seriam sequer concebveis. Foi em grande

    parte devido a ela que Lenin logrou instaurar obolchevismo Hitler deve-lhe essencialmente suas vitrias,

    desde a tomada do poder at a invaso de 1940. Mais queestadistas e lderes guerreiros, esses dois homens, que demaneira, sem dvida, bem diferente vincaram

    profundamente a histria contempornea, so dois gniosda propaganda e ambos proclamaram a supremacia dessamoderna arma: O principal asseverou Lenin aagitao e a propaganda em todas as camadas do povoHitler disse: A propaganda permitiu-nos conservar o

    poder, a propaganda nos possibilitar a conquista domundo.

    Alfred Sauvy, no livro Le Pouvoir et lOpinion,assinala com justeza que em nenhum Estado moderno oregime fascista caiu sem interveno externa, o que, na sua

    opinio, constitui prova da fora da propaganda poltica.Dir-se- tratar-se sobretudo de um efeito do controlepolicial. Contudo, a propaganda precedia a polcia ou

    exrcito e lhes facilitava a ao a polcia alem no podiagrande coisa fora das fronteiras da Alemanha representam,de incio, vitrias da propaganda, a anexao sem combateda ustria e da Tcheco-Eslovquia, bem como a derrocada

    da estrutura militar e poltica da Frana. A propagandapoltica, incontestavelmente, ocupa o primeiro lugar, antesda polcia, na hierarquia dos poderes do totalitarismomoderno.

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    No decurso da Segunda Guerra Mundial, apropaganda acompanhou sempre e, algumas vezes,precedeu os exrcitos. Na Espanha, as brigadas

    internacionais dispunham de comissrios polticos. AWermacht tinha, na Rssia, companhias de propaganda.

    Se a Resistncia francesa no houvesse compreendidoobscuramente a importncia vital do esforo para imprimire difundir folhetos e volantes de contedo freqentementediminuto, jamais teria sacrificado milhares de homens e dosmelhores. Sem embargo do armistcio, a propaganda nocessou. Ela fez mais para a converso da China aocomunismo do que as divises de Mao-Ts-Tung. Rdio,

    jornal, filme, folhetos, discursos e cartazes opem as idiasumas s outras, refletem os fatos e disputam entre si oshomens. Quo significativa de nossa poca a histria dos

    prisioneiros japoneses devolvidos pela URSS em 1949.Convertidos ao comunismo aps uma temporada noscampos de educao poltica, foram aguardados, na volta

    por zeladores de outra doutrina, Bblia em mos, a fim de

    submet-los reeducao democrtica.Desde que existem competies polticas, isto ,

    desde o incio do mundo, a propaganda existe edesempenha seu papel. Foram, por certo, uma espcie decampanha de propaganda, aquelas movidas por Demstenescontra Filipe ou por Ccero contra Catilina. Assazconsciente dos processos que tornam amados os chefes edivinizam os grandes homens, Napoleo compreendeu

    perfeitamente que um Governo deve preocupar-sesobretudo em obter o assentimento da opinio pblica:Para ser justo, no suficiente fazer o bem, igualmentenecessrio que os administrados estejam convencidos. Afora fundamenta-se na opinio. Que o Governo? Nada,

    se no dispuser da opinio pblica.Polticos, estadistas e ditadores, de todos os tempos,procuraram estimular o apego s suas pessoas e aos seus

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    sistemas de governo. Todavia, no h nada de comum entreas arengas da gora e as de Nuremberg, entre os grafitoseleitorais de Pompia e uma campanha de propagandamoderna. A separao situa-se mais perto de ns. A lendanapolenica, to poderosa a ponto de, quarenta anos depois,

    elevar ao poder um novo Napoleo, no se compara ao mitoque envolve os chefes modernos. A propaganda do GeneralBoulanger apresenta, ainda, as feies de outrora: cavalo

    preto, canonetas, imagens de Epinal... Trinta anospassados, as formidveis vagas da propaganda teriam sua

    disposio o rdio, a fotografia, o cinema, a imprensa degrande tiragem, os cartazes gigantescos e todos os novos

    processos de reproduo grfica. Nova tcnica, que usameios subministrados pela cincia, a fim de convencer edirigir as massas constitudas no mesmo momento, tcnicade conjunto, coerente e que pode ser, at certo ponto,sistematizada sucede ao conjunto dos meios empregadosem todos os tempos pelos polticos para o triunfo de suascausas e ligado eloqncia, poesia, msica,

    escultura, s formas tradicionais das belas-artes, em suma.A palavra que a designa , ela tambm, contempornea dofenmeno: propaganda um dos termos que destacamosarbitrariamente das frmulas do latim pontificalempregada pela Igreja ao tempo da Contra-Reforma (de

    propaganda fide), mais ou menos reservada aovocabulrio eclesistico (Colgio da Propaganda) atirromper na lngua comum, no curso do sculo XVIII. Masa palavra guarda sua ressonncia religiosa, que no perderdefinitivamente seno no sculo XX. Agora, as possveisdefinies esto muito longe desse primeiro sentidoapostlico: A propaganda uma tentativa de influenciar aopinio e a conduta da sociedade, de tal modo que as

    pessoas adotem uma opinio e uma condutadeterminada(1) ou ainda: A propaganda a linguagemdestinada massa ela emprega palavras ou outros smbolosveiculados pelo rdio, pela imprensa e pelo cinema. O

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    escopo do propagandista o de influir na atitude dasmassas no tocante a pontos submetidos ao impacto da

    propaganda, objetos da opinio(2).A propaganda confunde-se com a publicidade nisto:

    procura criar, transformar certas opinies, empregando, em

    parte, meios que lhe pede emprestados distingue-se dela,contudo, por no visar objetos comerciais e, sim, polticos:a publicidade suscita necessidades ou preferncias visandoa determinado produto particular, enquanto a propagandasugere ou impe crenas e reflexos que, amide, modificamo comportamento, o psiquismo e mesmo as convicesreligiosas ou filosficas. Por conseguinte, a propagandainfluencia a atitude fundamental do ser humano. Sob esseaspecto, aproxima-se da educao todavia, as tcnicas porela empregadas habitualmente, e sobretudo o desgnio deconvencer e de subjugar sem amoldar, fazem dela aanttese.

    Entretanto, a propaganda poltica no uma cincia

    condensvel em frmulas. Movimenta, inicialmentemecanismos fisiolgicos, psquicos e inconscientes bastantecomplexos, alguns dos quais mal conhecidos ademais, seus

    princpios provm tanto da esttica como da cincia:conselhos da experincia, indicaes gerais maneira dasquais sobeja inventar caso faltem as idias, escasseie otalento ou o pblico, no h mais propaganda que literatura.

    A psicagogia, isto , a direo da alma coletiva, deve muitacoisa s cincias modernas pode tornar-se uma cincia? Afica a pergunta. Nossa tentativa, portanto, no decodific-la, mesmo no estado atual. Acreditamos esperamos que ela no permanecer encadeada s regrasfuncionais que lhe reconhecemos.

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    CAPTULO I

    O ambienteA propaganda poltica, conforme a examinamos,

    isto , como uma empresa organizada para influenciar aopinio pblica e dirigi-la, surgiu somente no sculo XX,ao termo de uma evoluo que lhe proporciona ao mesmo

    tempo seu campo de ao a massa moderna e seusmeios de ao: as novas tcnicas de informao e decomunicao A amplitude de sua influncia avultou de talmaneira, que se impe falar de um salto qualitativo, mesmoque a inteno do propagandista e certos procedimentosseus tenham, em regra, permanecido inalterados desde aorigem das sociedades polticas.

    Aglutinao nacional e concentrao urbanaDois fatos essenciais caracterizam a evoluo da

    humanidade no sculo XIX: a formao de naes deestrutura e esprito cada vez mais unificados, e, de outra

    parte, uma revoluo na demografia e no habitat.

    Em extensas regies da Europa e da Amrica, oindivduo torna-se cidado. Progressivamente, convocadoa votar , tambm, chamado a participar de guerras queno dizem respeito apenas a especialistas e mercenrios.Suas responsabilidades, teoricamente ao menos, aumentamcom a participao na vida pblica. A poltica exterior nointeressa apenas s chancelarias agita, igualmente, aopinio nacional. Por seu turno, a opinio transforma-se emum instrumento de poltica exterior previses apoiam-se nacalma ou na inquietao da opinio e utiliza-se dela para

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    sustentar uma poltica ou pressionar a do adversrio oirrompimento da guerra de 1870, com o despacho truncadode Ems, as edies especiais dos jornais, a exaltaorepentina do chauvinismo, constituem brilhante sintomadessa aglutinao nacional e significam que a opinio

    pblica ascende a um novo estdio.Produz-se, concomitantemente, completa revoluo

    na demografia e no habitat. A populao do mundo dobrouentre 1800 e 1900 a da Europa aumentou de 165% entre1800 e 1932. Concentra-se sobretudo, nas cidadesindustriais esse novo povoamento, em cujo proveito sedespovoam, em certos pases, os campos. Nessa enorme

    agitao, dissolvem-se as clulas tradicionais: a casa, queera a moradia, o patrimnio da famlia, torna-se um lugarde passagem, onde a gente se amontoa o bairroimpessoal substitui a aldeia e a parquia. Essascomunidades intermedirias que enquadravam o indivduo,constituindo-lhe uma sociedade particular, com histria

    prpria, filtrando-lhe os acontecimentos do mundo,desapareceram, deixando-o isolado, desorientado, diante deum mundo nacional em rpida evoluo, imediatamenteexpostas s solicitaes exteriores. A misria, a inseguranada condio obreira, o temor do desemprego e da guerra,criam permanente estado de inquietao, que agua asensibilidade do indivduo e o impele a refugiar-se nascertezas de massa: Indivduos reduzidos a uma vidaanimalescamente privada tambm, psicolgica emoralmente aderem quilo que desprende calor humano,isto , quilo que j agrupou numerosos indivduos. Elesressentem a atrao social de um modo direto e brutal(3).

    Conseqentemente a desarticulao dos antigosquadros, o progresso dos meios de comunicao, a

    formao dos aglomerados urbanos, a insegurana dacondio industrial, as ameaas de crise e de guerra, a quese juntam mltiplos fatores de uniformizao progressiva

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    da vida moderna (lngua, costumes e outros), tudo issocontribui para criar massas vidas de informaes,influenciveis e suscetveis de brutais reaes coletivas. Aomesmo tempo, os inventos tcnicos fornecem os meios deagir imediata e simultaneamente sobre essas novas massas.

    Inveno de novas tcnicasEscrita, palavra e imagem, tais os sustentculos

    permanentes da propaganda. O emprego deles, contudo, eralimitado: a escrita, o mais possante veculo de propaganda,depois da inveno da imprensa, era prejudicada por seu

    alto preo e pela morosidade de sua distribuio a palavra era limitada pelo alcance da voz

    humana a imagem no ia alm dos desenhos ou pinturas,

    reproduzidos mediante custosos processos.

    Ora, as descobertas do, a esses trs suportes,

    amplitude praticamente indefinida:1 Difuso da escrita impressa Os idelogos do

    sculo XVIII empregaram panfletos, livros (e at umaenciclopdia) para uma propaganda revolucionria de efeitocerto o aproximar-se de 1848 ver florescimento anlogo.Salvo excees a serem examinadas mais adiante, o preodo livro, que o torna um bem reservado s elites, e os

    prazos de impresso, forosamente tiram o carter deatualidade das brochuras ou panfletos menos caros. o

    jornal o veculo de propaganda melhor adaptado.

    Hegel dizia que a leitura do jornal a oraomatutina do homem moderno. Com a Revoluo Francesasurgiram os jornais de opinio e nela desempenharam papel

    ativo. At meados do sculo XIX, os jornais ainda somuito caros e reservados s elites difundem-se, sobretudo,mediante assinaturas, e a assinatura sinal de riqueza. O

    jornal custa 5 sous quando 30 sous pagam a jornada de

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    trabalho. Le Constitutionnel, em 1825, conta 12.000assinantes, e o Times 17.000, o que parecia enorme. O

    jornal dessa poca de austera apresentao e de um estiloponderado, que hoje nos parece aborrecido.

    O jornal moderno deve sua existncia aos seguintes

    fatores: inveno da rotativa, que aumenta a tiragem e

    reduz o preo utilizao da publicidade, que traz novos

    recursos acelerao da distribuio (estrada de ferro,

    automvel, avio, que per mitem transportar os exemplaresem um mnimo de tempo para quaisquer lugares)

    acelerao da informao (sucede o telgrafo aospombos-correio constituem-se grandes agncias de

    informao).Cria-se dessa forma o jornal moderno, cujo baixo

    preo e cuja apresentao o transformam em uminstrumento popular e em uma formidvel potncia deopinio. Ao mesmo tempo em que aumentam as tiragens,

    bem como sua influncia, os jornais tornam-se negcios aservio do capitalismo ou do Estado e dependem deagncias de Informaes, igualmente controladas.

    2 Difuso da palavra Demstenes procurava

    cobrir com a voz o rudo do mar, enquanto Jaurs careciade uma garganta poderosa para sobrepujar as interrupesnos comcios. A inveno do microfone permitiu ampliar avoz humana de acordo com as dimenses de imensas salas,de vastos halls, de estdios e outros.

    O rdio libertou definitivamente a palavra de todalimitao. Uma voz pode repercutir, simultaneamente, em

    todos os pontos do mundo. O constante aumento do nmerode estaes de rdio tende a devolver palavra o

    predomnio por ela perdido, momentaneamente, em favor

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    da imprensa. Nem Hitler nem o General de Gaulle teriamtido, sem o rdio, o papel histrico que lhes coube.

    3 Difuso da imagem A gravura, toimportante, por exemplo, na tradio napolenica,

    beneficia-se doa novos processos de reproduo.

    A inveno da fotografia possibilita reproduodireta e, por isso, mais convincente, suscetvel tambm deilimitada tiragem. O cinema oferece uma imagem maisverdica e surpreendente, que se afasta da realidade apenas

    pela ausncia do relevo.Finalmente, a televiso operou, no tocante

    imagem, a mesma revoluo que o rdio no concernente aosom: transmite-a instantaneamente ao domiclio.As tcnicas modernas de difuso derramam as

    notcias do mundo inteiro diretamente atravs da escrita, dapalavra e da imagem, sobre massas de que grande parte se

    viu recentemente transplantada, subtrada ao ambiente emque vivia, sua moral, sua religio tradicional,

    conseqentemente mais sensvel e malevel. Tais tcnicasentregam-lhes a histria quotidiana do mundo, sem que asmassas disponham de tempo e de meios para exercer umcontrole retrospectivo agarram-nas por temor ou poresperana e atiram-nas lia. Massas modernas e meios dedifuso originam uma coeso da opinio sem precedentes.Ph. de Flice, em livro recente, procurou mostrar que todos

    os povos e todas as pocas ofereceram sintomas de delriocoletivo. Outrora, contudo, tratava-se de sbitas e selvagensmanifestaes, de repentinas agitaes que se extinguiamaps algumas devastaes em nossos dias, a massa

    permanece em estado de cristalizao latente e a neurosecoletiva, embora suas formas mais desvairadas seconservam limitadas, atinge mais ou menos profunda mas

    permanentemente, grande nmero de indivduos: Mesmoem pessoas aparentemente normais, no raro, observamosacessos inquietantes de excitao e de depresso, de

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    esquisitas alteraes da lgica e, sobretudo, deficincia davontade traduzida por singular plasticidade s sugestes deorigem interior ou exterior(4)

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    CAPTULO II

    As duas fontes da propaganda

    PublicidadeNo vamos deblaterar a fim de saber qual das duas

    publicidade ou propaganda filha da outra. Mal sedistinguiam at a poca moderna: a propaganda de Csar,de Carlos Magno ou de Lus XIV no passava, em suma, de

    publicidade pessoal, assegurada pelos poetas, historiadorese fabricantes de imagens, bem como pelos prprios grandeshomens, nas suas atitudes, nos seus discursos e atravs defrases histricas: Durante longo tempo, propaganda e

    publicidade andam entrelaadas, evoluindo paralelamente:gabam-se as doutrinas, de incio, tal como os farmacuticosse vangloriam de seus unguentos pintam-se ascaractersticas, pormenorizam-se os benefcios:correspondem publicidade informativa que assinala ocomeo da arte publicitria os programas e asexplicaes no pertinente aos sistemas, pululantes no

    sculo XIX. Numerosos so os processos comuns propaganda e publicidade: ao reclamo corresponde aprofisso de f marca de fbrica, o smbolo ao slogancomercial, o estribilho poltico. Parece, na verdade, que a

    propaganda se inspira nas invenes e no xito dapublicidade, copiando um estilo que, segundo se julga,

    agrada ao pblico. Por exemplo, os partidrios de

    Boulanger, maneira dos grandes armazns de modas,distribuem joguinhos mas, com a diferena de que asfiguras e legendas contribuem para a glria do General.

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    O progresso tcnico logo arrasta a publicidade a umnovo estgio: ela procura de preferncia impressionar maisque convencer, sugestionar antes que explicar. O estribilho,a repetio, as imagens atraentes derrotam,

    progressivamente, os anncios srios e demonstrativos: de

    informativa, torna-se a publicidade sugestiva. Novasmaneiras de apresentao, novas tcnicas entram em ao,mormente devido ao estmulo americano, em breveapoiadas em pesquisas de fisiologia, de psicologia e at de

    psicanlise. Aposta-se na obsesso, no instinto sexual etc.Como veremos, a propaganda poltica no tardar a tomarde emprstimo tais processos para uso prprio.

    A publicidade, concomitantemente, tende a tornar-se cincia seus resultados so controlados, comprovandosua eficcia. Dessarte desnudada a plasticidade do homemmoderno: esse dificilmente escapa a certo grau de obsesso,a determinados processos de atrao. Torna-se possvelgui-lo no sentido de tal produto ou tal marca, no apenasimpondo-o em lugar de outro, mas nele suscitando a suanecessidade. Descoberta formidvel, decisiva para osmodernos engenheiros da propaganda: o homem mdio um ser essencialmente influencivel tornou-se possvelsugerir-lhe opinies por ele consideradas pessoais, mudar-lhe as idias no sentido prprio, e por que no tentar emmatria poltica o que vivel do ponto de vista comercial?

    Todo um setor da propaganda poltica continua aviver em simbiose com a publicidade: nos Estados Unidos,por exemplo, as campanhas eleitorais pouco diferem das

    campanhas publicitrias as famosas paradas, comorquestras, girls e cartazes, no passam de ruidoso reclamo.Outro ramo da propaganda poltica, entretanto, emboraainda se inspire nos processos e nos estilos publicitrios,

    desligou-se da publicidade para criar uma tcnica prpria aquela propaganda de natureza mais ampla e maiscaracterstica, que estudaremos de modo particular, visto

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    ser ela que mais profundamente influenciou a histriacontempornea.

    Ideologia poltica

    Limita-se a propaganda de tipo publicitrio acampanhas mais ou menos espaadas cujo padro acampanha eleitoral a valorizao de certas idias e decertos homens mediante processos bem delimitados,expresso normal da atividade poltica. Outro tipo de

    propaganda, de tendncia totalitria, decorre da fuso daideologia com a poltica intimamente ligada progresso

    ttica, joga com todas as molas humanas. No se tratamais de uma atividade parcial e passageira, mas daexpresso concreta da poltica em movimento, comovontade de converso, de conquista e de explorao. Est,essa propaganda ligada introduo, na histria moderna,das grandes e sedutoras ideologias polticas, tais como o

    jacobinismo, o marxismo e o fascismo, e ao embate denaes e blocos de naes nas novas guerras.

    Tal propaganda poltica(5) data, na verdade, daRevoluo Francesa os primeiros discursos de propaganda,os primeiros encarregados de propaganda (entre outros, oscomissrios junto aos exrcitos) partiram dos clubes, dasassemblias, das comisses revolucionrias foram eles que

    empreenderam a primeira guerra de propaganda e aprimeira propaganda de guerra. Uma nao, pela primeiravez, libertava-se e organizava-se em nome de uma doutrinasubitamente considerada universal. Uma poltica interior eexterior, pela primeira vez, fazia-se acompanhar pelaexpanso de uma ideologia e, por isso mesmo, segregava a

    propaganda. Surgiram, ento, todos os recursos da

    propaganda moderna: a Marselhesa, o barrete frgio, a festada Federao, a do Ser Supremo, a rede dos clubesjacobinos, a marcha sobre Versalhes, as manifestaes de

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    massa contra as Assemblias, o cadafalso nas praaspblicas, as crticas violentas de LAmi du Peuple, as

    injrias de Pre Duchne.Novo tipo de guerra origina-se tambm da

    Revoluo. Progressivamente, so mobilizadas todas as

    energias nacionais at a fase da guerra total que ErnstJnger acreditava atingida em 1914 e que, na realidade, noo fora seno durante a ltima guerra. Depois de 1791 aideologia alia-se aos exrcitos para a conduo das guerras,tornando-se a propaganda a auxiliar da estratgia. Visa-secriar, internamente, a coeso e o entusiasmo e instaurar, nocampo inimigo, a desordem e o medo. Ao abolir, cada vez

    mais, a distino entre a frente e a retaguarda, a guerra totaloferece propaganda, como campo de ao, no s osexrcitos, mas as populaes civis, pois, visando assegundas, atinge-se talvez mais seguramente as primeirasconsegue-se mesmo sublevar essas populaes, suscitandoo aparecimento de novos tipos de soldados, homens,mulheres, crianas, na retaguarda do inimigo: espies,sabotadores ou guerrilheiros. No ser nunca demasiadosalientar at que ponto as guerras modernas prepararam oterreno para a propaganda, ao favorecer a exaltao, acredulidade, o maniquesmo sentimental. O bourrage decrne(6) de 1914-1918 abriu o caminho s grosseirasmentiras do hitlerismo. Surgem das guerras recentescompleto vocabulrio de intimidao e uma mitologiainteira de conquista. As guerras serviram de laboratrio

    para os tcnicos de psicagogia, como o serviram para osengenhos mecnicos. A propaganda ligou-se guerra a

    ponto de se lhes substituir naturalmente: desde 1947, nutriua guerra fria, tal como alimentou, em 1939, a guerra denervos... A atual propaganda a guerra levada a cabo por

    outros meios.O marxismo-leninismo retomou, elevou a outroplano e aperfeioou esse liame entre a ideologia e a guerra.

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    Progressivamente, o marxismo substituiu o blanquismo e ainsurreio espontnea do tipo. das Jornadas de Junho, poruma estratgia revolucionria das massas. O movimentooperrio, outro fator decisivo do sculo XIX, cria umacomunidade supranacional, que anima uma mitologia

    prpria. No o esqueamos, foi a social-democracia queinventou o partido de massas ela que ensaia certo nmerode tcnicas de propaganda (desfiles, smbolos e outros),depois aplicadas correntemente. Lenin, contudo, vai maislonge: quer dinamizar pela agitao e propaganda asmassas sociais-democratas que caram sob a influncia de

    polticos aburguesados. Em plena guerra, Lenin e Trotsky,

    ao combinar a insurreio com a propaganda, logram adecomposico do exrcito e da administrao, instaurandoa revoluo bolchevista. Assim escreveu J. Monnerot: Os

    poderes destrutivos contidos nos sentimentos eressentimentos humanos podem ser utilizados, manipulados

    por especialistas, tal como o so, de maneira convergente,os explosivos puramente materiais. A lio no ser

    perdida. A Unio Sovitica reteve-a em sua poltica. Nela,Hitler inspirou-se eficazmente.

    De uma ou de outra maneira, a propaganda foisecularizada pelo jacobinismo e pelas grandes ideologiasmodernas. Mas, desviando-se, no regressa ela s suasorigens? Trata-se, ainda, de difundir uma f de fide

    propaganda por certo, de uma f terrena, cuja expressoe disseminao muito pedem emprestado psicologia e tcnica das religies. A propaganda inicial do cristianismomuito deveu ao mito escatolgico... Igualmente as novas

    propagandas polticas tm haurido inspirao em umamitologia de libertao e de salvao, ligada, contudo, aoinstinto de potncia e de luta mitologia ao mesmo tempo

    guerreira e revolucionria. Empregamos a palavra mitono sentido que lhe atribuiu Sorel: Os homens queparticipam dos grandes movimentos sociais vem suaprpria ao sob a forma de imagens de batalhas

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    asseguradoras do triunfo de suas causas. Proponho o nomede mito a essas idealizaes. Tais mitos, que tocam nomais profundo do inconsciente humano, constituemrepresentaes ideais e irracionais ligadas luta exercemsobre as massas poderosa influncia dinamognica e

    coesiva.As grandes propagandas alimentam-se largamente

    nessas mesmas fontes: uma s histria, militar erevolucionria, da Europa um s desejo veemente: o dacomunidade perdida. Muito diferente, entretanto, o modo

    pelo qual orquestram e orientam os velhos sonhos aguadose recalcados pela sociedade moderna.

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    CAPTULO III

    Propaganda de tipo leninistaO marxismo poderia ser caracterizado pelo seu

    poder de difuso trata-se de uma filosofia capaz depropagar-se entre as massas, de inicio porque corresponde a

    um certo estgio da civilizao industrial, depois porque

    repousa em uma dialtica que pode ser reduzida suaextrema simplicidade, sem deformar-se substancialmenteCerto , contudo, que o marxismo no teria to larga erpida expanso, se Lenin no o houvesse transformado emum mtodo de ao poltica prtica.

    Para Marx, a conscincia de classe a base daconscincia poltica. Todavia e esta a contribuio de

    Lenin abandonada a si mesma, a conscincia de classese encerra na luta econmica, isto , limita-se conscincia trade-unionista, atividade puramentesindical e no atinge a conscincia poltico. Cumpre,despert-la previamente, educ-la e arrast-la luta emmbito mais largo que o constitudo pelas relaes entreoperrios e patres. Cabe essa tarefa elite dos

    revolucionrios profissionais, vanguarda consciente doproletariado. O Partido Comunista deve ser precisamente o

    instrumento dessa relao entre a elite e a massa, entre avanguarda e a classe. Lenin substituiu a concepo socialdemocrata do Partido Operrio, tal como sobretudo aconheceram a Alemanha e a Inglaterra, pela concepodialtica de uma coorte de agitadores que sensibilizam e

    arrastam as massas. Nessa perspectiva, entendida apropaganda em um sentido assaz largo (passando da

    agitao educao poltica), torna-se a correia de

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    transmisso, o liame essencial de expresso, ao mesmotempo rgido e flexvel, que continuamente liga as massasao partido, levando-as pouco a pouco a unir-se vanguardana compreenso e na ao.

    A propaganda de tipo bolchevista pode ligar-se a

    duas expresses essenciais: a revelao poltica (oudenncia) e a palavra de ordem. Segundo Marx, precisotornar a opresso real ainda mais dura, ajuntando-lhe aconscincia da opresso e tornar a vergonha ainda maishumilhante, dando-a publicidade seguindo-lhe oconselho, Lenin convida os sociais-democratas aorganizarem revelaes polticas em todos os

    domnios(7). Consistem essas revelaes em destrinar,por entre os sofismas com que as classes dominantes

    envolvem seus interesses egostas, a natureza real de seusapetites e o real fundamento de seu poder, e dar s massasuma representao clara. Ora assevera Lenin no nos livros que o operrio poder haurir essa clararepresentao no a encontrar seno nas exposies vivas,nas revelaes ainda quentes acerca do que ocorre em tornode ns, em dado momento, de que a gente fala ou cochichae que se manifesta por este ou aquele fato, por tais e taisalgarismos, vereditos e outros. Essas revelaes polticas,que abrangem todos os domnios, constituem a condionecessria e fundamental para a formao das massas tendoem mira sua atividade revolucionria. Eis aqui a aplicaoconcreta desse ataque marxista mistificao: o

    propagandista leninista, no tocante a no importa qualacontecimento de interesse para a vida das massas, deveelevar-se da aparncia realidade, que se encontra no nvelda luta de classes, e no deve deixar os espritos sedesviarem ou se afogarem em explicaes superficiais e

    falsas. Guerras, greves, escndalos polticosproporcionaram ocasies mas, em geral, a partir de fatosmnimos, assaz concretos, que a demonstrao remontar causa para reatar o que parecia acidental explicao

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    poltica geral, que a do Partido Comunista. Assim, oPartido Comunista Francs empenhou-se na demonstraodos males do Plano Marshall, partindo de uma penria

    parcial, do fechamento de uma fbrica ou do atraso dacanalizao de gua para uma comuna rural.

    Tomemos como exemplo o desemprego parcial, queatinge a atividade dos sales de beleza: poder o cliente

    pensar que os sales de beleza so em nmero demasiado,que a moda de cabelos compridos ou que os cabeloscrescem, menos este ano... explicaes simplistas oumitolgicas, rejeitadas pelo propagandista comunista. Esse,com facilidade, levar o cliente a admitir que, se os sales

    de beleza esto vazios, porque o povo dispe apenas dodinheiro indispensvel s suas necessidade vitais ele oconduzir, em seguida, verificao de que o conjunto dosassalariados insuficientemente remunerado e, emconseqncia, porque o dinheiro que lhes devia caber desviado por tributos e taxas, em benefcio de umoramento devorado pelos preparativos militares impostos Frana pela poltica atlntica, a qual no passa de defesados interesses do capitalismo internacional... Isso no passade simples exemplo, por ns forjado, dessa argumentaosistemtica, mediante a qual um propagandista educado nomtodo leninista deve esforar-se por unir a parte ao todo,denunciando infatigavelmente todas as injustias suscitadas

    pelo regime capitalista.

    A palavra de ordem leva-nos ao aspecto combativoe construtivo dessa propaganda. Palavra de ordem atraduo verbal de uma fase da ttica revolucionria.Conceito motriz, expressa o objetivo mais importante domomento, o quanto possvel clara, breve e eufonicamente:quer, em perodo revolucionrio, o aniquilamento do

    adversrio e um escopo unitrio para as massas Todo oPoder aos Sovietes, Terra e Paz, Po, Paz e Liberdade,Por um Governo de Ampla Unio Democrtica etc.

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    quer, em perodo de edificao socialista, um objetivo deplanificao: Cumprir e Superar o Plano em Quatro Anos

    etc.Importa, porm, que o comunista no condense

    demasiado a ttica imobilizando-se em uma palavra de

    ordem que as circunstncias tornaram caduca. Em umartigo de 1917, A propsito de palavras de ordem Leninmostra a justeza da palavra de ordem Todo o Poder aosSovietes, at que outros partidos representados nosSovietes se aliassem burguesia contra-revolucionria.Uma palavra de ordem condensa a linha poltica domomento, no um excitante vazio, oco: Toda palavra de

    ordem deve deduzir-se da soma das particularidades dedeterminada situao poltica. As palavras de ordem

    balizam etapas escalonadas que compelem as demais foraspolticas a tomarem posio pr ou contra a colaborao,

    visando a objetivos concretos e sedutores para as massas.

    Toda palavra de ordem deve corresponder no s

    situao poltica, mas, inclusive, ao nvel de conscinciadas massas No tem valor se no repercute largamentenessa conscincia, e, para tanto, deve distinguir asaspiraes latentes no tocante ao tema mais favorvel.Dizia Trotsky: Acusam-nos de criar a opinio das massas.A censura inexata, tentamos apenas formul-la. Aquiest o segredo do xito da revoluo bolchevista: em duas

    palavras soube Lenin ligar e exprimir as duasreivindicaes fundamentais dos milhes de camponeses-soldados do exrcito russo: Terra e Paz. xito tanto maisfulminante, considerando-se que os bolchevistas no

    passavam de um punhado e quase sem poder, assim ocomenta Trotsky: Era impressionante a pobreza de meiosde que dispunha a agitao bolchevista. Como, com to

    dbil aparelho e diante do nmero insignificante da tiragemdos jornais, puderam impor-se ao povo as idias e aspalavras de. ordem do bolchevismo? bem simples o

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    segredo desse enigma: as palavras de ordem quecorrespondem s agudas necessidades de uma classe e deuma poca, criam milhares de canais. O meiorevolucionrio, tornado incandescente, distingue-se por altacondutibilidade de idias.

    A fim de trabalhar o meio, visando nele difundirrevelaes e palavras de ordem, o bolchevismo passou adistinguir duas espcies de agentes: os propagandistas e osagitadores. Plekhanov o autor desta famosa distino: O

    propagandista procura inculcar muitas idias em uma spessoa ou em pequeno nmero de indivduos o agitador

    no inculca mais que uma nica idia ou pequeno nmero

    de idias em compensao, ele as inculca em numerososgrupo de pessoas. Ao comentar essa definio, dizLenin(8), que o agitador, partindo de uma injustiaconcreta, engendrada pela contradio do regimecapitalista, se esforar por suscitar o descontentamento, aindignao das massas contra essa gritante injustia,deixando ao propagandista o cuidado de dar completaexplicao dessa contradio. Da por que o propagandistaage sobretudo pela escrita e, o agitador, de viva voz.Visivelmente, entretanto, Lenin teme deixar transformar-seem uma distino terica o que apenas distino prtica,essencialmente baseada em aptides de temperamento.Seguiramos essas duas famlias, alis, com facilidade, aolongo da histria das revolues sejam sociais, polticas oureligiosas. Hbert e Marat foram agitadores Robespierre eSaint-Just foram propagandistas. Mussolini nuncaconseguiu ultrapassar o estgio de agitador. Ao contrrio,Hitler foi um agitador que soube elevar-se ao nvel desistematizao terica do propagandista.

    esse um ponto no qual Lenin insistiu em

    numerosas oportunidades(9): no se trata apenas de agitar ecatequizar a classe operria, como em geral se contentamem faz-lo os sociais-democratas, preciso ir a todas as

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    classes da populao como propagandistas, comoagitadores e como organizadores. Cumpre praticardenncias, fazer revelaes polticas vivas que interessemao povo inteiro: operrios, camponeses, pequenos

    burgueses. E, para logr-lo, necessrio que tenhamos

    nossos homens, sociais-democratas, sempre e por toda aparte, em todas as camadas sociais, em todas as posiesque permitam conhecer as molas interiores do mecanismodo nosso Estado.

    O papel desses homens, de incio, o de fazer apropaganda e a agitao por todos os meios, diligenciando

    no sentido de adaptar seus argumentos ao meio em que se

    encontram. A grande diversidade de sua imprensa constituiuma das caractersticas da propaganda comunista. H, naUnio Sovitica, jornais para cada regio e cada profissotodos repetem a mesma coisa, mas o dizem de maneiraapropriada s diversas mentalidades. Por outro lado, no h

    propaganda sem constante contribuio de matriainformativa, tanto assim que outro encargo dosespecialistas comunistas o de alimentar as revelaes deordem poltica por contnuo afluxo de notcias colhidas emtodos os setores profissionais e sociais. Funciona cadaclula como uma antena de informao e, sob o regimesovitico, os jornais dispem de uma multido decorrespondentes populares colocados em todos os nveisde atividades do pas. Para a propaganda comunista, essetrabalho de informao revela-se incontestvel elemento desuperioridade permite-lhe, sobretudo, reagir maisceleremente que a propaganda adversa, desconcertando-a e,muitas vezes, ultrapassando-a.

    De Lenin os partidos comunistas retiveram apaixo pelas revelaes polticas organizadas diante de

    todo o povo. Para eles, no se trata de praticar em regimeburgus uma poltica de alianas e de compromissos, a qualmonopoliza as foras dos outros partidos, mas,

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    apresentado-se como inimigos irreconciliveis do regime,de fazer explodir continuamente entre os adversrios asminas que eles mesmos prepararam inconscientemente.Todo passo dado em falso por um governo, toda debilidadede uma maioria, toda injustia, todo e qualquer escndalo

    so, dessarte, desmascarados, denunciados esistematicamente ligados ao tema poltico central. Essevasto e permanente empreendimento desenrola-se desde amenor oficina, passa pelos conselhos municipais e gerais,

    pelas entidades profissionais, pelos tribunais at o recintodo Parlamento. Os comunistas eleitos dispem, assim, detribunas de onde as denncias caem mais ruidosamente a

    Internacional Comunista, no seu II Congresso, recordou acada deputado militante que ele no era apenas umlegislador procura, com os demais legisladores, de umalinguagem comum, mas um agitador enviado ao inimigo, afim de aplicar as decises do Partido. Existem, tambm, as

    palavras de ordem do P. C. que os deputados comunistasdevem apoiar e consubstanciar no texto de proposies

    aparentemente concretas, segundo a senha j dada peloBureau Poltico em 1924: Os eleitos devem apresentar

    projetos puramente demonstrativos, concebidos novisando sua adoo, mas propaganda e agitao.

    Lenin sabe, entretanto, que exrcitos depropagandistas e de agitadores, mesmo que se contassem

    aos milhes, so insuficientes para lograr a vitria se a aodeixar de apoiar-se em uma linha poltica justa e emrealizaes prticas. Sem atos concretos em que se arrimequalquer propaganda no passa de um verbalismo criadorde perigosas iluses, imobilizando a ttica em um estgiocaduco.

    Traduz-se essa atividade, em regime capitalista,

    pelo sustentculo das reivindicaes, pela ao nossindicatos e nos agrupamentos de toda espcie, bem comopor realizaes concretas, testemunhando inequvoca

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    vontade na prefigurao da futura sociedade capitalista.Esse o papel da amostra-testemunho que se observa, porexemplo, nas municipalidades, ao desenvolverem as obrassociais, as colnias de frias, ao construrem moradias einstalaes para a prtica de esportes. A propaganda, em

    decorrncia, autenticada por atos, e isso fundamental.para a massa daqueles aos quais longaexperincia impe dvidas no tocante ao valor dos

    programas polticos.Mais importante, ainda, a funo desses prottipos

    em perodo de conquista revolucionria e edificaosocialista. Assim, pelo contgio inicial do exemplo, a

    reforma agrria avana por entre as massas do campesinatochins: a terra posta em comum em uma aldeia cultivada

    por um grupo de trabalhadores convictos e educados oscamponeses dos arredores vm observar de perto,

    persuadindo-se pouco a pouco das vantagens daquelasoluo.

    incontestvel que, sob a sua forma moderna, apropaganda poltica foi inaugurada pelo bolchevismo eespecialmente por Lenin e Trotsky. Em 1917, Lenin, genial

    propagandista e agitador, lana as palavras de ordem quevo dar o ritmo s etapas da conquista do poder. Inovaosem precedentes a de Trotsky, ao dirigir-se pelo rdio smassas sofredoras, passando por cima dos governantes.

    Desenvolvem-se no proletariado, no campesinato e noExrcito propaganda e agitao de inaudita intensidade.Proliferam os crculos polticos, os jornais de fbrica, osoradores de bairros os agitadores atiram-se ao trabalho edisseminam subterraneamente a inquietao e a divisoentre os elementos fiis ao regime tzarista. Logo que arevoluo se apossa de Leningrado e de Moscou, essa

    atividade, longe de interromper-se, amplia-se com o fito dealargar e consolidar o poder dos Sovietes. Comissriospolticos so enviados para junto das unidades militares, a

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    fim de elucidarem as ordens e recoloc-las no contextopoltico geral(10). Equipes mveis de jovens comunistas

    deslocam-se dentro do Exrcito, estacionam por poucosdias nas prefeituras rurais, no decurso dos quaisrepresentam, cantam e fazem palestras polticas. Cria-se,

    assim, vasta rede psicopoltica que, por meio de mltiploscanais imprensa, rdio, teatro, cinema, jornais locais ede fbrica, conferncias, comcios e outros meios atingem os pontos mais afastados do pas. A direo dessaatividade polimorfa confiada a uma direo agit-prop(abreviatura de agitao e propaganda), que temresponsveis em todos os escales at a clula de base e

    que ser sempre o ramo essencial da atividade comunista.Mais tarde, as revolues comunistas far-se-o acompanharde anlogo trabalho de penetrao e de educao ideolgicae poltica. Partisans iugoslavos e chineses o impulsionam

    paralelamente organizao de seus exrcitos. raroencontrar uma unidade que no disponha de sua imprensa,assevera Djilas, um dos lderes dos partisans

    iugoslavos(11).Mas na China que a propaganda deveria atingir

    sua maior dimenso. Mao-Ts-Tung foi com efeito oestrategista e o terico de um novo tipo de guerra inspiradana experincia dos partisans, e que na Frana foi chamadaguerra revolucionria. Mao parte do princpio que oexrcito deve ser a vanguarda de uma massa inteiraempenhada no combate. Mao adapta s relaes entreexrcito e povo os laos institudos por Lenin entre o

    partido e a classe operria. Cria-se assim. um aparelhopoltico militar que repousa sobre hierarquias paralelas

    (associaes profissionais, esportivas etc., organizaoterritorial organizao do partido), as quais transmitem sem

    cessar as ordens oficiais e a educao poltica. Nada lheescapa.

    Em tempo de guerra, esse sistema aplicado aos

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    prisioneiros que so previamente aniquilados (isto ,fisiologicamente enfraquecidos e psicologicamenteisolados), antes de serem submetidos reeducao, comoaconteceu nos campos da Coria do Norte e do Viet-minh(12).

    Em tempo de paz, esta mobilizao das energias utilizada para fins polticos e econmicos. Foi na China,ainda, que este mtodo atingiu seu paroxismo. Centenas demilhares de homens foram impelidos ao trabalho porcampanhas que os tornaram voluntrios entusiastas. NaChina, como nas democracias populares, o partidodesenvolve uma mstica do plano, tanto por

    proclamaes gerais quanto por estmulos individuais(citao de xitos modelos e de superao de limitesfixados, condecoraes dos operrios de elite etc.).

    Mas esta manipulao psicolgica serve tambmpara sustentar, se for o caso, a poltica exterior dos

    dirigentes. Assim, em 1958, no momento da campanha por

    Formosa, as diretrizes semanais emitidas por rdio,imprensa e cartazes, reforadas por manifestaesmonstros, se difundiam atravs da China em ondasgigantescas, cuja progresso os servios oficiaiscontrolavam de hora em hora.

    Releva notar, entretanto, ser impossvel delimitar,com preciso, o campo da propaganda nos regimes

    soviticos ou de inspirao sovitica. Ela apenas umaspecto de uma atividade total, da instruo primria produo industrial e agrcola, englobando a literatura, a

    arte e os lazeres. Torna-se objeto de propaganda a atividadeinteira do cidado. J dizia Zinoviev: A agitao e a

    propaganda, entre ns, repousam na instruo (...). Elasformam um todo que preciso concretizar segundo a

    concepo leninista do ensino. Ulteriormente, o espritode partido, segundo a terminologia de Jdanov, apoderou-seda cincia, da msica, da crtica literria etc., que tm a

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    funo de formar o novo homem sovitico.A escola torna-se um dos pilares dessa propaganda

    total. Em seguida, dos seminrios polticos, das escolasde aperfeioamento e dos crculos de estudos saem,formados, centenas de milhares de propagandistas ou

    agitadores que do cursos polticos, realizam palestras nasfbricas, nos kolkozes, nos estabelecimentos comerciais eem instituies de toda espcie. As obras de Marx, deEngels, de Lenin, de Stalin e de Mao-Ts-Tung formam a

    base desse ensino. To gigantesco trabalho escorado eminmeras associaes culturais, que enxameiam nosrecantos vermelhos das fbricas, nas isbs de leitura

    nos campos, nas sociedades beneficentes do Exrcito, nosclubes esportivos e em outras agremiaes.

    A propaganda triunfa ao ponto de dissolver-se noconjunto das atividades polticas, econmicas e intelectuaisde um Estado. Cada uma dessas atividades apresenta umaspecto propagandstico. A obsesso dela resultante, certos

    processos de encenao coletiva, a direo centralizada dosinstrumentos de difuso, a censura, a explorao dos novosacontecimentos, tudo isso no se origina absolutamente domarxismo-leninismo, mas da utilizao totalitria da

    propaganda.

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    CAPTULO IV

    A propaganda de tipo hitlerista enorme a contribuio de Hitler e Goebbels

    propaganda moderna. Como vimos, no a inventaram, masa transformaram pois, no ousamos dizer que a tenhamaperfeioado. Hoje, o mundo sabe a que ponto chegaram os

    resultados dessa mecnica gigantesca. O grande nmero detcnicas e processos introduzidos pelo nazismo em matriade propaganda, todavia, subsiste mesmo fora do clima dedio e delrio em que desabrocharam e nada pode impedirque, doravante, faam parte do arsenal da propaganda

    poltica.Entre a concepo leninista de propaganda e a

    hitlerista, h de permeio um mundo. Do mbito daperspectiva leninista, a propaganda a transposio dattica, mas os fins a que se prope, embora objetivostticos, no so menos, efetivamente visados. Ao lanarLenin o slogan Terra e Paz, trata-se realmente de dividir asterras e assinar a paz quando Maurice Thorez recomenda:Mo estendida aos catlicos, trata-se igualmente de fazer

    uma aliana com os catlicos, mesmo no passando deetapa provisria no caminho da conquista do poder. Mas,no momento em que Goebbels, depois de pregar umracismo anticristo, proclama que o povo alemo faz aguerra em defesa da civilizao crist, tal afirmativa notem para ele nenhuma realidade concreta no passa deoportuna frmula destinada mobilizao de novas massas.

    O hitlerismo corrompeu a concepo leninista depropaganda. Transformou-a em uma arma em si, utilizada

    indiferentemente para todos os fins. As palavras de ordem

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    leninistas, mesmo ligando-se em definitivo aos instintos e amitos fundamentais, apresentam base racional. Quando,

    porm, ao dirigir-se s multides fanticas, que lherespondiam gritando o Sieg Heil Hitler invocava o sangue ea raa, importava-lhe apenas sobreexcit-las, nelas

    incutindo profundamente o dio e o desejo de poder. Essapropaganda no mais designa objetivos concretos ela sederrama por meio de gritos de guerra, de imprecaes, deameaas, de vagas profecias e, se faz promessas, essas so atal ponto malucas que s atingem o ser humano em umnvel de exaltao em que a resposta irrefletida. Seria

    preciso fazer a histria das sucessivas variaes que

    sofreram os temas da propaganda hitlerista durante a ltimaguerra, desde a conquista do espao vital at a defesa do

    povo, passando pela Nova Europa e pela salvaguarda dosvalores cristos. Desde essa poca, a propaganda no estmais vinculada a uma progresso ttica, converte-se elamesma em ttica em uma arte particular com leis prprias,to utilizvel como a diplomacia e os exrcitos. Em virtude

    de sua fora intrnseca, constitui uma verdadeira artilhariapsicolgica, onde se emprega tudo quanto tenha valor de

    choque, onde finalmente a idia no conta, contanto que apalavra penetre. Compreenderam perfeitamente os

    ditadores fascistas que a aglutinao da massa modernaabria aos seus empreendimentos imensas possibilidades poreles empregadas desavergonhadamente, com total desprezoda pessoa humana. O homem moderno estsurpreendentemente disposto a crer, dizia Mussolini. Porseu turno, Hitler descobriu que a massa, ao aglutinar-se,assume um carter mais sentimental, mais feminino: O

    povo, em grande maioria, est em uma disposio e em umestado de esprito a tal ponto feminino, que as suas opiniese seus atos so determinados muito mais pela impresso

    produzida nos sentidos que pela reflexo pura. Essa arazo efetiva do xito da propaganda nazista em relao smassas alems: predomnio da imagem sobre a explicao,

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    do sensvel brutal sobre o racional. Teremos oportunidadede versar os mtodos que contribuem para dar s massasmaior receptividade. Toda gente ouviu falar do rufar dostambores que acompanhava Hitler ao galgar as escadas datribuna do Congresso de Nuremberg e dos comutadores de

    corrente eltrica que lhe permitiam, da tribuna, dosar vontade a iluminao. Desse ponto de vista tambmcompreensvel que a nazismo tenha freqentementedirigido apelos mulher, no que ela possui desentimentalmente mais irracional e o tenha feito com xito.Hitler, ainda, quem declarava: Quando alcanarmos o

    poder, cada mulher alem ter um marido.

    Por um lado, a propaganda hitlerista mergulha suasrazes nas mais obscuras zonas do inconsciente coletivo, aogabar a pureza do sangue, ao glorificar os instintoselementares de violncia e destruio, ao renovar por meioda cruz gamada remotssima mitologia solar. Ademais,emprega sucessivamente termos diversos e atcontraditrios com a nica preocupao de orientar asmultides ante as perspectivas do momento. JulesMonnerot observou perfeitamente esse carter ao mesmotempo irracional e descontinuo da propaganda nacional-socialista: Os hitleristas haviam abocanhado todos ostemas disponveis na Alemanha, todos os que, com ummnimo de convergncia no tocante s intenes domomento, pudessem favorec-las(13).

    No obstante, deve-se indagar por que semelhantedescontinuidade no prejudicou a propaganda hitlerista,visto ter ela conseguido no s mobilizar um povo, comotambm atingir gravemente certas naes europias. Porcerto, o esforo foi colossal. Nesse domnio, Hitler eGoebbels nada deixavam ao acaso. Preparavam

    cuidadosamente toda manifestao. Hitler assinalaramesmo que as horas do entardecer eram as mais favorveisao domnio de uma vontade alheia. Tambm o pblico

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    estava preparado. Comunidades no estatais foramdeslocadas, anulando-se toda espcie de intermedirios paraque o indivduo se oferecesse sem resistncia ssolicitaes da propaganda havia bem poucos domingosem que uma famlia podia reunir-se na intimidade. O

    Partido e o Chefe estavam presentes em toda a parte: nasruas, nas fbricas e at dentro das casas, nas paredes dosquartos. Jornais, cinema e rdio repetiam incessantemente amesma coisa. Em suma, inegvel que certo nmero demitos hitleristas correspondiam, seja a uma constante daalma germnica, seja a uma situao criada pela derrota,

    pelo desemprego e por uma crise financeira sem

    precedentes.Isso explica muitas coisas, mas no tudo, mormente

    a influncia paralisadora exercida pela propagandahitlerista sobre naes no alems. Para que a propagandanazista o conseguisse, malgrado as contradies e exageros,

    para que igualmente pudesse aterrorizar e entusiasmar asmassas, das quais algumas normalmente deviam

    permanecer a salvo de qualquer perigo, cumpre admitir quesua ao se exercia menos no nvel do sentimento e darazo que em outra esfera, em zonas fisiolgicos einconscientes, onde encontram equilbrio e se ajustam

    paixes e hbitos, absurdos ou contraditrios luz dalgica. O escritor russo Tchakhotine, em um livro(14) que,apesar de seu carter sistemtico, a nica obrafundamental consagrada ao nosso tema, esclarece o xito da

    propaganda nazista atravs da interpretao da teoria dosreflexos condicionados de Pavlov.

    Apresentamos, adiante, ligeira descrio daexperincia de base: coloquemos um torro de acardiante de um co previamente imobilizado: produzir-se-

    saliva na boca do animal. Em seguida, associemos aapresentao do torro de acar audio de uma buzina eisso muitas vezes: normalmente, o co continuar a

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    produzir saliva. Em uma terceira fase, porm, contentemo-nos com faz-lo ouvir a buzina sem apresentar-lhe o acar:a saliva aparecer de novo. Criamos, ento, um reflexocondicionado, isto , o som da buzina associou-sesuficientemente ao aparecimento do acar a ponto de

    suscitar a salivao. A buzina tornou-se, assim, um agentecondicionador. Note-se, todavia, que esse excitante desegundo grau no conservar sempre sua eficcia. Comefeito, o agente condicionador complexo a buzina tende a perder o valor como substituto do agentecondicionador simples o acar caso esse no lheseja associado novamente de tempos em tempos, ou

    melhor, caso no se repetir periodicamente a primeiraexperincia.

    Ao dar-se prosseguimento a essa mesmaexperincia, isto , se continuarmos a empregar aquelesexcitantes em ritmo regular, nem per isso a salivao doco se far em ordem crescente. Ao contrrio, obteremos ainibio das funes reflexas, a qual pode estender-se aoorganismo inteiro e provocar um estado de sonolncia.Observemos, finalmente, que semelhante estado pode serconseguido de maneira diversa: no seria mais a repetio esim a intensidade do excitante que estaria em jogo parainibir os reflexos normais de um indivduo. O aparecimentorepentino da serpente pode inibir os reflexos de fuga do

    pssaro que, fascinado, se lanar na goela da cobra.

    Agora, resta-nos apenas aplicar as regras dessaexperincia. Inicialmente, tomemo-la no plano da

    publicidade: quando, para gabar determinada gua gasosapelos muros do metr, a publicidade escolhe como insgnia

    uma linda mulher surgindo por entre as bolhas, no existe,evidentemente, nenhuma ligao de ordem racional entre a

    gua mineral X e a bela mulher. Trata-se apenas decondicionar o futuro consumidor, a tal ponto que retomando nossa comparao ele da por diante, salivar

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    com o simples nome de gua X, o qual lhe evocarimediatamente a imagem de uma bela mulher ao sair dasondas. Tais associaes formam-se mais naturalmente commarcas de sabonetes ou de meias. A a publicidade utilizainfalivelmente o instinto sexual.

    A propaganda poltica pode igualmente utilizar oinstinto sexual. Mulheres graciosas, simbolizando pases,como Marianne, decorrem desse reflexo, bastante atenuadono caso. O condicionamento realizado em larga escala

    pelo nazismo, entretanto, foi calcado, sobretudo, no instintode poder. Para maior clareza, distinguiremos duas fasescorrespondentes s experincias por ns rapidamente

    analisadas: de inicio, formar os reflexos e p-los emfuncionamento em seguida, utiliz-los no ritmo necessrio

    para criar o estado de inibio.

    1 Trata-se de elaborar os reflexos condicionadosque se constituiro no mecanismo dessa propaganda, no atode associar o escopo desejado pelas massas ao partido que

    o tomou como alvo: aqui, a grandeza do Reich e afelicidade de todos os alemes so associadas ao PartidoNacional-Socialista. Acumular explicaes e razes para

    em cada ocasio demonstrar que a esto os fins visadospelo partido, seria fastidioso e de resultados medocres.

    Torna-se muito mais conveniente substituir esse agentecondicionador simples, que a grandeza do Reich, por um

    indivduo que se proponha realizar essa grandeza, por umafrase ou imagem que a resumam ou a evoquem.Conseqentemente, a idia a ser difundida ligada a essafisionomia, a esse smbolo, a esse slogan a esse grito. Nadade programas minuciosos e demonstraes confusas:

    bastam a cruz gamada, a saudao hitlerista e a efgie doChefe distribuda aos milhes de exemplares... Outro tanto

    de buzinadas, que fazem salivar todo um povo. Vimos,todavia, que o smbolo, o excitante secundrio, perderiamsua fora se no fossem revitalizados, restaurados por

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    novas associaes como o excitante primrio. O torro deacar , assim, distribudo pedao por pedao: a ustria, a Tcheco-Eslovquia, Memel e, afinal, o torro inteiroque tem de se atirar ao co.

    2 Mais ainda que chamamentos de promessa ou

    evocaes de grandeza, esses smbolos so apelos deforas, so evocaes de angstia. Conhecemos omecanismo fundamental do terror hitlerista o Pe. Fessarddemonstrou-o perfeitamente luz da dialtica hegeliana doamo e do escravo: Se, muito tempo aps o desfecho docombate, a vontade do escravo permanece subjugada e semque o amo faa grande esforo, a razo disso que o terror

    diante da morte lhe arranca o mnimo de consentimento queo liga vontade do vencedor. Se for preciso, castigos

    parciais viro reavivar a lembrana desse momento deangstia, durante o qual trocou a liberdade pela vida e denovo for-lo a uma adeso infinitesimal(15). O Pe.Fessard descreve exatamente a inibio condicionada,embora por outras palavras. O que no diz, porm, queesses apelos inibitrios podem ser feitos bem maiseconomicamente: de fato, a propaganda fornece substitutosque, para evocar a angstia, fazem comodamente as vezesdas chicotadas ou, pelo menos, do excelentes resultadosquando se sabe associ-los devidamente aos golpes doazorrague. So os smbolos, as canes ou os slogans essessubstitutos. O poder de Hitler associou-se, pois, cruzgamada e essa reproduzida por toda a parte, e dessarte, aov-la, o militante recorda-se do momento de exaltao emque a ela se votou de corpo e alma o adversrio lembra-sedo momento de terror em que viu se lhe arremeterem osuniformes pardos agrupados por trs da bandeiraensangentada, cacetes em punho, instante em que, de bom

    ou de mau grado, teve que concluir o pacto de servido. Acruz gamada, essa simples imagem, tornou-se segundo aexpresso de Tchakhotine, um memento da ameaa, o qualsuscita inconscientemente o seguinte raciocnio: Hitler a

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    fora, a nica fora real, e como toda a gente est com ele, preciso que faa o mesmo, eu, homem. da rua, se noquiser ser esmagado.

    V-se em decorrncia, a importncia do ritmo comque os hitleristas conduziam a propaganda. Jamais cessava,

    nem no tempo nem no espao, constituindo-se empermanente tela, visual e sonora, que, embora variando de

    intensidade, mantinha alerta o povo. Se o objetivo pareciadistante, deixava-se cozinhar a alma do povo, segundo aexpresso empregada, a fim de que estivesse pronta nomomento oportuno. Certas campanhas iam at o fiminelutavelmente, em um crescendo por vezes assaz longo e

    que os acontecimentos podiam amortecer. O Anschluss, porexemplo, foi precedido por uma campanha de cinco anos.Em outras oportunidades, a gradao fora mais rpida emais dramtica, como durante as semanas precedentes invaso de Tcheco-Eslovquia. Em todos os casos, o golpeera desferido subitamente e sem prvio aviso. Assim, omilitante era mantido em contnuo estado de exaltao, ata Hora H. No tocante ao adversrio, submetido a perptuoalerta, desarticulado psiquicamente, quase entorpecidocomo o co de Pavlov, na expectativa do golpe, no maisreagia quando esse o apanhava.

    Se no se tratasse de semelhante empresa, admirar-se-ia a maneira pela qual se movimentava essa orquestra de

    propaganda: a msica jamais se interrompia. Na sinfonia,havia sempre, em qualquer trecho, uma frase em suspenso eque se poderia retomar. Se a poltica internacional noandasse, retornava-se questo judaica(16). Durante aguerra, ao contrrio, o tema ariano anticristo substitudo

    pelo majestoso mito da Nova Europa, herdeira dos valorescristos, em armas contra a barbrie bolchevista. Jamais se

    contradizem ou se corrigem, muda-se simplesmente deinstrumento. Assim, a propaganda anti-sovitica,subitamente interrompida em agosto de 1939, retomada

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    em junho de 1941. A orquestra, contudo, faz tamanhobarulho, que s alguns indivduos obstinados em refletir

    notam a descontinuidade. A regra, precisamente, nodeixar tempo para pensar. Sucedem-se os apelos s urnas,

    juntamente com as incitaes luta e a lista dos novos

    objetivos a serem alcanados.Ento, patente a confirmao das experincias de

    Pavlov. Estabelece-se, contudo, no seio mesmo dessapermanente estimulao, uma espcie de regular

    alternncia: ao acar junta-se o chicote. Quando o inimigoparece insubmisso, afagado porm, desde que respira,

    de novo ameaado. Assim, imediatamente depois de

    Munique, quando a opinio internacional acreditou poderrespirar, Hitler pronuncia dois dos seus mais violentosdiscursos. Os ouvintes e os interlocutores de Hitlercostumavam assinalar a habilidade com que alternava aseduo com a brutalidade, a assim chamadaGespraechstechnik ou arte de conversao, alis jconhecida por Napoleo.

    Conseqentemente, em vez de repetir o estmulo,cria-se uma alternncia na excitao, em lugar da simplesinibio obtm-se esse estado psquico ambguo e instvelque P. Janet descreveu no livro De lAngoisse lExtase. o que Tchakhotine traduz na perspectiva que lhe prpria:Estimulado, o instinto de luta pode manifestar-se de duas

    maneiras antagnicas: uma, negativa ou passiva,exteriorizada pelo medo e pelas atitudes de depresso, deinibio outra, positiva, que conduz exaltao, a umestado de excitao e agressividade... A excitao podelevar ao xtase, a um estado que, conforme o indica onome, decorre de uma sada para fora de si mesmo. Esse

    bem o estado ambguo do alemo submetido propaganda

    hitlerista, petrificado pela exaltao e ao mesmo tempo poruma angstia que alis pode ter passado ao subconsciente.Numerosos observadores surpreenderam-se, em ocasies

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    em que Hitler discursava, com o aspecto de indivduosimobilizados na atitude ausente e rgida do sonmbulo.Com efeito, ao jogar sucessivamente com os dois plos davida nervosa, o terror e a exaltao, os nazistas acabaram

    par dominar vontade o sistema nervoso das massas

    populares, internamente e no Exterior. Isso, finalmente,deriva de um idntico estado psicolgico ambivalente que,do medo ao entusiasmo, passa por todos os graus.

    Entre os homens que seguiam Hitler at o fim e porele morriam, muitos, por certo, o tinham odiado os

    processos e o ritmo da propaganda, contudo, os tinhamhipnotizado e arrancado a si mesmos. Condicionados at a

    medula, haviam perdido a possibilidade de compreender, deodiar. No amavam nem detestavam Hitler, na verdade:fascinados por ele, tinham-se tornado autmatos em suasmos.

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    CAPTULO V

    Leis e tcnicasA propaganda poltica j tem histria. O uso que

    dela fizeram os comunistas e nazistas, alis de maneirasbem diversas, torna-se particularmente valioso para a

    inferncia de certas leis. Vamos expo-las o mais

    objetivamente possvel, pondo de lado todo falso pudor. Sealgum indignar-se, permitam-nos recordar ter havido umapoca no muito remota precisamente aquela em queeste estudo se iniciou de um modo ativo, antes de serredigido poca em que a propaganda no era nemcuriosidade nem atividade de segunda ordem, mas lutaquotidiana. Fomos apanhados na sua rede, ento e rpida

    foi a passagem das palavras aos atos: todo converso danova ordem, todo ouvinte de Philippe Henriot era umdenunciante potencial. Todo aquele que aderia Resistncia era um soldado arrebatado ao inimigo e ganho

    para a nao. No se tratava tanto de raciocinar, e sim deconvencer para vencer. Desprezada pelos dbeis, essa

    propaganda transformara-se em uma arma terrivelmente

    eficaz nas mos dos nazistas e, sua custa, os francesesaprendiam a volt-la contra o inimigo. Esse episdio denossa histria bastaria para justificar o interesse, pelasformas da propaganda, mesmo as mais exageradas e asmais pervertidas. O fato de atravessarmos agora, na EuropaOcidental, um perodo de propaganda parcial e atenuada,no impede que tenhamos conhecido e estejamos arriscados

    de novo a conhecer uma poca de propaganda total.Ningum poderia alimentar a pretenso de encerrar-

    a propaganda dentro de certo nmero de leis funcionais. Ela

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    polimorfa e dispe de recursos quase ilimitados.Conforme a assertiva de Goebbels: Fazer propaganda falar de uma idia por toda a parte, at nos bondes. A

    propaganda ilimitada em suas variaes, em suaflexibilidade de adaptao e em seus efeitos. O verdadeiro

    propagandista, aquele que quer convencer, aplica todaespcie de receitas, segundo a natureza da idia e dosouvintes, agindo, de incio, pelo contgio de sua f pessoal,

    por suas prprias virtudes de simpatia e eloqncia. Noso elementos facilmente mensurveis contudo, a

    propaganda de massa teria resultados insignificantes, se nofosse sustentada por tenaz e mltiplo esforo de

    propaganda individual.Expressa-se a propaganda individual pela simples

    conversao, pela distribuio de brochuras e jornais ou,mais sistematicamente pelo mtodo de porta em porta, oqual consiste em bater sucessivamente em todas as portasde um quarteiro para oferecer jornais ou solicitarassinaturas em peties e, se possvel, entabularconversao a partir da.

    A alocuo coloca-nos no caminho da propagandade massas. Esse o processo favorito do agitadorcomunista, que se aproveita de qualquer incidente paradiscursar o mais breve e claro possvel.

    Os suportes tcnicos da propaganda de massa so

    poderosos e inmeros. No possvel trat-losminuciosamente. Contentemo-nos com ligeira explanao:O impresso O livro, caro e de leitura demorada,

    permanece, entretanto, instrumento de base. Reflita-se naimportncia do Manifesto Comunista, das obras de Lenin eStalin, na propaganda comunista na tiragem do MeinKampf na Alemanha.

    O panfleto, arma predileta da propaganda nodecurso do sculo XIX, usada hoje pelos comunistas,destinando-se mormente aos intelectuais.

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    O jornal o principal instrumento da propagandaimpressa, desde os grandes matutinos e vespertinos at os

    jornais de bairro e de fbrica, distribudos e afixados(jornais murais).

    Enfim, o cartaz e o opsculo, redigidos com

    brevidade e de cunho impressionista. O folheto apresenta avantagem de ser cmodo e de permitir fcil e annimadistribuio. Quando o folheto se reduz a um simplesslogan ou a algum smbolo, toma o nome de volante.

    A palavra o rdio, evidentemente, o principalinstrumento de difuso da palavra. As emissoras,

    principalmente de ondas curtas, foram utilizadas durante aguerra e o so ainda em funo da propaganda no Interior eno Exterior. Verificou-se que a voz humana reforavaconsideravelmente a argumentao, infundindo-lhe vida e

    presena inexistentes em um texto impresso. Nos EstadosUnidos, as vozes dos locutores foram examinadas emfuno do seu poder de seduo. O rdio pode ser

    temporariamente posto disposio dos partidos polticos,em tempo de eleies. Dele, porm, se servem com maiorfreqncia os governos desejosos de sustentar suasconcepes e sua poltica em emisses destinadas aosnacionais ou aos povos estrangeiros. A influncia do rdio

    pode ser ainda aumentada, mediante a audio coletiva.O alto-falante utilizado nas reunies pblicas.

    Pode ser deslocado . vontade: serviram-se dele na linha defrente, em 1939/40, e durante a guerra civil na China.Algumas vezes montado em um caminho: durante acampanha eleitoral de junho de 1950, o Partido Socialista

    belga empregou caminhes assim equipados esses veculosparavam de improviso em uma localidade aps terem

    tocado alguns discos, que alertavam a populao, um

    orador falava ao microfone. Apresenta esse mtodo avantagem de alcanar as pessoas que no costumam ir aoscomcios. No Vietn, as autoridades francesas usaram

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    igualmente caminhes com alto-falantes, mas, nesse caso,tratava-se de um bazar ambulante que servia para atrair a

    populao.O canto tambm um veculo de propaganda, quer

    as canes revolucionrias, polticas, picas ou satricas,

    essas uma arma favorita das oposies. Relembremos aMarselhesa e a Internacional, de um lado, e o xito dascanes satricas difundidas pelas emisses francesas daB.B.C., de outro lado.

    A imagem So mltiplas as espcies: fotografias,caricaturas e desenhos satricos emblemas e smbolos retratos de lideres. A imagem , sem dvida nenhuma, oinstrumento mais notvel e o mais eficaz. Sua percepo imediata e no demanda nenhum esforo. Acompanhado deuma legenda, substitui vantajosamente no importa quetexto ou discurso. Nela resume-se a propaganda, de

    preferncia, conforme teremos oportunidade de ver apropsito dos smbolos.

    O espetculo Enfim, o espetculo um elementoessencial da propaganda. A Revoluo Francesa, que fez deDavid o grande mestre das festas da Repblica, teve osentido das manifestaes de massa, organizadas comgrandiosa encenao (Festa da Federao, Festa do SerSupremo). Napoleo reteve a lio. Quanto a Hitler, soube

    preparar admiravelmente manifestaes gigantescas em

    estilo de solenidade ao mesmo tempo religiosa e esportiva:Congresso de Nuremberg, paradas noturnas com tochas(observemos o papel atribudo aos refletores, iluminao,s tochas: tudo que chama e luz na noite toca no mais

    profundo da mitologia humana).A propaganda introduziu-se na liturgia fnebre.

    Nenhum espetculo impressiona to profundamente a alma

    moderna e lhe d tanto esse sentimento de comunhoreligiosa a que aspira o nico de certa pompa assinalou Peguy, aceito pela nossa Repblica civil e laica.

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    Goebbels organizava os funerais dos chefes do partidocarinhosamente e em impressionante estilo conta-nosPlievler(17) que o lder nazista chegou at a encenar asexquias coletivas de todo o 6o. exrcito alemo, do qualuma parte ainda combatia no bolso de Estalingrado.

    Sem incidir na romntica suntuosidade daencenao hitlerista, so poucas as manifestaes polticasque agora no incluem uma parte espetacular,indubitavelmente para atrair as multides e distra-las, mastambm mais profundamente para satisfazer o pesar

    pelo desaparecimento de uma liturgia coletiva.

    O teatro, cujo papel foi de grande relevo naRevoluo Francesa, reencontrou durante a RevoluoBolchevista a sua eficcia como propaganda(18). Sketchesligeiros, adaptados aos diversos auditrios (exrcito,campesinato e outros), evidenciam os mritos e o futurodos operrios e camponeses revolucionrios, contrastandocom a torpeza dos inimigos. Farsas inspiradas no folclore

    so igualmente representadas com esse desgnio.Amide o teatro inspirou a tcnica da propaganda:por exemplo, os coros falados exigidos nas manifestaes

    ou que serviam at para animar Hitler e Mussolini asconferncias dialogadas, em que um comparsa seencarrega, mais ou menos grosseiramente, do papel decontraditor. O espetculo preenche uma funo cada vez

    maior nos comcios e nos desfiles: mascarados encarnam osinimigos veculos enfeitados representam cenas idealizadasdo futuro: assiste-se at a sketches simplificados, por vezesreduzidos apenas a gestos, espcie de mmica poltica.

    O cinema um instrumento de propagandaparticularmente eficiente, seja ao utiliz-lo pelo seu valor

    como documentrio devolve a realidade com o seu

    movimento, conferindo-lhe indiscutvel autenticidade seja ao us-lo, como ao teatro, para difundir certas tesesatravs de antiga lenda, de matria histrica ou de moderno

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    cenrio. Jornais cinematogrficos mais ou menosorientados, determinadas reportagens, pertencem primeiracategoria. Na segunda, tinham os nazistas realizado, com OJudeu Sss, um modelo de propaganda anti-semita.

    Finalmente, a televiso leva ao domicilio uma

    imagem animada e sonora. Proporciona propagandamaravilhoso instrumento de persuaso: a viso do oradorconfere a esse uma presena completa, e o espetculotorna-se visvel a todos. No entanto, a televiso, na medidaem que antes uma contemplao solitria ou familial,exige da propaganda um estilo menos brutal, mais pessoal e

    provavelmente mais racional.

    Depois dessa rpida apreciao dos maisimportantes veculos de propaganda, examinaremos as

    principais leis de seu funcionamento, regras de uso, quepodemos deduzir, a ttulo de indicaes, da histria recente

    da propaganda poltica.

    1 Lei de simplificao e do inimigo nicoEm todos os domnios, a propaganda logo se

    empenha na busca da simplificao Trata se de dividir adoutrina e a argumentao em alguns pontos, definindo-oso mais claramente possvel. O propagandista tem disposio uma escala inteira de frmulas: manifestos,

    profisses de f, programas, declaraes, catecismos, osquais, em geral sob forma afirmativa, enunciam certonmero de proposies em texto conciso e claro.

    Notvel que, na origem das trs grandespropagandas que transtornaram duradouramente a terra,

    encontramos trs textos dessa espcie: no Credo ouSmbolo de Nicia, condensou-se a f catlica a

    Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado, emanadada Revoluo Francesa, constitui, por assim dizer, oalfabeto da sua propaganda e, ao sobreviver-lhe,

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    testemunha a vitalidade de seus princpios. So dois textosde uma densidade e de uma clareza admirveis, no se lhesassinalando uma palavra a mais redigidos em frases curtase ritmadas, podem ser facilmente retidos pela memria. Omarxismo, por seu turno, apoia-se em um documento mais

    longo, o Manifesto Comunista, e nele Marx e Engelscondensaram a doutrina em penetrantes frmulas.Esse esforo de preciso e sintetizao constitui a

    necessidade prvia de qualquer propaganda. Encontramo-loem um texto famoso como a Declarao em 12 pontos doPresidente Wilson e, tambm, com resultados diversos, nosmltiplos programas, manifestos e profisses de f eleitoral

    que formam a matria bruta da vida poltica.Progredindo sempre no sentido de maior

    simplificao, a palavra de ordem e o slogan tornaram-se omais possvel breves e bem cunhados, segundo tcnicadesenvolvida pela publicidade. Vimos que a palavra deordem tem contedo ttico: resume o objetivo a atingir o

    slogan apela diretamente s paixes polticas, aoentusiasmo, ao dio: Terra e Paz uma palavra deordem Ein volk, ein Reich, ein Fhrer, um slogan.Nem um tosto, nem um homem para a guerra doMarrocos uma palavra de ordem Doriot no poder,Rex vencer so slogans. A distino, alis, nem sempre clara.

    A rigor uma doutrina ou um regime resumem-seem um smbolo: smbolo grfico S.P.Q.R., R.F., iniciaisdos soberanos reinantes: smbolo-imagem, tais como

    bandeiras, bandeirolas, emblemas ou insgnias diversas emforma de animais ou objetos cruz gamada, foice emartelo e outros smbolo plstico, a exemplo da saudaofascista, dos punhos levantados e outros smbolo musical,

    hino ou frases musicais.O smbolo, que originariamente era sobretudo

    figurativo, como o machado do lictor e o barrete vermelho

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    da Revoluo Francesa, afastou-se progressivamente darealidade por ele representada, em proveito da facilidade dereproduo. A cruz gamada um smbolo solar pr-histrico, que s tem um liame potico com o nazismo.Analogamente, os diferentes tipos de cruz adotados nos

    ltimos anos: a cruz de Lorena, por exemplo, smbolo daFrana Livre, evocava um pas martirizado, cujo valorresidia sobretudo na sua simplicidade (a cruz o smbolomais simples, suscetvel de ser facilmente reproduzido). OV britnico, adotado como smbolo aliado, foi um

    perfeito xito. Letra inicial de Vitria, apresentava valorfigurativo direto alm disso, constitua-se, ao mesmo

    tempo, em smbolo grfico extremamente simples ecmodo para ser reproduzido nos muros, e em smbolo

    plstico (os dois dedos ou os dois braos levantados) e emsmbolo sonoro (os... , a transcrio do V para oalfabeto Morse, anunciadora das emisses da B. B. C. paraos territrios ocupados) e, por esse estratagema, o V porltimo, adquiria valor potico, ao confundir-se com o

    motivo inicial da Quinta Sinfonia de Beethoven, o qualevoca os golpes dados na porta pelo Destino.

    Analisamos, no captulo precedente, o mecanismopor cujo intermdio esses diversos smbolos evocam por si

    mesmos um conjunto de idias e sentimentos. Em todocaso, observemos que a reduo a frmulas claras, a fatos ea nmeros produz sempre melhores resultados que umalonga demonstrao. Seguramente, uma debilidade decertos partidos polticos, como o M.R.P. na Frana, noterem conseguido jamais encerrar suas doutrinas e seus

    programas em algumas frmulas e smbolos assaz evidentespara serem conservados de memria.

    Ademais, uma boa propagando no visa a mais de

    um objetivo de cada vez. Trata-se de concentrar o tiro emum s alvo durante dado perodo. Os hitleristas praticaram perfeio esse mtodo de concentrao, o. qual foi o A. B.

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    C. de sua ttica poltica: aliados aos partidos burgueses ereacionrios contra os marxistas, aliados, depois, direitanacionalista contra os partidos burgueses e, finalmente, aoeliminar os nacionalistas, sempre se arranjaram a fim deterem apenas um inimigo.

    A forma simplificadora mais elementar e rendosa evidentemente a de concentrar sobre uma nica pessoa asesperanas do campo a que pertencemos ou o dio polocampo adverso. Os gritos de Viva Fulano! ou AbaixoSicrano! pertencem aos primeiros ensaios da propaganda

    poltica e forneceram-lhes sempre um bom cabedal para asua linguagem de massas. Reduzir a luta poltica

    rivalidade entre pessoas substituir a difcil confrontaode teses, o lento e complexo mecanismo parlamentar porespcie de jogo de que os povos anglo-saxes amam o jeitoesportivo e, os povos latinos, o lado dramtico e passionalBidault sem Thorez esse slogan do M.B.P. durante acampanha eleitoral de 1946, ou melhor ainda, o smbologrfico P.M.F. (Pierre Mends-France) so maisexpressivos que longos programas.

    A individualizao do adversrio oferece inmerasvantagens. Cada escrutnio era transformado, pelosnazistas, em um combate contra o ltimo oposicionista.Apreciam os homens enfrentar pessoas visveis, de

    preferncia a foras ocultas. Mormente ao persuadi-los de

    que o verdadeiro inimigo no tal partido ou tal nao, maso chefe desse partido ou dessa nao, ganha-se duplamente:por um lodo, tranqilizam-se os adeptos, convencidos de

    terem pelo frente no massas resolutas como eles, mas umamultido mistificada conduzida por um mau pastor e que oabandona ao se lhes abrirem os olhos por outro lado,espera-se dividir o campo do adversrio retirando-lhe

    alguns elementos. Atacar-se- sempre, conseqentemente, aindivduos ou a pequenas fraes, e nunca a massas sociaisou nacionais em conjunto. Assim, Hitler jamais pretendeu

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    combater a classe operria marxista, mas algunsmarxistas-judeus que seguravam os cordes, jamais aIgreja,. mas uma scia de padres hostis ao EstadoComportam-se os partidos comunistas, na propagandadestinada aos catlicos e aos socialistas, segundo essas

    regras(19). Percebem-se a as razes da posiodescomunal, dentro da propaganda, das naes de grupo, deconluio, de conspirao. Os grandes julgamentos polticos,como os do incndio de Reichstag ou o processo de Rajk,vm a propsito para autenticar a realidade da tramadenunciada e convencer as massas de que, na realidade,lutam apenas com uma corja de espies, de sabotadores e

    de traidores.Na medida do possvel, tentar-se- ligar esse nfimo

    grupo de adversrios declarados a uma s categoria ou aum s indivduo. A propaganda hitlerista apresentou aconspirao dos democratas, plutocratas e bolchevistascontra a Europa, como dirigida pela judiariainternacional(20). Quando se percebe ser essa categoriainsuficientemente homognea, criam-se fora,conjugando os adversrios em uma enumerao repetidacom a mxima freqncia, a fim.de espalhar-a convico deque devem ser todos metidos no mesmo saco. A

    propaganda comunista usa amiudadamente inesperadasenumeraes em que se procura confundir em uma mesma

    averso um poltico radical, um arcebispo e um filsofoexistencialista. o que se chama o mtodo decontaminao, mediante o qual um partido sugere que asdivises dos adversrios no passam de artifciosdestinados a enganar o povo, pois, na realidade, seentendem contra ele.

    Na maneira como a propaganda hitlerista explorava

    o senso do inimigo, havia uma ttica de extraordinriaeficincia psicolgica e poltica. Arte da tapeao levada aoextremo limite, consiste em sobrecarregar o adversrio de

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    seus prprios erros ou de sua prpria violncia, manobrageralmente desconcertante. P. Reiwald assinala com justezaque o fato de emprestar-se ao inimigo os prprios defeitose atribuir-lhe os atos que se est a ponto de praticar, tornou-se, graas a Hitler, a peculiaridade da propaganda nacional-

    socialista(21). Cita, inclusive, surpreendente afirmao deHitler a Rauschning, a qual prova que o Fhrer,

    personalizando a todo transe o inimigo, atribua suapropaganda verdadeira funo de catarse de autopurificaopelo dio: Carregamos todos o Judeu em ns mesmos

    mais fcil, contudo, combater o inimigo visvel que odemnio invisvel.

    2 Lei de ampliao e desfiguraoA ampliao exagerada das notcias um processo

    jornalstico empregado correntemente pela imprensa detodos os partidos, que coloca em evidncia todas asinformaes favorveis aos seus objetivos: a frase casual deum poltico, a passagem de um avio ou de um naviodesconhecidos, transformam-se em provas ameaadoras. Ahbil utilizao de citaes destacadas do contexto constituitambm processo freqente.

    A propaganda hitlerista serviu-se sistematicamentedas notcias como de um meio de dirigir os espritos. As

    informaes importantes jamais eram comunidades embruto ao aparecerem, vinham j valorizadas, carregadasde um potencial de propaganda. Walter Hagemann d umexemplo de como a imprensa alem apresentava uma grevenos Estados Unidos ela no dizia: Roosevelt realiza umaarbitragem, recusado pelos grevistas, e, sim: Os grevistasrespondem estpida poltica social de Roosevelt com a

    recusa da arbitragem. A explicao comea, pois, noestgio da informao e geralmente acentuada pelo ttuloe pelo comentrio.

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    A preocupao constante dos propagandistashitleristas era a de uma publicidade por atacado. L-seno Mein Kampf: Toda propaganda deve estabelecer seunvel intelectual segundo a capacidade de compreenso dosmais obtusos dentre aqueles aos quais se dirige. Seu nvel

    intelectual ser, portanto, tanto mais baixo quanto maior amassa de homens que se procura convencer. Da a ironiapesada, a zombaria cnica, as injrias(22) que caracterizam

    a eloqncia hitlerista. Jules Monnerot ressaltou que ostiranos modernos tiveram o dom de tornar primrio ereescreveram suas doutrinas em uma linguagem demassas. No quadro em que Bruce L. Smith(23) relaciona

    todos os grandes propagandistas, apenas um dentre eles, odr. Goebbels, fez estudos superiores de humanidades.

    certo que a propaganda, sem cair em taisexcessos, reclama uma expresso que seja compreendida

    pelo maior nmero. Cumpre graduar e pormenorizar omenos possvel, e logo apresentar a tese em bloco e damaneira mais surpreendente. No acreditamos naquele que

    principia opondo restries s suas prprias assertivas. Paraquem procura o favor das multides, melhor que nodiga: Quando estiver no poder, os funcionrios receberotanto, os abonos familiares sero aumentados de tanto etc.,mas, de preferncia: Todo o mundo ser feliz.

    3 Lei de orquestraoA primeira condio para uma boa propaganda a

    infatigvel repetio dos temas principais. Goebbels diziaastutamente: A Igreja Catlica mantm-se porque repete amesma coisa h dois mil anos. O Estado nacional-socialistadeve agir analogamente.

    A repetio pura e simples, entretanto, logosuscitaria o tdio. Trata-se, por conseguinte, ao insistirobstinadamente sobre o tema central, de apresent-la sob

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    diversos aspectos: A propaganda deve limitar-se apequeno nmero de idias e repeti-las incansavelmente. As

    massas no se lembraro das idias mais simples a menosque sejam repetidas centenas de vezes. As alteraes nelaintroduzidas no devem jamais prejudicar o fundo dos

    ensinamentos a cuja difuso nos propomos, mas apenas aforma. A palavra de ordem deve ser apresentada sobdiferentes aspectos, embora sempre figurando, condensada,em uma frmula invarivel, maneira de concluso(24).O que, alis, no uma inveno, mas, a sistematizao deum processo j conhecido do velho Cato, que terminavatodas as suas arengas pela exclamao: Delenda

    Carthago, e praticado tambm por Clmenceau quecolocava em todos os seus discursos a famosa frmula: Jefais la guerre.

    A qualidade fundamental de toda campanha depropaganda a permanncia do tema, aliado variedade de

    apresentao. Os partidos comunistas proporcionam ummodelo nessa matria, pela obstinao com que repetem ummesmo tema, tratando-o sob todos os ngulos. Secompulsarmos a coleo de LHumanit de 1948, desde lo.de janeiro, data em que deseja aos leitores um Ano Bom,ano de vitria sobre o plano de runa do partidoamericano, verifica-se que no h editorial ou artigo defundo que, a propsito de